RESP-1601149 Corretagem
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ACÓRDÃO
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO
Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Ministro Impedido
Exmo. Sr. Ministro : ANTONIO CARLOS FERREIRA
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. SADY D´ASSUMPÇÃO TORRES FILHO
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BOLOGNESI EMPREENDIMENTOS LTDA
ADVOGADOS : LUCAS BRAGA EICHENBERG E OUTRO(S) - RS048756
RENATA MARIA GARCIA DE CARVALHO - RS072816
TAUÊ MARQUES NUÑEZ - RS099391
RECORRIDO : LUCAS KOHLS NUNES
ADVOGADO : DANIELE FERRON D'AVILA - RS057616
INTERES. : FRANCO LIMA IMOVEIS LTDA
INTERES. : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : MARCELA PORTELA NUNES BRAGA E OUTRO(S) - DF029929
INTERES. : CAMARA BRASILEIRA DA INDUSTRIA DA CONSTRUCAO - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADOS : MARIA LUISA BARBOSA PESTANA GUIMARÃES E OUTRO(S) - DF005985
FREDERICO JOSE ALMEIDA DA SILVA E OUTRO(S) - DF029666
INTERES. : SINDICATO DA INDUSTRIA DA CONST CIVIL DA GRANDE FPOLIS -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : DIOGO BONELLI PAULO E OUTRO(S) - SC021100
MARCUS VINÍCIUS MOTTER BORGES E OUTRO(S) - SC020210
INTERES. : ASSOCIACAO BRASILEIRA DE INCORPORADORAS IMOBILIARIAS -
ABRAINC - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : FLÁVIO LUIZ YARSHELL E OUTRO(S) - SP088098
ELIZANDRA MENDES DE CAMARGO DA ANA E OUTRO(S) - SP210065
INTERES. : SIND EMP COMP VENDA LOC ADM IMOV RESID COMERC SAO PAULO -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : JOSE CARLOS BAPTISTA PUOLI E OUTRO(S) - SP110829
MARCELO TERRA E OUTRO(S) - SP053205
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Superior Tribunal de Justiça
INTERES. : UNIÃO - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO - AGU - AL000000U
INTERES. : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
SUSTENTAÇÃO ORAL
Consignadas as presenças do Dr. Flávio Luiz Yarshell, representante da interessada Associação
Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias - Abrainc, da Dra. Marcela Portela Nunes Braga,
representante da interessada Caixa Econômica Federal, do Dr. Marcus Vinícius Motter Borges,
representante do interessado Sindicato da Indústria da Construção Civil da Grande Florianópolis -
Sinduscon, e do Dr. José Carlos Baptista Puoli, representante do Sindicato das Empresas de
Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São
Paulo-Secovi/SP.
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Adiado por indicação do Sr. Ministro Relator, com previsão de julgamento na primeira
sessão de julgamentos de 2018 da Segunda Seção.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.601.149 - RS (2016/0136102-7)
RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO
RECORRENTE : BOLOGNESI EMPREENDIMENTOS LTDA
ADVOGADOS : LUCAS BRAGA EICHENBERG E OUTRO(S) - RS048756
RENATA MARIA GARCIA DE CARVALHO - RS072816
TAUÊ MARQUES NUÑEZ - RS099391
RECORRIDO : LUCAS KOHLS NUNES
ADVOGADO : DANIELE FERRON D'AVILA - RS057616
INTERES. : FRANCO LIMA IMOVEIS LTDA
INTERES. : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : MARCELA PORTELA NUNES BRAGA E OUTRO(S) -
DF029929
INTERES. : CAMARA BRASILEIRA DA INDUSTRIA DA CONSTRUCAO -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : MARIA LUISA BARBOSA PESTANA GUIMARÃES E
OUTRO(S) - DF005985
FREDERICO JOSE ALMEIDA DA SILVA E OUTRO(S) -
DF029666
INTERES. : SINDICATO DA INDUSTRIA DA CONST CIVIL DA GRANDE
FPOLIS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : DIOGO BONELLI PAULO E OUTRO(S) - SC021100
MARCUS VINÍCIUS MOTTER BORGES E OUTRO(S) -
SC020210
INTERES. : ASSOCIACAO BRASILEIRA DE INCORPORADORAS
IMOBILIARIAS - ABRAINC - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : FLÁVIO LUIZ YARSHELL E OUTRO(S) - SP088098
ELIZANDRA MENDES DE CAMARGO DA ANA E OUTRO(S) -
SP210065
INTERES. : SIND EMP COMP VENDA LOC ADM IMOV RESID COMERC
SAO PAULO - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : JOSE CARLOS BAPTISTA PUOLI E OUTRO(S) - SP110829
MARCELO TERRA E OUTRO(S) - SP053205
INTERES. : UNIÃO - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO - AGU - AL000000U
INTERES. : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
RELATÓRIO
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SATI".
O Tema 938/STJ foi julgado posteriormente, tendo-se firmado a seguinte
tese: "validade da cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador
a obrigação de pagar a comissão de corretagem nos contratos de promessa
de compra e venda de unidade autônoma em regime de incorporação
imobiliária, desde que previamente informado o preço total da aquisição da
unidade autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem".
Porém, tendo em vista as particularidades que envolvem o Programa
Minha Casa, Minha Vida - PMCMV, especialmente a sua disciplina mediante
legislação específica (Lei 11.977/2009) e o elevado grau de vulnerabilidade dos
promitentes-compradores, decidi promover uma afetação específica para a
hipótese das promessas de compra e venda celebradas no âmbito desse
programa habitacional.
Essa nova afetação foi publicada em 20/09/2016 (fls. 285/287 e 290),
dando origem ao Tema 960/STJ, assim descrito: "validade da transferência ao
consumidor da obrigação de pagar a comissão de corretagem nas promessas
de compra e venda celebradas no âmbito do programa 'Minha Casa, Minha
Vida".
Na fase de habilitação de amicus curiae, intervieram na lide recursal as
seguintes entidades, com as seguintes manifestações:
- CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
CIVIL - CBIC (fls. 516/536): validade da transferência da obrigação, exceto na
faixa n. 1 do PMCMV;
- CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF (fls. 585/599): validade,
desde que respeitado o teto de cada uma das faixas do PMCMV, exceto na
faixa n. 1, em que a corretagem deve ser vedada;
- SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DA
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GRANDE FLORIANÓPOLIS - SINDUSCON-FPOLIS (fls. 560/564):
validade da transferência da obrigação;
- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INCORPORADORAS
IMOBILIÁRIAS - ABRAINC (fls. 566/573): validade, nas faixas 2 e 3 do
programa;
- SINDICATO DAS EMPRESAS DE COMPRA E VENDA
LOCAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DE IMÓVEIS RESIDENCIAIS E
COMERCIAIS DE SÃO PAULO - SECOVI-SP: validade, exceto na faixa n.
1;
- UNIÃO (fls. 585/599): validade, desde que respeitado o teto de cada
uma das faixas do PMCMV, exceto na faixa n. 1, em que a corretagem deve
ser vedada;
- DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL (fls. 695/697): vedada a cobrança antecipada da comissão de corretagem,
para que o comprador possa ser beneficiado em quaisquer das faixas do
PMCMV, com inclusão do custo de comercialização no valor do
financiamento.
- DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO: absteve-se de se manifestar.
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL opinou pela invalidade da
transferência do encargo ao consumidor, nos termos da seguinte ementa:
- Recurso especial submetido ao regime dos recursos repetitivos, nos
termos do art. 1.036, do CPC/2015, que aponta violação e
interpretação divergente aos arts. 724 e 725, ambos do CC/2002.
- Tese sugerida para os efeitos do art. 1.036, do CPC/2015: é inválida
a transferência ao consumidor da obrigação de pagar a comissão de
corretagem nas
promessas de compra e venda celebradas no âmbito do programa
“Minha Casa, Minha Vida”, uma vez que tal exigência contraria a
própria essência do programa, que tem como objetivo primordial
facilitar o acesso à habitação pela população de baixa renda, dando
concretude ao disposto no art. 6º, da Constituição Federal,
especificamente ao direito fundamental social à moradia.
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Superior Tribunal de Justiça
- Acerca do caso concreto, no mérito, aplicando-se a tese repetitiva
exposta acima, tem-se que a empresa ora Recorrente não poderia ter
transferido ao consumidor ora Recorrido a obrigação de pagar a
comissão de corretagem decorrente da aquisição do imóvel
comercializado no PMCMV, pois tal conduta desnatura sobremaneira o
caráter social do programa habitacional, ao dificultar o acesso à
moradia pelo mutuário que já atende a todos os requisitos previstos na
Lei nº 11.977/2009.
- Parecer, preliminarmente, pelo conhecimento do presente recurso
especial, e, no mérito, pelo seu não provimento. (fls. 705/706)
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.601.149 - RS (2016/0136102-7)
VOTO
Eminentes colegas, inicio analisando a tese a ser consolidada pelo rito dos
recursos especiais repetitivos: "validade da transferência ao consumidor da
obrigação de pagar a comissão de corretagem nas promessas de compra e
venda celebradas no âmbito do programa 'Minha Casa, Minha Vida" (Tema
960/STJ).
O direito à moradia, como uma das necessidades primárias do ser
humano, ao lado da alimentação e do vestuário, foi proclamado na Conferência
Internacional do Trabalho da OIT (Organização Internacional do Trabalho),
em Genebra, no ano de 1976.
Mais recentemente, o direito à moradia foi incluído entre uma das metas
do Milênio, estabelecidas pela Organização das Nações Unidas - ONU, em
2001, a par de metas sobre o acesso à água potável e ao saneamento básico
(moradia digna).
No âmbito interno, o direito à moradia ganhou status constitucional a
partir da Emenda Constitucional nº 26/2000, passando a ser elencado no art.
6º, caput, integrando assim o rol dos direitos fundamentais previstos na
Constituição.
Nesse contexto normativo, o Programa Minha Casa, Minha Vida -
PMCMV (instituído pela Medida Provisória 459/2009, convertida na Lei
11.977/2009) pretendeu dar concreção ao direito fundamental à moradia digna,
ao "criar mecanismos de incentivo à produção e aquisição de novas
unidades habitacionais" para famílias de baixa/média de renda.
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A Lei 11.977/2009, ao instituir o programa, estabeleceu as suas linhas
mestras, deixando aos regulamentos, principalmente aos editados pelo
Ministério das Cidades, dispor acerca das normas específicas de
operacionalização, inclusive as faixas de renda, faixas de valor dos imóveis,
padrões construtivos e os critérios de seleção dos beneficiários.
Confira-se, a propósito, o enunciado normativo dos seguintes dispositivos
da Lei 11.977/2009 (texto compilado):
Art. 1º. O Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV tem por
finalidade criar mecanismos de incentivo à produção e aquisição de
novas unidades habitacionais ou requalificação de imóveis urbanos e
produção ou reforma de habitações rurais, para famílias com renda
mensal de até R$ 4.650,00 (quatro mil, seiscentos e cinquenta reais) e
compreende os seguintes subprogramas:
III - (VETADO).
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Superior Tribunal de Justiça
III - prioridade de atendimento às famílias residentes em áreas de
risco, insalubres, que tenham sido desabrigadas ou que perderam a
moradia em razão de enchente, alagamento, transbordamento ou em
decorrência de qualquer desastre natural do gênero;
...........................................
§ 3º. O Poder Executivo federal definirá:
...........................................
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Tendo em vista o conteúdo do programa, descrito no art. 1º, supra, cabe
excluir da presente afetação os contratos celebrados no âmbito do subprograma
de Habitação Rural, pois nenhum dos recursos especiais representativos da
controvérsia dizem respeito a imóvel rural.
No âmbito da habitação urbana, conforme constou na manifestação da
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF (fls. 585/599), o "Programa Minha
Casa, Minha Vida" - PMCMV possui dois campos de atuação bem distintos,
de acordo com a faixa de renda dos beneficiários do programa.
A Faixa 1 compreende famílias com renda mensal bruta de até R$
1.800,00 (valores atuais), bem como as famílias com renda mensal bruta de até
R$ 3.600,00, desde que enquadradas, nesta segunda hipótese, em situações
específicas de vulnerabilidade social, como emergência ou calamidade pública.
Nessa faixa do programa, a operação mais se assemelha a um benefício
social com contrapartida do que propriamente a um contrato de compra e
venda de imóvel.
Com efeito, não se estabelece relação de consumo entre o beneficiário e
a construtora/incorporadora, como ocorre nas outras faixas do programa.
Na Faixa 1, o imóvel é incorporado ao patrimônio de um fundo público
(Fundo de Arrendamento Residencial - FAR ou Fundo de Desenvolvimento
Social - FDS), e esse fundo assume a condição de "alienante" do imóvel.
A seleção dos beneficiários, por sua vez, é realizada pelo Poder Público
ou por "entidades organizadoras" previamente habilitadas pelo Ministério das
Cidades.
A subvenção econômica nessa faixa alcança até 90% do valor do imóvel,
sendo o restante diluído em até 120 parcelas mensais (limitadas a 5% da renda
bruta), sem juros e sem formação de saldo devedor, diversamente do que
ocorre num típico financiamento imobiliário.
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Superior Tribunal de Justiça
Na Faixa 1, como não há venda direta das construtoras aos beneficiários
do programa, mas seleção por meio de critérios sociais, conjugada com sorteio,
não há campo para a intermediação imobiliária, sendo descabida eventual a
cobrança de comissão de corretagem.
Todavia, como não se identificou nenhum recurso especial relativo à
Faixa 1, apesar de solicitado a tribunais de todo o Brasil, devem ser excluídos
os contratos dessa faixa de renda do âmbito de incidência da tese a ser fixada.
O outro campo de atuação do PMCMV são os financiamentos
imobiliários, propriamente ditos, previstos nas Faixas 1,5; 2 e 3.
Nessas faixas de renda, há incidência de juros (embora com taxas
reduzidas) e formação de saldo devedor.
Existe ainda a possibilidade de o beneficiário do programa obter uma
subvenção econômica, a cargo da UNIÃO ou do FGTS.
Outra característica dessa linha do programa é a possibilidade de
financiamento de até 100% do valor do imóvel, como ocorreu no caso dos
autos.
As Faixas de renda, atualmente, estão assim distribuídas:
Faixa 1 - até R$ 1.800,00 (ou R$ 3.600,00, excepcionalmente)
Faixa 1,5 - até R$ 2.600,00
Faixa 2 - até R$ 4.000,00
Faixa 3 - até R$ 9.000,00
A subvenção econômica somente é concedida para operações
enquadradas nas faixas 1,5 e 2, observado o limite de R$ 3.600,00 de renda
mensal bruta familiar.
Feita essa breve digressão acerca das diretrizes do Programa Minha
Casa, Minha Vida, passo a analisar a polêmica central da presente afetação,
referente à possibilidade de transferência da obrigação de pagar a comissão de
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corretagem ao adquirente desses imóveis.
Sobre essa polêmica, merece referência, novamente, a manifestação da
CEF, na qualidade de amicus curiae, especificamente no trecho abaixo
transcrito:
A CAIXA, como agente operador do programa governamental, sob a
regência das regras editadas pela União (Ministério das Cidades), se
preocupa que os negócios relacionados com o PMCMV sejam
realizados dentro das regras legais.
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possuindo meios de pagar os R$ 4.500,00 da comissão de corretagem, embora
pudessem arcar com as prestações mensais de R$ 478,08 do financiamento
imobiliário.
Deveras, o grau de famílias nessa situação de endividamento é
considerável.
Pesquisa da Federação do Comércio do Rio Grande do Sul (Estado de
origem do presente recurso), divulgada em fevereiro de 2017, revela que 68%
das famílias com renda de até 10 salários mínimos estão endividadas (cf.
http://fecomercio-rs.org.br/wp-content/uploads/2017/01/peicfev.pdf, acesso em
23/10/2017).
Em âmbito nacional, o nível de endividamento das famílias nessa faixa de
renda também é elevado, tendo-se apurado, em pesquisa realizada pela
Confederação Nacional do Comércio em setembro de 2017, que 58,4% das
famílias com renda de até 10 salários mínimos encontram-se endividadas (cf.
http://cnc.org.br/sites/default/files/arquivos/release_peic_setembro_2017.pdf,
acesso em 29/10/2017).
Tomando-se por pressuposto que essas famílias endividadas também não
teriam disponibilidade financeira para pagar antecipadamente a comissão de
corretagem, chega-se à conclusão de que a cobrança apartada da comissão de
corretagem acaba excluindo a maioria das famílias de baixa renda do acesso ao
PMCMV.
Esse critério excludente subtrai a eficácia do PMCMV, pois deixa fora do
programa justamente aquelas famílias que estão em situação econômica mais
precária, estando mais suscetíveis, portanto, a se sujeitarem a condições
indignas de moradia.
Esse aspecto do problema foi bem enfatizado no parecer do
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, conforme se verifica no trecho abaixo
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 17 de 10
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transcrito:
25. No particular, é inegável que o PMCMV essencial e
ontologicamente tem caráter social, objetivando o acesso à moradia
pela população de baixa renda, em estrita observância ao direito
fundamental que a Emenda Constitucional n° 26/2000 incluiu no art. 6°,
da Constituição Federal, impondo ao Estado o dever de assegurar a
todos, de forma ampla e universal, mediante adoção de políticas
públicas, a obtenção de um teto. Aliás, não é demasiado lembrar que
um dos mais nítidos efeitos da exclusão social no Brasil é o déficit
habitacional e a moradia precária de populações urbanas em áreas de
risco, razão pela qual a implementação de políticas públicas voltadas à
aquisição da casa própria conduz, em última análise, à concretização do
postulado constitucional da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da
CF).
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 18 de 10
Superior Tribunal de Justiça
No mesmo sentido, também manifestou-se a Defensoria Pública do
Estado do Rio Grande do Sul, na qualidade de amicus curiae, confira-se:
Inicialmente, em que pese tenha sido sedimentado o entendimento nesta
Corte Superior quanto à validade da transferência ao consumidor da
obrigação de pagar comissão de corretagem quando do julgamento da
controvérsia relativa ao tema 938, as particularidades do programa
habitacional acima nominado, como bem situado na r. decisão das fls.
285/287, merecem ser analisadas em uma afetação específica,
comportando, evidentemente, solução diversa.
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 23 de 10
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se declarou a abusividade de disposições contratuais com base na cláusula geral
do art. 51, inciso IV, c/c § 1º, do CDC.
Ilustrativamente, confiram-se os seguintes julgados:
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE
TV A CABO. CLÁUSULA DE FIDELIZAÇÃO. COBRANÇA
INTEGRAL DA MULTA DE FIDELIDADE INDEPENDENTEMENTE
DO CUMPRIMENTO PARCIAL DO PRAZO DE CARÊNCIA.
1. A cláusula de fidelização em contrato de serviços de telecomunicação
(como o serviço de TV a cabo) revela-se lícita, tendo em vista os
benefícios concedidos pelas operadoras aos assinantes que optam por
tal pacto e a necessária estipulação de prazo mínimo para a
recuperação do investimento realizado.
Precedentes.
2. A referida modalidade contratual tem previsão de cláusula penal
(pagamento de multa) caso o consumidor opte pela rescisão antecipada
e injustificada do contrato. Tem-se, assim, por escopo principal, o
necessário ressarcimento dos investimentos financeiros realizados por
uma das partes para a celebração ou execução do contrato (parágrafo
único do artigo 473 do Código Civil). De outro lado, sobressai seu
caráter coercitivo, objetivando constranger o devedor a cumprir o
prazo estipulado no contrato e, consequentemente, viabilizar o retorno
financeiro calculado com o pagamento das mensalidades a serem
vertidas durante a continuidade da relação jurídica programada.
3. Nada obstante, em que pese ser elemento oriundo de convenção entre
os contratantes, a fixação da cláusula penal não pode estar
indistintamente ao alvedrio destes, já que o ordenamento jurídico prevê
normas imperativas e cogentes, que possuem a finalidade de resguardar
a parte mais fraca do contrato, como é o caso do artigo 412 do Código
Civil ("O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode
exceder o da obrigação principal.").
4. A citada preocupação reverbera, com maior intensidade, em se
tratando de contrato de adesão, como o de prestação de serviços de
telecomunicações, o que motivou a ANATEL a expedir a Resolução
632/2014, a fim de regular a forma de cálculo da multa a ser cobrada
em caso de resilição antecipada dos contratos com fidelização.
5. O referido regulamento entrou em vigor em 07 de julho de 2014 e, a
partir de então, as prestadoras de serviço de TV a cabo (assim como as
demais prestadoras de serviços de telecomunicações) são obrigadas a
oferecer contratos de permanência aos consumidores - vinculados aos
contratos de prestação de serviços com cláusula de fidelização - e a
calcular a multa fidelidade proporcionalmente ao valor do benefício
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concedido e ao período restante para o decurso do prazo mínimo
estipulado.
6. Contudo, mesmo antes da vigência do citado normativo, revelava-se
abusiva a prática comercial adotada pela prestadora do serviço de TV a
cabo, que, até 2011, cobrava a multa fidelidade integral dos
consumidores, independentemente do tempo faltante para o término da
relação de fidelização.
7. Isso porque a cobrança integral da multa, sem computar o prazo de
carência parcialmente cumprido pelo consumidor, coloca o fornecedor
em vantagem exagerada, caracterizando conduta iníqua, incompatível
com a equidade, consoante disposto no § 1º e inciso IV do artigo 51 do
código consumerista.
8. Nesse panorama, sobressai o direito básico do consumidor à
proteção contra práticas e cláusulas abusivas, que consubstanciem
prestações desproporcionais, cuja adequação deve ser realizada pelo
Judiciário, a fim de garantir o equilíbrio contratual entre as partes,
afastando-se o ônus excessivo e o enriquecimento sem causa
porventura detectado (artigos 6º, incisos IV e V, e 51, § 2º, do CDC),
providência concretizadora do princípio constitucional de defesa do
consumidor, sem olvidar, contudo, o princípio da conservação dos
contratos.
9. Assim, infere-se que o custo arcado pelo prestador do serviço é,
efetivamente, recuperado a cada mês da manutenção do vínculo
contratual com o tomador, não sendo razoável a cobrança da mesma
multa àquele que incorre na quebra do pacto no início do prazo de
carência e àquele que, no meio ou ao final, demonstra o seu
desinteresse no serviço prestado.
10. Como é cediço no âmbito do direito consumerista, a alegação de
boa-fé (culpa) do causador do dano não configura óbice à ampla
reparação do consumidor, mas apenas afasta a sanção de repetição em
dobro prevista no parágrafo único do artigo 42 do CDC, nos termos da
jurisprudência consagrada pelas Turmas de Direito Privado.
11. Em observado o prazo prescricional quinquenal da pretensão
executiva individual, afigurar-se-á hígida a pretensão ressarcitória dos
consumidores que, entre 2003 (cinco anos antes do ajuizamento da ação
civil pública) e 2011 (período em que a operadora deixou de proceder à
cobrança abusiva), foram obrigados a efetuar o pagamento integral da
multa fidelidade, independentemente do prazo de carência cumprido.
12. Sopesando-se o valor da cláusula penal estipulada, a relevância da
defesa do direito do consumidor e a capacidade econômica da
recorrente, afigura-se razoável a redução das astreintes para R$ 500,00
(quinhentos reais), a cada descumprimento da ordem exarada na tutela
antecipada, o que deverá ser objeto de apuração em liquidação de
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 25 de 10
Superior Tribunal de Justiça
sentença.
13. Por critério de simetria, a parte vencida na ação civil pública
movida pelo Ministério Público não deve ser condenada ao pagamento
de honorários advocatícios. Precedentes.
14. Recurso especial parcialmente provido apenas para reduzir a multa
cominatória para R$ 500,00 (quinhentos reais) por descumprimento
comprovado da determinação judicial exarada em tutela antecipada e
afastar a condenação da parte vencida ao pagamento de honorários
advocatícios em favor do parquet.
(REsp 1.362.084/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, DJe 01/08/2017, sem grifos no original)
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 26 de 10
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preexistentes - quando do preenchimento do questionário de risco) ou o
suicídio no prazo de carência, a indenização securitária deve ser paga
ao beneficiário, visto que a cobertura neste ramo é ampla.
7. No seguro de vida, é vedada a exclusão de cobertura na hipótese de
sinistros ou acidentes decorrentes de atos praticados pelo segurado em
estado de insanidade mental, de alcoolismo ou sob efeito de substâncias
tóxicas (Carta Circular SUSEP/DETEC/GAB n° 08/2007).
8. As cláusulas restritivas do dever de indenizar no contrato de seguro
de vida são mais raras, visto que não podem esvaziar a finalidade do
contrato, sendo da essência do seguro de vida um permanente e
contínuo agravamento do risco segurado.
9. Recurso especial não provido.
(REsp 1.665.701/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, TERCEIRA TURMA, DJe 31/05/2017)
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 29 de 10
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construtor, sem a possibilidade de dividi-lo com os adquirentes.
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 30 de 10
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O valor da unidade imobiliária, R$ 73.000,00 (excluída a comissão de
corretagem), com recursos do PMCMV, em 300 prestações de R$ 479,46,
com uma subvenção econômica de R$ 10.325,00.
Assim, tratando-se de contrato celebrado no âmbito do PMCMV, essa
cobrança em apartado da comissão de corretagem vai de encontro à tese
firmada na primeira parte deste voto, devendo-se, portanto, manter a
condenação da construtora à devolução do valor cobrado a título de comissão
de corretagem, como bem entendeu o Tribunal a quo.
Observe-se, de outra parte, que houve também violação ao dever de
informação, pois a unidade imobiliária foi ofertada ao valor de R$ 73.000,00
(fl. 75), sem qualquer informação acerca da cobrança em apartado da comissão
de corretagem, o que elevou o custo para o consumidor em R$ 4.500,00.
Desse modo, o recurso especial não merece ser provido.
Ante o exposto, para os fins do art. 1.040 do CPC/2015, proponho
consolidação da seguinte tese:
Abusividade da cláusula contratual que transfere ao
consumidor, beneficiário do PMCMV, a obrigação de
pagar a comissão de corretagem.
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 31 de 10
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO
Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Ministro Impedido
Exmo. Sr. Ministro : ANTONIO CARLOS FERREIRA
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BOLOGNESI EMPREENDIMENTOS LTDA
ADVOGADOS : LUCAS BRAGA EICHENBERG E OUTRO(S) - RS048756
RENATA MARIA GARCIA DE CARVALHO - RS072816
TAUÊ MARQUES NUÑEZ - RS099391
RECORRIDO : LUCAS KOHLS NUNES
ADVOGADO : DANIELE FERRON D'AVILA - RS057616
INTERES. : FRANCO LIMA IMOVEIS LTDA
INTERES. : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : MARCELA PORTELA NUNES BRAGA E OUTRO(S) - DF029929
INTERES. : CAMARA BRASILEIRA DA INDUSTRIA DA CONSTRUCAO - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADOS : MARIA LUISA BARBOSA PESTANA GUIMARÃES E OUTRO(S) - DF005985
FREDERICO JOSE ALMEIDA DA SILVA E OUTRO(S) - DF029666
INTERES. : SINDICATO DA INDUSTRIA DA CONST CIVIL DA GRANDE FPOLIS -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : DIOGO BONELLI PAULO E OUTRO(S) - SC021100
MARCUS VINÍCIUS MOTTER BORGES E OUTRO(S) - SC020210
INTERES. : ASSOCIACAO BRASILEIRA DE INCORPORADORAS IMOBILIARIAS -
ABRAINC - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : FLÁVIO LUIZ YARSHELL E OUTRO(S) - SP088098
ELIZANDRA MENDES DE CAMARGO DA ANA E OUTRO(S) - SP210065
INTERES. : SIND EMP COMP VENDA LOC ADM IMOV RESID COMERC SAO PAULO -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : JOSE CARLOS BAPTISTA PUOLI E OUTRO(S) - SP110829
MARCELO TERRA E OUTRO(S) - SP053205
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 32 de 10
Superior Tribunal de Justiça
INTERES. : UNIÃO - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO - AGU - AL000000U
INTERES. : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
SUSTENTAÇÃO ORAL
Sustentação oral pelos interessados Associação Brasileira de Incorporadoras Imobilárias - Abrainc,
representada pela Dra. Elizandra Mendes de Camargo da Ana, Sindicato da Indústria da
Construção Civil da Grande Florianópolis - Sinduscon-Fpolis, representado pelo Dr. Marcus
Vinícius Motter Borges, e Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de
Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo - Secovi-SP, representado pelo Dr. José Carlos
Baptista Puoli.
Consignada a presença da Dra. Marcela Portela Nunes Braga, representando a Caixa Econômica
Federal.
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do Sr. Ministro Relator negando provimento ao recurso especial e fixando
tese repetitiva, pediu VISTA o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva.
Aguardam os Srs. Ministros Marco Buzzi, Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro, Lázaro
Guimarães (Desembargador convocado do TRF 5ª Região), Nancy Andrighi e Luis Felipe
Salomão.
Impedido o Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira.
Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti.
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 33 de 10
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.601.149 - RS (2016/0136102-7)
VOTO-VISTA
VENCEDOR
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 34 de 10
Superior Tribunal de Justiça
no âmbito do programa 'Minha Casa, Minha Vida'" (Tema nº 960 - grifou-se).
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 35 de 10
Superior Tribunal de Justiça
O "Programa Minha Casa, Minha Vida", instituído pela Lei nº 11.977/2009, tem
por finalidade criar mecanismos de incentivo à produção e à aquisição de novas unidades
habitacionais ou a requalificação de imóveis já existentes.
"(...)
Recursos do Fundo de Desenvolvimento Social (FDS) – FAIXA 1:
visa à concessão de financiamento fortemente subvencionado, sem juros, às
famílias com renda mensal bruta de até R$ 1.800,00, organizadas sob a forma
coletiva, para aquisição de unidades habitacionais urbanas produzidas por
Entidades Organizadoras, devidamente habilitadas no Ministério das Cidades,
com recursos do Orçamento Geral da União (OGU) integralizados no Fundo de
Desenvolvimento Social (FDS).
Recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) –
FAIXAS 1,5, 2 e 3: visa à concessão de financiamento habitacional com recursos
do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), às famílias com renda
mensal bruta de até R$ 9.000,00, divididas em três faixas (até R$2.600,00 =
Faixa 1,5, até R$ 4.000,00 = Faixa 2 e até R$ 9.000,00 = Faixa 3), para
aquisição ou construção de moradia, de forma isolada ou coletiva, com
possibilidade de subsídio na taxa de juros e subvenção limitada da União
e/ou desconto do próprio FGTS (renda até R$ 3.600,00)" (e-STJ fls. 586-587 -
grifou-se).
"(...)
O PMCMV Faixa 1 é destinado a pessoas de baixa renda, com
altíssimo percentual de subvenção, contando com recursos do OGU (Orçamento
Geral da União). Na referida modalidade há a intermediação dos Municípios ou
entidades organizadoras, que indicam os beneficiários do programa por meio de
regras específicas.
Quanto ao PMCMV Faixa 1, urge esclarecer que nunca foi
permitida cobrança de qualquer valor a título de remuneração pela
intermediação realizada na aquisição do imóvel, por absoluta
incompatibilidade desta cobrança com o modelo legalmente previsto para a
modalidade do PMCMV em apreço.
Ora, na modalidade do PMCMV Faixa 1, a distribuição dos imóveis
é realizada por meio das Prefeituras locais, mediante prévio cadastro das famílias
de baixa renda e é o próprio Fundo (FAR / FDS) que figura como vendedor do
imóvel, de modo que não há a participação de Construtoras ou de qualquer outro
interveniente na operação" (e-STJ fl. 545 - grifou-se).
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 37 de 10
Superior Tribunal de Justiça
Em princípio, portanto, as três últimas faixas de renda do PMCMV (Faixa 1,5,
Faixa 2 e Faixa 3) não diferem substancialmente das demais modalidades de
financiamento imobiliário existentes, a autorizar, em tese, não só a cobrança da
comissão de corretagem, mas a transferência desse encargo ao adquirente do imóvel,
desde que previamente informado o preço total da aquisição, com o valor da referida comissão
devidamente destacado.
No outro vértice, ou seja, nas Faixas 1 e 1,5, o subsídio econômico custeado pela
União pode chegar a até 90% (noventa por cento) do valor do imóvel, reduzindo drasticamente
o valor das prestações do financiamento.
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 39 de 10
Superior Tribunal de Justiça
Além disso, a possibilidade de aquisição do imóvel sem entrada, ou seja, com
100% (cem por cento) do saldo devedor financiado, também não está disponível para as últimas
faixas do programa, de modo que o interessado já deve dispor de recursos próprios para
efetuar o pagamento dessa parcela.
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 40 de 10
Superior Tribunal de Justiça
em vista a necessária observância dos tetos de aquisição previamente definidos nas regras do
programa.
Isso porque não há, nas normas do PMCMV, expressa vedação quanto à
transferência do custo da corretagem ao consumidor, de modo que a atuação do Poder
Judiciário, a quem não compete legislar, ficaria restrita, nesses casos, ao reconhecimento do
dever de restituição aos que já tiveram acesso ao programa.
"(...)
Ao fixar o valor dos imóveis, a Caixa realiza um estudo de custo das
unidades habitacionais abrangendo todas as despesas necessárias para a
viabilização econômica da obra, inclusive o chamado custo de comercialização.
Desta forma, parece claro que a empresa Bolognesi, ao transferir
os alegados custos ao consumidor, está auferindo vantagem indevida, uma vez
que o valor do custo de comercialização já foi contabilizado no financiamento."
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 41 de 10
Superior Tribunal de Justiça
Minha Casa Minha Vida, há um dos itens do financiamento denominado 'custo de
comercialização'. Este custo de comercialização engloba as despesas com
propaganda, folheteria, stand de vendas e assemelhados. Os custos com
corretagem NÃO compõem este campo" (e-STJ fls. 663-664 - grifou-se).
O raciocínio adotado, ademais, não faz nenhum sentido, pois a relação jurídica
existente entre as construtoras/incorporadoras e a CEF, ou outra instituição financeira
autorizada a utilizar recursos do FGTS para financiamento da construção civil, em nada influi na
relação estabelecida entre mutuante e mutuário, não podendo servir de critério para definir
quais custos do empreendimento poderão ser repassados aos adquirentes dos imóveis.
É o voto.
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 42 de 10
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.601.149 - RS (2016/0136102-7)
RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO
RECORRENTE : BOLOGNESI EMPREENDIMENTOS LTDA
ADVOGADOS : LUCAS BRAGA EICHENBERG E OUTRO(S) - RS048756
RENATA MARIA GARCIA DE CARVALHO - RS072816
TAUÊ MARQUES NUÑEZ - RS099391
RECORRIDO : LUCAS KOHLS NUNES
ADVOGADO : DANIELE FERRON D AVILA - RS057616
INTERES. : FRANCO LIMA IMOVEIS LTDA
INTERES. : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : MARCELA PORTELA NUNES BRAGA E OUTRO(S) - DF029929
INTERES. : CAMARA BRASILEIRA DA INDUSTRIA DA CONSTRUCAO -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : MARIA LUISA BARBOSA PESTANA GUIMARÃES E OUTRO(S)
- DF005985
FREDERICO JOSE ALMEIDA DA SILVA E OUTRO(S) -
DF029666
INTERES. : SINDICATO DA INDUSTRIA DA CONST CIVIL DA GRANDE
FPOLIS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : DIOGO BONELLI PAULO E OUTRO(S) - SC021100
MARCUS VINÍCIUS MOTTER BORGES E OUTRO(S) - SC020210
INTERES. : ASSOCIACAO BRASILEIRA DE INCORPORADORAS
IMOBILIARIAS - ABRAINC - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : FLÁVIO LUIZ YARSHELL E OUTRO(S) - SP088098
ADVOGADOS : TERESA CELINA DE ARRUDA ALVIM - SP067721
PRISCILA KEI SATO - SP159830
ELIZANDRA MENDES DE CAMARGO DA ANA E OUTRO(S) -
SP210065
EVARISTO ARAGAO FERREIRA DOS SANTOS - SP291474
MARIA LUCIA LINS CONCEIÇÃO - SP285118
INTERES. : SIND EMP COMP VENDA LOC ADM IMOV RESID COMERC
SAO PAULO - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : JOSE CARLOS BAPTISTA PUOLI E OUTRO(S) - SP110829
MARCELO TERRA E OUTRO(S) - SP053205
INTERES. : UNIÃO - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO - AGU - AL000000U
INTERES. : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
VOTO-VENCIDO
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 43 de 10
Superior Tribunal de Justiça
Relator, mas peço vênia ao Ministro Villas Bôas Cueva porque entendo que, no caso, não há
lugar para aplicação da regra geral relativa aos negócios imobiliários em geral, porque aqui se
trata da operacionalização de uma intervenção estatal destinada a assegurar àqueles que têm
uma necessidade especial, àqueles que integram uma categoria social de carência, o direito de
moradia, o direito de habitação.
Então, em relação às pessoas que buscam essa atuação estatal para assegurar
o direito de habitação, parece-me que se deve adotar uma sistemática em que não há de se
aplicar essa transferência ao consumidor da obrigação de pagar uma comissão de corretagem
que é exercida por delegação das empresas vendedoras, da empresa que realmente promove a
incorporação, a construção desse imóvel e que tem de arcar com os custos e se programar para
realizar esse serviço, que tem natureza social.
De modo que peço vênia ao eminente Ministro Villas Bôas Cueva e aos não
menos eminentes Ministros que o seguiram, mas acompanho o Relator.
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 44 de 10
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO
Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Ministro Impedido
Exmo. Sr. Ministro : ANTONIO CARLOS FERREIRA
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. MARIA IRANEIDE OLINDA SANTORO FACCHINI
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BOLOGNESI EMPREENDIMENTOS LTDA
ADVOGADOS : LUCAS BRAGA EICHENBERG E OUTRO(S) - RS048756
RENATA MARIA GARCIA DE CARVALHO - RS072816
TAUÊ MARQUES NUÑEZ - RS099391
RECORRIDO : LUCAS KOHLS NUNES
ADVOGADO : DANIELE FERRON D'AVILA - RS057616
INTERES. : FRANCO LIMA IMOVEIS LTDA
INTERES. : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : MARCELA PORTELA NUNES BRAGA E OUTRO(S) - DF029929
INTERES. : CAMARA BRASILEIRA DA INDUSTRIA DA CONSTRUCAO - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADOS : MARIA LUISA BARBOSA PESTANA GUIMARÃES E OUTRO(S) - DF005985
FREDERICO JOSE ALMEIDA DA SILVA E OUTRO(S) - DF029666
INTERES. : SINDICATO DA INDUSTRIA DA CONST CIVIL DA GRANDE FPOLIS -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : DIOGO BONELLI PAULO E OUTRO(S) - SC021100
MARCUS VINÍCIUS MOTTER BORGES E OUTRO(S) - SC020210
INTERES. : ASSOCIACAO BRASILEIRA DE INCORPORADORAS IMOBILIARIAS -
ABRAINC - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : FLÁVIO LUIZ YARSHELL E OUTRO(S) - SP088098
ADVOGADOS : TERESA CELINA DE ARRUDA ALVIM - SP067721
PRISCILA KEI SATO - SP159830
ELIZANDRA MENDES DE CAMARGO DA ANA E OUTRO(S) - SP210065
EVARISTO ARAGAO FERREIRA DOS SANTOS - SP291474
MARIA LUCIA LINS CONCEIÇÃO - SP285118
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 45 de 10
Superior Tribunal de Justiça
INTERES. : SIND EMP COMP VENDA LOC ADM IMOV RESID COMERC SAO PAULO -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : JOSE CARLOS BAPTISTA PUOLI E OUTRO(S) - SP110829
MARCELO TERRA E OUTRO(S) - SP053205
INTERES. : UNIÃO - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO - AGU - AL000000U
INTERES. : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
SUSTENTAÇÃO ORAL
Consignado pedido de preferência pela interessada Associação Brasileira de Incorporadoras
Imobiliárias - ABRAINC, representada pela Dra. Elizandra Mendes de Camargo da Ana.
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo o julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva
abrindo divergência para dar provimento ao recurso especial e fixar nova tese repetitiva, no que foi
acompanhado pelos Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro e Nancy Andrighi, e
após o voto do Sr. Ministro Lázaro Guimarães acompanhando o Relator, pediu VISTA o Sr.
Ministro Luis Felipe Salomão.
Impedido o Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira.
Ausente, nesta assentada, justificadamente, o Sr. Ministro Marco Buzzi.
Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti.
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 46 de 10
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.601.149 - RS (2016/0136102-7)
RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO
RECORRENTE : BOLOGNESI EMPREENDIMENTOS LTDA
ADVOGADOS : LUCAS BRAGA EICHENBERG E OUTRO(S) - RS048756
RENATA MARIA GARCIA DE CARVALHO - RS072816
TAUÊ MARQUES NUÑEZ - RS099391
RECORRIDO : LUCAS KOHLS NUNES
ADVOGADO : DANIELE FERRON D AVILA - RS057616
INTERES. : FRANCO LIMA IMOVEIS LTDA
INTERES. : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : MARCELA PORTELA NUNES BRAGA E OUTRO(S) - DF029929
INTERES. : CAMARA BRASILEIRA DA INDUSTRIA DA CONSTRUCAO -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : MARIA LUISA BARBOSA PESTANA GUIMARÃES E OUTRO(S) -
DF005985
FREDERICO JOSE ALMEIDA DA SILVA E OUTRO(S) - DF029666
INTERES. : SINDICATO DA INDUSTRIA DA CONST CIVIL DA GRANDE FPOLIS -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : DIOGO BONELLI PAULO E OUTRO(S) - SC021100
MARCUS VINÍCIUS MOTTER BORGES E OUTRO(S) - SC020210
INTERES. : ASSOCIACAO BRASILEIRA DE INCORPORADORAS IMOBILIARIAS
- ABRAINC - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : FLÁVIO LUIZ YARSHELL E OUTRO(S) - SP088098
ADVOGADOS : TERESA CELINA DE ARRUDA ALVIM - SP067721
PRISCILA KEI SATO - SP159830
ELIZANDRA MENDES DE CAMARGO DA ANA E OUTRO(S) -
SP210065
EVARISTO ARAGAO FERREIRA DOS SANTOS - SP291474
MARIA LUCIA LINS CONCEIÇÃO - SP285118
INTERES. : SIND EMP COMP VENDA LOC ADM IMOV RESID COMERC SAO
PAULO - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : JOSE CARLOS BAPTISTA PUOLI E OUTRO(S) - SP110829
MARCELO TERRA E OUTRO(S) - SP053205
INTERES. : UNIÃO - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO - AGU - AL000000U
INTERES. : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
VOTO-VISTA
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 47 de 10
Superior Tribunal de Justiça
2012, adquiriu junto a Bolognesi, por intermédio da Franco Imobiliária, o imóvel descrito na
inicial, pelo preço total de R$ 73.000,00, ocasião em que lhe foi cobrada "taxa de
intermediação" no valor de R$ 4.500,00, dentro do programa "Minha Casa Minha Vida". Pede,
portanto, a restitituição em dobro do que alega ter sido cobrado indevidamente.
A sentença determinou a devolução, mas sem a dobra.
Analisando as apelações de ambas as partes, o Tribunal manteve a
condenação, acrescentou a devolução em dobro (fl. 147):
COMPRA E VENDA DE TERRENO E MÚTUO PARA CONSTRUÇÃO DE
UNIDADE HABITACIONAL. PROGRAMA GOVERNAMENTAL DE HABITAÇÃO
DENOMINADO MINHA CASA MINHA VIDA. COBRANÇA DE VALORES A
TÍTULO DE COMISSÃO DE INTERMEDIAÇÃO E CORRETAGEM.
LEGITIMIDADE DA EMPRESA RESPONSÁVEL PELO EMPREENDIMENTO E
DA CORRETORA. SOLIDARIEDADE. REPETIÇÃO EM DOBRO DO
INDÉBITO.
Legitimidade da empresa demandada demonstrada pela prática de atos
próprios de contratante, que autorizam a sua inclusão no pólo passivo da
demanda.
Constitui prática ilegal e abusiva a cobrança de valores a título de comissão
de corretagem e intermediação que, muito embora contratualmente
previstos, desvirtuam as regras do programa governamental de habitação
Minha Casa, Minha Vida.
A repetição em dobro do indébito se justifica mediante prova de que os
valores cobrados indevidamente foram pagos pelo devedor.
Condenação solidária de ambas as demandadas.
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 48 de 10
Superior Tribunal de Justiça
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 49 de 10
Superior Tribunal de Justiça
disposto no art. 6º, da Constituição Federal, especificamente ao direito
fundamental social à moradia.
- Acerca do caso concreto, no mérito, aplicando-se a tese repetitiva exposta
acima, tem-se que a empresa ora Recorrente não poderia ter transferido ao
consumidor ora Recorrido a obrigação de pagar a comissão de corretagem
decorrente da aquisição do imóvel comercializado no PMCMV, pois tal
conduta desnatura sobremaneira o caráter social do programa habitacional,
ao dificultar o acesso à moradia pelo mutuário que já atende a todos os
requisitos previstos na Lei nº 11.977/2009.
- Parecer, preliminarmente, pelo conhecimento do presente recurso
especial, e, no mérito, pelo seu não provimento.
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 51 de 10
Superior Tribunal de Justiça
3. Por seu turno, as faixas 1,5, 2 e 3 alcançam famílias com renda mensal
bruta, respectivamente, de até R$ 2.600,00, até R$ 4.000,00, e até R$ 9.000,00, havendo
subsídios públicos ao financiamento apenas para as duas primeiras, ou seja, a faixa 3 não
conta com subvenção econômica, haja vista não corresponder à parcela da população
considerada mais necessitada. Ao revés, trata-se de uma renda bastante considerável, se
levarmos em conta a realidade nacional.
Conquanto o Programa Nacional de Habitação Urbana - PNHU -, nessas faixas
de renda, preveja financiamento habitacional com recursos do FGTS, com possibilidade de
subsídio na taxa de juros, redução no valor dos emolumentos cartorários e subvenção
limitada da União, tal hipótese constitui espécie tradicional de financiamento pelas regras do
Sistema Financeiro da Habitação, em tudo similar a uma operação de mercado, tendo em
vista que é o próprio comprador que escolhe o empreendimento imobiliário ofertado no âmbito
do programa, contrata a sua aquisição e obtém o financiamento, sem qualquer intervenção
do Poder Público.
Outrossim, consoante destacado pela Associação Brasileira de Incorporadoras
Imobiliárias - ABRAINC (fls. 414-415), "nas faixas 2 e 3, as unidades são das incorporadoras,
que deverão colocá-las no mercado à disposição dos interessados, por meio de força de
vendas própria ou através de corretores de imóveis", sendo as unidades habitacionais,
portanto, livremente comercializadas.
Acrescenta a ABRAINC, ainda, que (fl. 415):
24. Tal qual ocorre na aquisição de imóveis em geral, os interessados na
aquisição de uma unidade comparecem ao estande de vendas, onde, após
a apresentação do imóvel, optam por adquirir uma unidade.
25. Ato contínuo, formulam junto à imobiliária ou vendedor credenciado
proposta de pagamento para aquisição daquela unidade, a qual depois será
encaminhada pelos corretores à Incorporadora.
26. Bem de se ver ainda que primeiramente são firmadas as condições
gerais do negócio ou compromisso de compra e venda com a incorporadora
e, após certo período ou quando a obra estiver em determinado estágio (em
algumas modalidades do Programa, o financiamento só é realizado quando
80% do empreendimento estiver construído) é celebrado contrato de
financiamento com alienação fiduciária perante a CEF ou outra instituição
financeira credenciada.
27. Frise-se, a respeito do financiamento, que embora possa haver
benefícios na sua obtenção, nas faixas 2 e 3 não há a possibilidade de
financiar integralmente o preço do imóvel. Significa dizer, então, que os
adquirentes devem deter recursos próprios, com os quais arcarão com a
diferença, e, eventualmente, com a corretagem.
28. Desse modo, ainda que haja algum benefício assistencial, a natureza
onerosa do contrato permanece, ao menos nessas faixas do Programa.
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 52 de 10
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Sinduscon-FPOLIS - elucida a forma de implantação do PMCMV, corroborando a similitude
entre a negociação imobiliária realizada com auxílio desse programa governamental e a
negociação tradicional operada no mercado (fls. 348-349):
28. Para edificar um empreendimento que se enquadre no Programa “Minha
Casa, Minha Vida”, as construtoras desenvolvem seus projetos e os
submetem à análise prévia das instituições financeiras participantes. Após
aprovação, é celebrado contrato entre a construtora e a referida instituição.
Com a celebração do dito instrumento, a construtora se torna apta a iniciar
a execução do empreendimento e, principalmente, a alienação de unidades
aos interessados por meio do Programa habitacional.
29. Ato contínuo, aquele particular que decide adquirir uma unidade, assina
com a construtora um pré-contrato (promessa de compra e venda) e, após,
pode firmar, perante a instituição financeira responsável pelo financiamento,
um contrato de compra e venda e mútuo para construção.
30. As unidades são financiadas diretamente pelos compradores, durante a
fase de construção, permitindo a prática de preços baixos e para o acesso
ao imóvel próprio. Em razão disso, as construtoras recebem os recursos de
forma gradativa, ao longo da execução da obra, conforme um cronograma
de execução físico-financeiro pré-definido pela instituição.
31. O Programa “Minha Casa, Minha Vida”, em ambos os seus
subprogramas, é dividido em modalidades (faixas ou grupos de renda),
determinadas conforme a renda da família a que se destinará o imóvel.
Cada uma dessas modalidades possui diferentes valores de subsídios a
serem concedidos pelo Governo Federal, bem como taxas de juros e
períodos de financiamento diversos. Desse modo, o Programa logra atender
diferentes faixas de renda, e promover a aquisição de moradia de forma
segura e adequada aos padrões financeiros de seus beneficiários.
32. Sucede que, muito embora se trate de negociação imobiliária
realizada com auxílio de um programa governamental, a compra e
venda de uma unidade habitacional pelo Programa “Minha Casa,
Minha Vida” guarda fortes semelhanças com as negociações
realizadas fora do âmbito do Programa. Em outras palavras, em que
pese o objetivo assistencial do “Minha Casa, Minha Vida”, as
alienações realizadas deverão observar os mesmos parâmetros e
dispositivos legais de qualquer outra compra e venda de bem
imóvel.
33. Significa dizer que a compra e venda realizada pelo Programa
“Minha Casa, Minha Vida” não apenas sujeita os seus contratantes
aos mesmos direitos e deveres, mas também impõe as mesmas
medidas preventivas às partes. Nesse sentido, se mostra prudente
o auxílio técnico dos corretores de imóveis, porquanto profissionais
capazes de proporcionar uma negociação mais segura e satisfatória.
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promessa de compra e venda de unidade autônoma em regime de incorporação imobiliária,
desde que previamente informado o preço total da aquisição da unidade autônoma, com o
destaque do valor da comissão de corretagem.
Confira-se a ementa do julgado:
RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR.
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA. VENDA DE UNIDADES AUTÔNOMAS EM
ESTANDE DE VENDAS. CORRETAGEM. CLÁUSULA DE TRANSFERÊNCIA
DA OBRIGAÇÃO AO CONSUMIDOR. VALIDADE. PREÇO TOTAL. DEVER
DE INFORMAÇÃO. SERVIÇO DE ASSESSORIA TÉCNICO-IMOBILIÁRIA
(SATI). ABUSIVIDADE DA COBRANÇA. I - TESE PARA OS FINS DO ART.
1.040 DO CPC/2015: 1.1. Validade da cláusula contratual que
transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão
de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda de
unidade autônoma em regime de incorporação imobiliária, desde
que previamente informado o preço total da aquisição da unidade
autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem.
1.2. Abusividade da cobrança pelo promitente-vendedor do serviço de
assessoria técnico-imobiliária (SATI), ou atividade congênere, vinculado à
celebração de promessa de compra e venda de imóvel.
II - CASO CONCRETO: 2.1. Improcedência do pedido de restituição da
comissão de corretagem, tendo em vista a validade da cláusula prevista no
contrato acerca da transferência desse encargo ao consumidor.
Aplicação da tese 1.1.
2.2. Abusividade da cobrança por serviço de assessoria imobiliária,
mantendo-se a procedência do pedido de restituição. Aplicação da tese 1.2.
III - RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO.
(REsp 1599511/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 24/08/2016, DJe 06/09/2016)
Documento: 1667178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/08/2018 Página 56 de 10
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO
Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Ministro Impedido
Exmo. Sr. Ministro : ANTONIO CARLOS FERREIRA
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BOLOGNESI EMPREENDIMENTOS LTDA
ADVOGADOS : LUCAS BRAGA EICHENBERG E OUTRO(S) - RS048756
RENATA MARIA GARCIA DE CARVALHO - RS072816
TAUÊ MARQUES NUÑEZ - RS099391
RECORRIDO : LUCAS KOHLS NUNES
ADVOGADO : DANIELE FERRON D AVILA - RS057616
INTERES. : FRANCO LIMA IMOVEIS LTDA
INTERES. : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : MARCELA PORTELA NUNES BRAGA E OUTRO(S) - DF029929
INTERES. : CAMARA BRASILEIRA DA INDUSTRIA DA CONSTRUCAO - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADOS : MARIA LUISA BARBOSA PESTANA GUIMARÃES E OUTRO(S) - DF005985
FREDERICO JOSE ALMEIDA DA SILVA E OUTRO(S) - DF029666
INTERES. : SINDICATO DA INDUSTRIA DA CONST CIVIL DA GRANDE FPOLIS -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : DIOGO BONELLI PAULO E OUTRO(S) - SC021100
MARCUS VINÍCIUS MOTTER BORGES E OUTRO(S) - SC020210
INTERES. : ASSOCIACAO BRASILEIRA DE INCORPORADORAS IMOBILIARIAS -
ABRAINC - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : FLÁVIO LUIZ YARSHELL E OUTRO(S) - SP088098
ADVOGADOS : TERESA CELINA DE ARRUDA ALVIM - SP067721
PRISCILA KEI SATO - SP159830
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ELIZANDRA MENDES DE CAMARGO DA ANA E OUTRO(S) - SP210065
EVARISTO ARAGAO FERREIRA DOS SANTOS - SP291474
MARIA LUCIA LINS CONCEIÇÃO - SP285118
INTERES. : SIND EMP COMP VENDA LOC ADM IMOV RESID COMERC SAO PAULO -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : JOSE CARLOS BAPTISTA PUOLI E OUTRO(S) - SP110829
MARCELO TERRA E OUTRO(S) - SP053205
INTERES. : UNIÃO - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO - AGU - AL000000U
INTERES. : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
SUSTENTAÇÃO ORAL
Consignados pedidos de preferência pela União, representada pela Advogada-Geral da União Dra.
Layla Kaboudi, e pela amicus curiae Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias -
Abrainc, representada pela Dra. Elizandra Mendes de Camargo da Ana.
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo o julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Luis Felipe Salomão
acompanhando a divergência, e o voto do Sr. Ministro Marco Buzzi no mesmo sentido, a Seção,
por maioria, no mérito, deu provimento ao recurso especial para julgar improcedente o pedido
formulado na inicial, nos termos do voto do Sr. Ministro Villas Bôas Cueva, que lavrará o acórdão.
Para os fins do artigo 1.036 do CPC/2015, foi fixada a seguinte tese repetitiva:
"Ressalvada a denominada Faixa 1, em que não há intermediação imobiliária, é válida a cláusula
contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão de corretagem
nos contratos de promessa de compra e venda do Programa Minha Casa, Minha Vida, desde que
previamente informado o preço total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor
da comissão de corretagem."
Vencidos os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino (Relator) e Lázaro Guimarães
(Desembargador convocado do TRF 5ª Região).
Votaram com o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva os Srs. Ministros Marco Buzzi,
Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro, Nancy Andrighi e Luis Felipe Salomão.
Impedido o Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira.
Lavrará o acórdão o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva.
Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti.
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