Texto Carta Cacique Seattle
Texto Carta Cacique Seattle
Texto Carta Cacique Seattle
Prof.ª Elisabete
3º trimestre - 2023
Este documento - dos mais belos e profundos pronunciamentos já feitos a respeito da defesa do
meio ambiente - vem sendo intensamente divulgado pela ONU (Organização das Nações Unidas).
É uma carta escrita, em 1854, pelo chefe Seattle ao presidente dos EUA, Franklin Pierce, quando
este propôs comprar grande parte das terras de sua tribo, oferecendo, em contrapartida, a
concessão de uma outra "reserva".
Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa ideia nos parece
estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, com é possível comprá-los?
Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro,
cada punhado de areia das praias, a penumbra da floresta densa, cada clareira e inseto a
zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo
das arvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho.
Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar
entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do
homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são
nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, os
sulcos úmidos nas campinas, o calor do potro, e o homem - todos pertencem a mesma
família.
Portanto Grande Chefe de Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra,
pede muito de nós. O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver
satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar
sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não será fácil. Essa terra é sagrada para nós.
Essa água brilhante que escorre nos riachos não é apenas água, mas o sangue de
nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se que ela é
sagrada e devem ensinar as suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas
límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida de meu povo. O murmúrio
das águas é a voz de meus ancestrais.
Os rios são nossos irmãos e saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e
alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar
a seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também. E, portanto, vocês devem dar
aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção da
terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à
noite e extrai da terra aquilo de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e
quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus
antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se
importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe,
a terra, e seu irmão, o céu como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas
como carneiros. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.
Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere
os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não
compreenda.
Não há lugar quieto na cidade do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir
o desabrochar das flores na primavera ou o bater das asas de um inseto. Mas talvez porque
eu sou um selvagem e não compreenda. O ruído parece somente insultar os ouvidos. E o
que resta da vida se um homem não pode ouvir o canto solitário de uma ave ou o debate
dos sapos ao redor de uma lagoa à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo.
O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio
verão limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.
O ar é precioso para o homem vermelho pois todas as coisas compartilham o mesmo
sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Como um homem
agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos nossa terra ao
homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu
espírito com toda a vida que mantém. O vento que deu a nosso avô seu primeiro aspirar
também recebe seu último suspiro. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la
intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o
vento açucarado pelas flores dos prados.
Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos
aceitar, imporei uma condição, o homem branco deve tratar os animais dessa terra como
irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo outra forma de agir. Vi um milhar de búfalos
apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que o alvejou de um trem ao
passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro
pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos somente para permanecermos
vivos.
O que é os homens sem os animais? Se todos os animais se fossem os homens
morreriam de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve
acontece com o homem. Há uma ligação em tudo.
Vocês devem ensinar as suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos
avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas
de nosso povo. Ensinem as suas crianças o que ensinamos as nossas que a terra é nossa
mãe. Tudo o que acontecer à Terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem
no solo, estão cuspindo em si mesmos.
Isto sabemos: a terra não pertence ao homem, o homem pertence à terra. Isto
sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une a família. Há uma ligação
em tudo.
O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o
tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fazer ao tecido, fará a si
mesmo.
Mesmo o homem branco cujo Deus caminha e fala como ele de amigo para amigo,
não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo.
Veremos. De uma coisa estamos certos e o homem branco poderá vir a descobrir um dia:
nosso Deus é o mesmo Deus. Ele é o Deus do homem, e Sua compaixão é igual para o
homem vermelho e para o homem branco. A terra lhe é preciosa, e feri-la é desprezar seu
criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo que todas as tribos. Contaminem
suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos.
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força
do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre o
homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos
os búfalos sejam exterminados, os cavalos sejam todos domados, os recantos secretos da
floresta densa impregnadas do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruídos
por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu.
É o final da vida e o início da sobrevivência.