Educação Financeira A Luz Da BNCC
Educação Financeira A Luz Da BNCC
Educação Financeira A Luz Da BNCC
Resumo
Palavras-chave
https://doi.org/10.1590/S1678-4634202349251296por
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Abstract
This study describes the results of an investigation regarding the characteristics of financial
education teaching, in one of the teaching units of the Federal Institute of Education,
Science, and Technology of Acre (IFAC). In this sense, the objective was to verify and
characterize, from the teaching perspective, if and how the transversal practice of financial
education occurs in the curriculum of integrated technical courses, observing whether
such practices correspond to that established by the new National Common Curricular
Base (BNCC). This is a qualitative approach research, of exploratory nature, in which
sixteen teachers participated, the data being collected with the application of an organized
questionnaire with open and closed questions. The analysis and interpretation of the data
were based on the Thematization methodology. The study pointed out that the practice of
financial education, in the light of the new BNCC, has not yet been implemented in the
locus of study and that no traces yet point to transversal initiatives on the topic, which
ends up disfavoring the integral training of students. Finally, the study indicated that
stimulating actions to promote financial education in the curriculum of the integrated
technical courses of IFAC is necessary, thus favoring the teaching and learning of the
theme, which will contribute to an integrative education in the locus of study.
Keywords
Introdução
O documento que instituiu a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) teve
sua versão final publicada em dezembro de 2018 e tem como objetivo a padronização de
estratégias curriculares e de propostas pedagógicas a serem utilizadas nas escolas de ensino
básico, empenhando-se, ainda, em garantir uma base essencial para a aprendizagem dos
estudantes do ensino básico brasileiro.
Segundo o documento, essas estratégias devem incorporar ao currículo e às propostas
pedagógicas das escolas abordagens com temas contemporâneos, preferencialmente nas
formas transversais e integradoras, destacando-se, dentre outros temas, a educação para
o consumo e a educação financeira (BRASIL, 2018b).
Corroborando o viés epistemológico da transversalidade, a fim de direcionar as
instituições escolares rumo ao ensino integral, a atual BNCC propõe que a fragmentação
radical do currículo seja superada, de forma que a escola decida sobre a melhor forma
Procedimentos metodológicos
Este estudo estrutura-se sobre bases de abordagem com viés qualitativo e caráter
exploratório (GIL, 2002; MINAYO, 2016). Para fins de atendimento ao objeto de estudo,
foi encaminhado um convite a todos os docentes do Campus Sena Madureira do IFAC,
via correio eletrônico institucional, para que eles respondessem a um questionário com
perguntas abertas e fechadas. Do total dos participantes da pesquisa, obteve-se uma
amostra de aproximadamente 37 por cento dos docentes.
Quanto à estrutura do questionário, inicialmente, foram coletadas informações
pessoais, profissionais e acadêmicas dos docentes. Na segunda parte, obteve-se
informações sobre a participação docente em projetos de ensino com temas transversais e
seu conhecimento sobre as disposições da nova BNCC, a respeito da educação financeira.
Na terceira parte, buscou-se caracterizar, sob a perspectiva docente, a ocorrência da
educação financeira no currículo dos cursos técnicos integrados do campus.
Para análise e interpretação dos dados obtidos, utilizou-se a metodologia de tematização
de Fontoura (2011), que, alicerçada pelo trabalho de Santos (2020), permitiu a apreensão dos
núcleos de sentido contidos nas falas dos sujeitos, valorizando os aspectos qualitativos da
pesquisa em educação. Para tal análise, percorreu-se uma trilha composta por sete etapas,
necessárias à elaboração e análise dos temas encontrados, conforme os passos:
A elaboração do primeiro tema proposto neste estudo partiu da análise das respostas
às Questões 5 e 6 do instrumento disponibilizado aos participantes da pesquisa, o que
contribuiu para a formação do tema “Concepções docentes sobre o ensino interdisciplinar
e transversal”.
A Questão 5 versou sobre a participação dos docentes em projetos de ensino com
temas transversais ao currículo do ensino médio integrado. Já a Questão 6, após breve
contextualização sobre as principais características da nova BNCC, tratou de levantar
informações sobre o conhecimento dos docentes a respeito da caracterização da educação
financeira no ensino médio integrado do Ifac.
A Questão 6 subdividiu-se em “6-a” e “6-b”, com destaque para esta última, que
buscou obter informações sobre o conhecimento dos docentes a respeito das características
do ensino da educação financeira à luz da nova BNCC.
Das respostas dadas à Questão 5, aproximadamente 69 por cento dos docentes
afirmaram não ter participado de projetos envolvendo educação financeira no Ifac. Das
respostas proferidas às questões 6-a e 6-b, 62,5 por cento dos docentes relataram possuir
algum conhecimento das disposições da nova BNCC, buscando aplicá-las em suas aulas,
mas apenas pouco mais de 18 por cento afirmaram ter algum conhecimento sobre as
formas de abordagem da educação financeira, nesse mesmo contexto.
Após análise de ambas as questões, foi possível dar origem à categoria “Integração
curricular via ensino transversal e interdisciplinar”, conforme disposto no Quadro 1.
Quadro 1 – Categoria para o tema “Concepções docentes sobre o ensino interdisciplinar e transversal”,
baseada no método de tematização de Fontoura (2011)
Questão 5: Em alguma oportunidade, você participou de projetos de ensino que trabalhassem conteúdos temáticos […] de forma
transversal […] no ensino médio integrado no Ifac? […]
D10 - O ensino não é mais fragmentado, fechado em seus conteúdos específicos. […] Os temas
transversais, ou seja, aqueles que perpassam, atravessam todas as outras áreas. Temos uma parte que é
obrigatória e também uma parte que é diversificada. Nesta parte diversificada podem ser incluídos projetos
e pesquisas como temas transversais.
Integração curricular
via ensino transversal e
interdisciplinar
Questão 6-b: Você tem conhecimento de como deve se caracterizar o ensino da educação
financeira, de acordo com a nova BNCC?
Unidade de contexto
D8 - Deve ser trabalhada de forma multi e interdisciplinar nas diversas áreas do conhecimento: linguagens,
matemática, ciências humanas e ciências sociais aplicadas.
Deste modo, após análise minuciosa das respostas obtidas nas Questões 5 e 6, e da
devida composição do tema e categoria disposta no Quadro 1, segue-se com a análise do
conteúdo coletado.
Quadro 2 – Categoria para o tema “Insuficiência de oferta transversal da educação financeira”, a partir da
tematização de Fontoura (2011)
Questão 9: Ainda quanto à educação financeira, você tem observado algum empenho em torno dessa temática por parte dos
coordenadores de cursos, coordenações pedagógicas, gestores ou demais profissionais técnicos e/ou docentes do Ifac?
A Questão 10, cujo conteúdo das respostas originou o tema “O papel da educação
financeira na formação integral do estudante”, buscou averiguar, em um primeiro
momento, os índices de envolvimento dos docentes com o ensino da educação financeira
e, em um segundo momento, a possibilidade de envolverem suas disciplinas à referida
temática. Portanto, a questão se constituiu em duas partes, uma complementando a outra.
A primeira parte da questão teve como finalidade a coleta de informações sobre
a participação dos docentes em possíveis atividades de ensino envolvendo educação
financeira no ensino médio integrado. Ao responderem, 87,5 por cento dos docentes
afirmaram nunca ter participado de tais práticas; e os respondentes não insertos nesta
maioria omitiram-se sobre sua participação ao proferirem suas respostas.
Quadro 3 – Categorias para o tema “O papel da educação financeira na formação integral do estudante”
com base na tematização de Fontoura (2011)
Questão 10: Você já participou de alguma atividade de ensino que envolvesse conteúdos de educação financeira no ensino
médio integrado, ou acredita que exista a possibilidade de integração entre os conteúdos da sua área de ensino com a Educação
Financeira?
D9 - Nunca participei de nenhuma atividade neste sentido, mas acredito que possa ser
trabalhada junto com a matemática sim, com certeza.
A importância do ensino da educação
financeira na Matemática
D11 - Existe a possibilidade de integração da matemática financeira com a educação
financeira.
o estímulo a reflexões críticas sobre os padrões de cultura que constituem a conduta dos
diversos grupos que compõem a sociedade (TAVARES et al., 2016).
Segundo as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) e BNCC, o ensino médio
deve comprometer-se com o princípio da educação integral e favorecer o desenvolvimento
de aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais além da construção do projeto de vida
dos estudantes. Com isto, as políticas educacionais buscaram firmar seu compromisso com
os princípios da justiça, ética, autonomia, cidadania e com o ensino integral na educação
básica do país (BRASIL, 2018b, 2018c).
Foi nesse contexto de integração que a BNCC inseriu a educação financeira ao
itinerário formativo “ciências humanas e sociais aplicadas”, apensada particularmente
à categoria “trabalho”. Tal inserção buscou cooperar com a aprendizagem crítica dos
estudantes, contribuindo para a ampliação do entendimento sobre as configurações do
trabalho, mutações das relações de emprego entre trabalhadores e setores produtivos,
concentração de riqueza e consequentes efeitos da distribuição de renda sobre as
desigualdades sociais no Brasil (BRASIL, 2018b).
Nesse sentido, para contribuir com a aprendizagem crítica da educação financeira e,
portanto, com a educação integral, o educador deve observar que a produção ou construção
do conhecimento deve ocorrer através do estímulo à curiosidade e da capacidade crítica
de análise dos estudantes. Essa criticidade deve sempre partir da observação, delimitação
e cisão do objeto, de modo que o estudante possa questioná-lo e problematizá-lo para
melhor compreendê-lo (FREIRE, 1996).
Portanto, para desenvolver o senso crítico, reflexivo e ético dos estudantes,
os procedimentos de ensino e aprendizagem de quaisquer conteúdos, incluindo os de
educação financeira, devem envolver o compromisso docente com a formação humana
integral, crítica e com a transformação social (ARAUJO; FRIGOTTO, 2015).
Partindo então para discussões sobre as respostas obtidas na Questão 10, acerca
da participação dos docentes em atividades de ensino envolvendo educação financeira,
houve uma unanimidade de respostas negativas. Ou seja, do total de docentes incluídos na
pesquisa, todos eles afirmaram não ter participado de atividades de ensino que envolvessem
educação financeira no âmbito do ensino médio integrado.
Das respostas proferidas ao item, destacam-se as falas dos docentes “D9” e “D11”,
que afirmaram nunca ter participado de qualquer atividade de ensino envolvendo a
temática educação financeira em suas disciplinas, apesar de ambos atuarem no ensino
de matemática.
Tal constatação tem importante destaque nesta pesquisa pois, habitualmente, a
educação financeira tem se apresentado de forma vinculada à matemática financeira,
colaborando efetivamente com o processo de tomada de decisões financeiras dos sujeitos
(ROSSETTO, 2019).
Esta vinculação ocorre, porque o processo para a tomada de decisões financeiras
envolve uma grande quantidade de elementos importantes que requerem, dentre outras,
Vasconcellos (2006) esclarece que os recursos naturais, como qualquer outro fator
de produção, são recursos escassos, portanto finitos, e por isto deve-se fazer o emprego
racional de suas propriedades, a fim de atingir maiores níveis de satisfação das necessidades
e desejos da sociedade. Em razão de tal escassez, considera-se de importante valia a
implementação da educação financeira para o consumo sustentável de bens e serviços,
produzidos a partir do emprego dos recursos naturais que, por sua natureza, são limitados.
Orientar os estudantes sobre o consumo moderado, consciente e responsável é
tarefa primordial para evitar práticas de consumo excessivo e o desperdício. Isto acaba
por estimular a conscientização ecológica, contribuindo também para o desenvolvimento
tecnológico e crescimento sustentável da economia, além de considerar a inclusão social
e a conservação do meio ambiente (DANTAS, 2015).
Para isto, é necessário que a educação financeira seja contextualizada e que
articule teoria e prática, além de estabelecer conexões interdisciplinares com as ciências
da natureza. Isto faz com que o estudante perceba que a educação financeira não se
limita apenas à compreensão dos recursos financeiros em si, mas que também importa o
uso consciente dos recursos naturais, a fim de evitar ou reduzir a degradação ambiental
causada pelo consumo irracional (FRANZONI; QUARTIERI, 2020).
Desta forma, os estudantes serão capazes de compreender que as ações de consumo
que agridem o meio ambiente, por consequência, provocam ações nocivas à sociedade, já
que ambos fazem parte de um mesmo ecossistema e, portanto, representam uma relação
única e simbiótica (LUZZI; BAIER, 2019).
Como visto, as contribuições da educação financeira vão além da simples construção
das capacidades de gerenciamento das finanças pessoais. No contexto da sustentabilidade,
educação financeira se revela pertinente e integrada ao consumo consciente e à preservação
do patrimônio ecológico disponível na natureza, o que demonstra a importância da
temática para a formação de um consumo ético, crítico e reflexivo dos estudantes.
Considerações finais
Referências
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Renata Gomes de Abreu Freitas é doutora em ensino de biociências e saúde pelo Instituto
Oswaldo Cruz (Fiocruz) e docente do Programa de Mestrado Profissional em Educação
Profissional e Tecnológica do Instituto Federal do Acre (Ifac).