Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva
Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva
Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva
Rev. bras. ter. comport. cogn. vol.5 no.2 São Paulo dez. 2003
ARTIGOS
I
Universidade Estadual Paulista
II
Universidade de São Paulo
III
Universidade Federal de São Carlos
RESUMO
Definições e diagnósticos
Os manuais geralmente usados para diagnóstico da categoria (MEC, DSM IV, CID-
10) utilizam linguagem médica, valendo-se, em suas definições, de descrições de
sintomas que caracterizam o problema de comportamento. Seguem-se alguns
exemplos.
Numa perspectiva funcional, Patterson, Reid e Dishion (2002) apontam que termos
como hiperatividade, desvio de conduta, agressividade e comportamento anti-social
são utilizados para descrever crianças-problema, mas cada um deles tem uma
história associada com seu uso, o que traz dificuldades para os pesquisadores. Tais
autores passaram, então, a utilizar o termo anti-social. Nas palavras de Patterson
et al. (2002): Eventos que sejam ao mesmo tempo aversivos e contingentes são
considerados anti-sociais. Nossos estudos se ocupam do subcontexto de eventos
anti-sociais que ocorram dentro da família ou em interações com outras crianças.
Geralmente usamos o termo coercitivo para descrever tais eventos. (p. 5)
Segundo Kaiser e Hester (1997) o manejo inefetivo dos pais, além de levar a sérios
problemas de comportamento, também promove uma falha no desenvolvimento de
comportamentos sociais positivos e comunicativos da criança, que formam a base
para interações positivas com colegas e outros adultos. A combinação de
contingências para comportamento negativo, uma falta de conseqüências positivas
para outros comportamentos, a ausência de modelos positivos de comportamento
social e de resolução de problemas e a falta de suporte para desenvolver
habilidades sociais comunicativas podem deixar a criança pobremente preparada
para o sucesso em interações sociais comunicativas.
Bugental e Johnston (2000) concluem, em seu estudo de revisão, que os pais que
se sentem inseguros fornecem menos apoio e mais reações negativas aos seus
filhos, os quais, por sua vez, reagem também com agressividade. Para os autores,
quando os pais se sentem inseguros, com pouco senso de eficácia, tendem a
apresentar mais humor negativo, a interpretar mais negativamente o
comportamento da criança e conseqüentemente puni-la mais freqüentemente.
Desta forma, Bugental e Johnston (2000) concordam que a forma como os pais
pensam e lidam com seus filhos interferem diretamente nas cognições,
comportamentos e locus de controle da criança.
Mattos (1983) propõe que as avaliações priorizem medidas proximais, isto é, não
bastaria dizer que depressão materna, ou renda familiar baixa causariam
problemas de comportamento; é importante investigar como uma mãe deprimida
interage com seu filho, pois é esta interação, se reforçadora, se punitiva, se
consistente ou não, que fará com que problemas de comportamento apareçam. O
mesmo raciocínio poderia ser apresentado à renda familiar, pois esta pode impedir
o acesso a brinquedos e à conseqüente possibilidade de brincar, o que, por sua vez,
dificultaria a promoção de habilidades; entretanto, se a família pôde comprar
brinquedos, mas impediu que a criança brincasse com os mesmos, tal
desenvolvimento não seria garantido; ao contrário, se uma família não pôde ter
acesso a brinquedos, mas foi instruída ou teve criatividade para fazer brinquedos
de sucata e estimula seus filhos a brincar, é possível que esta criança, ainda que
em situação de pobreza, tenha um desenvolvimento satisfatório. Investigar
variáveis distais é importante para dar dicas de hipóteses a serem levantadas
quanto a variáveis proximais.
Antecedentes Históricos
- problemas interpessoais
Outros
- privação socioeconômica
- hereditariedade
- dependência de substâncias
Antecedentes Atuais
- pouco interesse dos pais pela escola do filho, havendo pouca integração entre
família e escola
Dificuldades pessoais
- depressão
- problemas interpessoais
Outros
- desvantagem socioeconômica
- conflito conjugal
- divórcio
- vizinhança
Características da criança
- atenção rebaixada
- hiperatividade
Características escolares
- rejeição de colegas
Parte dos antecedentes, citados acima, poderiam ser considerados distais, tais
como hereditariedade e condições socioeconômicas, outros poderiam ser
consideradas como meio-proximais (conflitos conjugais, por exemplo) e outros
proximais ou dinâmicos (como práticas parentais). Concordando com Mattos (1983)
acredita-se que tais variáveis mais distais ou fatores de risco precisam ser
mensurados porque interferem nas variáveis dinâmicas, as quais teriam uma
importância maior, à medida que oferecem mais informações acerca das
contingências que controlam o responder considerado indesejado.
Tratamentos
Del Prette, Del Prette, Garcia, Silva e Puntel (1998) relatam um estudo de caso,
que procurou avaliar o repertório comportamental de uma professora antes e
depois de um Programa de Desenvolvimento Interpessoal Profissional (PRODIP). Os
autores concluem que habilidades do professor, como organizar as atividades em
sala de aula e compartilhar com os alunos a estruturação dos conteúdos, podem
favorecer aumento de oportunidades de interação dos alunos, a descentralização de
seu papel de professor e a transferência de responsabilidades aos alunos.
Estratégias como estas podem ajudar o professor a prevenir e/ou remediar
problemas de comportamento em sala de aula, à medida que tornam o ambiente
de sala de aula mais motivador e propiciam comportamentos adequados nos
alunos, incompatíveis com aqueles comportamentos.
Segundo Peterson (1995), o treino de habilidades sociais não tem sido muito
utilizado para pessoas com distúrbios emocionais ou de comportamentos. O treino
de habilidades sociais pode ser útil no tratamento de problemas de comportamento,
no que se refere ao desenvolvimento de habilidades e/ou comportamentos
incompatíveis. Peterson (1995) sugere programas com as seguintes etapas: a)
instrução de habilidades sociais (habilidades de interação social, resolução de
conflitos etc); b) educação emocional/afetiva (treino de controle de raiva, treino de
relaxamento etc) e c) automanejamento (autocontrole, automonitoramento e
outros que envolvem mudanças no comportamento cognitivo).
Muitos autores, no campo da intervenção precoce, (por exemplo Bricker & Casuso,
1979; Bailey, Palsha & Simeonsson, 1991; Dunst, Johanson, Trivette & Hamby,
1991; Thompson, L., Herman, S, Jurkiewicz, T & Hulleza, C., 1997 e Blair & Ramey,
1997) também apontam a necessidade do envolvimento familiar no tratamento de
dificuldades da criança. Para este grupo de pesquisadores, as intervenções devem
ser centradas na família, de forma que a mesma assuma um papel ativo na
prevenção e remediação de dificuldades da criança.
Considerações finais
Referências
Achenback, T. M., & Edelbrock, C. S. (1979). The child behavior profile: II. Boys
aged 12-16 and girls aged 6-11 and 12-16. Journal of Consulting and Clinical
Psychology, 47 (2), 223-233. [ Links ]
Blair, C., & Ramey, C. T. (1997). Early intervention for low-birth-weight infants and
the path to second-generation research. Em M. J. Guralnick (Org.), The
effectiveness of early intervention (pp. 77-97). Baltimore: Paul H. Brookes
Publishing Co. [ Links ]
Bolsoni-Silva, A. T., & Del Prette, A. (2002). O que os pais falam sobre suas
habilidades sociais e de seus filhos? Revista Argumento, 7, pp. 71-86.
[ Links ]
Bolsoni-Silva, A. T.; Del Prette, A., & Oishi, J. (2003). Habilidades sociais de pais e
problemas de comportamento de filhos. Revista Argumento, 9, 11-29.
[ Links ]
Booth, C. L. (1997). Are parent beliefs about their children with special needs a
framework for individualizing intervention or a focus of change? Em M. J. Guralnick
(Org.), The effectiveness of early intervention (pp. 625-639). Baltimore: Paul H.
Brookes Publishing Co. [ Links ]
Bugental, D. B., & Johnston, C. (2000). Parental and child cognitions in the context
of the family. Annual Review Psychology, 51, 315-344. [ Links ]
Del Prette, Z. A. P., Del Prette, A., Garcia, F. A., Silva, A. T. B., & Puntel, L. P.
(1998). Habilidades sociais do professor em sala de aula: Um estudo de
caso. Psicologia: Reflexão e Crítica, 11 (3), 591-603. [ Links ]
Dunst, C. J., Johanson, C., Trivette, C. M., & Hamby, D. (1991). Family-oriented
early intervention policies and practices: Family-centered or not? Excepcional
Children, 58, 115-125. [ Links ]
Kaiser, A. P., & Hester, P. P. (1997). Prevention of conduct disorder through early
intervention: A social-communicative perspective. Behavioral Disorders,
22(3), 117-130. [ Links ]
Loeber, R., & Hay, D. (1997). Key issues in the development of aggression and
violence from childhood to early adulthood, Annual Review Psychology, 48, 371-
410. [ Links ]
Patterson, G., Reid, J., & Dishion, T. (2002). Antisocial boys. Comportamento anti-
social. Santo André: ESETec Editores Associados. [ Links ]
Rosales-Ruiz, J., & Baer, D. M. (1997). A developmental and pragmatic concept for
behavior analysis. Journal of Applied Behavior Analysis, 30, 533-544. [ Links ]
Rosenberg, M. S.; Wilson, R., Maheady, L., & Sindelar, P. (1992). Educating
students with behavior disorders. Boston: Allyn and Bacon. [ Links ]
Silva, A. T. B., Del Prette, A., & Del Prette, Z. A. P. (2000) Relacionamento pais-
filhos: Um programa de desenvolvimento interpessoal em grupo. Psicologia Escolar
e Educacional, 3 (3), 203-215. [ Links ]
Thompson, L., Herman, S, Jurkiewicz, T., & Hulleza, C. (1997). Pathways to family
empowerment: Effects of family-centered delivery of early intervention
services. Exceptional Children, 64, pp. 99-113. [ Links ]
Tourinho, E. Z., Cavalcanti, S. N., Brandão, G. G., & Maciel, J. M. (2001).
Internalismo e externalismo sobre a eficácia e efetividade da psicoterapia (pp 234-
256). Em H. J. Guilhardi, M. B. B. Madi, P. P. Queiroz & M. C. Scoz (Org.)Sobre
comportamento e cognição, vol 7: expondo a variabilidade. Santo André: ESETec.
[ Links ]
1
Professora do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual Paulista
(UNESP – Campus Bauru). Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em
Psicologia, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da Universidade de
São Paulo (USP - Campus Ribeirão Preto). Mestre em Educação Especial pelo
Programa de Pós-Graduação em Educação Especial (PPGEEs) da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar). Endereço de contato para correspondência e
publicação: Eng º Luiz Edmundo C. Coube, s/n; CEP.: 17.033.360 – Bauru – SP;
Email.: [email protected].
2
Professor de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial
(PPGEEs) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).