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CANAIS DE EXPORTAÇÃO DO
CALÇADO BRASILEIRO
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• MARCOS AURÉLIO MAZOCATO U ma pesquisa efetuada no segundo semestre
de 1988,junto às 30 maiores empresas expor-
tadoras de calçados femininos de couro, produzi-
Mestre em Administração pelo Programa de
Pós-Graduação em Administração da Universidade dos no Rio Grande do Sul, enfocando aspectos
Federal do Rio Grande do Sul e funcionário do Depto. mercadológicos e de canais de distribuição,
de Promoção e mercados da CACEX. constatou o seguinte: Essas empresas exportaram
durante o ano de 1987, acima de US$ 4.500.000
cada uma, e representaram, em conjunto, um vo-
lume efetivo de US$ 410.000.000.00em calçados,
RESUMO: Neste texto o autor descreve a estrutura de
correspondendo à 60% do total do produto
comercialização das exportações de calçados femininos,
brasileiro exportado. A maior delas comercializou
de couro, produzidos no Rio Grande do Sul e indica
com o exterior mais de US$ 50.000.000,durante o
segmentos do produto que não estão sendo
ano focalizado.
aproveitados pela indústria calçadista brasileira, tais
como os produtos para desportos e os calçados de vinil RETROSPECTIVA
e plástico.
No início da década de 60, apenas duas das'
PALAVRAS-CHAVE: Marketing, planejamento empresas pesquisadas realizavam exportações. O
estratégico, canais de distribuição, exportação, total de calçados brasileiros exportados,então, era
calçados, negociação, sinergia. de pouco mais de 100.000pares anuais, de todos
os tipos, e o preço médio alcançava cerca de US$ 1987, tendo ultrapassado US$ 8.00, em novembro
1.00por par. de 1988(2).
Com o deslocamento da força de trabalho O preço praticado pelas empresas pesquisadas
norte-americana para a produção de artigos de apresentou, em 1988,uma variação entre US$ 4.00
maior valor agregado, tais como máquinas e e US$ 17.50, e um preço médio mínimo de US$
equipamentos, houve um desinteresse pela 7.18 e máximo de US$12.03.
produção de calçados, o qual necessita intensiva- As empresas exportadoras encontravam-se, na
mente de mão-de-obra. ocasião da pesquisa, fundamentalmente voltadas
Os atacadistas norte-americanos procuraram, para a produção. Concentravam seus esforços
em outros países, fornecedores para atender às basicamente no aprimoramento da qualidade do
necessidades de consumo de seus clientes. produto e desenvolvimento dos recursos
A Itália, principal fornecedor norte-americano, humanos de que dispunham, proporcionando aos
não tinha condições de suprir a intensa demanda intermediários a execução dos serviços aos
ocasionada, ao passo que o Brasil iniciava seu clientes.
modelo exportador, e ao mesmo tempo as Por essas razões, na região produtora,
indústrias brasileiras apresentavam capacidade atualmente existem mais de duas centenas de
ociosa, resultante de retração do consumo interno. agentes de exportação que prestam serviços de
Surgiu, assim, uma oportunidade muito impor- desenvolvimento de produtos, acompanham o
tante para a história das exportações brasileiras fluxo de produção diário dentro da própria
de manufaturados, que colocou o Brasil, ao lado empresa e, lá mesmo, realizam, em nome do
da Taiwan, Itália e Coréia como um dos principais comprador-intermediário, o controle de
fornecedores mundiais de calçados que em 1988 qualidade do produto encomendado.
aproximou-se dos 130.000.000 de pares expor- p-: capacidade de produção dessas empresas
tados, gerando divisas de US$ 1.200.000.000,que vana de 3.000 a 27.000 pares, com uma média de
representam quase 5% do total das exportações 11.000pares por dia.
brasileiras?' . O número de empregados, por empresa, está
O produto calçado, do ponto de vista merca- entre 500 e 6.500, com uma média, nas 30
dológico, apresenta características particulares em empresas pesquisadas, de 2.188empregados.
função de ser um artigo complementar do ves- O volume mínimo desejado pelos exportadores
tuário, rapidamente perecível, mutável e marcado para realizar uma negociação é, em média, 22.600
por fatores subjetivos muito fortes pelo modismo, pares por pedido novo, sendo que os parâmetros
principalmente no segmento feminino. mínimos exigidos ficam entre 1.500e 50.000pares,
Existem, basicamente, dois períodos de por pedido. (Pedido novo corresponde a uma
comercialização, bem diferenciados - o verão e o encomenda inicial que representa para a empresa
inverno -, quando os produtos são caracte- um investimento em vários insumos e materiais
rizados em função do benefício que devem pro- de produção específicos para atender àquela
porcionar aos consumidores. E duas meias-esta- encomenda, tais como navalhas de cortes de
ções, que não requerem necessariamente couro e formas necessárias para a produção do
desenvolvimento de produtos específicos para os lote negociado.)
usuários. Para proporcionar condições de produção a
No aspecto qualidade, existem limitadas uma linha de calçados são necessários, no míni-
alternativas que consistem na utilização de ma- mo, 500 pares de formas a um custo de cerca de
US$ 12.00 o par, as quais podem ser encomenda-
teriais sintéticos ou naturais. Muito embora haja
das às empresas especializadas e são produzidas
preferência pelos insumos naturais, atualmente
em madeira ou sintéticos.
observa-se uma forte tendência de crescimento na
Os prazos de entrega dos pedidos, a partir da
participação dos produtos sintéticos, em decor-
formalização da encomenda, variam de 45 a 90
rência da evolução desses materiais, que se
dias. Em média, 68 dias.
tornam cada vez mais semelhantes aos naturais.
Existem épocas de picos de demanda, durante
Isso ocorre não só em seus aspectos visuais,
o forte período de comercialização final do
mas, também, pelas qualidades de maleabilidade,
flexibilidade, densidade, maciez, impermea-
bilidade, enfim, por todo o conforto que o 1. !3ANCO DO BRASIL S.A., CARTEIRA DE
produto possa proporcionar ao consumidor. COMERCIO EXTERIOR, DEPEC-Departamento de
O preço do produto exportado, nas séries Estatística em Comércio Exterior, Rio de Janeiro.
históricas, apresenta uma evolução média da 2. ADICAL/U.S. Footwear Retailers Imports (dados
ordem de US$ 1.00, em 1964, para US$ 7.90, em disponíveis até novembro/88).
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o NOTAS E COMENTÁRIOS
ENTIDADES ATIVIDADESESPECIALIZADAS
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Somente 13% das negociações entre agentes e dos mais diversos portes, e o processo de decisão
fabricantes ocorrem sem modificações em itens do do preço dá-se em um mercado de concorrência
modelo original. Basicamente, esse processo visa perfeita.
a alterar insumos e materiais corno partes internas Há épocas de muita demanda por produtos,
(forro e palmilhá), com o objetivo de ajustar o que determinam um acréscimo nos preços
preço do produto. praticados pelos fabricantes e, da mesma forma,
A qualidade pode ser entendida tanto do ocasiões de baixa procura, quando fabricantes
ponto de vista dos insumos utilizados na fabri- produzem abaixo de seu nível de lucro,
cação do produto, corno da mão-de-obra mais ou simplesmente com o objetivo de manter suas
menos qualificada empregada na sua confecção. unidades fabris em funcionamento.
Existem modelos que podem ser produzidos pela Em regra, a tradição que é mantida pela
montagem de poucas peças distintas, corno maioria das empresas proporciona um nível
cabedal, solado, salto e forro, incorporando pouca satisfatório de negócios perenes entre fabricantes
mão-de-obra. Outros recebem tratamento em e agentes exportadores.
ateliers com alta incidência de mão-de-obra, corno
costuras especiais e trançados. Dessa forma, a dPromoção
qualidade é função tanto dos insumos corno cou-
ro e colas, corno da habilidade dos artesãos que Toda a atividade promocional do calçado é
fazem as costuras e outros trabalhos artesanais, realizada pelos intermediários de ponta do canal
corno os trançados. de distribuição, ou seja, os atacadistas e varejistas.
Os termos internacionais de comércio Os fabricantes não participam dessas atividades,
utilizados pela indústria calçadista exportadora principalmente considerando-se que os produtos
do Brasil são, em 90% dos casos, FOB (livre a exportados raramente são comercializados no
bordo) e, fundamentalmente, para os embarques varejo com marca do fabricante.
destinados ao mercado norte-americano. Observa-se que no início do canal o produto
Em 10% das situações são negociados termos tem um preço que embute apenas custos e lucro
C&F (custo e frete), e ocorrem nas exportações à do fabricante, e comissão do agente de exportação
Europa. As operações estabelecidas em termos ao nível de US$ 7.00, enquanto que no varejo é
CIF (custo, seguro e frete) perfazem 0,15% do oferecido por US$ 27.00(4).
total negociado e, também, ocorrem em operações O ciclo de vida do produto também permite
com países europeus. explicar esse afastamento do fabricante em rela-
As formas de embarque utilizadas pelos ção aos aspectos mercadológicos promocionais do
exportadores são, em 83% dos casos, por via produto, pois, sendo um artigo altamente pere-
marítima. A incidência de 17% das exportações cível (três meses de comercialização no varejo),
por via aérea implica duas situações distintas: com a proximidade da mudança de estação
quando ocorrem atrasos de produção e as climática, os varejistas devem rapidamente
despesas adicionais de frete são assumidas pelos vender seus estoques para poderem armazenar os
fabricantes, situação em que há urna grande novos artigos que deverão oferecer no período de
redução do lucro da operação, ou quando o comercialização seguinte.
importador reordenou um pedido inicial, em
meio a época de comercialização, e necessitando d) Distribuição Física
com urgência da mercadoria em seus estoques,
Na distribuição física do produto, o fabricante
assume os custos do transporte aéreo.
deve preocupar-se em cumprir rigidamente os
b) Preço prazos estabelecidos na carta de crédito, entregan-
do o produto aos prepostos dos importadores,
O preço do calçado é inicialmente estabelecido que providenciam a contratação de navios para o
pelo atacadista ou varejista norte-americano ao transporte e o seguro das mercadorias. Se o prazo
escolher os modelos que lhe são apresentados em não for cumprido, deverá o fabricante, às suas ex-
feiras de amostra. A partir dessa informação pensas, providenciar o frete aéreo da mercadoria,
inicial, são realizadas negociações entre agentes e para não perder o negócio totalmente mas, evi-
fabricantes, que deverão encontrar um preço de dentemente, seu lucro ficará bastante reduzido.
consenso. Isso pode ser explicado, novamente, pelo ciclo
A negociação ocorre em função de volumes, de vida do produto: por maior que seja o sucesso
especificações, incidência de mão-de-obra e
oportunidade. O mercado produtor brasileiro é
composto por um grande número de empresas 4. REVISTA Exame, 26.12.88, p.87.
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o NOTAS E COMENTÁRIOS
de um modelo junto ao público consumidor, sua quer produto, pelas vantagens 9ue proporciona
fase de comercialização não durará mais de três ao reduzir o esforço dos consumIdores para loca-
meses; assim, é necessário proceder com urgência lizar o produto desejado.
na entrega da mercadoria. Uma grande loja de departa~e~tos, um s~op-
ping, contêm num mesmo local vanas alter~ahvas
O CONCEITO DE MARKETING NA de escolha de um produto para um consumidor,
EXPORTAÇÃO DE CALÇADOS Dessa forma, alguns fatores que determinam a
preferência de u~ consumi.dor ~~r ,de~erminado
o conceito de marketing, aceito pelos produto são perfeitamente IdenhfIc~veIs por ~~
principais autores, tem por definição o atendi- observador mais atento: a comodidade, a fácil
mento, da melhor forma possível, dos desejos dos
localização, a própria presença do produto em
consumidores e ensina as empresas a produzirem
locais visíveis que geram impulsos de compra.
para suprir as necessidades dos mercados. Estra-
Entretanto, outros fatores como a atualidade do
tegicamente, pode-se entender que as empresas
produto, sua facilidade em complementar u,?1
devam procurar caminhos de acesso a seus c?n- conjunto de vestuário (para o caso do calçado) sao
sumidores de forma eficiente, eficaz e efetiva
tarefas que só podem ser elabora~as por
como, por exemplo, com o aprimoramento dos
especialistas que constantemente se at~ahzam no
serviços acoplados aos produtos, os melhores se~- desenvolvimento dos fatores determinantes -
viços pós-vendas, a criação de canais de comum-
isto é, inovações da tecnologia e da moda,
cação que, no menor prazo possível, forneçam
comportamento dos segmentos de renda de cada
feedback aos fabricantes sobre o desempenho dos mercado - e, pelo desenvolvimento de um
produtos. . . feeling que permita antecipar co~. algum.a
Essas informações permitem, por meio de
precisão o que será consumido nos proxImos seis
ajustes e desenvolvimento, a mais ampla forma
meses ou um ano.
de satisfação do consumidor na utilização do Essas atividades, entre outras, permitem o
produto. conhecimento do comportamento do consumidor,
Por uma questão logística, .as inf.on:~la.ções a identificação dos diversos segmentos de
chegam aos fabricantes de maneira mais rápida e
consumidores e a constante atualização do
pura quanto mais próximo o fabricante es.tiver do
produto.
cliente; e mais demorada, filtrada ou manipulada,
Um exemplo da preocupação que os produto-
quanto maior for a distância entre eles. Em outras
res devem ter no posicionamento de suas funções,
palavras, quanto menos intermediários houver
estrategicamente cada vez mais próximas do :o~-
em um canal de distribuição, mais rápida e sumidor final, pode ser encontrado na descnçao
eficiente será a comunicação entre consumidor e de O Estrategista em Ação<S),que relata a estratégia
fabricante, e mais rapidamente o produto poderá
de comercialização de empresas japonesas no co-
ser aperfeiçoado. mércio exterior:
No caso do calçado produzido no Brasil para A sabedoria dessas' corporações está na forma
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o NOTAS E COMENTÁRIOS
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o NOTAS E COMENTÁRIOS
TABELA 4
Consumo Norte-Americano e Importações de Calçados Femininos de Couro, Brasil, 1988:
(1.000 pares)
TABELAS
Segmentos de Produto Não Explorados pelo Brasil
Produto Estimativa de Consumo/Ano
(pares/1.000)
Existem importantes segmentos de produto quais têm direcionado suas exportações de calça-
nos EUA não explorados pelo Brasil, conforme se dos principalmente para três faixas de preços.
vê na tabela 5. Taissegmentos representam oportunidades para a
Constata-se, portanto, a total ausência de um diversificação ou para o ingresso de novas
posicionamento mercadológico competitivo por empresas no mercado exportador. (9)
ABSTRACT: In this paper the author describes the trade structure of female leather footwear exports manufactured
in Rio Grande do Sul.
The last part is dedicated to indicate several segments not utilized by brazilian industries such as sport footwear,
vinil and plastic shoes.
KEY TERMS: Marketing, middle-man agent in export, marketing exporting channels, negotiation, dominion,
footwear, marketing strategy.
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APÊNDICE
J
r
CANAL DE
MERCADO PRODUTOR
(NACIONAL) CONFLITOS
I COOPERAÇÃO I COMERCIALIZAÇÃO
TRADICIONAL:
1- LIDERANÇA
DEMOCRACIA DEMOCRACIA NEOOcrAÇÃO
3-PEDIDO
4-RISCO
VERTICAL COERCITIVA
5- INFORMAÇÕES DE
INTERTIPOS AUTOCRÁTICA MERCADO
I
I FABRICANTES I
I I
I
CACEX BANCO AGENTE
BACEN COMERCIAL EXPORTADOR
ALFÂNDEGA SETOR
EMPRESA DE
I J...
INTERNO
T
TRANSPORTES
I SETOR
ALFÂNDEGA
AGENTE EXTERNO
ORGÃOSDE
BANCO IMPORTADOR
CONTROLE
COMERCIAL
I
I
CANAL DE COMERCIALIZAÇÃO
INOVADOR:
I ATACADISTA
FEIRAS
I
1- POSSE FÍSICA
2- PROPRIEDADE
3- PAGAMENTO
4- CONTROLE LEGAL
I VAREJISTA I
I
I
5- NEGOCIAÇÃO
6- INFORMAÇÕES DE MERCADO
I I
7- PEDIDO
CONSUMIDOR
8- RISCO
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