Guerra Dos Emboabas
Guerra Dos Emboabas
Guerra Dos Emboabas
Campinas
2023
2
Campinas
2023
3
MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
28º BATALHÃO DE INFANTARIA MECANIZADO
(1º Batalhão de Carros de Combate Leve/1942)
BATALHÃO HENRIQUE DIAS
SEÇÃO TÉCNICA DE ENSINO
FOLHA DE APROVAÇÃO
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
MAURI KIRCHMAIER JÚNIOR - Maj
Instr Ch NPOR
________________________________________
MATHEUS LUIZ FARIA DE ALMEIDA – 1º Ten
1º Membro e Orientador
_________________________________________________________________
RESUMO
A Guerra dos Emboabas foi um conflito que ocorreu no Brasil colonial entre 1707 e 1709,
durante a corrida pelo ouro. Envolveu os bandeirantes paulistas, que buscavam riquezas nas
Minas Gerais, e os emboabas, que eram colonos portugueses e europeus que chegaram à
região por conta das recém-descobertas minas. O conflito foi marcado por inúmeras batalhas,
lideradas pelos líderes Manuel Borba Gato e Manuel Nunes Viana. A intervenção da Coroa
Portuguesa foi marcante e necessária para pôr fim à guerra, impondo condições indesejáveis
aos paulistas, que foram expulsos da área aurífera. A rivalidade entre os bandeirantes e os
emboabas refletiu a disputa pelo controle das riquezas da região e evidenciou a centralização
do poder da metrópole sobre as colônias.
Palavras Chaves: Guerra dos Emboabas; Brasil Colonial; corrida pelo ouro
ABSTRACT
The War of the Emboabas was a conflict that took place in colonial Brazil between 1707 and
1709, during the gold rush. It involved the "bandeirantes paulistas", who sought riches in
Minas Gerais, and the "emboabas", who were Portuguese and European settlers who arrived
in the region due to the recently discovered mines. The conflict was marked by numerous
battles, commanded by Manuel Borba Gato and Manuel Nunes Viana. The intervention of the
Portuguese Crown was important and necessary to put an end to the war, imposing
unfavorable conditions on the paulistas, who were expelled from the gold exploitation area.
The rivalry between the bandeirantes and the emboabas reflected the struggle for control of
the region's riches and evidenced the centralization of metropolitan power over the colonies.
__________________
*Concludente do Curso de Formação de Oficiais da Reserva – 2023
**Tenente da Arma de Infantaria. Formado no Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva
de Campinas em 2018
5
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURAS PÁGINA
Figura 2 - Obra "Guerra dos Emboabas", de Carybé (1962, óleo sobre tela) ………….. 16
SUMÁRIO
PÁGINA
1. INTRODUÇÃO …………………………………………………………………… 06
4. REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 16
6
1. INTRODUÇÃO
O Brasil Colônia, ao longo de toda sua história, foi cenário de inúmeros conflitos e
disputas que forjaram sua formação social, cultural e econômica. Um desses episódios
marcantes foi a Guerra dos Emboabas, um movimento nativista que ocorreu entre 1707 e
1709 nas regiões das Minas Gerais. Esse conflito envolveu os bandeirantes paulistas, que
eram sertanistas e exploradores, caracterizados pela violência e sede por riqueza, e os
"emboabas", termo utilizado para denominar os colonos portugueses e europeus que vieram
ao Brasil em busca das riquezas prometidas pela descoberta de ouro na região.
As Minas Gerais ganharam grande destaque com a corrida do ouro no final do século
XVII e início do século XVIII. Nesta época, a Coroa Portuguesa e as capitanias do Brasil se
encontravam em crise econômica devido à concorrência holandesa na produção e venda de
cana-de-açúcar. Isso levou a um reajuste de estratégia de exploração econômica do país, que
já não possuía riquezas no litoral, visto que a produção de cana havia diminuído e a
exportação de pau-brasil, primeira atividade econômica da colônia, estavam em baixa. A
solução encontrada pela Coroa foi incentivar a exploração das potencialidades do interior do
Brasil, a fim de obter novamente o lucro "perdido" das atividades econômicas litorâneas.
Diante disso, foram incentivadas expedições dos bandeirantes rumo a regiões desconhecidas e
ao sertão do país, onde, eventualmente foram encontradas jazidas de ouro.
Nesse cenário, os bandeirantes paulistas, pioneiros na exploração territorial, atuavam
na região explorando recursos naturais e obtendo riquezas, estabelecendo-se como os
primeiros controladores da região. Entretanto, a descoberta e a existência das minas auríferas
chamou a atenção e atraiu uma significativa quantidade de pessoas de diferentes origens,
chamados emboabas, que possuíam interesses distintos sobre o que seria feito a respeito da
divisão política, territorial e econômica da região. A chegada destas pessoas, em sua maioria
colonos portugueses e europeus, desencadeou uma série de tensões e rivalidades com os
bandeirantes paulistas. Disputas territoriais e de poder emergiram, visto que ambos os grupos
reivindicavam o direito de explorar as áreas ricas em ouro. Por um lado, os bandeirantes,
liderados por Manuel Borba Gato, reivindicavam à Coroa o direito de exploração exclusiva da
região. Do outro, os emboabas, liderados por Manuel Nunes Viana, queriam enfraquecer o
domínio paulista. Essas tensões deram origem à Guerra dos Emboabas, que teve repercussões
significativas na história do Brasil colonial.
Diante desse contexto, este artigo científico visa analisar e compreender a Guerra dos
Emboabas, descrevendo suas motivações, peculiaridades, acontecimentos principais e
consequências, indagando se se a motivação do conflito está relacionada a motivos patriotas
7
ou se a mesma se deu meramente por ganância por terras e ouro, dado que ainda existem
dúvidas a respeito da origem do conflito. Além disso, será examinada a intervenção da Coroa
Portuguesa e suas influências na guerra, evidenciando as tensões entre os diferentes grupos
envolvidos na busca pelo ouro e a relação entre colonos e o poder central português. Para isso,
serão utilizadas fontes confiáveis, relatos históricos e análises de especialistas, visando uma
apresentação objetiva e fundamentada do tema.
A compreensão da Guerra dos Emboabas é de suma importância para o entendimento
pleno da formação do Brasil colonial. Por conta disso, através desta análise, espera-se
contribuir para um maior entendimento do contexto histórico e das dinâmicas sociais e
econômicas da época, apresentando o conflito como um episódio importante da história do
país.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Com isso, o centro da economia colonial foi transferido do Nordeste para o Sudeste, com a
capital sendo transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, pois seria mais fácil e adequado
do ponto de vista logístico para manter o controle dos centros de mineração.
Ademais, é importante ressaltar que esta descoberta fez com que a região de Minas
Gerais recebesse milhares de habitantes, compostos por pessoas oriundas de diferentes regiões
do país e da Europa interessadas em trabalhar na mineração e enriquecer dessa atividade.
Além disso, migrou para a região um grande número de indígenas e africanos, trazidos
forçadamente para realizar trabalhos escravos na região. Esse enorme fluxo de pessoas fez
com que diversas cidades surgissem na região, transformando aquela capitania em um dos
locais mais urbanizados do Brasil Colônia. Diversas cidades, como Diamantina, Mariana,
Ouro Preto, Sabará, São João del Rei e Tiradentes surgiram durante o período. De acordo com
o historiador Boris Fausto (1999, p.52), nos primeiros 60 anos do século XVIII, cerca de 600
mil pessoas vieram de Portugal para o Brasil, representando uma média de 10 mil pessoas por
ano que migravam para o país.
A Guerra dos Emboabas foi ocasionada por conta de uma série de causas e motivações
que, em sua maioria, estão ligadas às tensões e rivalidades entre os bandeirantes paulistas e os
emboabas. Conforme dito anteriormente, os bandeirantes paulistas, pioneiros na exploração
da região das Minas Gerais em busca de pedras preciosas, consideravam-se os verdadeiros
donos das terras e detentores do direito exclusivo de explorar o ouro encontrado, baseando-se
na premissa de que eles foram os primeiros a chegar no local. Outrossim, acreditavam que
quem não participou do esforço pela procura de ouro não deveria ter os mesmos direitos para
a exploração que eles, que despenderam tempo, dinheiro e empenho na descoberta das minas.
Neste momento, os bandeirantes já estavam familiarizados com a região e possuíam
certa organização administrativa estabelecida, liderada por Manuel Borba Gato. Além disso,
implementaram a estrutura e a mão-de-obra (em sua maioria negros escravizados e índios
capturados) necessária para a extração do ouro. No entanto, com a chegada dos emboabas,
foram desencadeados conflitos em relação ao controle e usufruto dessas áreas de mineração,
pois os emboabas também buscavam riquezas nas Minas Gerais e reivindicavam o direito de
explorar o ouro encontrado. Esse grupo estabeleceu suas próprias áreas de mineração e,
liderados por Manuel Nunes Viana, desafiaram o domínio dos bandeirantes.
9
2.2.2 Nacionalismo
bem geral da nação. Assim, fica claro que o conflito não representava um movimento
unificado em prol do nacionalismo e da pátria, mas sim a ganância por ouro.
2.2.3 Inflação
Este cenário se tornou uma forte alavanca impulsionadora para o conflito, pois tanto os
bandeirantes quanto os emboabas dependiam dos mesmos recursos escassos para sobreviver e
prosperar. A competição entre os dois grupos se intensificou à medida que os preços subiam,
levando a conflitos entre esses grupos na busca por vantagens econômicas e controle sobre as
áreas auríferas. Tal controle permitiria maior lucro e, consequentemente, mais capacidade de
superar os desafios causados pela inflação.
de ouro, tornando-se um membro imprescindível para a Coroa. Dessa maneira, logo tornou-se
um dos homens mais ricos e influentes da região das Minas.
Ao longo dos séculos seguintes, diversas homenagens foram feitas ao bandeirante, a
fim de relembrar sua importância para a história de Brasil e Portugal. Dentre elas, a que mais
se destaca é uma estátua inaugurada em 1963, localizada no distrito de Santo Amaro, em São
Paulo, onde Borba Gato foi representado em pose de realeza, tendo a carabina como cetro
real.
Manuel Nunes Viana foi um bandeirante português que exerceu uma função
fundamental na história de Minas Gerais, tendo sido um dos expoentes da Guerra dos
Emboabas. Mascate e proprietário de minas, foi governador da capitania de Minas Gerais e
líder dos emboabas durante a guerra.
Nunes Viana migrou para o Brasil Colônia muito jovem, primeiramente vivendo na
Bahia, onde trabalhava para um grande fazendeiro como criador de gado. Com a morte de seu
chefe, herdou sua fortuna e suas fazendas na região do São Francisco, que cresceu
exponencialmente devido a sua aptidão para liderança e negócios. Com isso, se tornou um dos
homens mais influentes da região. Após o início do ciclo do ouro, que trouxe um grande fluxo
de migrantes para a região, os estrangeiros alvoroçados elegeram Manuel Nunes Viana como
governador das Minas e capitão-mor dos emboabas.
Para alguns, Manuel era considerado um facínora cruel, que supostamente teria
cometido uma série de crimes e abusos, como por exemplo, o assassinato de sua própria filha,
por haver-se envolvido com um rapaz de baixa renda. Além disso, uma de suas chácaras
possuía uma lagoa chamada "Cinquenta", pois dali foram retiradas cinquenta caveiras de
adulto, provavelmente de seus inimigos e escravos. Apesar destas atrocidades, enquanto
13
ocupava o cargo de governador, era considerado um homem de boa índole pela maioria da
população, conforme o trecho abaixo indica:
Manuel Nunes Viana arrogou a si o governo e a administração da Real Fazenda, em
que não houve descaminho, o que é bem glorioso para o mesmo Viana, do qual não
consta que cometesse por si ou por seus confidentes alguma ação prejudicial. Ele
regia com igualdade os povos, ele os socorria com seus cabedais, ele finalmente
apaziguava as contendas. (COELHO, 1780, p.123).
Tendo em vista o constante crescimento das tensões entre os grupos devido aos
motivos elencados acima, em 1706 já existia na região um sentimento de que a guerra
eclodiria a qualquer momento. No ano seguinte, após o surgimento de um boato de que os
paulistas, reunidos na cidade de Sabará, planejavam exterminar todos os chefes estrangeiros
da região das Minas por meio de um ataque combinado durante a execução de missas nas
igrejas, os emboabas decidiram nomear Manuel Nunes Viana como Governador, para tentar
pôr fim às violências dos paulistas. Viana estabeleceu a sede de seu governo na cidade de
Caeté, onde estavam concentrados os emboabas.
Em pouco tempo, Nunes Viana iniciou a varredura dos bandeirantes: enviou um
destacamento para Sabará para entrincheirar os paulistas lá presentes. Contando com a ajuda
da população indígena, que desprezava os paulistas, a resistência local foi rompida e os
emboabas passaram a controlar a região, com a fuga dos remanescentes para o arraial de
Cachoeira do Campo, localizado nos arredores de Vila Rica. Os paulistas saíram seriamente
derrotados deste primeiro combate, entretanto, não se desmoralizaram.
No arraial, os emboabas seguiram em perseguição aos sobreviventes do ataque
anterior. Lá, apesar da proporção de combatentes ser de 1 paulista para cada 10 emboabas, foi
feita uma valente defesa do local, onde inclusive Nunes Viana saiu ferido. Em uma segunda
investida, em que o uso de armas brancas e o combate corpo-a-corpo foram os principais
destaques, os paulistas novamente expulsaram os invasores. Foi apenas em um terceiro
ataque, realizado de maneira surpresa e comandado pelo Frei Francisco de Menezes, que os
emboabas conseguiram finalmente derrotar os paulistas encontrados na região.
Em seguida, ocorreu o episódio mais sangrento, trágico e marcante da Guerra dos
Emboabas, que ficou conhecido como "Capão da Traição". Após a derrota na batalha de
Cachoeira do Campo, paulistas se renderam e receberam a anistia de Nunes Viana, sob a
promessa de que se retirariam da região das minas. Entretanto, durante o retraimento a São
Paulo, inúmeros homens pararam e se estabeleceram em um capão na região da atual cidade
de Tiradentes. Especula-se que os paulistas tivessem a intenção de reorganizar suas tropas e
14
realizar uma nova contra-ofensiva contra os emboabas, que também se encontravam nas
imediações, utilizando a traição e o fator surpresa para fazê-lo.
Desse modo, os bandeirantes enviaram alguns índios para investigar a posição exata
dos emboabas e atraí-los para uma emboscada. A estratégia funcionou, o exército emboaba
caiu na armadilha e foi recebido a tiros na região do capão, tendo muitos de seus combatentes
executados. Revoltado com o acontecimento, Nunes Viana nomeou Bento do Amaral
Coutinho, conhecido pelo temperamento rude e sanguinário, para realizar um contra-ataque.
Com o sucesso de suas táticas militares, que utilizaram o flanqueamento e cerco de todo
destacamento inimigo, em dois dias os paulistas solicitaram trégua e se renderam. Bento do
Amaral chegou a jurar pela Santíssima Trindade que, após a rendição e deposição das armas
dos paulistas, não mataria seus rivais e os deixaria sair livremente da região das minas.
Entretanto, após a rendição e entrega das armas, Bento decretou o massacre de todos os cerca
de 300 paulistas capturados, dando um triste fim a esse episódio da guerra. Neste momento, o
feitiço virou-se contra o feiticeiro, com a traição anterior dos bandeirantes ocasionando na
traição dos emboabas (GASPAR, 2009, p.10). Os paulistas revoltados até ensaiaram um
contra-ataque, porém já não possuíam mais forças suficientes para derrotar os emboabas, que
cada vez mais se reforçavam.
Em 1709, com a intervenção do governador do Rio de Janeiro, Antônio de
Albuquerque Coelho de Carvalho, o conflito terminou. Nunes Viana foi destituído do cargo
de governador, embora toda a estrutura administrativa emboaba fosse mantida. Os paulistas,
que não conquistaram seus objetivos e não tinham mais forças para guerrear, deixaram a
região de forma definitiva.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, a Guerra dos Emboabas foi um dos conflitos mais importantes do Brasil
Colonial, sendo indelével para a construção do país que conhecemos hoje. Esse episódio
revelou as tensões entre os bandeirantes paulistas, pioneiros na exploração da região, e os
emboabas, colonos estrangeiros em busca de riqueza. As complexas causas do conflito,
incluindo disputas territoriais e diferenças culturais, ecoaram nas sangrentas batalhas e
disputas que definiram o desenrolar desta guerra, que terminou com a vitória estrangeira.
16
FIGURA 2 - Obra "Guerra dos Emboabas", de Carybé (1962, óleo sobre tela)
Fonte: Secretaria de Cultura de Minas Gerais
4. REFERÊNCIAS
BÁRBARA, M.C.; BAHIA, E.T.; A história local como fator de atração turística: estudo
da Guerra dos Emboabas em Minas Gerais. 2007. 16 f. Dissertação (pós-graduação) -
Curso de Turismo, Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo
(ANPTUR), São Paulo, 2007.
COELHO, José João Teixeira. Instrução para o Governo da Capitania de Minas Gerais.
Belo Horizonte: Fundação José Pinheiro, 1994. p.123.
FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. São Paulo: Edusp, 1999. p. 52.
GASPAR, Tarcísio de Souza. Bocas de fogo no conflito entre forasteiros e paulistas. 2008.
21 f. Dissertação (mestrado) - Curso de História, Universidade Federal Fluminense, Niterói,
2008.
17
MELLO, José Soares de. Emboabas. São Paulo: Governo do estado de São Paulo, 1979. p.
48.
NASCIMENTO, Daniel. Monumento de Borba Gato. São Paulo Antiga, 2021. Disponível
em: https://saopauloantiga.com.br/borba-gato/. Acesso em: 30 de jul. de 2023.