CV - Manual Do Queijo
CV - Manual Do Queijo
CV - Manual Do Queijo
QUEIJO
EDIÇÃO
Projeto “Rotas do Fogo” implementado pelas ONG COSPE e CERAI com a par-
ceria das Câmaras Municipais de Mosteiros e de Santa Catarina da ilha do Fogo,
da Associação de Guias de Turismo de Chã das Caldeiras, Ministério de Agricul-
tura e Ambiente de Cabo Verde e financiado pela Delegação da União Europeia
em Cabo Verde.
Título
Manual do Queijo
Autores
Gospa Jurisic David
Aguinaldo David
Coordenação
Adriano Palma - CERAI
Design e Imagens
Revan Almeida
Impressão
Dikor Lda
2. Composição do leite 6
3. A Qualidade do Leite 7
4. Controlo na Queijaria 8
5. Leite Pasteurizado 9
Matéria-prima 9
Receção do leite 9
Filtragem 9
Resfriamento 9
Pasteurização 10
Embalagem e comercialização 11
8. Queijo Curado 19
Tendo em conta a dimensão que a produção que o queijo tradicional vem ga-
nhando no mercado, o Projeto Rotas do Fogo sentiu a necessidade de sistemati-
zar neste manual prático, a tecnologia padrão de produção do queijo tradicional
fresco, do queijo curado e de outros produtos derivados do leite de cabra, sem
perder de vista que as tecnologias de produção não são uniformes nas diferen-
tes ilhas produtoras, havendo por isso nuances de ilha para ilha.
5
2. COMPOSIÇÃO DO LEITE
Segundo a legislação cabo-verdiana, Lei n.° 30/VII/2013 de 13 de maio, que
estabelece as normas de segurança dos animais e produtos de origem animal,
“Leite” - é produto integral da secreção mamária normal de animais de ordenha
obtido a partir de uma ou várias ordenhas sem ter sofrido nenhuma subtração
ou adição.
O leite é constituído por 5 grupos principais de ingredientes:
• Água
• Gordura
• Proteínas
• Lactose (açúcar do leite)
• Minerais
Água - é a principal componente do leite, participando em cerca de 80% a 90%
da sua composição. Nela se encontram dissolvidos ou em suspensão as outras
componentes do leite.
Gordura - apresenta-se em forma de glóbulos e por ser o ingrediente mais leve,
quando o leite permanece em repouso ela fica em suspensão e forma o creme
de leite.
Isto é particularmente interessante para a produção da manteiga e na produção
de queijo, pois contribui para a sua qualidade e aroma especial.
Proteína - é o principal ingrediente do leite para a produção de queijo. A caseí-
na é a principal proteína do leite e a base para a fabricação de queijo.
Açúcar (lactose) - a maior parte fica diluído no soro. Ela é importante na matu-
ração e cura do queijo.
Minerais - O cálcio é especialmente importante na obtenção da coalhada.
A composição do leite não é a mesma entre os diferentes animais. No quadro a se-
guir apresentam-se as composições aproximadas do leite dos diferentes animais.
A composição e a qualidade do leite dependem de diversos factores como: a
raça, a idade do animal, o estágio de lactação, a saúde do animal, o modo de
alimentação, a forma de criação, estação do ano, o clima, a ordenha e muitos
outros factores.
Quadro de composição média do leite (cabra, vaca e ovelha)
Componentes Matéria
Água Gordura Proteína Lactose mineral
%
6
3. A QUALIDADE DO LEITE
Desde os tempos antigos se sabe que a produção de queijo depende da quali-
dade do leite a partir do qual é produzido.
Um bom leite para consumo e produção de queijo e outros derivados, deve ser de:
• boa qualidade – enquanto alimento e matéria-prima para a produção de
queijo e outros lacticínios;
• produzido em condições higiénicas - fundamental para a obtenção de um
queijo de qualidade e garantia da segurança sanitária dos consumidores;
• boa composição - conter todos os ingredientes necessários a uma boa nu-
trição e transformação;
• boa população de microorganismos úteis e que vão influenciar no seu tra-
tamento e transformação;
Na criação animal:
• Os animais devem ter instalações com abrigo, limpas e arejadas
• Manter as instalações higiénicas e desinfetada com retirada frequente de
estrume;
• Ter boa alimentação composta por pasto e concentrado, distribuído em co-
medouros evitando desperdício de alimentos e propagação de parasitas;
• Ter bebedouros com água de qualidade, limpa e permanente;
• Maneio Sanitário adequado (programas de vacinação, desparasitação e
despistagem das doenças transmissíveis do animal para o homem: bruce-
lose e tuberculose)
Antes da ordenha:
• Higiene do animal (cabras com boa saúde e limpas, local de ordenha limpo
e arejado);
7
• Higiene do ordenhador (estar de boa saúde, ter boa higiene, mãos limpas,
unhas aparadas, vestimenta adequada e limpa e boa conduta);
• Utensílios (limpos e desinfetados de preferência feitos de material de fácil
higienização);
• Lavar e enxugar o úbere e as tetas antes da ordenha.
Depois da ordenha:
• Lavar as tetas com solução de iodo (0,5%) e não deixar o animal deitar para
evitar a entrada de micróbios;
• Lavar todos os utensílios com água e detergente e desinfetar com água e
lixívia a 2%;
4. CONTROLO NA QUEIJARIA
Em Cabo verde podemos distinguir dois sistemas de produção de queijo tradi-
cional de cabra:
• Produtores individuais que produzem queijo fresco a partir do leite produ-
zido pelo seu próprio rebanho
• Queijarias individuais ou coletivas que produzem queijo a partir de leite
adquirido e coletado de diferentes produtores das redondezas da queijaria.
Se o controlo da qualidade da matéria-prima é importante para ambas as situa-
ções, no segundo sistema torna-se muito mais importante, pois para além de se
certificar sobre a origem da matéria-prima, deve-se realizar análises que confir-
mem a qualidade do leite e previnem a queijaria contra fraudes e adulterações
que podem acontecer.
8
As principais análises que devem ser feitas no leite à chegada da
queijaria são:
• Análise visual do leite - Cor, odor, sabor e aspeto geral
• Análise da temperatura – não deve ser superior a 10° C
• Exame de acidez (pH) - avalia o estado de conservação do lei-
te. Um leite com acidez fora do padrão é considerado anormal
e impróprio para o consumo e transformação. Normalmente,
o pH situa-se entre 6,5 - 6,8 variando com a espécie animal e
fase de lactação. Se for mais baixo significa que o leite pode
estar contaminado por grande número de bactérias, devido
falta de condições de higiene e de refrigeração do leite desde
ordenha até chegada/receção. Se for mais alto pode indicar a
presença de água no leite ou mamite nas cabras.
5. LEITE PASTEURIZADO
Matéria-prima
Para a produção do leite pasteurizado a única matéria-prima é o leite cru.
Receção do leite
Filtragem
9
Resfriamento
Pasteurização
A legislação aplicada em Cabo Verde estabelece que o leite deve ser pasteuri-
zado quando se destina ao consumo ou à produção de queijo fresco. Caso não
seja pasteurizado, o queijo deve ser submetido a um período de maturação de
pelo menos 60 dias, o que na prática raramente se verifica.
A pasteurização permite prevenir com segurança das seguintes doenças, des-
truindo as bactérias que as provocam:
10
• Tuberculose - destruída em menos de 5 minutos.
• Brucelose - destruída em menos de 3 minutos.
• Mamite - destruída em cerca de 20 minutos.
11
6. PREPARAÇÃO DO COALHO TRADICIONAL
Chama-se coalho, normalmente, ao extrato coagulante proveniente do estôma-
go do cabrito (coalheira) antes de ser desmamado.
De seguida a coalheira é atada nas duas extremidades e lavada com água po-
tável.
12
Força do Coalho Tradicional
(M* V1)
x=
(10* V2)
Exemplo:
M = Quantidade de leite que se quer coagular = 40 litros
V1 = 50 segundos
V2 = 1 hora (3.600 segundos)
(40* 50)
x= = 0,055 ou seja, 55 ml de coalho
(10* 3600)
Vantagens
13
Inconvenientes
Se a higiene na sua preparação não for cuidada, pode constituir-se num foco de
contaminação.
Existem diversas substâncias de origem vegetal que são utilizadas noutras pa-
ragens e que exercem a mesma função que o coalho, como: a flor do cardo,
extracto de folhas de papaieira, o suco leitoso da figueira, mas dão sabores um
pouco amargo com a maturação do queijo.
Coalho industrial
Receção do leite
Pasteurização
Coagulação do leite
15
Corte da coalhada
O corte deve ser feito com uma faca com lâmina afia-
da ou com liras (utensílios formados por lâminas ou fios
verticais e horizontais). Quanto mais perfeito for o corte,
melhor é o dessoramento.
Mexedura
Depois do corte, mexer a coalhada para evitar que os cubos se grudam uns
nos outros e se depositam no fundo do recipiente de coagulação dificultando a
perda do soro.
A mexedura deve durar uns 10 a 20 minutos, iniciando-se lentamente e aumen-
tando ligeiramente de velocidade à medida que os grãos forem se agrupando e
depositando no fundo do recipiente.
Deixar repousar de novo até que a massa se deposita no fundo do recipiente e
seja completamente coberta pelo soro.
16
Enformação
Embalagem
Armazenamento
17
FLUXOGRAMA DA PRODUÇÃO DO QUEIJO
Receção do leite
Filtração
Coagulação
40min - 60min Arrefecimento
32-35°C
Enformação Coagulação
40min - 60min
Adição de sal
Dessoramento
Armazenamento
0° a 6°C
Enformação
Maturação
Adição de sal
Embalamento Armazenamento
0° a 6°C
Distribuição
Embalamento
Distribuição
18
8. QUEIJO CURADO
A maturação ou cura do queijo é mais uma opção que o produtor tem para agre-
gar valor ao seu produto.
Em cabo Verde não é muito comum a cura do queijo, muito embora, a legislação
cabo-verdiana e o Códex Alimentarius exigem que o queijo feito de leite cru
deva passar pelo processo de cura de no mínimo 60 dias. Nos últimos anos tem
aparecido algumas iniciativas neste sentido.
19
Temperatura - permite controlar o crescimento dos microorganismos na co-
alhada e a velocidade das reações dos fermentos. Por isso, o queijo deve ser
curado na temperatura ideal. Se for muito baixa ou muito alta não obtemos o
produto final desejado, e neste último caso, há perdas significativas no peso do
queijo.
Tempo - normalmente, quanto maior o tempo de cura, mais firme fica o queijo
e mais intenso é o seu sabor. Quanto mais curto é o tempo de cura, mais suave é
o sabor e a consistência do queijo. Durante a cura é que se forma a casca.
O tempo de cura depende do tipo de queijo, podendo variar entre poucas se-
manas a muitos meses. Assim:
20
• Queijos macios ou meia cura (de leite pasteurizado) estão prontos para serem
consumidos entre 2 semanas a 2 meses;
• Queijos duros têm um período mais longo de cura, que pode variar de meses
até anos.
21
10. QUEIJO TIPO RICOTA
O soro é a parte líquida que fica depois de se separar a coalhada durante a fa-
bricação do queijo.
Matéria-prima Quantidade
Leite 2 litros
Vinagre branco 25 ml
Sal A gosto
PROCESSO DE PRODUÇÃO
Aquecimento do soro
22
Adicionar vinagre
Embalagem e rotulagem
A massa de seguida é coada num coador com malha fina em aço inoxidável ou
em filtros de pano. Após ser filtrado é embalado em pequenos potes de vidro
ou plástico alimentar e temperado com sal a gosto. Por ser perecível deve ser
conservado no frigorífico na temperatura de 0°C a 6°C e consumido até 5 dias
após a fabricação.
Rotulagem
23
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ARFA/EDES – Guia de boas práticas de fabrico de queijo de cabra
CEDEX ALIMENTARIUS
24
Projeto Rotas do Fogo - Co-financiado pela União Europeia (CSO-LA/2017/386-455)