Camimomilapsico243 Art12porugues
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Psicologia Social ISSN 1516-3687 (impresso), ISSN 1980-6906 (on-line). Sistema de avaliação: às cegas por pares (double-blind review)
e Saúde das https://doi.org/10.5935/1980-6906/ePTPSP14160.pt
Populações Universidade Presbiteriana Mackenzie
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Comercial 4.0 Internacional. 1
VISITA DOMICILIAR: SIGNIFICADOS E DILEMAS 2
Resumo
A visita domiciliar (VD) é um instrumento de intervenção que se constitui num desafio na prática profis-
sional, pois envolve situações de violação de direitos em contextos de vulnerabilidade social. Objetivou-se,
neste estudo qualitativo, compreender os significados e dilemas éticos atribuídos à VD como recurso de
intervenção, na perspectiva dos profissionais do Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famí-
lias e Indivíduos. Utilizando a perspectiva da Teoria Fundamentada nos Dados Construtivista, realizaram-
-se três grupos focais com 17 profissionais. Os dados, analisados por meio do software Atlas.ti 8.4, eviden-
ciaram os seguintes aspectos: a VD é um instrumento necessário para o acompanhamento psicossocial,
mas que gera um desgaste físico e emocional nos profissionais; ausência de formação e preparação do
profissional para a realização da VD; as equipes vivenciam, cotidianamente, dilemas éticos. Os profissio-
nais, ao realizarem suas práticas, encontram-se sujeitos aos contextos comunitário e interinstitucional,
gerando sentimento de impotência e constrangimento ante a obrigatoriedade da VD.
Palavras-chave: visita domiciliar, prática profissional, Suas, psicologia, Teoria Fundamentada
Abstract
The home visit (HV) is an intervention instrument that involves situations of violation of rights in contexts
of social vulnerability. The objective of this qualitative study was to understand the meanings and ethical
dilemmas attributed to the HV as an intervention resource, from the perspective of professionals from the
Protection and Specialized Attention to Families and Individuals Service. Based on the Constructivist
Grounded Theory, three focus groups were held with 17 professionals. The data, analyzed using the Atlas.ti
8.4 software, showed the following aspects: the visit is a necessary instrument for psychosocial monitoring,
but it generates physical and emotional stress in the professionals; lack of training and preparation of the
professional to carry out the visit; and the teams experience ethical dilemmas on a daily basis. Thus, during
their practices, professionals are subject to the demands of community and interinstitutional contexts,
generating feelings of powerlessness and embarrassment in the face of the obligation of the HV.
Keywords: house calls, professional practice, Suas, psychology, Grounded Theory
Resumen
La visita domiciliaria (VD) es un instrumento de intervención que implica situaciones de vulneración de
derechos en contextos de vulnerabilidad social. El objetivo de este estudio cualitativo fue comprender los
significados y dilemas éticos atribuidos a la VD como recurso de intervención, desde la perspectiva de
profesionales del Servicio de Protección y Atención Especializada a Familias e Individuos. Con base en la
Teoría Fundamentada en Datos Constructivista, se realizaron tres grupos focales con 17 profesionales. Los
datos, analizados en el software Atlas.ti 8.4, mostraron que: la visita es un instrumento necesario para el
seguimiento psicosocial, pero genera estrés físico y emocional en los profesionales; ausencia de formación
y preparación de los profesionales para realizar la visita; y los equipos experimentan dilemas éticos diaria-
mente. Así, los profesionales, al realizar sus prácticas, están sujetos a las demandas de los contextos co-
munitarios e interinstitucionales, generando sentimientos de impotencia y vergüenza ante la obligación de
la VD.
Palabras clave: visita domiciliaria, práctica profesional, Suas, psicología, Teoría Fundamentada
Psicologia: Teoria e Prática, 24(3), ePTPSP14160. São Paulo, SP, 2022. ISSN 1980-6906 (on-line).
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sobre a prática da VD, principalmente no que abrange a vivência dos riscos de sua própria segu-
rança e da tomada de decisões ante os dilemas comunitários (Ribeiro & Guzzo, 2014). Além
disso, a prática profissional, em contextos de constante vulnerabilidade social, contribui para o
desenvolvimento de transtornos mentais, como ansiedade, doenças físicas e sensações de medo
na equipe de profissionais (D’Avila, 2018; Dias et al., 2019).
No que diz respeito à VD no contexto da proteção social básica, ela consiste no instru-
mento mais utilizado pelas equipes profissionais (Flor & Goto, 2015), haja vista que 99,3% dos
Centros de Referência da Assistência Social (Cras) a realizaram em 2017 (Brasil, 2017). Cabe
ressaltar que, na pesquisa feita por Scott et al. (2019), mesmo os psicólogos reconhecendo a
importância da visita, essa atividade ficava a cargo dos assistentes sociais e era realizada somen-
te quando solicitada pelo Judiciário ou CT, a fim de elaborarem os relatórios para esses órgãos.
Evidencia-se que, devido à recente implantação do Suas, não se observaram, no contex-
to nacional, uma produção científica incipiente e a ausência de documentação institucional sobre
a VD realizada pela equipe da PSE, principalmente no âmbito da psicologia. Destaca-se ainda que
as publicações encontradas eram principalmente a teses e dissertações, as quais evidenciavam
um diálogo direcionado à interface do Creas com o papel do Estado na garantia dos direitos ou
no contexto das políticas de saúde. Nesse sentido, a utilização desse instrumento de intervenção
tem sido pouco sustentada por literatura que forneça aporte para lidar com a complexidade e os
desafios que configuram a VD no cotidiano profissional dos assistentes sociais e psicólogos do
Suas. Entende-se que pesquisas sobre essa temática contribuem para a construção e o desenvol-
vimento dessa prática profissional no contexto psicossocial, em razão da ausência de diretrizes
políticas ou de uma formação que adapte a prática ao contexto. Diante do exposto, este estudo
tem por objetivo compreender os significados e dilemas éticos atribuídos à VD como recurso de
intervenção na perspectiva dos profissionais do Paefi.
Método
Participantes
Trata-se de uma pesquisa qualitativa que possui como método a Teoria Fundamentada
nos Dados Construtivista (TFDC), proposta por Katy Charmaz (2009), a qual seguiu os preceitos
de planejamento da coleta, codificação e comparação constante dos dados.
A pesquisa foi realizada em um município que tinha dois Creas com um Paefi cada. A
coleta dos dados ocorreu por meio de três grupos focais com os profissionais psicólogos e assis-
tentes sociais, sendo um grupo realizado no Paefi 1, um no Paefi 2 com os profissionais que
trabalhavam no período matutino e um no Paefi 2 com os do período vespertino. Participaram,
no total, 17 profissionais, sendo dez assistentes sociais e sete psicólogos, de modo que os crité-
rios de inclusão foram ter realizado mais de cinco VD e trabalhar no Creas há mais de seis meses.
Dos 17 profissionais participantes, 16 eram mulheres, em idades entre 29 e 67 anos, três
eram doutoras, duas mestras e dez possuíam o título de especialistas. A média do tempo de
trabalho no Paefi foi de cinco anos, de modo que variou de seis meses a 13 anos. Em relação ao
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Tabela 1
Profissionais participantes do grupo focal
Tempo de trabalho Nº aproximado
Participante Idade Graduação Pós-graduação
no Paefi de VD realizadas
Instrumentos ou materiais
O instrumento utilizado foi o grupo focal, cujo roteiro foi composto por dados sociode-
mográficos e de identificação dos participantes, além de questões norteadoras referentes à ex-
periência sobre os significados e dilemas éticos atribuídos à VD. A escolha do grupo focal se deu
porque ele é um instrumento de coleta de dados que propicia um espaço privilegiado para a
discussão, construção de novas narrativas, troca de experiências e identificação de significados
individuais e coletivos (Flick, 2013).
Procedimentos
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPSH)
da Universidade Federal de Santa Catarina, sob número 2.320.439. A coleta dos dados foi reali-
zada no próprio Paefi em uma sala que garantisse o sigilo e a confidencialidade das informações.
No início dos três grupos focais, a pesquisadora se apresentou, explicou o objetivo da pesquisa,
entregou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para cada participante, leu-o em voz
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alta, assinou e coletou as assinaturas, de modo que cada pessoa ficou com uma via. Destaca-se
que, para a realização do grupo focal, houve uma preparação da pesquisadora, com a orientado-
ra e duas investigadoras com experiência nessa proposta metodológica, as quais avaliaram o
roteiro de perguntas para verificar se atendiam aos objetivos da pesquisa. Cabe apontar que, nos
grupos focais, participaram duas observadoras, que eram psicólogas e pesquisadoras e foram
convidadas para contribuir durante a coleta dos dados.
Os dados foram organizados e analisados de forma indutiva, pois, conforme a TFDC, as
categorias e subcategorias emergem com base nos dados coletados. Na etapa inicial, realizou-se
a codificação palavra por palavra, linha por linha ou incidente por incidente. Para Charmaz
(2009, p. 16), “codificar significa associar marcadores a segmentos de dados que representam
aquilo de que se trata cada um dos segmentos”. Na segunda etapa da análise dos dados, chama-
da de focalizada, os códigos eram coadunados com aqueles de mesmo marcador, os quais se
elevavam a subcategorias e, após, a categorias. Os dados foram codificados com auxílio do
software Atlas.ti, versão 8.4. Com esse processo de análise, construíram-se uma categoria central
e, também, três subcategorias, que evidenciaram os significados e as experiências dos profissio-
nais do Paefi sobre a VD (Figura 1).
Figura 1
Categoria, subcategorias e elementos de análise
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Resultados
Os dados, organizados em uma categoria central e três subcategorias, apresentam ele-
mentos sobre os significados e sentimentos atribuídos à VD pelos técnicos, sobre a formação e
os subsídios fornecidos aos profissionais para a realização da VD e sobre os dilemas éticos decor-
rentes do contexto institucional e do contexto de vulnerabilidade.
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e, assim, seguiam por esse mesmo caminho. Caso não entendessem, silenciavam-se até o cole-
ga abrir o espaço para eles. Sobre isso, A8 afirma:
A pessoa vai conhecendo cada vez melhor o parceiro e aí já sabe o momento de falar, de silenciar, já sabe
que aquilo que está sendo feito naquele momento do atendimento, aquela outra pessoa vai fazer melhor
porque em outras oportunidades ela já fez. “Essa parte aqui, eu já sei". Mas ela não precisa falar para ti, tu
já vai saber isso. Então vai sendo construído, e tu já sabe para onde que ela vai levar, o que ela tá pensando,
às vezes até qual é a próxima pergunta que ela vai fazer. […] Tem pessoas que conseguem trabalhar mais
facilmente. Tem outras duplas que já têm mais dificuldade. Mas tem que estar sempre prestando atenção
Por sua vez, os profissionais mencionaram que o trabalho em dupla, mesmo sendo im-
portante, é difícil, pois estavam acostumados a uma lógica de trabalho individual e por categoria
profissional, e, devido a isso, por vezes, preocupavam-se em não estar invadindo o espaço do
outro. Destaca-se que os profissionais referiram que, por vezes, as abordagens e intervenções se
misturavam no sentido de que, em alguns momentos, uma categoria profissional fazia o trabalho
da outra.
Os participantes apontaram também as diferenças no atendimento psicossocial durante a
VD entre as duas categorias profissionais. Para eles, o psicólogo observa mais o trajeto até a casa,
o território, e menos a residência; além disso, ele foca a atenção no usuário e monta um “quebra-
-cabeça” sobre a dinâmica da família, considerando sua intergeracionalidade, as questões micro
do contexto e as subjetividades das pessoas e famílias atendidas. Em relação aos assistentes so-
ciais, mencionou-se que são mais pragmáticos, pois apontam diretamente o que precisa ser mu-
dado e se atêm menos à subjetividade. Para os participantes, os assistentes sociais focam as in-
tervenções na orientação sobre os direitos da família relacionados ao trabalho, à renda familiar,
ao acesso aos serviços de saúde e educação e aos cuidados cotidianos com as crianças.
A VD foi compreendida como um instrumento de trabalho que, dependendo da família,
pode ser o recurso mais importante. Por meio dela, o profissional se aproxima da realidade da
família, sendo, nesse sentido, um instrumento forte para a garantia dos direitos. Eles evidencia-
ram que a VD precisa ser utilizada com cuidado, uma vez que é realizada no espaço de privaci-
dade da família desconhecido pelo profissional e em um território que é, por vezes, vulnerável e
violento, o que a caracteriza como imprevisível. Ademais, foi apontado que cada serviço, das
variadas redes de atenção, realiza a VD de uma maneira diferente, dada a especificidade de cada
instituição.
Os profissionais informaram que o significado dado à VD pelas famílias visitadas depen-
de de uma série de fatores, como a forma que a visita foi realizada pelos outros serviços, como o
CT; o tempo de espera para iniciar o atendimento no Paefi; a existência ou ausência de explica-
ções sobre o motivo da visita; o vínculo construído com o profissional; e o momento do processo
do atendimento. Além disso, o significado da VD é influenciado à medida que as famílias e os
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territórios confundem a equipe do Paefi com o CT e os associam à polícia. Diante disso, os pro-
fissionais relataram que a maioria das pessoas não gosta da visita ou não a quer e algumas ficam
constrangidas, desconfortáveis e apreensivas quando os profissionais chegam à casa delas. Con-
forme os participantes, algumas famílias acreditam que sua moradia e forma de viver serão
avaliadas durante a VD, o que pode gerar fantasias, preocupações e ansiedade sobre as conse-
quências dessa prática. Segue uma das falas de uma usuária, relatada pelo profissional, que
mostra sua preocupação com a VD: “Tas anotando para colocar no relatório? Para mandar para o
juiz?” (A4). Outras famílias, principalmente as judicializadas, convidam os profissionais para
mostrar a residência e as mudanças feitas nela a fim de que não tenham prejuízos.
Além dessa associação dos profissionais ao CT, os sentimentos apresentados pelas famí-
lias também podem estar relacionados ao contexto comunitário, na medida em que ficam com
medo de receber os profissionais em casa por causa das consequências do tráfico de drogas, por
não querer a polícia ou o CT no território, ou ainda por desconfiança do que a família falará aos
profissionais. Foi apontado também que há um constrangimento das famílias no contexto comu-
nitário por conta da presença dos profissionais e do carro da assistência social, uma vez que a
representação comunitária é de que a família falhou nos cuidados e de que o Creas e o CT estão
indo para auxiliar, punir ou fiscalizar, o que potencializa a compreensão familiar de que o serviço
tem um “caráter negativo”. Diante disso, algumas famílias pedem aos profissionais que não se
identifiquem na comunidade e não estacionem o carro na frente de suas casas.
Os participantes relataram que algumas famílias compreendem a importância do acom-
panhamento e que, quando possuem um bom vínculo com o técnico de referência, sugerem a VD,
gostam dela, cobram-na e ficam à vontade durante o atendimento. Algumas famílias recebem
tranquilamente a VD, pois se sentem acolhidas e cuidadas.
Em relação à saúde mental dos profissionais, foi descrito que o trabalho no Paefi os afe-
ta em seu contexto pessoal, no sentido de que a violência e a vulnerabilidade os sensibilizam
emocionalmente.
[…] a maioria são com realidades muito cruéis, então tu volta impactado. Não tem como tu sentar na tua
mesa de jantar, jantar e lembrar daquela família que tá pedindo o básico, sabe? Tá com quatro, cinco crian-
[…] eu tinha uma fase que eu deixava tudo aqui no portão. Ia para casa e desligava, conseguia isso. Hoje
em dia que eu estou mais velha, não estou conseguindo mais. Eu me perco, às vezes, acordo durante à
No que diz respeito aos seus sentimentos durante a realização da VD, os profissionais
apontaram que se sentem impactados pelo fato de os contextos das famílias serem “cruéis”
(A10) e piores do que imaginavam. Enfatizaram que, na visita, o profissional lida com o impre-
visível e vivencia “na pele” (A10) a vulnerabilidade familiar, uma vez que as demandas atendidas
são “difíceis, tristes, doloridas, sofridas” (A17), principalmente quando o profissional se coloca
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em uma posição empática pela dor do outro. Somam-se a isso o constrangimento e a frustração
de ser o representante do Estado, ver as condições socioeconômicas da família e não poder ga-
rantir seus direitos básicos. Nesse sentido, os entrevistados relataram que a prática da visita
provoca exaustão e desgaste físico e emocional.
Diante desse cenário, a utilização da VD como instrumento exige do profissional “atenção,
desenvoltura, desempenho, perspicácia e persuasão” (A15). Assim, os profissionais apresentaram
as estratégias que utilizam para que não adoeçam ante esses sentimentos e essas emoções emer-
gentes no contexto da visita: 1. crer que a realidade da família é mais impactante para o profis-
sional, pois a família já está acostumada com seu próprio contexto, 2. alimentar-se ao voltar da
visita, 3. não agendar atendimento após a visita e 4. ter pensamentos onipotentes durante o
contexto comunitário, como aponta A4: “A gente pensa que tem um colete à prova de bala”.
Mesmo diante de tantos desafios para a realização da visita, ela foi avaliada pelos pro-
fissionais como eficaz, na medida em que possui planejamento e diretrizes e cumpre os objetivos
propostos pelos profissionais, como ver e compreender melhor o contexto familiar e comunitário
e acessar a rede de apoio da família. Além disso, a visita foi considerada eficaz porque, sem ela,
é difícil para o profissional fazer o acompanhamento das famílias.
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década de 1970, de modo que na época, conforme a política de assistência vigente, a postura do
profissional e a forma de realizar a visita tinham o caráter de fiscalização, o que diverge da atual
política.
Nesse sentido, para os participantes, a aprendizagem e a adaptação sobre a VD ocorre-
ram principalmente no Paefi por meio da prática, pois os técnicos observavam seus colegas e
duplas e “copiavam” ou “descartavam” as formas de realização da VD. Relataram também que os
profissionais iam trocando experiências, conversando e explicando, uns para os outros, o que se
fala, o que pode e o que não pode ser feito na visita. A psicóloga A10 relatou que aprendeu a
realizar a VD “fazendo e quebrando a cara”. Foi informado também que aprenderam a fazer vi-
sita lendo publicações de colegas sobre a VD e a partir da experiência em outros serviços. Rela-
tou-se a carência de materiais sobre a VD no contexto da PSE, principalmente pelos existentes
estarem relacionados a manuais e roteiros.
Eu acho que esse dilema ético que a A10 falou, às vezes foram famílias que já foram tão invadidas, tantos
serviços já atenderam, muitas vezes é o Estado que está negligenciando essa família. Eu vou lá ofertar o que
para essa família muitas vezes, né? Pega bem no dilema, vale ir lá fazer mais uma visita, exigir mais dessa
Isso que a A11 falou agora para mim faz muito sentido. Você vai lá em nome de um Estado, que é o
principal violador, ele é o principal violador, você vai lá fazer o quê? Tem que pensar bem se vale fazer essa
visita. Daí cai naquela história do objetivo, vou fazer o que lá? Isso é uma coisa bem delicada (A9).
Outro dilema ético apresentado foi a ausência de políticas públicas efetivas relacionadas
às políticas de habitação:
Ela [a família] não tinha o banheiro dentro de casa, uma questão de condição mesmo da habitação de não
ter uma água potável, um chuveiro, um banheiro de fato ali. Então, como se faz uma denúncia, se exige uma
determinada postura dessa família, quando ela não tem nem as condições para prover essa condição? (A3).
A relação do Paefi com a Justiça foi também considerada pelos participantes outro dilema
ético institucional, na medida em que se constitui um viés na construção de vínculos familiares e
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[…] então fica um jogo assim de esconde-esconde, onde eles acabam escondendo algumas informações, e
a nossa parte é de desfazer isso aí, explicar qual é o objetivo do trabalho aqui no Paefi e derrubar um pouco
essas defesas que eles já colocam de primeira. Então, eles mantêm alguns segredos também na família,
porque para boa parte das famílias a gente não é confiável. Confiável no sentido de que “aquilo que eu estou
falando para eles, será o que eles vão fazer com essa informação? Será que eles vão utilizar para tirar o meu
filho?” (A8).
Diante disso, as famílias sabem que o relato delas ao profissional poderá ser registrado
no prontuário ou relatório e enviado ao juizado ou ao CT, o que foi pontuado como um dilema
ético, uma vez que o uso desses dois registros pode ter como consequência grandes proporções,
como a retirada da criança do contexto familiar. No contexto do Paefi, mencionou-se que a fa-
mília nuclear tem direito ao acesso aos prontuários e que neles constam informações de vários
membros familiares que podem estar em conflito entre si, como no caso das famílias em divórcio
litigioso. Além disso, citou-se que esse instrumento pode ser utilizado nas audiências, dando,
inclusive, acesso aos advogados, o que coloca em conflito o registro dos segredos relatados aos
profissionais durante os atendimentos.
Ao mesmo tempo que se pontuou que o acesso ao prontuário é um direito, foi indicado
que ele deveria ser mantido em sigilo, pois o registro detalhado ajuda o profissional na com-
preensão do caso. Nessa perspectiva, os profissionais afirmaram que, diante desse dilema, por
vezes, os detalhes e a compreensão da visita ficam armazenados em sua “mente”, pois transpô-
-los para o papel gera um conflito ético.
Os relatórios também foram apresentados como um dilema ético, na medida em que o
Judiciário obriga os profissionais a realizá-los. Uma das profissionais relatou que escreveu um
relatório detalhado para que os outros técnicos não precisassem acessar a família e assim evitar
que ela repetisse as narrativas da violência vivida e não fosse revitimizada. No dia da audiência,
no entanto, o promotor projetou o relato na parede e o leu para os presentes. Nessa linha de
raciocínio, a fim de construir um vínculo de cuidado com as famílias, os profissionais informavam
a elas que o Paefi correspondia a uma instituição separada do CT e do juizado; além disso, escla-
reciam que as informações fornecidas por elas seriam descritas no relatório a ser enviado ao
Judiciário e/ou CT.
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Em relação à visita […], não é ético de código de ética, mas ética da vida, ética do momento em que eu
estou indo, eu estou sendo invasiva. A minha preocupação é essa de não ser invasiva e não criar mais uma
violência, não provocar mais uma violência. Esse é o conflito ético que eu tenho em relação à visita domici-
liar (A14).
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As crianças e adolescentes têm direitos violados que não podem sair da casa e falar o que está acontecendo,
então o profissional precisa entrar para saber o que está acontecendo (A8).
Ainda sobre isso, os participantes declararam que, para garantir os direitos, os profissio-
nais podem respeitar a família até certo ponto, deixando claro que há um limite entre a postura
de respeito e a de garantia do direito.
Outra postura identificada é aquela que o profissional assume diante da solicitação da
Justiça e do CT para o acompanhamento destinado às famílias, pois, de acordo com os partici-
pantes, essas instituições esperam uma postura de fiscalização, monitoramento e controle das
famílias. Nesse sentido, os técnicos relataram que há um choque entre o que esses serviços de-
mandam e o modo como os profissionais gostariam de se portar diante das famílias, o que, se-
gundo eles, pode gerar uma crise de identidade no trabalhador. Evidenciou-se que o dilema está
entre responder ao que é solicitado judicialmente e ter cuidado para não ser invasivo, provocar
mais violência e ser um instrumento de controle do Estado.
A narrativa dos participantes também demonstrou uma postura policialesca dos profis-
sionais na VD, que está embasada em pensamentos como: “boa parte das famílias não é confiá-
vel […] e tem segredos” (A8), “onde há fumaça, há fogo”, “os que são visitados é porque têm
alguma denúncia, alguma coisa tem por trás”, “tem famílias que tentam o tempo todo mascarar”
e “as famílias mentem muito” (A7).
Além dos dilemas relacionados à postura do profissional, foi possível evidenciar dilemas
éticos contextuais e familiares na prática da VD. Nessa direção, o início dos atendimentos no
Paefi ocorria, principalmente, pelas demandas encaminhadas pelo CT e Judiciário, as quais che-
gavam por meio de uma guia de encaminhamento, com uma denúncia confirmada ou uma sus-
peita de violação de direitos. Os profissionais informaram que algumas denúncias que vinham
com guia do encaminhamento eram falsas ou narradas de forma moralista, exagerada, pouco
contextualizada e, por vezes, as situações não correspondiam à realidade familiar.
Os entrevistados relataram que a solicitação de atendimento, por meio da denúncia, era
somente a porta de entrada para o acompanhamento, uma vez que, ao acessar a família, eram
identificadas outras violações e vulnerabilidades. Em algumas circunstâncias, para a família,
eram mais urgentes suas próprias necessidades do que as da denúncia gerada. Evidenciou-se que
isso, por vezes, gerava um dilema aos profissionais, no sentido de que a família queria falar de
outros temas, entretanto a responsabilidade em resolver a demanda encaminhada colocava os
profissionais em “choque” (A3) entre a solicitação e o que eles percebiam que precisaria ser rea-
lizado e, por vezes, devido à urgência, focavam as necessidades familiares em detrimento da
denúncia.
No que tange aos dilemas éticos no contexto comunitário, os profissionais trouxeram à
tona a dificuldade do sigilo e a discrição do atendimento, conforme apontam os excertos: “vai
fazer entrevista na casa e o vizinho tá ouvindo pela janela” (A8) e “tive situações de a
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vizinhança toda estar na janela para assuntar o que está acontecendo” (A7). Outro relevante
dilema ético apresentado pelos entrevistados é a relação entre a prática da VD e a influência do
tráfico de drogas na organização social da comunidade. Os profissionais afirmaram que as pes-
soas ligadas ao tráfico podem representar uma força de proteção e cuidado dentro da comuni-
dade, ao passo que podem ser uma força de opressão e violência. Nesse sentido, é preciso ter
cautela na avaliação sobre a forma de execução do trabalho. Às vezes, por exemplo, há “barrica-
das” feitas pelos traficantes, de modo que o profissional fica em um triângulo entre ser proteti-
vo com a família na garantia de seus direitos, realizar a demanda do Judiciário para o atendimen-
to e ter a passagem limitada pelo tráfico de drogas.
Discussão
Significando a visita domiciliar no processo de trabalho institucional à luz da formação
Os profissionais apresentaram as transformações em seu saber-fazer no contexto do
Paefi devido à implantação da Pnas, de forma similar aos dados encontrados. Sobre isso, Cruz e
Guareschi (2014) trazem à tona a mudança epistêmica da política de assistência social brasileira
e ainda afirmam que isso significou uma reforma do modelo de atenção. Nesse sentido, foi pos-
sível evidenciar uma profunda alteração na política da assistência, a qual exigiu, principalmente,
uma reestruturação da prática e postura profissional.
Os dados mostraram que os atendimentos realizados pelo Paefi ocorrem de forma inter-
disciplinar, ou seja, formada por uma dupla profissional composta por um psicólogo e um assis-
tente social, conforme preconizado pela Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do
Suas (NOB-RH/Suas) (Brasil, 2006) e abordado no trabalho de Jorge (2015) no sentido da im-
portância de o atendimento ser realizado por uma dupla psicossocial. As narrativas também vão
ao encontro dos resultados do estudo de Jorge (2015) no sentido de que o trabalho interdiscipli-
nar, no Creas, consiste em um movimento horizontal de “fazer com o outro”, principalmente por
envolver temas complexos relacionados à violência e à vulnerabilidade social; diante disso, a
prática interdisciplinar entre psicólogos e assistentes sociais contribui para ampliar os conheci-
mentos dos profissionais. De forma complementar aos achados da pesquisa, o CFP (2012) enfa-
tiza que a intervenção psicossocial é uma nova forma de trabalho que, por meio do conhecimen-
to específico de cada categoria profissional, ocorre a partir de uma leitura ampliada do contexto.
Especificamente no campo da psicologia, em certa medida, os dados vão ao encontro da publi-
cação do CFP (2012), uma vez que, no trabalho psicossocial, a psicologia agrega aspectos do
campo subjetivo relativos às relações familiares e contextuais.
Com base nos dados, foi possível identificar que, por meio da verificação de denúncia e
constatação da violação de direitos, o SGD encaminha as famílias ao atendimento no Paefi. Esse
dado coaduna-se com os documentos do estado do Rio de Janeiro (2013), do CFP (2012) e da
pesquisa de Lima (2011), uma vez que a maioria das famílias acompanhadas pelo Paefi é oriunda
de encaminhamentos do SGD, principalmente do CT, que, de certa forma, exigem a realização da
VD. Diante da obrigatoriedade da visita, os profissionais relataram que os usuários apresentam
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uma outra: “Qual é o limite entre a garantia da autonomia familiar e a garantia de direitos pe-
rante as violações?”.
O Paefi se localiza no interstício entre as dimensões política, institucional e o usuário,
que tensionam os profissionais a se posicionar diante das VD, os quais podem apresentar, prin-
cipalmente, uma postura de respeito e/ou de fiscalização. Esses dados coadunam-se com a lite-
ratura, segundo a qual, por um lado, nas visitas, os profissionais devem respeitar a privacidade
familiar e realizar agendamento, desorganizando o mínimo possível o cotidiano da família (Amaro,
2014; CFP, 2012) e, por outro, no estudo feito por D’Avila (2018), no contexto da proteção social,
as VD raramente são agendadas, de modo que os profissionais chegam de surpresa. Soma-se a
isso o fato de que, por vezes, a atuação dos profissionais da proteção básica do Suas é de fisca-
lização e visa à higienização (Santos & Heckert, 2017). Evidencia-se que a postura de fiscalização
da equipe, possivelmente, relaciona-se com a posição policialesca do encaminhador, do históri-
co de a política de assistência ter um caráter assistencialista e punitivo, e da ausência de mate-
riais e formações sobre a realização da VD.
No que diz respeito aos relatórios, os dados apontaram que sua realização é obrigatória,
haja vista os casos atendidos serem judicializados. Esse dado coaduna-se com D’Avila (2018),
Lima (2011) e Péres e Moré (2021) no sentido de que, quando a família não adere ao serviço ou
quando este é encerrado, é necessário informar ao órgão demandante para que tome as medidas
necessárias. A partir do relatório, é possível perceber o poder de polícia dado à equipe do Paefi, o
que compromete a tentativa de construção de vínculo.
Em relação aos dilemas éticos que ocorrem no contexto comunitário, os dados eviden-
ciaram que a demanda solicitada ao Paefi se relacionava, exclusivamente, à violência e de forma
estática, desconsiderando toda a complexidade que envolvia a família em seu contexto vulnerá-
vel. Isso vai ao encontro da pesquisa de Lima (2011) no sentido de que, em um dos casos anali-
sados, a demanda de atendimento do Judiciário foi a de negligência, mas os profissionais, ao
iniciarem o atendimento, identificaram outras necessidades de cuidado, como o uso abusivo de
drogas da progenitora, transtorno psiquiátrico do pai e situações precárias decorrentes da con-
dição socioeconômica. Por meio desse dilema ético, evidencia-se que o pedido principal do en-
caminhador ao Paefi está atrelado a uma série de outras demandas sociais e de saúde e, nesse
sentido, o profissional precisa tomar uma decisão importante: “Por onde iniciar o atendimento?”.
Outro dilema ético comunitário apresentado pelos profissionais relaciona-se com as re-
presentações que os vizinhos têm sobre as famílias atendidas pelo Paefi. Esse dado vai ao encon-
tro do estudo de D’Avila (2018), uma vez que essa autora afirma que os vizinhos, eventualmen-
te, vão ao portão de suas casas observar a abordagem e, assim, as famílias descreveram que,
além da surpresa pela chegada dos profissionais, sentem-se expostas nos bairros em que vivem.
No tocante às considerações apresentadas, observa-se que os trabalhadores, no contex-
to da PSE, lidam diariamente com: 1. demandas de vulnerabilidade e sofrimento das pessoas, 2.
contextos comunitários violentos, 3. altas demandas emocionais, 4. fila de espera das famílias
para serem atendidas, 5. ausência de formação adequada, 6. um fluxo interinstitucional
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demandante que causa vieses para a compreensão da dinâmica familiar e para a construção do
vínculo, 7. o fato de estarem sujeitos ao fluxo e impotentes no que concerne à resolução de al-
gumas demandas, 8. ausência de desejo ou medo de as pessoas serem acompanhadas e 9. crise
de identidade profissional. Esse conjunto de elementos leva a inúmeros dilemas éticos, à tomada
de decisões difíceis e ao possível adoecimento da equipe. Esses dados, em certa medida, corro-
boram os resultados obtidos por Schmidt (2013), uma vez que os técnicos, ao trabalharem em
contextos que exigem alta demanda psicológica, além do baixo controle sobre o trabalho, têm a
probabilidade de apresentar doenças físicas e psíquicas decorrentes do estresse, haja vista o alto
desgaste físico e emocional.
Considerações finais
Esse conjunto de dados e discussões apresentados configurara a categoria central “atri-
buindo significados e dilemas éticos relacionados à VD na perspectiva dos profissionais”, a qual
evidenciou que o Paefi se localiza numa triangulação entre os serviços que compõem o SGD, as
famílias atendidas e o contexto comunitário, e que cada eixo desse possui demandas e expecta-
tivas diferentes dos profissionais, os quais, para garantir o atendimento e responder a todos os
pedidos dos envolvidos nessa triangulação, realizam um balanceamento de como melhor aten-
dê-los. No vértice composto pelo SGD, há uma solicitação de fiscalização relacionada, exclusiva-
mente, à denúncia e à violência, o que potencializa, nos profissionais, uma postura de fiscaliza-
ção. Já no ponto de intersecção em que está localizada a família, há um pedido de cuidado,
sigilo e respeito por sua autonomia e seu desejo. No ponto em que está o contexto comunitário,
há um pedido implícito de cuidado, em razão das vulnerabilidades sociais e de uma imposição de
limites dados pelo tráfico de drogas e pelo contexto comunitário. É nessa perspectiva e conside-
rando os princípios da política de assistência social que os profissionais precisam tomar decisões
e fazer os atendimentos.
Soma-se a isso o fato da recente mudança epistêmica da política de assistência social, a
qual exige um novo saber-fazer e uma nova postura profissional, uma vez que passou de uma
lógica assistencialista para uma lógica de fortalecimento de autonomia e cidadania. Essa mudan-
ça epistêmica abarca elementos conceituais, teóricos e práticos. Percebe-se que essas mudanças
da política não foram acompanhadas pelos cursos de graduação em Psicologia e Serviço Social,
ou mesmo pelo próprio Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, ficando a car-
go dos profissionais o aprendizado de como utilizar os instrumentos socioassistenciais, como a
VD. Isso implica vivenciar e aprender, na prática, as dificuldades e os dilemas que fazem parte da
visita, o que pode, por vezes, colocar em risco a vida do profissional e gerar condutas fiscaliza-
doras.
Os diferentes contextos com solicitações ambivalentes, a mudança epistêmica da assis-
tência, a ausência de formação sobre VD no contexto da PSE e a dualidade vivenciada pelos
profissionais do Paefi em serem, ao mesmo tempo, representantes do Estado e cúmplices da
violação de direitos sociais fazem com que eles convivam cotidianamente com os dilemas éticos,
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o que implica refletir e tomar uma decisão nas articulações entre a ética pessoal, a ética profis-
sional e a ética da comunidade perante suas possíveis consequências.
A partir das considerações tecidas, em um contexto comunitário de vulnerabilidade social
que impacta e em um contexto institucional que gera impotência, emergem, nos técnicos, o
sofrimento e a crise. Diante disso, urge a necessidade de 1. organização do processo de trabalho
com vistas a dirimir os dilemas éticos vivenciados diariamente pelos profissionais, 2. inclusão,
nas graduações em Psicologia e em Serviço Social, da temática da VD no contexto do Paefi e dos
dilemas éticos, 3. espaços institucionais que capacitem os técnicos sobre a prática profissional,
sobretudo a VD, 4. reorganização do fluxo institucional, principalmente do pedido e da forma
como ele chega ao Paefi.
Considera-se que as limitações do estudo concernem à ausência de publicações que
dialoguem com a temática da VD, sendo utilizadas para a discussão as literaturas cinzentas,
como teses e dissertações. Outra limitação remete ao fato de a coleta dos dados ter sido realiza-
da em um município no Sul do Brasil, e, nesse sentido, e considerando que os contextos são
singulares, os significados das VD e suas realizações pelos profissionais podem variar nas dife-
rentes localidades do território brasileiro. Desse modo, pesquisas sobre os significados e dilemas
éticos da VD nos diferentes contextos brasileiros são necessárias, principalmente depois de vistas
as lacunas na produção de conhecimento no contexto da atenção psicossocial.
A mais, destaca-se a necessidade de espaços institucionais que potencializem a atenção
psicossocial interdisciplinar, que problematizem os dilemas éticos vivenciados pela equipe e que
instrumentalizem os profissionais para a realização da visita.
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