Apelação Criminal

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIRETO DA 3ª VARA CRIMINAL

DA COMARCA DE SÃO GONÇALO/RJ.

Processo nº XXXXXXXXXXX
CARLOS, já devidamente qualificado nos autos da AÇÃO CRIMINAL em epígrafe,
que lhe move a JUSTIÇA PÚBLICA, vem respeitosamente perante Vossa
Excelência, por meio do seu advogado subscritor (Procuração fl. 469), com
fundamento no artigo 593, inciso I do Código de Processo Penal, interpor
RECURSO DE APELAÇÃO contra a r. sentença de fls. 337-372, requerendo, desde
já, seja o recurso conhecido por este Juízo e, consequentemente remetido ao
Egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais, para que dele conheça, dando-lhe
provimento.
Termos em que,
Pede e espera deferimento.
Cidade/ES, data.

ADVOGADO
OAB
_________________________________________________

RAZÕES DE APELAÇÃO

Processo nº
Origem: ___ª Vara Criminal da Comarca de XXXXX
Ação Criminal
Apelante: CARLOS
Apelado: MINISTÉRIO PÚBLICO

EGRÉGIO TRIBUNAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


ÍNCLITOS DESEMBARGADORES

Em que pese o zelo do magistrado “a quo”, este não deu ao caso a solução
adequada, senão vejamos:

1 – DOS FATOS

O apelante, primário e de bons antecedentes, fora denunciado como


incurso nas sanções penais dos artigos 302 da Lei nº 9.503/97, por duas vezes,
e art. 303, do mesmo diploma legal, ambos em concurso material, isto posto, como
dispõe a denúncia, na data de 08 de julho de 2017 teria o apelante, na direção
de veículo automotor, com imprudência em razão do excesso de velocidade,
colidiu com um veículo em que estavam Júlio e Mario, este na época com 9 anos,
causando lesões que resultaram com a morte de ambos. Pode se ler ainda da inicial
de que, em decorrência da mesma colisão, ficou lesionado Pedro, que passava pelo
local com sua bicicleta e foi atingido pelo veículo em alta velocidade, este, que,
após atendimento médico em hospital público, se retirou do local, sem ser
notado, razão pela qual foi elaborado laudo indireto de corpo de delito com
base no boletim de atendimento médico. Pedro nunca compareceu em sede policial
para narrar o ocorrido e nem ao Instituto Médico Legal. No curso da instrução, foram
ouvidas testemunhas presenciais, não sendo Pedro localizado. Durante o
interrogatório o apelante negou estar em excesso de velocidade, esclarecendo que
perdeu o controle do carro em razão de um buraco existente na pista. Foi
acostado exame pericial realizado nos automóveis e no local, concluindo que,
realmente, não houve excesso de velocidade por parte do apelante, e que havia o
buraco mencionado na pista.
O exame pericial, todavia, apontou que possivelmente haveria imperícia
do apelante na condução do automóvel, o que poderia ter contribuído para o
resultado. O juiz a quo julgou totalmente procedente a pretensão punitiva do
Estado e, apesar de afastar o excesso de velocidade, afirmou ser necessária a
condenação do apelante em razão da imperícia. No momento da dosimetria, fixou
a pena base de cada um dos crimes no mínimo legal, e, com relação à vítima Mário,
na segunda fase, reconheceu a agravante prevista no art. 61, II, alínea h do CP, pelo
fato de ser criança, aumentando a pena base em 3 meses. Ficando a pena acomodada
em 04 anos e 09 meses de detenção. Não houve substituição de pena privativa
de liberdade por restritiva de direitos em razão do quantum final, nos termos do
art. 44, I, do CP, sendo fixado o regime inicial fechado de cumprimento de pena,
com fundamento na gravidade em concreto da conduta.
2 – DO DIREITO
No caso em tela, é cediço ao apelante o que diz respeito à extinção da
punibilidade no que tange ao crime de lesão corporal praticada na direção de
veículo automotor, que teria como vítima Pedro, tendo em vista que não houve
representação por parte da vítima, condição essa indispensável para o
oferecimento da denúncia por parte do Ministério Público. Como se não bastasse
tal situação, tomando-se por base o paradigma, ter-se-ia um crime de lesão corporal
na direção de veículo automotor, em que, em regra, a ação é pública
condicionada à representação, transformada, por expressa disposição de lei, art.
291, §1º da Lei 9.503/97, (CTB), em ação penal pública incondicionada. O art.
88 da Lei 9.099/95 determina que nos crimes de lesões corporais leves e lesões
culposas a ação penal dependerá de representação da vítima, o que, foi
excepcionado pelo legislador no que tange aos delitos de trânsito. Conta do
enunciado que Pedro nunca compareceu na delegacia e nem em juízo, não
havendo qualquer circunstância a indicar que ele tinha interesse em ver o autor
do fato responsabilizado criminalmente. Dessa forma, passados mais de 06 (seis)
meses da identificação da autoria, houve decadência, nos termos do art. 38 do
CPP: “Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal,
decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do
prazo de seis meses, contado do dia em que vier, a saber, quem é o autor do crime
[...]”, o que funciona como causa de extinção da punibilidade, conforme art. 107, IV
do CP: “Extingue-se a punibilidade: [...] IV – pela prescrição, decadência ou
perempção”.
No que diz respeito ao crime de homicídio culposo praticado na direção de
veículo automotor, cabe ressaltar o direito de absolvição do apelante, tendo em
vista que a própria sentença reconhece que não houve imprudência por parte
do réu em razão do excesso de velocidade, assim como a perícia acostada ao
procedimento. Não havendo prova da conduta imputada na denúncia, restaria a
absolvição, nos termos do art. 386, VII do CPP.
Cabe mencionar que não poderia o magistrado ter condenado com
fundamento de que houve imperícia na direção do veículo, tendo em vista que tal
conduta não foi narrada na denúncia, violando o princípio da correlação, o qual
representa uma das mais relevantes garantias do direito de defesa, visto que
assegura a não condenação do acusado por fatos não descritos na peça acusatória,
sendo certo que o Ministério Público não aditou a inicial acusatória em momento
adequado. Desta senda, não sendo comprovado o fato imputado na denúncia, a
absolvição é medida que se impõe.
No que tange ao processo de dosimetria da pena, primeiro cabe explanar
sobre o afastamento do agravante conforme art. 61, inciso II, alínea h do CP. Tendo
em vista que tal agravante somente pode ser aplicado aos crimes dolosos. Quis
a lei punir mais severamente aquele que, dolosamente, pratica crime contra
criança. Na hipótese de crime culposo, não há que se falar em agravante, sob pena
de adotarmos a responsabilidade penal objetiva.
Em relação ao concurso material de crimes, conforme a denúncia, teria
ocorrido o concurso, já que com uma única conduta o agente teria causado
mais de um resultado. Assim, aplica-se a regra do art. 70 do CP, ou seja, as penas
cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso,
em detrimento do artigo 69 do CP: “Quando o agente, mediante mais de uma ação
ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se
cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No
caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se
primeiro aquele”, devendo haver exasperação da pena mais grave e não soma das
penas aplicadas.
Sem prejuízo, ainda que haja o entendimento de que deva ser mantida a
condenação, não poderia ser aplicado o regime inicial fechado. Desta forma,
cumpre requerer o afastamento do regime mais severo, seja aplicando-se o
regime aberto ou semiaberto, pois o art. 33, caput do CP: “A pena de reclusão deve
ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em regime
semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado”, não
admitindo, em nenhuma hipótese, que seja aplicado regime inicial fechado ao
crime punido unicamente com pena de detenção, como ocorre nos crimes
culposos da Lei 9.503/97. Cabe, ainda, o pedido de substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos, independentemente do quantum
de pena aplicada, já que o limite do art. 44, inciso I, do Código Penal aplica-se
apenas aos crimes dolosos: “As penas restritivas de direitos são autônomas e
substituem as privativas de liberdade quando: I – aplicada pena privativa de
liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou
grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo”.

3 – DOS PEDIDOS
Por tudo que dos autos consta, requer a reforma da r. sentença
condenatória, sendo imprescindível a imposição da absolvição ao caso em tela,
alicerçado no art. 386, inciso VII do CPP.
Por estas razões, requer o conhecimento e provimento do presente Recurso
de Apelação.

Termos em que,
Pede e espera deferimento.
Cidade/XX, data.
ADVOGADO
OAB

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