Revista Educacao 08
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SUMÁRIO
EDITORIAL....................................................................................................................3
Diva Otero Pavan
EDITORIAL
ABSTRACT: Social behavior is relevant to all aspects of human life, and street
running, as a sport, is a social phenomenon of great relevance today. The present study
aimed to analyze the street running as a factor of social integration. For this, analysis of
scientific production has been carried out on the subject, through a literature review.
INTRODUÇÃO
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Docente de Psicologia no Centro Universitário Padre Anchieta (Unianchieta)
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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
CORRIDA DE RUA
Esporte Para Todos, de origem europeia, foi introduzido no Brasil como programa de
governo no final dessa década, valorizando a prática de exercícios e a prática da corrida
de rua entre jovens e adultos (MIRANDA, 2007).
A corrida de rua se tornou uma atividade física regular para muitas pessoas que a
escolhem por variados motivos que vão desde a questão da saúde física até a
preservação da saúde mental. A grande divulgação através da mídia estimula as pessoas
para a prática de corrida de rua e tem sido um fator decisivo para aumentar o número de
praticantes nessa atividade física (SANTOS, 1987).
Com relação ao público que participa das corridas de rua, este é dos mais
variados, de diferentes níveis sociais, idades, sexo e escolaridade, entre outros fatores. A
corrida de rua pode receber qualquer pessoa que se interesse pela mesma, não havendo
necessidade específica para praticá-la (SALGADO, CHACON MIKHAIL, 2006).
Conforme SALGADO, CHACON e MIKAHIL (2006), a Federação
Internacional das Associações de Atletismo define a corrida de rua como prova de
pedestre que pode se realizar em circuitos de rua, avenidas e estradas, com percursos
que vão de cinco a cem quilômetros.
Para quem pratica a corrida de rua, essas corridas são conhecidas como de
resistência, não exigindo do atleta características de velocistas. Um exemplo desta é a
Maratona, com um percurso de 42195 metros, prova esta realizada por todo o mundo.
Várias maratonas são bastante tradicionais, entre elas a de Nova York, a de Boston, a do
Rio de Janeiro e de São Paulo que se destacam pelo número de participantes e por
reunirem atletas de nível internacional.
A maratona é, na verdade, a superação do atleta em conseguir correr mais de 42
quilômetros (MOREIRA, 1985).
TRUCOLO e col. (2008) comentam, no entanto, que a corrida de rua de maior
preferência é a dos 10 quilômetros e que por conta da grande afluência a esta
modalidade, surgiram as assessorias esportivas que dão todo o respaldo técnico que o
atleta deve ter.
Acredita-se na importância desta assessoria, pois, apesar da corrida ser algo
inerente ao desenvolvimento do homem, este, encontra-se, no mundo moderno, rodeado
de tecnologia que inevitavelmente o leva ao sedentarismo.
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INSERÇÃO SOCIAL
Dentre as atividades físicas, a corrida de rua tem se mostrado como uma das
mais atraentes devidos a seus inúmeros benefícios como: promoção de saúde,
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evita-se dificuldades. O autor considera o alto valor educativo do esporte que incide
sobre três canais: o cognitivo, o psicomotor e o social.
Assim, para MORAIS (apud LUCCA, 2000) o esporte, no caso a corrida de rua,
é um campo de ação e vivências sociais onde normas e comportamentos sociais são
aprendidos. Os processos de inserção social são reproduzidos através das ações
desportivas oferecendo as possibilidades de cooperação e de se aprender a não evitar os
conflitos, mas aproveitar-se deles para procedimentos racionais.
METODOLOGIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se perceber através das leituras realizadas que a corrida de rua assumiu , na
atualidade, uma magnitude digna de estudos, estes, alicerçados em bases econômicas,
sociais, psicológicas.
A corrida de rua, de certo modo, acrescentou um novo conceito ao esporte, ou
seja, o de esporte popular com uma grande abrangência social onde todos podem se
incluir e praticar, em qualquer lugar ou tempo, sozinho ou em grupo, de acordo com
auto regras ou regras determinadas previamente pelo grupo.
Essa nova conceituação veio a confirmar a visão do esporte como um agente
totalizador que aglutina sua influência não só no corpo do indivíduo que o pratica, mas
também na vida de cada pessoa e no grupo a que esta pertence.
O esporte tem uma abrangência tão grande na vida das pessoas que mesmo
quando não o praticam, elas participam vivendo, até por muitas vezes, como se fossem
parte atuante dos acontecimentos. Por exemplo, quando seus comportamentos, suas
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aparências físicas, suas roupas de marca, suas verbalizações são, pelo menos em parte,
reproduções de atletas que lideram e sobressaem no mundo esportivo (LUCCA,2000).
BURITI (1999) afirma que possivelmente todas as pessoas já estiveram
envolvidas com a prática esportiva direta ou indiretamente, como praticante ou
espectador, o que permite dizer que o esporte moderno é um fenômeno social, faz parte
da vida em sociedade. Para o autor, o esporte será um ocasião de prazer, quando
praticado como confraternização, como forma de comunicar-se, criar vínculos (pode-se
incluir aqui a corrida de rua como oportunizadora dessas relações).
Dessa forma, fica claro a importância da corrida de rua como fator de interação
social, acrescentando-se que muito se tem, ainda a pesquisar e toda informação será de
relevância, principalmente quando se tiver a questão socialização como pano de fundo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARÓN, A.M.S. e MILICIC, N.M. Viver com os outros. Editorial Psy. Campinas, 1994.
SANTOS, A.P.dos. Concepção político social do corredor de rua da zona sul da cidade
do Rio de Janeiro. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: 1987
SKINNER, B.F. Ciência e Comportamento Humano. Martins Fontes. São Paulo, 1970.
VEJA. Correr é fazer amigos. Revista veja. São Paulo: Abril, nº. 25, 2009
RESUMO: Este artigo apresenta a relação entre a Educação dos Sentidos e o Método
Intuitivo para a formação da civilidade ao final do século XIX na província de São
Paulo, no intuito de compreender a ideia de modelagem de alunos civilizados. As
questões que nortearam o estudo foram: se havia uma educação dos sentidos,
organizada por um “método” e este “método” era amparado pela “intuição”, o que
significaria, dentro dos ideais de modelamento de cidadãos, ter um método apropriado
para tanto? Se o “método” levaria à ideia de organização e controle, qual é a sua relação
com a “intuição” que, parece ser ligada a uma essência primitiva dos sujeitos, o
contrário da ideia de civilidade? A pesquisa tem como alicerce teórico Norbert Elias e
Freud na compreensão do processo civilizatório. As fontes utilizadas foram: o
“Preâmbulo” em Lições de Coisas de Calkins, A Reforma do Ensino primário, e várias
instituições complementares da Instrução Púbica, Tomos I e II, todos de Rui Barbosa; o
Nouveau Dictionnaire de Pédagogie et D’instruction primaire de Ferdinand Buisson.
Foi possível observar que o método intuitivo foi o elemento essencial da escola
republicana para a formação de cidadãos. Tratava-se de um método, cuja natureza, fonte
de todas as verdades, deveria ter um elemento controlador, dado pela escola,
representante do Estado na educação republicana. No período, a adoção de um método
para a educação era proeminente para inserir os conceitos de civilidade e moral, muito
além da moral religiosa, mas uma moral científica, que explicava os valores do trabalho,
as diferenças sociais e econômicas presentes na sociedade.
ABSTRACT: This paper presents the relationship between the Education of the Senses
and the Intuitive Method for the formation of civility in the late nineteenth century in
the province of São Paulo, in order to understand the moulding idea of civilized
students. The questions that guided the study were: if there were an education of the
senses, organized by a "method" and the "method" were supported by the "intuition",
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Faccamp-SP - Prefeitura Municipal de Jundiaí. E-mail: [email protected]
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what would it mean, within optimal moudling of citizens, to have a proper method for
so? If the "method" would take the idea of organization and control, what is its
relationship with the "intuition" that appears to be linked to a primitive essence of the
subject, the opposite of the civility idea? The research has as theoretical foundation
Norbert Elias and Freud for the understanding of the civilizing process. The sources
used were: the "Preamble" in Calkins Things Lessons, The Reform of the Elementary
School, and a number of complementary public schools, Tomos I and II, all of Rui
Barbosa’s; the Nouveau Dictionnaire Pédagogie et d'instruction primaire from
Ferdinand Buisson. It was possible to observe that the intuitive method was the essential
element of the republican school for the formation of citizens. It was a method, whose
nature, source of all truth, should have a controller element, given by the school, a State
representative in the Republican education. During the period, the adoption of a method
for education was prominent to insert the concepts of civility and morality, far beyond
religious morality, but a scientific morality, which explained the values of work, social
and economic differences in society.
INTRODUÇÃO
Entende-se que a educação dos sentidos, por meio do método intuitivo, buscava
dar forma e definição à formação de um cidadão harmônico, em consonância com a
República então nascente. Mas, se havia uma educação dos sentidos, organizada por um
“método” e que este “método” era amparado pela “intuição”, o que significaria, dentro
dos ideais de modelamento de cidadãos, ter um método apropriado para tanto? E se o
“método” nos levaria à ideia de organização e controle, qual é a sua relação com a
“intuição” que, parece ser, ao contrário, ligada a uma essência primitiva dos sujeitos, o
contrário da ideia de civilidade? O presente artigo tratará de apresentar o método
intuitivo como elemento essencial da escola republicana, ao final do século XIX, para a
formação de cidadãos, pelo entendimento do que significariam os termos “método” e
“método intuitivo” dentro da documentação que pregava a sua eficiência para isso.
O período foi marcado por grandes transformações políticas no Brasil, sendo
importante ressaltar que a República adquire características próprias, como o sufrágio
universal, a liberdade de cultos, a organização federativa dos estados e o
presidencialismo (Reis Filho, 1981).
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Nesse contexto, foi possível notar a importância da província de São Paulo que,
a partir da segunda metade do século XIX, crescia vertiginosamente com a produção de
café. Sua sociedade estava marcada pelos grandes fazendeiros, principalmente os barões
do café cuja atitude empresarial dava um caráter industrial à atividade cafeeira
(Antunha, 1976). Por isso, a Proclamação da República, baseada na organização
federativa, deu uma maior autonomia a São Paulo e fez com este fosse o cenário
propício para a afirmação do seu predomínio político e econômico na comunhão
nacional.
Segundo Antunha (1976), nessa “atmosfera de progresso” é que se criou o
sistema paulista de educação pública, pois, para os paulistas republicano-democratas, a
instrução primária era vital e indispensável, porém era necessário reformá-la. A
organização escolar então implantada em São Paulo marcou, segundo Reis Filho (1981),
a evolução do ensino brasileiro pela influência que exerceu.
Há uma ampla abordagem da historiografia afirmando que a escola é o berço da
civilização moderna e que costumes e cultura são inculcados na escola (Julia, 2001), só
isso já dá a impressão de que essa discussão estaria exaurida2. Ainda que as pesquisas
afirmem que a escola conforma o homem, pouco se fala sobre como a educação dos
sentidos colaborou para isso. Pensar em civilização é pensar em cultura, em crenças, em
costumes. Mas como transformar esses costumes, essa cultura em um todo homogêneo
que um dia foi chamado de “civilização”?
Elias (1990), em O processo civilizador – Uma história dos Costumes, discute a
evolução dos costumes na sociedade e demonstra que esse processo não é natural. O
processo civilizador é condicionado e adestrado
A ‘civilização’ que estamos acostumados a considerar com uma posse que
aparentemente nos chega pronta e acabada, sem que perguntemos como
viemos a possuí-la, é um processo ou parte de um processo que nós mesmos
estamos envolvidos. Todas as características distintivas que lhe atribuímos –
a existência de maquinaria, descobertas científicas, formas de Estado, ou o
que quer que seja – atestam a existência de uma estrutura particular de
relações humanas, de uma estrutura social peculiar, e de correspondentes
formas de comportamento. (Elias, 1990, p. 73).
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Importantes estudos sobre o assunto são Carvalho, 1989, 1998.
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1 - Civilização e civilidade
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Não será tratado aqui sobre o conceito de Kultur (Elias,1990), o qual seria o correlato de civilização para os
alemães. A acepção para esta pesquisa será o conceito de civilização entre os franceses e ingleses, por compreender
que as ideias que aportaram no Brasil no século XIX tiveram suas raízes entre esses povos.
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Ferdinand Édouard Buisson nasceu em Paris, França, em 1841, tornou-se pastor, professor e político. Dirigiu a publicação
do Dictionnaire de Pédagogie; ensinou filosofia e literatura na Academia de Neuchâtel na Suíça; ocupou a Cadeira de
Pedagogia em Sorbonne; foi secretário da Comissão da Estatística do Ensino Primário. Com este cargo, representou a França
na Exposição de Viena em 1873, com o Rapport sur l'instruction primaire à l'Exposition Universelle de Vienne, e depois na
de Filadélfia em 1876, com o Rapport sur l'instruction primaire à l'Exposition Universelle de Philadelphie. Foi ainda
Inspetor Geral da Instrução Pública na França em 1878, ano em que participou e escreveu a Conférence sur l'enseignement
intuitif, faite aux Instituteurs délégués à L'Exposition Universelle; Diretor do Ensino Primário em 1879, cargo que ocupou
por 17 anos, e redator da Revue Pédagogique. Participou ativamente das reformas do Ministro da Educação Jules Ferry de
1880, 1881 e 1882, que modernizou o ensino primário francês, estabelecendo uma escola pública, obrigatória, laica. Foi
também deputado pelos radicais-socialistas em 1902; em 1927 recebe o prêmio Nobel da Paz e afasta-se da vida pública.
Veio a falecer em Paris, em 1932 aos 91 anos.
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educadas segundo as regras de uma sociedade hierarquizada, tais regras, mesmo que não
sejam imanentes do Estado, deveriam ter força de lei. Em suas argumentações, Buisson
(1911) descreveu ainda que as regras de civilidade se modificam conforme a nação, mas
todas têm como base a moral e os costumes do lugar. Dessa forma, a educação deveria
proteger a capacidade intelectual da criança, mas sem que o aluno, futuro cidadão,
perdesse a noção de seu lugar na sociedade. Essas regras de conduta eram as condições
para que o sujeito fosse aceito socialmente e reconhecido como ‘civilizado’.
Ao mesmo tempo, uma das regras da civilização era estar ciente da graduação
social, em outras palavras, devia-se perceber como um sujeito deve agir mediante a sua
disposição perante os superiores, que, no caso do Brasil, ao final do século XIX,
traduzia-se em fazendeiros e doutores, demonstrando tanto um modelo de adequação
social, como uma forma organizada de ser e de estar diante do mundo. As crianças
deveriam aprender a não desperdiçar palavras, agindo de forma adequada e falando o
necessário, em busca de uma medida equilibrada de comunicação.
Nesse momento, cabe ressaltar a ação de um importante intelectual brasileiro no
período: Rui Barbosa (1849-1923); jurista e parlamentar que esteve presente nas
principais discussões e ações daquele momento: a causa abolicionista, a reforma
eleitoral, reforma da Instrução Pública, projeto da Constituição de 1891, fundação da
Academia Brasileira de Letras, discussão do Código Civil, imigração, entre outras.
Sua circulação entre os meios políticos e acadêmicos por si só já o referendaria
como intelectual no momento. Seu interesse e atuação na educação trouxeram grandes
contribuições ao período, sendo considerado, também, um intelectual da educação pela
historiografia. Não se pode, por isso, perder a visão de que Rui Barbosa foi um homem
de seu tempo, voltado para uma elite ilustrada e econômica em uma época de intensa
transformação (Machado, 2002).
As mudanças propostas por Barbosa eram dirigidas a uma sociedade idealizada,
um modelo importado, no qual a educação tinha um importante papel para a
transformação da sociedade ao lado das reformas econômicas (Machado, 2002). As
transformações pretendidas não pressupunham rupturas, mas sim, a manutenção de uma
sociedade elitizada que deveria se inserir entre as sociedades mais modernas no período,
como a França, a Inglaterra e os Estados Unidos. A escola, agente do progresso
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Todavia, Barbosa (1981) também acreditava que a educação não fazia milagres.
O pensador lembrou o caráter de prevenção desta contra o desrespeito à legalidade e a
conformação à situação do homem na sociedade. Houve assim, no discurso, um
relacionamento direto com o trabalho, que seria fortalecido por meio da consciência
dada pela educação. A escola era apresentada como o ambiente propício para o
desenvolvimento de aptidões, criatividade inventiva, para os momentos de dificuldades,
como se essas capacidades fossem um conjunto de ações suficientes para burlar a má
sorte, a má fortuna.
Não é por acaso que a escola era apresentada como o local ideal para as
modelações que se faziam necessárias; também, não é por acaso que a instrução
elementar deveria ser obrigatória e controlada pelo Estado, estar obrigatoriamente na
escola era a melhor maneira de garantir o controle das “predisposições perversas”,
daqueles que não tinham recursos, com o fim de manter uma sociedade hierarquizada e
“ normal”, em que os membros pudessem “preencher as suas funções rudimentares”
(Barbosa, 1981, p.20). A experiência que a escola promoveria, deveria ser aquela em
que fizesse os indivíduos acreditarem que a realidade, imposta pelas forças da
civilidade, fosse imutável, dado aceito e não questionável, e que as emoções resultantes
dessa experiência, a sensibilidade, fossem voltadas às práticas socialmente aceitas e
condicionadas.
Porém, seria injusto afirmar que Rui Barbosa não acreditasse na liberdade e que
apoiasse um Estado impositivo, “preferimos todos os inconvenientes da liberdade,
usufruída, sem obstáculo legal, por todas as seitas, à suserania do Estado sobre as
consciências” (Barbosa, 1981, p. 15), ao contrário, o Estado deveria garantir a liberdade
de pensamento e de expressão, esta era a garantia de um governo livre em que os
homens veriam a inutilidade de maus sentimentos, como a cólera, em suas relações
sociais. Assim, o Estado, não sendo o “senhor das consciências”, era, no mínimo, visto
como um pai bastante austero e carismático, “o grande representante da inteligência
contra o obscurantismo; é o inimigo armado das trevas; é o irradiador vitorioso da luz”
(Barbosa, 1981, p. 12). Esse discurso evidenciava a relação entre Estado e liberdade,
presente nos ideias dos intelectuais brasileiros: a noção de Estado e de liberdade estava
tensionada entre a conformação de conceitos morais e civis, próprios da organização do
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Para Rosa Fátima de Souza, “Escola primária graduada, compreendendo a classificação homogênea dos alunos,
várias salas de aula e vários professores (...) tratava-se de um modelo de organização do ensino elementar mais
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Entretanto, para que esta nova modalidade de ensino desse certo, era necessária a
preparação técnica dos professores. Essa preparação dar-se-ia na Escola Normal, com
programa de estudos e preparo prático para os alunos.
Dessa forma, iniciou-se a reforma da instrução pública pela reforma da Escola
Normal, com a adoção de novos processos de ensino, particularmente, o método de
ensino intuitivo (Souza, 2006). Tal método era percebido como imprescindível para a
renovação da educação, as discussões sobre ele foram muito mais intensas do que a
própria instalação da escola graduada, haja vista que os pareceres de Rui Barbosa não
citam essa forma de organização escolar (Souza, 1998). Portanto, a reforma concebeu a
escola graduada, para a formação popular e para preparar a infância para a então
nascente República. Contudo, para se conceberem as modernizações no período faz-se
necessário, também, compreender a própria questão do ‘método’: o que era ter método?
Novamente quem responde é Buisson, em seu Nouveau Dictionnaire de Pédagogie,
Este termo, formado a partir de uma palavra grega cuja raiz significa
caminho, refere-se a todas as formas que adotam uma forma explícita e
cuidadosa para realizar qualquer trabalho, para realizar um bom
empreendimento. I. - A partir desta definição segue-se que agir com o
método adequado é ser racional, é o homem fazer metodicamente o que o
animal faz por instinto, e de todas as obras do homem, a educação é a mais
séria, e que também requer um método mais eficaz, e que não deve ser
abandonada ao acaso. (...) Ter um método, ou seja, saber exatamente aonde
se quer chegar e, conscientemente, escolher o caminho certo, o professor
estará cuidando de suas crianças, do país e dele próprio (Buisson, 1911,
verbete methode).
Método, então, era compreendido como a ação racional do homem com o intuito
de atingir algum objetivo, no caso da educação, era primordial essa questão. Vale ainda
notar que o cuidado com a educação se dava necessariamente por esta ser compreendida
como a que ensina a viver em sociedade, ‘escolher o caminho certo’, disse Buisson, mas
qual caminho é este? É aquele que zela pela formação das crianças, para o bem do país.
Essa compreensão sobre o método em Buisson é evidenciada no decorrer de suas
explicações sobre método, para ele este não era apenas uma forma de ensinar, um
caminho a seguir, mas também educava a criança moralmente, para ela ter gosto pela
disciplina, pelas regras, assim, como Buisson já afirmou anteriormente, o professor, ao
racionalizado e padronizado com vistas a atender um grande número de crianças, portanto, uma escola adequada à
escolarização em massa e às necessidades da universalização da educação popular” (Souza,2006, p. 35).
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seguir um método, estava educando para o país e para si mesmo. Aquele que não tem o
gosto pela ordem, pelo método, não foi educado corretamente, pois educação não é
apenas o cultivo da mente, mas se refere ao processo de formação do indivíduo, desde o
nascimento, partindo de hábitos morais e físicos. Dois elementos são bastante
importantes para a compreensão da necessidade de um método frente à educação dos
sentidos: o primeiro, está ligado à associação entre a educação e os instintos animais; o
segundo, diz respeito à ideia de libertação, frente ao regramento das metas e objetivos
de um método (Buisson, 1911).
Buisson explicou que a concepção do método deveria partir de um propósito, de
um objetivo, e, em educação, esse objetivo seria a perfeição humana. Mas o que seria
essa perfeição humana? Buisson, ao considerar apenas a educação geral, afirmou:
Nessa citação, é possível observar que o método, para Buisson, era o caminho
que o professor deveria seguir com o propósito final de uma educação integral, no
sentido da formação plena do ser humano, uma educação que, dizia o educador, livre,
mas que condicionava o sujeito a uma vida regrada e civilizada. Percebe-se que o
método criaria possibilidades de planejamento com resultados sucessivos que não
permitiriam um descontrole inútil de tempo de vida. Precisão, firmeza, limpeza seriam
ferramentas importantes para que uma vida condicionada por um método fosse levada a
cabo. Fica aqui explícita a ideia de controle dos movimentos e organização dos sentidos,
pois se trata de aprender os movimentos corretos e a apresentação distintiva de uns
diante de outros. Para o autor, também faziam parte dessa educação integral,
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Educação estética, no entanto, faz parte da educação geral, tanto como meio e
como fim, o gosto é um dos atributos superiores de nossa natureza, e nada é
mais apropriado do que uma sociedade limpa e justa para elevar o espírito de
nossos sentimentos e nossos pensamentos. A cultura do sentimento religioso
é também às vezes, meio e fim; mas a pedagogia moderna é relutante em
aceitar, especialmente desde Immanuel Kant, para apresentar de forma
simples, ou até mesmo como uma finalidade específica, que é diferente do
sentido da perfeição, o pleno desenvolvimento do senso moral. Sobre a
educação cívica, esta tem seu lugar especial. Não é verdade, como diz
Rousseau, que está em contradição com o ensino geral, que se deve "escolher
entre fazer um homem ou um cidadão" pode ser o contrário, ser um bom
cidadão pode ser o melhor meio, talvez o único de fazer um homem, mas a
formação de espírito cívico é um fim relativamente particular, que se justifica
por razões especiais, de maneira histórica e temporal (Buisson, 1911, verbete
methode).
Está claro nesta citação de Buisson que a intuição é um ato primitivo da mente humana,
é uma espécie de lampejo que se faz sem o menor esforço do indivíduo. Essa primeira
condição, captada pelos sentidos, é o “motor de arranque” do pensamento e ele é o
ponto chave para ser entendido no processo pedagógico.
Pode-se inferir, portanto, que a intuição é o primeiro contato do sujeito, da
consciência humana, com o mundo. A nossa mente, não chegam imagens prontas, na
realidade, o nosso cérebro completa as imagens que recebe com as informações que já
tem sobre o objeto. Apreende-se o mundo pelos sentidos, naturalmente, pelo que se vê,
ouve, cheira, degusta e toca. Em contrapartida, a partir dessa experiência primeira, os
sentidos ordenam e educam o sujeito para maneira como deve perceber o mundo.
A citação de Buisson também evidencia a importância da intuição no
aprendizado, aliás, o aprendizado ocorre por meio da intuição, pois é ela que, segundo a
teoria, estabelece o contato primordial com o mundo, que faz o indivíduo ter uma
percepção de como o mundo se apresenta, por meio de informações sensíveis.
sobre quais seriam os procedimentos, as atividades didáticas para que tal método tivesse
eficácia. Inclusive, pensava-se naquele tipo de atividade que não deveriam
necessariamente passar pelos sentidos, mas que ainda se utilizassem da capacidade
intuitiva para fomentar a criatividade, a reflexão. Houve a constatação de que não há um
método mecânico, uma receita a ser aplicada na educação, e que tudo deveria ser
aproveitado para instigar o pensamento. De todo modo, pensando no método, os
educadores passaram a se ocupar com atividades que instigassem essa educação
intuitiva e sensorial, de maneira que a própria intuição, sem uma apresentação de um
panorama planejado, poderia se tornar uma ação descontrolada.
Se Rui Barbosa pensava da mesma forma que Buisson, não foi encontrado
nenhum escrito explicitando tal ideia. Todavia, pode-se inferir que o pensador brasileiro
coadunava com esses propósitos, primeiro porque a leitura do Nouveau Dictionnaire de
Pédagogie era o que havia de mais moderno à disposição, no período, e circulava
inclusive como material da Escola Normal. Mas também é possível perceber essa
concordância no fato das críticas que Barbosa fazia ao ensino nas escolas. Segundo o
autor, o que faziam nelas, até então, não podia ser considerado como ensino. O autor
escreveu no Preâmbulo da Tradução do livro Primeiras Lições de Coisas de N. A.
Calkins, dizendo que na escola não se ensinava as crianças a pensar “(...) Tudo nellas é
mechanico e estéril (...)”. Portanto, na interpretação de Rui Barbosa, a educação dos
alunos não deveria estar amparada em memorização, posto que, por meio dessa prática,
o conhecimento acabaria se transformando em esquecimento. E conhecer para Rui
Barbosa era “possuir a noção completa e o sentimento perfeito da lei no mundo moral,
como na criação material” (Barbosa, 1981, p.366). A educação, assim posta nas escolas,
era responsável por atrofiar as faculdades humanas (Barbosa, 1981, p. 199), e não as
desenvolvia. A escola era mecânica, renovar o método, ou melhor, criar o método era
essencial para Rui Barbosa. Para o autor, o ensino era morto, abstrato e em vão, além de
inabilitar o aprendizado (1981, p. 33), era como retirar uma flor da luz e privá-la do sol
(1981, p.34). Dessa forma, Barbosa pensava que o professor acabava se esquecendo de
que o aluno tem um corpo com ‘imperiosas necessidades’ se “ignora que a educação
não atua sobre elementos impalpáveis, que a sua influência se exerce contínua e
diretamente sobre a saude do organismo” (1981, p.34). O problema era que a escola,
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segundo o mesmo autor, por meio de seus mestres, cultuava a memorização e não se
instigava a curiosidade da criança.
Por outro lado, a escolha sobre o método intuitivo se daria também por ser,
naquele período, o método mais propagado nos meios científicos internacionais
(Schelbauer, 2003). Sua certificação de excelência se justificava nas ideias surgidas e
propagadas na pedagogia norte-americana.
A consonância entre o método e as aspirações do período eram intensas, havia,
portanto, estreita relação entre a formação para civilização e o método intuitivo. A
sociedade brasileira, segundo esses escritos, necessitava ser civilizada e educada para a
modernidade. Dessa forma, o método intuitivo vinha coroar toda estas necessidades:
educar os sentidos; educar o comportamento; ensinar o lugar do homem na sociedade;
criar hábitos saudáveis.
Cabe ressaltar ainda que, para Rui Barbosa, lição de coisas e método intuitivo
tinham o mesmo significado: "a lição de coisas, portanto, segundo a reforma, não
acrescenta ao plano escolar um estudo adicional; impõe-lhe a aplicação ampla,
completa, radical de um novo método: o método por intuição, o método intuitivo”
(Barbosa, 1981, p. 215,). Para Leôncio de Carvalho6, Rui Barbosa confundia lição de
coisas com método intuitivo (Valdemarin, 2004), para aquele a lição de coisas é uma
parte do método intuitivo. Assim, poderia ser aplicada ao final da tarde quando os
alunos estivessem cansados (Atas e Pareceres do Congresso da Instrução do Rio de
Janeiro, 1884).7
Todavia, segundo Schelbauer (2003), Buisson afirmava que as lições de coisas
poderiam ser aplicada de duas formas: como exercício à parte, tendo um momento
dentro do programa ou inserida em todo o programa de ensino. Mas, o autor ressaltava
que o melhor seria que as lições de coisas fossem inseridas em todo o programa.
Para Rui Barbosa, podia-se ensinar tudo pela intuição, desde o desenho como a
geografia; o cálculo como a gramática; as ciências da natureza como o uso da palavra.
"O próprio ensino moral cabe naturalmente na sua esfera" (Barbosa, 1981, vol. X
p.216). A intuição, tanto para Buisson quanto para Rui Barbosa, era o fundamento de
6
Carlos Leôncio de Carvalho foi deputado, Senador e Ministro. Em 1879 reformou a instrução pública primária e
secundária do Município da Corte por meio do decreto de 19 de abril de 1878.
7
Não se trata de efetivamente eleger uma definição para o termo método intuitivo, mas de perceber polêmicas que se
travaram na época. (Schelbauer, 2005).
36
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todo conhecimento. Todavia, ao que parece, para Rui Barbosa, lições de coisas não
eram apenas exercícios, mas o próprio cerne do método intuitivo.
Por fim, Rui Barbosa entende que o método intuitivo fundamentava-se na teoria
pedagógica de Pestalozzi e Fröbel, na qual a cultura do gênero humano está na
familiarização do espírito com a natureza (Barbosa, vol X, 1981, p. 204).
Tal método corou a formação almejada, com base na lição de coisas e por meio
dos sentidos, da intuição, buscava alcançar também um ideal científico, libertador e
civilizador que comporia o gene da República. Formar o novo homem republicano,
ideal tão propagado, estudado e repetido pela historiografia, significava educá-lo dentro
dos ideais iluministas da cientificidade, positivista, burguês, alimentador das diferenças
sociais e econômicas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Manual de ensino elementar para uso dos paes e professores. Rio de Janeiro: Imprensa
Instrução Pública. Tomo I. Vol. X. 1883..In: Obras completas de Rui Barbosa. Rio de
Janeiro, Ministério da Educação e Saúde, 1947.
37
Revista Educação, vol.8 – Julho / Dezembro de 2014
Instrução Pública. Tomo II. Vol. X. 1883. In: Obras completas de Rui Barbosa. Ed.
Fac- similar comemorativa do 1º Centenário dos Pareceres apresentados na Câmara do
Império em 1882. Rio de Janeiro, Fundação Casa de Rui Barbosa; Salvador, Fundação
Cultural do Estado da Bahia, 1981.
ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Uma história dos costumes. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1990.
FREUD, Sigmund. O futuro de uma ilusão. Tradução de Renato Zwick. Porto Alegre,
RS: L&PM, 2010.
JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. Trad. Gizele de Souza.
Revista Brasileira de História da Educação. Campinas: Autores Associados, v. 1, pp. 9-
43, jan./jun, 2001.
REIS FILHO, Casimiro dos. A educação e a ilusão liberal. São Paulo: Cortez: Autores
Associados, 1981.
SOUZA, Rosa Fátima de. Espaço da Educação e da civilização: origens dos Grupos
escolares no Brasil. In: SAVIANI, Demerval (et. al.). O legado educacional do século
XX no Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 2006.
39
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1
Doutora em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-CAMPINAS).
Docente do Centro Universitário Padre Anchieta (UNIANCHIETA). E-mail: [email protected] Tel.:
4527.3452 Ramal: 3512. Cel. (19) 9.9177-8255
2
É graduada em psicologia pelo Centro Universitário Padre Anchieta (UNIANCHIETA). E-mail:
[email protected]
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INTRODUÇÃO
Freud (1996) apud (Zimerman, 2010) afirmava que a ansiedade era o problema
central das neuroses. Dessa forma, Freud apresentava uma nova teoria sobre ansiedade
com base na hipótese estrutural do aparelho psíquico. Freud acreditava que a ansiedade
tinha uma base biológica herdada, onde se dedicou a pesquisar sobre a importância da
transformação libidinal na vida psíquica do indivíduo. A ansiedade nestes estudos está
relacionada às situações traumáticas e as situações de perigo. Pode definir situações
traumáticas como uma situação na qual a psique recebe grande influência de estímulos e
não podendo dominá-los automaticamente desenvolve a ansiedade. Tal tendência de
reação aos estímulos excessivos Freud chamou de neuroses de angústias. Em um
desenvolvimento saudável o bebê desenvolve a ansiedade de alarme, onde a criança
aprende a antecipar o começo de uma situação traumática reagindo à ansiedade na
tentativa de evitá-la ou combatê-la frente a uma situação de perigo.
O termo Pulsão de morte utilizado por Freud, também foi analisado por Melanie
Klein que declara que este impulso energético interno (pulsão) é inato e, se faz presente
desde o início da vida do bebê e que ao se manifestarem no psiquismo infantil desperta
o que chamou de angústia de aniquilamento como sendo perigo de morte iminente e que
para evitar esses medos utilizam os mecanismos de identificação projetiva e o de
negação onipotente. Esses objetos internos manifestados no inconsciente estão
relacionados entre si e compõem a realidade fantasiosa do psiquismo infantil
(Zimerman; 2010, P.49).
Melanie Klein (1934) apud (Zimerman, 2010) publica Psicogênese dos estados
maníaco-depressivos, onde pela primeira vez utilizou o termo de posição depressiva.
Em 1946 ao relatar os mecanismos esquizoides, aparecem as concepções de posições
esquizo-paranoides e o fenômeno da identificação projetiva (Zimerman, 2010, p. 49).
Nasio (1995) explica que os conceitos de posição esquizo-paranoides e
depressiva, pesquisados por Melaine Klein estão relacionados à constituição da
subjetividade do bebê, e ambas acontecem de forma processual ao longo do
desenvolvimento infantil. A posição esquizo-paranoide inicia no nascimento até os seis
meses de idade onde o desenvolvimento do eu é determinado pelos processos de
introjeção e projeção. Este mesmo autor esclarece que a primeira relação objetal do
bebê ocorre com o chamado seio bom ou seio mau e que durante este período os
impulsos destrutivos e a angústia persecutória encontram-se fortemente presentes no
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Revista Educação, vol.8 – Julho / Dezembro de 2014
de sensações físicas e que em níveis adequados é considerada saudável. O autor diz que
é por causa das questões internas que a ansiedade humana tem sido constante e às vezes
patológica e que as ameaças externas não costumam ser tão constantes quanto às
internas.
Para Rapee et al (2010) explicam que as manifestações de medo, apreensão, e
ansiedade podem assumir muitas formas diferentes em crianças. Com base nesses
autores, essas manifestações de medo costumam ser parte de um processo normal de
desenvolvimento, e quando excessivos, embora sejam em geral temporários, geram
preocupações nos pais e demais cuidadores. Para os autores, a ansiedade é o problema
mais comum em crianças de todas as idades e outros diagnósticos de transtornos
relacionados com a ansiedade apresentam aproximadamente cerca de uma para cada dez
crianças e outros temores não menos aflitivos numa proporção ainda maior. Definem a
ansiedade como um sofrimento real e que pode exercer uma forte interferência na vida
da criança de forma geral, como na família, na vida escolar e no grupo de amizades
(Rapee; Spence; Cobham e Wignall, 2010-p. 14 e 15).
A causa da ansiedade em crianças também pode ser de ordem genética e que as
mais ansiosas apresentam, de modo geral, uma personalidade mais exacerbada que
outras. Também a relação parental e a maneira de lidar ou reagir frente aos desafios
pode influenciar sobre o desenvolvimento da ansiedade. Dentre os estressores mais
comuns apontam a separação dos pais, violência familiar, questões de luto, ameaças na
escola, doenças e outros fatores (Rapee et al, 2010).
Sayão (2013) explica que toda criança sentirá algum tipo de medo durante seu
desenvolvimento; seja medo do escuro, de monstros, de perda da mãe. Também
comenta que os medos criados por causa da relação com as histórias, servirão de
oportunidade para que as reações de medos internos se manifestem. Defende a ideia de
que seja favorável para a criança vivenciar tais situações para aprender a reconhecer os
sinais e a diferenciá-los entre a sensação de medo que protege da sensação de risco e
com isso desenvolver mecanismos próprios de reação.
Em relação aos contos de fadas, sabe-se que no início de seu surgimento, estes
não eram destinados ao público infantil e que a partir dos escritos de Charles Perrenault
na França (séc. XVII), dos irmãos Grimm Jacob e Wilhelm na Alemanha (séc. XVIII),
com os contos de Hans Christian Andersen (séc. XIX) e principalmente com as
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Revista Educação, vol.8 – Julho / Dezembro de 2014
releituras de Walt Diney na América (séc. XX) que facilitou a compreensão dos contos
e acesso ao público infantil (Mattar, 2007).
Segundo Coelho apud (Mattar, 2007), torna-se imprecisa datar a origem dos
contos de fadas na literatura escrita; pois inicialmente sua transmissão era oral e o
registro material dos contos de fadas aparece no princípio do século VII.
Cashdan (2000) aponta que originalmente concebidos como entretenimento para
adultos, os contos de fadas eram contados em reuniões sociais, nas salas de fiar, nos
campos e em ambientes onde os adultos se reuniam- não nas creches. Somente no
século XIX que os contos de fadas se transformaram em literatura infantil e, isto só foi
possível, por conta dos vendedores ambulantes que viajavam pelos povoados vendendo
seus produtos por preços acessíveis à população.
A crença de que tais contos ensinam didaticamente lições de vida é um “mito”;
mas auxiliam as crianças a lidarem com as “lutas internas” que fazem parte da vida
cotidiana e aponta alguns critérios para se trabalhar com este recurso, dos quais se refere
à capacidade e vontade das crianças em manifestar suas angústias emocionais, bem
como o envolvimento e o modo de conectar os contos com as necessidades reais das
crianças (Cashdan, 2000, p.20).
Vieira (2005) comenta que existe divergência entre profissionais que são contra
e outros que são a favor do uso dessas narrativas com crianças. Para os que são contra,
justificam que as situações de violências que aparecem no decorrer do enredo, a
personificação do bem e do mal, as soluções fantasiosas e mágicas para problemas
mais complexos e que a quantidade de tensão emocional, provocada pelo contato com
as narrativas, pode proporcionar às crianças uma visão negativa da realidade.
Acreditam também que para as crianças mais ansiosas ou sensíveis pode provocar
sofrimento e angústias que poderão influenciar em sua vida futura, gerando medo e
insegurança.
Bettelheim (2007) relata que a Psicanálise ofereceu as maiores contribuições ao
analisar os significados dos contos de fadas em relação aos conteúdos encobertos do
consciente, pré e inconsciente das crianças. Apresenta em seus escritos que a Psicanálise
desmistificou a inocência e a simplicidade do mundo da criança e as histórias são lidas
por descreverem um mundo cheio de experiências, de amor e também de destruição,
selvageria e ambivalências. A necessidade de compreensão da própria vida é o resultado
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Revista Educação, vol.8 – Julho / Dezembro de 2014
de um longo processo de maturidade psicológica, que não é alcançada com uma idade
específica e nem com a maturidade cronológica, mas sim como resultado de um longo
desenvolvimento, onde o indivíduo busca o significado da própria vida de acordo com o
que a sua mente e compreensão já se desenvolveram. À medida que se desenvolvem,
são capazes de entender as pessoas de sua convivência e podem se relacionar com eles
de forma satisfatória e significativa. Para não ficar a mercê dos acasos da vida e
encontrar um significado profundo e relevante, deve-se desenvolver seus recursos
interiores, fazendo com que sua imaginação, emoções e intelecto se enriqueçam
mutuamente. Sentimentos positivos dão força para desenvolver a racionalidade, a
esperança no futuro que poderá sustentar o indivíduo frente às frustrações encontradas
durante seu desenvolvimento natural.
De acordo com Bettelheim (2007) e Corso (2006) a maior contribuição desse tipo
de literatura é para o emocional. Desenvolvem a capacidade de fantasia infantil, fornece
escapes falando com os medos internos das crianças, suas ansiedades e ódios, como
vencer a rejeição, conflitos com a mãe, rivalidade com irmãos ou sentimentos de
inferioridade. Ambos comentam que as histórias aliviam as pressões exercidas por estes
problemas, auxiliam na recuperação, dando-lhes coragem e lhes mostrando que sempre
é possível encontrar alguma solução para seus conflitos. Os temas apresentados são
apreciados pelas crianças, pois elas se sentem entendidas e apreciadas em seus
sentimentos, esperanças e ansiedades sem que ela seja obrigada a contar com uma
racionalidade que está aquém dela. Para que a história realmente prenda a atenção da
criança e dê acesso ao significado mais profundo, ela deve despertar a curiosidade e
estimular a imaginação, desenvolvendo assim seu intelecto e suas emoções.
Maricato (2005) defende a ideia de que as histórias compõem um excelente
recurso para despertar o prazer de ler, mas não se refere especificamente as situações
estressoras que desencadeiam os sintomas de ansiedade na primeira infância.
É sabido que o texto literário narrativo propicia aos leitores experimentar uma
vivência simbólica por meio da sua imaginação e também do contato com o texto
escrito ou pelas ilustrações. Por isso, permite ao leitor organizar sua função psíquica
com o que foi vivenciado e a sensibilidade que lhe é peculiar (Faria, 2010, p.19).
Este assunto acha-se cada vez mais crescente e comprovado sua eficácia na área
pedagógica e utilizado diariamente nas instituições de Educação infantil, porém com
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CONCLUSÃO
Durante os anos trabalhados por uma das autoras como professora da rede pública
e especificamente no segmento de Educação Infantil, sempre utilizou-se a contação de
histórias como recurso de trabalho pedagógico por acreditar no fascínio que as
personagens e os enredos despertavam nas crianças. Sempre me preocuparam as
reações de medo e angústias manifestadas por alguma criança no grupo. Estes
episódios se repetiam com muita frequência, aumentando assim o meu desconforto;
mas embasada nas teorias pedagógicas que incentivam o uso de tal recurso, me
mantive na utilização dos mesmos.
Quanto ao tema abordado sabe-se que, o assunto encontra-se cada vez mais
crescente e comprovado sua eficácia na área pedagógica como recurso literário para o
domínio do letramento e utilizado diariamente nas instituições de Educação Infantil. O
mesmo não acontece no campo emocional porque poucas são as pesquisas na área da
Psicologia.
Com base nas pesquisas sobre a teoria de Melanie Klein, (Bettelhein, 2007) e
(Corso, 2006) constataram-se que o contato com este estilo literário provoca possíveis
manifestações de ansiedade porque os conteúdos apresentados vão de encontro com os
conteúdos internos da criança em análise. Embora Bettelhein não faz referência ao
critério idade para expor as crianças em contato com os contos, verificou-se que as
crianças menores de três anos estão vivenciando internamente a estruturação egóica e
transitando entre a teoria das posições, as relações objetais, a ansiedade persecutória, o
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trabalhar, como envolver as crianças nessas histórias, que tipo de pergunta fazer para
relacionar os contos de fadas com as necessidades emocionais das crianças e sempre
considerar a capacidade e a vontade da criança para explorar seus conflitos internos.
Espera-se que os estudos realizados auxiliem no uso consciente de tais
histórias pelos profissionais que atuam tanto em contextos escolares como também em
clínicas de atendimento psicoterápico visando o desenvolvimento global de forma
saudável para as crianças dessa faixa etária, elucidando uma prática pedagógica
amparada de forma assertiva com o conhecimento científico. Também importante para
outros profissionais que se interessam pelo assunto para que possam desenvolver algum
programa de prevenção específico para a faixa etária.
REFERÊNCIAS
BETTELHEIM, B. A psicanálise dos contos de fadas. 21ª ed. Tradução Arlene Caetano.
São Paulo: Paz e Terra, 2007.
CORSO, D.L.; CORSO, M. Fadas no Divã: psicanálise nas histórias infantis. Porto
Alegre: Artmed, 2006.
FARIA, Maria Alice. Como usar a literatura infantil na sala de aula. São Paulo:
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RAPEE, Ronald M.: SPENCE, Susan H.; COBHAM, Vanessa; WIGNALL, Ann.
Transtorno da Ansiedade na Infância. São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda,
2010.
Consultado em 28-07-2013.
UNICEF; Guia para a elaboração de planos municipais pela primeira infância / Rede
Nacional Primeira Infância - Salvador: UNICEF, 2011. 52 p.
1
Doutora em Estudos Literários pela Universidade Estadual Paulista, docente da Faculdade da Aldeia de
Carapicuíba e professora titular de cargo da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo.
Endereço: R. Dr. Mário de Moura e Albuquerque, 400, apto 203C, CEP 05633-010 – São Paulo, SP
E-mail: [email protected] - Telefone: (11) 29367142
2
Mestre em Estudos Literários pela Universidade Estadual Paulista, doutoranda em Educação pela
Universidade Federal de São Carlos e professora titular de cargo da Secretaria de Estado da Educação de
São Paulo. Endereço: R. Maria Tavares Leandro, 201, CEP 13566-200 – São Carlos, SP
E-mail: [email protected] - Telefone: (16) 33613174
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INTRODUÇÃO
significado da ‘globalização’ não são apenas duvidosos, como também podem operar de
maneira diferente em várias partes do mundo e, em certos contextos, ter pouco
impacto”. Entretanto, o quadro permanece ainda mais grave se considerarmos que
dentro da educação de adultos o analfabetismo formal alia-se ao digital e potencializam-
se os processos de exclusão.
O paradoxo referente ao alcance diferenciado da globalização também é
discutido por Hall (2006, p. 78). Para o autor, a “globalização é muito desigualmente
distribuída ao redor do globo”; o processo é controverso: o fenômeno oferece múltiplas
possibilidades de comunicação com o mundo, atravessando fronteiras e interligando
comunidades, mas cria perspectivas difíceis de serem preenchidas pelos estratos sociais
menos favorecidos.
Enquanto estudioso dos fenômenos culturais contemporâneos, Hall (2006)
também avalia como este fenômeno da globalização está relacionado à latente crise de
identidade cultural entre os sujeitos pós-modernos. Para tanto, o autor apresenta três
concepções de identidade, a saber: I. Sujeito do iluminismo: indivíduo centrado,
seguidor de valores e princípios bem definidos; II. Sujeito sociológico: sujeito formado
pela interação com outras pessoas, mediando seus valores, sentidos e símbolos. Nesssa
concepção, o “eu” é modificado a partir dos mundos culturais exteriores. III. Sujeito
pós-moderno: sujeito sem uma identidade fixa, já que a linearidade (regras e valores) do
mundo foi desmanchada.
Esse último sujeito é o foco das discussões de Hall (2006), considerando-o no
contexto denominado de “modernidade tardia” como o marco das grandes
transformações das estruturas sociais e nas identidades culturais (momento este
referenciado pelo autor para tratar do período pós anos 1960). A crise de identidade de
que trata Hall (2006) permite a elaboração de uma reflexão sobre a própria crise de
identidade do professor, ou seja, uma crise do que se compreende como seu papel e, por
consequência, sobre o que se entende como papel da escola. Antes, porém, uma
importante observação: podemos falar em identidade docente ao considerar, junto a
Gadotti (1995, p. 17), que “idêntico é aquele que é perfeitamente igual” e que “na
identidade existe uma relação de igualdade que cimenta um grupo, igualdade válida
para todos os que a ele pertencem”.
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O falar com o outro e não para o outro está no centro da concepção de Freire
sobre diálogo, para quem a educação deve assumir uma feição emancipadora, que
transforma os indivíduos e o mundo. Para ele, a relação entre educador e educando deve
desvincular-se da crença de que o professor deposita os conteúdos valorizados
socialmente na mente do aluno, favorecendo, assim, o “depósito” de uma cultura
supostamente privilegiada (a do educador) sobre a outra (a do educando), afastando os
sujeitos de suas histórias e identidades.
O conceito de identidade no contexto da modernidade é abordado por Hall
(2006). Segundo o autor, diante da crise dos sujeitos e das novas concepções e
paradigmas que integram a era da globalização, tem-se a formação das “identidades
híbridas” (Hall, 2003), fruto da intersecção das fronteiras e dos movimentos de
diáspora. Esse deslocamento físico dos sujeitos na era pós-moderna é discutida pelo
autor em referência aos conceitos de “tradição versus tradução”, ou seja, a tradição é o
elemento que remete às raízes, ao ponto de origem espaço-temporal das pessoas, o qual
passa a ser ressignificado, isto é, traduzido na medida em que se aumentam as
distâncias físicas e o contato com outras culturas. Segundo Hall (2006),
essas pessoas retêm fortes vínculos com seus lugares de origem e suas
tradições, mas sem a ilusão de um retorno ao passado. Elas são obrigadas a
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exemplo, entre tantas outras atrocidades que se agregam ao conceito de cultura para
abonar os barbarismos do ser humano.
Sobre essa apropriação indevida do conceito de “cultura” em prol da barbárie,
consideramos os estudos de Whitaker (2006). A autora explica que cultura é uma forma
de entender o outro. Ela retoma as ideias dos antropólogos para afirmar que o conceito
refere-se a padrões, normas, práticas estruturadas a partir da nossa capacidade de
estabelecer símbolos. Junto a esse conceito, a autora delineia a noção de ideologia, a
qual é produzida a partir da cultura. A ideologia, segundo a autora, é uma espécie de
distorção da realidade que confunde o homem e ao mesmo tempo cria justificativas para
as várias formas de violência e desigualdade que imperam numa sociedade. Assim, de
acordo com a estudiosa, “cultura é tudo o que nos humaniza. Fenômenos de opressão e
dominação pertencem ao plano da ideologia” (Whitaker, 2006).
Trazendo suas considerações para o contexto da educação de pessoas adultas,
podemos dizer que a EJA hoje ainda é um espaço de reprodução da ideologia e impede
o desenvolvimento da autonomia e criatividade do educando, elementos importantes
para que ele seja um indivíduo transformador da realidade. Quando acreditamos que um
educando com pouco tempo de escolarização não tem cultura e nada sabe, estamos
tomando uma ideologia que nos faz pensar como seres dominantes, superiores e como
únicos detentores do conhecimento reconhecido como válido. Por isso, há a necessidade
de se renovar os processos educativos para que eles deixem de fortalecer hierarquias, de
segregar pessoas possuidoras de cultura e as que ideologicamente não a têm, as que são
portadoras de um conhecimento formal e as que não o são.
Embrenhando-nos mais diretamente na escola, na sua cultura e na própria
cultura escolar, é pertinente considerar os estudos de Candau (2002). A autora
desenvolve uma série de pesquisas envolvendo a problemática da educação
multicultural nos dias atuais, inserindo o multiculturalismo no contexto da globalização.
Uma das constatações da pesquisadora refere-se à necessidade de articular
dialeticamente os conceitos de igualdade e diferença quando se fala de relações entre
culturas. No contexto de uma escola aberta ao diálogo com as diferentes manifestações
culturais, o importante é negar qualquer forma de padronização que exclua as questões
relativas às diferenças das pessoas. Candau (2002) defende uma igualdade no sentido do
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justiça e ética que se constrói uma escola como espaço de promoção educativa,
valorização das identidades e formação para uma cidadania mais coerente, compassiva e
digna.
Dois autores que, com suas concepções teóricas, auxiliam a embasar esse
trabalho são Raymond Williams e Mikhail Bakhtin. Com Williams (1992),
primeiramente, depreendemos uma concepção de cultura que recai sob um ponto de
vista sociológico, em um contexto amplo que prevê as relações entre a sociedade, as
manifestações culturais e até mesmo destas com a educação. De base marxista, mas
fazendo uma crítica ao pensamento ortodoxo fixado na relação infraestrutura X
superestrutura (que confere à cultura papel secundário, pelo fato de esta se encontrar
presa numa superestrutura rigidamente determinada pela base econômica), Williams
(1992) considera que a cultura nasce das relações sociais.
Quando o autor atribui o nascimento da cultura dentro dessas relações,
imediatamente somos reportados ao fato de que as relações sociais são sempre
desiguais, o que conduz à falsa crença de que há uma cultura dominante (melhor) e
outra dominada (pior). Para que a concepção de cultura seja desconectada do parâmetro
comparativo, o autor a entende como “práticas de significação”. Dessa forma, a cultura
passa a abranger tanto a vida ordinária, quanto a produção artística, uma vez que ambas
carregam seus significados formulados nas relações sociais. A cultura está, portanto, em
toda a sociedade e não é privilégio de um grupo restrito.
O sentido de cultura para o autor é explicitado no seguinte trecho:
3
Ideologia, aqui, está sendo utilizada no sentido de diferentes ideais, portanto, sentido diverso do
utilizado no tópico anterior, com base em Withaker (2006).
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entrelinhas das obras clássicas (tidas como cultura elevada) é um elemento que contribui
para a desmistificação da ideia de que a classe popular é permeada de incapacidades,
especialmente de aprendizagens.
O entendimento de cultura dentro de um sistema de significação concreto, isto é,
pautado nas interações sociais, como propõe Williams (1992), aliado às compreensões
de dialogia e de discurso formado por campos ideológicos, ambos definidos por Bakhtin
(1999), nos levam a pensar sobre a investigação das ideologias incorporadas no signo
linguístico de livros da literatura universal que podem ser desvendadas por meio da
leitura dialógica realizada por estudantes de classe popular frequentadores da Educação
de Jovens e Adultos.
Considerando que em era de mundialização as instituições de ensino tendem a
padronizar os ritmos e as estratégias de ensino desconsiderando as experiências
culturais dos educandos e que essa postura homogeneizante dificulta a discussão sobre a
diversidade, entendemos que há necessidade de um grande esforço para a constituição
de uma educação multiculturalista que respeite e valorize a cultura e os saberes do povo
e, de modo particular, dos estudantes da EJA.
O multiculturalismo, segundo Hall (2006), vai além da valorização da
diversidade cultural do ponto de vista folclórico, mas discute os preconceitos contra as
pessoas marginalizadas numa sociedade desigual e excludente. Essa discussão que
tangencia a educação das classes populares, assim como o debate sobre a valorização
das diferentes identidades e culturas é essencial dentro do contexto das ações
pedagógicas da Educação de Jovens e Adultos. Enxergar a educação sob a perspectiva
do multiculturalismo crítico é refletir a respeito da diversidade e das identidades
culturais dos educandos, reconhecendo que eles trazem consigo as marcas da exclusão e
do abandono do sistema de ensino. Portanto, estabelecer conexões entre os universos
culturais dos educandos da EJA e o universo da cultura letrada é fundamental para
amenizar as desigualdades nas quais essas pessoas estão imersas.
Portanto, considerar o multiculturalismo no contexto da Educação de Jovens e
Adultos é uma questão de justiça social, por isso, essa discussão deve abarcar um
“posicionamento claro a favor da luta contra a opressão e a discriminação a que certos
grupos minoritários têm, historicamente sido submetidos por grupos mais poderosos”
(Moreira e Candau, 2008).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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425-430 Apud VIEIRA, J. L. O samba e o funk cariocas: Rio de Janeiro, ontem e hoje.
VII Colóquio Internacional MarxEngels. Disponível em:
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68
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1
Doutor em Fisico-química. Docente do Centro Universitário Padre Anchieta.
2
MBA EM SGA. Docente do Centro Universitário Padre Anchieta.
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INTRODUÇÃO
entendimento do assunto abordado pelo professor na sala e como uma forma de abrir
novos caminhos para o aprendizado do aluno, além de prender a atenção dos mesmos na
sala, tornando-se mais prazeroso a maneira de aprender o conteúdo.
O ensino não pode ser reduzido às aulas teórico-expositivas, pois trata-se de um
mecanismo de ensino e, como todo mecanismo, possui suas restrições. As aulas teórico-
expositivas (preleções) devem ser complementadas por aulas teórico-participativas e
outros mecanismo andragógicos que permitam a interação do conteúdo com o cotidiano
dos alunos, propiciando que a aula explicativa se torne mais atrativa, motivadora,
conduzindo os alunos à maior clareza e ao melhor entendimento, aumentando seu
interesse, sua frequência e participação nas aulas.
Segundo Souza et al. (2011) as vantagens que a leitura revela em nossas vidas,
remetem às transformações que nos guiam em diferentes espaços, é uma atividade que
desenvolve a capacidade mental propagando o interesse pelos textos e dinamizando o
hábito da leitura. A leitura na instituição de ensino funciona como passos para
articulação no desenvolvimento educacional. Nesse sentido, trazendo, atualmente. uma
grande possibilidade de alcançar novas perspectivas para construção do leitor enquanto
indivíduo crítico socialmente. Dessa forma, chamam atenção para novas técnicas de
ensino nas quais professores e alunos possam direcionar a informação de maneira
objetiva e prazerosa, não levando em consideração apenas à leitura “pronta e acabada”,
pois cada leitura merece ter uma interpretação levando o aluno a pensar sem medo de
expor suas ideias. Existem diversas maneiras para incentivar o aluno em adquirir o
hábito da leitura, ainda é possível despertá-los através de atividades de pesquisas para
desenvolver conhecimentos no contexto cultural e educacional.
Livros que abordam temas tangentes ao conteúdo técnico da unidade curricular
Auditoria e Certificação de Sistemas de Gestão e tem aderência aos fundamentos de
gestão – profissional e/ou pessoal – complementam a formação técnica do aluno,
convergem com a missão da instituição de ensino (formar profissionais éticos, criativos,
críticos e reflexivos, comprometidos com o bem-estar social, o desenvolvimento
econômico e o aperfeiçoamento político da sociedade em que atuam, mediante a busca
do conhecimento e a geração de novos empreendimentos) em consonância com os
objetivos do curso:
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METODOLOGIA
DISCUSSÃO DO RESULTADO
alunos
> 7 livros
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82% dos alunos afirmam que no máximo 3 livros fizeram parte do seu
aprendizado profissional e crescimento pessoal durante o ano anterior à
atividade de incentivo à leitura pesquisa (2012).
12% dos alunos afirmam que de 4 a 5 livros fizeram parte do seu aprendizado
profissional e crescimento pessoal durante o ano anterior à atividade de
incentivo à leitura (2012).
6% dos alunos afirmaram que mais de 5 livros fizeram parte do seu aprendizado
profissional e crescimento pessoal durante o ano anterior à atividade de
incentivo à leitura (2012).
alunos
> 7 livros
Nenhum aluno afirmou que menos de 2 livros fizeram parte do seu aprendizado
profissional e crescimento pessoal durante o primeiro semestre de 2013
(semestre em que foi desenvolvida a atividade de incentivo à leitura).
12% dos alunos afirmam que de 3 a 5 livros fizeram parte do seu aprendizado
profissional e crescimento pessoal durante o primeiro semestre de 2013
(semestre em que foi desenvolvida a atividade de incentivo à leitura).
3
Durante o segundo semestre de 2013 através da atividade de incentivo à leitura, objeto deste estudo, pela
unidade curricular Auditoria e Certificação de Sistemas de Gestão.
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88% dos alunos afirmaram que mais de 5 livros fizeram parte do seu
aprendizado profissional e crescimento pessoal durante o primeiro semestre de
2013 (semestre em que foi desenvolvida a atividade de incentivo à leitura).
alunos
livros
Gráfico 3 – Relação entre a quantidade de livros lidos (ou ouvidos) durante o períodos analisado
(2012 e 20132)
Fonte: Elaborado pelo autor
Tabela 1 – Razão entre a quantidade de livros por aluno durante o período durante os
períodos analisados (2012 e 20132)
Produto Produto
Quantidade de Quantidade de Livro*Aluno Quantidade de Livro*Aluno
livros alunos alunos
2 Semestre de
2012
2013
0 0 0 0 0
1 6 6 0 0
2 4 8 0 0
3 4 12 2 6
4 1 4 0 0
5 1 5 0 0
6 0 0 15 90
>7 1 7 0 0
∑Livros 42 96
∑Livro/∑Aluno 2 6
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- Destaque dos comentários dos alunos participantes da atividade objeto deste estudo:
Incentivou o aprendizado e
Contribuiu para o desenvolvimento acadêmico, profissional e pessoal.
Gráfico 4 – Taxa de absenteísmo dos alunos na unidade curricular Auditoria e Certificação de Sistemas
de Gestão durante o semestre letivo
Fonte: Elaborado pelo autor
Foi perceptível ao professor o aumento do interesse dos alunos pelas aulas e esse
interesse resultou em maior frequência dos alunos e pode ser observado pela queda
significativa da taxa de absenteísmo dos alunos durante o semestre. Da mesma forma,
observa-se um aumento de significativo na frequência média dos alunos com a atividade
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CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
APÊNDICE
1. Quantos livros você leu (ou ouviu) durante o último ano (2012)?
1
Doutora em Educação -UNICAMP – Professora Pós Graduação – UNIANCHIETA.
Pedagoga e Pesquisadora. Universidade Paulista.
2
Livros publicados: “Artes na Cozinha”; “No Tapete das Memórias - Brinquedos e Brincadeiras”. Os
livros foram editados pela Fundação Educar com o apoio da Secretaria Municipal de Educação de
Campinas e distribuídos às escolas de educação infantil e ensino fundamental, em 2011.
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Revista Educação, vol.8 – Julho / Dezembro de 2014
INTRODUÇÃO
(...) toda a comunidade escolar e seu entorno estavam sensibilizadas por este
contato “com suas memórias”4 e querendo cada vez mais dar sua contribuição.
Assim, surgiu a ideia de cada classe ficar com um elemento constitutivo da
memória para formar, ao final, um livro com o registro dos momentos
trabalhados com as crianças. Ficou definida, então, a produção de cinco
livros com temas relacionados com a história do bairro e de acordo com os
relatos feitos pela comunidade: arte, culinária, folclore, brincadeiras e
brinquedos do tempo da vovó, história da formação do bairro foram
elencados por estarem intrinsecamente ligados com sua infância. Para a
produção de cada livro, os professores responsáveis por cada agrupamento
realizaram atividades com a participação da comunidade e das crianças, o que
possibilitou trabalhar com elementos como criatividade, imaginação, fantasia
e memória (Souza, 2011, p.15).
4
Este estudo buscou mostrar que o fato de trazer moradores antigos, coletar histórias e documentos,
produzir livros com as crianças, promoveu uma mudança na maneira de olhar o outro, de se relacionar
com seus pares, de compreender o uso da linguagem como constituinte do sujeito, gerando
enriquecimento de saberes tanto para os professores como para as crianças e a comunidade em si
(SOUZA, 2011).
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no século XIX, com a chegada da família Real ao Brasil, em 1808, com o objetivo de
“modernizar” as colônias, tendo um status de sede Real, foram abertas escolas e
faculdades. Junto com essas mudanças veio a Imprensa Real, que era chamada de
imprensa Régia, que começava a ver as necessidades de várias mudanças (LAJOLO,
2007).
Na trajetória da Literatura Infantil brasileira, diversos autores se dedicaram a
escrita de obras voltadas para a educação primária, tais como: Abílio César Borges
(1824-1934); Alexina de Magalhães Pinto (1870-1921); Coelho Neto (1864-1934);
Francisco Vianna (1876-1935), dentre outros.
O interessante é que se analisarmos grande parte desses escritores eram
educadores e alguns se dedicaram à produção de conjuntos inteiros para as crianças.
As mudanças começaram a acontecer realmente ao final dos anos da década de
1970. Após muitos debates em relação à confecção de livros destinados às crianças,
houve um debate a respeito da Literatura Infantil como agente das mentes infantis e
juvenis, contribuindo tanto para o seu desenvolvimento cognitivo, quanto para seu
amadurecimento na transição da infância para a fase adulta.
ensino, porque os concebem não como executores, mas como profissionais reflexivos e
como professores-pesquisadores (PARK, 2000),
Souza (2011) enfatiza que a relação da Literatura Infantil com a Memória pode
ser entendida com uma realidade, uma mostra concreta de que se pode desenvolver um
projeto em que os resultados são significativos, que demonstraram intenso processo de
participação dos docentes.
A autora ainda ressalta que com o projeto, os profissionais da unidade escolar
entraram em contato com outras formas de abordar a produção de livros infantis menos
usuais5 – da edição de livros por editoras de grande porte no mercado – podendo, assim,
experimentar a prática de escrever livros. O que resultou também para a reflexão 6 sobre
a prática profissional em projetos de leitura e para uma discussão acerca da valorização
e respeito pelo outro, pelo conhecimento de sua cultura e pela sua história de vida
(Souza, 2011).
A preocupação com a formação dos professores é relevante, pois temos de
despertar na criança esse desejo de buscar novas experiências, em querer conhecer o
novo, para que elas comecem a construir sua própria história. Mas como um professor
que não sabe reconhecer em si mesmo o prazer de aprender, vai despertar em uma
criança o desejo de conhecer?
Professores e alunos são cada vez mais impedidos de deixar rastros. E como
recuperar a capacidade de deixar rastros? Ou seja, de deixar marcas? Ou, ainda, de
serem autores? Como ler em cada objeto a sua história? As experiências precisam
incentivar nossos alunos, para que eles sintam o desejo de sempre buscarem algo novo
(KRAMER, 1996).
5
Assim, surgiu a ideia de cada agrupamento ficar com um elemento constitutivo da memória para formar,
ao final, um livro com o registro dos momentos trabalhados com as crianças. Ficou definida, então, a
produção de cinco livros com temas relacionados com a história do bairro e de acordo com os relatos
feitos pela comunidade: arte, culinária, folclore, brincadeiras e brinquedos do tempo da vovó, história da
formação do bairro foram elencados por estarem intrinsecamente ligados com sua infância. Para a
produção de cada livro, os professores responsáveis por cada agrupamento realizaram atividades com a
participação da comunidade e das crianças, o que possibilitou trabalhar com elementos como criatividade,
imaginação, fantasia e memória (SOUZA, 2011).
6
A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas mas, sim,
diante de um trabalho de reflexibilidade crítica sobre as práticas e de (re) construção permanente de uma
identidade pessoal (Nóvoa, 1992).
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Esse processo não se restringe apenas em falar mas, sim, saber escutar e
processar aquilo que se ouviu, para que as palavras não se percam e fiquem
fragmentadas.
O professor reflexivo consegue coletar dados e aproveitá-los para que projetos se
aflorem e criem vida, que desenvolvam as habilidades das crianças, sem que caiam em
um processo repetitivo. O trabalho escolar deve partir da experiência cultural das
crianças e, portanto, o professor terá como referências a prática social dos alunos como
detonadora dos conteúdos, e não o contrário, tornando-se gestor de recursos e de saberes
(KLEIMAN, 2005, p.52 apud SOUZA, 2011).
O papel de mediador no processo ensino-aprendizagem envolve dinâmicas nem
sempre exploradas nos cursos de formação dos quais participaram. E, da mesma
maneira que ler e escrever se aprendem lendo e escrevendo, interagir se aprende
interagindo (PARK, 2000).
O interesse para o desenvolvimento desta pesquisa veio acompanhado da
inquietação sobre a formação dos professores. Pretendeu-se ao longo do texto discutir a
importância de uma prática reflexiva e participativa para a criação de projetos
pedagógicos.
Objetivamos investigar como um projeto desenvolvido promoveu a
realização de práticas educativas que envolveram a Memória e sua capacidade de
confirmar o sujeito dentro de um contexto histórico.
A discussão pautou-se nas funções da Literatura Infantil reconhecida
como importante contribuição para o envolvimento da comunidade com as atividades
escolares e para a formação docente. Em outros termos, os objetivos da pesquisa
centraram-se na investigação sobre a importância da recuperação da Memória e da
Literatura Infantil como estratégias para a conquista de uma práxis educativa
participativa.
propostas de medidas simplistas, ou seja, deixando o professor fora das decisões e das
reestruturações curriculares, transformando-os em meros executores utilizando as ideias
geradas por outros (MOREIRA, 1999).
Um projeto que envolve a recuperação de histórias pode ser entendido em
diferentes contextos, como iniciativa individual ou coletiva.
Esse tipo de projeto propicia sobretudo o fazer da história uma atividade mais
democrática, a cargo das próprias comunidades, já que permite produzir história a partir
das próprias palavras daqueles que vivenciaram e participaram de um determinado
período (FREITAS, 2006).
Dessa forma, o trabalho com a Memória permitiu movimentar toda a
comunidade, na medida em que se valorizava a experiência pessoal de seus integrantes.
Instigava também, por assim dizer, a conscientização do grupo para a importância da
participação de cada um na constituição de uma história individual e coletiva. A
compreensão coletiva de que o cidadão pode ser atuante na composição de sua própria
história, proporciona uma revisão dos valores vigentes e possibilita a transformação das
práticas docentes de forma responsável e participativa (SOUZA, 2011).
Segundo Souza (2011), a abrangência, além de pedagógica e interdisciplinar,
está relacionada ao seu importante papel na interpretação do imaginário e na análise das
representações sociais.
Geraldi (1998) defende a atuação do professor como profissional reflexivo,
como professor-pesquisador e não como mero reprodutor do saber.
A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de
técnicas), mas sim por meio de um trabalho de reflexão crítica sobre as práticas e de (re)
construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir na
pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência (NÓVOA, 1992).
A formação de professores não tem valorizado uma articulação entre a formação
e os projetos das escolas, consideradas como organizações dotadas de margens de
autonomia e de decisão de dia para dia mais importante . Estar em formação implica um
investimento pessoal, um trabalho livre e criativo sobre os percursos e os projetos
próprios, com vista à construção de uma identidade, que é também uma identidade
profissional (NÓVOA, 1992).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BETELHEIN, Bruno. A psicanálise dos Contos de Fadas. São Paulo: Paz e Terra, 2008.
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COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: História e Crítica. 7. Ed. São Paulo:
Moderna, 2000.
COELHO, Nelly Novaes. O Conto de Fadas: Símbolos- Mitos- Arquétipos. 4. Ed. São
Paulo: Paulinas, 2012.
GRAEBIM, Cleusa Maria Gomes e PENNA, Rejane Silva. Contar a vida. Pensar a
história. Experiências na utilização das fontes orais no ensino de história. Revista
Laboratório do Ensino de História. Londrina, v 12.p. 83-100, ago.2006.
FOX, Men. Guilherme Augusto Araújo Fernandes. Tradução Gilda de Aquino. São
Paulo: Brinque-Brook, 1995.
FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. 19. Ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1989.
KLEIMAN, Ângela. Preciso “ensinar” o letramento? Não basta ensinar a ler e escrever?
Coleção Linguagem e Letramento em Foco, UNICAMP: Cefiel & MEC: Secretaria de
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Ensino Fundamental, 2005. In: SOUZA, Paula Alves. Literatura, memória e projetos de
letramento na educação Infantil. Pós-graduação lato sensu.– Linguagem, Práticas
Discursivas e Criança. Campinas, Unicamp, 2011.
LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 6. ed. São Paulo: Ática,
2007.
NÓVOA, Antonio. (Org). Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992.