Justiça Climática e Infraestruturas Urbanas
Justiça Climática e Infraestruturas Urbanas
Justiça Climática e Infraestruturas Urbanas
CLIMÁTICA E
INFRAESTRUTURAS
URBANAS:
Reflexões e propostas para
a cidade que queremos
1
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Vários autores.
ISBN 978-85-7561-097-8
23-148410 CDD-307.76
Revisão
Natalia Pinheiro
Projeto gráfico
Julia Pádua
Marina Dahmer
Realização
Instituto Pólis
Apoio
Instituto Clima e Sociedade
Título
Justiça climática e infraestruturas urbanas: reflexões e propostas
para a cidade que queremos
Realização Apoio
3
Índice
Instituto Polis p. 7
Sobre a publicação p. 8
4
Produção textual das pessoas participantes do curso p. 51
Metamorfose da paisagem p. 66
Wilker Kenio Moreira Leonel
5
Índice de produção
artística
6
Instituto Pólis
O Instituto Pólis é uma organização da sociedade civil, sem fins lucra-
tivos, que atua na defesa do Direito à cidade desde 1987, em diversas
frentes, como pesquisas, assessorias, cursos e avaliação de políticas
públicas. Nossa atuação é em conjunto com a sociedade civil, movi-
mentos sociais e pesquisadores com grande envolvimento no debate
público em torno de questões sociais, ambientais e urbanas.
7
Sobre a publicação
Clauber Leite e Rodrigo Iacovini
8
O curso foi composto por seis encontros, com participação de diver-
sos especialistas convidados, listados a seguir que queremos e quais
pessoas devem ser incluídas no seu planejamento e adaptação:
9
• Como virar o jogo: reivindicar infraestruturas urbanas
pela justiça climática (Aula 6): Henrique Frota (diretor-
-executivo do Pólis), Socorro Leite e Ivanete Araújo apon-
taram que, para garantir justiça climática, é preciso, antes
de tudo, assegurar a justiça social, racial e de gênero, e que,
para garantir o direito à cidade, precisamos colocar os po-
vos periféricos no centro do debate e das decisões.
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REFLEXÕES E
DIÁLOGOS SOBRE
AS AULAS
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A U L A 1 FAVELAS, QUEBRADAS
E PERIFERIAS PELA
JUSTIÇA CLIMÁTICA
12
Amanda Costa, conselheira do Pacto Global da Organização das
Nações Unidas (ONU) e Diretora Executiva do Instituto Perifa Sus-
tentável, trouxe o debate voltado às pautas antirracistas dentro do
contexto político e militante. Por ser uma das líderes mais jovens que
reflete sobre a justiça climática na sociedade, fala sobre a importân-
cia em dar voz às mulheres pretas e de periferias, as quais viven-
ciam na pele – de maneira cotidiana – os impactos gerados pelas
mudanças ambientais.
Além disso, Amanda traz a reflexão sobre quem é que “paga a conta”
em relação às mudanças ambientais. Os países da Europa e da Amé-
rica do Norte puderam se desenvolver econômica e ambientalmente
muito antes dos da América Latina, África e Ásia, o que estabeleceu
uma desigualdade socioambiental, afetando o bem-viver dos cida-
dãos dos países “menos desenvolvidos”.
Equidade intergeracional
Ao acreditar que as gerações atuais devam ter as mesmas vivências,
em relação ao meio ambiente, que as gerações passadas tiveram,
Amanda discorre sobre a equidade intergeracional na sociedade. Por
exemplo, cita que o pai, em dado momento da juventude, pôde se
banhar no rio Tietê, quando este ainda podia receber visitantes e era
receptivo às práticas de lazer. Com tal raciocínio, a Conselheira do
Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) reflete so-
bre como essa ação é praticamente inimaginável na atual realidade, o
que cria uma barreira de experiência entre as duas gerações.
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Amanda frisa que nenhuma faixa etária está acima da outra, pois
todas podem e devem viver em uma sociedade climaticamente jus-
ta, usufruindo dos mesmos recursos naturais disponíveis em todo
o mundo. No entanto, a idealização da verdadeira cidadania para
a geração atual torna-se um plano distante, ao visualizar o cami-
nho longo e árduo pela frente. Caminho esse também atribuído ao
racismo climático.
14
Marcelo Cavanha é coordenador da Central Única das Favelas
(CUFA) no Jardim Ibirapuera, bairro localizado na zona sul da cidade
de São Paulo, e ativista na Rede Antirracista Quilombação. Em
debate inicial, realizado na aula sobre favelas, quebradas e periferias
pela justiça climática, Marcelo discorreu sobre o projeto social criado
pela CUFA, “Combate à Fome: CUFA Contra o Vírus”, o qual teve o
intuito de ajudar as famílias periféricas no enfrentamento dos efeitos
socioeconômicos gerados pela pandemia da Covid-19.
Ação social
Marcelo Cavanha ressalta que só a cesta básica não era o
suficiente, pois as pessoas não tinham gás para fazer a comida,
tampouco dinheiro para pagar as contas de água, luz e até
mesmo o aluguel. Para além disso, Marcelo e demais integrantes
da equipe da CUFA notaram que tais pessoas em situação de
vulnerabilidade tinham CEP e cor – eram sobretudo mães pretas,
solos e de “quebradas”. Com isso, pensaram além e criaram uma
ação financeira para amparar de maneira ativa tal população: a cesta
básica digital.
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Marginalizados
Ao voltar o olhar às populações mais necessitadas, Marcelo conta
que auxiliou diversas famílias a recolher madeiras, para que elas
pudessem fazer a cocção dos alimentos por meio de fogões à lenha
improvisados. Tal ação deixou explícitos os impactos econômicos
sentidos pela população mais vulnerável. “Muitas dessas famílias, os
relatos que chegam pra gente até hoje, são de famílias que nunca
passaram por essa situação. Essas famílias até doaram cestas básicas
em outros momentos. Mas, de repente, elas estavam nas filas dessas
cestas básicas”, diz.
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Txai Suruí é líder indígena ativista brasileira da etnia suruí,
coordenadora do Movimento da Juventude Indígena e integrante
da Organização Não Governamental de Defesa dos Direitos
Indígenas Kanindé. Inicia a fala na primeira aula do curso on-line
refletindo sobre as histórias das cidades, que vieram muito antes das
construções das casas.
Seres em territórios
“As cidades surgiram a partir de nós, pessoas. Cada pessoa traz
consigo a história da cidade e ancestralidade, por isso, somos
seres em territórios. Afinal, o que existia antes dessas cidades?”,
questiona Txai.
Ancestralidade
A partir das falas de Txai, foi possível obter uma visão crítica de como
a colonização deixou marcas irreversíveis na construção histórica das
cidades. “Os indígenas não estão só em aldeias, mas também estão
presentes nas cidades. Eles trazem para as cidades a ancestralidade,
já que o meio urbano também virou o território deles. Eles [pessoas
indígenas] continuam resistindo [contra as opressões vivenciadas co-
tidianamente por demais indivíduos inseridos nos municípios]”, diz.
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‘‘Quando falamos de mudanças climáticas, transportes urbanos
e demais injustiças, quem é que sofre com tudo isso? É quem
está à margem, ou seja, a população preta e indígena. Mas tam-
bém são eles que sustentam essas cidades”, explica.
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A U L A 2 RACISMO AMBIENTAL
E TERRITÓRIOS
URBANOS
Essas palavras são mais que poesia, é
grito, é choro, é raiva, é dor! É resistência, é
sobrevivência, é um ponto final e um novo
começo.
Esse Grito Ecoa Antes De Mim
N
e
c
r
o
política
Termo que se refere ao massacre de vidas pretas
que para o Estado só geram despesas
É uma raiz de ódio plantada na natureza daqueles
que dominam o poder, executam e ferem quem
só quer viver.
Mas calma aí, quem deve viver?
Para o Estado, vive quem tem poder, poder
aquisitivo, você consegue me entender?
Mas e o preto, pobre, favelado ou rural?
E a tia que está vendendo bala no sinal?
E o pescador tradicional que tá no mar?
E aquele mestre indígena que está nos ensinando
as ervas que podem curar?
Ah, mas e a mãe de seis filhos para cuidar?
E a vózinha que trabalhou a vida toda e agora só
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quer se aposentar?
É!
Essas vidas para o Estado não valem mais,
então eles gerem e organizam a morte delas,
chamando-as de incapaz.
O Estado organiza a morte desses corpos e ainda
os chamam de ‘não rentáveis’,
Para eles é assim que se organiza uma sociedade.
Pelo fim do Estado higienista
Já chega de ser governado por um bando de
vigarista.
Basta de presidente genocida, e sem pena, bora
tacar fogo em racista
Já chega!
Nossos corpos estão cansados e querem paz.
Massacre ao povo preto, nunca mais!
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Ana Sanches é doutoranda no Programa de Mudança Social
e Participação Política da Escola de Artes, Ciências e Humani-
dades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP), mestra em
Ciências pela Faculdade de Saúde Pública da USP, atua como
assessora de projetos no Instituto Pólis e ativista na Rede Antir-
racista Quilombação, movimento negro em São Paulo. Ana inicia
o discurso promovendo uma verdadeira retrospectiva do que foi
primordial para a constituição do País, os fatos históricos relevan-
tes que pautam as grandes problemáticas socioeconômicas que
o Brasil enfrenta nos dias atuais.
Raça, desigualdade e
meio ambiente
“É importante apontarmos quando houve a invasão no território
indígena, pois a gente tinha aqui uma população que teve o seu
território invadido, explorado, o seu povo dizimado. O primeiro
caso de racismo ambiental no Brasil foi a invasão dos portugue-
ses. Houveram outros, mas esse é muito emblemático”, explica a
pesquisadora. Além disso, os povos originários tiveram contato com
as doenças trazidas pelos europeus e viram o seu espaço geográ-
fico ser completamente tomado por pessoas alheias, algo que se
configura como uma das formas de racismo ambiental.
21
Onde estão os negros e
os indígenas?
Nos espaços públicos e privados de lazer, nas universidades, nos
empregos e demais áreas urbanas que promovem o bem-estar so-
cial, você consegue notar a presença de pessoas pretas e indígenas?
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Por fim, a pesquisadora argumenta sobre por que usar o termo
“racismo ambiental”. “A discussão sobre meio ambiente ainda
é dominada por um ecologismo ‘branco’ que compreende a de-
sigualdade unicamente pelo viés de classe. Além disso, usar o
termo é uma forma de trazer visibilidade às práticas racistas e
elitistas das estruturas sociais. É importante falarmos, pois a maior
parte dos danos ambientais é direcionada à população racializada, ou
seja, negros, indígenas, quilombolas, ribeirinhos etc. É um problema
social, ambiental e de saúde pública”, encerra.
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parte da sua receita é utilizada para incentivar empreendimentos de
termelétricas, por exemplo.
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pendente dos planos de governos e que garanta que todas
as famílias inscritas no CadÚnico tenham acesso automá-
tico ao programa. Além disso, aponta que é preciso for-
mular um programa de transferência de renda que con-
temple repasses de valor que condigam com as diferentes
faixas de renda, de forma a garantir o custo zero com o GLP
à população mais vulnerabilizada.
Reflexão sobre as
mudanças climáticas
“Quando a gente fala de racismo ambiental e territórios urbanos,
a gente está falando de determinantes raciais nas dimensões
das mudanças climáticas. A gente quer alcançar o tema que faz
parte da transição do século XXI, é uma transição humanitária
que veio a partir de uma dimensão humana de reconhecer como
o tempo e o espaço estão em transformação. O espaço de que a
gente está falando é o planeta Terra, sobretudo as mudanças que ele
está sofrendo a partir de sua própria natureza e do que construímos
na humanidade”, explica Diosmar.
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Por meio da divulgação da imagem de um mapa de luzes pelo mun-
do, elaborado pela Nasa (National Aeronautics and Space Adminis-
tration) em 2012, Diosmar consegue mostrar como o planejamento
urbano é racista, ao apresentar os pontos opacos e os pontos lumi-
nosos do planeta, de forma a sobressaltar a injustiça climática em
localizações em que se encontram populações mais vulneráveis, ou
seja, nos continentes africano, sul-americano e asiático.
Consciência histórica
Ao analisar o processo das construções dos ciclos civilizatórios des-
de os últimos 532 anos, Diosmar discorre sobre o ciclo de indus-
trialização que vem desde a escravização, por meio da força cor-
poral, até o ciclo da exploração, com base na extração de petróleo
em territórios vulneráveis para a população brasileira. Na sequência,
mostra imagens de rios e pequenas represas, nas quais as águas se
mostravam contaminadas, com uma coloração diferente do ideal. No
entanto, o que mais chama a atenção nas representações é a locali-
zação desses rios e represas: bairros pobres e periféricos. Isso mos-
tra, mais uma vez, como a injustiça climática está intrinsecamente
ligada ao racismo ambiental.
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Deve-se pensar no racismo ambiental pelas trágicas imagens his-
tóricas, genocídios, segregações urbanas e espaços racializados,
ampliar o olhar para reivindicar os direitos humanos a partir de uma
denúncia racial. Fazer com que o povo preto e os povos originári-
os recebam a devida atenção por meio de novas políticas públicas
inclusivas. Em especial, analisar a realidade brasileira e sua estrati-
ficação de pessoas (por raça, cor, etnia, status social e poder) e de
lugar (nas cidades, em bairros periféricos, áreas rurais, reservas in-
dígenas, terreiros de candomblé, comunidades quilombolas, maris-
queiros e pescadores), a fim de proporcionar pluralidade e equidade
socioambiental e de infraestrutura urbana para todos.
Estado racial
Diosmar cita o estudo de Isabela Battistello Espíndola e Wagner
Costa Ribeiro, que elenca três dimensões de uma análise socioe-
spacial aprofundada acerca das mudanças climáticas. A primeira di-
mensão é a mudança das condições médias – longos períodos de
precipitações que aumentam os riscos de enchentes, deslizamentos
de encosta e interrupção das redes de abastecimento de produtos
alimentares. A segunda dimensão são as mudanças em condições
extremas, prestando atenção às chuvas extremas ou ciclones trop-
icais que provocam inundações e danos em casas e na infraestrutura
urbana. Já a terceira dimensão é a mudança na exposição: atenção
aos movimentos populacionais em áreas urbanas e mudanças bio-
lógicas com impactos no aumento de vetores de doenças.
27
L A 3 ÁGUA NÃO CHEGA
A U
NA TORNEIRA:
FAVELAS, QUEBRADAS
E PERIFERIAS E O
ACESSO À ÁGUA
E O SANEAMENTO
28
Estela Alves, arquiteta e urbanista e pós-doutoranda do Centro de
Síntese USP Cidades Globais (IEA-USP), inicia seu debate com uma
breve apresentação sobre o histórico do saneamento básico, princi-
palmente no Brasil. Também discute os direitos humanos à água e
ao saneamento, as responsabilidades do acesso à água e ao sanea-
mento no Brasil e as desigualdades sociais que permeiam os temas.
Histórico político
A princípio, Estela aborda o conceito de saneamento ambiental, so-
bretudo como o conjunto de ações socioeconômicas que têm por
objetivo alcançar níveis de salubridade ambiental, via abastecimento
de água potável, coleta e disposição sanitária de resíduos sólidos, lí-
quidos e gasosos. Com a promoção da disciplina sanitária do uso do
solo, drenagem urbana, controle de doenças transmissíveis e demais
serviços e obras especializadas, essas ações visam cuidar e melho-
rar as condições da vida nos centros urbanos e rurais. Ainda sobre
a definição clássica de saneamento, a arquiteta e urbanista cita uma
frase de Léo Heller, o qual se baseia na formulação da Organização
Mundial da Saúde (OMS): “Constitui o controle de todos os fatores do
meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos deleté-
rios sobre seu estado de bem-estar físico, mental ou social”.
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talações para operações dos serviços de abastecimento de
água, esgotamento sanitário, drenagem urbana e manejo de
resíduos sólidos, cujo princípio básico é a universalização do
atendimento. No entanto, a arquiteta e urbanista reflete que, em-
bora o saneamento ambiental seja um direito garantido pela
Constituição Federal a todos os brasileiros, ainda há pessoas
marginalizadas que sofrem com a ausência de tais serviços
essenciais – principalmente pessoas moradoras de bairros
mais afastados dos grandes centros urbanos.
Má gestão ambiental
No âmbito do saneamento, Estela ressalta que a crise hídrica impe-
diu novos investimentos públicos, tanto nacionais quanto locais, e
as soluções técnicas ao atendimento das demandas passaram a ser
apoiadas pelo capital privado. Ademais, a arquiteta parafraseou um
pensamento do pesquisador Maricato acerca do tema: “A recessão
dos anos 1980 e 1990 ampliou desigualdades sociais e diversos pro-
blemas ambientais passaram a ser percebidos, já que grande parte
da população urbana migrou para áreas desvalorizadas das cidades,
ocupando desde os morros até as áreas alagáveis”. Ela continua: “O
cenário de recessão e degradação ambiental traz consigo consequ-
ências socioambientais, tais como poluição de recursos hídricos, en-
chentes, impermeabilização do solo, por exemplo”.
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Izabela Santos é engenheira ambiental pela Universidade do Es-
tado do Pará (UEPA) e doutora em Ciência Ambiental (PROCAM-
-USP), e atuou como consultora climática no Instituto de Referência
Negra Peregum. Ela inicia a conversa questionando o motivo pelo
qual a água não chega nas torneiras das favelas, quebradas e perife-
rias. Além disso, reflete sobre o que a água representa para as mais
diversas camadas da nossa sociedade brasileira.
Falta de água
“Quando falamos de água, falamos de quê? [...] A água serve
como meio de transporte das populações ribeirinhas; a água faz
parte do setor industrial; a água contempla a natureza e o es-
paço verde. Falar de água é falar de tudo isso e mais um pouco,
pois há outros pontos de vista que refletem a água de uma ou-
tra maneira”, diz Izabela. Na sequência, ela complementa: “Quando
estamos nos grandes centros urbanos, esquecemos de onde a água
vem, mas ela chega às torneiras por meio de serviços de abasteci-
mento de água, via captação de água bruta.
“A gente escuta muito nas escolas que o Brasil é um país com mui-
ta água, um país que não vai sofrer com a falta de água. Mas o que
acontece é que a gente tem uma disponibilidade hídrica desigual no
Brasil. Essa disponibilidade hídrica, a princípio, é uma disponibilidade
hídrica a partir dos territórios, a partir dos espaços geográficos. Elas
vêm das nascentes e do rio Amazonas, por exemplo, e depois vem
para cá, regiões Sul e Sudeste. Então, o que a gente tem é uma gran-
de concentração de reservatórios de rios e de águas [...], uma dispo-
nibilidade hídrica muito mais da região amazônica do que no território
brasileiro. No entanto, isso não quer dizer que as pessoas do Norte
tem acesso à água, pois ainda sim é um local de menos abastecimen-
to de água”, explica Izabela.
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Desigualdade
Izabela fala sobre os desafios de gestão e a crise socioam-
biental, de forma a ressaltar os impactos negativos que as
mudanças do clima deixaram na sociedade, como aumento de
doenças de veiculação hídrica, propagação de vetores de ar-
boviroses, aumento de situações de risco e pobreza. Com isso,
ela destaca como essas ações impactam diretamente a qualidade
de vida do público favelado e periférico. “Pessoas que não têm con-
dições de pagar [as despesas domésticas] estão em moradias irregu-
lares, fazendo com que elas não tenham o direito de receber acesso à
água. A desigualdade social reflete na formação das cidades, sobre-
tudo nos impactos gerados a uma parcela da população nos âmbitos
ambientais”.
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L A 4 CRISE CLIMÁTICA,
A U
DESIGUALDADES E
POBREZA ENERGÉTICA
33
Natália Chaves, cofundadora da Rede Brasileira de Mulheres na
Energia Solar (MSOL) e coordenadora de energia e sustentabilidade
na Câmara de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro, reflete como
a matriz energética brasileira afeta diretamente no preço da conta
de energia elétrica, justamente pela inclusão de tarifas oriundas da
energia vinda de combustíveis fósseis.
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Mudança social
Natália também aponta que, para que toda a sociedade possa pas-
sar pela transição energética de forma inclusiva, é preciso reconhe-
cer os impactos já presentes na Terra. Por meio do relatório do In-
tergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) de 2021, pode-se
avaliar as principais mudanças a serem feitas:
Energia solar é a
mudança necessária
Para Natália Chaves, a democracia energética visa garantir que
todos os cidadãos brasileiros tenham acesso adequado à energia,
ampliando a participação da sociedade na gestão da produção e
acesso à energia, com autonomia na decisão e no acesso a ser-
viços e produtos. Além disso, a cofundadora da MSOL explica que
esse conceito está ligado a uma descentralização contínua dos sis-
temas de energia, com a eficiência energética e a energia renovável.
Trata-se de um movimento social emergente que objetiva promover
o acesso amplo aos serviços energéticos, associados, em geral, às
questões sociais e ambientais.
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Na sequência, ela complementa: “Nas favelas é onde vemos os im-
pactos da crise climática, da desigualdade e da pobreza ener-
gética. Energia solar em favela é promover o desenvolvimento
econômico local, a qualidade de vida, a conscientização e o en-
gajamento ambiental. Isso corrobora o pensamento de diferentes
atores, como o economista Ricardo Abramovay, que acredita no uso
de tecnologia para promover a transformação social”.
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Em seguida, reflete sobre o sistema do Ocidente que nós vivencia-
mos hoje, em que nasceu um distanciamento entre homem, natureza
e cultura. Por isso, é necessário que a gente olhe para os povos
originários, de maneira a espelhar-se na forma que eles cui-
dam da natureza e na forma de produzir.
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agricultura. Ao pensar no acesso à energia, não basta apenas a
energia chegar ali [à sociedade], precisa-se dos serviços ener-
géticos que ela fornece, os quais são realizados por meio de
lâmpadas, ônibus etc.”, explica.
Serviços energéticos
de que tipo?
“Muita gente cozinha em fogões à lenha, principalmente mulheres, ao
lado de seus filhos e filhas. Mas o que é que acontece com isso aqui?
[Rodolfo refere-se à cocção de alimentos por meio do fogão à lenha]
A poluição do lugar, ela é 100 vezes acima do limite que a Organiza-
ção Mundial da Saúde coloca como máximo para a poluição na at-
mosfera. Ou seja, a energia não é utilizada apenas para fornecer luz ,
mas também para utilizar o fogão elétrico, por exemplo”, fala.
38
a solução, a temperatura da telha poderia chegar a 54 °C). Há cer-
ca de cinco milhões de domicílios em favelas, um reflexo do sério
problema habitacional que temos.
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L A 5 POR QUE REINVIDICAR
A U
UMA TRANSIÇÃO
ENERGÉTICA JUSTA?
Cinza
Verde
Muito mais cinza do que verde
Já fora toda verde
Apreciando suas riquezas – e não é narcisismo
ela espera sobreviver
Viver
Som do vento
Som das águas
Som das folhas
Som dos pássaros
Som dos demais bixos
Ela só não aguenta mais o som do bixo homem
Cinza
Verde
Mais verde do que cinza, ela almeja.
Bem te vi
Bem te ouvi
Sobreviva.
A natureza
Beatriz Rêgo
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Marina Marçal, coordenadora de Política Climática no Instituto Cli-
ma e Sociedade (iCS), fala sobre a transição energética justa e a
importância desse debate amplificado ao olhar de raça/cor e gênero.
Além disso, pontua como as mudanças climáticas estão intrinse-
camente relacionadas à saúde, fome, desemprego, educação
e às principais problemáticas que o Brasil enfrenta na atuali-
dade, e que há um perfil socioeconômico mais afetado: pesso-
as pretas e periféricas.
41
Nayanne Brito de Souza é engenheira de energia pela Universida-
de de Brasília (UnB), com MBA em Gestão de Negócios e líder do
The Climate Reality Project. Possui mais de dez anos de experiência
no setor de energia, sendo gerente de inteligência e parte do time
fundador da Lemon Energia.
Por fim, ela ressalta que a transição energética gera empregos para
a população brasileira, o que impacta positivamente no âmbito social.
“Hoje, a indústria eólica e solar no Brasil gera 85.900 empregos. Quan-
do a gente leva esse número para a escala menorzinha da geração
distribuída, daquela que fica no telhado da casa das pessoas, a gera-
ção distribuída é a fonte de energia que mais gera empregos. É essa
a transição energética justa, baseada no pilar ambiental, ope-
racional, econômico e social. Nós precisamos garantir o nosso
estilo de vida como humanidade, e a gente só vai conseguir fazer
isso se reduzir drasticamente a emissão dos gases de efeito es-
tufa”, a palestrante finaliza.
42
e emissões – 64% de consumo de energia e 70% de emissões,
conforme dados da International Energy Agency (IEA) de 2016.
Ou seja, sair de uma matriz fóssil é a principal arma para combater a
crise climática.
43
L A 6 COMO VIRAR O
A U
JOGO: REINVIDICAR
INFRAESTRUTURAS
URBANAS PELA
JUSTIÇA ENERGÉTICA
Lá pelo século dezesseis, aqui havia campos e
florestas
Habitavam por aqui os índios vivendo em festa
Índios fortes e guerreiros, dotados de muita
beleza
Que cultivavam os seus costumes e preservam a
natureza
Até que o bandeirante aqui chegou para ficar
Avistou a serra do Canine e foi a prata procurar
Nosso rio era belíssimo, de água limpa sem igual
Possuía muitos peixes e um cheirinho natural
Para explorar o tesouro o Capitão fez tudo mudar
Cortou árvores, mato... e pôs tudo pra queimar
Construiu uma capela para a imagem abrigar
E devagar, pouco a pouco, esta terra de encantos
Acabou se transformando na bela Vila de
Campos
Com a morte do Capitão, muitas coisas
aconteceram...
Os escravos se dispersaram e os índios
desapareceram
O povoado foi crescendo: casas, gente,
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movimento!
Os curtumes e os bordados trouxeram
desenvolvimento
Aqui no século XIX nasceu o patrono Tobias
Filho nobre reluzente do direito e da poesia
A chegada do progresso trouxe grande felicidade
Mas a vida melhorou com a chegada da
eletricidade
As luzes das lamparinas foram sendo
substituídas
Pelas lâmpadas elétricas até então
desconhecidas
O que o povo sentiu? Imagine a alegria:
Ouvir rádio, ver TV e a noite clara como o dia!
Todos foram importantes na construção de Tobias
Lavando roupa no rio, bordando a modernidade
Curtindo o couro do gado no porvir que acena a
glória,
Educando a criançada de outrora até nossos
dias.
45
Henrique Frota é advogado, ativista pelo direito à cidade, justiça
socioambiental e direitos humanos, mestre em Desenvolvimento e
Meio Ambiente pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e mestre
em Direito pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Integra a
equipe do Instituto Pólis, atualmente, na função de Diretor Executivo.
Faz parte da Diretoria Executiva da Abong, é assessor da Plataforma
Global pelo Direito à Cidade, membro da coordenação do Fórum da
Reforma Urbana e integrante da Plataforma Dhesca Brasil.
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da vida. É com a instalação e a chegada dessas infraestruturas
nesses territórios que conseguimos acessar a energia elétrica, o
sistema de distribuição de gás, a água tratada, o esgotamento
sanitário, o serviço de coleta de resíduos sólidos. Ou seja, é por
meio dessas infraestruturas, dessas competências do Estado brasilei-
ro, que nós conseguimos ascender de um patamar de bens que são
necessários para a nossa vida”, explica Henrique.
Por fim, Henrique aponta que o principal pilar para a mudança so-
cial é o poder do Estado, com a efetivação de políticas públicas que
garantam o direito à cidade aos mais diversos grupos sociais. Para
isso, é fundamental a presença de pessoas pretas, indígenas e LGB-
TQIAP+ dentro dos espaços de poder, para que ocorra uma mudan-
ça coerente e necessária. Apenas quem move as cidades é quem
conseguirá “virar o jogo” e pautar a transformação à luz da justiça
ambiental, energética, racial e de gênero na política brasileira.
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Socorro Leite é formada em Arquitetura e Urbanismo e mestre em
Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco. Tem atuado
com estudos, planos e projetos voltados para habitação de interes-
se social desde 1998, como consultora e assessora técnica popular.
Integrou ONGs como a FASE, a ETAPAS e atualmente é diretora da
Habitat para a Humanidade Brasil. Também integra a coordenação
do Fórum Nacional de Reforma Urbana e o Conselho Superior do
Instituto dos Arquitetos do Brasil.
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No mais, faz-se necessário lutar pelo direcionamento de investimen-
tos dos três níveis de governo para os programas de moradia digna,
envolvendo a produção e a qualificação habitacional em diversas mo-
dalidades de acesso, bem como aquisição, locação social, proprieda-
de coletiva, regularização fundiária e edilícia, urbanização de favela,
melhorias habitacionais e de infraestrutura urbana. Por fim, Socorro
diz que é preciso “criar e exigir a implementação de um Plano
Habitacional de Emergência para o atendimento das famílias em
situação de vulnerabilidade socioeconômica, em calamidades
públicas e desastres ambientais, com medidas imediatas e defi-
nitivas de provisão habitacional”, para que possamos, de fato, virar
esse jogo de injustiças e desigualdades sociais, que deixam às mar-
gens da comunidade pessoas pretas e periféricas.
49
ves impactos gerados pelo lockdown. “Com a vinda da pandemia, o
nosso movimento se organizou para evitar que fôssemos vítimas
da Covid-19. O nosso maior medo era ter que disputar o oxigênio
com uma pessoa de classe média alta ou altíssima. Para isso, nos
cuidamos e nos precavemos, suspendemos todas as visitas nas ocu-
pações, colocamos álcool em gel e medidor de termômetro em todas
as portarias e orientamos todos os moradores a andar de máscara,
além de ajudarmos com o fornecimento de cestas básicas e a doação
de sopas aos nossos irmãos de rua”, explica.
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PRODUÇÃO TEXTUAL
DAS PESSOAS
PARTICIPANTES
DO CURSO
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JUSTIÇA CLIMÁTICA E
INFRAESTRUTURAS URBANAS
Beatriz Rêgo
Introdução
Atrelada à história escravocrata e racista, a lógica neoliberal tem re-
gido as políticas urbanas e determinado a infraestrutura, o que trans-
figura a moradia em mercadoria e contribui para a segregação socio-
espacial. De acordo com o Instituto Locomotiva, em conjunto com a
Central Única das Favelas (CUFA) e a Data Favela, 8% da população
brasileira vive em favelas, e 67% dessa parcela é negra (SALLES,
2021). Esses dados dão um spoiler sobre a marginalização e a luta da
população preta nas urbes, considerando que quase 56% da nação
brasileira se declara preta e parda (MADEIRO, 2019) e, portanto, não
está tendo seu direito à cidade respeitado, pois não há uma ocupa-
ção mais homogênea.
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deparamo-nos com a injustiça climática e, intrinsecamente, o racis-
mo ambiental. Logo, repensar a urbe é urgente e carece de um olhar
voltado à justiça, ao direito à cidade e ao combate à desigualdade
social.
Direito à cidade
Tema abordado de forma pioneira pelo filósofo francês Henri Lefebvre
em 1968, o livro O direito à cidade consagra o direito dos habitantes
e demais grupos que gozem da urbe de figurar sobre todas as redes
e circuitos de comunicação, de informação e de trocas. Para além
de tal definição, a Constituição Federal de 1988 efetiva, por meio do
Estatuto da Cidade, esse direito ao estabelecer a
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Injustiça climática
e racismo ambiental
Postos à margem da sociedade e da cidade, carecendo de infraes-
trutura e políticas públicas para ter condições básicas de vida, es-
ses brasileiros são os mais afetados pelas alterações climáticas, pois
como enfrentar um monstro estando sem espada? É semelhante ao
que essas populações estão sofrendo: como enfrentar essa emer-
gência ambiental se o único espaço que podem habitar é este, que
não possui suporte para os impactos?
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Estados Unidos, englobando os conflitos decorrentes dos problemas
ambientais, a justiça climática fundamenta-se no princípio de que
nenhuma parcela populacional deve arcar de forma desproporcional
com os impactos das mudanças ambientais.
Justiça climática
e infraestruturas urbanas
“A revolução tem que ser urbana.”
Henri Lefebvre
Referências bibliográficas
BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Estatuto da cidade.
Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 11 jul. 2001.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/
l10257.htm.
MADEIRO, C. Negros são 75% entre os mais pobres; brancos, 70% entre
os mais ricos. UOL, Maceió, 13 nov. 2019. Disponível em: https://noticias.
uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/11/13/percentual-de-ne-
gros-entre-10-mais-pobre-e-triplo-do-que-entre-mais-ricos.htm.
RACISMO ambiental é uma realidade que atinge populações vulne-
rabilizadas. Jornal da USP, São Paulo, 9 dez. 2021. Disponível em:
https://jornal.usp.br/?p=477735.
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SALLES, S. Cerca de 8% da população brasileira mora em favelas,
diz Instituto Locomotiva. CNN Brasil, Rio de Janeiro, 4 nov. 2021. Dis-
ponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/cerca-de-8-da-
-populacao-brasileira-mora-em-favelas-diz-instituto-locomotiva/.
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IMPACTOS DA CRISE
CLIMÁTICA NAS CIDADES
Mariana Ferri Gonçalves
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O relatório do IPCC de 2018 (MCTIC, 2019), por exemplo, aponta a
probabilidade de que a pobreza e as desvantagens sociais se ampli-
fiquem em algumas populações com o agravamento do aquecimento
global, gerando mudanças estruturais na sociedade. Nessa conjun-
tura, o cenário brasileiro se torna complexo devido à sua dimensão
territorial e variação climática: mesmo não sendo considerado pobre,
nosso país apresenta graus acentuados de desigualdade social e po-
breza (RAMOS, 2015).
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Após a contextualização sobre a mudança climática antropogênica
trazida, a partir dos enunciados contidos no Relatório Especial do
Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC, 2016) – organismo
científico nacional que objetiva fornecer avaliações científicas de re-
levância para nosso país –, apresenta-se aqui uma contextualização
das cidades no contexto de crise climática. Os diferentes sistemas
urbanos de infraestrutura são interdependentes e, portanto, estresses
climáticos podem resultar em efeito cascata ao longo dos setores de
água, saneamento, energia e transporte. Exemplificando, a escassez
de energia nos centros urbanos acarreta trens e metrôs paralisados,
insegurança devido à queda na iluminação pública, serviços de tele-
fonia, internet e saneamento interrompidos, hospitais paralisados e
inúmeros estabelecimentos comerciais fechados. Projeções do au-
mento do nível do mar, variações de temperatura, a precipitação e a
ocorrência de eventos climáticos extremos podem acelerar a deterio-
ração de estruturas de transporte e aumentar os riscos de interrup-
ções no tráfego e acidentes, com consequente impacto na economia
das cidades.
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tema complexo de relações econômicas, sociais e políticas na so-
ciedade contemporânea e, por isso, sua produção, formação, expan-
são e mudanças demográficas afetam também os espaços rurais
e naturais (BRASIL, 2021).
Referências bibliográficas
ARTAXO, P. Uma nova era geológica em nosso planeta: o Antropoce-
no? Revista USP, n. 103, p. 13-24, 2014. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/99279/97695.
Acesso em: 10 nov. 2021.
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RAMOS, M. C. Políticas públicas de adaptação às mudanças cli-
máticas em face das populações vulneráveis e da justiça climá-
tica. 2015. 127 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade
Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2015.
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JUSTIÇA CLIMÁTICA -
FAVELAS, QUEBRADAS E
PERIFERIAS INOVAÇÃO
E EMPREENDEDORISMO
José Emílio de Barros
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É preciso ousar na inovação da busca de soluções definitivas com
a participação de novos modelos de gestão nas áreas sociais e de
desenvolvimento de negócios, seguindo os nortes já apontados nos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030
da Organização das Nações Unidas (ONU) – de forma a criar pro-
jetos que promovam, de fato, a justiça climática (NAÇÕES UNIDAS
NO BRASIL, 2023).
Com os dados obtidos e mais uma análise técnica e social, deve ser
criado um plano de massa indicando uma direção a ser pactuada com o
setor público. A comunidade receberá apoio técnico e social de uma em-
presa de assessoria especializada que conduzirá a modelagem técnica,
socioambiental, legal e econômica do projeto. A remuneração dessa em-
presa de assessoria deve estar vinculada ao orçamento da intervenção
em cronograma acordado no edital de chamamento empresarial.
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Como já mencionado, esse projeto envolve, além da comunidade lo-
cal, agentes públicos (incluindo órgãos de controle), privados e ter-
ceiro setor, de modo a garantir a governança jurídica e a garantia de
continuidade, independente de quem tenha assento como governan-
te ou quem esteja à frente dos agentes privados.
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Referências bibliográficas
CEMADEN e IBGE lançam base de dados sobre população exposta
em áreas de risco de desastres. Cemaden, 29 jun. 2018. Disponível
em: http://www2.cemaden.gov.br/cemaden-e-ibge-lancam-base-
-de-dados-sobre-populacao-exposta-em-areas-de-risco-de-desas-
tres.
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METAMORFOSE DA PAISAGEM
Wilker Kenio Moreira Leonel
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passa a ser aceito em seus próprios termos como parte da paisagem”
(SENNET, 2018, p. 64), ou seja, o que não era parte da natureza do
lugar agora é componente.
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rimental da paisagem, compreendendo que o território não tem limites,
o passeio é a forma de perambular pelo espaço urbano, apenas como
método de experimentá-lo. O segundo aspecto é como enxergamos a
paisagem representada, ou seja, vemos apenas pela superfície, aquilo
que é tangível para o olhar. Por fim, a diferenciação entre o paisagismo
natural e o urbano possui como principal fator o tempo e o movimento;
a experiência surge, então, através das errâncias, o caminhar no es-
paço construído sem se preocupar com o tempo.
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dinâmicas e palpáveis no todo, tendo como principal objetivo alçar
uma justiça climática.
Referências bibliográficas
CARERI, F. Walkscapes: o caminhar como prática estética. 1 ed. São
Paulo, SP: Gustavo Gili, 2020.
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CRISE CLIMÁTICA,
DESIGUALDADES
E POBREZA ENERGÉTICA
Rodolfo Dourado Maia Gomes
Diretor-Executivo do IEI Brasil (2022)
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recem no material produzido pelas(os) estudantes ao longo do cur-
so. Sem essa compreensão de conjunto, a fragmentação do debate
pode se tornar um jogo de quebra-cabeças ao contrário: as peças
são construídas primeiro sem sabermos se elas se encaixam, se te-
mos todas e se a figura final será a de que gostaríamos.
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COMUNIDADES INTELIGENTES
E RESILIENTES: JUSTIÇA
CLIMÁTICA – INOVAÇÃO
E EMPREENDEDORISMO
José Emílio de Barros
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para as pessoas e para o planeta. Mas o aporte de recursos para a solução
dessas demandas está muito além das capacidades dos governos nacio-
nais e subnacionais e dos programas criados pela ONU, como o Acordo de
Paris (COP 21), o Programa de Mudanças Climáticas e a Agenda 2030 de
Prevenção de Desastres (3ª Conferência Japão/Sendai 2015).
As cidades
A Primeira Revolução Industrial iniciou um processo de transforma-
ção do espaço urbano, da relação empregador e empregado. Ao lon-
go dos anos seguintes, com a crescente descentralização do campo
para a cidade, os processos de industrialização e a cada novo mo-
delo econômico, a sociedade tinha que adaptar seu estilo de vida à
nova realidade.
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O processo de transformação da cidade agrária para urbana pro-
moveu importantes transformações na economia e na vida da po-
pulação. No século XXI, essas mudanças ocorrem na velocidade do
pensamento.
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cia da humanidade, seja pela destruição dos ecossistemas naturais,
seja pela perversidade das desigualdades sociais e econômicas no
ecossistema urbano criado.
Cidades inteligentes
A proposta apresentada pelos programa mundial de criação de smart
cities (cidades inteligentes) vem ao encontro da estruturação dos
programas, projetos e planos propostos pela nova ordem mundial.
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A Carta Brasileira para Cidades Inteligentes (2021) define:
Conclusão
Proponho a implementação de projetos com o objetivo de garantir a
sustentabilidade social, econômica e ambiental, melhorando a efici-
ência dos gastos públicos na comunidade, promovendo um alinha-
mento das reais necessidades dos moradores e o investimento públi-
co, otimizando as ações públicas e evitando desperdícios, retrabalho.
A elaboração de um modelo de negócio de impacto socioambiental
e econômico deve garantir uma parceria entre os agentes público,
privado e os cidadãos da comunidade.
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As ações sociais envolvem a implementação de programa de desen-
volvimento econômico através da capacitação em empreendedoris-
mo, capacitação técnica para geração de emprego e renda, apoio à
saúde pública e educação.
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na educação, inserção da cultura socioambiental para os níveis fun-
damentais e ensino médio e da pesquisa para o nível universitário;
possibilitar ao cidadão participação consciente na escolha de seus
governantes, na formulação de políticas públicas e no monitoramen-
to e controle de resultados.
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ONDE ESTÁ A ALEGRIA QUE
DEIXAMOS AQUI?
Rute Maria Gonçalves de Andrade
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Uma das crianças, a Menina, olhava encantada as pinturas, em es-
pecial uma cena em que figuras humanas pareciam reverenciar uma
árvore. Menina fitava a cena, tentando imaginar o que pensava quem
a desenhou e o que desejava transmitir a quem visse. Acreditava
que estavam reverenciando a árvore com muita alegria, pois sua avó
contara que na Caatinga existiam plantas consideradas sagradas
para os indígenas ancestrais, pois serviam de alimento, remédio e
algumas até forneciam água no período sem chuva.
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por aí. Descobrimos também os caxios, que era uma situação que
acontecia com a rocha em que a gente podia cavar com as mãos
e transformá-la num reservatório. E tínhamos também as cacimbas,
uma área nos leitos dos rios e riachos da região que mantinha um
grande volume de água no solo. Nós cuidávamos das cacimbas, pois
no período sem chuva os rios intermitentes secavam, mas as ca-
cimbas ficavam. Ah, e as nascentes? Água brotava em locais onde
estava guardada sob a terra, e com a chuva permitia a formação de
pequenos cursos d’água. E as plantas? Vocês não se abrigam mais
no Juazeiro? O umbuzeiro, além dos frutos suculentos, tem água
guardada em sua raiz que serve de alimento. O cipó d’água nos for-
nece água diretamente dos seus galhos. Perceba que era possível
sobreviver nos períodos secos porque cuidávamos da mata, que é
a mantenedora da água! Agora vá. Acompanhe seus amigos e sua
professora. Conte-lhes que entendeu, por meio dos desenhos, que o
respeito e o cuidado com todos os seres vivos são o grande segredo
para manter a vida.
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Realização Apoio
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