Apostila Psicoterapia Infantil
Apostila Psicoterapia Infantil
Apostila Psicoterapia Infantil
PSICOTERAPIA
INFANTIL
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SOBRE A PROFESSORA
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1 BELSKY, J.; PLUESS, M. The nature (and nurture?) of plasticity in early human development.
Perspectives on Psychological Science, v. 4, n. 4, p. 345-351, 2009.
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PSICOTERAPIA
INFANTIL
1 Os processos iniciais
da Psicoterapia Infantil
O processo de atendimento infantil é muito distinto do trabalho com adultos.
Nesta seção, serão abordados os principais pontos da Psicoterapia Infantil.
2 Cf. SOUTHAM-GEROW, M. R., & MAYES, T. L. Effective Child Therapy: Evidence-Based Mental Health
Treatment for Children and Adolescents. American Psychologist, 69(9), 854–866, 2014.; e GLASER, D.
Child development and evolutionary psychology. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 41(3),
299-312, 2002.
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da leitura de artigos científicos, participação em conferências e workshops e
networking com outros profissionais da área.
No geral, tornar-se um psicólogo que trabalha com crianças requer uma sólida
base educacional, experiência prática e desenvolvimento profissional contínuo. Ao
dar esses primeiros passos e desenvolvê-los ao longo do tempo, os psicólogos
podem fornecer atendimento eficaz e ético às crianças e suas famílias.
Psicólogos clínicos que trabalham com crianças podem usar uma variedade
de modalidades de tratamento, como terapia de jogo, terapia cognitivo-
comportamental e terapia familiar, para ajudar jovens pacientes a superar uma
variedade de desafios de saúde mental, incluindo ansiedade, depressão, TDAH e
trauma. Em geral, a abordagem clínica na psicologia infantil é uma ferramenta
essencial para ajudar crianças e adolescentes a alcançar seu potencial máximo e
levar vidas satisfatórias e saudáveis.
Nesse sentido, é preciso ter em mente que ser psicoterapeuta é uma construção.
A abordagem terapêutica escolhida será a sua base, firme e sólida, que guiará sua
prática. Quanto mais o psicólogo se aplicar em conhecer e assimilar o básico, maior
a chance de expansão de uma forma enriquecedora, produtiva e colaborativa.
Por isso, ter um referencial, um livro que de estudo constante e que traga muitas
informações, além de grupos de estudo, professores e tutores para estar sempre
aprimorando o conhecimento acerca dessa abordagem. O mais importante é ter
uma fonte de informação única e unívoca, coerente, que seja o seu referencial
para a abordagem; no caso dos livros, se atente para que sejam livros atualizados.
1.1.1 TCC
A Terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem orientada para o
problema que se concentra em ajudar as crianças a mudar padrões de pensamento
e comportamento disfuncionais que podem estar contribuindo para seus problemas
de saúde mental. Durante as sessões de terapia, a criança aprende habilidades para
lidar com desafios específicos e trabalhar para alcançar seus objetivos.
A TCC trabalha com a criança para identificar e modificar padrões de
pensamento e comportamento negativos. O terapeuta ajuda a criança a identificar
pensamentos automáticos negativos e ensina técnicas para reestruturar esses
pensamentos em pensamentos mais positivos e realistas. Também envolve ensinar
a criança habilidades de enfrentamento para lidar com situações estressantes e
desafiadoras.
Alguns livros que podem orientar o estudo dessa abordagem são: Terapia
Cognitivo-Comportamental na Prática Psiquiátrica, de Aaron T. Beck, Judith S. Beck
e John F. Clarkin (Artmed Editora); Terapia Cognitivo-Comportamental para Leigos,
de Rhena Branch e Rob Willson (Alta Books); Terapia Cognitivo-Comportamental
para Ansiedade e Depressão: Uma Abordagem Prática e Integrada, de Stefan G.
Hofmann e Michael W. Otto (Editora Manole).
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1.1.2 Gestalt-terapia
A Gestalt-terapia é uma abordagem clínica que se concentra no momento
presente e na experiência subjetiva do indivíduo, enfatizando a importância da
conexão entre mente, corpo e ambiente. É uma abordagem humanista e holística
que enfatiza a capacidade do indivíduo de se autoconhecer e de realizar mudanças
positivas em sua vida. Tem por objetivo principal ajudar o indivíduo a se tornar
mais consciente de suas emoções, comportamentos e padrões de pensamento. O
terapeuta trabalha com o cliente para explorar suas experiências presentes, em
vez de se concentrar em eventos passados ou futuros. A Gestalt-terapia enfatiza a
importância de experiências pessoais diretas e acredita que a exploração dessas
experiências pode levar a uma maior autoconsciência e mudança positiva.
Alguns livros que podem orientar o estudo dessa abordagem são: Gestalt-
terapia: fundamentos e práticas, de Lilian Frazão e Maria José Marinho (Editora
Ágora); A Prática da Terapia Gestalt, de Dan Bloom e Carolyn Cleveland (Summus
Editorial); Terapia Gestalt: Abordagem Centrada no Aqui e Agora, de Gary Yontef e
Lynne Jacobs (Summus Editorial).
1.1.3 Psicodinâmica
A psicodinâmica é uma abordagem clínica que se concentra em compreender
a dinâmica inconsciente que influencia o comportamento e o pensamento
da criança. Essa abordagem é baseada na teoria psicanalítica desenvolvida
por Sigmund Freud e alguns estudiosos que seguiram sua abordagem. Nesse
sentido, para esta corrente, os comportamentos e pensamentos da criança são
influenciados por questões inconscientes, incluindo experiências traumáticas da
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infância, desejos e impulsos reprimidos, e conflitos internos. Essas forças podem
afetar o desenvolvimento emocional da criança e levar a problemas de saúde
mental.
Alguns livros que podem orientar o estudo dessa abordagem são: Teoria da
Psicanálise, de Sigmund Freud (Companhia das Letras); O Ego e o Id, de Sigmund
Freud (Companhia das Letras); sicodinâmica das Cores em Comunicação, de
Modesto Farina, Iride Fontana e Jean Pierre Chabloz (Editora Blucher).
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Avaliação inicial: o processo terapêutico infantil começa
com uma avaliação inicial do psicólogo, que pode envolver
entrevistas com os pais ou responsáveis e com a criança,
observação do comportamento da criança e avaliação de
histórico médico e escolar.
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Estabelecimento de objetivos: com base na avaliação
inicial, o psicólogo estabelece objetivos específicos para
o tratamento e discute esses objetivos com os pais ou
responsáveis.
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Estabelecimento de rapport: o psicólogo trabalha para
estabelecer um rapport ou conexão terapêutica com a
criança, criando um ambiente seguro e confortável e usando
técnicas terapêuticas adequadas à idade da criança.
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Exploração do problema: o psicólogo ajuda a criança
a identificar e explorar seus problemas e sentimentos,
geralmente através de jogos, brincadeiras e outras atividades
adequadas à idade.
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Intervenção: o psicólogo usa técnicas terapêuticas
apropriadas à idade para ajudar a criança a desenvolver
habilidades para lidar com seus problemas e sentimentos,
incluindo técnicas cognitivo-comportamentais, terapia de
jogo e outras abordagens.
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Colaboração com os pais ou responsáveis: o psicólogo
trabalha em colaboração com os pais ou responsáveis da
criança para ajudá-los a entender os problemas da criança
e fornecer apoio e orientação.
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Avaliação e ajuste: o psicólogo regularmente avalia o
progresso da criança e faz ajustes ao plano de tratamento
conforme necessário.
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Conclusão do tratamento: quando a criança atinge os
objetivos estabelecidos e demonstra habilidades para lidar
com seus problemas, o tratamento é concluído. O psicólogo
pode fornecer orientação para ajudar a prevenir recaídas e
encaminhar a criança para serviços de apoio adicionais, se
necessário.
O processo, portanto, tem início com a avaliação dos adultos que estão
envolvidos na vida da criança. É fundamental compreender que os responsáveis
pela criança são um elemento integral do processo terapêutico e devem ser
mantidos em contato constante com o psicoterapeuta. Portanto, a primeira
sessão geralmente é realizada com os adultos responsáveis. Nesse momento,
é importante identificar a demanda da família em relação à criança, que, na
maioria das vezes, está associada a queixas comportamentais ou emocionais.
Nesse sentido, a presença da criança não é necessária nessa primeira sessão,
pois as queixas relatadas pelos adultos podem ser compreendidas pela criança
como verdades absolutas, podendo prejudicar o processo terapêutico. Assim,
recomenda-se que a primeira sessão seja realizada somente com os adultos,
comunicando previamente a não participação da criança.
2 Técnicas de Psicoterapia
Infantil na Clínica
A psicoterapia infantil envolve a utilização de técnicas específicas que levam
em consideração as particularidades do desenvolvimento infantil. O uso de
recursos estruturados e não estruturados, bem como a criação de um ambiente
físico adequado, são essenciais para garantir a eficácia do processo terapêutico.
Nesse sentido, investir em materiais de qualidade é crucial, uma vez que estes
não devem ser facilmente danificados ou possuir peças pequenas que possam ser
engolidas. Além disso, os materiais têxteis devem ser higienizados adequadamente,
a fim de evitar a transmissão de doenças ou infecções.
Por exemplo, os jogos são muito utilizados em terapia infantil, pois permitem
que a criança se expresse de forma lúdica e divertida, enquanto desenvolve
habilidades sociais, emocionais e cognitivas. Já os desenhos são frequentemente
utilizados como uma forma de expressão, permitindo que a criança mostre seus
sentimentos e pensamentos de uma forma visual. As histórias também são uma
ferramenta importante, permitindo que a criança se identifique com personagens
e situações, facilitando o entendimento e a resolução de problemas.
Além disso, sucatas podem ser utilizadas para promover a comunicação não-
verbal entre a criança e o terapeuta. Através da manipulação desses materiais,
a criança pode expressar suas emoções e pensamentos sem a necessidade de
falar. O terapeuta pode então interpretar e refletir sobre o que foi comunicado
pela criança, criando um espaço de compreensão e empatia. O uso de sucadas
na psicoterapia infantil também pode ajudar a criança a desenvolver habilidades
cognitivas, motoras e sociais.
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O terapeuta deve estar preparado para lidar com os recursos não estruturados
de forma adequada, permitindo à criança explorá-los livremente, sem julgamentos
ou interferências desnecessárias. O terapeuta pode usar os recursos não
estruturados como forma de estimular a imaginação e a criatividade da criança,
e de criar um ambiente acolhedor e seguro para o desenvolvimento do processo
terapêutico.
2.4 O desenho
O desenho exprime as formas fazendo que a criança utilize funções que muitas
vezes estavam bloqueadas/escondidas. Sabe-se que a principal linguagem da
criança é a não verbal e o desenho é, também, uma forma da criança se expressar
e mostrar o que nem ela viu que estava guardado dentro dela (já que pode ser
que, mesmo com desenhos na escola, tenha predefinições para o desenho).
Com o auxílio do terapeuta, o paciente pode refletir sobre o que foi desenhado,
avaliando seus sentimentos, emoções e comportamentos em relação ao tema.
Esse processo pode ajudar o paciente a encontrar novas formas de lidar com
a questão, permitindo que ele transmita essa nova conduta saudável em suas
relações fora do ambiente terapêutico.
Por fim, é importante destacar que o desenho não é utilizado como uma forma
de diagnóstico, mas sim como uma ferramenta terapêutica. O terapeuta infantil
não busca interpretar o desenho de forma literal, mas sim entender o que ele
representa simbolicamente para a criança. Como psicoterapeuta, é importante
evitar fazer julgamentos sobre o que é um desenho correto ou incorreto, já que
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essa postura pode limitar o processo terapêutico do paciente. Em vez disso, a
abordagem deve ser descritiva, sem dar explicações ou interpretações antes da
própria explicação do paciente. A hipótese do terapeuta pode ser diferente da
intenção inicial do paciente, o que pode levar a uma compreensão inadequada do
desenho e do sentido que o paciente atribuiu a ele.
3 Questões na
Psicoterapia Infantil
3.1 Atendimento de irmãos
É importante ressaltar que, embora sejam irmãos, cada um é uma pessoa única,
com vivências próprias e distintas. Assim, é necessário que a história da segunda
criança seja contada novamente, mesmo que seja ao mesmo psicoterapeuta, e que
não se deva tratar o atendimento do segundo irmão como um acompanhamento
do primeiro. A psicoterapia não deve ser vista como uma atividade extracurricular,
mas sim como um processo terapêutico individualizado, no qual se busca entender
e tratar as questões específicas de cada criança.
Assim, não é adequado sugerir que um filho precise fazer terapia apenas
porque o outro já está fazendo. Cada criança deve ser vista como única, com
necessidades e dificuldades próprias, e os pais devem compreender que o
atendimento terapêutico é uma oportunidade para a criança receber ajuda em
relação às suas questões específicas. Caso a individualidade dos filhos não seja
respeitada, pode ser necessário que o segundo irmão seja atendido por outro
psicoterapeuta. É responsabilidade do psicoterapeuta orientar os pais nesse sentido,
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de forma a garantir a efetividade do tratamento e o respeito às particularidades
de cada criança.
Por fim, é importante ressaltar que a psicoterapia infantil deve ser conduzida por
profissionais qualificados e experientes na área. É importante que o psicoterapeuta
tenha formação e experiência na área da psicoterapia infantil, e que esteja sempre
atualizado com as melhores práticas e técnicas disponíveis.
Para que o paciente possa atingir esse grau de integração, é necessário que
haja um ambiente terapêutico seguro e acolhedor. O psicoterapeuta deve estar
presente e atento às necessidades do paciente, sempre mantendo uma postura de
respeito e empatia. É importante que o paciente se sinta ouvido e compreendido
em suas demandas e angústias, para que possa estabelecer uma relação de
confiança com o terapeuta.
3 BOWBLY, John. Apego e perda: A natureza do vínculo. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
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3.7 Mentiras
Uma abordagem eficaz para lidar com mentiras na psicoterapia infantil é criar
um ambiente seguro e acolhedor, no qual a criança possa se sentir confortável
em compartilhar seus pensamentos e emoções. Isso pode ser feito através
do estabelecimento de uma relação terapêutica positiva e do uso de técnicas
terapêuticas adequadas à idade da criança. Por exemplo, atividades lúdicas como
jogos, desenhos e dramatizações podem ser úteis para encorajar a criança a se
expressar de forma mais aberta e autêntica.
4 TALWAR, V. LEE, K. Social and cognitive correlates of children’s lying behavior. Child Development,
79(4), pp. 866-881, 2020.
5 LEWIS, Clare. Children’s lies and deception in therapeutic relationships: challenges and management.
Child and Adolescent Mental Health, v. 17, n. 2, p. 96-103, 2012.
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6 Cf. RIMM-KAUFMAN, S. E., & PIANTA, R. C. An ecological perspective on the transition to kindergarten:
A theoretical framework to guide empirical research. Journal of Applied Developmental Psychology,
21(5), 491–511, 2000; NOCK, M. K.; KAZDIN, A. E. Parent expectancies for child therapy: Assessment
and relation to participation in treatment. Journal of Child and Family Studies, v. 11, n. 4, p. 435-449,
2002; EAMON, M. K. Poverty, parenting, peer, and neighborhood influences on young adolescent
antisocial behavior. Journal of Social Service Research, v. 28, n. 1, p. 1-23, 2002; e GERSHOFF, E. T.
Corporal punishment, physical abuse, and the burden of proof: Reply to Baumrind, Larzelere, and
Cowan (2002), Holden (2002), and Parke (2002). Psychological Bulletin, v. 128, n. 4, p. 602-611, 2002.
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Além disso, os pais também podem aprender estratégias de manejo de
comportamento e habilidades de comunicação que podem ajudá-los a responder
melhor aos comportamentos de raiva e agressão de seus filhos. Essas habilidades
podem incluir a identificação de gatilhos e antecedentes que desencadeiam
comportamentos agressivos, a implementação de técnicas de resfriamento, como
respiração profunda e relaxamento muscular, e a utilização de recompensas e
consequências para incentivar comportamentos mais apropriados.
7 FUNG, A. L. C.; RAINE, A.; GAO, Y.; SCHUG, R. A. The developmental taxonomy of psychopathic
behavior: A comparison of youth with severe conduct disorder and adult psychopaths. Journal of
Child Psychology and Psychiatry, v. 50, n. 8, p. 910-918, 2009. DOI: 10.1111/j.1469-7610.2009.02095.x.
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É comum que muitos pais levem ao consultório a queixa de que seus filhos
são hiperativos e agitados, principalmente em outros ambientes. Nesse sentido,
é importante ressaltar que a criança é concreta e, portanto, é natural que tenha
uma grande energia. Contudo, é fundamental que essa energia seja canalizada de
forma adequada e construtiva.
Referências Bibliográficas