DISSERTAO GERALDO PAULO CARMO Verso Final
DISSERTAO GERALDO PAULO CARMO Verso Final
DISSERTAO GERALDO PAULO CARMO Verso Final
Belo Horizonte
2021
PROTOTIPAGEM PARA ANÁLISE DE VOLÁTEIS EM
HEADSPACE
POR CROMATOGRAFIA GASOSA
ii
AGRADECIMENTOS
iii
“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo,
qualquer um pode começar agora a fazer um novo fim.”
(Chico Xavier)
iv
LISTA DAS ABREVIAÇÕES
HPAs = Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos
POPs = Poluentes Orgânicos Persistentes
INCA = Instituto Nacional do Câncer
USEPA = United States Environmental Protection Agency, Agência de Proteção
Ambiental dos Estados Unidos
HS-IT-FEX = HeadSpace Intra-tube Flux Extraction Device (Dispositivo de Extração de
Fluxo em tubo HS)
PAHs = Polycyclic Aromatic Hydrocarbons, Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos
LPAHs = Low molecular weight Polyciclic Aromatic Hydrocarbons, Hidrocarbonetos
Policíclicos Aromáticos de baixo peso molecular
HPAHs = High molecular weight Polyciclic Aromatic Hydrocarbons, Hidrocarbonetos
Policíclicos Aromáticos de alto peso molecular
CETESB = Companhia de Tecnologia de Saneamento de Saneamento Ambiental
FEAM = Fundação Estadual do Meio Ambiente
BTEX = Benzeno, Tolueno, Etilbenzeno, Xileno
ISO = International Organization for Standardization
IEC = International Electrotechnical Commission
ACP = Acenafteno
ACY = Acenaftileno
ANT = Antraceno
FLT = Fluoranteno
FLR = Fluoreno
NAP = Naftaleno
PHE = Fenantreno
PYR = Pireno
BaA = Benzo(a)antraceno
BbF = Benzo(b)fluoranteno
BjF = Benzo(j)fluoranteno
BkF = Benzo(k)fluoranteno
BgP = Benzo(ghi)perileno
BaP = Benzo(a)pireno
CHR = Criseno
CPP = Ciclopenta(cd)pireno
DhA = Dibenzo(a,h)antraceno
DeP = Dibenzo(a,e)pireno
DhP = Dibenzo(a,h)pireno
DiP = Dibenzo(a,i)pireno
DP = Dibenzo(a,)pireno
IcP = Indeno(1,2,3-cd)pireno
5MC = 5-metilcriseno
SPE = Solid Phase Extraction, Extração em Fase Sólida
SPME = Solid Phase Micro-Exctraction, Micro Extração em Fase Sólida
GC = Gas Chromatography, Cromatografia Gasosa
MS = Mass Spectrometry, Espectrometria de Massas
PDMS = PoliDiMetilSiloxano
PA = PoliAcrilato
DVB = DiVinilBenzeno
CAR/PDMS = Carboxeno/Polidimetilsiloxano
ppm = partes por milhão(mg/kg)
ppb = partes por bilhão (g/kg)
v
ppt = partes por trilhão (ng/kg)
D--SPME = Dispersive micro-solid phase extraction (microextração em fase sólida
dispersiva)
SBSE = Stir Bar sorptive Extraction (extração por sorção com barra de agitação)
S/N = Signal/Noise (relação “sinal/ruído”)
LD = Limite de Detecção
LQ = Limite de Quantificação
ng/L = nanograma por litro
RSD = Relative Standard Deviation (desvio padrão relativo)
ACIT-SPME = Array Capillary In-Tube Solid Phase Microextraction (Microextração em
fase sólida com arranjo capilar em tubo
FID = Flame Ionization Detector (Detector de Ionização de Chama)
SIM = Single Ion Monitoring (Monitoramento de Íon Único)
SRM = Selected Reaction Monitoring (Monitoramento de Reações Múltiplas)
FAB = Fast Atoms Bombardments (Bombardeamento por Átomos Rápidos)
API = Atmospheric Pressure Ionization (Ionização a Pressão Atmosférica)
APCI = Atmospheric Pressure Chemical Ionization (Ionização Química a Pressão
Atmosférica
APPI = Atmospheric Pressure Photo Ionization (Fotoionização a Pressão Atmosférica)
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Representação dos modos de extração por SPME: (a) injeção direta, (b)
headspace....................................................................................................... 3
Figura 2 Classificação de HPAs (alternantes e não alternantes).................................. 5
Figura 3 Estruturas químicas dos 16 HPAs prioritários................................................. 6
Figura 4 Fontes de HPAs.............................................................................................. 7
Figura 5 Estruturas químicas de alguns HPAs.............................................................. 8
Figura 6 Estruturas de HPAs não substituídos Carcinogênicos e não carcinogênicos. 10
Figura 7 Esquema simplificado da ativação enzimática do benzo(a)pireno.................. 13
Figura 8 Estruturas da “região de baía” correspondente a epóxidos de di-hidrodiol..... 14
Figura 9 A rota do metabolismo do epóxido di-hidrodiol na região de baía do
benzo(a)pireno................................................................................................ 14
Figura 10 Fluxograma mostrando os efeitos à saúde a curto e longo prazo da
exposição aos HPAs....................................................................................... 15
Figura 11 Percentual de ocorrência de grupos de substâncias químicas de interesse
nas áreas contaminadas cadastradas pela Feam........................................... 16
Figura 12 Representação esquemática da extração LLE................................................ 17
Figura 13 Cartucho típico empregado em SPE............................................................... 18
Figura 14 Etapas da Extração em Fase Sólida (SPE) .................................................... 19
Figura 15 Dispositivo da fibra de SPME.......................................................................... 21
Figura 16 Partes de uma fibra comercial de SPME......................................................... 21
Figura 17 Mecanismo de adsorção do revestimento da fibra.......................................... 22
Figura 18 Mecanismo de absorção do revestimento da fibra.......................................... 23
Figura 19 Estrutura química dos sorventes mais comumente utilizados em fibras de
SPME.............................................................................................................. 23
Figura 20 Uso do amostrador de SPME para extração/dessorção................................. 24
Figura 21 Adsorção molecular e gráfico ilustrando adsorção do analito em função do
tempo............................................................................................................... 26
Figura 22 A comparação da eficiência de extração de 16 HPAs com cinco fibras
diferentes......................................................................................................... 27
Figura 23 Ilustração para o equilíbrio entre o headspace e a amostra........................... 28
Figura 24 Ilustração para as etapas de extração no modo headspace usando fibras
de SPME (HS-SPME)...................................................................................... 29
Figura 25 Comparação das extrações de HPAs de amostras entre imersão e
headspace....................................................................................................... 31
Figura 26 Configurações da coluna capilar para IT-SPME............................................. 32
Figura 27 Fotografia do cartucho ACIT-SPME................................................................ 33
Figura 28 Esquema de separação dos analitos no interior da coluna cromatográfica.... 42
Figura 29 Componentes do espectrômetro de massas................................................... 43
vii
Figura 30 Esquema de geração de íons e analisador de massas................................... 44
Figura 31 Quadrupolos.................................................................................................... 44
Figura 32 Espectro de massas do naftaleno................................................................... 45
Figura 33 Fragmentação da molécula do naftaleno........................................................ 46
Figura 34 Etapas do processo de impressão 3D............................................................. 47
Figura 35 Esquema representativo do procedimento de deposição do polímero PDMS
no liner............................................................................................................. 49
Figura 36 Fotografia de perfil de um liner de vidro.......................................................... 49
Figura 37 Protótipo HS-IT-FEX........................................................................................ 50
Figura 38 Diagrama esquemático dos componentes do Protótipo HS-FEX.................... 51
Figura 39 GC FID Agilent (modelo 6990N) utilizado para a dessorção térmica do liner. 52
Figura 40 Adição de solução e de NaCl no protótipo...................................................... 55
Figura 41 Ilustração apresentando a corrente de convecção gerada devido ao
aquecimento.................................................................................................... 55
Figura 42 Componentes do cromatógrafo gasoso.......................................................... 56
Figura 43 Desacoplamento do sistema de injeção.......................................................... 57
Figura 44 Liner sendo acondicionado no compartimento do injetor............................... 58
Figura 45 Condições de temperatura do forno do cromatógrafo GC 7890A................... 59
Figura 46 Correlação entre as temperaturas................................................................... 60
Figura 47 Montagem para aferição de temperatura na entrada do liner superior........... 61
Figura 48 Correlação entre as temperaturas do display e do liner superior.................... 61
Figura 49 Cromatogramas correspondentes aos ensaios: (a) Branco da Coluna e
(b) Branco do Liner.......................................................................................... 62
Figura 50 Cromatograma obtido usando solução de HPAs............................................ 63
Figura 51 Estimativa para o tempo de equilíbrio para o naftaleno.................................. 66
Figura 52 Estimativa para o tempo de equilíbrio para o acenaftileno.............................. 66
Figura 53 Estimativa para o tempo de equilíbrio para o acenafteno............................... 67
Figura 54 Estimativa para o tempo de equilíbrio para o fluoreno.................................... 67
Figura 55 Hipótese do vazamento de vapor por meio das conexões do protótipo.......... 68
Figura 56 Variação de temperatura ao longo do liner usado no protótipo....................... 70
Figura 57 Variação de temperatura durante 30 minutos de contato do headspace no
liner.................................................................................................................. 70
viii
LISTA DE TABELAS
ix
RESUMO
x
ABSTRACT
In the various methods of analysis defined, a stage of sample preparation and extraction
analytes is one that requires a lot of care and involves several steps using an expressive
amount of organic solvents. In addition to being relatively time-consuming, they involve a
considerable operational cost and generate a volume of waste to be treated. The development
of new extraction methods that use little or no solvent is one of the most essential needs of
laboratories analysis, botht for reduction of amount of waste, as well as for the reduction of the
reduced time and also in the minimization of costs.
The recent patent number BR1020180731670, obtained by INTECHLAB (Laboratory of
Integrated Technologies of CEFET-MG) presented the development of an innovative technology
for this purpose. The prototype called IT-FEX (IntraTube Flux Extraction Device), uses an
internally polymeric phase coated glass tube (liner) to capture analystes present in liquid
samples allowing the creation of a new prototype called HS-IT-FEX. This new prototype, which
also uses an internally coated glass tube with PDMS polymer (polydimethylsiloxane), was
developed to operate in headspace mode which allows the capture of volatile analytes. After
trapping the analytes, these are thermally desorbed and analyzed by gas chromatography
coupled with mass spectrometer as a detector.
Laboratory tests with the new prototype HS-IT-FEX were carried out with solutions of
PAHs (Polycyclic Aromatic Hydrocarbons), Persistent Organic Pollutants) that require attention
regarding environmental monitoring. The preliminary results of this work demonstrate the
possibility of trapping PAHs (such as naphthalene, acenaphtene, acenaphthylene and fluorene)
from headspace generated from aqueous solutions without using organic and at low costs. Due
to the lack of reproducibility of the chromatographic data in some tests, the need to improve the
prototype was found, especially in the sealing system.
xi
Sumário
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 1
2. OBJETIVOS................................................................................................................... 4
2.1 Objetivo geral................................................................................................................. 4
2.2 Objetivos específicos...................................................................................................... 4
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................................... 5
3.1 Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos – características............................................ 5
3.2 Técnicas de extração..................................................................................................... 17
3.2.1 Extração Líquido Líquido................................................................................................ 17
3.2.2 Extração em Fase Sólida............................................................................................... 18
3.2.3 Microextração em Fase Sólida....................................................................................... 20
3.2.4 Headspace..................................................................................................................... 28
3.2.5 Microextração em Fase Sólida No Tubo........................................................................ 31
3.3 Métodos de Análise........................................................................................................ 36
3.3.1 Métodos da USEPA........................................................................................................ 36
3.3.2 Métodos utilizados pela União Europeia........................................................................ 39
3.4 Utilização da Cromatografia Gasosa.............................................................................. 41
3.5 O Processo de Prototipagem......................................................................................... 46
4 METODOLOGIA............................................................................................................. 49
4.1 Preparo do revestimento do liner................................................................................... 49
4.2 Descrição do protótipo.................................................................................................... 50
4.2.1 Operação do Protótipo................................................................................................... 51
4.3 Condições do Método Cromatográfico GC-MS.............................................................. 58
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES................................................................................... 60
5.1 Ensaios preliminares do protótipo HS-IT-FEX................................................................ 60
5.2 Ensaios do “branco” do liner........................................................................................... 62
5.3 Identificação dos HPAs.................................................................................................. 63
5.4 Estimativa para o tempo de equilíbrio............................................................................ 65
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 72
7 PERSPECTIVAS FUTURAS. ........................................................................................ 74
8 REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 75
xii
1. INTRODUÇÃO
A análise química (em suas modalidades qualitativa e quantitativa) representa uma
importante ferramenta em diversas áreas como pesquisa, desenvolvimento de novos produtos,
controle de qualidade, gestão ambiental, dentre outros. A utilização da química analítica como
importante ferramenta no controle de qualidade dos vários segmentos industriais tem um
elevado impacto econômico no produto interno bruto de um país, sobretudo levando-se em
consideração os mercados de importação e exportação, cada vez mais exigentes e rigorosos.
[1] Conclui-se que a pesquisa de novas metodologias de ensaios, que sejam seguras, rápidas
e, sobretudo que causem o mínimo de impacto ao meio ambiente é extremamente necessária.
[2]
Conciliar a eficiência de uma metodologia analítica com os preceitos da chamada
“química verde” certamente é o novo desafio dos pesquisadores da área da química analítica.
Desde 1999, quando a expressão “Química Verde” foi criada diversas técnicas e metodologias
vem sendo desenvolvidas com a finalidade de reduzir ao máximo o uso de insumos químicos
prejudiciais à saúde humana ou ao meio ambiente, como os solventes orgânicos usados na
fase de extração, diminuindo a quantidade de resíduos gerados nestes processos. Os mesmos
princípios foram aplicados à química analítica e o desenvolvimento de procedimentos
inovadores, que conciliam a eficácia dos métodos analíticos com a necessidade de preservar o
meio ambiente, apresentam-se como uma tendência. [3]
Como uma alternativa aos métodos tradicionais de extração a técnica de microextração
em fase sólida (SPME do inglês Solid Phase Micro Extraction) já havia sido proposta no início
dos anos 1990 pelo Dr. Janus Pawliszyn como um método sem solventes, econômico, simples
e rápido. SPME consiste em fazer a extração utilizando uma fase extratora (contendo um filme
de determinado polímero) afixada sobre um suporte sólido, que é exposta para a amostra para
a extração de compostos, sendo seguida de acoplamento a instrumentos analíticos
apropriados para dessorção e determinação que incluem cromatografia gasosa ou líquida,
acoplada a um espectrômetro de massas como um detector. [4]
Foram desenvolvidas basicamente duas formas principais de se efetuar a amostragem
por SPME: por imersão e por headspace, conforme se pode observar na figura 1. Na
amostragem por imersão, a fibra é imersa na fase aquosa e é a abordagem mais frequente,
quando se menciona a técnica de SPME. Na amostragem por headspace a fibra é exposta
acima do líquido da amostra, e mais adequada para compostos voláteis e amostras sujas. Para
análises de HPAs os dois processos foram investigados sendo observado que o método de
SPME por imersão resultou na detecção de todos os HPAs enquanto o método de headspace
extraía eficientemente apenas os HPAs de baixo peso molecular, mesmo quando aplicadas
temperaturas da ordem de 80oC. [5]
1
(a) (b)
Figura 1 – Representação dos modos de extração por SPME: (a) injeção direta, (b) headspace [4]
Uma variante da técnica de SPME denominada de IT-SPME (In-Tube Solid Phase Micro
Extraction) vem fazendo parte do desenvolvimento da extração verde, combinando
miniaturização, automação e redução do consumo de solvente. [6]
Uma maneira de desenvolver novas tecnologias a serem utilizadas em etapas
essenciais no processo analítico químico, como a amostragem, é através da utilização de
protótipos. A criação de objetos tridimensionais a partir de modelos digitais pode ser realizada
com relativa rapidez e baixo custo por meio do uso de impressoras em 3 D. A prototipagem é
uma importante ferramenta de inovação e desenvolvimento tecnológico, pois permite
modificações no design do produto desejado até que suas características estejam próximas do
ideal e, a partir daí, possa se engendrar as demais fases do projeto, como a patente e a
produção industrial futuramente. [7]
O laboratório de tecnologias integradas (INTECHLAB) do CEFET-MG vem
desenvolvendo importantes contribuições para facilitar o trapeamento de analitos combinando
a tecnologia de microextração em fase sólida com o uso conjugado de protótipos que
favorecem o contato da amostra nesta etapa essencial do processo de análise química.
O trabalho pioneiro de REIS [8] propôs o desenvolvimento de um protótipo tubular de
vidro (liner) revestido com polímero líquido de polidimetilsiloxano para amostragem estática de
compostos orgânicos em soluções aquosas e posterior análise cromatográfica. Os resultados
promissores obtidos com soluções de fenol ensejaram a equipe do INTECHLAB a continuarem
novos trabalhos. SILVEIRA [9] aperfeiçoou o dispositivo denominado IT-FEX (In-Tube Flux
Device Extraction) e demonstrou a viabilidade da utilização do liner de vidro com revestimento
2
de polimetilmetacrilato para promover a extração de 1-dodecanol em soluções aquosas.
Continuando as pesquisas com o novo protótipo desenvolvido, CALDEIRA [10] demonstrou a
viabilidade do uso do dispositivo para análise de compostos BTEX (benzeno, tolueno,
etilbenzeno e xilenos) em amostras de água, utilizando o polidimetilsiloxano como revestimento
do liner de vidro. O sucesso da aplicação desse protótipo ensejou uma nova perspectiva de
pesquisa que seria o estudo da viabilidade do uso de um novo modelo de protótipo para operar
em modo headspace para o trapeamento de compostos voláteis a serem analisados por
cromatografia gasosa.
A presente dissertação de mestrado discorre sobre uma tecnologia em desenvolvimento
no INTECHLAB, como alternativa para extração de HPAs em solução aquosa combinando as
tecnologias de SPME e a amostragem por headspace. Consiste em um protótipo de
amostrador, em que a amostra aquosa é adicionada em um recipiente metálico que por
aquecimento controlado gera uma corrente de convecção do vapor da amostra sendo o mesmo
conduzido a passar por um liner de vidro, que possui internamente um revestimento do
polímero PDMS (polidimetilsiloxano). As moléculas dos analitos de interesse são então
trapeadas no interior do liner e conduzidas para a análise por meio da cromatografia gasosa. A
tecnologia em desenvolvimento apresenta vantagens significativas como baixo custo, robustez
durante o uso e fácil manuseio, indicando uma possível alternativa para a extração de voláteis
de acordo com os preceitos da química verde sem contudo perder a qualidade analítica. Para
os ensaios laboratoriais foram utilizados os HPAs considerados prioritários pela USEPA (United
States Environmental Protection Agency- Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos)
para o monitoramento ambiental. As propriedades carcinogênicas e mutagênicas dessas
substâncias justificam a sua inclusão na maioria dos programas de monitoramento ambiental e
saúde humana em diferentes países do mundo. [11]
3
2. OBJETIVOS
4
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Devidos aos vários sistemas de anéis aromáticos “ímpares”, os HPAs têm uma grande
diversidade de características físicas, químicas e toxicológicas. [14]
As propriedades físicas e químicas dos HPAs são determinadas, de maneira geral, pelo
sistema de duplas conjugadas presentes nas estruturas desta classe de compostos. À
temperatura ambiente todos os HPAs são sólidos e apresentam, normalmente, baixa pressão
de vapor e solubilidade em água. Alguns HPAs são semi-voláteis, porém, muitos deles podem
ser transportados até longas distâncias e serem adsorvidos em material particulado (como a
fuligem, por exemplo, proveniente da combustão incompleta de combustíveis fósseis). HPAs
com dois ou três anéis aromáticos estão quase totalmente na fase de vapor; aqueles com
quatro anéis encontram-se numa posição intermediária. Os HPAs com cinco ou mais anéis
aromáticos são encontrados predominantemente em particulados (cinzas ou fuligens cujas
partículas são menores que 2,5 μm). [15]
A solubilidade dos HPAs em água é geralmente baixa devido à baixa polaridade das
suas moléculas. Porém, seus derivados oxidados tais como ácidos, cetonas, fenóis e outros
5
são mais polares, e consequentemente se tornam mais solúveis em água. É por esse motivo
que essa classe de compostos se torna fonte de contaminação para água e o meio ambiente
em geral. [16]
Atualmente 16 HPAs (acenafteno, acenaftileno, antraceno, benzo(a)antraceno,
benzo(a)pireno, benzo(b)fluoranteno, benzo(ghi)perileno, benzo(k)fluoranteno, criseno,
dibenzo(a,h)antraceno, fluoranteno, fluoreno, indeno [1,2,3-c,d] pireno, fenantreno, pireno e
naftaleno) estão na lista de poluentes prioritários por este órgão. São consideradas substâncias
tóxicas persistentes prioritárias na América do Sul, como descrito no documento Regionally
Based Assessment of Persistent Toxic Substances – Eastern na Western South America
Regional Report, se enquadrando nas substâncias consideradas subprodutos não intencionais.
Por sua potente ação carcinogênica o benzo(a)pireno é frequentemente utilizado como
indicador de contaminação por HPAs totais, em resíduos industriais e em compartimentos
ambientais. [17]
As estruturas químicas dos 16 HPAs prioritários se encontram representadas na figura 3.
CH2
Fontes de HPAs
Naturais Antropogênicas
Os HPAs são basicamente classificados em dois grupos: HPAs de baixo peso molecular
(LPAHs – Low molecular weight Polyciclic Aromatic Hydrocarbons) e HPAs de alto peso
molecular (HPAHs - High molecular weight Polyciclic Aromatic Hydrocarbons). LPAHs (por
exemplo, naftaleno, acenafteno, acenaftileno, fluoreno, antraceno, fenantreno) tendem a ter
uma estrutura central de dois a três anéis benzenóides (anéis aromáticos de carbono de seis
membros), enquanto os HPAHs possuem estruturas moleculares de quatro ou mais anéis
benzenóides (por exemplo, fluoranteno, pireno, benzo(a)pireno e benzofluorantenos). As
estruturas químicas desses HPAs se encontram representadas na figura 5. A hidrofobicidade,
tendência de bioacumulação, resistência à biodegradação, a persistência ambiental geral dos
compostos geralmente aumenta com o aumento do peso molecular. Os HPAs alquilados que
são formados através de processos diagenéticos (processos geológicos que ocorrem e m
depósitos sedimentares devido a mudanças nas condições físico químicas) são mais tóxicos
que os compostos originais. Eles geralmente coexistem com seus compostos parentais nas
matrizes ambientais. [19].
7
LPAHs HPAHs
naftaleno
acenafteno
fluoranteno pireno
acenaftileno
fluoreno
benzo(a)pireno
antraceno
fenantreno
benzo(b)fluoranteno
9
Inativo Carcinogênico
a a
Piceno Criseno Benzo(a)pireno Dibenzo(bdef)criseno
a
Benzo(e)pireno Dibenzo(fgop)naftaceno Benzo(rst)pentafeno Dibenzo(defp)criseno
a
Estes compostos mostram atividade de iniciação tumoral
Uma vez absorvido pelas células, os HPAs são metabolicamente ativados e, desta
maneira, tornam-se reativos a grupos nucleofílicos presentes em macromoléculas celulares. A
formação de adutos de DNA é considerada essencial na carcinogenicidade química desses
xenobiontes (compostos químicos estranhos ao organismos). A biotransformação dos HPAs
abrange uma série de reações de oxidação, redução, hidrólise e de conjugação que são
realizadas principalmente no fígado por enzimas do sistema de monooxigenases de função
mista da super família dos Citocromos P450. [21] Este tipo de transformação tem um suposto
objetivo biológico de fazer com que um determinado metabólito seja mais hidrofílico que o seu
precursor, e com isso facilitar a excreção através dos fluidos biológicos. [21]
10
A Tabela 1 apresenta uma classificação quanto à carcinogenicidade estabelecida pela
IARC (International Agency for Research on Cancer) e da USEPA (United States
Environmental Protection Agency) dos 16 HPAs considerados prioritários, além do valor da
dose de referência e da relação dos efeitos críticos oriundos da ingestão de cada HPA,
segundo o Integrated Risk Information System (IRIS), da USEPA, um dos mais completos
bancos de dados de informações toxicológicas. Muitos HPAs não possuem valores de dose de
referência e de efeitos críticos, devido à ausência de estudos com animais e dados
epidemiológicos. [17]
Tabela 1 Classificação quanto à carcinogenicidade, dose de referência e efeitos críticos aos humanos dos
16 HPAs prioritários pela USEPA. [17]
Dose de
Classificação Classificação
HPA Referência*** Efeitos Críticos***
IARC* EPA**
(mg/kg/dia)
Não -2
Acenafteno 3 6x10 Hepatotoxicidade
classificado
Sem
Acenaftileno D Não avaliado Não avaliado
classificação
-1
Antraceno 3 D 3x10 Sem efeitos observados
Benzo(a)antraceno 2B B2 Não avaliado Sem efeitos observados
Benzo(a)pireno 1 B2 Não avaliado Não avaliado
Benzo(b)fluoranteno 2B B2 Não avaliado Não avaliado
Benzo(ghi)perileno 3 D Não avaliado Não avaliado
Benzo(k)fluoranteno 2B B2 Não avaliado Não avaliado
Criseno 2B B2 Não avaliado Não avaliado
Dibenzo(a,h)antraceno 2A B2 Não avaliado Não avaliado
Fenantreno 3 D Não avaliado Não avaliado
Nefropatia, aumento do peso do
Fluoranteno 3 D 4x10-2
fígado, alterações hematológicas.
Diminuição do volume globular:
Fluoreno 3 D 4x10-2
hematócrito e hemoglobina
Indeno(1,2,3-c,d)pireno 2B B2 Não avaliado Não avaliado
Efeitos nasais: hiperplasia e
-2
Naftaleno 2B C 2x10 metaplasia no epitélio respiratório
e olfativo.
Efeitos renais: patologia tubular
Pireno 3 D 3x10-2
renal.
*IARC, 2010 (International Agency for Research Cancer)
**USEPA – Guideline Cancer Risk, 1986
***USEPA - Integrated Risk Information System (IRIS), 2014
11
Tabela 2 Códigos de classificação. [23]
Classificação [23]
Descrição
IARC USEPA
Grupo 1 Grupo A Carcinogênico humano
Grupo 2A Grupo B Provável carcinogênico humano
Grupo B1 Evidências limitadas para seres humanos
Grupo B2 Evidências inadequadas para seres humanos, evidências suficientes para animais
Grupo 2B Grupo C Possível carcinogênico humano
Grupo 3 Grupo D Não-classificável quanto à carcinogenicidade humana
Grupo 4 Grupo E Provavelmente não carcinogênico para humanos
12
Epóxido
Hidroxilase
P450
HO
OH
Benzo(a)pireno O 7,8 B[a]P-óxido areno
O P450 7,B[a]P-trans-dihidrodiol
Aduto formado
N
N
O O
N N NH
+ DNA +
DNA HO
HO HO
OH OH
HO
OH
7,B[a]P-trans-dihidrodiolepóxidos
Uma vez considerado que um epóxido di-hidrodiol vicinal poderia ser o metabólito do
benzo(a)pireno responsável pela atividade carcinogênica, os pesquisadores Jerina e Daly. [22]
propuseram que a existência de uma “região de baía” era a característica estrutural da
molécula necessária para a atividade de carcinogênese e que os metabólitos ativos para
muitos hidrocarbonetos seriam encontrados epóxidos de di-hidrodiol na “região de baía”, isto é,
epóxidos di-hidrodiol vicinais em que o epóxido é adjacente para uma “região de baía”,
conforme pode ser observado na figura 34. (O termo “região de baía” passou a ser usado para
descrever uma área côncava da periferia dos hidrocarbonetos aromáticos e foi inicialmente
introduzido porque os prótons nesta região, isto é, em 1 e 12 no 7-metilbenz(a)antraceno ou 10
e 11 no benzo(a)pireno exibe propriedades distintas de RMN (Ressonância Magnética
Nuclear). [22]
13
Região de baía
Região de baía
H
2 3
H 1 H 12 1
H 11 2
4
3
11 12
10 10
9 5 9
8 7 6 8 4
7 6 5
CH3
O
OH
O
OH
HO
OH
CH3
Região de baía 12 1
11
2
10
3
9
8 4
7 6 5
O
7,8 epóxido
HO HO
OH OH
7,8-di-hidrodiol 9,10-epóxido 7,8-di-hidrodiol
14
A alta atividade carcinogênica do 7,8-di-hidrodiol (bem como a alta atividade de dióis
análogos de outros hidrocarbonetos) indica fortemente que a rota de ativação do epóxido de di-
hidrodiol está envolvida na carcinogênese dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos. [22]
Os efeitos sobre a saúde provocados pela exposição (a curto e longo prazo) aos
hidrocarbonetos policíclicos aromáticos se encontram representados sob a forma de um
fluxograma, ilustrado na figura 10.
Figura 10 Fluxograma mostrando os efeitos à saúde a curto e longo prazo da exposição aos HPAs. [12]
A exposição a poluentes contendo HPAs são conhecidas por resultar em sintomas como
irritações nos olhos, náuseas, vômitos e diarreia além de causar irritação e inflamação na pele.
A exposição a longo prazo é suspeita de aumentar os riscos de danos celulares via mutação
genética. [12]
No Brasil, a Portaria de Consolidação No 5, de 28/09/2017 (do Ministério da Saúde)
preconiza somente o benzo(a)pireno como umas das substâncias de análise semestral
obrigatória por responsáveis pelo sistema de abastecimento publico e de soluções alternativas
coletivas de água em todo o Brasil. Embora ainda não haja no Brasil um mapeamento real das
áreas contaminadas, diversos órgãos estaduais de controle ambiental (como a CETESB –
Companhia Ambiental do Estado de São Paulo - em São Paulo, a FEAM – Fundação Estadual
do Meio Ambiente - em Minas Gerais, dentre outros) tem procurado fazer o gerenciamento das
áreas contaminadas. [17]
No estado de São Paulo a CETESB, responsável pelo gerenciamento ambiental de
áreas contaminadas, publicou em 2014 a relação de áreas contaminadas do Estado (ano base
2013), totalizando 4.771 áreas. Destas, em 1.902 áreas havia a presença de HPAs, o que
15
evidencia a necessidade de ações do setor saúde visando garantir a prevenção do risco à
população. [17]
A FEAM começou a fazer sistematicamente um inventário de áreas contaminadas para
melhor controle ambiental, não só dessa classe de compostos, como outros. O inventário de
áreas contaminadas do estado de Minas Gerais, publicado em dezembro de 2019, informa que
os principais grupos de contaminantes encontrados nas áreas contaminadas são os dos
compostos orgânicos, destacando-se os hidrocarbonetos aromáticos (BTEX – benzeno,
tolueno, etilbenzeno e xileno) e os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA). Estes
compostos são encontrados principalmente em combustíveis e derivado de petróleo, incluídos
solventes, óleos e graxas. [25]
Como se pode observar pela figura 11, a ocorrência dos hidrocarbonetos é a que
apresenta o maior percentual e, portanto, requerem maior atenção. Os empreendimentos que
registram maior número de áreas cadastradas segundo o relatório, são os postos de gasolina
(73%), incluindo o comércio varejista de combustíveis e revendedores de gasolina, álcool e
diesel.
ÁLCOOIS 0,3%
ORGANOCLORADOS 1,3%
HIDROCARBONETOS 68,7%
Além dos corpos d’água a contaminação por HPAs ocorre de maneiras muito diversas
como na própria atmosfera (devido à combustão incompleta dos combustíveis), no solo e em
diversos alimentos (dissolvidos nas camadas lipídicas) bem como alguns tipos de bebidas
(como uísque e cachaça). Dessa forma a importância de se ter processos analíticos seguros,
eficientes e rápidos é fundamental para assegurar um monitoramento confiável. [26]
Existem diversos métodos para fazer- se a análise dos HPAs, entretanto é importante
ressaltar que todos eles envolvem uma etapa crítica que é a preparação da amostra.
Dependendo da complexidade da matriz envolvida uma ou mais operações são necessárias
para se extrair os HPAs das amostras de maneira a se garantir uma confiabilidade analítica
mínima. A norma internacional ISO/IEC 17.025:2017 estabelece os requisitos gerais para
16
competência de laboratórios de ensaio e calibração e é a principal norma ISO usada por
laboratórios de teste e calibração e, portanto, os laboratórios que são acreditados pela norma e
seguem suas recomendações são considerados tecnicamente competentes . [27]
A extração líquido-líquido (do inglês, liquid-liquid extraction, LLE) é uma das técnicas
mais antigas e baseia-se na partição seletiva de um soluto entre duas fases líquidas. Embora o
método possa ser usado na extração e pré-concentração de muitas espécies solubilizadas em
água que têm volatilidade relativamente alta, com equipamentos de rotina de laboratório, ele
está em declínio porque utiliza-se grandes volumes de solventes, é um método demorado e o
descarte dos resíduos gerados após o uso é problemático. [29]
Basicamente, a extração líquido-líquido consiste em adicionar em um funil de
decantação um solvente orgânico adequado à uma solução aquosa (geralmente), que contém
o(s) analito(s) que se deseja(m) extrair, conforme ilustrado na figura 12. Agita-se o sistema
vigorosamente e depois deixa-se o sistema em repouso para que ocorra a separação das
fases. [30]
17
Quando a fase contendo o soluto “S” é mantida em contato com uma segunda fase, o
soluto particiona entre as duas fases, conforme representado na equação genérica abaixo:
S fase 1 S fase 2
A extração em fase sólida (SPE – Solid Phase Extraction) tornou-se uma boa opção
para substituição da clássica extração líquido-líquido, devido à utilização de um volume
reduzido da solução da amostra e solventes. [33]
Na técnica de SPE, os analitos a serem extraídos são divididos entre uma fase sólida
(sorvente de leito) e uma fase líquido-líquido (amostra). Isso usualmente é feito em um
cartucho de polipropileno contendo uma fase de sorção, conforme se pode observar na figura
13. [34]
Esses analitos devem ter uma maior afinidade para a fase sólida do que para a amostra.
18
Geralmente a SPE consiste em quatro etapas:
preparação da coluna;
carregamento da amostra;
pós-lavagem;
dessorção da amostra
Essas etapas se encontram representadas na figura 14.
x
x x
x x
x x
x
x
Cartucho Condicionamento Extração Lavagem Eluição
Legenda: analito
Figura 14 Etapas da Extração em Fase Sólida (SPE) [34] x impureza
20
Figura 15 Dispositivo da fibra de SPME: (A) Posição com a fibra retraída na agulha (tubo hipodérmico de
diâmetro externo 0,56 mm), (B) posição com a fibra exposta. [37]
21
A tabela 3 apresenta alguns tipos de fibras de SPME disponíveis.
a
Tipo Composição Química Lf / m T (oC) b Aplicação sugerida
Não-polares Polidimetilsiloxano 7; 30; 100 200 - 270
Compostos apolares
(PDMS)
Medianamente a altamente
polares, como fenóis, pesticidas
Polares Poliacrilato (PA) 85 220 - 320 organofosforados. Cetonas,
alcoóis. Voláteis de média e alta
polaridade
Bi-polares Carbowax/divinilbenzeno 65 200 – 260
(CW/DVB) Voláteis e não voláteis de baixa a
PDMS-DVB 65 200 – 270 alta polaridade.
Carboxen-PDMS 75 --------
a
Fibras mais usadas na técnica de cromatografia gasosa
b
Faixa de temperatura recomendada para dessorção
Lf : espessura do recobrimento
Molécula do analito
Fibra de sílica
22
Durante o processo de absorção, os analitos particionam, preferencialmente em
equilíbrio no material poroso da fase polimérica líquida, conforme apresentado na figura 18.
Nesse tipo de revestimento, os analitos percorrem a fase estacionária para a qual são atraídos
com base na sua polaridade. A retenção depende principalmente da espessura da fase
estacionária. Moléculas maiores de analito são retidas por mais tempo pelo revestimento,
enquanto percorrem menos rapidamente do que moléculas menores. O revestimento com fase
mais espessa causa uma retenção mais longa de moléculas, portanto, a escolha da espessura
depende do tamanho das moléculas analisadas. [29] Existem disponíveis, comercialmente, três
tipos de fases estacionárias do tipo absorvente: PDMS não polar, PA moderadamente polar e
PEG polar.
Moléculas do analito
revestimento
Fibra de sílica
CH CH2
Si O Si O C
O
O
CH3 CH3 C4H9
n n
polidimetilsiloxano poliacrilato CH2 CH2
n
DVB (divinilbenzeno)
Figura 19 Estrutura química dos sorventes mais comumente utilizados em fibras de SPME
23
A extração ocorre mergulhando-se a seção recoberta na amostra ou no seu headspace.
Durante a extração as moléculas do analito se deslocam da matriz de origem e penetram no
recobrimento e, portanto, tem de vencer a resistência a transferência de massa até que o
equilíbrio de partição (ou de adsorção, no caso de recobrimento sólido) seja alcançado entre o
analito e a fibra e o meio que a envolve. [40]
Uma vez realizada a extração, a fibra é retirada da amostra e inserida no injetor do
cromatógrafo gasoso, onde os analitos são termicamente dessorvidos sob fluxo do gás de
arraste e carregados para a coluna cromatográfica. As etapas do uso do amostrador de SPME
encontram-se ilustradas na figura 20.
24
Kfm = KfhKhm (3)
KfmVfCo Vm
nof = (4)
KfmVf + KhmVh + Vm
L2f
te ≈ t95 = (5)
2 Df
De acordo com esta equação, o tempo necessário para atingir o equilíbrio seria infinito,
mas devido às incertezas experimentais inerentes às extrações por SPME, considera-se, como
mostrado na equação (5), um tempo de equilíbrio prático, t 95, que correspondente à extração
de 95% da massa que seria extraída após um tempo infinito de extração. [40]
Evidentemente, a correlação entre o modelo matemático expresso pela equação (5) e a
situação experimental sempre deve ser feita de forma cautelosa, considerando-se fatores não
descritos pelo modelo. [40]
A figura 21 ilustra o processo de adsorção molecular na fibra de SPME e o gráfico ao
lado representa o comportamento da quantidade de analito adsorvido em função do tempo de
extração.
25
pré-equilíbrio
Analito adsorvido
Tempo de extração
Adsorção molecular para a fase sólida
da fibra dos analitos na fase de
“headspace” (fase gasosa)
Figura 21 Adsorção molecular e gráfico ilustrando adsorção do analito em função do tempo [42]
Figura 22 A comparação da eficiência de extração de 16 HPAs com cinco fibras diferentes, Solução
aquosa (10 ng/mL) foi extraída em um tempo de extração de 90 minutos à temperatura ambiente sob agitação
magnética. [44]
A técnica SPME também pode ser usada para extrações do headspace, mas nessa
situação deve-se levar em consideração que a transferência de massa em um sistema trifásico
fibra-headspace-matriz depende dos equilíbrios de partição entre as três fases, das dimensões
das fases e dos coeficientes de difusão do soluto nelas. A correlação entre estes fatores e o
tempo para atingir o equilíbrio, válida para extrações sem agitação pode ser feita por meio do
modelo matemático descrito pela equação (6):
Lh Lm
te ≈ t95 = 1,8 + KfmLf (6)
KhmDh 1,6 Dm
onde te : tempo para atingir o equilíbrio; Lh : espessura do headspace; Lm: espessura da matriz;
Lf : espessura da fibra; Khm: constante de distribuição headspace-matriz; Kfm: constante
de distribuição fibra-matriz; Dh : coeficiente de difusão d o soluto no headspace;
Dm : coeficiente de difusão do soluto na matriz.
27
Segundo Zhang e Pawliszyn [45] na análise no modo de headspace, o espaço deve ser
o menor possível, pois esse procedimento aumenta a concentração dos compostos analisados
no headspace e diminui o tempo para atingir o equilíbrio. [45]
3.2.4 Headspace
O termo headspace representa o volume de material gasoso que existe acima de uma
amostra contida em um recipiente, como um vial por exemplo. [46]
A ideia de se analisar amostras de vapor (acima de um líquido ou um sólido), para se
avaliar o seu conteúdo, tem sua origem muito antes do desenvolvimento da própria
cromatografia gasosa. Pode-se utilizar como uma citação importante o trabalho dos
pesquisadores Harger, Bridwell e Raney em 1939, que propusera a determinação do teor
alcoólico de soluções aquosas, a partir da análise do vapor das mesmas. [47] Para
determinarem a concentração do álcool na fase de vapor, os pesquisadores submeteram um
determinado volume conhecido do vapor a passar através de uma solução aquosa de ácido
sulfúrico 1:1 e posteriormente determinaram a concentração por meio de reação de
oxirredução usando solução de dicromato de potássio. A concentração do etanol na fase de
vapor foi então determinada multiplicando-se a concentração do etanol no líquido pela razão de
partição ar/líquido a temperatura usada no experimento. [48]
A figura 23 ilustra o headspace em um frasco.
1) 2) 3) 4)
Figura 24 Ilustração para as etapas de extração no modo headspace usando fibras de SPME (HS-SPME)
29
Durante uma amostragem no headspace com fibra de SPME, analitos na fase gasosa
são extraídos no filme do polímero. O equilíbrio original do analito entre a fase condensada e
fase gás no headspace é interrompido antes da extração SPME. Uma vez que a concentração
do analito no headspace é reduzida devido a absorção SPME, o analito na fase condensada irá
evaporar para o headspace. Na interface condensado - gás, a força motriz da evaporação do
analito líquido da fase condensada é o seu desvio da concentração em relação ao valor de
equilíbrio.
Segundo Coelho et al. [50] para análise de HPAs em matrizes aquosas, podem ser
empregados as técnicas de extração de SPME com imersão direta e em headspace. Verificou-
se que o SPME headspace extraiu eficientemente apenas os hidrocarbonetos de baixo peso
molecular (mesmo quando altas temperaturas foram aplicadas, ou seja, 80 oC) enquanto a
imersão da fibra de SPME resultou na detecção de todos os HPAs. [53]
Na análise SPME dos HPAs, o tempo de extração é um fator crucial porque esses
compostos têm muitos tempos de equilíbrio. O tempo de equilíbrio aumenta com a massa
molecular dos HPAs. Doong et al., relataram tempos de equilíbrio superiores a 60 h para HPAs
superiores a 6 anéis. [43]
Após a extração utilizando fibra SPME 30 m de PDMS (tanto por imersão direta quanto
por headspace) o método analítico utilizado foi cromatografia em fase gasosa com detecção
por ionização de chamas (GC-FID) para investigar 16 HPAs em amostras de água. Os
resultados se encontram representados na figura 25.
30
Imersão
Resposta / (105 área)
Figura 25 Comparação das extrações de HPAs de amostras entre imersão e headspace SPME a 60 oC
durante 30 min com fibra de PDMS 30 m a 1500 rpm
Conforme se pode observar no gráfico apresentado na figura 18, à medida que os HPAs
vão apresentando maior massa molecular (e consequentemente irão apresentar menor
volatilidade) a resposta dos sinais obtidos para as amostras coletadas por headspace tendem a
ficar cada vez menores quando comparados com os sinais das amostras obtidas por imersão
da fibra. Conclui-se, portanto, que a eficiência da técnica de headspace-SPME é melhor para
analitos de maior volatilidade.
Yan et al. [56] descrevem uma técnica de preparação rápida de extração de HPAs de
amostras de água. A técnica consiste na microextração em fase sólida capilar em tubo capilar
(ACIT-SPME do inglês Array Capillary In-Tube Solid Phase Microextraction), sendo o cartucho
constituído de tubos capilares de vidro de 0,5 mm de D.I. x 30 mm contidos no interior de um
liner de quartzo de 4 mm de D.I. conforme pode ser observado na figura 28.
32
Liner de quartzo
(A) Gargalo
Arranjo de capilares
Anel-O
Figura 27 Fotografia do cartucho ACIT-SPME (A), diagrama esquemáticos de sua seção transversal (B) e
o procedimento de fabricação (C). [56]
Tabela 4 Comparação do método ACIT-SPME/GC-FID proposto com outros métodos usados em pré-
concentração e determinação de HPAs. [53]
a b
ACIT-SPME/GC-FID SPME/GC-MS (SIM) SPSE/GC-MS (SIM)
Analitos
LD (ng/L) Amostragem LD (ng/L) Amostragem LD (ng/L) Amostragem
Naftaleno 0,85 0,49 0,24
Acenafteno 1,23 0,37 0,13
Fenantreno 1,36 350 mL 0,16 18 mL 0,17 200 mL
Antraceno 1,73 2min 0,18 60min 0,32 60min
Fluoranteno 1,55 0,17 0,86
Pireno 1,55 0,16 0,71
a
Foi usada fibra de PDMS/DVB de 65 m. O LD foi calculado como Xb + 3Sb, onde Xb é o valor médio e Sb é o desvio
padrão de background em baixa concentração de padrão
b
A barra de agitação utilizada tinha 2 cm de comprimento e espessura de polímero de 0,5 mm. Os LD foram
determinados com base em S/N de 3.
LD: limite de detecção
GC-MS: cromatografia gasosa com detecção por espectrometria de massas (do inglês Gas Chromatography -
Mass Spectrometry)
33
Conforme se observa na tabela 4 o método ACIT-SPME levou apenas 2 minutos em vez
de dezenas de minutos pelo método SPME ou mesmo horas pelo SBSE (do inglês Stir Bar
sorptive Extraction, extração por sorção com barra de agitação). Além disso, os limites de
detecção estão em níveis de ng/L, que foi apenas um pouco superior aos resultados obtidos
pelos métodos por SPME/GC-MS e SBSE/GC-MS.
Independentemente se as amostras a serem analisadas sejam de água do mar, rios,
lagos, superfícies, resíduos industriais, solos ou mesmo água potável, diferentes técnicas de
extração foram e vem sendo desenvolvidas para extrair os HPAs. Em termos de eficiência de
extração, uma vez otimizadas as condições corretamente de acordo com cada matriz, todas as
diferentes técnicas são comparáveis. [57]
Diferentes técnicas de extração foram desenvolvidas e aplicadas para extrair HPAs de
amostras de água. Para ilustrar melhor as condições de extração, o tempo e o tratamento
adicional necessários, foram feitas comparações para algumas das aplicações conforme se
pode obervar na tabela 5.
34
Tabela 5 Comparação de eficiência de técnicas para a extração de HPAs.
Tratamento Taxa de
Técnica Solvente Pré-condicionamento Condição após recuperação Ref.
extração para HPA (%)
5 mL metanol sob
SPE Metanol, 1000 mL de água, Centrífuga,
vácuo seguido de 5 mL 36,28 – 132,57 [58]
coluna C18 ciclohexano fluxo de 20 mL/min concentração
de água ultra pura
1000 mL de água
com 10% metanol,
Metanol, 5 mL de metanol,
SPE eluição em 3 mL
acetona:THF depois 5 mL metanol- Concentração 81 - 135 [59]
coluna C18 acetona: THF
(1:1) água (40:60)
(1:1), fluxo 0,5
mL/mim
10 mL de
SPE 1000 mL de água,
diclorometano,
C18 fluxo 2 – 3 mL/min,
CH2Cl2, ACN isopropanol, etanol, Concentração 28,28 – 104,38 [60]
Microcolunas eluido em 10 mL
metanol, água destilada
(6 mL, 1000 mg) ACN e CH2Cl2
e água deionizada
800 mL de água e
n-hexano e
100 mL de
LLE diclorometano Concentração 96,80 [61]
Todas as vidrarias solvente, agitar
(1:1 v/v)
lavadas com detergente por 2 min.
e água quente e depois 0,5 – 1 L de água
enxaguadas com água extraída duas
LLE isopropanol destilada vezes com 150 e Concentração 80 - 120 [62]
100 mL de
solvente
10 mL de água
O cartucho, loop, injetor
SPE introduzida para o Concentração
isopropanol e linhas de amostra 97 [63]
automatizado loop de amostra automática
limpas e equilibradas
MPS 3XL
5 mL água em 5
CaCO3 nanoporoso
mL de solvente
D--SPE diclorometano condicionado com Centrífuga 84 - 110 [64]
extraído por
diclorometano por 5 min
30 min
Fibra inserida em
Fibra condicionada na 14 mL de água a
Isento de
SPME temperatura da porta de temperatura Nenhum 75,6 - 107 [65]
solventes
injeção por 2 h ambiente por
60 min
A barra de
A barra de agitação foi agitação foi imersa
condicionada a 50 oC em uma amostra Dessorção
por 24 h, colocada em de 20 mL de água em misturas
um tubo de ensaio extraída com de
Isento de
SBSE contendo 10 mL de barras de equivolumes 93 - 101 [66]
solventes
MeOH/CH2Cl2 (50:50 agitação, à de
v/v), submetida ao temperatura acetonitrila-
ultrassom por 30 min e ambiente em um metanol
seca a 50 oC por 1 h agitador
magnético.
35
3.3 Métodos de Análise
36
Tabela 6. Condições e limites de detecção do método por HPLC
O método por GC do método 610 EPA utiliza coluna Chromosorb W-AW-DCMS (malha
100/120 ou equivalente) revestido com 3% OV-17 embalado em uma coluna de vidro de 1,8 m
de comprimento x 2 mm de DI. O gás de arraste é o nitrogênio em vazão de 40 mL/min. A
temperatura da coluna foi mantida a 100 oC por quatro minutos e depois programada a 8 oC/min
até temperatura final de 280oC. O detector utilizado foi o de ionização de chamas (FID) que se
provou ser eficaz na análise de águas residuais. A sequencia dos HPAs identificados por este
método encontra- se apresentado na tabela 7.
tempo de
HPA
retenção (min)
Naftaleno 4,5
Acenaftileno 10,4
Acenafteno 10,8
Fluoreno 12,6
Fenantreno 15,9
Antraceno 15,9
Fluoranteno 19,8
Pireno 20,6
Benzo(a)antraceno 24,7
Criseno 24,7
Benzo(b)fluoranteno 28,0
Benzo(k)fluoranteno 28,0
Benzo(a)pireno 29,4
Dibenzo (a,h) antraceno 36,2
Indeno(1,2,3-cd)pireno 36,2
Benzo(ghi)perileno 38,6
37
O método número 625 (“Method 625: Base/Neutrals and Acids”) é um método de
cromatografia gasosa / espectrometria de massas que abrange a determinação de vários
compostos orgânicos particionados em um solvente orgânico. [68]
As condições do método são: coluna Supelcoport (malha 100/120) revestida com 3% de
SP-2250 embalado em uma coluna de vidro de 1,8 m de comprimento x 2 mm de diâmetro
interno com gás de arraste hélio em vazão de 30 mL/min. A temperatura da coluna foi mantida
isotérmica a 50oC por quatro minutos e depois programada uma rampa de aquecimento de
8oC/min até 270oC e mantida por 30 minutos. [68]
Os parâmetros instrumentais para o espectrômetro de massas são:
Energia eletrônica: 70 V (nominal)
Faixa de massas: 35 – 450 uma
Tempo de digitalização: para realizar pelo menos cinco exames por pico, mas não
exceder sete segundos por varredura
De acordo com o método 625 após a obtenção dos perfis atuais de íons extraídos para a
relação m/z, os seguintes critérios devem ser atendidos para fazer a identificação qualitativa:
O tempo de retenção deve cair dentro de ± 30 segundos após o tempo de retenção
do composto autêntico.
As alturas dos picos relativas das três massas características nos EICPs (“extracted
current ion profile” – perfil atual de íons extraídos) devem estar dentro de ± 20 % das
intensidades relativas dessas massas em um espectro de massas de referência. O
espectro de massas de referência pode ser obtido a partir de um padrão analisado no
sistema GC/MS ou de uma biblioteca de referência.
38
Isômeros estruturais que têm espectros de massa muito semelhantes e menos de 30
segundos de diferença no tempo de retenção, podem ser identificados explicitamente
apenas se a resolução entre isômero autênticos em uma mistura padrão for aceitável.
A resolução é alcançada se a altura da linha de base até o vale entre os isômeros for
inferior a 25% da soma das duas alturas de pico. Caso contrário, os isômeros
estruturais são identificados como pares isoméricos.
Além dos métodos elaborados pela USEPA dos EUA, procedimentos padrão foram
publicados pela ISO para análise de HPAs. A norma ISO 13877:1998 descreve um método
para a determinação de HPAs no solo por HPLC, enquanto a norma ISO 18287:2006
especifica um método para a determinação de HPAs no solo por GC-MS. Os métodos
cromatográficos não diferem muito daqueles aplicados para a análise de solo ou ar. No
entanto, o enriquecimento do analito é um pré-requisito para a análise de HPAs na água.
Várias técnicas foram desenvolvidas para esse fim, como extração líquido-líquido (LLE),
extração em fase sólida (SPE), microextração em fase sólida (SPME) ou extração barra de
agitação (SBSE). Sistemas de extração por membrana para o isolamento de contaminantes
não polares de amostras também foram investigados. [69]
Um método analítico sensível foi desenvolvido para a determinação de hidrocarbonetos
aromáticos policíclicos na água, incluindo poluentes prioritários de acordo com a União
Europeia, por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas de triplo quadrupolo
em tandem (GC-QqQ-MS/MS). O tratamento da amostra foi baseado em uma extração, em
fase sólida, validado em quatro tipos diferentes de água: água do mar, água potável, águas
interiores não tratadas e águas residuais de acordo com CD 2002/657/EC e diretrizes
SANTE/11813/2017. O método validado foi acreditado com sucesso de acordo com a norma
internacional ISO/IEC 17025:2017 (incluindo cálculo da incerteza) e aplicado à análise de rotina
de amostras reais de água. [70]
A análise GC-MS/MS foi realizada usando um cromatógrafo a gás Varian 3800 (Varian
Instruments, Sunnyvale, CA, EUA) equipados com controle eletrônico de fluxo. As injeções
foram realizado com um auto-amostrador CombiPal (CTC Analytics AG, Zwingen, Suíça) com
uma seringa de 100 μL eum injetor de temperatura programado / sem divisão SPI / 1079
split/splitless operando no modo de injeção de grande volume e temperatura de vaporização
programada. Um revestimento ultra-inerte poroso(3,4 mm, 5 pk, Agilent, EUA) e uma coluna
capilar Agilent Select PAH (filme de 30 m x 0,25 mm i.d. x 0,15 μm espessura) foi utilizada. O
gás de arraste era hélio (99,9999% de pureza) a uma taxa de fluxo constante de 2 mL/min. O
39
GC foi conectado a um espectrômetro de massa Varian 320 triplo quadrupolo (QqQ) operando
no modo de ionização eletrônica (EI) a 70 eVe com uma corrente de emissão programada de
50 μA. Argônio (99,999% de pureza) foi empregado como gás de colisão. [70]
O espectrômetro de massa QqQ (triplo quadrupolo) foi operado após selecionado o
modo de monitoramento de reações múltiplas (SRM, do inglês Selected Reaction Monitoring).
As temperaturas da linha de transferência do coletor e da fonte de ionização foram fixadas em
300, 40 e 280oC, respectivamente. Os valores ideais para o tempo de varredura variou de 0,3 a
0,6 s. As larguras de pico definidos no primeiro e terceiro quadrupolos foram m/z 2,0 e 1,5,
respectivamente, e a análise foi realizada com um atraso (delay) de 9,5 min no multiplicador de
filamentos. [70]
As condições otimizadas de espectrometria de massas estão listadas na Tabela 9 para
todos os HPAs.
Tabela 9. Resumo dos principais parâmetros de validação do método otimizado para água potável e
águas residuais
Recuperação (%)
(RSD intra-dia,%) (RSD inter-dia,%) Incerteza (%)
Faixa de nível de fortificação nível de fortificação nível de fortificação LD LQ
linearidade (ng/L) (ng/L) (ng/L) (ng/L) (ng/L)
HPAs Tr (min) (ng/L) R2 5,6 25.0 5,6 25.0 5,6 25.0
Água potável
ANT 11,42–11,54 5 - 100 0,9995 89 82 14 7 24 10 3 5
FA 17,33 –17,55 5 - 100 0,9998 98 92 9 5 23 10 3 5
BcL 21,56 – 21,82 5 - 100 0,9999 94 93 7 6 21 10 3 5
BaA 29,12 – 29,29 5 - 100 0,9994 94 92 14 10 22 12 3 5
MCH 31,42 – 31,47 5 - 100 0,9990 99 93 10 5 16 9 3 5
BbFA 34,07 – 34,12 5 - 100 0,9991 98 93 11 6 19 10 3 5
BjFA 34,29 – 34,33 5 - 100 0,9987 99 93 12 7 22 11 3 5
BkFA 34,20 – 34,25 5 - 100 0,9988 96 94 11 5 20 9 3 5
BaP 36,32 – 36,36 5 - 100 0,9977 94 79 11 7 21 11 3 5
IP 43,22 – 43,29 5 - 100 0,9975 102 94 10 9 32 13 3 5
DBahA 43,26 – 43,34 5 - 100 0,9976 98 90 11 9 25 13 3 5
BghiP 44,26 – 44,33 5 - 100 0,9980 98 87 10 7 30 12 3 5
Águas residuais
ANT 11,10 – 11,28 5 - 100 0,9995 92 84 11 9 35 18 3 5
FA 16,82 – 17,09 5 - 100 0,9998 119 103 13 6 25 16 3 5
BcL 20,96 – 21,27 5 - 100 0,9999 86 99 16 12 27 19 3 5
BaA 28,31 – 28,64 5 - 100 0,9994 110 118 15 12 21 20 3 5
MCH 31,09 – 31,22 5 - 100 0,9990 103 102 12 11 25 19 3 5
BbFA 33,69 – 33,80 5 - 100 0,9991 110 120 11 10 20 19 3 5
BjFA 33,88 – 33,98 5 - 100 0,9987 104 120 11 8 20 17 3 5
BkFA 33,80 – 33,92 5 - 100 0,9988 113 120 14 13 31 21 3 5
BaP 35,84 – 35,94 5 - 100 0,9977 89 105 16 15 34 21 3 5
IP 42,95 – 43,04 5 - 100 0,9975 87 103 15 13 23 21 3 5
DBahA 42,91 – 42,99 5 - 100 0,9976 85 91 12 11 25 19 3 5
BghiP 44,00 – 44,07 5 - 100 0,9980 84 94 15 13 21 19 3 5
40
3.4 Utilização da cromatografia gasosa
Para a condução dos experimentos referentes a esta dissertação foi utilizada a técnica
de cromatografia gasosa usando o espectrômetro de massas como detector. A cromatografia
gasosa é uma técnica analítica bastante versátil que permite separações, identificações e
também medidas quantitativas de componentes de uma mistura praticamente impossíveis de
serem efetuadas pelos meios convencionais. [67] A seguir será apresentado um breve resumo
sobre a técnica.
A amostra pode ser injetada no cromatógrafo a gás de maneira manual ou
automatizada, por meio do controle do software do equipamento. Uma vez no interior do
equipamento, embora a vazão do gás de arraste seja constante as diferentes moléculas dos
analitos investigados (hidrocarbonetos policíclicos aromáticos no caso da presente dissertação)
se deslocam com diferentes velocidades no interior da coluna capilar. Tal fato se deve a uma
combinação de vários fatores dentre eles as diferentes massas moleculares e polarizabilidades
(do ponto de vista molecular) e a programação de temperatura do forno. A consequência dessa
combinação de fatores é que as moléculas tendem a chegar em diferentes tempos no detector
(estes tempos são denominados de “tempos de retenção”) e normalmente esses tempos são o
parâmetro que permite fazer a identificação qualitativa dos analitos quando as condições
cromatográficas são mantidas constantes. [46] Entretanto existem situações em que podem
ocorrer co-eluições, ou seja, dois ou mais analitos podem sair no mesmo tempo de retenção.
Dessa maneira o tempo de retenção não deve ser considerado de forma absoluta em termos
de uma análise qualitativa (poderia ser usado como um primeiro indicador); havendo
disponibilidade do detector de espectrometria de massas, os padrões de fragmentação seriam
a maneira mais segura de se identificar um determinado composto.
Este processo pode ser compreendido de forma resumida como apresentado na
ilustração esquemática da figura 28.
41
as moléculas chegam
as moléculas diferentes em diferentes tempos
tendem a se deslocar no detector eletrônico
com diferentes
velocidades
42
computado o fragmento que tiver uma determinada razão massa/carga previamente
selecionada, ou seja, mesmo que diferentes fragmentos tenham se formado o software do
equipamento irá fazer uma “seleção” de apenas um íon fragmento para ser registrado.
Introdução
da amostra
43
Medida da abundância relativa de íons fragmentos de cada m/z. Este processo
ocorre no sistema de dados.
Quando o espectrômetro de massas está acoplado a um cromatógrafo gasoso, o
processo de geração de íons gasosos pode ser feito por dois mecanismos como impacto de
elétrons (EI) e ionização química (CI, do inglês chemical ionization). [72] O equipamento
utilizado no laboratório de cromatografia do CEFET-MG, o espectrômetro Agilent modelo 7995
C, opera no modo de ionização por impacto eletrônico cujo esquema de funcionamento se
encontra simplificadamente representado na figura 30.
geração de íons
(Adaptação de http://www.espectrometriademassas.com.br/img/assuntos/imagens/17/56.gif)
44
As condições de fragmentação (energia do quadrupolo, temperatura, etc.) são
padronizadas e cada substância química apresenta normalmente um padrão conhecido de
fragmentação e a identificação das relações massa/carga (m/z) pode ser usadas para a
identificação qualitativa da substância. Existem algumas bibliotecas como a do NIST (National
Institute of Standards and Technology) que já ficam disponibilizadas no próprio software dos
espectrômetros de massa.
Como exemplificação o espectro de massas típico para o naftaleno (o hidrocarboneto
policíclico aromático de menor massa molecular) é apresentado na figura 32
128
Intensidade relativa
51 64 102
77
Estas relações m/z estão associadas aos diversos íons positivos originados a partir da
molécula neutra original de naftaleno (C10H8) a partir da ionização eletrônica. A figura 33
apresenta a esquematização para a formação dos diversos íons obtidos a partir da formação
do íon molecular.
O naftaleno (C10H8) se transforma inicialmente no íon molecular C10H8+. Este após a
liberação do radical .–C2H2 origina o íon C8H6+ cuja razão massa/carga é 102. Após nova
fragmentação em que é liberado o radical .–C2H ocorre a formação do íon C6H5+ cuja razão
massa/carga é 77. Em uma etapa o íon C6H5+ libera um radical .–C2H2 original o íon C4H3+ cuja
razão massa/carga é 51.
45
H H
H H H H
H H
H H - e-
H H H H
H H
m/z = 128
- C2H2
(Imagens do autor)
H H
H H
H H
- C2H2 - C2H
H H
H H
H H
H H
46
CAD: computer aided design (“desenho assistido por computador”, nome dado aos sistemas
computacionais utilizados para facilitar o projeto e desenhos técnicos)
Como pode ser observado na figura 28, o processo dá-se inicialmente a partir da criação
de um modelo digital da peça desejada, em software de desenho tridimensional (representado
pela etapa A). O modelo é então transferido para outro software, denominado “fatiador” (etapa
B), responsável pela execução de um fatiamento eletrônico da peça em 3D, transformando-a
em uma malha simplificada estruturada em camadas. [77]. O arquivo gerado é então
processado eletronicamente pelo software da impressora 3D, iniciando-se na base e
finalizando-se no topo do objeto (etapa C), produzindo a peça física (etapa D).
Dentre as diferentes técnicas [65] de impressão 3D, a modelagem por fusão e deposição
(FDM, do inglês Fused Deposition Modeling) ocorre por meio do uso de um cabeçote aquecido,
que gera a extrusão de um filamento polimérico, formando camadas bidimensionais de material
impresso. Estas, por sua vez, são depositadas consecutivamente em um suporte de
impressão, geralmente aquecido, formando o objeto em 3D desejado, a partir do
endurecimento das camadas do material impresso. Esta técnica apresenta como vantagens a
abrangência de impressoras e filamentos com custo relativamente baixo, a existência de uma
grande gama de materiais de impressão disponíveis e a facilidade no uso e manuseio das
impressoras. [78]
Em se tratando dos filamentos de impressão 3D, o copolímero acrilonitrila butadieno
estireno (ABS, do inglês Acrylonitrile Butadiene Styrene) garante propriedades de robustez e
durabilidade às peças impressas. Pelo fato de ter como propriedade uma temperatura de
transição vítrea mais alta, o ABS pode suportar altas temperaturas antes de começar um
processo de deformação, o que torna este material uma boa escolha para aplicações que
envolvam calor. Ao se realizar a impressão utilizando este material, há a liberação de um leve
odor, devendo ser utilizada uma impressora fechada ou a realizada a impressão em local com
boa ventilação. [79]
47
Utilizando-se as vantagens da impressão 3D para a construção de protótipos,
atualmente podem ser encontradas diversas aplicações, como por exemplo, no ramo de
tecnologias assistivas, na produção de órteses e próteses em medicina [80], bem como no
meio acadêmico, com funcionalidades aplicadas na área de química, empregando-se também
o uso de microcontroladores para automatização dos produtos concebidos. [81]
Dadas as características de resistência mecânica e térmica do ABS ele foi utilizado para
a criação do protótipo HS-IT-FEX uma vez que para o estudo do headspace é necessário o
aquecimento das amostras até sua vaporização e, portanto, a caixa de controle com os
componentes eletrônicos precisa ter boa resistência térmica devido a proximidade do
controlador com o resistor acoplado ao cilindro metálico.
Os experimentos utilizados no desenvolvimento do presente trabalho consistiram na
utilização do protótipo previamente projetado no Intechlab (Laboratório de Tecnologias
Integradas do CEFET-MG) que proporciona as condições técnicas necessárias para gerar, por
meio de aquecimento, um headspace da amostra aquosa contendo os hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos dissolvidos. Estes são “trapeados” no interior de um liner de vidro com
revestimento interno de polidimetilsiloxano para posteriormente serem analisados por meio da
técnica de cromatografia gasosa, sendo utilizado um detector de espectrometria por massas.
48
4. METODOLOGIA
Para se preparar o liner com o polímero de PDMS inicialmente foi feita a extração do
mesmo utilizando-se 5,0000 g de cola de silicone com 25,0 mL de tolueno. A mistura foi
homogeneizada por três horas com auxílio de agitador magnético. Em seguida centrifugou-se a
solução a 1500 rpm por cerca de 15 minutos para a separação das fases. A parte
correspondente ao sobrenadante foi utilizada nos processos subsequentes. [10]
Para se realizar a deposição do polímero foi injetado 70 L do extrato em tolueno no
interior do liner seguindo a técnica de spincoating (desenvolvida pela equipe do laboratório
INTECHLAB) a 250 rpm. A figura 35 apresenta o esquema completo.
Após a realização desse procedimento o liner contendo o polímero depositado internamente foi
submetido a um tratamento térmico com temperatura de 290 oC, por 3 horas em uma mufla.
Finalizada a deposição e o tratamento térmico, a camada polimérica foi avaliada por
microscopia utilizando microscópio Digital Electronic Magnifier marca NOVA, com câmara de
aumento de 1000 vezes sendo possível estimar a espessura como próxima de 60 m. [10]
Figura 36 Fotografia de perfil de um liner de vidro. No detalhe foto obtida pelo microscópio Digital
Electronic Magnifier, representando parte do revestimento interno do liner com o polímero PDMS.
49
4.2 Descrição do Protótipo
O recipiente metálico feito com bloco de aço inox 340 contém, na parte inferior, duas
entradas sendo uma para o resistor (acoplado a um termostato) e a outra para o termômetro
digital. Essas duas entradas por sua vez são conectadas à caixa de controle, que permite
ajustar a temperatura com um controlador Letotek modelo STC-1000 (este controlador mede a
temperatura por meio de um sensor de temperatura do tipo NTC). O controlador utiliza um
cartucho aquecedor com potência 40 watts a 12 volts. O liner inferior não apresenta nenhum
revestimento interno polimérico, servindo apenas como uma conexão física.
O liner superior é o dispositivo utilizado para fazer o trapeamento dos analitos de interesse (no
estudo foram utilizados HPAs) e apresenta um revestimento de PDMS (polidimetilsiloxano).
50
Os principais componentes do protótipo HS-IT-FEX se encontram esquematicamente
representados na figura 38.
recipiente
recipiente
de teflon
metálico
nível nível
interno do interno do
recipiente recipiente
teclas de
controle
Para se iniciar o processo de amostragem por headspace deve-se certificar que o liner
contendo o revestimento interno de polidimetilsiloxano deve estar isento de algum analito que
possa ter sido absorvido. Como uma forma de minimização de custos, optou-se por efetuar a
dessorção térmica do liner na câmara de aquecimento do detector FID (do inglês Flame
Ionization Detector), pois assim não seria necessário consumir o gás de arraste durante este
processo. O procedimento adotado foi inserir o liner na câmara de aquecimento do
equipamento GC – FID (Agilent Technologies modelo 6990N) aquecida a 300oC por 30
minutos.
51
A figura 39 apresenta o equipamento usado para efetuar a dessorção térmica.
Fonte: o autor
Figura 39 GC FID Agilent (modelo 6990N) utilizado para a dessorção térmica do liner.
No detalhe o compartimento onde o liner é posto para a dessorção térmica
52
Tabela 10 Concentrações de HPAs no padrão Supelco.
O conteúdo de uma ampola de (1 mL) foi dissolvido em metanol (60 mL) e em seguida o
volume foi completado para 100 mL com água ultra pura. Esta mistura (que passou a ser
denominada de “solução estoque”) foi homogeneizada por meio de ultrassom. Porém, com o
passar do tempo, observou-se a formação de uma suspensão. Devido a esta característica
sempre que a solução estoque era utilizada, a mesma era submetida ao ultrassom para melhor
homogeneização do conteúdo. Esta “solução estoque” foi armazenada sob refrigeração.
Da solução estoque 37,5 mL foram diluídos para 500 mL com água ultra pura,
originando a solução que passou a ser denominada de “solução de trabalho”. A concentração
dos analitos na solução de trabalho se encontra na tabela 11.
53
O procedimento adotado durante os experimentos foi adicionar 1000 L da solução de
trabalho no recipiente metálico juntamente com 0,5 g de NaCl de pureza analítica para
promover o efeito salting out. O efeito salting out se baseia no aumento do coeficiente de
distribuição, pois estando os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos em solução aquosa e as
moléculas de água tendo preferência para solvatar, o cloreto de sódio do que as moléculas
orgânicas, isto favorece a passagem dos HPAs para a fase gasosa. [82]
O particionamento de compostos orgânicos entre a água e outras fases como ar, matéria
orgânica, polímeros e tecidos biológicos é influenciada pelo teor de sal na fase aquosa. Sais
estruturantes, como NaCl e outros sais constituídos por íons pequenos aprimora a estruturação
de fases aquosas e, portanto, a energia coesa na água devido às suas fortes interações com
dipolos da água. Outro exemplo dos efeitos do sal é uma mudança do equilíbrio da partição de
solutos orgânicos neutros para fases não aquosas. Este efeito é referido como efeito salting out
e pode ser relevante para a dinâmica de contaminantes no meio ambiente, por exemplo, para a
partição de contaminantes de/para a água do mar ou para a formação de aerossóis
secundários. Além disso, o efeito salting out é deliberadamente usado para maximizar a
eficiência da extração em procedimentos analíticos adicionando sal a amostras de água. [82]
Uma descrição quantitativa do efeito salting out para solutos orgânicos neutros é
fornecida pela equação 7:
54
“solução de NaCl
trabalho”
amostra
nível interno
dos recipientes
55
Após o sistema ficar determinado tempo sob o aquecimento, o sistema é desligado. O
liner contendo o revestimento de PDMS é retirado do protótipo e, por meio de agitação manual,
é removido todo líquido que porventura tenha se condensado em seu interior.
Uma vez o liner estando devidamente preparado a etapa seguinte é submetê-lo o
mesmo a análise em cromatógrafo gasoso, usando gás hélio como gás de arraste.
Dispositivo de Computador
injeção de amostras
(manual/automática)
Detector
(espectrômetro de massas)
Coluna
Cilindro cromatográfica
contendo o
gás de arraste
sob pressão
56
A figura 43 (a, b e c) ilustra de forma esquemática o desacoplamento do sistema de
injeção.
Dispositivo
móvel de
injeção
(b)
(a)
liner contendo
os HPAs
(c)
57
Figura 44 Liner sendo acondicionado no compartimento do injetor
Para que este procedimento fosse executado sem que ocorresse perda de gás de
arraste, clicava-se no botão “front inlet” do GC e após selecionar o parâmetro “pressure” este
era desabilitado enquanto se fazia o procedimento da inserção do liner, sendo em seguida
novamente habilitado.
Após o compartimento do injetor ser convenientemente fechado e os parâmetros de
controle estarem devidamente estabilizados, o método cromatográfico é então posto para
funcionar.
58
As condições de aquecimento do forno se encontram representadas na figura 45.
Temperatura (oC)
250
200
150
100
50
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
tempo (minutos)
O espectrômetro de massas Agilent-5975 foi operado nos modos de aquisição full scan
(intervalo de varredura entre 70 e 350 m/z) e SIM (do inglês select ion monitoring) utilizando-se
ionização por elétrons com energia de 70 eV, para avaliação da performance de obtenção dos
dados cromatográficos.
Para que a execução dos experimentos pudesse ser realizada com a segurança de que
o mínimo possível de interferentes fosse interferir na obtenção dos resultados algumas
precauções analíticas foram tomadas. Primeiramente, era feito um ensaio denominado “Branco
da Coluna” cuja finalidade é verificar se fragmentos de analitos devido a utilização anterior do
equipamento estivesse ainda presentes no interior da coluna cromatográfica. Para isso,
basicamente, o método é posto para ser executado sem injetar nenhum tipo de substância.
Após realizar o ensaio do “Branco da Coluna” é feito outro ensaio denominado “Branco
do Liner”, onde o liner contendo o revestimento de PDMS (após ter sido submetido ao processo
de dessorção térmica) é inserido no compartimento do injetor do cromatógrafo gasoso e em
seguida coloca-se o método cromatográfico para ser executado. Após a execução destes dois
procedimentos (“Branco da Coluna” e “Branco do Liner”) comparam-se os dois cromatogramas
obtidos.
59
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
(Ilustração do autor)
De modo semelhante outro experimento foi conduzido a fim de verificar quais seriam as
temperaturas indicadas pelo controlador de temperatura modelo STC 1000 comparadas com
as temperaturas indicadas no termômetro digital, posicionado na altura do liner superior onde o
processo de amostragem por headspace seria conduzido, conforme pode ser observado na
figura 47.
60
(Ilustração do autor)
Nível do líquido
nível interno
dos recipientes
(a) (b)
Figura 47 Montagem para aferição de temperatura na entrada do liner superior
(a) representação esquemática e (b) foto do protótipo
50,0 controlador
Display
40,0 vaporSuperior
Liner
30,0
20,0
Fonte: o autor
10,0
0,0
0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00
tempo (minutos)
61
5.2 Ensaios do “branco” do liner
8000000
8,0
7000000
7,0
6000000
6,0
5000000
5,0
4000000
4,0
3000000
3,0
2000000
2,0
1000000
1,0
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
tempo (minutos)
Fonte: o próprio autor
(b)
3000000
10,0
9,0
2500000
Abundância (x 106)
8,0
7,0
2000000
Abundância
6,0
5,0
1500000
4,0
1000000
3,0
2,0
500000
1,0
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
tempo Fonte: o próprio autor
tempo(minutos)
(minutos)
Figura 49 Cromatogramas correspondentes aos ensaios: (a) Branco da Coluna e (b) Branco do Liner
62
Caso seja observado algum ruído (nos tempos de retenção onde os HPAs são
identificados) que possa comprometer o desempenho dos experimentos, novamente os
ensaios de “Branco” são realizados, após o liner ser submetido novamente ao processo de
dessorção térmica.
Como descrito nos itens 4.2.1 (Operação do Protótipo) e 4.3 (Condições do Método
Cromatográfico) após o liner contendo o revestimento de PDMS ser submetido ao processo de
dessorção térmica no compartimento de aquecimento do GC-FID, é necessário fazer uma
verificação prévia para averiguar se algum tipo de analito se encontrava absorvido no
revestimento de PDMS. Este teste (denominado “branco do liner”) consiste basicamente em
colocar o liner no compartimento do injetor do GC e acionar o método cromatográfico. Pela
avaliação da linha de base obtida no cromatograma correspondente, é possível avaliar se o
liner se encontrava adequado para o teste com a solução de trabalho contendo os 16 HPAs ou
se seria necessário efetuar novamente a dessorção térmica para se garantir a “limpeza”.
Quando o teste do “Branco do Liner” se mostrava adequado, o liner era então acoplado
ao protótipo HS-IT-FEX (conforme descrito no item 4.3) em cujo compartimento metálico era
adicionada a solução de trabalho contendo o mix de 16 HPAs em concentrações diferentes.
Nas situações em que o teste do “Branco do Liner” acusava a presença de interferentes, o liner
era novamente submetido ao processo de dessorção e testado novamente. Os testes
preliminares visavam a verificação de quais foram os HPAs que haviam sido absorvidos pelo
PDMS bem como se resolução (a “separação” dos picos) estava adequada ou se estariam
ocorrendo co-eluições de moléculas de HPAs. A figura 50 apresenta um cromatograma típico
obtido utilizando o método cromatográfico cujos parâmetros de controle foram descritos no item
4.3.
Acenafteno
10000000
10,0
9000000
9,0 Acenaftileno
8000000
8,0
Abundância (x 106)
7000000
7,0 Naftaleno
Fluoreno
6000000
6,0
5000000
5,0
4000000
4,0
3000000
3,0
2000000
2,0
1000000
1,0
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
tempo (minutos)
Figura 50 Cromatograma obtido usando solução de HPAs
63
A identificação dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos presentes na solução
trabalho foi realizada por meio da ajuda dos íons quantificadores e qualificadores, conforme
apresentado na tabela 12. [84]
Relação (m/z)
HPA
Íon Quantificador Íons Qualificadores
Naftaleno 128 127, 129
Acenaftileno 152 153, 151
Acenafteno 153 154, 152
Fluoreno 166 165, 167
Fenantreno 178 176, 179
Antraceno 178 176, 179
Fluoranteno 202 200, 101
Pireno 202 200, 101
Benzo(a)antraceno 228 226, 229
Criseno 228 226, 229
Benzo(b)fluoranteno 252 263, 126
Benzo(k)fluoranteno 252 263, 126
Benzo(a)pireno 252 263, 126
Indeno(1,2,3-cd)pireno 276 138, 277
Dibenzo(a,h)antraceno 278 138, 239
Benzo(ghi)perileno 276 138, 277
HPA RT (min)
Naftaleno 5,80 ± 0,10
Acenaftileno 7,80 ± 0,04
Acenafteno 8,00 ± 0,05
Fluoreno 8,64 ± 0,02
64
5.4 Estimativa para o tempo de equilíbrio
65
Naftaleno
3,00E+06
3,0
2,5
2,50E+06
Abundância (x 106)
2,0
2,00E+06
1,5
1,50E+06
1,0
1,00E+06
0,5
5,00E+05
0,0
0,00E+00
0 10 20 30 40 50 60 70
tempo total de contato (minutos)
Acenaftileno
3,5
3,50E+07
3,0
3,00E+07
Abundância (x 107)
2,5
2,50E+07
2,0
2,00E+07
1,5
1,50E+07
1,0
1,00E+07
0,5
5,00E+06
0,00E+00
0,0
0 10 20 30 40 50 60 70
tempo de contato total (minutos)
66
Acenafteno
1,5
1,50E+07
Abundância (x 107)
1,0
1,00E+07
0,5
5,00E+06
0,0
0,00E+00
0 10 20 30 40 50 60 70
tempo total de contato (minutos)
Fluoreno
3,00E+06
3,0
2,50E+06
2,5
Abundância (x 106)
2,00E+06
2,0
1,50E+06
1,5
1,00E+06
1,0
5,00E+05
0,5
0,00E+00
0,0
0 10 20 30 40 50 60 70
tempo total de contato (minutos)
Como se pode observar nenhum dos gráficos obtidos apresentou boa repetitividade nos
dados e também não foi observada uma correlação entre o tempo de contato e a abundância.
Desse modo não foi possível estabelecer de forma segura um parâmetro para o tempo de
equilíbrio.
Duas hipóteses são aventadas para explicar a falta de reprodutibilidade dos dados e
consequente impossibilidade de determinação do tempo de equilíbrio:
1) vazamento nas conexões entre os liners e os recipientes do protótipo de extração;
2) variações de temperatura durante a operação do protótipo.
67
Considerando a hipótese de as conexões entre o liner e o protótipo apresentarem uma
vedação inadequada, faz-se necessário considerar que parte do vapor produzido pelo
aquecimento no protótipo pode ter sido perdida em pequenos vazamentos conforme sugere a
ilustração apresentada na figura 55.
conexão
(imagens do autor)
Supondo que as vedações não estejam funcionando da maneira ideal, estes hipotéticos
vazamentos do protótipo comprometem inevitavelmente todos os equilíbrios envolvidos.
A segunda hipótese que pode ser aventada para explicar a falta de reprodutibilidade dos
dados experimentais é a existência de variações de temperatura durante a maior parte do
tempo de operação do protótipo HS-IT-FEX, uma vez que um dos preceitos termodinâmicos
para a existência de alguma espécie de equilíbrio é a existência de temperatura constante. [86]
O processo de extração ocorrido no protótipo HS-IT-FEX pode ser comparado ao
processo ocorrido na microextração em fase sólida (SPME) em headspace. Como o SPME
trata-se de processo multifásico pode-se simplificar o sistema considerando-se apenas três
fases: o revestimento da fibra, o headspace e a matriz aquosa. [86] Durante a extração os
analitos migram entre as três fases até o equilíbrio ser alcançado, o que pressupõe
temperatura mantida constante.
Em todas as técnicas de extração conhecidas, o princípio termodinâmico básico comum
a todas as metodologias está relacionada a distribuição do analito entre a matriz da amostra e
a fase de extração. No headspace SPME (que é a técnica mais semelhante ao método de
68
extração objeto do presente trabalho), existem dois processos envolvidos: a liberação de
analitos de sua matriz e a absorção de analitos vaporizados pelo revestimento de fibra.
O coeficiente de distribuição, Kfs, do analito entre o revestimento de fibra e matriz de
amostra é normalmente definido por meio da equação (8)
(8)
(9)
69
T
dissipação
de calor
tempo T 70
o
(min) ( C)
60
0,00 24,0
1,03 25,8 50
Temperatura (oC)
3,04 30,3
6,54 45,3 40
7,03 53,2
9,03 58,2 30
9,03 59,7 20
9,27 60,0
19,00 58,3 10
27,00 62,7
30,00 58,5 0
0 5 10 15 20 25 30
tempo total de contato (minutos)
70
A possibilidade de ter ocorrido vazamentos entre a fase gasosa nas conexões do
protótipo e variação de temperatura são, portanto, as hipóteses mais adequadas para explicar
satisfatoriamente a falta de reprodutibilidade dos dados obtidos em laboratório.
É importante salientar que a técnica inovadora apresentada nesta pesquisa demonstra a
possibilidade de se efetuar o trapeamento dos analitos presentes no headspace utilizando um
protótipo de baixo custo de produção, mais resistente do que as fibras convencionais de SPME
(extremamente frágeis) e de fácil operação.
71
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
72
Quando o sistema de vedação entre os liners e os recipientes do protótipo, mencionadas
anteriormente, estiver apresentando condições satisfatórias de operação, serão realizados
novos ensaios utilizando soluções de HPAs em concentrações mais baixas para verificar o
limite de detecção do método de extração proposto, bem como avaliar a eficiência do processo
de extração em outras faixas de temperatura. A verificação de limites de detecção mais baixos
será extremamente importante para aplicações futuras do protótipo HS-IT-FEX. O
desenvolvimento (e aprimoramento) do protótipo HS-FEX se mostra como uma potencial
ferramenta a ser utilizada futuramente de forma prática e economicamente viável para a
complementação dos estudos de monitoramento ambiental, tão necessários para o controle de
poluentes.
Serão testadas outras faixas de temperatura de maneira a verificar qual delas se
mostrará mais eficiente para a extração da maior quantidade possível de HPAs presentes na
solução de trabalho. Outro parâmetro a ser otimizado nos futuros estudos é a massa de cloreto
de sódio (empregada para promover o efeito salting out durante a extração) e o volume de
solução.
73
7. PERSPECTIVAS FUTURAS
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