Reflexões Sobre Tipologia

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Situações no mundo exterior que são carregadas de energia, geralmente no

confronto entre duas almas, acabam por se tornar simbólicas. Símbolos são significados
completos e inconscientes, que podem abarcar inúmeros aspectos da vida. Um símbolo
pode representar várias coisas. A vida trata de nos brindar com essas situações
significativas, e as vezes se serve de sincronicidades (coincidências significativas não
causais). Ocorreu de eu, um indivíduo cuja função principal é o pensamento, me ligar
profundamente a uma pessoa do sexo oposto cuja função principal é a oposição da
minha: eu pensamento, ela sentimento. Algumas situações desse embate psicológico
são muito representativas, agora, analisadas no futuro. Para ela, que convive com o
pensamento como sendo sua função inferior (ou seja, não está no controle consciente
dele), eu era considerado muito estranho, doentio, e até psicótico, por conseguir
separar bem pensamentos opostos. Passávamos horas conversando sobre a
profundidade da experiência humana, sobre temas espirituais, e principalmente sobre
como esse mundo material não passava de ilusão. E quanto deveríamos estar
conscientes dessa ilusão. Apesar disso, uma hora depois eu conseguia assumir que cá
estamos. Aqui na matéria, temos que nos adaptar e nos manter. De repente eu estava
falando sobre negócios com a mesma paixão de antes, e como poderíamos fazer
dinheiro, gerar valor para a sociedade. Fui pego de surpresa quando ela começou
literalmente a chorar com essa minha facilidade em caminhar entre os dois mundos.
Alegou que não sabia quem eu era. Quem eu era? O homem aberto à espiritualidade
que afirmava que deveríamos apenas confiar em nossa intuição e deixar a vida
acontecer, que tudo daria certo de alguma forma? Ou o homem que tramava e
racionalizava sobre alguma forma de colocar a mão na massa nessa matéria ilusória para
dar forma a algo que me sustentasse? Eu realmente não entendia a decepção. Eu era os
dois. Poderia ser os dois, um seguido do outro, indo e voltando, se necessário. E na
verdade é o que eu realmente me vejo fazendo diariamente. Manipulando pensamentos
e ideias ao meu bel prazer.
Em contrapartida, a mesma pergunta eu fazia sobre ela: quem era ela? Passava
uma semana na minha casa, ia embora dizendo que me amava. Da cidade dela, dizia que
sentia saudades. Mas era capaz de fazer isso com várias pessoas. E era capaz de desligar
o sentimento por mim por um mês, e depois fazê-lo retornar com a mesma intensidade
de antes. Eu, cuja função inferior é o sentimento, só consegui ter algum vislumbre de
como é possível tal manipulação desses sentimentos fazendo um paralelo com a
estranheza que ela sente ao se deparar com a minha manipulação de ideias. Antes dessa
percepção achava que ela era louca, e da mesma forma que ela se sentia machucada
em me ver trocar de ponto de vista sobre a vida como troco de roupa, o mesmo sentia
eu ao ver ela lidar dessa mesma forma com seus sentimentos. Eu não consigo imaginar
como isso é possível. Eu não tenho controle. Para mim, o sentimento apenas vem, de
algum ponto do meu inconsciente, e inunda, transborda, ocupa todos os espaços. Não
é tão simples fazer retornar ou dar novo direcionamento. Pelo contrário, é muito
trabalhoso. O choque foi intenso, e decidimos em comum acordo nos afastarmos para
evitarmos mais machucados e decepções um com o outro. Meus próprios sentimentos
ainda me aparecem como obscuros e pouco fáceis de serem lidos. Mas, na posição de
buscador que tenta entender alguns desses detalhes da psique humana, me sinto
honrado com tal oportunidade de aprendizado. Como diz Jung, o encontro entre duas
personalidades é como o contato de duas substâncias químicas: se alguma reação
ocorre, ambos sofrem uma transformação.

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