Resenha Crítica - Documentário Pierre Bourdieu

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – UFPE

CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO - CAC


DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO - DCOM
GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO
DISCIPLINA: FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA
PROF. DR. EMÍLIO DE BRITTO NEGUEIROS
RESENHA CRÍTICA – DOCUMENTÁRIO: “A SOCIOLOGIA É UM ESPORTE DE
COMBATE” - PIERRE BOURDIEU

A ampla obra de Bourdieu e a crítica à sociedade desigual

Por: Abenildo Daywangles Do Nascimento e Mariana Gueiros Remigio

Além do seu destaque como filósofo e antropólogo, Pierre Bourdieu é um dos nomes
mais importantes da sociologia moderna. Francês, nasceu em família camponesa e foi
responsável por uma abrangente e notável produção acadêmica. Sua sociologia é fundada na
crítica e observação dos fenômenos sociais, é uma sociologia que interpreta inteligentemente
o jogo de poder das distinções econômicas e culturais de uma sociedade hierarquizada e
desigual. Nesse contexto promoveu discussões e estudos em campos diversos como a cultura,
política, comunicação, artes, educação e literatura.

No seu trabalho é fácil notar sua vontade na superação dos falsos paradoxos
envolvidos na tradição da Sociologia: objetivismo e subjetivismo, indivíduo e sociedade,
interpretação e explicação, etc. Bourdieu fez uso de sua produção acadêmica e intelectual
como uma arma política e deu a sociologia uma postura mais engajada, compromissada com a
denúncia dos mecanismos de dominação em uma sociedade injusta e repleta de desigualdades,
adotando uma postura relacional e quebrando o senso comum. Defendia que para a pesquisa
era necessário manter uma visão além do objeto estudado logo as respostas seriam apenas
encontradas nas formas mais amplas da estrutura social.

Evidenciou a estrutura política de poder e privilégio inseridos na hierarquia, aplicada


no meio social através das relações econômicas, pelas relações simbólicas e culturais ou
educacionais. Dependendo da localização de um determinado grupo nessa estrutura social,
para ele, seria possível perceber de onde deriva essa desigualdade na distribuição de recursos
e poderes, sendo esses representados pelo capital econômico¹, capital cultural², capital social³
e capital simbólico 4.

O habitus é então definido como o conjunto desses capitais a partir de um sistema de


disposições da cultura societária. Derivando dos conceitos dos tipos de capitais e tendo
ciência das desigualdades sociais, surgem os conceitos de dominação entre diferentes classes
e o uso da violência simbólica – violência não percebida, fundada no reconhecimento dos
princípios de percepção, distinção e hierarquização dos dominantes sobre os dominados e que
assegura essa dominação e a reprodução social da mesma, os dominados passam assim a agir
dentro desses princípios para fazer parte e encaixar-se nesse sistema, criando um ciclo vicioso
nessa relação.

Por vir de um contexto social diferente do das pessoas vindas da classe burguesa da
França, Bourdieu teve que aprender os mecanismos de capital e reprodução simbólica, algo
que já era natural a essa pessoas por conta de sua posição social mais elevada, contexto em
que nasceu e o nível de escolaridade. Ao aprender, ele pode refletir sobre a escolha, a
artificialidade, e o caráter ideológico daquele sistema no qual ele estava inserido, e, portanto,
desenvolver seus estudos.

Para estruturar suas teorias em relação à desigualdade social, Bourdieu analisou


diversas áreas da sociedade, entre elas, a esfera que compreende o âmbito escolar e a sua
relação com as desigualdades sociais. Ele realizou uma investigação sociológica do
conhecimento e percebeu um jogo de dominação de reprodução de valores.

Em seu livro escrito juntamente com Jean-Claude Passeron, “A Reprodução” (1970),


na obra “Os Herdeiros” (1964), entre outras produções sobre a educação, o sistema
educacional francês serviu de amostra para a análise. A conclusão atingida foi que tal sistema
reproduz e reforça os valores dos dominantes, da subordinação de classes inferiores, e da
hierarquia social ao invés de ter uma função transformadora na sociedade.

1. Capital econômico: Menção ao conjunto de bens, patrimônios e renda ligados ao capital ou exercício
profissional.
2. Capital simbólico: Menção ao quantitativo de honra, de status, inserido no contexto quantitativo de capital
cultural, social ou simbólico.
3. Capital social: Menção ao conjunto de relações, contatos, amizades, obrigações, utilizadas pelo indivíduo ou
pelo grupo na vida em sociedade.
4. Capital simbólico: menção ao conjunto de costumes e crenças ligados a honra e ao reconhecimento,
conferidos pelo crédito e autoridade do agente, diretamente relacionado à posse quantitativa dos outros
capitais antes mencionados.
Ao ingressar numa escola, o individuo de uma classe menos favorecida, é
automaticamente imerso em um contexto onde ele acaba sendo desvalorizado em virtude
daqueles “bem nascidos” que, de certa forma, já estão preparados por vir de uma cultura
letrada. Num local onde as classes e origens sociais de um indivíduo deveriam ser
preocupações secundárias, e de preferência, extintas no momento de aprendizagem, a escola
acaba por privilegiar aqueles que já têm um privilégio por vir de classe social mais elevada.

Pierre Bourdieu tem propriedade para falar desse assunto não só por seu vasto
conhecimento acadêmico, mas por ter sofrido esse preconceito por parte da elite francesa, já
que ele veio de uma família humilde, mas ingressou nos melhores centros de educação da
França. Esse contexto de exclusão é uma boa definição para a violência simbólica por ele
estudada.

Os dominantes tem prazer na desigualdade social, pois dela se beneficiam. Para


Bourdieu, por exemplo, só há valor em falar um bom francês por que existem as diferenças
entre o bom francês e o francês ruim. Ou seja, o único sentindo em fazer algo melhor do que
outra pessoa é o fato de que assim, você estará se colocando em uma posição superior a dela,
enfatizando desta maneira as desigualdades sociais.

Uma teoria é classificada como morta quando ela vira só teoria, ou seja, a teoria morre
quando ela não é mais aplicada em investigações e em pesquisas concretas. No caso do
Bourdieu, ele estimulou a utilização dos seus conceitos de campo, de habitus, de capital
simbólico em pesquisas concretas sobre quase tudo. Ele foi um intelectual corajoso que até o
final esteve do lado das lutas sociais, ao mesmo tempo em que era respeitadíssimo do ponto
de vista acadêmico. Em suma, isso tudo explana e expõe a suma importância e poder de
influência dos estudos e intervenções do camponês francês e mestre da sociologia moderna

Mesmo com o passar do tempo, as teorias e os estudos desenvolvidos por Pierre


Bourdieu continuam vivos, e é crescente o numero de citações e pesquisas sobre suas obras.

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