01 Cadeia de Cognição Da Física Do Micromundo.

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CURIOSIDADES DA FÍSICA

José Maria Filardo Bassalo


www.bassalo.com.br

CADEIA DE COGNIÇÃO DA FÍSICA DO MICROMUNDO

[NOTA: A Introdução desse artigo é a mesma do artigo anterior sobre a Física do Macromundo. Quem já
leu o artigo anterior pode passar direto para o trecho seguinte sobre os Modelos Atômicos.]

INTRODUÇÃO

Neste artigo tentaremos mostrar como se desenvolve o


conhecimento da Física e, para isso, utilizaremos uma Cadeia de Cognição
(CC), pois, segundo o físico russo Leonid Ivanovich Ponomarev (n.1937) [In
Quest of the Quantum (Mir Publishers, 1974)], ela é a base de todo
aquele conhecimento. São conhecidos vários aspectos da CC como, por
exemplo, os apresentados pelos físicos e filósofos da ciência, dentre os
quais, destacamos: 1) o argentino Mario Augusto Bunge (n.1919)
[Foundations of Physics (Springer-Verlag, NY, 1967); Philosophy of
Physics (D. Reidel Publishing and Company; Edições 70, 1973); Teoria e
Realidade (Editora Perspectiva/Debates, 1974)]; 2) o austríaco Paul Karl
Feyerabend (1924-1994) [Contra o Método (Editora Francisco Alves,
1975); Diálogos Sobre o Conhecimento (Perspectiva, 2001); Adeus à
Razão (EdUNESP, 2001)]; 3) o húngaro Imre Lakatos (1922-1974) [A Crítica
e o Desenvolvimento do Conhecimento Científico (Cultrix/EdUSP, 1979)];
4) o franco-brasileiro Pierre Henri Lucie (1917-1985) [A Gênese do
Método Científico (Editora Campus, 1977)]; 5) o nipo-brasileiro Jun´ichi
Osada [A Evolução das Ideias da Física (Editora Edgard Blücher/EdUSP,
1972); 6) o brasileiro Antonio S. T. Pires [Evolução das Ideias da Física
(Editora Livraria da Física, 2008)]; e 7) o português José Tito Mendonça
(n.1945) [Uma Biografia da Luz (Livraria da Física, 2015)].
No entanto, para este texto, usaremos a CC proposta por
Ponomarev, aqui um pouco mais elaborada e sintetizada na figura abaixo.
Para a explicação da CC serão usados exemplos físicos. Contudo, achamos
que ela poderá ser mais aprimorada na medida em que o conhecimento
físico-filosófico for evoluindo.
Segundo os físicos brasileiros Mauro Sérgio Dorsa Cattani
(n.1942) e Normando Celso Fernandes (1936-2014) (Informação
Particular, 1975), o estudo da Física é feito por intermédio de um
encadeamento em que se misturam fatos novos com os já conhecidos e
leis novas com as já estabelecidas. Nesse encadeamento, velhas leis são
utilizadas na descrição de fatos novos ou mesmo na ampliação dos já
estudados. Quando as leis conhecidas são insuficientes para a descrição
de novos fenômenos físicos, novas leis deverão ser formuladas. É claro
que deveremos constantemente criticar, tanto os elos quanto à própria
CC, seguindo os trabalhos dos físicos e filósofos da ciência (cada um a sua
maneira), como veremos no decorrer deste artigo.
Inicialmente, diremos que o tangenciamento mútuo
(correlacionamento) entre os círculos que compõem a CC representa a
influência recíproca entre os juízos indicados em cada círculo, na
concepção de que não existe um sentido preferencial para passarmos de
um círculo a outro, ou seja, de que não existe uma relação de causalidade
entre eles.
O contato entre o círculo da teoria e o da experiência possui
um sentido mais amplo do que o referido antes, pois, além de indicar que
toda teoria [modelo teórico, para Bunge (op. cit.) ou programa de
pesquisa para Lakatos (op. cit.)] deverá ser testada experimentalmente e
que nenhuma experiência pode ser planejada e interpretada sem o
recurso da teoria [Feyerabend (op. cit.)]. Tal contacto indica ainda a
existência de uma relação de complementaridade (RC) entre os círculos,
pois que o conhecimento de um só se completa com o conhecimento do
outro. Aliás, essa RC deve ser aplicada a todos os círculos da CC. Em suma,
como afirma Feyerabend (op. cit.), o aprendizado da Física não se
desenvolve da experiência para a teoria, e nem desta para a primeira, mas
sempre envolve as duas, ou seja: sempre existe um correlacionamento
entre elas.
Antes de detalharmos o conteúdo de cada círculo, cremos ser
oportuno fazer um comentário. Há cerca de 2,5 milhões de anos, os
hominídeos começaram a evoluir transformando-se no HOMEM atual
[Leakey, R. E. e Lewin, R. Origens (Edições Melhoramentos/EdUnB, 1981)].
As observações iniciais, tanto no Céu, quanto na Terra, realizada pelo
HOMEM, não fazia a distinção entre a qualidade e a quantidade do que
observava. Essa distinção começou a ser realizada quando o HOMEM
começou a desenvolver as invenções [Sedgwick, W. T., Tyler, H. W. e
Bigelow, R. P. A História da Ciência (Editora Globo, 1950); de Bono, E.
Eureka! Uma História das Invenções (Editorial Labor do Brasil S.A., 1975);
Solla Price, D. de, A Ciência desde a Babilônia (Editora Itatiaia Ltd./EdUSP,
1976); Bronowski, J. A Escalada do Homem (Martins Fontes/EdUnB,
1976); Ronan, C. A. História Ilustrada da Ciência I, II, III (Jorge Zahar
Editor, 1987); Philbin, T. As 100 Maiores Invenções da História (DIFEL,
2006); Challoner, J. (Editor). 1001 Invenções que Mudaram o Mundo
(Sextante, 2010)] (basicamente: dispositivos decorrentes da extensão dos
sentidos, e modelos, oriundos do pensamento) e, com isso, a qualidade
deu origem (grosso modo e em nosso entendimento), ao círculo da
experiência e, a quantidade, ao da teoria. Porém, na medida em que o
conhecimento da Física foi evoluindo, as descobertas e as invenções
foram se correlacionando, de modo que elas passam de um círculo para
outro, ou mesmo, ambas existindo no mesmo círculo. Essa correlação é o
objetivo central deste texto. Vejamos se conseguiremos realizá-lo.
Assim, iniciemos os detalhamentos do conteúdo de cada
círculo. O da experiência que, como mostra a figura, contém dois outros
círculos: observação e fenômeno. Segundo nos fala o filósofo austríaco Sir
Karl Raymund Popper (1902-1994) [O Conhecimento Objetivo (Editora
Itatiaia/EdUSP, 1975)], a observação (O) pode ser: voluntária (OV) e
involuntária (OI). A OV ocorre quando o observador analisa certo
fenômeno (natural e/ou artificial) dentro de seu horizonte de
expectativas (HE) que se constitui na soma total de suas expectativas
conscientes ou sub(in)conscientes. Por exemplo, nas experiências diárias
realizadas em laboratórios de pesquisas ou mesmo didáticos (hoje, muitas
destas são realizadas usando computadores e os aplicativos
computacionais, disponíveis na INTERNET) vários resultados são
reproduzidos constantemente ou novos resultados esperados são
conseguidos. Por outro lado, a OV poderá não corresponder ao HE de
quem a observa, o que ocorrerá quando um resultado novo não esperado
for conseguido e, neste caso, diremos que houve uma OI, também
conhecida como descoberta acidental ou serendipitidade. Registre-se que
este nome deriva de uma estória que é contada em versões diferentes de
acordo com o narrador. Neste artigo, usaremos a versão do patologista
australiano William Ian Beardmore Beveridge (1908-2006) [Sementes da
Descoberta Científica (T. A. Queiroz Editor/EdUSP, 1981)]. Segundo esse
autor, a palavra serendipitidade (“serendipity”) foi inventada pelo escritor
inglês Horace Walpole (Conde de Orford) (1717-1797), em 28 de janeiro
de 1754, em carta que escreveu a um amigo, para representar as
descobertas acidentais. Para tal, ele se baseou em um conto persa de
fadas: - A Princesa de Serendip, antigo nome do Ceilão (hoje: Sri Lanka),
tinha três príncipes pretendentes e a cada um incumbiu uma tarefa
impossível: fracassaram todos os três, mas, no decorrer de seus heroicos
esforços, cada qual, no entanto, fez descobertas afortunadas e
inesperadas, por mero acidente.
Por sua vez, o círculo da teoria é composto de dois outros
círculos: lei e modelo, caracterizados, respectivamente por conceito e
fórmula. Não tentaremos definir estes dois termos, pois eles envolvem
uma longa discussão físico-filosófica. Apenas vamos apresentá-los por
intermédio de exemplos físicos. Muito embora a fórmula possa ser
representada por intermédio de uma expressão matemática, o conceito é
muito mais complexo, já que ele evolui com o tempo. Assim, usaremos
para o conceito a classificação de Bunge (op. cit.) que diz que ele pode ser
formal (decorrente do círculo da teoria) e factual (decorrente do círculo
da experiência). Para compor este texto, usaremos exemplos físicos
envolvendo o Micromundo, sendo este descrito por Modelos Atômicos.

1. MODELOS ATÔMICOS

1. 1. Os Primeiros Modelos Atômicos

Muito embora os filósofos gregos, Leucipo de Mileto (c.460-


c.370) e seu discípulo Demócrito de Abdera (c.470-c.380), hajam proposto
a ideia de átomo como componente último da matéria, por volta de 400 a.
C., a primeira tentativa de apresentar um modelo para explicar esse
“elemento eterno, indivisível e imperecível” dos gregos antigos, só foi
apresentada pelo físico francês André Marie Ampère (1775-1836), em
1814 (Annales de Chimie 90, p. 43), ao supor que os átomos eram
constituídos de partículas menores (subatômicas), que giravam em torno
de um centro, constituindo as famosas correntes amperianas. Com essa
ideia, Ampère pretendia explicar o elemento químico proposto pelo físico
e químico inglês Robert Boyle (1627-1691), em 1661. Mais tarde, em 1828,
o físico e filósofo alemão Gustav Theodor Fechner (1801-1887) propôs que
o “átomo” consistia de uma parte central massiva que atraía
gravitacionalmente uma nuvem de partículas quase imponderáveis.
Um primeiro modelo eletrodinâmico para o átomo foi proposto
pelo físico alemão Wilhelm Eduard Weber (1804-1891) como
consequência de suas pesquisas sobre o eletromagnetismo. Com efeito,
em 1862 e 1871, ele apresentou uma modificação do “átomo
fechneriano” ao supor que a parte central desse “átomo” era eletrizada
com um determinado sinal e que cargas elétricas de sinais opostos
orbitavam em torno dessa parte central de acordo com a lei da força que
propusera em 1846, na primeira de suas famosas publicações
denominadas Elektrodynamische Maassbestimmungen (“Medidas
Eletrodinâmicas”), lei essa dada pela seguinte expressão: F = (e1e2/r2) {1 –
(1 – c2) [(dr/dt)2 – 2r (d2r/dt2)]}, onde dr/dt e d2r/dt2 representam,
respectivamente, a velocidade e a aceleração radiais relativas entre as
cargas elétricas e1 e e2, e c é uma constante que expressa a relação entre
as unidades eletrostática e eletrodinâmica daquelas cargas. Nessa
expressão, o termo dominante (e1e2/r2) representa a força eletrostática
coulombiana [proposta pelo físico francês Charles Augustus Coulomb
(1736-1806), em 1785 (Mémoires de l´Académie des Sciences, Paris, p.
488)], e os demais termos modificam essa força na medida em que as
cargas elétricas apresentam um movimento relativo. Usando esse modelo,
Weber chegou a um resultado muito importante: - Duas cargas de mesmo
sinal nem sempre se repelem. Caso estejam muito próximas uma da outra
elas podem se atrair! Com isto era possível em seu modelo prever e
explicar a estabilidade de um núcleo composto apenas de cargas positivas,
com as cargas negativas orbitando ao redor deste núcleo. Desse modo, vê-
se que a força de Weber dá uma explicação natural para as forças
nucleares, explicando a estabilidade dos núcleos utilizando apenas uma
força eletromagnética clássica [Torres de Assis, A. K. Weber´s
Electrodynamics (Kluwer, 1994; EDUNICAMP, 1995); Torres de Assis, A. K.
and Hernandes, J. A. The Electric Force of a Current: Weber and the
Surface Charges Resistive Conductors Carrying Steady Currents (Apeiron,
2007)].
1.2. Modelos de Lorentz e Thomson

A partir de 1880, o físico holandês Hendrik Antoon Lorentz


(1853-1928; PNF, 1902) começou a elaborar um novo modelo atômico
eletrodinâmico para a matéria, segundo o qual os “elétrons” (que para ele
significava qualquer partícula carregada, positivamente ou negativamente,
com ou sem massa) eram distribuídos no interior da matéria e livres de
oscilarem com certa frequência própria em torno de posições fixas. Esse
modelo foi por ele usado para o desenvolvimento de sua Teoria do
Elétron, a partir de 1892 (Archives Néerlandaises des Sciences Exactes et
Naturales 25, p.363), e que lhe permitiu explicar a dispersão da luz, bem
como prever o Efeito Zeeman (EfZ) (considerado como normal) como que
representa a separação das linhas espectrais do hidrogênio (H) pela ação
de um campo magnético (H) e observado pelo físico holandês Pieter
Zeeman (1865-1943; PNF, 1902), em 1896 (Verhandlungen der
Physikalische Gesellschaft zu Berlin 7, p. 128), e calculado pelo físico inglês
Joseph J. Larmor (1857-1942), em 1897 (Philosophical Magazine 44, p.
503) e por Lorentz, também em 1897 (Annales de Physique 63, p. 278). No
entanto, esse modelo atômico lorentziano apresentava dificuldade para
estudar o espalhamento dos raios-X [estes haviam sido descobertos, em
1895 (Sitzungsberichte der Würzburger Physikalische-Medicinischen
Gesellschaft p. 132), pelo físico alemão Wilhelm Conrad Roentgen (1845-
1923; PNF, 1901)] pela matéria. Para contornar essa dificuldade, o físico
inglês Sir Joseph John Thomson (1856-1940; PNF, 1906), em 1899,
começou a desenvolver um modelo para o átomo, considerando-o como
composto de um grande número de “corpúsculos” carregados
negativamente *“corpúsculos” (mais tarde reconhecidos como elétrons)
para os quais ele havia determinado a relação entre a carga (e) e a massa
(m), em 1897 (Philosophical Magazine 44, p. 295)+, e “alguma” carga
positiva que contrabalançasse a carga negativa total. Logo depois, em
1904, Thomson elaborou um novo modelo atômico para poder explicar
aquele espalhamento. Vejamos qual.
Para Thomson, o átomo era considerado como sendo
constituído por uma carga elétrica positiva, homogeneamente distribuída
na forma de uma esfera de raio da ordem de 1 Å (angström = 10-8 cm), e
movendo-se no seu interior, em anéis concêntricos, um certo número de
elétrons de modo a manter o átomo neutro. Além disso, cada elétron de
carga (e) e massa (m) era considerado ligado ao centro do átomo e
oscilando amortecidamente com frequência angular própria (ω0),
configuração que essa que lhe valeu a denominação de “pudim de
ameixas”, nome esse que é inadequado pois, no “pudim”, o número de
ameixas é distribuído aleatoriamente, enquanto no modelo Thomsiano os
elétrons são distribuídos uniformemente em anéis concêntricos para que
fossem satisfeitas as condições de estabilidade que assegurassem o
equilíbrio, postulando ainda que o número desses anéis fosse mínimo.
[Francisco Caruso e Vitor Oguri, Física Moderna: Origens Clássicas e
Fundamentos Quânticos (Elsevier/Campus, 2006; LTC, 2016)].
Com esse modelo, Thomson conseguiu explicar o
espalhamento Rayleigh [estudado pelo físico inglês John William Strutt,
Lord Rayleigh (1842-1919; PNF, 1904), em 1871 (Philosophical Magazine
41, p. 107)]; o espalhamento dos raios-X pela matéria – logo conhecido
como espalhamento Thomson -; e o espalhamento ressonante que se
relaciona com a luminescência (re-emissão de radiação luminosa por
parte de alguns corpos quando iluminados por radiação eletromagnética).
É oportuno registrar que a seção de choque de espalhamento ( σS ), que
define esses tipos de espalhamento, é calculada relacionando-se a
potência média da radiação devida à oscilação amortecida do elétron
[obtida por Larmor, em 1897 (op. cit.)] à intensidade média da radiação
incidente de frequência ω [demonstrada pelo físico inglês John Henry
Poynting (1852-1914), em 1884 (Philosophical Transactions of the Royal
Society of London 175, p. 343)]. Esses espalhamentos são dados pelas
seguintes expressões:

σS = [32 π (r0)2/3+ × ,ω4 /*(ω2 – ω02)2 + (g ω)2]}; r0 = {e2 /[8 π ε0 m c2]},

onde r0 é o raio clássico do elétron, ε0 é a permissividade elétrica do


vácuo, g é o coeficiente de amortecimento, e c é a velocidade da luz no
vácuo. É interessante ressaltar que, segundo a expressão acima, as seções
de choque de espalhamento para os três tipos de espalhamento referidos
acima são dadas por:

σR ≈ [32 π (r0)2/3+ × (ω / ω0)4 (Espalhamento Rayleigh: ω << ω0),

σT ≈ 32 π (r0)2/3 (Espalhamento Thomson: ω >> ω0),


σRes ≈ (ω0 r0 /g) (Espalhamento Ressonante: ω ≈ ω0).

1.3. Modelo Saturniano: Perrin e Nagaoka

Em 1901 (Revue Scientifique 15, p. 449), o físico francês Jean


Baptiste Perrin (1870-1942; PNF, 1926) propôs um modelo atômico,
segundo o qual os elétrons nos átomos se deslocavam em órbitas em
torno de um caroço central com velocidade da ordem das velocidades
com que os elétrons são arrancados do alumínio (A ) devido ao efeito
fotoelétrico (ver verbete nesta série). Se tal ocorresse, observou Perrin, a
frequência de revolução dos elétrons era da ordem das frequências
ópticas das raias espectrais. Ainda para Perrin, as instabilidades das
órbitas eletrônicas de seu modelo eram as responsáveis pelos fenômenos
da radioatividade, que havia sido descoberta pelo francês Antoine Henri
Becquerel (1852-1908; PNF, 1903), em 1896 (Comptes Rendus
Hebdomadaires de l´Académie des Séances de l´Académie des Sciences
112, p. 420).
A ideia desse modelo de Perrin foi retomada, em 1904 (Nature
69, p. 392; Philosophical Magazine 7, p. 445), pelo físico japonês Hantaro
Nagaoka (1865-1950) ao propor um outro modelo atômico, segundo o
qual o átomo era formado por uma parte central carregada positivamente
e rodeada de anéis de elétrons deslocando-se com a mesma velocidade
angular, um sistema semelhante ao planeta Saturno, com seus anéis,
razão pela qual esse modelo de Nagaoka ficou conhecido como modelo
saturniano. Com esse modelo, Nagaoka procurava explicar as raias
espectrais, bem como as emissões radioativas: alfa (α) e beta (β). Com
efeito, para ele, as oscilações perpendiculares ao plano do movimento dos
anéis resultavam no espectro “tipo banda” (contínuo), enquanto as
oscilações paralelas àquele plano resultavam num espectro “tipo raia”
(discreto). Por outro lado, a quebra de um desses anéis provocava a
emissão (decaimento) beta. É oportuno notar que a emissão de beta β
[junto com a emissão de alfa (α)] havia sido observada pelo físico
neozelandês-inglês Sir Ernest Rutherford (1871-1937; PNQ, 1908), em
1898 (Proceedings of the Cambridge Philosophical Society 9, p. 401), e que
em 1899 em trabalhos independentes, de Becquerel (Comptes Rendus
Hebdomadaires de l´Académie des Séances de l´Académie des Sciences
129, p. 996) e dos físicos, os austríacos Stefan Meyer (1872-1949) e Egon
Ritter von Schweidler (1873-1948) (Physikalische Zeitschrift 1, p. 113), e o
alemão Frederick Otto Giesel (1852-1927) (Annalen der Physik 69, p. 834),
ao observaram a deflexão magnética sofrida por essas partículas. Em 1900
(Comptes Rendus Hebdomadaires de l´Académie des Séances de
l´Académie des Sciences 130, p. 809), Becquerel mostrou que os raios 
eram raios catódicos, isto é, elétrons. Ainda em 1900 (Comptes Rendus
Hebdomadaires de l´Académie des Séances de l´Académie des Sciences
130, p. 1010; 1178), o físico francês Paul Villard (1860-1934) observou que
a radioatividade possuía uma terceira parcela que não era defletida pelo
campo magnético, parcela essa penetrante e semelhante aos raios-X, à
qual Rutherford denominou de gama (γ). Essa descoberta foi confirmada
por Becquerel, também em 1900 (Comptes Rendus Hebdomadaires de
l´Académie des Séances de l´Académie des Sciences 130, p. 1154).
Uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos modelos de
Thomson e de Perrin-Nagaoka era o de saber o número de elétrons em
cada anel, além, é claro, de explicar a sua estabilidade em virtude da
Radiação Larmoniana (RL) [emissão de radiação por parte de um elétron
acelerado conforme demonstrou Larmor, em 1897 (op. cit.)]. Note-se que
antes de esses modelos serem formalmente apresentados, já existia uma
dificuldade em conhecer o número de elétrons e de sua correspondente
distribuição no interior de um átomo. Por exemplo, em 1902 (Transactions
of the Royal Society of Canada 8, p. 79), Rutherford escreveu: - O átomo
de hidrogênio (H) é uma estrutura muito complicada constituída,
possivelmente, de mil ou mais elétrons. Ora, como esse elemento é o
primeiro da Tabela Periódica, podemos imaginar que a dificuldade
aumentava para os demais elementos dessa Tabela. Essa mesma
dificuldade foi enfrentada por Thomson em seu modelo (“pudim de
ameixas”) formulado em 1903 (Philosophical Magazine 6, p. 673) e 1904
(Philosophical Magazine 7, p. 237; Proceedings of the Cambridge
Philosophical Society 13, p. 39). Apesar de conhecer a RL e, portanto, que
ela levaria ao colapso o seu modelo, Thomson discutiu a estabilidade de
seu sistema apenas do ponto de vista dinâmico. Contudo, o número de
elétrons do átomo (H) ainda permanecia um problema para Thomson,
conforme se pode ver em seu livro intitulado Electricity and Matter
(“Eletricidade e Matéria”), publicado em 1904 (Scribner, New York), no
qual escreveu: - O átomo de hidrogênio contém cerca de mil elétrons.
Entretanto, na segunda edição (a primeira foi em 1903) de seu livro
Conduction of Electricity through Gases (“Condução de Eletricidade
através de Gases”), publicado em 1906 (Cambridge University Press),
Thomson mudou de opinião ao afirmar o seguinte: - O número de elétrons
em um átomo situa-se entre 0,2 e 2 vezes o peso atômico de uma
substância. Para o hidrogênio esse número não pode diferir muito da
unidade. Aliás, ainda nesse livro, Thomson escreveu: - As linhas espectrais
não são devidas às vibrações de corpúsculos (isto é, elétrons) no interior do
átomo, mas sim devido às vibrações de corpúsculos em consequência de
um campo de forças exterior ao átomo. É oportuno esclarecer que na
distribuição eletrônica de seu modelo, Thomson usou uma analogia com
os resultados da experiência realizada pelo físico norte-americano Alfred
Marshall Mayer (1836-1897), em 1878 (Philosophical Magazine 5, p. 397)
e 1879 (Philosophical Magazine 7, p. 98), na qual mostrou como pequenos
polos magnéticos se orientam na presença de um campo magnético
intenso [Sir Edmund Taylor Whittaker, A History of the Theories of Aether
and Electricity: The Classical Theories (Thomas Nelson and Sons Ltd.,
1951); The Modern Theories (1900-1926) (Thomas Nelson and Sons Ltd.,
1953); Jadish Mehra e Helmut Rechenberg, The Historical Development of
Quantum Theory, Volume 1 (Springer Verlag, 1982); Abraham Pais,
Inward Bound: Of Matter and Forces in the Physical World (Oxford
University Press, 1995); Caruso e Oguri (op. cit.)].

1.4. Modelo Planetário de Rutherford

A grande dificuldade dos modelos atômicos de Thomson,


Perrin e Nagaoka, formulados entre 1899 e 1904 (ver 1.3.), surgiu quando
o físico neozelandês-inglês Sir Ernest Rutherford (1871-1937; PNQ, 1908) e
seus colaboradores, os físicos, o alemão Hans (Joahnnes) Wilhelm Geiger
(1882-1945) e o inglês Ernst Marsden (1889-1970), começaram a estudar
o espalhamento de partículas α pela matéria. De fato, em 1906
(Philosophical Magazine 11, p. 166; 12, p.134), Rutherford apresentou os
resultados de experiências nas quais observou um pequeno espalhamento
(desvio de aproximadamente 20) de partículas α ao passarem através de
uma lâmina de mica de 0,003 cm de espessura. Em 1908 (Proceedings of
the Royal Society of London A81, p. 174), Geiger estudou o espalhamento
de um feixe de partículas α , oriundo de um composto de rádio, o brometo
de rádio (RaBr2), através de uma lâmina fina de metal [alumínio (A ) e
ouro (Au)]. As partículas α espalhadas eram detectadas em contadores de
cintilações. Usando essa técnica de contagem, Geiger e Marsden, em 1909
(Proceedings of the Royal Society of London A82, p. 495), estudaram o
espalhamento de um feixe de partículas α [oriundas do radônio (Rn)],
através de uma lâmina fina de metal. Nesse estudo, eles observaram que
do feixe, não muito bem colimado e contendo cerca de 8.000 daquelas
partículas, apenas uma delas era refletida, ou seja, era espalhada num
ângulo > 90o. Este tipo de espalhamento foi também comentado por
Geiger, em 1910 (Proceedings of the Royal Society of London A83, p. 492).
Muito embora, em 1910, Thomson tenha usado seu modelo
para explicar (sem êxito) os resultados das experiências de Geiger e
Marsden, os mesmos só foram interpretados por Rutherford, em 1911
(Proceedings of the Manchester Literary and Philosophical Society 55, p.
18; Philosophical Magazine 5, p. 576; 21, p. 669), ao propor seu célebre
modelo planetário do átomo, decorrente da fórmula que deduziu para o
espalhamento de partículas (α ou β) pela matéria – fórmula do
espalhamento de Rutherford (em notação atual):

y = [(n t)/2] × {[Z2 (e E)2 Q]/(m2 u4 r2)} × cosec4 (ϕ/2).

onde y expressa o número de partículas espalhadas sobre a unidade de


área de um anteparo (“screen”) colocado a uma distância r da fonte
espalhadora e num ângulo ϕ medido a partir da direção das partículas
incidentes; n e t denotam, respectivamente, o número de átomos na
unidade de volume da lâmina alvo e sua espessura; m, u e Q representam,
respectivamente, a massa, a velocidade e o número total de partículas
incidentes; Z a carga elétrica do núcleo do átomo que compõe a lâmina
alvo; E a carga elétrica das partículas incidentes (E = 2 e, para a α e E = e,
para a β); sendo e a carga elétrica do elétron. É interessante observar que,
para a dedução dessa célebre fórmula, Rutherford contou com a
colaboração de seu genro, o matemático inglês Ralph Howard Fowler
(1889-1944).
Apesar da formulação desse modelo planetário
Rutherfordiano, o modelo saturniano de Perrin-Nagaoka ainda foi
utilizado pelo físico inglês John William Nicholson (1881-1955) em suas
pesquisas sobre as raias espectrais cósmicas. Com efeito, em 1911
(Philosophical Magazine 22, p. 864; Monthly Notices of the Royal
Astronomical Society 72; p. 139) e em 1912 (Monthly Notices of the Royal
Astronomical Society 72; p. 676; 677; 693), Nicholson desenvolveu um
novo modelo atômico saturniano. Contudo, para deter a RL decorrente do
movimento dos elétrons em seus anéis, Nicholson considerou nula a soma
vetorial das acelerações desses elétrons, e que seus momentos angulares
deveriam variar discretamente e em quantidades proporcionais à
constante de Planck (h). Com esse novo modelo saturniano, Nicholson
explicou que as raias espectrais eram devidas às pequenas vibrações dos
anéis eletrônicos dos átomos primários que, em seu entendimento, eram
de três tipos: coronium, contendo dois elétrons; hidrogênio, com três
elétrons; e nebulium, com quatro elétrons. Para Nicholson, o hélio era
considerado um elemento composto. Mais tarde, mostrou-se que o
nebulium nada mais era do que uma mistura metaestável de oxigênio (O)
e nitrogênio (N), e que o coronium é o ferro (Fe) altamente ionizado.

1.5. Modelo Atômico de Bohr

Para contornar as dificuldades dos modelos atômicos


conhecidos até então (“pudim de ameixas”, saturniano e planetário), o
físico dinamarquês Niels Hendrik Bohr (1885-1962; PNF, 1922), em três
artigos publicados em 1913 (Philosophical Magazine 26, p. 1; 476; 857),
formulou seu modelo atômico quântico baseado em dois postulados:

Primeiro – A energia (W) de cada elétron em uma configuração


estacionária é dada por W = ω τ h/2, onde ω é a frequência de revolução
(angular) do elétron, τ é um número inteiro, e h é a constante de Planck;

Segundo – A passagem dos sistemas entre diferentes


configurações estacionárias é seguida pela emissão de uma radiação
homogênea, para a qual a relação entre a sua frequência (ν) (ou
comprimento de onda λ) e a quantidade de energia emitida (Wτ2 - Wτ1) é
dada por: Wτ2 - Wτ1 = h ν .

De posse desses dois postulados, apresentados em seu primeiro


artigo (julho de 1913), então Bohr passou a deduzir a fórmula empírica de
Balmer-Rydberg-Schuster e que foi deduzida pelo matemático e físico
suíço Johann Jakob Balmer (1825-1898), em 1885 (Verhandlungen der
Naturforscher Gesellchaft zu Band 7, p. 548), e complementada pelos
físicos, o sueco Johannes Robert Rydberg (1854-1919), em 1890
(Philosophical Magazine 29, p. 331) e 1896 (Annalen der Physik 58; p.
674), e o germano-inglês Sir Arthur Schuster (1851-1934), em 1897
(Nature 55, p. 200; 223)], cuja expressão final é dada por:

1/λ = ν/c = R {1/[(τ2)2 - 1/[(τ1)2]},


sendo τ1 = τ2 + 1, τ2 + 2, ... e c a velocidade da luz no vácuo], com a
constante de Rydberg R, usada pelos espectroscopistas, escrita em termos
da massa de repouso m e da carga elétrica e do elétron, da constante de
Planck h e da carga E do núcleo (número atômico) rutherfordiano, ou seja:
R = 2 π2 m e2 E2/(c h2).
Para a energia W e o raio (a) das órbitas dos elétrons, Bohr
obteve, respectivamente:

W = (2 π2 m e2) E2 / (τ2 h2); 2 a = [h2/(2 π2 m e)] (τ2/E),

expressões essas que estão todas no sistema CGS.


Usando as expressões acima para o átomo de hidrogênio (E =
e), Bohr observou que havia um bom acordo entre o seu modelo e alguns
resultados experimentais até então conhecidos. Assim, de posse do valor
de e medido pelo físico norte-americano Robert Andrews Millikan (1868-
1953; PNF, 1923), em 1912 (Transactions of the American Electrochemical
Society 21, p. 185) e 1913 (Physical Review 2, p. 139); do valor de e/m
medido pelo físico alemão Alfred Heinrich Bucherer (1863-1927), também
em 1912 (Annalen der Physik 37, p. 597); e do valor de h proposto pelo
físico alemão Max Karl Ernest Planck (1858-1947; PNF, 1918), em 1900
(Verhandlungen der Deutschen Physikalischen Gesellschaft 2, p. 237), Bohr
obteve os seguintes resultados:

1) Raio da primeira órbita (τ = 1) (Raio de Bohr):

a0 = h2/(2 π2 m e2) = 1,1 × 10-8 cm;

2) Constante de Rydberg

c R = 3,10  1015 s-1;

sendo c R = 3,29  1015 s-1 o valor experimental usado pelos


espectroscopistas.
Note-se que, logo depois, usando o valor experimental de h
medido, em 1913 (Annalen der Physik 40, p. 611), pelos físicos alemães
Emil Gabriel Warburg (1846-1931), G. Leitnäuser, E. Hupka e C. Müller,
Bohr obteve um novo valor para R:

c R = 3,26  1015 s-1;

3) Energia da primeira órbita:


W0 = (2 π2 m e3/h2 ) = 13 eV.

Além do mais, Bohr observou que se na expressão que


deduzira para a frequência ν se fizesse τ2 = 2, ela reproduziria a série de
Balmer (1885); para τ2 = 3, teríamos a série de Paschen [obtida físico
alemão Louis Carl Heinrich Friedrich Paschen (1865-1947), em 1908
(Annales de Physique Leipzig 27, p. 537)]. Afirmou mais ainda que: - Se τ2 =
1 e τ2 = 4, 5, ... obteremos séries situadas, respectivamente, no extremo
ultravioleta e no extremo infravermelho, séries ainda não observadas, mas
cuja existência deve esperar-se. É oportuno registrar que tais séries foram
encontradas: série de Lyman [pelo físico norte-americano Theodore
Lyman (1874-1954), em 1914 (Physical Review 3, p. 504)], na região
ultravioleta; série de Brackett [pelo físico norte-americano Frederick
Sumner Brackett (1896-1972), em 1922 (Nature 109, p. 209)] e série de
Pfund [pelo físico norte-americano August Herman Pfund (1879-1949), em
1924 (Journal of the Optical Society of America 9, p. 193)], na região
infravermelha. Destaque-se ainda que, com esse modelo, Bohr resolveu
também a polêmica que havia sobre a série de Pickering-Fowler ao
mostrar, por intermédio da expressão que deduzira para 1/λ (ver
expressão acima), que tal série era devido ao hélio ionizado (He+), uma vez
que a mesma poderia ser obtida fazendo nessa expressão: E = 2. Note-se
que essa série deve-se ao trabalho do físico e astrônomo norte-americano
Edward Charles Pickering (1846-1919), em 1896 (Astrophysical Journal 4,
p. 369), no qual descreveu as experiências que realizou com o espectro de
raias de algumas estrelas, entre elas a  - Puppis, raias essas que
apresentavam um aspecto curioso: elas praticamente coincidiam com as
séries de Balmer, apenas de maneira alternada, isto é, a primeira série de
Balmer (Hα) praticamente coincidia com a primeira série de Pickering, no
entanto a segunda de Balmer (Hβ) só correspondia à terceira de Pickering,
e assim sucessivamente. Registre-se que essas séries foram redescobertas
pelo físico inglês Alfred Fowler (1868-1940), em 1912 (Monthly Notices of
the Royal Astronomical Society 73, p. 62), usando uma mistura de
hidrogênio (H) e hélio (He).
É interessante notar que, ainda no primeiro artigo de sua
trilogia (reunida no livro: Niels Bohr, Sobre a Constituição de Átomos e
Moléculas (Fundação Calouste Gulbenkian, 1989), além das
demonstrações indicadas acima, Bohr também demonstrou que, se o
momento angular (L) de um elétron em movimento circular (de raio a) em
torno do núcleo de um átomo, tivesse o valor dado por L = τ L0, com L0 =
h/2π = 1,04 × 10-27 erg.s, a energia desse elétron seria estacionária, isto é,
o elétron estaria em um estado quântico de energia bem definida. Aliás,
registre-se que a “quantização do momento angular” já havia sido
sugerida por Nicholson, em 1911 e 1912, em seus trabalhos nos quais
desenvolveu seu modelo atômico “tipo saturniano”, isto é: um caroço
central carregado positivamente rodeado de anéis eletrônicos (ver item
1.4.).

1.6. Modelo Atômico de Bohr-Wilson-Ishiwara-Sommerfeld

Apesar dos êxitos do Modelo Atômico de Bohr (MAB) (êxitos


estes descritos acima), tal modelo não foi capaz de explicar alguns
resultados experimentais então conhecidos como, por exemplo, a
separação (“split”) das linhas espectrais ópticas do hidrogênio (H), quer
pelo uso de espectroscópios de alta resolução – a chamada estrutura fina
-, como observado pelo físico germano-norte-americano Albert Abraham
Michelson (1852-1931; PNF, 1907) e pelo químico e físico norte-americano
Edward Williams Morley (1838-1923), em 1887 (American Journal of
Sciences 34, p. 333; Philosophical Magazine 24, p. 449); quer pela ação de
um campo magnético (H), como foi percebido por Zeeman, em 1896 (op.
cit.) – o conhecido EfZ -, e calculado, independentemente, em 1897, por
Larmor (op. cit.) e também por Lorentz (op. cit.); quer pela ação de um
campo elétrico (E), observação essa realizada pelo físico alemão Johannes
Stark (1874-1957; PNF, 1919) em 1913 (Sitzungsberichte Königlich
Preussische Akademie der Wissenchaften zu Berlin 40, p. 932) – o
denominado Efeito Stark (ES). Acrescido a isso tudo, existia a limitação das
órbitas circulares do MAB. Destaque-se que a pesquisa de Zeeman
resultou da análise das experiências realizadas pelo físico e químico inglês
Michael Faraday (1791-1867) e reunidas no livro deste e intitulado:
Experimental Researches in Electricity 1-2-3 [Taylor and Francis (London
1839-1855)].
Em vista das dificuldades do MAB apontadas acima, algumas
modificações foram então consideradas para contorná-las. Assim, em
1915 (Philosophical Magazine 29, p. 332; 30, p. 394), o próprio Bohr
introduziu correções relativísticas à massa do elétron para poder explicar
a “estrutura fina” produzida por H. Nesse mesmo ano de 1915, os físicos,
o alemão Arnold Johannes Wilhelm Sommerfeld (1868-1951)
(Sitzungsberichte Bayerischen Akademie Wissenchaften zu München p.
425), o japonês Jun Ishiwara (1881-1947) (Tokyo Sugaku Buturi-gakkakiwi
Kizi 8, p. 106), e o inglês William Wilson (1875-1965) (Philosophical
Magazine 29, p. 795), apresentaram uma extensão do MAB a mais um
grau de liberdade dos elétrons em suas órbitas. Essa extensão, que ficou
conhecida como o Modelo de Bohr-Ishiwara-Wilson-Sommerfeld (MB-I-
W-S), é traduzida pela regra de quantização:

(ꭍCC) pi dqi = ni h

onde qi e pi são, respectivamente, as coordenadas e os momentos


canonicamente conjugados dos elétrons, e ni são números inteiros
positivos, i são os graus de liberdade dos movimentos elípticos
eletrônicos, e a integral (ꭍCC) se estende aos períodos correspondentes às
coordenadas.
Ainda em 1915 (Sitzungsberichte Bayerischen Akademie
Wissenchaften zu München p. 459), Sommerfeld formulou uma teoria
relativista de átomos de um-elétron, obtendo a seguinte expressão para a
energia (W) do elétron em sua órbita:

W = [ - Z2 Rh (n2) ] × *1 + α2Z2/n (1/4 + nϕ/nr) + ... ],

onde: n = nr + nϕ, sendo nr e nϕ, respectivamente, os números quânticos:


radial e azimutal. Por outro lado: nr/n = b/a, sendo a e b,
respectivamente, os eixos maior e menor da órbita elíptica do elétron.
Aliás, foi a partir desse artigo que α = 2 π e2 h c ≈ 1/137,
recebeu a denominação de constante de estrutura fina porque a
expressão acima permitia explicar alguns resultados experimentais
relacionados com a estrutura fina das linhas espectrais do H, observada
por Michelson e Morley, e da série de Pickering-Fowler, conforme
registramos antes. Note-se que Bohr já havia demonstrado, em seu
famoso trabalho de 1913, que essa série era devida ao hélio ionizado
(He+), pois bastaria fazer Z = 2 na expressão que deduziu para R, para
explicar a alternância dessa série com a série de Balmer.
Em 1916, o físico russo-norte-americano Paul Sophus Epstein
(1883-1966) (Physikalische Zeitschrift 17, p. 148; 313; Annalen der Physik
50, p. 489) e o astrônomo alemão Karl Schwarzchild (1873-1916)
(Sitzungsberichte Bayerischen Akademie Wissenchaften zu Berlin, p. 548),
em trabalhos independentes, apresentaram uma explicação do ES usando
os resultados do MB-I-W-S. Ainda em 1916 e usando esses mesmos
resultados, o físico e químico holandês Petrus Joseph Wilhelm Debye
(1884-1966; PNQ, 1936) (Physikalische Zeitschrift 17, p. 507; Nachrichten
Königlich Gesellschaft der Wissenchaften zu Göttingen, p. 142) e
Sommerfeld (Physikalische Zeitschrift 17, p. 491; Annales de Physique
Leipzig 51, p. 1; 125) em trabalhos independentes, explicaram o EfZ. É
interessante anotar que, nesses trabalhos, Sommerfeld propôs um
terceiro número quântico m, posteriormente conhecido como número
quântico espacial, ao lado dos números quânticos nr e nϕ que havia
proposto em 1915. Esse novo número quântico determinava a posição das
órbitas do elétron em relação à direção do campo magnético H e, de tal
modo que o cosseno do ângulo (Ѳ) entre a direção desse campo e a
normal do plano da órbita, era dado por: cos Ѳ = m/nϕ. Ora, como m e nϕ
são números inteiros, os valores discretos assumidos por Ѳ indicavam que
os planos das órbitas eram quantizados, fato esse que ficou conhecido
como princípio da quantização do espaço. Ainda em seu trabalho de
1916, Sommerfeld obteve outro resultado muito importante: as linhas do
espectro do H eram deslocadas de ∆ν = ∆ν(Zn) × ∆m, com ∆ν(Zn)
representando o “deslocamento Zeeman” (dZ). Por sua vez, ∆m media a
variação de m, variação essa que só podia assumir os seguintes valores
(∆m = 0, ± 1, ± 2, ...). Ora, em vista dessa “regra de seleção”, esse
resultado de Sommerfeld apenas explicava o EfZ. Por outro lado, não
havia indicação nos cálculos desse trabalho de Sommerfeld de algo que se
relacionasse com os ``tipos mais complexos do efeito Zeeman’’ como, por
exemplo, os observados, em 1898, pelos físicos, o irlandês Thomas
Preston (1860-1900) (Scientific Transactions of the Royal Dublin Society 6,
p. 385), e os franceses Marie-Alfred Cornu (1841-1902), Becquerel
(Comptes Rendus Hebdomadaires de l´Académie des Séances de
l´Académie des Sciences 126, p. 997), Henri Alexandre Deslandres (1853-
1948) (Comptes Rendus Hebdomadaires de l´Académie des Séances de
l´Académie des Sciences 127, p. 18) e, também por Michelson
(Astrophysical Journal 7, p. 131).

1.7. Modelo Vetorial de Sommerfeld-Landé

Segundo vimos até aqui (particularmente nos itens 1.2. e 1.6.),


em 1896, Zeeman começou a estudar a influência de um campo
magnético (H) sobre o estado de polarização da luz e que havia sido
objeto de estudo por parte de Faraday (op. cit.). Desse modo, trabalhando
com um equipamento melhor do que o utilizado por Faraday, ou seja, uma
bobina de Rühmkorff [construída, em 1851, pelo mecânico alemão
Henrich Daniel Rühmkorff (1803-1877) e que se destinava a produzir baixa
intensidade de corrente sob elevada tensão] e que produzia um H de
intensidade da ordem de 10 kilogauss, e uma grade de difração [que o
físico norte-americano Henry August Rowland (1848-1901) construíra, em
1882 (Philosophical Magazine 13, p. 469; Nature 26, p. 211)], Zeeman
observou, naquele mesmo ano de 1896, que as duas linhas amarelas D do
sódio (Na) eram alargadas quando examinadas sob a ação do H
considerado. Ele ainda observou que tais linhas eram circularmente
polarizadas quando observadas paralelamente às linhas de força de H, e
linearmente plano-polarizadas quando a observação era dirigida
perpendicularmente a essas mesmas linhas de força.
Alargamentos semelhantes ao desse espectro do Na foram
ainda observados por Zeeman com outras linhas espectrais, sendo seus
resultados discutidos com Lorentz (de quem, aliás, Zeeman tornou-se
assistente em 1890), uma vez que Lorentz havia, desde 1892,
desenvolvido a sua famosa Teoria do Elétron (ver item 1.2.) segundo a
qual a eletricidade possuía uma estrutura composta de ``partículas
carregadas’’ (denominadas por Lorentz de ``íons’’, a partir de 1895 e, de
elétrons, em 1899), cujas oscilações harmônicas amortecidas no interior
de um corpo eram as responsáveis pela emissão de seu espectro
luminoso. Os resultados dessas experiências de Zeeman foram por ele
apresentados na Reunião da Academia de Ciências de Amsterdam, no dia
31 de outubro de 1896, e o artigo referente aos mesmos foi publicado,
ainda em 1896 (Verhandlungen der Physikalische Gesellschaft zu Berlin 7,
p. 128).
Logo depois, em 1897 (Annalen der Physik 63, p. 278), Lorentz
deu uma explicação teórica para esse novo fenômeno observado por
Zeeman. Assim, usando a sua Teoria do Elétron e considerando os ``íons’’
(mais tarde, elétrons, como vimos acima) como estando presos aos
átomos por uma força do tipo elástica e sujeitos à ação de uma força
externa, demonstrou que, na presença de um campo magnético H, esses
``íons’’ oscilavam na direção desse campo com a frequência própria ν0,
enquanto giravam em órbitas circulares em planos normais à direção de H
com a frequência ν dada por (na notação atual): ν = ν0 ± e H/(4π me c),
onde e e me representam, respectivamente, a carga e a massa do
``íon’’(elétron), c é a velocidade da luz no vácuo, e H é o módulo de H.
Ainda segundo Lorentz, quando a observação do EfZ era feita na direção
do campo magnético, apareciam apenas duas linhas polarizadas
circularmente e em sentido inverso uma da outra. Por outro lado, quando
a observação era feita perpendicularmente ao campo H, apareciam três
linhas, sendo a central polarizada linearmente à direção de H, a chamada
componente π, e as duas extremas, polarizadas também linearmente,
porém perpendicularmente à direção de H, a chamada componente σ
(essa denominação deriva da palavra alemã senkrecht que significa
perpendicular). Essa previsão de Lorentz [desdobramento (``splitting’’) de
linhas espectrais] foi confirmada por Zeeman, pela primeira vez e ainda
em 1897 (Verhandlungen der Königlich Akademie Wetensch. Amsterdam
6, p. 13; 99; 260), observando a linha azul (4800Å) do cádmio (Cd) sob a
ação de H = 32 kilogauss.
É oportuno destacar que, também em 1897 (op. cit.), Larmor
apresentou outra explicação teórica para o EfZ. Segundo ele, o efeito
magnético de um campo magnético H sobre partículas carregadas que
descrevem órbitas circulares era o de superpor à frequência própria de
rotação uma frequência precessional em torno de H e de mesmo valor
calculado por Lorentz. Essa frequência precessional ficou conhecida como
frequência de Larmor νL = [e/(2 me)] × [H/(2 π c)].
O estudo do EfZ continuou despertando muito interesse no
mundo inteiro. Contudo, novas observações experimentais sob a ação de
um campo magnético em uma linha espectral não se ajustaram na
explicação de Lorentz-Larmor. Com efeito, logo em 1898 (op. cit.), o físico
irlandês Thomas Preston (1860-1900) observou que as linhas azuis do
zinco (Zn) (4722Å) e do Cd (4800Å) tornavam-se um quadrupleto na
presença de um campo magnético. Ainda em 1898 (Comptes Rendus
Hebdomadaires de l´Académie des Séances de l´Académie des Sciences
126, p. 181), Cornu obteve outro quadrupleto, desta vez para a linha D do
Na (denominada D1) e um sextupleto para a linha D, também do Na
(denominada D2), resultado esse que foi logo confirmado por Preston.
Também em 1898, Michelson conseguiu separar a linha verde (5460Å) do
mercúrio (Hg) em onze componentes. Além disso, e no mesmo ano de
1898, quadrupletos e outras estruturas complexas foram obtidas por
Becquerel e Deslandres, examinando linhas espectrais do ferro (Fe), no
espectro visível e no ultravioleta.
Esses ``tipos mais complexos (singletos, dupletos, quadrupletos
etc.) do efeito Zeeman’’(conforme Lorentz os denominou), foram
estudados sistematicamente por Preston e, em consequência desses
estudos, formulou em 1899 uma lei denominada de Lei Geral do
Fenômeno da Perturbação Magnética das Linhas Espectrais, segundo a
qual, as séries espectrais de uma dada substância apresentam o mesmo
padrão (“pattern”) de componentes na presença de um campo magnético;
por outro lado, linhas espectrais de diferentes elementos da mesma
família (por exemplo, os álcalis ou as terras raras), têm o mesmo EfZ. Essa
lei (regra) de Preston foi tentada ser explicada, sem sucesso, por Lorentz,
ainda em 1899, usando sua Teoria do Elétron.
Com o propósito de testar a regra de Preston, os físicos
alemães Carl David Tomé Runge (1856-1927) e Paschen, em 1900,
investigaram algumas linhas do mercúrio (Hg) e observaram que, sob a
ação de um campo magnético, a linha verde (5461Å) era separada em
onze componentes e a linha azul (4359Å) em oito. Observaram mais ainda
que, certos pares de linhas (5461Å e 3341.7Å; 4359Å e 2893.7Å)
apresentavam o mesmo número de “componentes Zeeman”, igualmente
separados em frequência. Mais tarde, em 1902, analisando as séries de
tripletos do magnésio ( Mg ), Cd e Hg, e as séries de dupletos do cobre
(Cu), da prata (Ag), do tálio (Tℓ) e do alumínio (Aℓ) e do Na (linhas D),
Runge observou que em todos os casos das linhas correspondentes, elas
apresentavam o mesmo número de componentes magnéticos com a
mesma diferença de frequências. Esse conjunto de resultados referentes
ao “efeito Zeeman complexo”, foi apresentado por Runge em 1907
(Physikalische Zeitschrift 8, p. 232), e conhecidas como Regra de Runge.
Para investigar mais apuradamente essas dificuldades com os
“efeitos Zeeman normal e complexo”, Paschen convidou seu aluno de
doutoramento, o físico alemão Ernst Emil Alexander Back (1881-1959).
Assim, em 1912 (Annalen der Physik 39, p. 897), ao analisarem o lítio (Li) e
outros elementos químicos [por exemplo, hidrogênio (H) e hélio (He)],
eles descobriram que quando o campo magnético começa a aumentar
muitos componentes magnéticos “complexos” sofrem uma
“transformação magnética”, tornando-se cada vez mais fracos, até se
reduzirem ao EfZ. Em outras palavras, o Efeito Zeeman Anômalo (EfZA)
(como eles passaram a chamar, nessa ocasião, o “efeito Zeeman
complexo”) transforma-se no EfZ, à medida que aumenta o campo
magnético externo. Logo depois, em 1913 (Annalen der Physik 40, p. 960),
Paschen e Back confirmariam sua descoberta, ao observarem uma
“transformação magnética” do oxigênio (O), sob um campo magnético de
40 kilogauss. Assim, o Efeito Paschen-Back (EfP-B) [nome cunhado por
Sommerfeld, em 1914 (Nachrichten Königlich Gesellschaft der
Wissenchaften zu Göttingen, p. 207)], explicou a Regra de Preston e a
Regra de Runge.
Em 1920 (Annalen der Physik 63, p. 221), Sommerfeld
conseguiu explicar alguns resultados experimentais relacionados com o
“efeito Zeeman complexo”, usando o MAB-I-W-S, ocasião em que
postulou a existência de um novo número quântico, denominado por ele
de “número quântico interno” e denotado por j, e que, de alguma forma,
deveria estar relacionado com uma rotação “escondida” dentro do átomo.
Esse novo número quântico (que mais tarde foi visto relacionar-se com o
spin do elétron) postulado por Sommerfeld indicava que as órbitas
eletrônicas elípticas deveriam ser desdobradas em outras órbitas.
Esta era a situação do estudo do EfZ e do EfZA quando entram
em cena os físicos alemães Alfred Landé (1888-1975) e Werner Karl
Heisenberg (1901-1976; PNF, 1932). Landé se interessou por esses efeitos
quando leu o livro intitulado Das Leuchten der Gase und Dämpfe
(“Espectroscopia de Gases e Vapores”) (Braunschweig: Fr. Vieweg) escrito,
em 1913, pelo físico alemão Heinrich Mathhias Konen (1874-1948). Então,
para explicá-lo, em 1921, Landé publicou dois trabalhos. No primeiro deles
(Zeitschrift für Physik 5, p. 231), considerou que o número quântico j
proposto por Sommerfeld (que o denominou de k) significava o “número
quântico azimutal” do átomo como um todo (correspondente ao
momento angular total do átomo), e cuja projeção na direção de H era
representado por um outro número quântico chamado por ele de
“número quântico equatorial” e denotado por m. Desse modo, para
Landé, o estado estacionário de energia (E) de um átomo em um campo
magnético externo (H) era dado pela expressão: E = E1 + g m h ν L , onde E1
é o estado de energia do átomo não perturbado e g é um “fator de
proporcionalidade”, mais tarde conhecido como fator de Landé. Para
explicar os singletos, dupletos e tripletos Zeemanianos, Landé então
propôs que m = 0, ± 1, ± 2, ... ± j, para singletos e tripletos, e m = ± 1/2, ±
3/2, ... ± (j – ½), para os dupletos e, mais ainda, que na transição óptica,
deveríamos ter: Δm = 0 ± 1. Quanto ao g, Landé propôs que ele seria
unitário no caso do EfZ, e assumiria valores diferentes de um (g ≠ 1) para o
EZA. No segundo trabalho (Zeitschrift für Physik 7, p. 398), Landé observou
que, por ser g ≠ 1 no EfZA, então a razão giromagnética do elétron
[relação entre o momento magnético do elétron (μ = e v r/2) e o seu
momento angular (L = me v r) em sua órbita circular de raio (r) e
velocidade (v) em torno do núcleo atômico] era diferente de seu valor
clássico, qual seja: μ/L = e/(2 me). Ora, como νL é função dessa relação [νL
= e/(2me)  H/(2πc), como vimos acima], então Landé propôs que essa
expressão deveria ser alterada para explicar a anomalia (que será tratada
mais adiante) que encontrou ao estudar o movimento do elétron atômico
na presença de um campo magnético externo.
Como Landé não havia apresentado base teórica para seu
modelo, vários trabalhos teóricos foram então realizados no sentido de
encontrar essa base. Vejamos quais. Em 1921, Heisenberg participava dos
seminários ministrados por Sommerfeld, na Universidade de Munique, a
respeito da Teoria das Linhas Espectrais. Em um desses seminários, ele
pediu que Heisenberg examinasse os últimos dados experimentais
apresentados por Back, nesse mesmo ano de 1921, sobre o EfZA, levando
em consideração a teoria que Sommerfeld desenvolvera, em 1920, sobre
os “números misteriosos”. Depois de examiná-los, Heisenberg foi a
Sommerfeld e apresentou-lhe a ideia de que os estados dupletos
poderiam ser mais bem interpretados se os “números misteriosos
sommerfeldianos” fossem considerados como semi-inteiros e não
inteiros, conforme Sommerfeld havia admitido. Ao saber disso,
Sommerfeld ficou muito chocado e falou a Heisenberg: - Isto é
absolutamente impossível. O único fato que conhecemos sobre a teoria
quântica é que existem números inteiros e não semi-inteiros. [David C.
Cassidy, Uncertainty: The Life and Science of Werner Heisenberg (W. H.
Freeman and Company, 1992).] Refeito do choque e pensando na
proposta de Heisenberg, Sommerfeld convidou Heisenberg para que, no
verão de 1922, o acompanhasse até Göttingen, onde Bohr iria ministrar
algumas conferências e, desse modo, pudesse conhecê-lo pessoalmente
para que, se houvesse oportunidade, apresentar-lhe sua hipótese. Cada
uma dessas conferências era seguida de longas discussões e, ao final da
terceira, Heisenberg fez uma ousada observação crítica sobre o estado
atual da Teoria das Linhas Espectrais e, provavelmente, falou sobre os
“números quânticos fracionários”. Essa ousadia valeu-lhe um convite de
Bohr para caminharem a uma montanha próxima de Göttingen para
discutirem mais sobre a espectroscopia. Como resultado dessa caminhada
surgiu o convite de Bohr para que Heisenberg fosse a Copenhague
trabalhar com ele, pelo menos por um semestre, para que juntos
pudessem “fazer um pouco de física”. *Antônio Fernando Ribeiro de
Toledo Piza, Schrödinger & Heisenberg: A Física além do Senso Comum
(Odysseus, 2003).]
A hipótese de Heisenberg sobre “números quânticos
fracionários” foi desenvolvida por ele em seu primeiro trabalho científico,
publicado em 1922 (Zeitschrift für Physik 8, p. 273). Nesse trabalho, ele
apresentou o modelo de caroço (core model) segundo o qual, em um
átomo de muitos elétrons, um grande número deles circula em torno do
núcleo compondo um “caroço de elétrons”, enquanto os mais externos
são fracamente ligados a esse mesmo núcleo, constituindo os chamados
“elétrons ópticos” (ou “elétrons de valência”), que são os responsáveis
pelas transições (radiação) eletrônico-ópticas bohrianas. Assim, para
explicar os dupletos do EZA, nesse seu primeiro trabalho, Heisenberg
postulou que o “caroço de elétrons” era dotado de um momento angular
igual a ℏ/2 (com ℏ = h/2π) e que o “elétron de valência” era dotado de um
momento angular igual a (nϕ – 1/2) ℏ, sendo que o dupleto decorria,
exatamente, do alinhamento e do antialinhamento, respectivamente,
desses momentos angulares. Note-se que a ideia de tratar um átomo de
muitos elétrons, separando os mesmos em uma parte interna (“caroço de
elétrons”) e uma parte externa (“elétrons de valência”), já havia sido
utilizada por Sommerfeld, em 1916.
Ainda no ano de 1922 aconteceu um fato muito importante
para o entendimento da Espectroscopia Atômica, isto é, a descoberta de
espectros com mais de três linhas e não decorrentes de separação
magnética, descoberta essa realizada, independentemente, pelo físico
espanhol Miguel Antonio Catalán (1894-1957) (Philosophical Transactions
of the Royal Society of London A223, p. 127) e por uma estudante de
Paschen, Hilde Gieseler (Annalen der Physik 69, p. 147) ao estudarem,
respectivamente, os espectros do manganês (Mn) e do cromo (Cr). Para
explicar esses multipletos (nome cunhado por Catalán), Sommerfeld
esboçou o Modelo Vetorial Atômico (MVA) em trabalho publicado em
1923 (Annalen der Physik 70, p. 32), no qual considerou que o momento
angular total (J) de um átomo, era a composição vetorial entre o
momento angular total (J0) do átomo nãoexcitado e o momento angular
(J1) da excitação, sendo inteiros os números quânticos associados a esses
dos momentos. No entanto, dificuldades com os átomos álcalis (Li, Na,
etc.) levaram Sommerfeld a adicionar o momento angular proposto por
Heisenberg para o “caroço de elétrons”, isto é, ℏ/2, tanto para J0 quanto
para J1.
Esse MVA (proposto por Sommerfeld) foi retomado por Landé,
ainda em 1923 (Zeitschrift für Physik 15, p. 189), porém com outra
interpretação. Com efeito, para Landé o momento angular total (J) do
átomo seria a soma vetorial entre o momento angular (K) dos “elétrons de
valência” e o momento angular (R) do “caroço de elétrons”, ou seja: J = K
+ R. De posse desse “modelo vetorial”, Landé explicou o EfZA supondo
que, enquanto os vetores K e R precessionavam em torno de J, este
precessionava em torno do campo magnético externo H. Assim,
considerando que os números quânticos correspondentes aos três
momentos angulares eram “números fracionários heisenbergianos”,
Landé deduziu uma nova expressão para g, ou seja: g = 1 + (j2 + k2 – r2)/2
j2. É importante registrar que, com o desenvolvimento da Mecânica
Quântica, em 1925-1926, foi visto que o valor de g que melhor se ajustaria
aos resultados experimentais seria aquele em que os quadrados dos
números quânticos fossem substituídos pelo produto dele por ele próprio
adicionado da unidade [por exemplo: j2 = j (j + 1)]. [A. d´Abro, The Rise of
the New Physics 1, 2 (Dover Publications, Inc., 1952)]
Apesar do grande avanço alcançado pelo Modelo Vetorial de
Sommerfeld-Landé (MVS-L) no sentido de explicar, quer o EfZA, quer a
estrutura de multipletos, novos resultados experimentais [como os
“supermultipletos” observados nos espectros do néon (Ne) e dos alcalinos
terrosos (berílio - Be, cálcio - Ca, Mg, etc.)] não conseguiam ser explicados
por esse modelo. Em vista dessa dificuldade, esse modelo passou a ser
questionado. Um dos primeiros questionamentos foi apresentado pelo
físico austro-norte-americano Wolfgang Pauli Junior (1900-1958; PNF,
1945), em dois trabalhos realizados em 1925 (Zeitschrift für Physik 31, p.
373; 765), nos quais tratou relativisticamente o elétron naquele modelo e,
com isso, demonstrou que os “componentes Zeeman” deveriam depender
do número atômico Z do átomo considerado. No entanto, tal dependência
não era conhecida experimentalmente e nem foi confirmada
posteriormente; em consequência disso, Pauli inferiu que o momento
angular R, atribuído ao “caroço de elétrons” por Landé, era devido a uma
nova propriedade quanto-teórica do elétron e à qual denominou de uma
duplicidade não descritível classicamente.
O exame do espectro de multipletos de átomos álcalis e
alcalinos terrosos levou Pauli, nos dois trabalhos referidos acima, a
formular o seu “modelo atômico” composto de quatro números quânticos
para o elétron, assim distribuídos: o número quântico principal bohriano
(n), o número quântico azimutal sommerfeldiano [nϕ (k)] e dois números
quânticos magnéticos (m1 e m2), sendo que, em alguns casos, eram
considerados dois k (k1 e k2) e apenas um m (m1). De posse desse modelo,
Pauli passou a examinar a Tabela Periódica dos Elementos e, na segunda
parte do segundo trabalho de 1925, ele formulou o seu célebre Princípio
da Exclusão (PE): - Dois elétrons em um campo de força central nunca
podem estar em estados de energia de ligação com os mesmos quatro
números quânticos. Então, baseado nesse princípio, Pauli conseguiu
distribuir os elétrons nas diversas camadas eletrônicas (níveis K, L, M, N,
...) e, com isso, a uma primeira explicação daquela Tabela foi então
conseguida.
Nessa altura em que havia uma verdadeira disputa entre os
modelos atômicos, o MVS-L e o dos “quatro números quânticos” de Pauli,
é que apareceu a ideia do spin do elétron, ou seja, a ideia de que o elétron
apresentava uma “rotação própria”. Aliás, é interessante ressaltar que a
hipótese de o elétron possuir um “momento angular intrínseco” já havia
sido sugerida pelo físico norte-americano Arthur Holly Compton (1892-
1962; PNF, 1927), em 1921 (Journal of the Franklin Institute 192, p. 145),
com o objetivo de explicar as propriedades magnéticas do metal,
propriedades essas que decorreriam do momento magnético (μ) do
elétron associado ao “momento angular intrínseco”. Porém, para
Compton, esse momento angular valia ℏ. No entanto, quem teve a ideia
de usar esse “momento angular intrínseco” do elétron no sentido de
explicar o EfZA, bem como para explicar a estrutura de multipletos e
supermultipletos, foi o físico alemão Ralph de Laer Krönig (1904-1995), no
começo de 1925. Com efeito, para Krönig, o quarto número quântico
proposto por Pauli nada mais era do que o momento angular próprio do
elétron, que, contudo, valia ℏ/2. Ao discutir essa sua hipótese com Pauli,
na presença de Landé, Pauli com a sua proverbial atitude de reagir quase
sempre contra ideias novas, disse enfaticamente para Krönig: - Isto é,
seguramente, uma ideia bastante inteligente, mas a Natureza não é assim.
[Jagdish Mehra and Helmut Rechenberg, The Historical Development of
Quantum Theory 1 (Springer Verlag, 1982)]. Em vista dessa afirmativa,
Krönig não publicou de imediato esse sua ideia, só vindo a fazê-lo, junto
com físico holandês Samuel Abraham Goudsmit (1902-1978) (este como
primeiro autor), em 1925 [Naturwissenschaften 13, p. 90 (01/1925,
enviado em 12/1924)]. Em novembro de 1925 (Naturwissenschaften 13,
p. 953), o físico holandês George Eugene Uhlenbeck (1900-1988) junto
com Goudsmit, publicaram o hoje famoso trabalho no qual propuseram
associar o quarto número quântico de Pauli com uma “rotação intrínseca
do elétron” (spin), e com essa hipótese explicaram vários resultados
experimentais espectroscópicos, principalmente o EfZA.
É oportuno registrar que a ideia de atribuir spin ao elétron foi
apenas de Uhlenbeck ao raciocinar da seguinte maneira. Segundo Pauli,
há quatro números quânticos caracterizando o elétron; então deve haver
quatro graus de liberdade. Ora, como há três graus de liberdade de
translação do elétron em torno do núcleo, então o quarto grau de
liberdade só poderia ser devido a uma “rotação interna” do elétron,
concluiu Uhlenbeck. Goudsmit, por sua vez, não concordava com essa
hipótese, pois admitia que o número quântico mS (que considerou em
substituição ao m1 de Pauli), deveria assumir apenas os valores +1/2 e -
1/2. Contudo, a hipótese do spin de Uhlenbeck explicava a razão pela qual
o mS de Goudsmit só poderia assumir os dois valores indicados acima.
[(Mehra and Rechenberg, op. cit.)].

1.8. O Átomo de Schrödinger/Dirac

O MVS-L, desenvolvido entre 1920 e 1923 (ver item 1.7.),


apresentava grandes dificuldades: ele não conseguia demonstrar, por
intermédio de uma equação, como encontrar os níveis de energia das
órbitas; explicar a razão dos números quânticos; e, também, como
ocorrem as transições quânticas entre aqueles níveis. Tais dificuldades
foram contornadas em várias etapas. Vejamos quais. Em 1924, o físico
francês, o Príncipe Louis Victor Pierre Raymond de Broglie (1892-1987;
PNF, 1929) apresentou à Faculdade de Ciências da Universidade de Paris
sua Tese de Doutorado, na qual há sua interpretação ondulatória da
matéria: o elétron descreve uma “onda-piloto” em sua órbita bohriana.
Tal interpretação, a princípio, causou certo ceticismo por parte dos físicos.
Ao ler esse trabalho de de Broglie, o físico e químico holandês Petrus
Joseph Wilhelm Debye (1884-1966; PNQ, 1936) sugeriu ao físico austríaco
Erwin Schrödinger (1887-1961; PNF, 1933) que este fizesse um seminário
sobre as ideias do Príncipe francês. Imediatamente Schrödinger recusou,
dizendo: - Eu não quero falar sobre tal “nonsense”. Porém, como Debye
era o chefe do grupo de pesquisa, do qual participava Schrödinger, ele
enfatizou que esse seminário era importante para a formação do referido
grupo. Schrödinger, então, aceitou e prometeu apresentar as ideias de de
Broglie em uma forma matemática mais compreensível. E assim, em 1926,
propôs a hoje famosa Equação de Schrödinger (ES):

8 2 me  
 ( x, y, z )  E  V ( x, y, z) ( x, y, z)  0  H (r )  E (r ) ,
h2

onde  ( x, y, z) é conhecida como Função de Onda de Schrödinger, H é o


operador Hamiltoniano {dado pela soma das energias potencial (V) e
cinética [T= p2/2m, com p = i (h/2  )  : operador momento linear]},
   2 , E é a energia do elétron em uma órbita atômica estacionária, me é
a massa do elétron, h é a constante de Planck, e  [= (∂/∂x, ∂/∂y, ∂/∂z)]
é o operador gradiente. É interessante registrar que, segundo Debye
contou ao físico russo Piotr Leonidovich Kapitza (1894-1984; PNF, 1978),
por ocasião da apresentação do seminário de Schrödinger sobre esse
assunto, este não estava muito convicto da equação que estava propondo.
Foi Debye, presente a esse seminário, quem disse a Schrödinger, ao
termino de seu seminário: - Você fez um trabalho extraordinário.
Para obter os níveis de energia E (autovalores) do átomo de
hidrogênio (H) por intermédio de sua equação, Schrödinger utilizou as
técnicas matemáticas encontradas no livro Methoden der Matematischen
Physik (“Métodos da Física-Matemática”) dos matemáticos alemães
Richard Courant (1888-1972) e David Hilbert (1862-1943), publicado em
1924 (Springer-Verlag). Ao encontrar um aspecto discreto de energias (n),
idêntico ao obtido por Bohr em seu célebre modelo atômico formulado
em 1913 (ver item 1.5.), Schrödinger observou que a quantização da
energia decorria, automaticamente, de sua formulação matemática. Aliás,
o título de seus trabalhos – Quantisierung als Eigenwertproblem
(“Quantização como um problema de autovalores”) – sintetiza os
 
resultados por ele obtidos, pois a sua segunda equação [ H (r )  E (r ) ] é
conhecida na Matemática como uma equação de autovalores. Ainda na
solução de sua equação para o átomo H, Schrödinger mostrou também a
quantização dos números quânticos: orbital (  ) e magnético (m = -  , ... ,
0, ... +  ). [Walter John Moore, A Life of Erwin Schrödinger (Cambridge
University Press, 1994; Bassalo & Caruso, Schrödinger (Livraria da Física,
2014))].
A dificuldade das transições quânticas bohrianas foi resolvida
pelo físico alemão Max Born (1882-1970; PNF, 1954), em 1926, ao
interpretar a função schrödingeriana ( ) como uma amplitude de
probabilidade, e  2 como a probabilidade de encontrar o elétron em
uma determinada órbita bohriana caracterizada por  . [Bassalo & Caruso,
Born (Livraria da Física, 2014).]
Apesar do grande sucesso da ES, ele apresentava ainda algumas
dificuldades, tais como: 1) os níveis de energia das órbitas eletrônicas
bohrianas eram degenerados, pois dependiam apenas do número
quântico principal de energia (n); 2) ela era não relativista, ou seja, a
energia cinética (T) era dada por: T= p2/2m; 3) não incluía o spin (s),
proposto pelos físicos holandeses George Eugene Uhlenbeck (1900-1988)
e Samuel Abraham Goudsmit (1902-1978), em 1925, que representava
uma espécie de rotação interna do elétron – que poderia assumir dois
valores: s = ±ℏ/2 *“up” (  ) e “down” (  )]. Para contornar essa ausência
de s na ES, uma interpretação quanto-mecânica-schrödingeriana desse
número quântico de spin foi apresentada, em 1927, em trabalhos
independentes dos físicos, o austro norte-americano Wolfgang Pauli
Junior (1900-1958; PNF, 1945) (Zeitschrift für Physik 43, p. 601) e o inglês
Charles Galton Darwin (1887-1962) [neto do lendário naturalista Charles
Robert Darwin (1809-1882)] (Proceedings of the Royal Society of London
  
115A, p. 1). Para Pauli, s   / 2 , onde  são as famosas matrizes (2 x 2)
de Pauli. Contudo, esse tratamento quântico de Pauli-Darwin [equação de
Pauli-Darwin (EP-D)] permanecia ainda não-relativista e com o spin
introduzido ad hoc.
As dificuldades das ES e EP-D foram contornadas pelo modelo
atômico quântico relativístico. Com efeito, em 1928, o físico inglês Paul
Adrien Maurice Dirac (1902-1984; PNF, 1933) formulou a Teoria
Relativística do Elétron, conhecida como Equação de Dirac (ED):

(i    - me c)  = 0,

onde  é a matriz de Dirac (matriz 4  4),  = /x ( = 1, 2, 3, 4),  é o


spinor de Dirac (matriz coluna), me é a massa do elétron, e c é a
velocidade da luz no vácuo.
A ED conseguiu remover a degenerescência dos níveis de
energia das órbitas eletrônicas bohrianas (dependência apenas do número
quântico de energia n) indicada pela ES, conforme se pode ver na
expressão:

Enj ~ me c2[1 – Z2  2 /(2 n2) – Z4  4 /(2 n4) {n/(j + ½)} – ¾],

onde Z é o número atômico,  [= 2 π (e2) h c ≈ 1/137] é a constante de


estrutura fina, j = ℓ + s, é o momento angular total, ℓ é o momento
angular orbital, e s é o momento angular de spin.
No entanto, apesar da ED resolver a degenerescência da ES, ela
apresentou uma nova degenerescência entre os níveis de energia 2 s1/2 e 2
p1/2 do átomo de hidrogênio (H). Note-se que, de um modo geral, o nível
de energia das órbitas atômicas é caracterizado por: nℓj, onde n, ℓ, j (j = ℓ
± 1/2) representam, respectivamente, os números quânticos: principal
(energia), momento angular orbital e momento angular total. Observe-se
que a “onda s”, corresponde a ℓ = 0 e a ”onda p”, a ℓ = 1. Registre-se que
essa degenerescência só foi resolvida pela Eletrodinâmica Quântica (ED)
desenvolvida por Dirac, em 1927, e pelos físicos, o japonês Sin-Itiro
Tomonaga (1906-1979; PNF, 1965), em 1943, e os norte-americanos
Richard Phillips Feynman (1918-1988; PNF, 1965) e Julian Seymour
Schwinger (1918-1994; PNT, 1965), entre 1947 e 1949. Sobre a EQ ver, por
exemplo, os textos: Richard Phillips Feynman, Quantum Electrodynamics
(W. A. Benjamin, Inc., 1962); José Leite Lopes, Introducción a la
Electrodinámica Cuántica (Editorial Trillas, 1977); Silvan S. Schweber, QED
and the men who made it: Dyson, Feynman, Schwinger, and Tomonaga
(Princeton University Press, 1994); Walter Greiner and Joachim Reinhardt,
Quantum Electrodynamics (Springer-Verlag, 1996); Peter Goddard
(Editor), Paul Dirac: The Man and His Work (Cambridge University Press,
1998); José Maria Filardo Bassalo, Eletrodinâmica Quântica (Livraria da
Física, 2006)].
É interessante ressaltar que os trabalhos de Dirac sobre a
Mecânica Quântica foram apresentados por ele no livro intitulado The
Principles of Quantum Mechanics, publicado pela Oxford University Press,
1930. Nesse livro, ele conceitua a hoje famosa função delta de Dirac (δ),
muito usada em Física para representar quantidades discretas por
intermédio de uma função contínua.

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