Apostila Completa Manejo Fertilidade Conservacao Solo Agua

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MANEJO, FERTILIDADE,

CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA
ÁGUA
AULA 1

Prof. Klaus Dieter Sautter


CONVERSA INICIAL

Vocês já pensaran na importância do solo? Será que conseguiríamos


viver sem solo? Como plantaríamos nossas culturas agrícolas? Como criaríamos
nosso gado? É complicado, não é mesmo? Pois bem, o solo é de fundamental
importância para o planeta, para o meio ambiente e, principalmente, para o ser
humano. Por isso é tão importante entendermos o solo e como ele é formado,
para então podermos usá-lo – e usá-lo com cuidado, conservando-o para as
futuras gerações e para a manutenção do meio ambiente. Vamos, então,
aprender um pouco mais sobre o solo.

TEMA 1 – MAS... O QUE É SOLO?

Desde que o ser humano começou a interagir com o meio ambiente à sua
volta, ele viu como o solo é importante. Primeiramente, ele buscava plantas,
frutas e caça; era o ser humano coletor-caçador. Mas, depois, viu que poderia
dominar alguns elementos do meio à sua volta e começou a desenvolver a
agricultura. Estima-se que a agricultura começou por volta de 7 mil a.C., na
Mesopotâmia. E daí começou uma relação muito estreita entre o ser humano e
o solo e que tem se tornado cada vez mais importante.
O conceito de solo pode variar de pessoa para pessoa, dependendo de
sua relação com o solo. Você já pensou nisso? Por exemplo, um engenheiro de
minas considera o solo somente como um detrito que deve ser retirado para que
ele explore um certo mineral com valor econômico. Para o geólogo, o solo é o
resultado final da evolução das transformações que nosso planeta sofreu ao
longo do tempo. Para o engenheiro de estradas, o solo é o material em que deve
ser construída uma estrada. O engenheiro civil, por exemplo, tem o solo como o
substrato que vai segurar a construção de uma habitação em pé. Já no setor
agrícola, o solo é a base fundamental para a produção agrícola.
Do ponto de vista histórico, o solo tem sido estudado em três bases
principais: como meio para que as plantas se desenvolvam; como produto do
intemperismo das rochas; como um corpo natural (Figura 1). Examinemos cada
uma dessas bases.

1. Como meio para que as plantas se desenvolvam: as plantas, para


desenvolver-se, precisam de algumas condições básicas, como luz, água,

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nutrientes e um substrato para que suas raízes se fixem. E é exatamente
isso o que o solo proporciona se bem manejado ou conservado.
2. Como produto do intemperismo das rochas: com o avanço da geologia, a
partir do século XVIII, os solos começaram a ser vistos como produto da
alteração das rochas originais, criando assim os diferentes tipos de solos
que encontramos hoje e dando início a sua classificação.
3. Como um corpo natural: com a evolução da capacidade de entendimento
do ser humano do ambiente à sua volta, os solos começaram a ser vistos
como corpos naturais organizados de forma específica. Vimos que o solo
é formado por uma série de interações entre os diferentes elementos do
meio ambiente, como material de origem, clima, relevos, diferentes
organismos, que, atuando em conjunto e ao longo do tempo, formam os
diferentes tipos de solos, cada um com características próprias.

Figura 1 – O estudo do solo

Crédito: VectorMine/Shutterstock.

Existem muitas definições de solo, mas todas giram em torno de algumas


ideias básicas. Citaremos a definição de Beck et al. (2000).

Solo: corpo natural da superfície terrestre, constituído de materiais


minerais e orgânicos resultantes das interações dos fatores de
formação (clima, organismos vivos, material de origem e relevo)
através do tempo, contendo matéria viva e em parte modificado pela
ação humana, capaz de sustentar plantas, de reter água, de armazenar
e transformar resíduos e suportar edificações.

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Você sabia que existem dois caminhos a seguir no estudo dos solos? Pois
é. Existem a pedologia e a edafologia. Na pedologia, estudamos o solo como
corpo natural, ou seja, na sua essência, e não damos muita importância para a
utilização prática do solo. O pedologista tem como intuito estudar como os solos
são formados, sua estrutura natural e, principalmente, sua classificação. É claro
que os estudos desenvolvidos pelos pedologistas vão impactar fortemente o uso
prático do solo. Já os edafologistas vêem o solo de maneira bem mais prática,
do ponto de vista das plantas. Os edafologistas correlacionam as características,
as propriedades do solo com as necessidades das plantas, com a produção
vegetal. É claro que ambas as áreas são de fundamental importância para o ser
humano. Precisamos da visão da pedologia e da edafologia.
Mas por que o solo é tão importante assim? O solo é a base, é o suporte
da vida no nosso planeta. O solo é a base de toda a produção vegetal e também
da pecuária, dando, assim, alimentos para as pessoas. Porém o solo não
proporciona somente alimentos, mas também medicamentos, fibras, madeira e
até combustível. Você sabia que a importância, a função do solo vai muito além
disso? Pois é, o solo nos proporciona os chamados serviços ecossistêmicos. É
no solo que temos a ciclagem e o armazenamentos daqueles nutrientes de que
as plantas tanto precisam para crescer (Figura 2). O solo também atua como um
grande reservatório de água, não somente para as plantas, mas para abastecer
o lençol freático e também aquíferos a grandes profundidades (Figura 3). E,
quando , atua como reservatório de água, ele também faz a filtração dessa água,
tornando-a de boa qualidade.
O solo também é um lugar com muita vida, abrigando tanto os
microrganismos – fungos, bactérias, algas –, como a fauna – minhocas, insetos,
nematoides e outros. Esses organismos vivos são de fundamental importância
para toda a ciclagem de nutrientes, bem como para a estrutura do solo, e nos
fornecem muitos serviços, como a fixação biológica de nitrogênio, em que
bactérias fixadoras de nitrogênio do ar associam-se com leguminosas como a
soja.
O solo atua ainda na diminuição do aquecimento global, você sabia? Pois
é, o solo atua como um grande reservatório de carbono, impedindo que este vá
para a atmosfera e aumente o efeito estufa. Conservando o solo e todos os seus
processos estamos sequestrando carbono e minimizado os efeitos das
mudanças climáticas. Quando degradamos o solo perdemos nutrientes,

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perdemos biodiversidade, perdemos carbono estocado. Por isso é tão
importante conservarmos o solo. O solo é a base da vida de nosso planeta. Viu
como é importante discutirmos sobre solos e levarmos essa informação para
todas as pessoas, principalmente os produtores agrícolas? O solo é um dos
recursos naturais mais importantes que temos à nossa disposição, com seus
serviços ecossistêmicos. Cuidar do solo significa manter a continuidade da vida
na Terra.

Figura 2 – O solo é a base da ciclagem de nutrientes para as plantas

Crédito: Phuriwatt Seesuk/Shutterstock.

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Figura 3 – O solo como reservatório de água

Crédito: KajaNi/Shutterstock.

TEMA 2 – FORMAÇÃO DO SOLO E PERFIL DO SOLO

O solo normalmente é formado pela degradação de rochas, com a ação


da água, calor e diferentes tipos de organismos. Esses fatores vão agindo sobre
a rocha durante um tempo muito longo, diminuindo seu tamanho e influenciando
sua composição química através de processos de origem física, química ou
biológica. A esse processo damos o nome de intemperismo, ou pedogênese,
que é o conjunto de modificações que a rocha original sofre até se tornar solo. O
regolito ou manto de intemperização, uma vez modificado, dá origem ao solo
superficial (Figura 4). Esse processo pode durar centenas de milhares de anos,
dependendo da rocha matriz e dos fatores ambientais atuantes.

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Figura 4 – Processo de formação do solo

Crédito: Barou abdennaser/Shutterstock.

Quando falamos em material de origem ou rocha matriz, referimo-nos


àquela formação rochosa que sofreu o processo de intemperização, dando
origem ao solo. É essa rocha matriz que dá as características básicas do solo a
ser formado. Os arenitos, por exemplo, vão dar origem a solos mais arenosos
(Figura 5).

Figura 5 – Solo arenoso

Crédito: IvanaStevanoski/Shutterstock.
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Um exemplo prático, no Brasil, são os solos conhecidos como terra roxa,
altamente produtivos na região norte do Estado do Paraná (Figura 6). Esses
solos foram formados por rochas como o basalto, resultantes de gigantescas
erupções vulcânicas ocorridas há milhões de anos.

Figura 6 – Terra roxa do norte do Estado do Paraná

Crédito: Jair Ferreira Belafacce/Shutterstock.

O relevo onde encontra-se a rocha matriz também pode exercer grande


influência na formação dos solos, pois depende do relevo a atuação de alguns
fatores de intemperização, como a água e os ventos. Se o relevo for mais
inclinado, a água exerce um poder menor de erosão sobre a rocha original. Se a
água consegue infiltrar-se, ela consegue exercer mais pressão sobre as
partículas da rocha, quebrando-as mais facilmente e atuando nas reações
químicas, pois a água é considerada um solvente universal.
Os organismos vivos também têm papel importante na intemperização da
rocha, principalmente microrganismos como fungos e bactérias. No caso dos
microrganismos, estes produzem ácidos fracos e fortes que vão agindo na
quebra das rochas ao longo do tempo. As plantas também exercem pressão,
principalmente com a ação de suas raízes.

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Em regiões que possuem clima mais quente, o processo de
intemperização tende a ser mais rápido, pelo aumento da velocidade das
reações químicas e pelo efeito físico. No calor, a rocha expande-se; no frio,
contrai-se. Com o tempo, ela se quebra. O vento também exerce pressão de
quebra das rochas.
É claro que o efeito desses processos é notado somente no longo prazo,
dizemos que em escala geológica, não sendo possível ser observado pelo ser
humano em seu tempo de vida.
Normalmente as pessoas pensam que o solo é somente uma camada
superficial onde cultivamos nossas plantas. Mas o solo é constituído de
diferentes camadas abaixo da superfície, formando o que chamamos perfil do
solo.
À medida que as rochas são intemperizadas, são formadas camadas,
também chamadas horizontes. Estes são seções de constituição mineral ou
orgânica, geralmente paralelas à superfície do terreno, que possuem
propriedades geradas por processos formadores de solo que lhes conferem
características de inter-relacionamento com outros horizontes do perfil.
As condições ambientais, assim como as características da rocha matriz
(rocha original), podem afetar a intemperização de várias maneiras, formando
uma grande diversidade de solos com características diferentes, como diferentes
profundidades, cores, estrutura, textura, consistência, quantidade de nutrientes,
acidez e matéria orgânica, entre outras.
Perfil do solo é uma seção na direção vertical que começa na superfície
do solo e vai aprofundando-se até atingir a rocha matriz ainda intacta. Ao
observar esse perfil, podemos separar os diferentes horizontes do solo. Esses
horizontes podem diferir bastante um do outro, mas em praticamente todas as
ocasiões um horizonte tem relação com o outro. Eles podem ser diferenciados
por várias características como cor, espessura, porosidade, estrutura das
partículas sólidas, presença de raízes, entre outras possibilidades. Os horizontes
demonstram a evolução desse solo, sua história. Com base nisso, podemos
identificar e classificar o solo e planejar qual seria o uso mais adequado para
aquele solo específico. Podemos dizer que o perfil do solo é a unidade básica
para o estudo e a descrição do solo. Para separar os diferentes horizontes do
solo, usamos as letras maiúsculas A, B e C para os principais horizontes, assim

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como O e R para horizonte orgânico e rocha original, respectivamente. Um
horizonte E, abaixo do A, ainda pode ocorrer (Figura 7).

Figura 7 – Horizontes do solo

Crédito: Vector Tradition/Shutterstock.

Nem todos os solos contêm todos os horizontes. Em alguns solos, devido


ao processo de intemperização ou formação, podem faltar horizontes.
Horizonte O: também chamado horizonte orgânico ou de cobertura. É
composto basicamente por matéria orgânica ainda fresca ou em algum estado
de decomposição, que é sobreposta a alguns solos minerais que sejam bem
drenados. Quando a drenagem é ruim, chamamos horizonte H. É o caso das
turfeiras (Figura 8).

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Figura 8 – Exemplo de turfeira, acúmulo de matéria orgânica associada à má
drenagem do solo

Crédito: Anda Mikelsone/Shutterstock.

Horizonte A: este horizonte origina-se da mistura da matéria orgânica


decomposta com material mineral proveniente da decomposição da rocha
matriz. Normalmente tem cor mais escura, por causa da matéria orgânica em
estado humificado, ou seja, estado avançado de decomposição.
Horizonte E: nem sempre ocorre, mas possui cores mais claras porque o
solo perde argila, óxidos de ferro e/ou matéria orgânica que são levados ao
Horizonte B por um processo chamado eluviação. Este horizonte normalmente
tem uma concentração de areia muito maior que seus horizontes vizinhos.
Horizonte B: é um horizonte predominantemente mineral, muito afetado
pelos processos de formação do solo, tendo normalmente acúmulo de argila,
ferro e alumínio, mas com pouca matéria orgânica. Também pode ser chamado
horizonte de acúmulo ou iluvial. Os horizontes A e B têm um papel muito
importante, afetando a vida vegetal e a vida animal.
Horizonte C: neste horizonte encontramos basicamente material não
consolidado, isto é, muito semelhante, em sua composição química, física e

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mineralógica, à rocha matriz (ou rocha original). É formado normalmente pela
rocha matriz fragmentada.
Horizonte R: chamado simplesmente rocha, este horizonte representa a
rocha matriz inalterada. É uma camada mineral coesa.
A profundidade de um solo vai depender de quantos horizontes ele
apresenta e também da espessura de cada horizonte. O solo pode ter somente
alguns centímetros de profundidade, em que já encontra-se a rocha matriz, como
é o caso dos solos mais novos, até muitos metros de profundidade, como é o
caso dos solos mais antigos.
Normalmente conseguimos identificar e separar facilmente os diferentes
horizontes, pois eles apresentam características como cor, textura, estrutura,
consistência, porosidade, pH, nutrientes e matéria orgânica diferentes uns dos
outros, apesar de serem relacionados. O principal fator que permite a
diferenciação entre os diferentes horizontes é a cor. A cor, no solo, é dada
principalmente pela quantidade de matéria orgânica e de ferro no solo. Quando
o solo é mais escuro, isto é devido basicamente à maior quantidade de matéria
orgânica. Já maiores concentrações de ferro dão tonalidades mais
avermelhadas, alaranjadas e amareladas ao solo.
A aptidão para uso de um solo é dada pelas características dos diferentes
horizontes e também está associada à paisagem, ao clima, ao relevo, à geologia
e à drenagem desse solo. Com base na soma de todas essas características
podemos dizer se um solo é apto para a agricultura e, se for, qual seria o melhor
cultivo para esse tipo de solo. Existem solos que são mais adaptados para
reflorestamento, outros para pastagens, outros para culturas anuais, assim como
existem solos que são muito bons para a construção de edificações. Devemos
estudar o perfil do solo, assim como as características da região e sua economia,
para determinar o melhor uso desse solo.

TEMA 3 – COMPOSIÇÃO DO SOLO

Todos os solos são formados por uma parte sólida e outra parte porosa.
Essas partes são chamadas fases. A fase sólida é onde encontramos as
partículas minerais e a matéria orgânica; a parte porosa é onde temos a fase
líquida e a fase gasosa. É claro que a proporção entre essas três fases varia
de acordo com os diferentes tipos de solos, conforme sua gênese, clima da
região etc. Na fase sólida temos as partículas minerais, como argila, silte e areia,
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bem como a matéria orgânica. A parte porosa do solo pode ser preenchida por
água, quando então é chamada fase líquida, ou por ar, chamada fase gasosa. A
fase sólida varia muito pouco ao longo do tempo em um solo, porém as fases
líquida e gasosa podem variar diariamente, pois à medida que o solo perde água,
por evaporação, por exemplo, o ar entra em seu lugar, aumentando a
percentagem da fase gasosa em relação ao total ou, quando chove muito, a água
ocupa o lugar do ar dentro do solo, aumentando a percentagem da fase líquida
em relação ao total.

Figura 9 – Fases do solo

Crédito: VectorMine/Shutterstock.

3.1 Fase sólida

A fase sólida compreende em torno de 50% do volume de um solo. Mas


isso pode variar de solo para solo. Ela é formada basicamente por partículas
minerais (45% do total do solo) e matéria orgânica (5% do total do solo). Aqui
encontramos as diferentes partículas minerais que são classificadas conforme
sua granulometria, isto é, de acordo com seu diâmetro. A argila é a menor dessas
partículas, com diâmetro menor que 0,002 mm. Depois temos o silte, com
diâmetro entre 0,05 e 0,002 mm, a areia fina, entre 0,2 e 0,05 mm, a areia grossa,
entre 2 e 0,2 mm e daí as partículas maiores, como cascalho, entre 20 e 2 mm,

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calhaus, entre 200 e 20 mm e matacão, que são as partículas maiores que 200
mm de diâmetro.
Uma característica muito importante das partículas minerais na fase sólida
do solo é sua área superficial específica (ASE), que é a área superficial das
partículas por unidade de massa e é representada em cm2 por grama de partícula
(cm2 g-1). A ASE aumenta à medida que o tamanho das partículas vai diminuindo.
Por exemplo, em média a argila possui uma ASE de 8.000.000 cm 2 g-1. Já a areia
grossa possui uma ASE de 79 cm2 g-1. Isso quer dizer que, se somarmos a
superfície de todas as partículas de argila em 1 grama, o resultado será bem
maior do que a soma das superfícies de todas as partículas de areia grossa em
1 grama. Somadas, as partículas de argila têm uma superfície muito maior que
as partículas de areia grossa em um mesmo volume. Essa característica é muito
importante, pois quanto maior a área superficial, maior a reatividade das
partículas no solo, isto é, maior a quantidade de cargas em sua superfície que
podem reagir com outros elementos, com nutrientes para as plantas, por
exemplo. Lembre-se lá do colégio: cargas opostas atraem-se (Figura 10).

Figura 10 – Atração e repulsão de cargas

Crédito: Dream01/Shutterstock.

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E é isso o que acontece com as partículas de solo e mais intensamente
com as partículas de argila. Elas possuem cargas em sua superfície,
principalmente cargas negativas, atraindo minerais com suas cargas positivas.
Então podemos concluir que as partículas de argila são muito mais reativas que
as partículas de areia em um mesmo volume de solo. Não podemos esquecer
ainda da matéria orgânica. Ela participa em uma pequena proporção em relação
às partículas minerais. Mas tem uma grande importância no que se refere à
estrutura e à fertilidade do solo, bem como à conservação de água.

3.2 Fase líquida

Consideramos fase líquida do solo toda a água acumulada dentro dele e


os compostos minerais e orgânicos dissolvidos nessa água a solução do solo.
Essa fase é de extrema importância, pois, além de fornecer água para a planta
absorver através de suas raízes, é dessa fase que a planta também absorve
nutrientes. A grande maioria dos nutrientes que a planta precisa absorver para
crescer e manter-se vem da fase líquida do solo, pois esses compostos precisam
estar dissolvidos na água do solo para que possam ser absorvidos pela planta
através de suas raízes por diferentes mecanismos, sejam físicos, físico-químicos
ou outros.
Essa fase também tem importância muito grande por ocorrer nela a maior
parte das reações químicas e bioquímicas do solo, tornando assim os nutrientes
prontamente disponíveis para serem absorvidos pelas plantas.
A fase líquida do solo tem estreita relação com a fase gasosa do solo.
Vamos imaginar o seguinte. Em um solo normal, como já vimos, 25% de seu
volume é água (fase líquida) e outros 25% do volume é formado por ar (fase
gasosa). Mas, e se chover muito? Vai entrar muita água no solo, expulsando o
ar que estava ali. Então vai aumentar a proporção da fase líquida. Se os espaços
do solo entre as partículas sólidas estão todos ocupados por água, o solo não
tem mais ar. E se chover mais, a água não consegue mais entrar no solo e fica
na superfície. Esse é um dos fatores que provocam as enchentes. A água não
tem mais como entrar no solo. E se não chover, o que acontece? A água que
está dentro do solo vai começar a evaporar, deixando mais espaços vazios.
Esses espaços vão ser ocupados por ar até a próxima chuva. Esses espaços no
solo são chamados poros e podem ser classificados em microporos (poros com
diâmetro menor) e macroporos (poros com diâmetro maior). Normalmente a
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água ocupa os microporos e o ar ocupa os macroporos. O importante é haver
uma boa proporção entre o ar e a água do solo.
A composição da solução do solo vai depender de vários fatores como
material de origem do solo, pH do solo, condições de ocorrência de oxirredução,
quantidade de matéria orgânica no solo, assim como a ação do ser humano,
adicionando produtos químicos como fertilizantes e agrotóxicos, e o manejo
desse solo. Os principais íons presentes na solução do solo são Ca+2, Mg+2, K+1,
Na+1, Fe+2, Cl-1, NO-1, SO4-2 e Si(OH)4. Em solos considerados ácidos, ainda
encontramos muito Al+3 e H+ na solução do solo. Também podemos encontrar
na solução o carbono orgânico dissolvido, que tem papel muito importante nos
processos de complexação de diferentes íons na solução do solo, aumentando,
por exemplo, a disponibilidade de alguns nutrientes, como o Fe +2, e diminuindo
a fitotoxicidade de outros, como o complexo com Al+3, fazendo com que o Al+3,
apesar de presente no solo, tenha menos toxicidade para as plantas.

3.3 Fase gasosa

A fase gasosa é aquele espaço vazio dentro do solo que é ocupado pelo
ar. Ele tem a mesma composição básica do ar atmosférico. Porém tem maior
concentração de CO2 e menor concentração de O2. Isso se dá basicamente
porque as raízes das plantas e a grande maioria dos organismos vivos que estão
no solo respiram oxigênio e liberam CO2. Como o solo é um espaço
relativamente confinado, o CO2 liberado não consegue sair todo do solo e fica
concentrado ali. O grande problema é quando temos uma concentração muito
baixa de O2, pois as plantas não conseguem mais sobreviver (Figura 11). Uma
exceção é o arroz, que necessita de um período de inundação em uma grande
fase de sua vida. Nesse caso, ele possui estruturas específicas, os aerênquimas,
que trazem oxigênio da atmosfera até as raízes (Figura 12).

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Figura 11 – A aeração do solo é muito importante para o desenvolvimento das
raízes

Crédito: Svetolk/Shutterstock.

Figura 12 – Plantação de arroz inundado

Crédito: kiattisak wannasri/Shutterstock.

TEMA 4 – PROPRIEDADES FÍSICAS DO SOLO

Para entendermos como funciona o solo, precisamos entender suas


principais propriedades, ou seja, o que caracteriza o solo e o que o faz funcionar
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da maneira como funciona. Basicamente, o solo funciona com base em suas
propriedades físicas, químicas e biológicas. Vamos ver agora algumas das
principais propriedades físicas do solo.

4.1 Cor do solo

Tenho certeza de que, quando você olha para um solo e seu perfil, uma
das primeiras coisas que nota é a cor, ou melhor, as cores desse solo. Podemos,
com certeza, notar diferentes cores. Algumas vezes muito diferentes umas das
outras, outras vezes só as diferenciamos quando as analisamos
detalhadamente. Essas cores ajudam-nos, principalmente, a separar os
diferentes horizontes do solo. Como já vimos, esses horizontes dependem
basicamente do material de origem daquele solo e de seu processo de
intemperização, a gênese e pedogênese do solo. Existem solos que são mais
escuros, outros são amarelados, vermelhos e, dentro do mesmo perfil de solo,
podemos também encontrar diferentes cores e tonalidades. É possível também
chegarmos a algumas conclusões quando observamos as cores do solo. Por
exemplo, solos escuros normalmente denotam presença abundante de matéria
orgânica. Já solos vermelhos ou avermelhados podem significar que foram ou
são submetidos a condições de oxidação ou boa drenagem. Solos cinzentos
podem significar que há condições de redução ou má drenagem (Figura 13).

Figura 13 – Carta de Munsell, para identificar as cores do solo

Crédito: WilliamPol/Shutterstock.
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4.2 Textura do solo

Quando falamos de textura do solo referimo-nos basicamente à proporção


relativa entre suas diferentes partículas: areia, silte e argila. Isso é muito
importante para entendermos o solo, porque há vários processos e reações,
tanto físicas quanto químicas, que dependem da textura ou que estão ligados de
forma muito íntima à textura do solo. Como já falamos anteriormente, quanto
menor a partícula do solo, maior a superfície total por volume de solo na qual
reações podem ocorrer devido às cargas existentes nessa superfície. Com base
nisso, podemos classificar os solos em classes texturais: areia, areia franca,
franco-arenosa, franca, franco-siltosa, silte, franco-argilo-arenosa, franco-
argilosa, franco-argilo-siltosa, argilo-arenosa, argilo-siltosa, argila e muito
argilosa (Figura 14). Essas classes são determinadas segundo a percentagem
de cada tipo de partícula do solo.

Figura 14 – Classes texturais

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4.3 Estrutura do solo

A estrutura do solo mostra como é o agrupamento das partículas do solo


na forma de agregados. Esse fenômeno da agregação ocorre por diferentes
motivos, como a atração entre as partículas (o famoso cargas opostas atraem-
se), mas também por ação de alguns agentes chamados cimentantes ou
aglutinadores, como a matéria orgânica e os óxidos de ferro, assim como as
substâncias produzidas por diferentes organismos do solo. As estruturas
formadas podem ser classificadas, por seu formato básico, em estruturas
laminares, prismáticas, em blocos, granulares, entre outras. Esses agregados
podem ter ainda diferentes tamanhos e alguns podem ser mais ou menos
resistentes à desagregação (Figura 15).

Figura 15 – Tipos de unidades estruturais que podem ser encontradas no solo

Fonte: Silva et al., 2015.

4.4 Densidade do solo

A densidade de um solo é demonstrada pela relação entre o peso (massa)


das partículas sólidas do solo e seu volume total seco, livre de água. Ela é
expressa em g cm-3. A densidade do solo é muito importante para demonstrar,
por exemplo, se o solo está compactado pelo tráfego de máquinas ou não. Solos
com alto teor de matéria orgânica normalmente apresentam densidades em

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torno de 0,90 g cm-3. Já solos arenosos podem apresentar densidades maiores
que 1,50 g cm-3. Um solo compactado pode fazer com que haja menor
permeabilidade do ar e da água, diminuindo o espaço poroso e dificultando o
crescimento das raízes (Figura 16).

Figura 16 – Compactação do solo

Crédito: VectorMine/Shutterstock.

4.5 Porosidade do solo

Consideramos a porosidade do solo aqueles espaços ocupados pelo ar e


pela água. Esses espaços são chamados poros e podem ser de diferentes
comprimentos e espessuras. Os macroporos (ou macroporosidade) congregam
os poros maiores que 0,06 mm de diâmetro e os microporos (ou
microporosidade), os poros com diâmetro menor que 0,06 mm. Normalmente
solos arenosos têm uma proporção maior de macroporos e solos argilosos têm
uma proporção maior de microporos. Por esse motivo, os solos argilosos perdem
água de forma mais lenta, enquanto os solos arenosos perdem água de modo
muito mais rápido. Lembra-se daquelas brincadeiras de criança na praia, quando

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fazíamos um buraco e pegávamos água do mar para preenchê-lo? Quando
voltávamos para pegar mais água.... cadê a água que já tínhamos colocado lá?

4.6 Capacidade de retenção de água

Esta é uma propriedade de grande importância na agricultura. Está ligada


diretamente à porosidade do solo, bem como à sua classe textural. Os solos
arenosos geralmente conseguem reter somente entre 5 e 10% de seu volume
total em água. Já os solos argilosos podem reter até 30% de seu volume total
em água. Lembre-se: a água tem um papel crucial no solo. Além da planta
necessitar de muita água, a água (solução do solo) é que faz a transferência dos
nutrientes para a planta.

4.7 Consistência do solo

A consistência do solo é útil para descrever a resistência de um certo solo


em relação à deformação e à ruptura. Quem rege a consistência de um solo são
as forças físicas de coesão e de adesão e isso é influenciado pelas diferentes
condições de umidade e pelas forças físicas aplicadas de forma artificial; no caso
da agricultura, o tráfego de máquinas sobre o solo, por exemplo.
Um solo seco normalmente resiste mais ao esmagamento e a todo tipo de
manipulação. Dependendo da condição de umidade, quanto à dureza o solo
pode ser: frouxo (sem coesão), macio (quebra-se com leve pressão entre os
dedos), ligeiramente duro (quebra-se com pressão moderada), duro (difícil de
quebrar-se sob pressão), muito duro (muito resistente à pressão, não se quebra
somente com a manipulação com os dedos), extremamente duro (com extrema
resistência à pressão).
Já os solos úmidos expressam a friabilidade. Podem ser: frouxos (sem
coesão), muito friáveis (coesos, mas facilmente esmagáveis), friáveis (facilmente
esmagáveis), firmes (esmagáveis sob moderada pressão entre os dedos), muito
firmes (precisam de forte pressão entre os dedos), extremamente firmes (não é
possível esmagá-los pressionando-os com os dedos).
Nos solos molhados consideramos a viscosidade (pegajosidade) e a
plasticidade. Em relação à viscosidade, os solos podem ser não viscosos,
ligeiramente viscosos e muito viscosos. A plasticidade é a capacidade que o solo
molhado tem de mudar sua forma quando submetido a um esforço qualquer e

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de manter essa forma quando já não há mais esse esforço. Os solos podem ser
não plásticos, ligeiramente plásticos, plásticos e muito plásticos.

TEMA 5 – PROPRIEDADES QUÍMICAS DO SOLO

Para poderem crescer de forma satisfatória as plantas necessitam de


certos nutrientes presentes no solo e na solução do solo. São os chamados
nutrientes essenciais. Mas o que faz um nutriente ser considerado essencial para
as plantas? Bem, são alguns critérios bem objetivos, como veremos a seguir.

• Sem ele, a planta não consegue terminar seu ciclo completo.


• O elemento faz parte obrigatoriamente de uma molécula que seja
essencial à planta.

Podemos dividir os diferentes nutrientes em dois grandes grupos:

• macronutrientes – são aqueles elementos que a planta deve absorver em


grandes quantidades; são divididos em principais (nitrogênio, fósforo e
potássio) e secundários (cálcio, magnésio e enxofre);
• micronutrientes – são os elementos que a planta deve absorver em
pequenas quantidades; podemos citar ferro, manganês, cobre, zinco,
boro, molibdênio e cloro.

Figura 17 – Principais nutrientes do solo

Crédito: New Africa/Shutterstock.

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Vamos conversar um pouco sobre os principais nutrientes no solo?

5.1 Nitrogênio (N)

O nitrogênio talvez seja o elemento que as plantas, principalmente as


leguminosas, precisam em maior quantidade. A forma preferencial de absorção
é o NO-3. Depois de absorvido, é reduzido e incorporado aos compostos
orgânicos da planta. O N faz parte essencial de aminoácidos, nucleotídeos,
clorofila e outros compostos na planta. Se faltar o nutriente, a síntese proteica
na planta é diminuída, prejudicando seu crescimento, causando como sintoma o
o amarelecimento das folhas pela inibição da síntese da clorofila. Plantas com
muito N têm folhas de coloração verde-escuro e sua folhagem fica mais
suculenta. Isso pode levar a planta a um maior ataque de doenças e pragas. O
ciclo do nitrogênio pode ser complexo e mediado por diferentes microrganismos
(Figura 18).

Figura 18 – Ciclo do nitrogênio

Crédito: Budi Sud/Shutterstock.

Uma fonte importante de N para as leguminosas é sua fixação do ar


atmosférico por bactérias do gênero Bradyrrhizobium.

5.2 Fósforo (P)

O fósforo é absorvido da solução pelas plantas, principalmente nas suas


formas aniônicas (H2PO4- e HPO42-). Ele forma complexos polifosfatados (ATP e
ADP) que são essenciais para o metabolismo energético das plantas, isto é, para

24
os processos que vão converter energia para as plantas. Também são muito
importantes para a formação de DNA e RNA. Quando falta P, o metabolismo das
plantas é muito prejudicado, provocando, por exemplo, menor perfilhamento em
gramíneas e menor produção de frutos e sementes. Sua deficiência é
primeiramente constatada na forma de clorose nas folhas, bem como um tom
verde azulado.

5.3 Potássio (K)

O potássio é o terceiro macronutriente principal (Figura 19). Ele tem uma


importância muito grande na planta como ativador enzimático, participando do
metabolismo proteico, da fotossíntese, do transporte de compostos assimilados
pelas plantas e do controle hídrico da célula. Quando falta K, a planta apresenta
diminuição da dominância apical, os internódios ficam mais curtos e há clorose
e necrose nas margens e pontas das folhas, principalmente das mais velhas.

Figura 19 – Ciclo do potássio

Crédito: Budi Sud/Shutterstock.

5.4 Cálcio (Ca)

O cálcio é importante por participar das ligações intermoleculares das


paredes celulares e membranas, conferindo à planta maior estabilidade
estrutural. Também atua como catalisador de muitas enzimas diferentes no
processo metabólico da planta. Sua deficiência causa principalmente

25
desequilíbrio estrutural, mas o excesso de Ca pode causar deficiência de Mg e
K.

5.5 Magnésio (Mg)

O Mg tem um papel primordial na clorofila, além de ativar enzimas


relacionadas ao metabolismo energético da planta. Portanto, se faltar Mg o
metabolismo das plantas é afetado, ocasionando como principal sintoma uma
clorose internerval das folhas mais velhas e diminuição do processo de
fotossíntese, por causa da diminuição da síntese da clorofila.

5.6 Enxofre (S)

O enxofre normalmente é absorvido do solo pela planta na forma de


sulfato (SO4-2) e depois incorporado em compostos orgânicos na planta. Ele é
importante na forma de aminoácidos como cisteína, metionina e cistina. Pode
apresentar algumas interações com outros nutrientes como N, P, B e Mo. A
deficiência de enxofre aparece nas plantas na forma de plantas cloróticas, devido
à deficiência na síntese de proteínas que formam a clorofila.

5.7 Ferro (Fe)

O ferro faz parte de vários metabólitos na planta, como proteínas e


algumas enzimas mitocondriais. Também é importante para a redução do nitrato
e do sulfato, assim como na produção de energia pela planta. Na falta de Fe, a
síntese de clorofila diminui, portanto diminui a fotossíntese, causando clorose
intensa, até um branqueamento foliar. O excesso de P pode reduzir a
solubilidade do Fe na planta.

5.8 Zinco (Zn)

Um dos micronutrientes para as plantas, o Zn tem um papel importante


em algumas de suas enzimas. Sua deficiência é manifestada na forma de baixa
expansão foliar e encurtamento dos internódios. Altas concentrações de P
podem fazer com que o Zn não seja absorvido pelas plantas, assim como altas
concentrações de Zn podem levar a deficiência de Fe.

26
5.9 Manganês (Mn)

A concentração de Mn nas plantas varia entre 20 e 200 mg kg -1 na matéria


seca das folhas e tem um papel importante na ativação de várias enzimas no
processo metabólico da planta. Também está presente em processos de
oxidação e de redução. A deficiência de Mn afeta diretamente a respiração da
planta. Os sintomas de sua deficiência incluem clorose internerval nas folhas
mais novas, pequenas manchas necróticas e até mesmo dimorfismo foliar.

5.10 Cobre (Cu)

O cobre atua como constituinte de enzimas que participam do


metabolismo de proteínas e de carboidratos na planta. Também tem um papel
importante na fixação biológica de N. A deficiência é caracterizada por clorose
nas pontas e margens das folhas e no encurvamento das folhas mais novas. O
Cu pode ainda causar deficiência de Fe.

5.11 Molibdênio (Mo)

O Mo é importante para várias enzimas, principalmente aquelas que


atuam na fixação biológica de N, como a nitrogenase, e na redução do nitrato,
como a nitratoredutase. Por isso é importante, para aquelas culturas que fazem
fixação biológica de N, que haja uma suplementação de Mo. Sua deficiência
aparece na forma de clorose geral, com manchas amarelo-esverdeadas nas
folhas mais velhas, podendo ainda causar necrose e murchamento das margens
das folhas, bem como encurvamento do limbo foliar.

5.12 Boro (B)

O boro atua na planta como regulador do metabolismo de carboidratos. A


deficiência de B é constatada por folhas de tamanho menor, com clorose de
forma irregular, deformadas, quebradiças e até morte do meristema apical.

5.13 Cloro (Cl)

O Cl atua primordialmente no equilíbrio osmótico da planta. Sua


deficiência é mostrada no menor tamanho das folhas, clorose naquelas folhas
mais novas, bronzeamento e, finalmente, necrose.
27
5.14 pH

Definimos pH do solo como a concentração dos íons H+ na solução do


solo. O pH é considerado ácido quando está abaixo de 7,0, neutro quando é igual
a 7,0 e básico quando está acima de 7,0. O pH tem uma importância grande na
disponibilidade de nutrientes na solução do solo. O melhor desenvolvimento das
plantas ocorre com o pH entre 5,5 e 6,5. Com o pH entre 6,0 e 6,5 encontramos
maior disponibilidade de macronutrientes. Abaixo de 5,5 há maior disponibilidade
de Al e Mn, podendo até tornar-se tóxicos para as plantas. Normalmente os solos
brasileiros tendem à acidez, isto é, pH abaixo de 7,0, frequentemente em torno
de 5,0, sendo então necessária a correção do solo.

5.15 Capacidade de troca catiônica (CTC)

A capacidade de troca de cátions (CTC) é igual à soma das cargas


negativas nas partículas do solo (argila e matéria orgânica) que retêm os cátions
(íons positivos – cálcio, magnésio, potássio, sódio, alumínio e hidrogênio). A CTC
refere-se à retenção de cátions e também de água, assim como tem relação com
a estrutura e a consistência do solo. Os cátions adsorvidos nos coloides do solo
podem ser substituídos por outros cátions, sendo então chamados trocáveis.
Quanto maior a CTC do solo, maior a quantidade de cátions que o solo pode
reter. Assim, podemos considerar que quanto maior a CTC, maior a fertilidade
potencial do solo.

5.16 Matéria orgânica (MO)

A matéria orgânica do solo é criada pela decomposição de plantas e


animais mortos e, assim, formada por diferentes compostos à base de carbono,
com variados graus de alteração. Ela possui uma grande interação com as outras
fases do solo. A MO traz muitos benefícios ao solo, a saber:

• químicos – mineralização de nutrientes, troca de cátions (promovendo


maior disponibilidade de nutrientes para as plantas), poder tampão da
acidez do solo e reação com metais (tornando-os indisponíveis);
• físicos – estruturação do solo (através da maior agregação, aeração e
infiltração de água no solo), retenção de água e cor do solo (promovendo
seu aquecimento);

28
• biológicos – fonte de energia e nutrientes para os diferentes organismos
do solo, estimulação da atividade enzimática do solo, produção de fito-
hormônios, promovendo o crescimento das plantas.

FINALIZANDO

Nesta etapa, vimos o que é solo, como se dá sua formação, como


podemos interpretar seu perfil, a composição do solo e suas fases, assim como
suas principais propriedades físicas e químicas. Estamos agora preparados para
avalia a melhor condição para nossa cultura agrícola. Você já pode então ir a
campo e começar a interpretar o que está vendo na prática. Vamos lá?

29
REFERÊNCIAS

BECK, F. L. et al. Projeto pedagógico: ensino de graduação. Boletim Técnico


do Departamento de Solos da UFRGS, Porto Alegre, v. 6, p. 1-26, 2000.

BRADY, N. C. Natureza e propriedade dos solos. 7. ed. Rio de Janeiro: Freitas


Bastos, 1989.

MEURER, E. J. Fundamentos de química do solo. 2. ed. Porto Alegre:


Genesis, 2004.

SILVA, M. L. N. et al. Manejo e conservação do solo e da água: guia de


estudos. Lavras: UFLA, 2015.

30
MANEJO, FERTILIDADE,
CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA
ÁGUA
AULA 2

Prof. Klaus Dieter Sautter


CONVERSA INICIAL

Algumas vezes olhamos para o solo e só vemos terra, material sólido,


morto. Mas o solo é riquíssimo em vida. O solo possui uma biodiversidade
gigantesca de diferentes organismos, como microrganismos (bactérias, fungos,
algas, protozoários e até... vírus...), além de muitos animais diferentes. Você
conhece as minhocas, mas existem muitos outros animais no solo. Esse conjunto
de organismos faz com que o solo seja um ecossistema ativo, vibrante,
maravilhoso. E em conjunto com as propriedades físicas e químicas do solo, e o
clima, o solo evolui, cresce, produz. Sem esses organismos, o solo não
produziria tanto alimento para o ser humano. Vamos conhecer um pouco mais
sobre os organismos do solo?

TEMA 1 – MICRORGANISMOS DO SOLO... UM MUNDO MICROSCÓPICO

Com certeza você já ouviu falar dos tais microrganismos. Já ouviu que
são organismos muito pequenos e que têm uma influência enorme no meio
ambiente e principalmente para o ser humano, afinal existem muitas e muitas
doenças que são provocadas por fungos, bactéria, protozoários e algas (Figura
1). Muitos deles vivem no solo e têm um papel importantíssimo para o
ecossistema solo. Vamos ver um pouco mais sobre cada um desses grupos?

Figura 1 – Microrganismos do solo

Crédito: Juliasuena/Shutterstock.

2
1.1 Bactérias

Entre todos os grupos, as bactérias são o grupo que têm maior


abundância e diversidade no solo, sejam animais, vegetais ou microrganismos.
Elas podem alcançar de 108 a 109 indivíduos por grama de solo, mas isso vai
depender de várias condições, como o tipo e características do solo, clima,
manejo do solo, entre outros. As bactérias são basicamente organismos
unicelulares, isto é, são compostos somente por uma célula. Essas células são
procarióticas, ou seja, apresentam núcleo da célula primitivo, o seu material
genético não é delimitado por um envelope (Karyon), e o seu material genético
pode estar espalhado por toda a célula (Figura 2).
As bactérias são muito pequenas, tendo mais ou menos 0,5 a 1,0 μm de
largura e 1,0 a 2,0 μm de comprimento. Podem ter diferentes formas, como
serem esféricas ou elípticas (na forma de cocos), cilíndricas, bastonetes,
espiraladas ou helicoidais e formar diferentes tipos de arranjos entre as células
individuais (Figura 3).

Figura 2 – Célula procariótica

Crédito: SciePro/Shutterstock.

Normalmente se reproduzem por bipartição, isto é, simplesmente uma


bactéria se divide em duas. O tempo que uma bactéria gasta para conseguir se
dividir em dois indivíduos é chamado de tempo de geração.

3
Figura 3 – Arranjos bacterianos

Crédito: Olha Pohrebnyak/Shutterstock.

Apesar de serem muito pequenas, as bactérias têm um papel de grande


importância no solo, principalmente por apresentarem uma elevada taxa de
crescimento e alta capacidade de decomposição da matéria orgânica do solo,
influenciando assim a reciclagem dos nutrientes. Elementos como o nitrogênio
dependem de bactérias para que seu ciclo seja completo. Algumas bactérias são
capazes de fixar nitrogênio do ar em simbiose em algumas plantas,
principalmente leguminosas, assim como outras bactérias fixam nitrogênio do ar
em vida livre, sem associação direta com plantas. Porém algumas bactérias do
solo podem provocar doenças nas plantas, tanto no sistema radicular quanto na
parte aérea, provocando danos à produtividade.

4
São vários fatores que podem afetar as comunidades de bactérias no solo,
como tipo de solo, teor de matéria orgânica, umidade do solo, temperatura, pH,
compactação e outros. As bactérias podem ser aeróbias (quando respiram
oxigênio), anaeróbias (quando respiram outros elementos, como enxofre, por
exemplo), ou aeróbias facultativas, que são aquelas que precisam de pouco
oxigênio.

1.2 Fungos

Diferentes das bactérias, os fungos podem ser tanto unicelulares quanto


pluricelulares. Além disso, eles deram um passo a mais na evolução, formando
células eucarióticas, isto é, entre outras características, o material genético na
célula é delimitado por um envelope, o Karyon (Figura 4).

Figura 4 – Célula eucariótica

Crédito: Forance/Shutterstock.

Os fungos têm uma característica marcante, que os torna mais fáceis de


serem reconhecidos: aqueles fungos pluricelulares têm formações que
chamamos de hifas, que são filamentos tubulares ramificados ou não. E o
conjunto de hifas forma uma estrutura parecida com algodão, a qual chamamos
de micélio (Figura 5).
5
Figura 5 – Hifas e micélio de fungos

Crédito: Dmytro Tyshchenko/Shutterstock.

Os fungos podem se reproduzir tanto de forma sexuada quanto


assexuada. São aclorofilados, isto é, não são capazes de fazer fotossíntese. Por
isso mesmo precisam de outras fontes de energia e alimento, daí serem
chamados de quimiorganotróficos. Suas densidades populacionais também são
muito grandes no solo, podendo atingir 104 a 106 indivíduos por grama de solo.
Em solos ácidos são os fungos que predominam, ao contrário de solos neutros
e básicos, onde as bactérias predominam. Também precisam de umidade no
solo para sobreviverem e prosperarem. São aeróbios, precisam de uma certa
pressão de oxigênio dentro do solo. São muito importantes para a decomposição
da matéria orgânica do solo, tornando-se um componente primordial para a
reciclagem de nutrientes. Mas alguns fungos também podem provocar doenças
nas plantas. Os fungos mais conhecidos são os cogumelos.

1.3 Algas

Normalmente quando pensamos em algas, pensamos em ambiente


aquático, não é mesmo? Pois bem, as algas também podem habitar o solo, mas
somente as algas unicelulares, que, inclusive, podem atingir densidades
populacionais enormes, como 103 a 104 indivíduos por grama de solo. No solo
6
normalmente encontramos as algas verdes (Chlorophycophyta) e as
diatomáceas (Chrysophycophyta). Boa parte das algas do solo são
fotolitotróficas, isto é, têm a capacidade de fazer fotossíntese, obtendo energia
da radiação solar. Elas são importantes no solo porque agem na formação dos
solos, bem como na manutenção de sua integridade. Normalmente são os
primeiros microrganismos que colonizam um substrato novo, como aqueles
formados a partir de erupções vulcânicas. Elas agem na intemperização de
rochas, principalmente minerais silicatados. Podemos dizer que as algas são
importantes para o solo porque incorporam carbono ao solo por meio da
produção de matéria orgânica (seu próprio corpo), fazem fotossíntese e atuam
na estabilização dos agregados do solo. Em uma simbiose com fungos, as algas
podem formar os líquens, importantes organismos que promovem a
decomposição da matéria orgânica (Figura 6).

Figura 6 – Líquens, simbiose entre fungos e algas

Crédito: Ricardo de Paula Ferreira/Shutterstock.

1.4 Protozoários

Proto significa “primeiro”, zoários significa “animais”. Então podemos dizer


que os protozoários são os animais mais primitivos que existem? Não é bem
assim. Alguns até agem como animais, mas são um grupo separado. E também
vivem no solo. São unicelulares podendo ser bem pequenos, alguns micra de
comprimento ou até ter alguns centímetros. Não têm clorofila e seu ciclo de vida
sempre tem uma fase ativa e uma fase de dormência, quando o protozoário

7
forma um cisto. Assim como as bactérias, reproduzem-se por fissão binária. Eles
se dividem no meio, podendo ser esta divisão no sentido transversal ou
longitudinal. Alguns podem se reproduzir sexualmente. Os protozoários que
vivem no solo são divididos conforme seu meio de locomoção: (a) Mastigophora
– se movem com auxílio de um ou mais flagelos; (b) Sarcodina – se movem por
pseudópodos (pernas falsas), as famosas amebas; (c) Ciliata – se movem
através de cílios (Figura 7).

Figura 7 – Protozoários

Crédito: Kazakova Maryia/Shutterstock.

Suas populações podem variar de 104 a 105 organismos por grama de


solo e são muito abundantes na superfície do solo. Grande parte dos
protozoários são predadores, alimentando-se principalmente de bactérias,
atuando assim no controle de populações bacterianas no solo, notadamente
algumas bactérias que causam doenças nas plantas. Outros protozoários têm a
capacidade de se alimentar de matéria orgânica, atuando assim na reciclagem
de nutrientes no solo.

8
TEMA 2 – BACTÉRIAS FIXADORAS DE NITROGÊNIO

O nitrogênio é o elemento que as plantas necessitam em maior


quantidade. Ele é básico para vários processos metabólicos das plantas. Por
isso, na grande maioria das culturas agrícolas, é necessária adubação maciça
com nitrogênio. Este é um fertilizante caro, podendo ser obtido por fertilizantes
orgânicos ou inorgânicos. Um dos grandes problemas é que uma das formas
que mais facilmente assimilável pela planta é o nitrato (NO3-), e este íon é
altamente móvel, podendo descer pelo perfil do solo e ser perdido no lençol
freático, contaminando a água subterrânea. Mas...
... existem bactérias que em associação com raízes de certas plantas
leguminosas, principalmente na soja, conseguem retirar nitrogênio do ar,
transformá-lo e disponibilizar para a planta. Essas bactérias são da família
Rhizobiaceae, dos gêneros Rhizobium (espécies de crescimento rápido) e
principalmente do gênero Bradyrhizobium (espécies de crescimento lento). Esse
processo chama-se de nodulação, pois quando em simbiose com a planta, a
bactéria forma pequenos nódulos nas raízes da planta (Figura 8). As duas
principais espécies de bactérias utilizadas no Brasil, notadamente com a soja,
são Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium elkanii.

Figura 8 – Nodulação em raízes de leguminosas

Crédito: Sciencepics/Shutterstock.

9
2.1 Fases básicas do processo de nodulação

1. Quimiotaxia do rizóbio em direção à superfície das raízes: há uma atração


química dos rizóbios pelas raízes e também das raízes pelo rizóbio;
2. Proliferação do rizóbio na rizosfera: as substâncias produzidas pelas
raízes (exsudatos) fazem com que a população de rizóbio aumente;
3. Aderência do rizóbio às raízes: Algumas proteínas, como as lectinas,
fazem com que a bactéria comece a aderir às raízes das plantas,
“ancorando” as bactérias às raízes;
4. Encurvamento do pelo radicular: depois que há o reconhecimento mútuo
da raiz e da bactéria, o rizóbio provoca o encurvamento do pelo radicular
da raiz, daí ele começa a infecção da raiz;
5. Formação do cordão de infecção: a bactéria penetra no pelo da raiz, esta
é a chamada infecção;
6. Formação do nódulo: fatores estimulantes vindos da bactéria fazem com
que as células da raiz sofrem uma mitose acelerada, produzindo cada vez
mais células. As células onde as bactérias estão aumentam muito
rapidamente de tamanho, ficando gigantes, formando o nódulo (Figura 9).

Figura 9 – Processo de formação do nódulo

Crédito: Jefferson Schnaider.


10
Após a formação do nódulo, as bactérias começam a extrair nitrogênio do
ar (N2) e transformar em amônia (NH3), que é prontamente disponível à planta.
Essa reação (Eq.1) de redução é mediada pela enzima nitrogenase. Essa reação
consome energia na forma de ATP.

(Eq.1) N2 + 8H+ + 8e- + 16 ATP 2 NH3 + H2 + 16 ADP + 16 Pi

O problema é que a nitrogenase é muito sensível à presença de oxigênio.


Então as diferentes de bactérias fixadoras de nitrogênio em diferentes
desenvolveram mecanismos de proteção à presença de oxigênio, como
bactérias que respiram mais rápido para diminuir o oxigênio disponível; outras
produzem polissacarídeos extracelulares para proteger a nitrogenase da
presença de oxigênio; e há aquelas que produzem estruturas de proteção,
algumas espécies formam células especializadas (heterocistos) e até pode
acontecer das células se deslocarem para locais onde há menos oxigênio.
A formação dos nódulos e da nitrogenase é mediada por genes
encontrados nas diferentes espécies de bactérias fixadoras de nitrogênio.
Podemos citar os genes nif, fix e nod.

2.2 Fatores que podem afetar a nodulação por bactérias fixadoras de


nitrogênio em leguminosas

2.2.1. Características próprias da planta hospedeira

Nem todas as leguminosas têm capacidade de fazer associação com


bactérias fixadoras de nitrogênio. E mesmo dentro daquelas que têm essa
capacidade, a nodulação pode ser classificada como baixo, médio e alto
potencial. O genótipo e a idade da planta também podem afetar a nodulação.

2.2.2 Solo

pH baixo do solo, assim como altos teores de alumínio e manganês pode


afetar a nodulação por efeitos tóxicos às bactérias, mas isso varia de acordo com
a espécie vegetal e a estirpe (variedade) da bactéria utilizada. Já a calagem do
solo visando aumentar o pH e diminuir a disponibilidade do alumínio, pode
facilitar a nodulação. Deficiência de nutrientes básicos para a planta, a deixa
muito sensível e diminui a nodulação, assim como a presença de metais pesados
e outras substâncias tóxicas no solo. A adubação com nitrogênio mineral diminui
11
a nodulação. Isso se dá pelo fato de que, havendo nitrogênio disponível, não há
estímulo para a planta em formar simbiose com bactérias fixadores de nitrogênio.
O uso excessivo de agrotóxicos também pode afetar a nodulação.

2.2.3 Clima

A deficiência de água tem potencial para afetar tanto o peso dos nódulos,
diminuindo a sua eficiência, quanto a atividade da enzima nitrogenase, em soja.
Porém o excesso de água no solo pode diminuir o oxigênio disponível tanto para
as raízes quanto para as bactérias fixadoras. A temperatura tem potencial de
afetar todas as etapas de nodulação, principalmente em altas temperaturas.
Acima de 34 ºC, a nodulação e sua atividade ficam muito prejudicadas.

2.2.4 Populações nativas de fixadores de nitrogênio

As bactérias fixadoras de N existem de forma natural na grande maioria


dos solos. Quando inoculamos sementes com populações específicas, estas
concorrem com as populações nativas daquele solo. Dependendo das espécies
e estirpes nativas, a inoculação pode perder eficiência.

2.3 Cuidados básicos no processo de inoculação

O processo de inoculação deve ter alguns para ter sucesso:

1. Em primeiro lugar adquirir o inoculante (a bactéria fixadora de nitrogênio)


em um revendedor autorizado pelo Ministério da Agricultura. Escolher
uma estirpe adequada à espécie e à variedade da cultura agrícola em
questão, bem como à região de plantio. Este inoculante deve ser então
mantido em lugar fresco e que seja arejado. Lembre-se: é um organismo
vivo...;
2. Não fazer a inoculação junto com tratamento de sementes com
agrotóxicos ou mesmo algum tipo de fertilizante. Isso pode inviabilizar as
bactérias fixadoras;
3. A inoculação deve ser sempre a última atividade a ser realizada antes que
o plantio seja feito. Qualquer outro tipo de tratamento das sementes, deve
ser feito antecipadamente. E a inoculação somente após a secagem das
sementes;

12
4. A dose a ser utilizada para a inoculação deve ser aquela recomendada
pelo fabricante. Lembrando que o mínimo é de 1,2 milhão de células das
bactérias por semente tratada;
5. Os inoculantes podem vir na forma líquida ou turfosa. Normalmente a dose
para a forma líquida é de 100 ml do inoculante para cada 50 kg de
semente. Já os inoculantes turfosos devem ser, primeiramente,
preparados com uma solução açucarada a 10% (100 g de açúcar por litro
de água), com a intenção de umedecer as sementes antes da inoculação.
Assim, as bactérias vão aderir melhor na semente;
6. Não utilizar mais de 300 ml de calda por 50 kg de semente;
7. O ideal é que o processo de inoculação seja feito em tambores giratórios,
betoneira ou máquinas especificamente feitas para isso. Deve-se ter o
máximo de cuidado para não danificar, quebrar ou rachar, as sementes
no processo, assim como fazer a distribuição uniforme do produto nas
sementes;
8. Sempre faça a inoculação à sombra, e depois deixe as sementes secando,
também à sombra, por 20 ou 30 min. Sempre proteja as sementes do sol
e do calor. O ideal é que o plantio seja feito no mesmo dia em que for feita
a inoculação;
9. Os micronutrientes cobalto e molibdênio são muito importantes para o
sucesso da fixação biológico do nitrogênio, porém não devem ficar muito
tempo em contato com as bactérias. Uma das soluções é aplicar os dois
micronutrientes via foliar em torno de 30 dias após a emergência das
plantas.

Saiba mais

Quer ver um pouco mais sobre como fazer a inoculação e cuidados?


FIXAÇÃO biológica de nitrogênio – FBN: inoculantes para soja. Embrapa,
2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Y4Awm_YDNsg>.
Acesso em: 17 mar. 2023.

Aqui falamos muito em soja e leguminosas em geral. Mas existem


diferentes bactérias fixadoras de nitrogênio em outras espécies de plantas e
culturas agrícolas, como no feijão, trevo, amendoim, ervilha, grão-de-bico,
tremoço, cana-de-açúcar, milho, arroz, sorgo, trigo, cevada, diferentes tipos de
pastagens, mandioca, café, entre outros. É claro que cada planta faz associação

13
com uma espécie diferente de bactéria fixadora de nitrogênio. Existe uma
especificidade muito grande nesta relação.
Pensando-se somente na soja, a fixação biológica de nitrogênio aumenta
em torno de 8% da produtividade da cultura. Calcula-se que o Brasil economiza
por ano, em torno de 14 bilhões de dólares, com fertilizantes à base de
nitrogênio, que deixam de ser comprados, levando-se em conta que a adubação
com ureia custa em torno de R$ 500,00 por hectare, e os inoculantes custam
somente entre R$ 8 e R$15 por hectare (valores podem mudar dependendo do
mercado e do câmbio do dia).

TEMA 3 – MICORRIZAS

O solo é realmente incrível, principalmente quando falamos de suas


propriedades biológicas. Já vimos que pode existir uma associação entre
bactérias fixadoras de nitrogênio e raízes. Mas você sabia que existe a
possibilidade de uma associação entre fungos e raízes? Isso se chama
micorriza, e é uma associação chamada de mutualística, em que os dois lados
ganham. É uma simbiose: nas micorrizas, encontramos uma integração
morfológica e funcional perfeita (Figura 10).
Os fungos que formam micorrizas com raízes de plantas habitam o solo
normalmente, mas daí quando encontram a raiz de uma planta específica,
começam a formar uma série de inter-relações biotróficas, isto é, a planta fornece
o substrato que proverá o fungo de energia, daí o fungo começa a crescer e,
através de suas hifas externas às raízes das plantas, ele capta nutrientes que
estão na solução do solo e os transfere para a planta que está servindo de
hospedeira. Essas associações são mais frequentes que imaginamos. A grande
maioria das plantas forma micorriza junto com certos fungos.

14
Figura 10 – Micorrizas em raízes de plantas

Crédito: KYTan/Shutterstock.

3.1 Fungos que formam micorrizas

Existem três grandes grupos de fungos que formam micorrizas:


ectomicorriza, endomicorriza, ectendomicorriza.

3.1.1 Ectomicorrizas

As ectomicorrizas são caracterizadas pelo manto de hifas que recobre


externamente as raízes da planta hospedeira. O fungo penetra no córtex da raiz
de forma intercelular, formando a Rede de Hartig.

3.1.2 Endomicorrizas

Já nas endomicorrizas não há esse micélio externo de hifas. Mas nesse


caso a penetração do fungo nas células do córtex da raiz ocorre de forma inter
e intracelular. Existem três tipos de endomicorrizas:

a. Ericoide: formada por fungos da espécie Pezizella ericae, em algumas


plantas da família Ericaceae;
b. Orquidoide: uma simbiose complexa, onde o fungo vai invadindo aos
poucos quase todo o tecido da planta. Por isso mesmo, se houver um
desequilíbrio, a simbiose pode se transformar em parasitismo. Ocorre em
15
orquídeas. E a planta fica quase que totalmente dependente do fungo
para a obtenção de carboidratos e minerais. Os fungos que representam
esta categoria, são principalmente dos gêneros Rhizoctonia, Armillareia e
Fomes;
c. Vesículo-arbuscular (VA): é o tipo mais comum entre as endomicorrizas e
ocorre de forma muito ampla entre as diferentes espécies de plantas e de
fungos. O micélio do fungo penetra de forma intra e intercelular, formando
estruturas bem características, chamadas de vesículas e arbúsculos
(Figura 11).

3.1.3 Ectendomicorrizas

Já as ectendomicorrizas são consideradas uma transição entre as ecto e


endomicorrizas. Há um recobrimento externo das raízes por micélio de fungos,
porém há uma penetração inter e intracelular das hifas dos fungos na raiz da
planta. São bem mais raras.

Figura 11 – Ecto e endomicorrizas.

Crédito: Amadeu Blasco/Shutterstock.

16
3.2 Micorriza vesículo-arbuscular

Sem dúvida, as micorrizas vesículo-arbuscular (MVA) são as mais


comuns e mais importantes que encontramos. Por isso vamos dar um pouco
mais de atenção a essas micorrizas. Os fungos que formam essas micorrizas
são habitantes do solo e pertencem à família Endogonaceae. Eles sobrevivem
no solo na forma de propágulos (ou inóculo), que diferem entre si quanto à
capacidade de sobrevivência e ao potencial infectivo:

a. Esporos de resistência: quando as condições ambientais estão ruins.


Quando as condições melhoram, principalmente em relação à umidade,
os esporos germinam;
b. Fragmentos de raiz micorrizada: um fragmento de uma raiz que já esteja
micorrizada também pode infectar outras plantas, mas depende uma série
de fatores, como idade e capacidade metabólica deste fragmento,
presença de vesículas intrarradiculares;
c. Hifas de fungo: normalmente o solo contém grandes quantidades de
micélio com capacidade infectiva, podendo, assim, colonizar as raízes de
plantas. Para que estas hifas sobrevivam no solo, precisam de uma boa
quantidade de matéria orgânica neste solo.

A partir da existência desses propágulos no solo, ocorre a ativação deles


pela presença das raízes de plantas, assim como condições ambientais. Há o
desenvolvimento do micélio, de forma independente da planta. Assim, quando
há uma boa quantidade de micélio, começa o contato hifa-rizosfera, por meio,
principalmente, de uma estimulação rizosférica. Forma-se então o primeiro ponto
de infecção, há penetração intracelular e formação dos arbúsculos. A partir deste
instante, há uma consolidação da MVA, com o desenvolvimento do micélio
interno na raiz. Quando está consolidado, a MVA é considerada operativa e
começa a se formar o micélio externo.
Os fungos que formam MVA são da classe Zygomycetes, ordem
Endogonales, e família Endogonaceae, como Glomus, Sclerocystis,
Acaulospora, Entrophospora, Scutellospora, Gigaspora.
As MVA podem trazer muitos benefícios às plantas e a produtiva na
agricultura, como:

17
a. Efeito sobre o crescimento da planta: a MVA estimula o crescimento da
planta porque aumenta a nutrição mineral da planta, principalmente do
fósforo. Essa simbiose aumenta a biomassa vegetal e melhora a
proporção entre parte aérea e raiz;
b. Efeito sobre a absorção de nutrientes: aqui o maior efeito e sem dúvida
sobre a absorção de fósforo. As micorrizas têm uma capacidade enorme
de extrair de forma eficiente o fosfato do solo. Primeiro elas captam o
fosfato do solo, depois translocam através de suas estruturas intraradicais
(dentro da raiz) e então transferem o fosfato para as células do córtex da
raiz via arbúsculo;
c. Efeito na relação água-planta: quando falta água no solo e há baixa
concentração de fósforo, aquelas plantas que estão micorrizadas toleram
de forma melhor o estresse hídrico, a falta de água, assim como se
recuperam mais rapidamente do murchamento e usam a água de forma
mais eficiente;
d. Efeitos anatômicos e fisiológicos: plantas micorrizadas têm um aumento
no tecido vascular, facilitando assim a translocação de água e nutrientes.
Ainda há maior produção de hormônios, como o ácido abscísico,
giberilinas e citoquininas;
e. Efeito na fixação biológica de nitrogênio: plantas que possuem as duas
simbioses, micorrizas e Bradyrhizobium, têm maior nodulação, maior
atividade da nitrogenase, maior concentração de leg-hemoglobina e maior
teor de nitrogênio;
f. Efeito sobre fitopatógenos: pois é, por estarem mais bem nutridas, as
plantas micorrizadas normalmente apresentam menos danos às doenças
do que plantas não micorrizadas. Isso pode ser devido ao fato de que as
plantas com micorrizas têm maior vigor e crescimento, modificações nas
raízes diminuindo a capacidade de penetração do fitopatógeno, entre
outras causas;
g. Efeito na estrutura do solo: a simbiose aumenta a agregação do solo,
principalmente naqueles solos com maior teor de areia, como dunas.

Mas também existem fatores que dificultam ou aumentam a infecção por


fungos micorrízicos. Por exemplo, quanto menor a disponibilidade de fósforo no
solo, maior é a colonização radicular e o efeito benéfico que a simbiose pode
causar nas plantas. Mas se aumentar o teor de fósforo, diminui o efeito das

18
micorrizas. A mesma coisa pode ocorrer com o aumento do teor de nitrogênio no
solo. Em solos ácidos, a disponibilidade de Al+3 e H+ pode afetar a formação da
simbiose. Assim como a maior salinidade do solo, pode reduzir a germinação de
esporos de fungos micorrízicos. A umidade, temperatura, luminosidade e
aeração do solo são importantes, sendo que cada fungo e cada planta possui
suas necessidades próprias quanto a esta característica. Existem evidências de
que muitas populações microbianas do solo têm interações positivas com fungos
micorrrízicos. Porém pode haver parasitismo de esporos de fungos micorrízicos
por outros fungos, como Rhizidiomycopsis e Humicola. Boa parte dos
agrotóxicos, mas principalmente os fungicidas, pode reduzir o número de
propágulos no solo, inibindo assim a infecção das raízes.
Também é bom lembrar sobre a dependência micorrízica. Ela pode ser
definida como o grau que uma determinada planta depende da simbiose com
fungos micorrízicos, para apresentar seu crescimento máximo a um certo nível
de fertilidade do solo. Essa dependência é variável conforme a espécie e até
mesmo a variedade da planta. Nisso também está incluído o grau de
compatibilidade do fungo com a planta, o que está relacionado aos mecanismos
de reconhecimento entre o fungo e a planta hospedeira (Figura 12).

Figura 12 – Raiz de arroz colonizada por fungo micorrízico

Crédito: Augusto Kaminski Polo/Shutterstock.

19
TEMA 4 – FAUNA DO SOLO

Como já comentamos anteriormente, o solo não é somente um substrato


qualquer – na verdade, podemos considerar o solo como um ente vivo, um
ecossistema inteiro. É provavelmente o habitat o ecossistema com maior
biodiversidade em todo o planeta e que presta grandes serviços ecossistêmicos
para o meio ambiente e também para o ser humano.

4.1 Classificação em função do tempo de permanência

Um dos grupos de grande importância são os animais do solo, a fauna do


solo. Mas nem todos os animais que encontramos no solo habitam de forma
permanente esse local. Temos os permanentes, que passam no solo todo seu
ciclo de vida. As minhocas são bons exemplos desse grupo. Os temporários que
passam somente uma parte de sua vida no solo, como algumas larvas de
insetos. Os periódicos são aqueles que se movem para dentro e para fora do
solo de forma frequente. Os alternantes, que passam uma geração dentro do
solo e outra fora do solo. Algumas espécies de vespas pertencem a esse grupo.
Também podemos encontrar os chamados transientes, cujos estágios inativos,
como ovo e pupa, ficam no solo, e os estágios ativos ficam fora do solo. Muitas
e muitas espécies de insetos têm esse hábito. Finalmente há os acidentais, que,
por acidente, sem querer, acabam caindo no solo, mas não moram
verdadeiramente nesse habitat.

4.2 Classificação em função do tamanho

Também podemos classificar os animais do solo por seu tamanho. Aliás


esta é a classificação mais comum de fazermos (Figura 13).

20
Figura 13 – Divisão da fauna do solo em classes de tamanho

Microfauna Mesofauna Macrofauna Megafauna

Coleoptera Vertebrados
Protozoa
Diptera
Collembola
Chilopoda
Acari
Nematóides Diplopoda

Oligochaeta

0,002 mm 0,2 mm 2,0 mm 20 mm 200 mm

Fonte: Dunger, 2008.

Os protozoários são considerados como animais por alguns especialistas,


por isso são colocados nessa lista. Mas, sem dúvida alguma, os grupos mais
importantes são a mesofauna e a macrofauna.

4.2.1 Microfauna

A microfauna tem como capacidade regular populações microbianas e


afetar os ciclos dos nutrientes, assim como afetar a estrutura do solo, interferindo
com interações dos microrganismos.

4.2.2 Mesofauna

A mesofauna regula populações microbianas, afeta os ciclos dos


nutrientes e fragmenta resíduos, assim como produz agregados e criam
bioporos.

4.2.3 Macrofauna

Já a macrofauna fragmenta resíduos, estimula a atividade microbiana e


regula populações de outros organismos, assim como mistura matéria orgânica
com material mineral, criando bioporos, agregados e redistribuindo matéria
orgânica.

21
4.3 Classificação conforme seu hábito alimentar

A fauna do solo ainda pode ser classificada conforme seu hábito


alimentar:

a. Macrofitófagos – alimentam-se de plantas ainda vivas;


b. Microfitófagos – alimentam-se de microrganismos, principalmente fungos
e bactérias;
c. Coprófagos – alimentam-se de excrementos de outros animais;
d. Necrófagos – alimentam-se de outros animais já mortos;
e. Zoófagos – predadores, que se alimentam de outros animais ainda vivos;
f. Saprofitófagos – alimentam-se de material orgânico, tanto vegetal quanto
animal, que já está em algum estado de decomposição.

Os animais do solo, por causa da especificidade de seu habitat, tiveram


de se adaptar a algumas características diferenciadas no solo, por exemplo,
baixa concentração de oxigênio, espaços apertados, com poucos espaços
abertos, baixa luminosidade, baixa disponibilidade e qualidade de alimento,
flutuações microclimáticas frequentes e muito fortes.

4.4 Classificação em função do habitat

Outra maneira ainda de classificar a fauna do solo é pelo habitat:

4.4.1 Euedáficos

Vivem do sistema de poros dos solos, por isso mesmo têm poucos
apêndices corporais e muita resistência a CO2.

4.4.2 Epiedáficos

Vivem na superfície do solo e na camada orgânica, seus apêndices


corporais, como pernas e pelos são muito mais desenvolvidos, têm grande
mobilidade.

4.4.3 Hemiedáficos

Têm capacidade de cavar caminhos no solo por diferentes motivos como


se esconder, colocar seus ovos, caçar etc.

22
4.5 Macrofauna do solo

Os animais que constituem este grupo são alguns dos maiores que vivem
no solo de forma permanente. A maior parte da macrofauna do solo é facilmente
visível a olho nu. Neles podemos incluir as minhocas (Oligochaeta) (Figura 14),
Diplopoda e Chilopoda (milipídeos), Larvas de Coleoptera (Besouros), cupins,
formigas, aranhas, Isopoda (tatuzinho bola, por exemplo) (Figura 15),
Dermaptera (Tesourinhas), entre outros.

Figura 14 – Eisenia fetida, espécie de minhoca utilizada para vermicompostagem

Crédito: Galitsin/Shutterstock.

23
Figura 15 – Isopoda

Crédito: Vektorkongen/Shutterstock.

A macrofauna tem um papel importante no solo, pois podem atuar como


pragas, tanto de solo, quanto de parte aérea, como microfitófagos, zoófagos,
mas principalmente como transformadores da matéria orgânica é aquilo que
chamamos de engenheiros do ecossistema.
Os transformadores de matéria orgânica comem principalmente matéria
orgânica e também um pouco de solo. Por causa disso podem influenciar o solo
pela disponibilidade de matéria orgânica no solo e os ciclos dos nutrientes.
Podemos incluir nesse grupo algumas espécies de minhocas, os Diplopoda e os
Isopoda.
Já os engenheiros dos ecossistemas, em função de sua atividade física,
podem afetar as propriedades físicas do solo, chegando a mudar a estrutura do
solo, por isso apresentam esse nome. Além disso, acabam por afetar a
disponibilidade de recursos para outros animais e plantas. Nessa categoria
incluímos a maior parte das espécies de minhocas, os cupins, as formigas e os
corós (larvas de besouros). Esse grupo tem uma grande capacidade de criar
estruturas chamadas de biogênicas (como certos agregados do solo, imaginem
um ninho de cupim no solo), e provocar a bioturbação, isto é, mexer o solo de
forma significativa.

24
Saiba mais

BIOTURBAÇÃO com e sem fauna do solo. Heder Valencia, 2019.


Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=VXgq_qVrozg>. Acesso
em: 17 mar. 2023.

4.6 Mesofauna do solo

Como já vimos, a mesofauna do solo é constituída de animais um pouco


menores. Para conseguirmos enxergá-los no solo, temos de prestar muita
atenção e ter olho bom. São constituídos principalmente por dois grandes
grupos: os ácaros do solo, como os Cryptostigmata (Figura 16) e os Collembola
(Figura 17). Mas também por grupos menores em biodiversidade como Protura,
Diplura, pseudoescorpiões, entre outros. Eles contribuem para o solo por três
caminhos diferentes: fragmentação da matéria orgânica, mineralização de
nutrientes e estimulação da atividade microbiana.
Na fragmentação da matéria orgânica eles aumentam a superfície total de
contato que a MO terá com os microrganismos do solo, acelerando assim a
decomposição da matéria orgânica pelos microrganismos.
Em muitos casos, quando a mesofauna se alimenta de MO no solo, ao
passar pelo seu aparelho digestório, com o auxílio de enzimas, os nutrientes
saem na forma de húmus, em um composto já disponibilizado para as plantas.
E finalmente, eles podem estimular a atividade microbiana por dois meios
diferentes:

1. Alimentando-se diretamente de microrganisms e assim mobilizando


nutrientes;
2. Alimentação seletiva e, por consequência alterando a competição entre os
diferentes microrganismos e mudando a estrutura da comunidade
microbiana.

25
Figura 16 – Cryptostigmata (ácaros que vivem no solo)

Crédito: msk1147/Shutterstock.

Figura 17 – Collembola

Crédito: Liliya Butenko/Shutterstock.

TEMA 5 – BIOINDICADORES DO SOLO E QUALIDADE AMBIENTAL

Com a população mundial cada vez maior, vem crescendo a necessidade


de produção de alimentos, fibras, madeira, pastagem e outros produtos da
agropecuária. Essa intensificação que vem acontecendo no setor, se malfeita,
pode levar à degradação dos solos em um ritmo realmente alarmante.
Aumentam os processos de erosão, diminuem os teores de matéria orgânica no
e a atividade do solo. Por isso mesmo, estamos procurando sistemas de
produção que impactem menos o ambiente, para que possamos continuar a

26
produzir no futuro. Portanto queremos sistemas de produção que mantenham a
qualidade do solo, a qualidade ambiental.
O termo qualidade do solo é normalmente relacionado com a
produtividade das culturas ou fertilidade: esta é a visão agronômica. Pensamos
em como o solo pode produzir de forma sustentável, ao longo do tempo. O que
fazemos é adotar formas de manejo do solo que não causem efeito negativo
sobre o mesmo e que provenha meios para que a planta cresça, que regulem o
fluxo de água no solo, que promovam a reciclagem de nutrientes e que
funcionem como um tampão ambiental de compostos poluentes.
Uma das maneiras de verificarmos a qualidade ambiental de um sistema
de produção é por meio dos chamados indicadores da qualidade do solo.
Normalmente, na atividade agropecuária, quando pensamos em neles ou
mesmo na qualidade ambiental, pensamos em características físicas ou
químicas.

5.1 Qualidade física do solo

A qualidade física do solo está relacionada a algumas variáveis básicas,


como textura, densidade, porosidade, compactação, agregados. Essas variáveis
relacionam-se umas com as outras e estão ligadas à aeração do solo, umidade,
fluxo de água no perfil do solo, permitindo assim o bom crescimento das raízes
e boa produtividade.

5.2 Qualidade química do solo

Em termos de qualidade química, pensamos nas três funções básicas:


reciclagem da matéria orgânica, liberação lenta e constante dos nutrientes
contidos na matéria orgânica e outros, e diminuição da toxicidade de eventuais
poluentes do solo. Essas características, além de promoverem uma eventual
despoluição, permitem o fornecimento de nutrientes às plantas, permitindo com
que elas cresçam de forma satisfatório.

5.3 Bioindicadores

Tanto as características físicas quanto as químicas aqui colocadas são


sim bons indicadores da qualidade do solo. Mas as propriedades biológicas do
solo, sua biota, tanto microrganismos, quanto fauna, é que promovem a

27
integração das outras características e assim têm um papel essencial para o
funcionamento e produtividade do solo como um todo. Dessa maneira, os
indicadores biológicos da qualidade do solo, agora chamados de bioindicadores,
por apresentarem uma sensibilidade maior às mudanças provocadas no solo,
podem mostrar, de formas mais dinâmica, alterações ocorridas ou a
sustentabilidade do ecossistema solo.
Podemos definir como bioindicadores uma espécie ou mesmo um grupo
de espécies, sejam microrganismos, animais ou plantas que conseguem refletir
o que efetivamente está acontecendo no meio ambiente e que também podem
revelar rapidamente quando ocorrem mudanças drásticas no meio ambiente, por
exemplo, diminuindo ou aumentando a sua população, ou mesmo
desaparecendo completamente.
Imaginem a seguinte situação: o solo tem uma população de minhoca,
que contribui muito para a degradação da MO, aeração do solo e disponibilidade
de nutrientes. De repente, ocorre algo de errado no solo, seja por erosão, por
poluentes, ou mesmo por um mau manejo do solo. Essa população de minhocas
vai sofrer, diminuir sua diversidade, alterar sua estrutura etária, e diminuir muito
sua densidade populacional. Viu como um organismo reage bem rápido a
alguma coisa ruim no solo? Por isso, ele pode ser utilizado como bioindicador
das condições do solo.
Muitos são os bioindicadores são utilizados para determinar-se a
qualidade ambiental do solo. Podemos citar:

a. Número de microrganismos (os diferentes grupos de bactérias e fungos


do solo);
b. Biomassa microbiana (principalmente baseada em C, N, P, S);
c. Atividades microbiana (daí podemos utilizar respirometria, enzimas e
quantidade de enzimas do solo ou algum outro produto microbiano
específico);
d. N mineralizável e qual é a taxa de nitrificação daquele solo;
e. Densidade e dinâmica populacional de diferentes grupos de
microrganismos benéficos, como fixadores de nitrogênio, micorrizas,
solubilizadores de fosfato e outros;
f. Fauna do solo, como minhocas, ácaros, Collembola, entre outros, sua
densidade e dinâmica populacional ao longo do tempo;

28
g. Variáveis que denotam a estrutura e função das comunidades biológicas
do solo, como: DNA, Biolog, análises baseadas em perfis de lipídeos
extraídos do solo, entre outros.

Os indicadores microbianos são importantes porque esses


microrganismos do solo têm um papel básico como agentes reguladores de
processos no solo, como a decomposição da matéria orgânica, a reciclagem de
nutrientes, a produção de diferentes metabólitos no solo, na degradação de
agrotóxicos aplicados pelo ser humano, e também na formação e estabilidade
dos agregados no solo.
Já a fauna do solo é utilizada como bioindicadores pela sua composição
e dinâmica populacional. Por exemplo, uma alteração na estrutura da
comunidade de minhocas no solo pode demonstrar que algo está influenciando
estes organismos. As minhocas são reconhecidas pelos próprios agricultores e
não somente pesquisadores como tendo um papel fundamental nas condições
de umidade e de matéria orgânica do solo (Figura 18).

Figura 18 – Papel das minhocas na estrutura do solo e produtividade das plantas

Crédito: KajaNi/Shutterstock.

29
Mas como determinar os indicadores da qualidade do solo? Arshad e
Martin (2002) sugerem como etapas para a construção de um índice de
qualidade do solo:

a. Dividir a área, pode ser por bacias hidrográfica, tipo de habitat, ecorregião,
fazendas, talhões, glebas, enfim como achar melhor; (
b. Definir qual é o objetivo dos indicadores da qualidade do solo, por
exemplo, quero para aumentar na produção agrícola, para proteção do
meio ambiente etc.;
c) Eleger os indicadores de qualidade do solo e determinar a sua linha de
base, isto é, como cada indicador se comporta normalmente naquela
região em condições normais, isso varia de região para região, de solos
para solo;
d. Finalmente, determinar os limites críticos para aqueles indicadores que
selecionamos, quer dizer qual é o mínimo admitido de cada indicador para
que o solo tenha alguma qualidade. E isso também pode variar de região
para região, de solo para solo, comportando-se de diferentes inclusive em
climas diferentes. Preste atenção nesses detalhes.

Quando formos determinar quais indicadores serão utilizados, sugere-se


escolher alguns que sejam importantes para a determinação de solos
degradados ou que estejam em processo de degradação, comparando-se com
indicadores que mostrem a boa saúde do solo. Enquanto aqueles indicadores de
degradação mostram o lado ruim, aqueles de boa saúde do solo mostram o lado
bom.
A partir do momento da escolha dos indicadores, pode-se reuni-los em
sistemas quantitativos, que são expressos em índices (expressão matemática
obtida com base na aplicação de diferentes informações). Não é obrigatório, mas
pode ser feito. Estes índices podem ser importantes porque facilitam a
visualização conjunta de todos os indicadores escolhidos e obtidos, assim como
pode se ver em escala contínua de avaliação. Mas tome cuidado: essa avaliação
deve ser em função da linha de base e dos limites críticos aceitos para cada
indicador. Por isso não existe uma receitinha pronta... A análise deve ser feita
sempre dependendo dos dados de solo para solo, de região para região.
Consulte os órgãos de pesquisa da sua região, para ver se eles já têm Índices e
Indicadores definidos.

30
FINALIZANDO

Nesta etapa, estudamos muito sobre a vida no solo, os microrganismos e


a fauna do solo. Compreendemos que o solo é um ecossistema dinâmico que
não depende somente de suas características físicas e químicas, mas
principalmente de sua atividade biológica que fará a ligação entre todas as
propriedades do solo. Agora devemos olhar o solo de forma diferente. Vamos
olhar o solo mais de perto, muito de perto, vamos começar a procurar seus
moradores, sua vida. Preparado para isso?

31
REFERÊNCIAS

ARSHAD, M. A.; MARTIN, S. Identifying critical limits for soil quality indicators in
agro-ecosystems. Agriculture, Ecosystems and Environment, v. 88, n. 2, p.
153-160, 2002.

BALOTA, E. L. Manejo e qualidade biológica do solo. Londrina: Midiogaf,


2018.

CARDOSO, E. J. B. N.; TSAI, S. M.; NEVES, M. C. P. Microbiologia do solo.


Campinas: SBCS, 1992.

DUNGER, W. Tiere im Boden. Hohenwarsleben: Westarp Wissenchaften, 2008.

MOREIRA, F. M.S.; SIQUEIRA, J. O. Microbiologia e bioquímica do solo. 2.


ed. Lavras: Ed. da UFLA, 2006.

TAIZ, L. et al. Fisiologia e desenvolvimento vegetal. 6. ed. Porto Alegre:


Artmed, 2017.

32
MANEJO, FERTILIDADE,
CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA
ÁGUA
AULA 3

Prof. Klaus Dieter Sautter


CONVERSA INICIAL

Aposto que, quando você vai visitar algum lugar novo, fica pensando em
como aquela paisagem era formada. Outra coisa que deve se passar pela sua
cabeça é saber quanto tempo levou para ser formada. Interessante, não é
mesmo? Isso é explicado pela geomorfologia. Esses processos vão ter um papel
importantíssimo na formação do solo e principalmente nas características do
solo. Por isso, agora vamos discutir um pouco mais sobre o assunto.

TEMA 1 – GEOMORFOLOGIA

A palavra geomorfologia vem do grego e significa Geo = Terra, morfo =


forma e logos = estudo. Portanto podemos dizer que geomorfologia significa o
estudo da Terra, ou melhor, das formas da superfície da Terra. Mas como assim?
Na geomorfologia estudamos o relevo das diferentes regiões, pensando em
como ele surgiu (aspectos genéticos), quanto tempo levou para se formar
(aspectos cronológicos), quais suas formas (aspectos morfológicos), qual é seu
tamanho (aspectos morfométricos) e como ele se comporta ao longo do tempo
(aspectos dinâmicos). A geomorfologia se concentra no estudo de como são as
diferentes paisagens, mas para isso ela acaba estudando toda a dinâmica da
litosfera e se relaciona com outras ciências, como a climatologia (estudo do
clima), hidrografia (estudo dos corpos hídricos), pedologia (estudo dos solos) e
glaciologia (estudo os corpos de gelo). Mas é claro que a geomorfologia acaba
estudando também o ser humano e as relações do ser humano com o meio
ambiente. Essa ciência se iniciou com William Morris Davis, um norte-americano
que começou a demonstrar as causas que são responsáveis pela modelagem
da superfície de nosso planeta. A geomorfologia está muito ligada também à
geologia (Figura 1).

1.1 Tipos de relevo

Você gosta de viajar? Já viajou muito? Pois bem, quando viajamos,


podemos notar claramente a influência da geomorfologia ao nosso redor. Como
já falamos, a geomorfologia estuda o relevo de nosso planeta, isto é, as
saliências, depressões que vemos ao nosso redor. Essas formas surgiram há
muito tempo, algumas vezes milhões de anos atrás. Como diferentes formas,
temos as montanhas, os planaltos, as planícies e outras.
2
Figura 1 – A geomorfologia estuda o relevo de nosso planeta

Crédito: Stihii/Shutterstock.

Essas formas são originárias da ação de dois tipos básicos de agentes ou


também chamados de fatores do relevo. Aqueles de origem interna, ou também
conhecidos por fatores endógenos, quer dizer, que vêm de dentro do planeta,
como vulcanismo (Figura 2), tectonismo (terremotos) e outros. E também temos
aqueles fatores de origem externa, ou exógenos, que vêm da superfície do
planeta, como água corrente, variação de temperatura, a força da chuva, ação
de geleiras (Figura 3) e até mesmo a ação de seres vivos.

Figura 2 – É muito comum vulcões formarem novas ilhas no meio dos oceanos

Crédito: Dotted Yeti/Shutterstock.


3
Esses agentes ou fatores de relevo atuam sobre a litosfera, isso é, sobre
a camada que cobre o planeta. E a litosfera pode ser formada por diferentes tipos
de rochas:

1.1.1 Rochas magmáticas

Também chamadas de rochas ígneas ou rochas cristalinas. Quando um


vulcão explode, um dos produtos que são extravasados é o magma, a lava do
vulcão. Depois que ela entra em contato com ar, começa a se solidificar,
formando as rochas, que podem ser do tipo plutônica (intrusivas ou abissais),
que solidificaram no interior da crosta terrestre, e aqueles do tipo vulcânica
(extrusivas ou efusivas), que se solidificaram na superfície do planeta (Figura 4).

Figura 3 – Os famosos fiordes da Noruega foram formados por ação de geleiras


há milhares de anos

Crédito: Smit/Shutterstock.

4
Figura 4 – Rochas magmáticas

Crédito: Vvoe/Shutterstock.

1.1.2 Rochas sedimentares

Estas se formam ao longo do tempo, quando detritos de outras rochas são


depositados, acumulados em algum lugar. Podem ainda possuir detritos
orgânicos ou mesmo precipitados químicos (Figura 5).

1.1.3 Rochas metamórficas

São rochas de outros tipos que, quando submetidas a diferentes


temperaturas e pressões, sofrem transformações e têm suas características
originais modificadas (Figura 6).

5
Figura 5 – Rochas sedimentares

Crédito: Leene/Shutterstock.

Figura 6 – Gneisse, um tipo de rocha metamórfica

Crédito: Breck P. Kent/Shutterstock.


6
A partir desses três tipos de rochas, sofrendo a ação dos agentes de
relevo, podemos encontrar três tipos de formação básicos.

1.2 Tipos de formação

1.2.1 Maciços cristalinos

Chamados também de escudos antigos. São blocos enormes de rochas,


tanto rochas magmáticas ou metamórficos. Normalmente são muito
desgastados. Nesses casos, o relevo é pouco ondulado, e as suas montanhas
não são muito altas.

1.2.2 Bacias sedimentares

São depressões nas quais, ao longo do tempo vão se acumulando


detritos, sedimentos de áreas mais ou menos próximas. Nesses lugares
podemos encontrar recursos minerais como petróleo, carvão mineral, xisto ou
mesmo gás natural (Figura 7).

Figura 7 – Os arenitos de Vila Velha (Paraná) são resultados da erosão pelo


vento de uma bacia sedimentar

Crédito: Alexroch/Shutterstock.

7
1.2.3 Dobramentos modernos

Estes locais são mais novos, geologicamente pensando, formados há não


muito tempo, principalmente por forças tectônicas vindas de dentro do planeta.
Essas forças tectônicas forçam partes da litosfera para fora, formando assim as
cadeias de montanhas, como Andes, Alpes e até o Himalaia, onde está a
montanha mais alta do mundo, o Everest, com 8.849 metros acima do nível do
mar (Figura 8). É interessante que esses dobramentos podem ser provocados
por forças tectônicas (pressões) verticais, laterais (inclinadas) ou mesmo
horizontais, resultando assim em um dobramento ou falha.

Figura 8 – Everest, a montanha mais alta do mundo, no Himalaia. É um


dobramento moderno

Crédito: Daniel Prudek/Shutterstock.

TEMA 2 – GEOMORFOLOGIA E SOLOS

Já vimos que geomorfologia se refere ao estudo das formas do planeta,


isso é, do seu relevo. Para o estudo da geomorfologia precisamos conhecer os
tipos de rochas. É nesse momento que entra a geologia e os fatores que podem
provocar a formação dos diferentes tipos de relevo. A geomorfologia também
possui uma relação muito próxima com outras ciências. Uma delas é a pedologia.

8
Podemos definir a pedologia como o estudo dos diferentes tipos de solos em seu
ambiente natural. A geomorfologia tem um papel importante na formação dos
solos, porque o relevo pode determinar como se dá a evolução dos solos, por
exemplo, por meio dos fluxos hídricos que ocorrem na superfície.
Em 1899 Davis propôs um modelo em que ele colocava que o clima seria
um dos grandes responsáveis pela formação de relevos, portanto dos solos. Por
exemplo, em climas úmidos, com a intensa atividade dinâmica de escoamento e
percolação das águas de chuvas, haveria uma maior ação sobre o relevo, sendo
muito mais ativa a formação dos solos.
Já no século XX, começou a se perceber, de mais intenso, que há uma
dependência entre a evolução dos solos e o tipo de relevo e sua localização. Por
exemplo, a posição topográfica influencia a ação da água, que, por sua vez,
afetaria diferentes características do solo. A ação das águas afetaria a
distribuição dos solos nas diferentes partes da encosta. Em 1935, Milne propôs
a criação do termo chamado de catena ou topossequência, isto é, a sequência
de solos que podemos observar ao longo de uma encosta. Começou-se a incluir
a cronologia dos solos junto à cronologia dos relevos. Por exemplo, solos mais
jovens são formados por relevos mais jovens. Nesta ideia que teve como origem
Davis, podemos dizer que há uma evolução dos solos. Na sua fase de juventude,
os solos têm uma intensa atividade de morfogênese (com processos como a
erosão), sendo assim considerados solos jovens e normalmente rasos. Daí
evoluiriam para a maturidade, com um relevo menos recortado, menos
acidentado, em que há um equilíbrio maior entre processos erosivos e acúmulo
de materiais (sedimentação, espessamento do solo). E depois o solo passaria
por uma fase de senilidade, tendo então atingido o seu estágio máximo de
desenvolvimento da pedogênese.
Com base nessa ideia, podemos dizer que a morfogênese e a
pedogênese têm uma relação extremamente próxima.

Saiba mais

Morfogênese: processo de erosão e de esculpimento das diferentes


formas de relevo.
Pedogênese: processo de alteração das rochas originais e consequente
formação dos diferentes tipos de solos.

9
Neste processo de morfogênese e pedogênese, vários fatores estão
incluídos, em uma ação de forma integrada, constituindo processos complexos,
por meio da combinação de mecanismos de translocação (tanto seletivas quanto
não seletivas), transformação dos constituintes, por conta de alterações de
origem mineralógica, adições à superfície e perdas subsuperficiais. Em função
disso, em diferentes locais, os processos de formação de solos sofrem diferentes
intensidades, sendo então denominados de diferentes formas, como
podzolização, latossolização, gleização, entre outros (Figura 9).
Em uma catena ou topossequência, normalmente o solo varia conforme a
variação do relevo. Nas partes mais altas e planas geralmente encontramos
latossolos. Descendo pela encosta, é comum encontramos argissolos. Nas
partes mais baixas o gleissolo predomina. Mas é claro que depende de uma série
de fatores. Algumas vezes a catena pode mudar.
Em áreas onde o relevo é mais inclinado, consequentemente a infiltração
de água será menor, e a água vai descer pela encosta, provocando menos
intemperismo sobre a rocha original. Este fenômeno também provoca a retirada
em maior quantidade de sedimentos na superfície da área, portanto formando
solos mais rasos. Agora no final da encosta, a água vai se acumular, provocando
assim uma maior ação do intemperismo hídrico, dificultando a sua drenagem,
provocando a redução do ferro e maior acúmulo de matéria orgânica. Uma outra
coisa que devemos levar em conta é que a inclinação do relevo também atua na
exposição da área à radiação solar, podendo provocar mudanças na composição
e textura do solo (Figura 9).

Quadro 1 – Processos pedogenéticos

Processos Processos múltiplos Descrição resumida do processo Exemplo de tipo


pedogenéticos de solo
específicos
Ferralitização Remoção, Remoção de sílica e concentração Latossolos,
transformação e de óxidos de Fe e Al. Nitossolos, caráter
translocação ácrico
Silicificação Transformação e Migração e acúmulo de sílica Latossolos e
translocação cimentando estruturas ou a matriz Argissolos
do solo Amarelos coesos
Plintitização e Transformação e Redução e translocação de Fe e Plintossolos
laterização translocação oxidação e precipitação originando
mosqueados, plintita ou petroplintita
Lessivagem Translocação Migração vertical de argila no solo Argissolos,
ou Luvissolos,
argiluviação horizontes E,
lamelas

10
Podzolização Transformação e Migração de complexos de Fe, Al e Espodossolos,
translocação matéria orgânica no solo com Ortstein
acúmulo em horizonte iluvial, com
ou sem sílica
Gleização Remoção, Redução de Fe em condições Gleissolos,
transformação e anaeróbias e translocação Planossolos
translocação formando horizontes acinzentados
com ou sem mosqueados
Calcificação Translocação Acumulação de CaCO3 com Luvissolos,
ou nódulos ou horizonte endurecido Chernossolos
carbonatação Rêndzicos
Ferrólise Remoção, Destruição de argila com formação Planossolos,
transformação e de horizonte B textural Argissolos
translocação
Salinização Translocação Acumulação de sais por Gleissolos sálicos
evaporação no horizonte superficial
ou na superfície do solo
Sulfurização Transformação e Acidificação do solo causada pela Gleissolos
ou translocação oxidação de compostos de enxofre Tiomórficos
tiomorfismo

Fonte: Kämpf; Curi, 2012.

A pedogênese pode ser afetada por vários fatores, como:

1. Clima: nesse caso, estamos falando de mudanças de temperaturas, que


provocam intemperismo da rocha matriz, chuvas e umidade;
2. Biota (organismos vivos): tanto animais quanto plantas podem desagregar
mecanicamente as rochas, abrindo então poros (ou buracos) e também
desagregar quimicamente, por meio da produção de substâncias ácidas.
3. Relevo: influencia na drenagem da água e na ação do clima sobre a rocha
matriz. Pode acelerar ou proteger de processos erosivos.
4. Material de origem: é a rocha matriz, ou rocha mãe. Quanto mais o solo é
novo, mais parecido com a rocha matriz ele é. Com o tempo esta rocha
matriz sofre uma série de modificações, transformando os minerais
primários em secundários. Quanto mais resistente for a rocha matriz,
maior é o tempo de pedogênese;
5. Tempo: solos mais maduros, mais velhos, têm maior profundidade e
maiores teores de argila.

Nos processos de pedogênese ainda atuam a acidificação, remoção de


material, transporte e translocação, e transformação.
A pedogeomorfologia é a ciência que junta os conhecimentos
geomorfológicos e pedológicos. O estudo das relações relevo-solo pode auxiliar
em muito o estudo da conservação do solo e da água, por exemplo, na definição

11
do potencial uso do solo, assim como na definição de áreas com risco a erosão
(Figura 10).
O entendimento das relações espaço-temporais dos diferentes processos
ambientais, como solos, material de origem, e geomorfologia, nos permite
entender como se dá a distribuição dos solos na paisagem e sua variabilidade.

Figura 9 – Formação do solo em uma área planas (à esquerda) e em uma


topossequência (à direita) e a ação da água.

Crédito: Amadeu Blasco/Shutterstock.

12
Figura 10 – É importante entender a relação entre geomorfologia e solos, para
se evitar problemas como a erosão destes solos, no seu mau uso.

Crédito: Meechai39/Shutterstock.

TEMA 3 – CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS: ATRIBUTOS DIAGNÓSTICOS

Tendo em vista a geomorfologia e os processos de pedogênese, podemos


classificar os diferentes tipos de solos que existem. Para isso, precisamos
entender algumas características do solo que servem de diagnóstico, quer dizer,
devemos prestar mais atenção para saber qual tipo de solo é determinado pelo
quê.

3.1 Material orgânico

São os restos vegetais em diferentes estágios de decomposição, não se


incluindo aí as raízes que ainda estão vivas. Esse material orgânico pode estar
ligado ao material mineral do solo. Consideramos material orgânico aquele:

13
a. cujas propriedades tiverem preponderância sobre as propriedades do
material mineral;
b. cujo teor de carbono orgânico deve ser igual ou maior que 80 g kg-1.

3.2 Material mineral

É formado principalmente de compostos de origem inorgânica, em


diferentes estágios de intemperismo, de decomposição. O material do solo será
considerado como mineral quando não se incluir como material orgânico.

3.3 Atividade da fração argila

É relacionada à capacidade de troca de cátions (lembre-se das cargas


nas partículas do solo), relacionada à fração de argila no solo. É calculada como
(Eq. 1)

Eq. 1 Targila = ((CTC a pH 7,0 ou T) / % argila) x 100

Consideramos como atividade alta (Ta), quando o valor igual é ou superior


a 27 cmolc kg-1 de argila, e atividade baixa (Tb), um valor inferior a 27 cmolc kg-
1 de argila. Para tal usamos o horizonte B ou C, quando não existir o B.

3.4 Saturação por bases

É a proporção de cátions básicos trocáveis em relação à sua capacidade


de troca, determinada sempre a pH 7,0 (Eq. 2)

Eq. 2 V% = 100 x S/T (ou CTC a pH 7,0), onde S é a soma de bases

Solo de alta saturação é quando V é igual ou superior a 50% e são


chamados de eutrófico. Em baixa saturação, os solos possuem V inferiores a
50% (solos distróficos). Considera-se o Valor V nos horizontes B ou C.

3.5 Mudança textural abrupta

É quando temos um considerável aumento no teor de argila em pequena


distância na zona de transição entre o horizonte A e o horizonte subjacente B.
Consideramos então que quando o conteúdo de argila no horizonte A for menor
que 200 g kg-1 de solo, o teor de argila do horizonte subjacente B, determinado

14
em uma distância vertical ≤ 7,5 cm, deve ser de pelo menos o dobro do conteúdo
do horizonte A. Quando o horizonte A tiver conteúdo de argila igual ou maior que
200 g kg-1 de solo, o incremento de argila no horizonte subjacente B,
determinado em uma distância vertical ≤ 7,5 cm, deve ser igual ou maior que 200
g kg-1.

3.6 Plintita

É uma mistura de argila, sendo pobre em carbono orgânico e rica em ferro,


ou ferro e alumínio, com grãos de quartzo e outros minerais. É mais comum na
forma de mosqueados vermelhos, vermelho-amarelados e vermelho-escuros,
com padrões normalmente laminares, poligonais ou reticulados. Forma-se em
ambiente úmido pela segregação de ferro, importando em mobilização,
transporte e concentração final dos compostos de ferro. A plintita é um corpo
claramente distinto de material rico em óxido de ferro e pode ser diferenciada
dos nódulos ou concreções ferruginosas consolidadas (petroplintita), que são
muito firmes ou muito duras (Figura 11).

Figura 11 – Plintita

Crédito: Krichsana Ramsoot/Shutterstock.

15
3.7 Petroplintita

Vem da plintita que sofre ciclos repetitivos de umedecimento seguidos de


ressecamento acentuado, tendo consolidação vigorosa, levando à formação de
nódulos ou de concreções ferruginosas (ironstone, concreções lateríticas, canga,
tapanhoacanga), de tamanhos e formas variadas (laminar, nodular, esferoidal ou
alongada). Normalmente são posicionadas de forma vertical, ou irregularmente
e individualizadas ou, ainda, aglomeradas.

3.8 Superfícies de fricção (slickensides)

São superfícies alisadas e lustrosas, que muitas vezes têm um


estriamento bem marcante, que é produzido pelo deslizamento e pelo atrito da
massa de solo, quando há uma movimentação do material argiloso sendo
expandido por causa do umedecimento deste material. Normalmente as
superfícies são inclinadas em relação ao prumo dos perfis de solo.

3.9 Caráter ácrico

É quando a soma de bases trocáveis (Ca2+, Mg2+, K+ e Na+) + alumínio


extraível por KCl 1 mol L-1 (Al3+) é igual ou inferior a 1,5 cmolc kg-1 de argila e
que tem pelo menos uma das seguintes condições: (a) pH KCl 1 mol L-1 igual ou
superior a 5,0; (b) ΔpH positivo ou nulo (ΔpH = pH KCl – pH H2O) (diferença
entre pH KCl e pH H2O).

3.10 Caráter alumínico

É quando o solo está dessaturado e tem teor de alumínio extraível ≥ 4


cmolc kg-1 de solo, além de ter saturação por alumínio [100 x Al+3 / (S + Al+3)]
≥ 50% e/ou saturação por bases (V% = 100 x S/T) < 50%. Para tal, considera-se
o teor de alumínio extraível no horizonte B ou no horizonte C, quando não houver
horizonte B.

3.11 Caráter argilúvico

Serve para se separar solos que têm concentração expressiva de argila


no horizonte B, mas não o suficiente para identificar um horizonte B textural ou
B plânico. Precisa ter, simultaneamente: (a) Relação textural (B/A) igual ou maior
16
que 1,4; (b) Horizonte B com estrutura prismática em qualquer grau de
desenvolvimento ou em blocos de, no mínimo, grau moderado.

3.12 Caráter carbonático

Quando o solo tem 150 g kg-1 de solo ou mais de CaCO3 equivalente sob
qualquer forma de segregação, incluindo-se nódulos e/ou concreções.

3.13 Caráter hipocarbonático

É o caráter carbonático, porém com a presença de CaCO3 equivalente


sob qualquer forma de segregação, incluindo-se nódulos e/ou concreções, igual
ou superior a 50 g kg-1 de solo e inferior a 150 g kg-1 de solo.

3.14 Caráter coeso

São aqueles solos que têm horizontes pedogenéticos subsuperficiais


adensados, muito resistentes à penetração de faca ou martelo pedológico e que
são de muito duros a extremamente duros quando secos. Podem passar a
friáveis ou firmes quando úmidos. Normalmente têm textura média, argilosa ou
muito argilosa.

3.15 Caráter concrecionário

É quando o solo apresenta petroplintita na forma de nódulos ou


concreções em um ou mais horizontes dentro da seção de controle que defina a
classe, com quantidade e/ou espessura insuficientes para caracterizar horizonte
concrecionário. Tem que ter pelo menos 5% por volume de petroplinitita.

3.16 Caráter crômico

É quando tem predominância, na maior parte do horizonte B de cores, na


Carta de Munsell, como:

a. Matiz 5YR ou mais vermelho, com valores iguais ou maiores que 3 e


cromas iguais ou maiores que 4;
b. Matiz mais amarelo que 5YR>até 10YR, valores iguais ou maiores que 4
e cromas iguais ou maiores que 4;

17
c. Matiz mais amarelo que 10YR até 5Y, valores iguais ou maiores que 5 e
cromas maiores que 4.

3.17 Caráter dúrico

São solos que têm cimentação forte em um ou mais horizontes, incluindo


a presença de duripã, ortstein, plácico e outros horizontes com cimentação forte
que não se enquadrem na definição de horizontes litoplíntico, concrecionário e
petrocálcico.

3.18 Teor de óxidos de ferro

Os teores de óxidos de ferro (Fe2O3) podem separar classes de solos: (a)


Solos com baixo teor de óxidos de ferro (< 80 g kg-1 de solo) (hipoférrico); (b)
Solos com teor (80 g kg-1 a < 180 g kg-1 de solo) (mesoférrico); (c) Solos com
alto teor de óxidos de ferro, entre 180 g kg-1 a mais de 360 g kg-1 de solo (férrico);
(d) Solos com teores de óxidos de ferro muito altos ≥ 360 g kg-1 de solo
(perférrico).

3.19 Grau de decomposição do material orgânico

Este atributo é utilizado para organossolos:

a. Material orgânico fíbrico – material orgânico constituído de fibras,


facilmente identificável como de origem vegetal. Tem 40% ou mais de
fibras por volume;
b. Material orgânico hêmico – material orgânico em estádio de decomposição
intermediário entre fíbrico e sáprico. O material é parcialmente alterado
por ação física e bioquímica. O conteúdo de fibra varia de 17% a 40% por
volume;
c. Material orgânico sáprico – material orgânico em estádio avançado de
decomposição. Normalmente, tem o menor teor de fibras, a mais alta
densidade e a mais baixa capacidade de retenção de água no estado de
saturação dentre os três tipos de materiais orgânicos. É muito estável
física e quimicamente, alterando-se muito pouco no decorrer do tempo, a
menos que o solo seja drenado. O conteúdo de fibra é menor que 17%
por volume.

18
Outros atributos diagnósticos podem ser utilizados, dependendo do tipo
de solo, como: caráter ebânico, caráter espódico, caráter eutrico, caráter flúvico,
caráter litoplíntico, caráter plânico, caráter plíntico, caráter redóxico, caráter
retrátil, caráter rúbrico, caráter sálico, caráter salínico, caráter sódico, caráter
solódico, caráter sombrico, caráter vértico, contato lítico, contato lítico
fragmentário, materiais sulfídricos e propriedades ândicas.

TEMA 4 – CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS: HORIZONTES DIAGNÓSTICOS

Assim como há atributos diagnósticos, quer dizer, algumas características


do solo que servem para classificá-los, também podemos utilizar dos chamados
horizontes diagnósticos, horizontes cujas características podem auxiliar na
identificação de qual tipo de solo ele pertence. Vamos ver alguns desses
horizontes diagnósticos?

4.1 Horizontes superficiais

4.1.1 Horizonte hístico

Este horizonte tem coloração preta, cinzenta bem escura ou brunada.


Possui alto teor de matéria orgânica. É formado por acumulação de matéria
orgânica em diferentes estágios de decomposição, que podem ser recobertas
por camadas ou horizontes minerais. Tem teores de matéria orgânica maiores
que 80 g kg-1.
Entre suas características, podemos citar:

a. Espessura maior ou igual a 20 cm;


b. Espessura maior ou igual a 40 cm quando 75% ou mais do volume do
horizonte for constituído de tecido vegetal na forma de restos de ramos
finos, raízes finas e cascas de árvores, excluindo as partes vivas;
c. Espessura de 10 cm ou mais quando sobrejacente a um contato lítico ou
lítico fragmentário ou a um horizonte e/ou camada constituído por 90% ou
mais (em volume) de material mineral com diâmetro maior que 2 mm
(cascalhos, calhaus e matacões).

19
4.1.2 Horizonte A chernozêmico

É formado por um horizonte mineral superficial, mais ou menos espesso,


tem cor escura e alta saturação por bases e com certas características
específicas:

a. Tem uma estrutura bem desenvolvida, com agregação e grau de


desenvolvimento predominantemente moderado ou forte;
b. Cor do solo de croma igual ou inferior a 3 quando úmido, valores iguais ou
mais escuros que 3 quando úmido e que 5 quando seco;
c. Saturação por bases (valor V) de 65% ou mais, com predomínio do íon
cálcio e/ou magnésio;
d. Conteúdo de carbono orgânico igual ou maior que 6 g kg-1 de solo ou mais
em todo o horizonte, conforme o critério de espessura no item seguinte;
e. Espessura, incluindo horizontes transicionais (tais como AB, AE ou AC),
mesmo quando revolvido o material de solo, com pelo menos uma destas
características: 10 cm ou mais, se o horizonte A é seguido de contato com
a rocha; ou 18 cm, no mínimo, e mais que um terço da espessura do solum
(A+B), se este tiver menos que 75 cm; ou para solos sem horizonte B, 18
cm no mínimo e mais de um terço da espessura dos horizontes A+C, se
esta for inferior a 75 cm; ou 25 cm, no mínimo, se o solum tiver 75 cm ou
mais de espessura.

4.1.3 Horizonte A húmico

É formado por um horizonte mineral superficial, com valor e croma (cor do


solo úmido) iguais ou inferiores a 4 e saturação por bases (valor V) inferior a
65%, apresentando espessura e conteúdo de carbono orgânico (CO) dentro dos
seguintes limites:

a. Espessura mínima como a descrita para o horizonte A chernozêmico;


b. Conteúdo de carbono orgânico inferior ao limite mínimo para caracterizar
o horizonte hístico;
c. Conteúdo total de carbono igual ou maior que o valor obtido pela seguinte
inequação:

20
d. Σ (CO, em g kg-1, de sub-horizontes A x espessura do sub-horizonte, em
dm) ≥ 60 + (0,1 x média ponderada de argila, em g kg-1, do horizonte
superficial, incluindo AB ou AC).

4.1.4. Horizonte A proeminente

Parecido com horizonte A chernozêmico, naquelas condições de cor, teor


de carbono orgânico, consistência, estrutura e espessura, mas com saturação
por bases (valor V) inferior a 65%. É diferente do horizonte A húmico pelo teor
de carbono orgânico conjugado com espessura e teor de argila.

4.1.5 Horizonte A antrópico

É um horizonte que foi formado ou extensamente modificado por ação do


ser humano, independentemente do tipo de atividade (industrial, residencial,
agropecuária etc.). Como exemplo temos a Terra Preta dos Índios. Tem duas
características básicas:

a. Espessura maior ou igual a 20 cm;


b. Conteúdo de P extraível ≥ 30 mg kg-1 de solo.

4.1.6 Horizonte A fraco

De origem mineral, é fracamente desenvolvido, tendo poucos coloides


minerais ou orgânicos. Como temos solos da caatinga. Esse tipo de horizonte A
tem como características:

a Cor do material de solo com valor ≥ 4 quando úmido e ≥ 6 quando seco;


estrutura em grãos simples, maciça ou com grau fraco de
desenvolvimento; e teor de carbono orgânico inferior a 6 g kg-1;
b. Espessura menor que 5 cm, não importando as condições de cor,
estrutura e conteúdo de carbono orgânico (todo horizonte superficial com
menos de 5 cm de espessura é fraco).

4.1.7 Horizonte A moderado

Geralmente são aqueles que não se encaixam nos demais já descritos.

21
4.2 Horizontes subsuperficiais

Os horizontes subsuperficiais, principalmente o horizonte, também ser


utilizados como fonte de diagnóstico para a classificação, identificação dos
diferentes tipos de solos. Vamos ver alguns destes.

4.2.1 Horizonte B textural ou BT

Esse horizonte é mineral e subsuperficial, com textura francoarenosa ou


mais fina, em que houve incremento de argila (fração < 0,002 mm), resultante de
acumulação ou concentração absoluta ou relativa decorrente de processos de
iluviação e/ou formação in situ e/ou herdada do material de origem e/ou
infiltração de argila ou argila mais silte, com ou sem matéria orgânica e/ou
destruição de argila no horizonte A e/ou perda de argila no horizonte A por
erosão diferencial. O conteúdo de argila do horizonte B textural é maior que o do
horizonte A e pode ou não ser maior que o do horizonte C. Deve seguir uma das
seguintes condições:

a. Ter pelo menos 10% da soma das espessuras dos horizontes


sobrejacentes e no mínimo 7,5 cm; ou
b. Ter 15 cm ou mais se os horizontes A e B somarem mais que 150 cm; ou
c. Ter 15 cm ou mais se a textura do horizonte E ou A for areia franca ou
areia; ou
d. Se o horizonte B for inteiramente constituído por lamelas, estas devem ter,
em conjunto, espessura superior a 15 cm; ou
e. Ter espessura de pelo menos 7,5 cm se as condições anteriores (itens de
A a D) não forem atendidas.

4.2.2 Horizonte B latossólico ou BW

Tem seus constituintes em estágio avançado de intemperização. É


constituído por quantidades variáveis de óxidos de ferro e de alumínio,
argilominerais do tipo 1:1, quartzo e outros minerais mais resistentes ao
intemperismo. Não deve ter mais que 4% de minerais primários alteráveis (pouco
resistentes ao intemperismo) ou 6% no caso de muscovita, determinados na
fração areia e referidos à fração terra fina. A fração menor que 0,05 mm (silte +
argila) poderá apresentar pequenas quantidades de argilominerais

22
interestratificados ou ilitas, mas não deve conter mais que traços de
argilominerais do grupo das esmectitas. Não deve ter mais de 5% do volume da
massa do horizonte B latossólico que mostre estrutura da rocha original, como
estratificações finas, saprólito ou fragmentos de rochas pouco resistentes ao
intemperismo. Tem espessura mínima de 50 cm, textura francoarenosa ou mais
fina e baixos teores de silte.

4.2.3 Horizonte B incipiente ou BI

Sofreu alteração física ou química, mas não de forma muito avançada.


Tem no mínimo 10 cm de espessura e as seguintes características:

a. Não satisfazer aos requisitos estabelecidos para caracterizar um horizonte


B textural, B nítico, B espódico, B plânico e B latossólico, além de não
apresentar cimentação, endurecimento (duripã e horizonte petrocálcico)
ou consistência quebradiça quando úmido (fragipã);
b. Dominância de cores brunadas, amareladas e avermelhadas, com ou sem
mosqueados ou cores acinzentadas com mosqueados, resultantes da
segregação de óxidos de ferro;
c. Textura francoarenosa ou mais fina;
d. Unidades estruturais no solo (agregados ou peds) bem desenvolvidas e
falta da estrutura da rocha original, em 50% ou mais do seu volume;
e. Capacidade de troca de cátions, sem correção para carbono, de 17 cmolc
kg-1 de argila ou maior;
f. 4% ou mais de minerais primários alteráveis (menos resistentes ao
intemperismo) ou 6% ou mais de muscovita;
g. Relação molecular SiO2/Al2O3 (Ki) maior que 2,2;
h. Espessura menor que 50 cm;
i. 5% ou mais do volume do horizonte com estrutura da rocha original.

4.2.4 Horizonte B nítico

Horizonte mineral subsuperficial, não hidromórfico, com textura argilosa


ou muito argilosa, sem aumento de argila do horizonte superficial para o
subsuperficial ou com pequeno aumento, levando a uma relação textural B/A
sempre igual ou inferior a 1,5. Apresenta argila de atividade baixa ou atividade

23
alta desde que conjugada com caráter alumínico. Tem as seguintes
características:

a. Espessura de 30 cm ou mais, a não ser que o solo apresente contato lítico


ou lítico fragmentário nos primeiros 50 cm a partir da superfície, quando
deve ter 15 cm ou mais de espessura;
b. Textura argilosa ou muito argilosa;
c. Estrutura em blocos ou prismática de grau de desenvolvimento moderado
ou forte associada à cerosidade em quantidade no mínimo comum e com
grau forte ou moderado;
d. Argila de atividade baixa ou atividade alta desde que conjugada com o
caráter alumínico.

4.2.5 Horizonte glei

Horizonte mineral subsuperficial ou eventualmente superficial, com


espessura de 15 cm ou mais, onde há redução de ferro e predominância do
estado reduzido, pelo menos em uma parte do horizonte. Isso se dá devido à
estagnação da água e o horizonte fica com cores neutras. O lençol freático
exerce uma grande influência, deixando o ambiente com baixo teor de oxigênio
dissolvido. Tem as seguintes características:

a. Cores neutras (N 1/ a N 8/) ou mais azul que 10Y;


b. Para matizes mais vermelhos que 5YR e valores maiores ou iguais a 4,
os cromas devem ser iguais ou menores que 1;
c. Para matizes 5YR ou mais amarelos e valores maiores ou iguais a 4, os
cromas devem ser menores ou iguais a 2, admitindo-se, para solos de
matiz dominante 10YR ou mais amarelo, croma 3, que deverá diminuir no
horizonte subjacente;
d. Para todos os matizes e quaisquer valores, os cromas podem ser menores
ou iguais a 2, desde que ocorram mosqueados de redução.

Outros tipos de horizontes subsuperficiais ainda podem ser encontrados


e que são importantes para a identificação das classes de solos, como: horizonte
B espódico; horizonte B plânico; horizonte E álbico; horizonte plíntico; horizonte
concrecionário; horizonte litoplíntico; horizonte cálcico; horizonte petrocálcico;
horizonte vértico; fragipã e duripã.

24
TEMA 5 – CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS: CLASSES E TIPOS

Assim como os animais e plantas, os solos também têm uma diversidade


incrível pelo mundo afora. Por isso é necessário classificarmos esses solos,
segundo as suas características próprias. Para isso, precisamos de alguns
atributos de origem morfológica, física, química e mineralógica, do perfil do solo
que estamos estudando. Outros aspectos do local também podem ser
importantes, como clima, vegetação, relevo, material de origem, aspectos
hídricos, outras características externas particulares e mesmo a relação solo-
paisagem.
A primeira coisa que devemos fazer é descrever morfologicamente o perfil
do solo e coletar material a campo. Essa descrição deve ser a mais completa e
detalhada possível, como fendilhamento do solo, microrrelevo (gilgai), cores
indicativas de oxidação e redução, altura e flutuação do lençol freático,
horizontes ou camadas coesas ou compactadas, profundidade das raízes no
perfil, atividade biológica ao longo do perfil e qualquer outra informação que
possa aparecer naquele solo. Tudo isso deve estar ligado à profundidade de
ocorrência. A classificação definitiva de um solo só deve ocorrer depois que a
descrição foi feita e as análises de laboratório (físicas e químicas) estiverem
prontas.
A Classificação Brasileira de Solos é organizada em 6 níveis categóricos.
Os quatro primeiros níveis são as ordens, subordens, grandes grupos e
subgrupos. O 5º e o 6º níveis ainda estão sendo discutidos pelos especialistas.
Vamos ver alguns dos principais solos que ocorrem no Brasil?

5.1 Argissolos

Têm na sua composição material mineral, com horizonte B textural, argila


de baixa atividade ou mesmo argila de alta atividade desde que junto com
saturação de bases baixa ou caráter alumínico em grande parte do Horizonte B.
Tem as seguintes características:

a. Horizonte plíntico, se presente, não satisfaz aos critérios para plintossolos;


b. Horizonte glei, se presente, não satisfaz aos critérios para gleissolos.

25
5.2 Cambissolos

São constituídos de material mineral e horizonte B incipiente ou mesmo


com horizonte A chernozêmico, quando o B incipiente tiver argila de alta
atividade e saturação de bases alta (Figura 12).

Figura 12 – Cambissolo húmico

Crédito: Igor Majstorovic/Shutterstock.

5.3 Chernossolos

Possuem material mineral e horizonte A chernozêmico, com as seguintes


características:

a. Horizonte B incipiente ou B textural, ambos com argila de atividade alta e


eutróficos (saturação por bases ≥ 50%); ou
b. Horizonte cálcico, petrocálcico ou caráter carbonático coincidindo com
horizonte A chernozêmico e/ou com horizonte C, admitindo-se, entre os
dois, horizonte Bi com espessura < 10 cm; ou
c. Contato lítico desde que o horizonte A chernozêmico contenha 150 g kg-1
de solo ou mais de carbonato de cálcio equivalente.

26
5.4 Espodossolos

São constituídos basicamente de material mineral, com horizonte B


espódico ou horizonte hístico até 200 cm de profundidade.

5.5 Gleissolos

São solos constituídos de material mineral com horizonte glei, que


começa nos primeiros 50 cm de profundidade até 150 cm. Horizonte plânico,
horizonte plíntico, horizonte concrecionário ou horizonte litoplíntico, se
presentes, devem estar à profundidade maior que 200 cm a partir da superfície
do solo.

5.6 Latossolos

São solos com predominância mineral com horizonte B latossólico, até


200 cm de profundidade (Figura 14).

Figura 14 – Latossolo vermelho amarelo

Crédito: Edson Grandisoli/Pulsar imagens.

27
5.7 Luvissolos

São solos minerais com horizonte B textural e argila de alta atividade e


saturação de bases alta nos primeiros 100 cm do horizonte B.

5.8 Neossolos

São solos novos, pouco desenvolvidos, com menos de 20 cm de


espessura. Podem ser minerais ou orgânicos. Não possuem horizonte B que
sirva para diagnóstico, vão direto para horizonte C ou, ainda mais comum, para
a rocha matriz.

5.9 Nitossolos

São solos minerais com 350 g kg-1 ou mais de argila, inclusive no


horizonte A, e têm horizonte B nítico abaixo do horizonte A. Este horizonte B
nítico possui argila de baixa atividade ou atividade alta conjugada com caráter
alumínico, ambos na maior parte dos primeiros 100 cm do horizonte B. Devem
ter as seguintes características:

a. Para solos com todas as cores dos horizontes A e B, exceto BC, dentro
de uma mesma página de matiz, admitem-se variações de, no máximo, 2
unidades para valor e/ou 3 unidades para croma;
b. Para solos apresentando cores dos horizontes A e B, exceto BC, em duas
páginas de matiz, admite-se variação de ≤ 1 unidade de valor e ≤ 2
unidades de croma;
c. Para solos apresentando cores dos horizontes A e B, exceto BC, em mais
de duas páginas de matiz, não se admite variação para valor e admite-se
variação de ≤ 1 unidade de croma.

5.10 Organossolos

São solos basicamente orgânicos (Figura 16), que devem seguir os


critérios abaixo:

a. 60 cm ou mais de espessura se 75% (expresso em volume) ou mais do


material orgânico consiste em tecido vegetal na forma de restos de ramos
finos, raízes finas, cascas de árvores etc., excluindo as partes vivas; ou

28
b. Saturação com água no máximo por 30 dias consecutivos por ano, durante
o período mais chuvoso, com horizonte O hístico apresentando as
seguintes espessuras:

b1. 20 cm ou mais, quando sobrejacente a um contato lítico ou lítico


fragmentário ou a um horizonte e/ou camada constituído por 90% ou
mais (em volume) de material mineral com diâmetro maior que 2 mm
(cascalhos, calhaus e matacões); ou
b2. 40 cm ou mais quando sobrejacente a horizontes A, B e/ou C; ou

c. Saturação com água durante a maior parte do ano, na maioria dos anos,
a menos que artificialmente drenados, apresentando horizonte H hístico
com espessura de 40 cm ou mais, quer se estendendo em seção única a
partir da superfície do solo, quer tomados cumulativamente dentro dos 80
cm a partir da superfície.

5.11 Planossolos

São solos minerais, com horizonte A seguido de horizonte B plânico.

5.12 Plintossolos

São solos minerais com horizonte plíntico, litoplíntico ou concrecionário,


que sigam as seguintes condições:

a. Iniciando dentro de 40 cm da superfície; ou


b. Iniciando dentro de 200 cm da superfície quando precedidos de horizonte
glei ou imediatamente abaixo do horizonte A, E ou de outro horizonte que
apresente cores pálidas, variegadas ou com mosqueados em quantidade
abundante.

5.13 Vertissolo

São solos minerais com horizonte vértico iniciando dentro de 100 cm a


partir da superfície e relação textural insuficiente para caracterizar um horizonte
B textural. Devem ter as seguintes características:

a. Teor de argila, após mistura e homogeneização do material de solo, nos


20 cm superficiais, de no mínimo 300 g kg-1 de solo;

29
b. Fendas verticais no período seco com pelo menos 1 cm de largura,
iniciando na superfície e atingindo, no mínimo, 50 cm de profundidade,
exceto no caso de solos rasos, onde o limite mínimo é de 30 cm de
profundidade;
c. Ausência de material com contato lítico ou lítico fragmentário, horizonte
petrocálcico ou duripã dentro dos primeiros 30 cm a partir da superfície;
d. Em áreas irrigadas ou mal drenadas (sem fendas aparentes), o coeficiente
de expansão linear (COLE) deve ser igual ou superior a 0,06 ou a
expansibilidade linear é de 6 cm ou mais; e
e. Ausência de qualquer tipo de horizonte B diagnóstico acima do horizonte
vértico.

FINALIZANDO

Nesta etapa, vimos um pouco mais sobre a geomorfologia e sua


importância para a formação dos diferentes tipos de solo. Aliás, como existem
solos diferentes, não é mesmo? Cada um tem suas características básicas e
pode ser identificado. Mas por que devemos identificar cada solo onde
plantamos? Porque assim podemos manejar os solos de forma correta e também
escolher a melhor cultura agrícola para utilizá-los. Agora um desafio: procure
solos da sua região e tente descrevê-los.

30
REFERÊNCIAS

KÄMPF, N.; CURI, N. Formação e evolução do solo (Pedogênese). In: KER, J.


C. et al. (Eds.) Pedologia: fundamentos. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de
Ciência do Solo; 2012. p. 207-302.

SANTOS, H. G. dos et al. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 5. ed.


rev. e ampl. Brasília: Embrapa, 2018.

31
MANEJO, FERTILIDADE,
CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA
ÁGUA
AULA 4

Prof. Klaus Dieter Sautter


CONVERSA INICIAL

Preparo do solo. Sem dúvida, uma das operações mais importantes na


agricultura. Sem um bom preparo do solo, adaptado à cultura, ao tipo de solo,
ao ambiente, com certeza vamos fracassar na nossa atividade agrícola. E pior
ainda, não é só uma questão de perder uma safra, mas perder o próprio solo,
que é a base de nossa atividade. Por isso, vamos aprender um pouco mais sobre
o preparo do solo e os diferentes sistemas de cultivo que temos à disposição?

TEMA 1 – O QUE SIGNIFICA PREPARAR O SOLO?

Vocês já pensaram do que a planta precisa para crescer e prosperar,


dando uma boa colheita? Precisa de um ambiente que seja bom para ela, que
contenha água na quantidade certa, nem mais, nem menos, que tenha ar e onde
os nutrientes estejam de uma forma o mais prontamente disponíveis. Assim, a
planta consegue se desenvolver, crescer e dar uma boa produção. O
desenvolvimento de uma planta sempre é maior quando ela consegue todas
essas condições, principalmente nas primeiras fases de sua vida. Na natureza
normalmente essas condições já estão preenchidas, então não há necessidade
de que o ser humano faça algo para o bom desenvolvimento das plantas. Mas e
quando precisamos plantar nosso alimento? Nesse caso, interferimos no perfeito
equilíbrio biológico e daí precisamos fazer algo a respeito. Mas como fazemos
isso? Por meio do preparo do solo. Podemos dizer que o preparo do solo é
constituído por uma série de operações, onde movimentamos o solo, para
exatamente proporcionar às plantas as melhores condições de água, ar e
nutrientes. No preparo do solo fazemos a manipulação do solo utilizando-nos de
equipamentos especialmente desenvolvidos para essa função. Fazemos, assim,
a manipulação mecânica do solo.
A finalidade básica do preparo do solo é a mobilização desse solo, o seu
destorroamento, o controle das ervas daninhas, e mesmo a incorporação dos
restos vegetais, dos corretivos de solo e dos fertilizantes. Assim, outras
operações como a semeadura, o cultivo, a adubação e a condição física do solo
podem atingir condições favoráveis para que as raízes das plantas se
desenvolvam sem problemas (Figura 1).
Sem dúvida alguma, o preparo do solo se tornou um dos mais importantes
componentes do custo de produção, assim como influencia grande parte das

2
características físicas e químicas do solo, assim também afetando as condições
biológicas desse solo. Porém, se malfeito, o preparo do solo também pode afetar
negativamente o desenvolvimento, o estabelecimento e a produção de nossas
culturas agrícolas. Criamos equipamentos especialmente desenvolvidos para
tais operações. Mas esses equipamentos podem compactar o solo, prejudicando
suas propriedades físicas, químicas e biológicas (Figura 2).

Figura 1 – Preparo do solo

Crédito: Attasit Saentep /Shutterstock.

Figura 2 – Compactação superficial do solo devido ao tráfego indiscriminado de


máquinas

Crédito: J.J. Gouin/Shutterstock

3
No começo, o preparo do solo era feito de uma forma bem simples,
rústica. Dava muito trabalho e era bem demorado. É claro que o ser humano foi
aperfeiçoando ao longo do tempo. Por exemplo, em 1760, foi inventado, na
Escócia, o arado de aiveca de metal, aumentando em muito a velocidade do
preparo do solo. Hoje temos implementos cada vez maiores, bem como
máquinas, leia-se tratores, que são mais pesados e têm mais força. Assim,
podemos preparar uma extensão maior de área, em menor tempo e com menos
esforço.
O preparo tem solo tem muitos objetivos, mas sempre visando a maior
produtividade da cultura agrícola:

a. eliminar ervas daninhas, e assim diminuir a concorrência que a cultura


agrícola teria por luz, água, nutrientes;
b. fazer com que o solo ofereça melhores condições para que a semente
seja ali depositada, propiciando melhor germinação e emergência, assim
como melhor desenvolvimento da planta em todo o seu ciclo;
c. manter a fertilidade do solo ao longo do tempo, principalmente
preservando e aumentando os teores de matéria orgânica;
d. podemos, por meio do correto preparo do solo, eliminar certas camadas
do solo que estejam compactadas, melhorando a infiltração de água no
solo, assim como aumentando a aeração;
e. realizando o preparo do solo podemos incorporar e misturar no solo
corretivos, como o calcário e adubos;
f. dependendo do sistema de cultivo, podemos incorporar restos vegetais no
solo;
g. O preparo do solo permite o nivelamento do terreno e assim melhorar a
produtividade das máquinas e implementos utilizados até a colheita da
cultura (Figura 3); e
h. podemos preparar condições para a irrigação agrícola; entre outros...

4
Figura 3 – Solo bem nivelado, pronto para o plantio

Crédito: Welcomeinside/Shutterstock.

Independentemente do sistema de cultivo pelo qual o agricultor optar, é


importante observar sempre o ponto ideal de umidade do solo para proceder o
seu preparo. Esse ponto de ideal de umidade é aquele que possibilita o trator
(ou outra máquina) operar naquela área com um mínimo de esforço, sem
precisar colocar mais força, patinar ou mesmo afundar no solo. Aí teremos o
melhor resultado possível de serviço, e é o chamado Ponto de Sazão. Se o solo
estiver muito úmido, podemos provocar danos físicos sérios ao solo e, no caso
de solos argilosos, muito vai ficar aderido à própria máquina, inclusive a tal ponto
que seja impossível trabalhar ali. Agora se o solo estiver muito seco, não
provocaremos muitos danos físicos no solo, mas será necessária mais força para
provocar o destorroamento do solo, gastando assim mais combustível e
deixando a operação mais cara. Hoje presta-se muita atenção à pulverização do
solo, isto é, quando chegamos a destruir a estrutura do solo. Esse tipo de
operação tende a deixar o solo mais susceptível à erosão. E isso não queremos.
Quando preparamos o solo, não devemos pensar somente nas
características próprias daquele solo, mas também no tipo de colheita que
queremos fazer.
Podemos dividir o preparo do solo em três grupos bem diferentes:

a. preparo primário ou preparo inicial, quando usamos aração e/ou


escarificação (Figura 4);
b. preparo secundário, quando utilizamos da gradagem e nivelamento; e
c. os tratos culturais eventualmente feitos após o plantio e até a colheita.

Nossa atenção se deposita, neste momento, nos preparos inicial e


secundário.
Em geral, começamos com o preparo inicial, que é composto de arações,
seguidas por gradagem ou mesmo subsolagem, podendo ser seguidas de mais

5
aração e gradagem, ou mesmo seguido por escarificação. Esse preparo inicial é
feito normalmente um a dois meses antes do plantio, dependendo do sistema de
cultivo adotado. Quando fazemos a subsolagem no preparo inicial, isso tem
como objetivo descompactar o solo abaixo de 30 cm de profundidade, pois essa
camada compactada em subsuperfície pode impedir a infiltração da água e
prejudicar o crescimento das raízes. Já a aração tem como objetivo a
descompactação na camada mais superficial, entre a superfície e 30 cm de
profundidade.
Para o plantio é realizado o preparo secundário, visando nivelar e
destorroar aquela camada mais próxima à superfície. Isso serve para melhorar
o ambiente para as plantas, facilitando o desenvolvimento inicial da cultura. Para
tal, pode-se usar grades e enxadas rotativas.

Figura 4 – Operação de aração

Crédito: Somchai_Stock/Shutterstock.

6
TEMA 2 – TÉCNICAS DE PREPARO DE SOLO: EQUIPAMENTOS E
IMPLEMENTOS

2.1 Aração

Aração é uma técnica de preparo de solo muito utilizada e tradicional, que


consiste basicamente na inversão das camadas do solo, isto é, a parte que está
embaixo vai para a superfície e vice-versa. Essa inversão normalmente é feita
até 20 cm de profundidade, dependendo do tipo de cultura agrícola a ser
plantada e do tipo de solo. Tem como função principal romper a estrutura do
solo. Nesse processo de inversão de camadas, acaba-se por expulsar o gás
carbônico do solo, injetando oxigênio. A inversão de camadas permite também
a mistura da matéria orgânica nas primeiras camadas do solo. A aração também
promove o camado enterrio da cobertura vegetal, provendo o controle de plantas
daninhas e incorporando adubos verdes. O implemento utilizado é o arado. O
arado normalmente é feito de uma parte ou mais que é capaz de, ao mesmo
tempo, fazer o corte, a elevação e depois a inversão de uma fatia, uma parte, do
solo. Esta é chamada de leiva.
Os principais tipos de arado são: arado de disco (Figura 5), arado de disco
recortado (Figura 6) e arado de aiveca (Figura 7).
Os arados de disco e disco recortado são compostos por um disco e um
cubo, que são fixados em uma coluna, e têm uma roda estabilizadora. Têm
secção semicircular.
Os arados de aiveca são constituídos por uma relha, aiveca e rasto (ou
chamado também de costaneira). Eles são fixados em uma coluna, podendo ter
um facão ou sega-circular. Têm secção quadrangular.

7
Figura 5 – Arado de disco

Crédito: Piboon Chiantanrak/Shutterstock.

Figura 6 – Arado de disco recortado

Crédito: SergeyKlopotov/Shutterstock.

8
Figura 7 – Arado de aiveca

Crédito: Firdes Sayilan/Shutterstock.

Figura 8 – Arado de tração animal

Crédito: Bapida/Shutterstock.

9
2.2 Gradagem

A gradagem geralmente ocorre depois do processo de aração e tem como


finalidade básica de romper aqueles torrões de terra que foram formados pela
pressão que o arado exerce no solo. É importante retirar estes torrões, pois
dificultam a emergência das plântulas e estabelecimento da cultura. Depois da
gradagem, o solo fica basicamente plano (nivelado) e pronto para a semeadura.
Para este processo utiliza-se das grades (Figura 10).
Dependendo do tipo de grade, ainda podem ser utilizadas para outras
funções como:

a. preparo do solo (preparo primário), no lugar dos arados ou escarificadores,


são as chamadas grades pesadas;
b. manejo de vegetação que tenha pouca biomassa;
c. podem picar e incorporar, de forma superficial, restos vegetais;
d. podem incorporar sementes, adubos orgânicos e/ou minerais e corretivos,
após eles serem aplicados com semeadora-adubadora à lanço; e
e. podem servir para escarificar ou quebrar as camadas de solo superficiais,
que estão um pouco adensadas ou mesmo compactadas.

Figura 9 – Evolução dos processos de aração do solo.

Crédito: Hennadii H/Shutterstock.

10
Figura 10 – Gradagem. Note que depois da aração, o solo fica com grandes
torrões. A gradagem elimina estes torrões e deixa o solo mais nivelado.

Crédito: Maksim Safaniuk/Shutterstock.

2.3 Escarificação

A escarificação também prepara o solo, assim como a aração e


gradagem, mas de maneira não tão invasiva quanto esses. Ela rompe as
camadas do solo, mas sem a inversão de camadas. Eles atuam como
descompactadores em subsuperfície, também chamado de subsolagem. Para
isso, utiliza-se de escarificadores, que são formados por hastes que penetram
no solo e o revolvem (Figura 11). Utiliza-se de escarificadores quando o solo é
muito compactado pelo uso intensivo de máquinas agrícolas pesadas. Esse
método tem algumas vantagens:

a. não desagrega tanto o solo quanto grades e arados;


b. revolve aquelas camadas subsuperficiais compactadas;
c. a palhada se mantém na superfície do solo;
d. melhora a infiltração de água, assim como a retenção da água;
e. melhora a aeração do solo; e
f. o agricultor tem menores custos com combustível.

11
Mas esse sistema também tem algumas limitações, como:

a. não é recomendado para áreas que tenham gramíneas e touceiras;


b. a escarificação tem pouca eficiência quando a área tem uma grande
infestação com plantas daninhas;
c. não serve para áreas nunca antes exploradas, que ainda possuem muitas
raízes e tocos de árvores; e
d. se malfeita, pode-se perder uma grande quantidade de matéria orgânica
e aumentar o processo de erosão no solo.

Figura 11 – Escarificador

Crédito: Wasteresley Lima.

Em vez de usar equipamentos para a escarificação (subsolagem),


podemos utilizar plantas. É isso mesmo! Existem algumas plantas cujo sistema
radicular consegue penetrar mais profundamente no solo, principalmente nas
camadas compactadas em subsuperfície, com suas raízes pivotantes e muito
desenvolvidas. Daí acabam por criar caminhos para que o sistema radicular das
culturas agrícolas penetre no solo sem problemas, os bioporos estáveis. Esse
rompimento é mais uniforme que o uso de subsoladores, escarificadores, e
também acabam por melhorar a agregação do solo. Enquanto a escarificação
mecânica tem efeito de curto prazo, passageiro, a escarificação biológica tem
efeito a maior prazo. O nabo forrageiro é uma das principais espécies de plantas
com função de escarificação biológica (Figura 12).

12
Figura 12 – Nabo forrageiro, Brassica rapa

Crédito: Theapflueger/Shutterstock.

TEMA 3 – SISTEMAS DE CULTIVO: PLANTIO CONVENCIONAL

Os sistemas de cultivo são classificados conforme o grau de


movimentação do solo: plantio convencional, cultivo mínimo ou reduzido e
plantio direto. Existem ainda outras variações, porém estes três são os mais
importantes. Vamos olhar mais detalhadamente o plantio convencional.

3.1 Plantio convencional

O plantio convencional ainda é um dos sistemas de cultivo mais utilizados


e tradicionais. Ele é bem simples e consiste basicamente de aração, gradagem,
semeadura e cultivos seguintes, quando necessários. A aração é feita com arado
de disco, arado de disco recortado ou aiveca, a uma profundidade de 15 a 20
cm. Depois é feita uma gradagem para nivelar o solo. Dependendo do tipo de
solos, são feitas duas passadas com grade leve, também chamada de
niveladora. Após isso, é feita a semeadura, podendo ser manual ou máquinas
desenvolvidas para a operação. Estas máquinas podem somente semear
(semeadeira) ou semear e adubar ao mesmo tempo (semeadeira-adubadeira)

13
(Figura 13). Obviamente que o principal requisito para este sistema de cultivo é
que o agricultor possua os implementos necessários.

Figura 13 – Processo de semeadura em plantio convencional

Crédito: Oticki/Shutterstock.

Este sistema tem algumas vantagens.

a. Ao revolver o solo, e invertendo suas camadas com a aração, aumenta-


se a taxa de mineralização dos nutrientes orgânicos pelos
microrganismos, aumentando assim a quantidade de nutrientes
disponíveis às plantas. Vamos lembrar que a maior parte dos
microrganismos que atuam nos ciclos dos nutrientes no solo são aeróbios,
isto é, precisam respirar oxigênio. Fazendo a inversão de camadas e
oxigenando o solo, aumentamos a atividade desses microrganismos
(Figura 14).
b. Há um considerável aumento da aeração do solo.
c. Constata-se maior infiltração da água no perfil do solo.
d. Consegue-se destruir com maior eficiência as plantas daninhas e também
bancos de sementes no solo.

14
e. O nivelamento do solo, proporcionado pela gradagem, facilita e muito as
operações subsequentes de cultivo, como semeadura, o cultivo em si e
mesmo a colheita.
f. Há facilidade na incorporação dos adubos, corretivos (como calcário) e da
matéria orgânica no solo. Também proporciona maior taxa de
decomposição de eventuais adubos orgânicos aplicados, assim como de
restos vegetais.

Figura 14 – É possível observar bem a inversão de camadas de solo que o plantio


convencional proporciona

Crédito: Manat Ratta/Shutterstock.

Mas tudo que é bom, também sempre tem alguma desvantagem, não é
mesmo? O plantio convencional tem algumas desvantagens:

a. quando revolvemos muito o solo e seguidamente, a fertilidade desse solo


tende a diminuir a longo prazo, principalmente porque muitos nutrientes
são lixiviados pelo perfil do solo;
b. a aração, promovendo a mistura de horizontes, pode fazer com que uma
camada com menos fertilidade que se encontra mais profunda, suba para
a superfície e deixe os primeiros centímetros de solo com menor
fertilidade;
15
c. um grande problema é que em solos com algum declive acabam se
tornando bem mais susceptíveis à erosão, pois a superfície do solo não
tem nenhuma proteção contra a ação de desagregação das gotas da
chuva e mesmo erosão eólica (pelo vento) (Figura 15 e 16);
d. este é um sistema que necessita de maior quantidade de tratos culturais,
encarecendo assim o custo de produção, com custos maiores de óleo,
manutenção dos equipamentos e pessoal;
e. é necessário bem mais tempo para o preparo do solo, principalmente entre
a aração e gradagem, antes da semeadura, que podem necessitar até
algumas semanas de intervalo entre as operações;
f. é necessário que se use um maior número de implementos, resultando em
maior número de passadas, aumentando os gastos com combustível e
pessoal e, por consequência, dos custos de produção.

Figura 15 – O Sistema de plantio convencional deixa o solo mais exposto à ação


da chuva, aumentando o risco de erosão

Crédito: Meryll/Shutterstock.

16
Figura 16 – O Sistema de plantio convencional deixa o solo mais exposto à
erosão eólica (pelo vento)

Crédito: Harauski Yauheni/Shutterstock.

O Sistema de Plantio Convencional prevê que se realizem continuamente


atividades de mobilização do solo, quer dizer, mexer o solo. Ao longo do tempo
isto pode, mas não obrigatoriamente, levar à formação de camadas
compactadas em subsuperfície, entre 10 e 25 cm de profundidade. É bem nessa
profundidade que há maior atividade das raízes. Se o solo está compactado, há
menor entrada de água, menor aeração e o solo fica mais sensível à erosão.
Então, pode ser necessária a adoção de práticas de descompactação, tais como
se seguem.

a. Aração: o arado de disco ou a aiveca pode ser utilizados para quebrar


estas camadas compactadas a uma profundidade um pouco maior que o
usual. Mas lembre-se: o solo não pode estar muito úmido ou muito seco,
senão a operação pode não ter o efeito desejado.
b. Escarificação: pode ser feita uma escarificação a uma profundidade de 25
a 30 cm. Essa operação é mais rápida e mais barata que a aração a uma
profundidade maior que a normal.
c. Subsolagem: para tal se usam subsoladores que chegam a uma
profundidade maior que os escarificadores (30 a 35 cm). Porém deve ser

17
feita somente com intervalos não menores que três anos. Esta operação
não tem efeito em plantas daninhas.
d. Pode ser feita ainda uma reformulação do sistema de produção, por
exemplo, fazendo-se rotação de cultura, com o uso de adubos verdes e
escarificação biológica, com o uso de nabo forrageiro e outras plantas,
que possuem raízes pivotantes capazes de quebrar essa camada
compactada em subsuperfície.
f. Finalmente, outra ação que se pode fazer para a descompactação é a
alternância, ao longo do tempo, da operação de aração, utilizando-se de
implementos e profundidades de trabalho diferentes.

O plantio convencional também pode adotar algumas outras práticas, nem


todas recomendadas nos dias de hoje.

a. Queimada ou enterrio da resteva (restos vegetais), geralmente não


recomendado, principalmente a queimada (Figura 17), mas algumas
vezes necessária, como em alguns casos no algodão, para a eliminação
de pragas. O enterrio pode aumentar o teor de matéria orgânica no solo
ao longo do tempo.
b. Rolagem: pode ser feita antes da primeira operação de aração, visando
fazer com que a aração fique mais fácil e incorpore as restevas. Também
pode ser feita como uma espécie de preparo complementar do solo, antes
ou depois da semeadura, visa melhorar as condições necessárias para a
germinação, de tal modo que uniformize o solo e faça uma leve
compactação da superfície do solo. O equipamento utilizado é o rolo-faca
(Figura 18). Normalmente é feito no Sistema de Plantio Direto.
c. Pranchonamento: é uma operação utilizada para destorroar e nivelar a
superfície do solo. Pode ser feita junto ou separada da gradagem.

18
Figura 17 – Queimada. Esta não é mais uma operação recomendada, pois
destrói toda a vida no solo, bem como suas propriedades físicas e químicas,
além de poluir o ar

Crédito: Gorloff-KV/Shutterstock.

Figura 18 – Incorporação da resteva

Crédito: Jiraporn Jc/Shutterstock.

19
TEMA 4 – SISTEMAS DE CULTIVO: CULTIVO MÍNIMO

O cultivo mínimo na verdade é baseado no sistema de plantio


convencional. A diferença básica é que se reduz uma ou duas operações.
Também é chamado de preparo reduzido do solo. Pode-se até dizer que é um
meio caminho entre o plantio convencional e o plantio direto.
Como no cultivo mínimo se fazem menos operações, então há menor
mobilização do solo. O preparo normalmente é feito com uma certa
antecedência. Isso faz com que se forme uma pequena e rala vegetação na
superfície do solo e depois a semeadura é feita diretamente sobre esta cobertura
vegetal rala.
Existem muitas variações do cultivo mínimo, quer dizer, como se pode
fazer, vai depender do tipo de solo, dos equipamentos disponíveis etc. Estas são
algumas das possibilidades:

a. fazer uma escarificação no solo que tenha alguma cobertura vegetal,


esteja ela picada ou não;
b. plantar leguminosas de cobertura, adubo verde, por exemplo, a lanço e,
posteriormente, fazer sulcos e semear a cultura principal;
c. fazer sulcamento e semeadura quando a resteva ainda estiver de pé, sem
arar ou picar os restos culturais anteriores, porém depois é necessário
fazer a limpeza entre as linhas, para eliminar focos de plantas daninhas;
d. podemos elencar gradeação-plantio, aração-plantio, subsolagem-plantio.

Com certeza, o cultivo mínimo, apesar de não ser muito utilizado no Brasil,
tem suas vantagens, como:

a. ao contrário do plantio convencional, no cultivo mínimo é possível plantar


mesmo em épocas de chuva, pois, como o solo tem uma certa cobertura,
os equipamentos não tendem a ficar atolados;
b. pode-se utilizar de forma mais intensa a área de plantio;
c. comparando-se com o plantio convencional, há uma grande redução na
erosão da área;
d. obviamente, com menor número de operações, há menor uso de
máquinas, combustível, mão de obra, portanto o custo final é menor;
e. há um maior controle de plantas daninhas; e

20
f. a manutenção dos resíduos vegetais é feita somente com escarificação e
gradagens leves, quando necessário.

Hoje no Brasil o cultivo mínimo é utilizado em culturas de mais longo


prazo, como pastagem, cana de açúcar (Figura 19) e florestas plantadas, como
o Eucalipto. Em florestas plantadas, inclusive, o cultivo mínimo tem a capacidade
de aumentar a sobrevivência e o crescimento das mudas plantadas, pois as
raízes atingem maiores profundidades, explorando melhor a água e nutrientes
do solo, e propicia menor exposição do solo, assim diminuindo as perdas por
erosão (Figura 20).

Figura 19 – Preparo para o cultivo mínimo em milho

Crédito: J.J. Gouin/Shutterstock.

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Figura 20 – Comparação de uma área de Eucalipto com cultivo mínimo (a
frente) e com plantio convencional (atrás)

Crédito: Jornal USP/Foto: José Henrique Tertulino Rocha.

TEMA 5 – SISTEMAS DE CULTIVO: PLANTIO DIRETO

O Sistema de Plantio Direto é hoje um dos mais utilizados no Brasil, em


diferentes tipos de solos, com diferentes culturas agrícolas e nos mais diversos
climas brasileiros. O plantio direto se iniciou no Brasil em 1972, quando Herbert
Bartz, desolado pelas perdas imensas de solo provocadas pelo uso contínuo do
plantio convencional, descobriu um novo sistema de cultivo, de preparo de solo,
nos Estados Unidos. Foi lá aprender um pouco mais. E trouxe para a sua
fazenda, em Rolândia, no Paraná, essa novidade. Os vizinhos o chamavam de
louco, como o próprio Bartz contava. Mas ele insistiu, trouxe conhecimento,
trouxe tecnologia. Entre outros pioneiros do plantio direto no Brasil, podemos
citar Frank Dijsktra, de Carambeí, e Nono Pereira, de Palmeira, ambos no
Paraná (Figura 21).
Podemos conceituar o plantio direto como um sistema que faz a
semeadura diretamente no solo, sem este ser revolvido, ao contrário do plantio
convencional. A semeadura se faz diretamente na palha da cultura anterior
(Figura 22). Por isso algumas vezes é chamado de plantio direto na palha. No
Sistema de Plantio Direto se faz o uso de máquinas especialmente projetadas
para tal função (Figura 23). Basicamente se abre um pequeno sulco no solo que
não foi revolvido, com uma profundidade e uma largura o suficiente para

22
proporcionar uma boa cobertura e um bom contato da semente com o solo.
Como o solo é mexido somente na linha de semeadura, calcula-se que somente
25 a 30% do total da área plantada é preparada. O restante fica intacto. Uma
coisa é importante no plantio direto, como o solo é pouco revolvido, tende a maior
infestação de plantas daninhas, por isso o controle destes invasores deve ser
bem observado. Ele é feito com herbicidas.

Figura 21 – Nono Pereira e Herbert Bartz, pioneiros do plantio direto no Brasil

Crédito: Alf Ribeiro/Shutterstock.

23
Figura 22 – Observe que o revolvimento é feito somente na linha de semeadura
e mesmo assim, o mínimo possível. O restante fica com a palhada da cultura
anterior intacta.

Crédito: Helga_foto/Shutterstock.

Figura 23 – Implemento especialmente desenvolvido para o plantio direto

Crédito: Yingna Cai/Shutterstock.

24
Podemos começar a imaginar que esse sistema precisa ainda menos de
operações, não é mesmo? Comparando-se ao plantio convencional, então, nem
se fala... São três operações que precisamos fazer no plantio direto.

a. Colher a cultura anterior e ao mesmo tempo ir espalhando os restos desta


cultura, por exemplo, utilizando o picador de palha na colheitadeira.
b. Passar herbicida. Podemos imaginar que, deixando a palha anterior,
muitas plantas daninhas podem ali se estabelecer, e isso é um problema.
Por esse motivo, precisamos fazer o controle destas invasoras, antes do
plantio seguinte. Esse controle é feito com herbicidas, normalmente de
largo espectro (Figura 24).
c. E, finalmente, plantar a cultura seguinte em cima da palhada da cultura
anterior. Para isso são usados equipamentos específicos.

Figura 24 – Aplicação de herbicida em área de plantio direto, antes da


semeadura

Crédito: Laurie A. Smith/Shutterstock.

Mas o plantio direto não é um sistema tão fácil assim. Precisa haver
gestão por parte do agricultor, tanto do próprio sistema quanto da mão de obra,
que deve ser especialmente treinada. O agricultor também precisa conhecer
muito bem todas as fases do sistema.
Os cuidados começam no preparo da área. Solos muito úmidos devem
ser drenados se necessário. Deve haver uma descompactação do solo, antes de

25
implementarmos o sistema. A superfície do solo deve ser nivelada,
principalmente eliminando-se os sulcos de erosão que porventura possam estar
presentes. O solo deve ser corrigido quanto à sua acidez e disponibilidade de
alumínio. Obviamente corrigir outros nutrientes essenciais às plantas, como
fósforo, por exemplo.
Como vimos, o plantio direto baseia-se na ideia de que os restos da
cultura anterior (resteva) devem estar presentes. Eles devem cobrir pelo menos
50% da superfície do solo. Se assim não se encontrar, pode ser feita uma
adubação verde. Esta palhada pode ser picada e distribuída pela própria
colheitadeira.
É claro que o controle das plantas daninhas é essencial. Aquelas que são
perenes devem ser eliminadas, pois vão competir com a cultura agrícola.
Existem algumas espécies de plantas daninhas que são muito agressivas. Nesse
caso, aumentará o custo de controle delas. Sempre que possível, deve-se
identificar quais são as plantas daninhas presentes na lavoura e usar controle
específico para elas. Cuidado com o custo de produção: se você não definir de
forma correta e detalhada o sistema de manejo dessas plantas daninhas, o custo
pode sair do controle.
Mesmo com tanto trabalho, vale a pena usar do plantio direto. Há muitas
vantagens com a presença da palhada na superfície do solo, como:

a. a gota da chuva, quando cai no solo, vem com muita força; a palhada
diminui esse impacto, e o solo não é desagregado;
b. a temperatura do solo fica mais ou menos constante, favorecendo toda a
atividade do solo, como microrganismos e fauna, inclusive
proporcionando um ótimo ambiente para as raízes;
c. a umidade do solo também é favorecida, levando mais tempo que o plantio
convencional, para o solo secar;
d. a estrutura do solo fica bem melhor;
e. diminui a lixiviação dos nutrientes no perfil do solo, aumentando a CTC;
f. ao longo do tempo os teores de N e P vão aumentando, porque não há
grandes perdas como no plantio convencional; e
g. diminui muito a erosão, mesmo se a cultura for plantada com as linhas em
direção a morro abaixo (atenção, nunca é o ideal...).

Mas nem tudo que é bom, é perfeito. O plantio direto também tem algumas
desvantagens.
26
a. Há um aumento grande da relação C/N, pela grande presença de matéria
orgânica, principalmente depois do plantio de gramíneas. Isso pode
dificultar a decomposição desse material por microrganismos. Eles
precisam de uma relação C/N ótima perto de 12. Em climas mais quentes,
a decomposição da matéria orgânica é muito rápida, algumas vezes nem
acumula muita matéria orgânica na superfície.
b. Com o tempo, como não há revolvimento intensivo do solo, podem se
formar camadas compactadas na subsuperfície. É necessário
periodicamente examinar o perfil do solo, para ver se essas camadas
estão presentes. Se estiverem presentes, deve-se proceder à sua quebra,
por exemplo, com subsoladores.
c. Quando temos solos com pouca permeabilidade, o aumento da umidade
no solo pode prejudicar um pouco as culturas agrícolas.
d. Com o tempo, aumenta muito o teor de N, isso pode provocar um
acamamento das plantas, dificultando a colheita.
e. Alto custo para a aquisição dos herbicidas.
f. Necessidade de uso de equipamentos específicos.
g. Necessidade de conhecimento técnico especializado.

Atenção: essas desvantagens são raras e quase nunca acontecem.


Devemos sim prestar atenção, mas o Sistema de Plantio Direto é uma ótima
opção para conservação dos solos no Brasil.

FINALIZANDO

Conversamos aqui um pouco sobre o preparo do solo para as nossas


culturas agrícolas. Vimos que existem vários sistemas, inclusive sistemas que
visam a conservação do solo, como o plantio direto. Cabe agora a você analisar
a sua região, solos, culturas agrícolas, estado de conservação etc. para decidir
qual é a melhor situação no seu caso. Preste atenção nos detalhes, e se informe
se há pesquisa sobre isso na sua região. Mãos à obra.

27
REFERÊNCIAS

MOTTER, P.; ALMEIDA, A.G. DE. Plantio direto: a tecnologia que


revolucionou a agricultura brasileira. Foz do Iguaçu: Editora Parque Itaipu,
2015. Disponível em:
<https://febrapdp.org.br/download/publicacoes/LIVRO_PLANTIO_DIRETO_WE
B.pdf>. Acesso em: 5 abr. 2023.

OLIVEIRA, M. W. de et al. Nutrição mineral e adubação da cana de açúcar.


Informe Agropecuário, v. 28, n. 239, p. 30-43, 2007.

SISTEMA plantio direto no Brasil. Passo Fundo, RS: Aldeia Norte Editora,
2022. Disponível em: <https://www.plantiodireto.com.br/livro-sistema-plantio-
direto>. Acesso em: 5 abr. 2023.

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MANEJO, FERTILIDADE,
CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA
ÁGUA
AULA 5

Prof. Klaus Dieter Sautter


CONVERSA INICIAL

O bem mais precioso de um agricultor é o solo onde ele planta. Daí sai
toda a sua produção, sua existência. Já imaginaram se o agricultor perde o solo,
ou a capacidade produtiva desse solo? Ele perdeu toda a sua base. Não
produzirá mais nada. Por isso é importante examinar o solo de uma maneira
mais detalhada, principalmente atuando na sua conservação. Agora vamos
conversar um pouco mais sobre isso: como conservar o solo para podermos
utilizá-lo já e para as futuras gerações.

TEMA 1 – CONSERVAÇÃO DO SOLO E EROSÃO

1.1 Conservação do solo

O que as atividades agropecuárias têm em comum? Vocês já pensaram


nisso? Se plantamos uma cultura agrícola qualquer, uma floresta ou uma
pastagem, sempre necessitamos de uma coisa: solo. Mesmos naquelas
situações que chamamos de cultivo sem solo, hidroponia, por exemplo,
montamos nossa estrutura em cima do solo. Ahhh... Então o solo é muito
importante? Com certeza! Ele serve para muita coisa: base para nossas casas,
lugar de moradia e desenvolvimento de muitos organismos, além de
desempenhar muitas outras funções ecológicas. Podemos dizer que o solo é a
base, o alicerce de todos os nossos sistemas de produção (Figura 1).

2
Figura 1 – O solo é a base de nossos sistemas de produção

Crédito: maxbelchenko/Shutterstock.

Com esse pensamento na cabeça, podemos chegar à conclusão de que


preservar o solo é fundamental para a existência de toda a vida na Terra,
principalmente para a existência do ser humano, não é mesmo? Achamos que a
grande maioria das pessoas concorda com isso, mas nem sempre isso acontece.
Infelizmente ainda submetemos os solos (e o Brasil não é exceção) à
degradação, inclusive degradação extrema, chegando a perder todo o solo. Isso
afeta o meio ambiente de forma intensiva, mas também impacta os sistemas de
produção, através da erosão, diminuindo a capacidade de produção dos solos,
assoreando rios e lagos, ocasionando reflexos na economia humana.
Então chegamos à conclusão de que devemos praticar a conservação de
solos. Essa prática pode ser definida como um conjunto de ações que visa
manter ou recuperar as propriedades físicas, químicas e biológicas de um solo.
Para isso, devemos estabelecer alguns critérios básicos de uso e manejo dos
solos, visando não comprometer sua capacidade produtiva. Assim, podemos
proteger os solos contra processos de erosão, aumentar sua capacidade de nos
fornecer água e nutrientes e promover sua atividade biológica.
Podemos incluir na conservação de solos:

• uso do solo de forma adequada;

3
• manejo adequado do solo através de adubação, correção, irrigação e
drenagem;
• controle da erosão, principalmente aquela que ocorre de forma acelerada;
• controle da poluição causada pela atividade agrícola.

Precisamos visar a manutenção do equilíbrio do solo, de sua recuperação,


para então preservar e utilizar o potencial produtivo de nossos solos (Figura 2).
Isso é conservação do solo. Mas de onde vêm os problemas relacionados à
conservação do solo?

Figura 2 – O mais importante é manter o equilíbrio do solo

Crédito: Deemerwha studio/Shutterstock.

1.2 Conceito de degradação e erosão do solo

Os solos podem sofrer vários tipos de degradação.

• Degradação hídrica: é causada por ação da água e provoca perda de


horizontes superficiais, deformação do terreno, movimentos de massa e
deposição de material não original.
• Degradação eólica: é a erosão causada pela ação do vento. Pode
provocar a perda de horizontes superficiais, perda da forma original do
terreno, movimentos de massa e deposição de material não original.

4
• Degradação química: é definida como a perda de nutrientes e de matéria
orgânica, causando desbalanço de nutrientes, salinização, acidificação e
poluição.
• Degradação física: é aquela em que ocorre compactação, selamento da
superfície do solo, encrostamento, dando origem a inundações, aeração
deficiente e até excesso ou falta de água.
• Degradação biológica: causa redução da biomassa do solo e da
biodiversidade.

Sempre há fatores associados a esses processos de degradação, como


edáficos (relativos ao solo), fatores climáticos, mas principalmente fatores
antrópicos, de origem humana. Algo muito importante é que a intensidade com
que esses fatores ocorrem é muitas vezes ampliada pelo manejo de nossos
solos de forma inadequada, expondo-os a fatores climáticos como chuva e vento,
provocando sua erosão.
Podemos definir erosão como um processo que ocorre de forma física,
causando desagregação, transporte e deposição do solo por diferentes tipos de
agentes. Os principais agentes de erosão são a água, que provoca a chamada
erosão hídrica, e o vento, que causa a erosão eólica. Mas independentemente
do tipo de erosão, hídrica ou eólica, todas têm as mesmas fases de
desenvolvimento: desagregação, transporte e deposição.

• Desagregação. A erosão hídrica é causada primordialmente pelo impacto


da gota da chuva contra as partículas de solo, havendo então o
escoamento superficial dessa água de chuva. Podemos dizer que quanto
maior a velocidade da gota de chuva ao cair ou mesmo quanto maior a
velocidade do escoamento superficial da água, mais energia haverá para
desagregar as partículas e provocar mais erosão. No caso da erosão
eólica, o vento levanta as partículas de solo que, ao cair, provocam a
desagregação de outras partículas. A fase de desagregação é
influenciada pelo tipo de solo (textura, estrutura e porosidade), pelo tipo e
quantidade de cobertura vegetal e pelo tipo de uso e de manejo do solo
(Figura 3).
• Transporte. Quando ocorre a erosão hídrica, as partículas de solo que
foram desagregadas são transportadas pelo impacto das gotas de chuva,
o que chamamos de salpicamento, e pelo escoamento superficial da

5
água. Quando há o impacto da gota de chuva, esse transporte se dá por
curtas distâncias. No caso do escoamento superficial, as partículas
desagregadas percorrem distâncias maiores, podendo chegar a
quilômetros. No transporte pelo vento, partículas mais leves, como argila
e silte, são levadas em suspensão no ar e as partículas mais pesadas,
como areia, são levadas aos saltos. Nos dois tipos de erosão, a distância
percorrida pelas partículas depende do tamanho da própria partícula, da
força do vento ou da água, da inclinação do terreno e se há obstáculos ou
não (Figura 3).

Figura 3 – Desagregação das partículas de solo pela força das gotas de chuva

Crédito: Amadeu Blasco/Shutterstock.

6
• Deposição. Depois da desagregação e do transporte, ocorre a deposição,
também chamada sedimentação. Podemos dizer que a deposição é a
parada das partículas de solo que foram desagregadas e transportadas.
Isso ocorre quando o agente de erosão (vento ou água) simplesmente
perde força ou encontra algum obstáculo. A velocidade de deposição
depende muito do tamanho da partícula (partículas maiores param antes),
mas também da velocidade do agente, água ou vento. Quanto maior for a
velocidade, mais tempo será necessário para a deposição final.

Figura 4 – Escoamento superficial de água transportando partículas de solo

Crédito: J.J. Gouin/Shutterstock.

TEMA 2 – TIPOS DE EROSÃO

2.1 Erosão hídrica

A erosão hídrica pode ocorrer em três formas diferentes: laminar


entressulcos, em sulcos ou em voçorocas.

1. Erosão laminar. Este tipo de erosão hídrica ocorre quando há ação de


finas lâminas de água na superfície do solo, as quais transportam

7
partículas de solo que foram desagregadas pela força de impacto das
gotas de chuva. Tanto uma eventual desagregação quanto o
deslocamento dessas partículas acontecem de forma bem superficial,
normalmente sem formar sulcos ou, quando os sulcos são formados, são
considerados muito rasos (Figura 5).

Figura 5 – Erosão laminar com sulcos rasos

Crédito: Meryll/Shutterstock.

2. Erosão em sulcos. Neste caso, é bem fácil perceber os sulcos, por serem
mais profundos e dependerem principalmente da inclinação natural do
terreno, e pela concentração de maior quantidade de lâminas finas de
água. Quando essas lâminas se encontram em algum ponto do terreno,
são então formados os sulcos (Figura 6).

8
Figura 6 – Erosão em sulcos

Crédito: Meryll/Shutterstock.

3. Erosão em voçorocas. Neste caso, a erosão hídrica é muito mais intensa.


Ela acontece quando volumes enormes de água adquirem maior
velocidade, destruindo e desagregando tudo o que encontram pela frente,
aumentando os sulcos originais, desagregando as laterais e o fundo
desses sulcos. Seria como um agravamento gigante da erosão em sulcos
(Figura 7).

Figura 7 – Voçoroca

Crédito: alsamua/ Shutterstock.

9
A equação a seguir mostra quais são exatamente os fatores que afetam
o resultado da erosão hídrica.

A = R. K. L. S. C. P

Onde:

• A = perda de solo em toneladas por hectare (t.ha-1);


• R = fator erosividade da chuva, ou seja, o potencial que a chuva tem de
causar erosão;
• K = fator erodibilidade do solo, isto é, a capacidade que cada solo tem de
resistir ao processo erosivo;
• L = comprimento da rampa que a água percorre;
• S = grau de declividade do terreno que a água percorre;
• C = fator uso e manejo do solo;
• P = práticas conservacionistas utilizadas.

Em relação à chuva, temos de pensar em intensidade, duração,


quantidade total, frequência, distribuição sazonal e energia cinética contida nas
chuvas.
• Intensidade da chuva. É o volume de chuva que cai durante um certo
tempo. Pode ser representada com a equação a seguir.

𝑉𝑉
I=
𝑇𝑇

Onde I é a intensidade da chuva; V é o volume dessa chuva; T é o tempo


de duração dessa chuva. Podemos dizer que quanto maior for a
intensidade da chuva, maior será a desagregação do solo e, por
consequência, a erosão.
• Duração da chuva. É o tempo que leva entre seu início e seu final. Chuvas
mais curtas tendem a provocar menos erosão.
• Quantidade total de chuva. É o volume de água que cai durante um tempo
determinado. Tem uma relação muito grande com a capacidade de
infiltração de água no solo. Quando a água não conseguir mais penetrar
no solo, vai escorrer na superfície, provocando erosão.
• Frequência das chuvas. É considerado o intervalo de tempo entre duas
chuvas seguidas. Quanto menor o intervalo, maior será o escorrimento de
água na superfície e maior será a erosão.
10
• Distribuição sazonal das chuvas. Se as chuvas se concentrarem em uma
época do ano, maior será o risco de erosão.
• Energia cinética das chuvas. Observamos que quanto maior for a massa
de água nas chuvas, maior será sua velocidade, portanto essa massa de
água terá mais energia cinética, causando maior desagregação das
partículas de solo, ao tocar a superfície, e maior erosão.

Ainda temos o efeito da topografia. Aqui devemos prestar atenção ao grau


de declividade, à regularidade do declive e ao comprimento dos lançantes.

• Grau de declividade. Quanto maior for a inclinação do terreno, maior


velocidade terá a água e menor será a infiltração de água no solo, portanto
mais erosão.
• Regularidade do declive. Quanto mais regular for o declive, maior
velocidade a água adquirirá ao descer, provocando mais erosão. Se
houver obstáculos, menor será a velocidade da água no declive e teremos
menos erosão.
• Comprimento dos lançantes. É o comprimento total do declive. Quanto
maior o comprimento, maior a velocidade da água e maior a erosão.

É importante considerarmos também as características do solo, pois


podem facilitar a erosão. Temos de pensar em teor e tipo de argila, estrutura do
solo, estabilidade dos agregados, porosidade do solo e capacidade de infiltração
de água nesse solo.
O uso e o manejo dos solos também influencia muito na intensidade da
erosão.

• Tipos de culturas. Devido à arquitetura das plantas e ao sistema radicular,


estas podem gerar maior ou menor cobertura do solo, diminuindo ou
aumentando a erosão, respectivamente.
• Tipo de preparo de solo. Quando não incorporamos os restos vegetais,
quando eles ficam na superfície, há uma tendência à diminuição da
erosão.
• Manejo dos resíduos culturais. Retirar esses resíduos da lavoura, queimá-
los, incorporá-los ao solo ou mesmo deixá-los na superfície pode interferir
muito na intensidade da erosão. O ideal é que os resíduos fiquem na
superfície para proteger os agregados do solo da força cinética das gotas
de chuva, reduzindo assim a erosão.
11
2.2 Erosão eólica

A erosão eólica depende de alguns fatores: obviamente da existência de


vento, áreas planas ou suavemente onduladas, da ocorrência de períodos de
estiagem, de que o solo esteja seco e descoberto de vegetação e de que seja
composto basicamente de areia.
Assim como na erosão hídrica, a erosão eólica passa por três fases:
desagregação, transporte e deposição.

• Desagregação. Neste caso, a desagregação é causada por outro fator,


como gotas de chuva ou práticas não conservacionistas de manejo.
• Transporte. O transporte de partículas que já estão desagregadas pode
ocorrer de três maneiras diferentes: através de rolamento, com as
partículas mais pesadas (como pequenos pedaços de rocha), pelo
salteamento, com partículas um pouco mais leves (areia), e suspensão no
ar, como com partículas mais leves (areia fina, silte e argila).
• Deposição. A deposição acontece de um modo mais seletivo porque,
devido ao peso, as partículas maiores vão se depositar primeiro, depois
as partículas intermediárias e, finalmente, as partículas mais leves. A
deposição se dá quando diminui a velocidade do vento ou quando ele para
(Figura 8).

12
Figura 8 – Processo de erosão eólica

Crédito: Designua/Shutterstock.

Mas quais são os principais fatores de erosão eólica?

• Velocidade do vento. Você sabia que o vento com velocidade acima de


13 quilômetros por hora já pode provocar erosão eólica?
• Solo. Quanto mais arenoso, maior é a erosão eólica. Solos com menor
estabilidade de agregados também são mais suscetíveis à erosão eólica,
assim como solos mais secos, pois há menor coesão entre as partículas.
• Topografia. Ao contrário da erosão hídrica, o que favorece a erosão eólica
é a topografia plana, aquela que não tem obstáculos, facilitando assim a
maior velocidade do vento.
• Vegetação. A vegetação funciona como um para-vento, diminuindo a
velocidade do vento e impossibilitando o transporte das partículas.
• Uso e manejo do solo. Quando usamos práticas que desagregam o solo,
como aração e gradagem, facilitamos a ação do vento e aumentamos a
possibilidade de erosão eólica.

13
TEMA 3 – PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS: PARTE 1

Nós já vimos que a maior parte da degradação do solo ocorre porque


manejamos o solo de maneira incorreta, provocando a erosão. Isso pode se
tornar tão radical que podemos perder totalmente o solo de nossas áreas de
cultivo e torná-las impróprias para qualquer tipo de cultivo. Isso parece mentira,
mas não é. Muitos lugares no Brasil já sofrem com essa realidade (Figura 9).

Figura 9 – Imensa área degradada por uso inadequado pelo ser humano, em
Santa Rosa da Serra, Minas Gerais

Crédito: oneclickportugal/Shutterstock.

Mas como podemos fazer para conservar o solo de nossas áreas a longo
prazo, para nós e para as futuras gerações? Aliás, essa é a ideia do
desenvolvimento sustentável: aproveitar hoje os recursos naturais de tal maneira
que as próximas gerações também tenham acesso aos mesmos recursos. Se
continuarmos a realizar nossas atividades agrícolas de qualquer maneira, vamos
continuar a destruir tudo. Por isso existem práticas agrícolas chamadas
conservacionistas. Essas práticas visam basicamente a prevenção da
degradação do solo, bem como a recuperação dos solos agrícolas já
degradados.

14
Tais práticas têm alguns objetivos básicos, como:

• criar maior cobertura do solo, podendo ser por meio de plantas vivas ou
resíduos vegetais, de tal maneira que o solo fique coberto pelo maior
tempo possível;
• aumentar o máximo possível a taxa de infiltração de água no solo;
• evitar que a água da chuva escoe pelas rampas do terreno e, se isso
acontecer, que o escoamento ocorra na menor velocidade possível.

Temos uma série de práticas que podem ser utilizadas. Qual vamos
escolher depende de uma série de condições, levando-se em conta os aspectos
socioeconômicos e ambientais da região e mesmo da propriedade agrícola.
Temos de ter em mente que, se aplicarmos somente uma dessas práticas, o
problema será resolvido apenas de forma parcial. O ideal é que utilizemos mais
de uma prática conservacionista ao mesmo tempo. Conservar o solo é conservar
sua capacidade produtiva de tal modo que nossos filhos, nossos netos, enfim,
as futuras gerações possam utilizar os mesmos recursos naturais de que agora
dispomos. Lembre-se disso.

3.1 Cobertura morta

Com a cobertura morta tentamos imitar o que acontece na natureza. Em


uma floresta, existe uma camada de matéria orgânica (folhas, galhos etc. em
algum estado de decomposição) sobre o solo. Pois é. Essa camada, além de
fornecer nutrientes que serão reciclados por processos físico-químicos e
biológicos, voltando assim para as próprias plantas, serve para proteger o solo
da força das gotas de chuva e do vento, diminuindo muito a erosão que poderia
acontecer. Mas como podemos fazer isso em nossas propriedades agrícolas? O
ser humano pode usar uma série de materiais, como palhada em geral, restos
de serrarias (maravalha, serragem), restos de agroindústrias (casca de arroz,
bagaço de cana de açúcar), assim como outros materiais (folhas, resíduos de
roçadas, cascas etc.). Todos esses resíduos devem ser colocados na superfície
do solo, no intervalo entre as linhas de plantio. Basicamente, sua função é imitar
o que acontece na natureza, protegendo o solo dos processos que causam a
erosão (Figura 10). O conceito básico é que essa cobertura morta proteja o solo
contra o impacto das gotas da chuva, servindo quase como um amortecedor.
Além disso, esse sistema tende a conservar mais água no solo para as plantas

15
e a diminuir a grande variação de temperatura ao longo do dia. Quer um grande
exemplo de uso de cobertura morta? O plantio direto.

Figura 10 – Exemplo de uso de cobertura morta (também chamada mulching)


em uma plantação de batata

Crédito: Hans Verburg/Shutterstock.

A cobertura morta, quando aplicada de forma correta, tem as seguintes


vantagens:

• protege a estrutura do solo contra a força cinética das gotas de chuva,


diminuindo sua desagregação;
• diminui a quantidade de água que escoa sobre a rampa do terreno;
• com o passar do tempo, aumenta o teor de matéria orgânica no solo,
dando maior resistência a sua estrutura;
• com o aumento do teor de matéria orgânica, com certeza vai estimular a
atividade de toda a biota do solo, principalmente de microrganismos,
aumentando assim a intensidade dos ciclos dos nutrientes no solo;
• diminui o efeito da erosão eólica, pois protege o solo da ação dos ventos;
• diminui a grande amplitude de temperatura do solo, em comparação com
um solo nu;
16
• diminui a perda de água do solo pela evapotranspiração;
• obviamente, com tudo isso, melhora consideravelmente a conservação do
solo.

3.2 Cultivo em nível

Já vimos que a declividade e o comprimento da rampa no terreno


influencia em muito a erosão hídrica. Quanto maior a declividade e o
comprimento de rampa, maior é a erosão. Vimos também que se houver
obstáculos na rampa, estes podem diminuir a velocidade da água e, assim,
diminuir a erosão. E é exatamente isso o que queremos com o cultivo em nível.
Também chamado cultivo em contorno, basicamente o que fazemos é realizar
todas as operações de preparo e cultivo, como linhas de semeadura, em sentido
transversal à declividade, quer dizer, “cortamos” a rampa, diminuindo-a. Mas
como? Com o uso de curvas de nível (Figura 11) e linhas de contorno. Na prática,
fazemos o plantio no sentido das curvas de nível, sempre no mesmo sentido,
acompanhando a topografia do terreno, e sempre transversalmente ao sentido
da declividade do terreno.

Figura 11 – Mapa topográfico representando os diferentes níveis de um terreno


inclinado. Cada linha é um nível diferente. Estas são as curvas de nível

Crédito-1471895291-Alex_I/Shutterstock.

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Desse modo, as fileiras das plantas acabam por se tornar um obstáculo
para a água, diminuindo a velocidade dela no declive e os processos erosivos.
Ah.... mas tem mais uma vantagem. Além de diminuir a força da água no declive,
nos locais da curva de nível a infiltração de água no solo aumenta, ampliando o
teor de umidade no solo. Recomenda-se que, para essa prática, o solo não tenha
mais do que 3% de declividade, isto é, que ele incline somente 3 metros na
vertical a cada 100 metros de comprimento na horizontal (Figura 12).

Figura 12 – Plantio em curva de nível seguindo a declividade do terreno

Crédito: Thomaz Vita Neto/Pulsar Imagens.

Essa prática pode diminuir em até 50% as perdas de solo provocadas pela
erosão. Mas, atenção: ela tem de ser utilizada em conjunto com outras práticas,
pois sozinha não acaba com a erosão.

3.3 Cultivo em faixas

No cultivo em faixas, continuamos a plantar em curvas de nível, mas a


diferença é que plantamos de forma alternada diferentes espécies vegetais,
proporcionando diferentes coberturas de solo. Assim, em uma parte da área
temos uma espécie vegetal que proporciona maior cobertura do solo e, em outra,
plantas que dão menor cobertura de solo. Isso é muito melhor; diminui muito a

18
erosão comparada à que ocorreria se tivéssemos somente plantas com menor
cobertura vegetal do solo, o que normalmente é o caso das culturas agrícolas
principais. Usualmente as faixas de cultivo têm largura de 20 a 40 metros. Depois
que realizamos a colheita da cultura principal, que tem menor cobertura do solo,
plantamos, nessas faixas vazias, plantas que dão maior cobertura, como adubos
verdes, por exemplo. Nas faixas que tinham maior cobertura, plantamos
novamente a cultura principal, isto é, alternamos as faixas entre culturas de
pouca cobertura vegetal e culturas de muita cobertura vegetal. Desse modo a
cultura principal vai ter um benefício a mais. Além da proteção do solo, vai ter
mais nutrientes deixados pelos adubos verdes (Figura 13). Essa é uma prática
considerada barata e eficiente, podendo até, dependendo da situação, substituir
terraços (terraceamento).

Figura 13 – Cultivo em faixas. Note que ao longo da declividade foram cultivadas


diferentes espécies, com maior e menor cobertura vegetal. Isso quebra o
comprimento da rampa, diminuindo muito a velocidade da água e a erosão
hídrica

Crédito: INTREEGUE Photography/Shutterstock.

O cultivo em faixas pode ser feito de três maneiras:

1. faixas de retenção: alterna-se faixas da cultura principal com plantas de


ciclo longo, grande desenvolvimento de massa verde e sistema radicular,
desenvolvimento rápido, em grandes densidades populacionais e que
possam ser utilizadas como alimento para animais, como cana de açúcar,
capim-elefante, capim-cidreira, braquiária, entre outras;

19
2. faixas de rotação: continuamos a fazer o plantio em faixas seguindo as
curvas de nível, mas desta vez as faixas vão sofrer rotação e culturas,
tanto anual, quanto no mesmo ano (verão, inverno); deve-se alternar
culturas que tenham maior e menor cobertura vegetal e sistemas
radiculares mais e menos densos, na mesma faixa ao longo do tempo;
3. faixas conjugadas: nesse tipo, associamos os dois tipos anteriores;
fazemos a rotação entre faixas de culturas e entre faixas de retenção.

TEMA 4 – PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS: PARTE 2

Outras práticas conservacionistas podem ser aplicadas em uma


propriedade rural.

4.1 Adubação verde

A adubação verde já é aplicada desde os tempos dos gregos e romanos,


portanto essa ideia é muito antiga. No Brasil, começou na década de 1920. Com
o surgimento da revolução verde e o uso intensivo de fertilizantes químicos, a
adubação verde foi um pouco esquecida. Mas voltou na década de 1970, quando
o plantio direto chegou ao Brasil. Ela se tornou então um importante instrumento,
como condicionador da qualidade do solo e na rotação de culturas. Trata-se do
uso de certas plantas em rotação, sucessão ou mesmo em consórcio com as
culturas agrícolas comerciais mantendo resíduos na superfície do solo, tendo
como objetivo a proteção do solo e a melhoria de suas qualidades físicas,
químicas e biológicas.
As espécies mais usadas como adubo verde são leguminosas, como
feijão de porco (Canavalia ensiformis L.), crotalária (Crotalarea juncea L.) (Figura
14) e caupi (Vigna unguiculata Walp.). Mas outras plantas não leguminosas
também podem ser utilizadas, como azevém (Lolium multiflorum Lam.), aveia
(Avena sativa L.), cevada (Hordeum vulgare L.) e capim-sudão (Shorghum
sudanense L.).

20
Figura 14 – Crotalária (Crotalarea juncea L.) utilizada como adubação verde

Crédito: Adriano Kirihara/Pulsar Imagens.

A seguir, algumas das vantagens da adubação verde.

• Proporcionam proteção das partículas da superfície do solo contra a força


de impacto das gotas de chuva.
• A taxa de infiltração de água no solo aumenta porque o sistema radicular
dessas plantas forma canais no interior do solo.
• Há um grande incremento no teor de matéria orgânica do solo ao longo
do tempo, com melhoria de suas propriedades físicas, químicas e,
principalmente, biológicas.
• Há uma oscilação menor de temperatura nos dias e entre estações, assim
como há menores perdas de água por evapotranspiração do solo devido
a sua cobertura.
• A adubação verde pode ser utilizada como agente de recuperação de
solos degradados, rompendo camadas adensadas, auxiliando na
recuperação da estrutura do solo, melhorando a aeração e a infiltração de
água no solo e aumentando consideravelmente os teores de matéria
orgânica em solos degradados.

21
• Após o manejo das plantas de adubação verde, por rolagem e
dessecação, por exemplo, há a decomposição dos resíduos, aumentando
a ciclagem de nutrientes no solo, deixando mais nutrientes disponíveis
para as culturas agrícolas.
• Como muitas das plantas utilizadas em adubação verde são leguminosas,
há incremento na fixação biológica de nitrogênio e, com a incorporação
dessas plantas ao solo, maior disponibilidade no solo.
• Há uma sensível redução na infestação por plantas daninhas devido a
processos de alelopatia e supressão. Na alelopatia, as plantas produzem
substâncias que vão inibir as plantas daninhas. Na supressão, as plantas
de adubação verde provocam um impedimento físico por competição por
luz e água, prejudicando o desenvolvimento das plantas daninhas.
• Algumas plantas de adubação verde ainda podem ser utilizadas na
propriedade de outras formas, como alimentação animal, por exemplo.

Mas, infelizmente, há algumas desvantagens.

• Algumas plantas de adubação verde podem servir como hospedeiras de


certas doenças e pragas, passando-as para as culturas comerciais.
• A área destinada à adubação verde fica um certo período sem cultivo
comercial, isto é, sem gerar renda direta para a propriedade. Para resolver
isso, pode-se plantar a adubação verde na entressafra.
• Pode haver um custo alto para a aquisição de sementes. Para resolver
esse problema, uma solução seria a produção de sementes na
propriedade.
• A relação C/N pode ficar muito alta, fazendo com que o nitrogênio fique
imobilizado no solo. Por isso seria sempre melhor o uso de leguminosas,
de forma isolada ou em consórcio com outras espécies.

4.2 Controle de voçorocas

As voçorocas são um exemplo muito extremo de erosão hídrica em


sulcos. Por isso, o ideal é não deixar acontecer. Mas, e se acontecer? Há
algumas práticas que podemos adotar.

• Isolamento. Tem como objetivo suspender fatores que podem causar o


aparecimento das voçorocas, por exemplo evitar o trânsito dos animais e
redirecionar a água recolhida na área para outros pontos já protegidos.
22
• Recuperação. A recuperação depende basicamente do custo-benefício.
Se for uma área de alto valor, pode-se incorporá-la novamente ao
processo produtivo. Pode-se fazer uma raspagem de áreas ao redor em
direção à voçoroca (Figura 15).
• Estabilização. Quando não se consegue recuperar, parte-se para uma
estabilização, visando fazer com que a voçoroca não aumente de
tamanho. Ela pode ser revegetada ou podem ser construídas paliçadas
para as voçorocas maiores. O ideal é que o talude seja suavizado com
menor angulação. Isso pode ser feito com trator de esteira, lâmina etc.
para que não cause mais desbarrancamento. Já as paliçadas podem ser
construídas com materiais encontrados na própria área, como troncos,
galhos etc. com altura máxima de 1,5 m. Elas servirão como uma espécie
de filtro, dificultando a passagem da água e retendo os sedimentos.

Figura 15 – Esquema do controle mecânico de voçorocas

Crédito: Jefferson Schnaider.

23
4.3 Terraceamento

Os terraços são uma tecnologia antiga, utilizada já há muito tempo pelo


ser humano para o cultivo em terrenos muito inclinados. Alguns exemplos
radicais são encontrados nas Filipinas. Esses terraços são considerados
patrimônio da humanidade pela Unesco (Figura 16).

Figura 16 – Terraços de plantio em Batad, Filipinas

Crédito: R.M. Nunes/Shutterstock.

Na agricultura moderna, no terraceamento são construídas estruturas


com fins hidráulicos chamadas terraços. Os terraços são formados por um canal
e um camalhão, ambos no sentido transversal da declividade, cortando a
declividade do terreno, diminuindo a velocidade da água e, assim, diminuindo a
possibilidade de erosão (Figuras 17 e 18).

24
Figura 17 – Corte transversal de um terraço com seção trapezoidal. B = base
maior do trapézio; b = base do canal do terraço ou base menor do trapézio; H =
altura do camalhão; L = largura da crista

Figura 18 – Reforma de terraços

Crédito: Sérgio Ranalli/Pulsar Imagens.

Os terraços podem ser classificados de várias maneiras. Uma das


maneiras mais comuns é segundo a amplitude da faixa de movimentação de solo
na construção: (a) base estreita, movimenta-se até 3 metros de largura; (b) base
média, de 3 a 6 metros; (c) base larga, de 6 a 12 metros. Recomenda-se que em
terrenos com declividade superior a 12% sejam feitos terraços de base estreita,
de base média em terrenos entre 10 e 12% de declividade e de base larga em
terrenos de até 10% de declividade (Figura 19).

25
Figura 19 – Terraços de base larga (A), média (B) e estreita (C)

TEMA 5 – SISTEMAS INTEGRADOS DE CONSERVAÇÃO DO SOLO

Os sistemas agroflorestais (SAFs) constituem-se de formas de uso e


manejo dos recursos naturais de tal modo que espécies florestais são plantadas
em associação com culturas agrícolas e/ou criação de animais, no mesmo local,
dividindo espaço. Essa ideia também já existe há muito tempo, mas foi deixada
de lado, voltando nos últimos anos como uma alternativa para uso e manejo de
solo, principalmente nas regiões tropicais. Por isso podemos dizer que são
sistemas integrados de conservação do solo.
Existem várias combinações possíveis de SAFs, que vão depender muito
da região, clima, solo, atividade econômica, características culturais etc.
Podemos combinar uma espécie arbórea com uma cultura agrícola, ou mesmo
muitas espécies juntas, incluindo-se aí pastagem. Os SAFs têm um grande papel
na manutenção da fertilidade do solo, controle da erosão e ciclagem de
nutrientes. Têm, inclusive, potencial como ferramenta na recuperação de solos

26
degradados. Os SAFs que melhor desempenham esse papel são aqueles em
que há uma grande diversidade de espécies vegetais envolvidas, principalmente
nativas, o que leva a melhor estrutura do solo, mais matéria orgânica e mais
teores de nutrientes no solo.
Em função de seus componentes, podem ser divididos em três diferentes
classes.

1. Sistemas silviagrícolas. Misturam culturas agrícolas e espécies florestais,


proporcionando renda para o agricultor com dois tipos de produtos.
Resultam na produção de bens, como grãos e madeira, mas também em
serviços de conservação, como quebra-ventos, cercas vivas,
sombreamento etc. A cultura agrícola pode ser mantida junto à espécie
florestal somente durante um ciclo agrícola ou por mais ciclos. Pode ser
feito o plantio em faixas, de forma regular, com uma faixa para as espécies
florestais e outra para as culturas agrícolas, ou de forma aleatória, com as
espécies florestais colocadas de forma totalmente aleatória. Espécies
florestais como leucena (Leucaena leucocephala), ingá (Inga spp.),
angico-vermelho (Anadenantera macrocarpa) e as acácias (Acacia
mangium, A. holosericea, A. angustissima), por sua capacidade de fixar
nitrogênio do ar, podem ser utilizadas principalmente para restaurar a
fertilidade de solos já degradados (Figura 20).
2. Sistemas silvipastoris. É a associação de pastagens e animais com
espécies florestais. Pode ser feito o pastejo em sub-bosque natural e em
pastagens introduzidas em florestas plantadas, ou pastagem
complementar com espécies arbóreas forrageiras, em que as espécies
florestais também servem de alimento para os animais. Nesses sistemas,
as árvores ainda podem servir de cercas vivas ou moirões vivos,
exercendo ainda funções como proteção, abrigo e quebra-vento. Isso
pode aumentar a produtividade do gado ali instalado (Figura 21).
3. Sistemas agrossilvipastoris. Estes sistemas juntam animais (pasto),
culturas agrícolas e espécies florestais, tudo na mesma área. Essas
combinações não necessitam ser feitas obrigatoriamente ao mesmo
tempo, mas em sistema de rotação de culturas. Podemos ter cultura
agrícola + árvores, depois outra cultura agrícola + árvores, daí pastagem
+ árvores e assim por diante.

27
Figura 20 – Vista aérea de plantio de fileiras de árvores de eucalipto e soja em
uma fazenda no Brasil (São Paulo)

Crédito: ADVTP/Shutterstock.

Figura 21 – Sistemas silvipastoris com Eucalyptus grandis e gado pastando

Crédito: Adriano Kirihara/Pulsar Imagens.

28
Independentemente do sistema escolhido, os SAFs podem levar a
algumas vantagens, como melhoria das propriedades físicas, químicas e
biológicas do solo, menor necessidade de adubação e mesmo do uso de
agrotóxicos, melhor conservação da água e do solo e maior produção de
biomassa, mas também proporcionando maior estabilidade climática para todas
as espécies envolvidas (plantas e animais). Além disso, podem proporcionar o
maior sequestro de carbono no solo. Como ocupam maior superfície do solo e
adicionam grande quantidade de matéria orgânica a ele, atuam na proteção
contra erosão e no aumento de sua atividade biológica.

FINALIZANDO

Já sabemos que o solo é importante. Por isso mesmo precisamos tomar


a decisão de conservar o máximo possível esse bem tão preciso. Afinal, temos
de deixar uma boa herança para as próximas gerações, não é mesmo? E nada
melhor do que conservar o solo e permitir que as futuras gerações também
possam produzir seu alimento em grande quantidade. Conhecemos como o solo
pode sofrer erosão e várias técnicas para conter isso, inclusive melhorando sua
qualidade. Agora é só aplicar o que aprendemos.

29
REFERÊNCIAS

ANDRADE, A. G. de; PORTOCARRERO, H.; CAPECHE, C. L. Práticas


mecânicas e vegetativas para controle de voçorocas. Rio de Janeiro:
Embrapa Solos, 2005. (Comunicado Técnico 33).

BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. L. Conservação do solo. 5. ed. São Paulo:


Ícone, 2005.

MACHADO, P. L. O. de A.; WADT, P. G. S. Terraceamento. Embrapa. 29 set.


2021. Disponível em: <https://www.embrapa.br/en/agencia-de-informacao-
tecnologica/cultivos/arroz/producao/sistema-de-cultivo/arroz-de-terras-
altas/terraceamento>. Acesso em: 5 abr. 2023.

PES, L. Z.; GIACOMINI, D. A. Conservação do solo. Santa Maria: UFSM, 2017.

RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Agricultura. Manual de conservação do


solo. 3. ed. Porto Alegre, 1985.

30
MANEJO, FERTILIDADE,
CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA
ÁGUA
AULA 6

Prof. Klaus Dieter Sautter


CONVERSA INICIAL

A água talvez seja o recurso natural mais crítico para o ser humano,
depois do ar que respiramos. Nosso corpo é composto por cerca de 70% de
água. É a água que regula nossa temperatura interna e é utilizada em
praticamente todas as nossas funções orgânicas. Também usamos a água em
uma infinidade de atividades, principalmente na agricultura. Por isso mesmo é
que nesse momento vamos tratar da conservação de água.

TEMA 1 – POR QUE CONSERVAR A ÁGUA?

Como seria viver sem água? Nós precisamos de água não só para a
manutenção de nosso corpo, mas para uma série grande de atividades,
poderíamos dizer para todas as nossas atividades. Ela é essencial para a
existência da vida no nosso planeta. A água é um recurso natural não renovável
e uma das grandes preocupações da humanidade. Já houve guerras por causa
da água, por exemplo, no rio Jordão, Israel e seus vizinhos chegaram a lutar por
água, tão grande é a escassez dela na região. No Brasil, temos várias regiões
onde realmente falta água, como na caatinga (Figura 1), assim como regiões
onde às vezes temos grandes períodos de escassez de água, as estiagens.

Figura 1 – Caatinga degradada no interior da Paraíba

Crédito: Cacio Murilo/Shutterstock.

2
Chamamos de ciclo de água, ou ciclo hidrológico, a troca da água que
ocorre de forma contínua entre os diferentes compartimentos ambientais:
hidrosfera (águas superficiais), atmosfera (umidade do ar) e pedosfera/litosfera
(umidade do solo e água subterrânea) (Figura 2).

Figura 2 – Ciclo da água

Crédito: 3xy/Shutterstock.

Mas no que utilizamos água? Pois é, em muitas e muitas atividades, como


abastecimento doméstico, abastecimento industrial, irrigação, dessedentação de
animais, preservação da flora e fauna, recreação e lazer, geração de energia
elétrica, navegação e diluição de despejos.
Entre esses usos, temos aqueles chamados de “usos consuntivos”, quer
dizer, que impõem a retirada de água do ambiente; há uma perda entre o que
sai e o que volta. Nesse caso, temos:

3
a. abastecimento público – é o uso mais nobre. É aquela água que chega
em nossas casas, que usamos para beber, preparar alimentos, para fazer
limpeza etc. Ela necessariamente precisa de tratamento para ser
consumida pelo ser humano. Em adensamentos urbanos, seu uso
intensifica-se;
b. abastecimento industrial – é aquela usada em processos industriais. Pode
ser utilizada no processo de fabricação sem entrar em contato com o
produto, por exemplo, em caldeiras e refrigeração. Pode integrar-se ao
produto final, como alimentos e bebida, bem como pode entrar em contato
com a matéria-prima ou o produto final, como na lavagem de matéria-
prima, e ainda servir para serviços complementares, como higiene dos
funcionários, limpeza, incêndio;
c. irrigação e dessedentação de animais – é atualmente o maior uso da água
no Brasil e no mundo. Precisa ter uma certa qualidade, porque será
utilizada para matar a sede dos animais a campo, assim como irrigar
culturas que precisam de maior quantidade de água (Figura 3).

Figura 3 – Irrigação com pivot central

Crédito: Sh_Vova/Shutterstock.

4
Os usos chamados de “não consuntivos” são aqueles em que não se retira
água do ambiente, portanto, não há perda no ambiente. Entre estes, podemos
enumerar:

a. recreação e lazer – em atividades em que o ser humano entra em contato


com a água, por exemplo, natação, mergulho, surfe etc., ou em atividades
nas quais não há contato com o meio líquido, como passeios de barco,
pesca esportiva etc. Na recreação e no lazer, necessitamos de maior
qualidade da água, sem organismos patogênicos, metais pesados etc.;
b. preservação da fauna e flora – tem como função manter a flora e fauna
existentes em dado curso de água e em volta dele. Não pode ter
alterações;
c. geração de energia – no Brasil, a base de geração de energia é por usinas
hidrelétricas (75% do total produzido). A qualidade da água está
condicionada à proteção dos equipamentos (sais nutrientes, matéria
orgânica, eutrofização);
d. navegação – é o que precisa de menor qualidade de água, pois somente
exige o suficiente para que as embarcações possam seguir seu caminho;
e. diluição de despejos – este é o uso menos nobre, mas o ser humano
sempre fez isso. Em muitos lugares, inclusive no Brasil, usa-se de maneira
indiscriminada corpos de água para jogar-se os esgotos urbanos, o que
pode tornar essa água inaproveitável para outros usos (Figura 4).

E para a agricultura? Talvez possamos dizer que é o principal insumo da


produção na agricultura. Sem água, não temos agricultura. Esse é um recurso
que sempre esteve ligado à agricultura e à pecuária, bem como nos possibilitou
que estabelecêssemos em lugares fixos e produzíssemos nosso próprio
alimento. As primeiras civilizações sempre estiveram à beira de grandes rios,
pois era ali que elas poderiam plantar e criar animais, por causa da água.

5
Figura 4 – Rio Tiête, no estado de São Paulo, um dos rios mais poluídos do Brasil

Crédito: Lucas Correa Pacheco/Shutterstock.

Dados mostram que a agricultura é a atividade humana que mais


consome água no mundo. Cerca de 70% de toda a água consumida pelo ser
humano é utilizada na agropecuária, tanto na produção de culturas agrícolas
quanto nas pastagens para o gado. Por isso mesmo é que temos de discutir o
bom uso da água em todas as nossas atividades, principalmente no campo: para
garantir a produção de produtos de origem animais e vegetal. Entretanto, não
adianta ter somente água em quantidade, precisamos de água de boa qualidade.

TEMA 2 – FORMAS DE USO DE ÁGUA NA AGRICULTURA

Sem dúvida alguma, a água é básica para a agricultura. No entanto, vários


fatores podem alterar a quantidade de água disponível para essa atividade. As
mudanças climáticas, o chamado efeito estufa, tem causado mudanças muito
grandes na dinâmica do clima no planeta, principalmente na temperatura e
precipitação. O uso indiscriminado de água também é um fator de grande
importância. Por isso, devemos repensar o uso da água na atividade agrícola.
Ações para conservar a água também devem ser introduzidas no dia a dia da
agricultura. Devemos aumentar a disponibilidade da água para uso agrícola, mas

6
também reduzir as suas perdas. A conservação do solo é um caminho, porém,
também devemos pensar seriamente no melhor uso da água na agricultura.
A chamada “Agricultura de Conservação” é um dos caminhos que
podemos seguir para a conservação da água no solo, com vistas a aumentar a
capacidade do solo de absorver essa água. Para isso, podemos utilizar práticas
de cultivo que diminuam a mobilização do solo (cultivo mínimo e plantio direto,
por exemplo), assim como cobrir o solo com resíduos de origem orgânica por
mais tempo possível. Isso melhora a infiltração da água no solo, diminui a
evapotranspiração e evita que ocorra o escoamento superficial, diminuindo a
erosão, o que resulta em dois ganhos em uma só ação. Quanto melhor a
estrutura do solo, maior é sua capacidade de armazenar água. O aumento do
teor de matéria orgânica no solo também colabora com a estrutura do solo,
aumentando sua capacidade de armazenamento de água.
Além de aumentar o armazenamento de água no solo e evitar a sua perda,
também temos outras maneiras de aumentar a produção agrícola e usar a água
de modo mais eficiente. Entre elas, podemos citar:

a. plantar culturas agrícolas que sejam mais tolerantes à seca e que tenham
sistema radicular mais desenvolvido e profundo, explorando melhor o
solo à procura de água (Figura 5);

Figura 5 – Culturas que exploram melhor o solo à procura de água

Crédito: KajaNi/Shutterstock.

7
b. melhorar a gestão de forma sustentável das culturas, por intermédio de
sistemas de apoio à tomada de decisão, para melhor planejamento das
operações, como fertilização, rotação de culturas etc.;
c. melhorar a eficiência da irrigação, utilizando-se, para isso, a irrigação de
precisão.

2.1 Sistemas de irrigação

Podemos dizer que a irrigação é uma forma que os agricultores têm de


levar água até as plantas. É um importante fator para o aumento da produtividade
agrícola. Entretanto, o mau uso da irrigação pode provocar a falta de água.
Existem vários sistemas de irrigação que podem ser utilizados na agricultura:

a. irrigação por superfície – é basicamente circular água por canais por meio
do uso da gravidade, por isso são chamados também de “sistemas de
irrigação por gravidade”. O efeito da gravidade faz com que a água se
movimente e infiltre no solo. Não é necessário nenhum tipo de
pressurização. Tem menor custo, precisa de equipamento simples, tem
baixo consumo de energia. Porém, perde-se muita água por evaporação.
Pode ser por sulcos (Figura 6) ou por inundação (Figura 6);

Figura 6 – Irrigação por superfície

Crédito: Andrii Yalanskyi/Shutterstock.

8
Figura 7 – Irrigação por inundação

Crédito: Young Swee Ming/Shutterstock.

b. irrigação localizada – nesse sistema, a água é aplicada o mais próximo


da planta, o que reduz a superfície molhada e, assim, se perde menos
por evaporação. A eficiência é consideravelmente maior, e o consumo de
água muito menor. Nesse caso, incluímos a irrigação por gotejamento.
Como a água é aplicada muito próxima ao sistema radicular da planta, a
necessidade de água é bem menor. Tem algumas vantagens, como o
controle rigoroso do consumo de água. Normalmente são sistemas
semiautomatizados ou mesmo totalmente automatizados, que precisam
de menos mão de obra porque a água é utilizada diretamente na planta.
Além disso, há menor incidência de plantas daninhas e, finalmente,
melhor uniformidade na aplicação de água no solo (Figura 8);

9
Figura 8 – Irrigação por gotejamento

Crédito: Floki/Shutterstock.

c. irrigação por aspersão – nesse caso, simula-se uma espécie de chuva


artificial, por intermédio do uso de um aspersor que joga a água no ar;
esta se transforma em gotículas, como as de chuva, caindo sobre as
plantas e o solo. Esse aspersor faz então uma pulverização do jato de
água. Podem ser convencionais ou mecanizados. No convencional
(Figura 9), usam-se tubos na área toda com a troca de aspersores
manualmente. Ele é constituído de sistema de captação, sistema de
bombeamento, tubulação de recalque ou linha principal, ramal ou linha
lateral e aspersores. Já o sistema de aspersão, chamado de
"mecanizado”, é utilizado em grandes áreas. Esse sistema de irrigação
“caminha” pela área, o que aumenta a eficiência na irrigação e também
diminui os custos de mão de obra. Ele é montado em cima de um sistema
mecânico que apresenta rodas. É o conhecido pivot central (Figura 10);
d. sistema de microaspersão – é um sistema muito utilizado principalmente
em regiões nas quais a falta de água é constante e há culturas agrícolas
de grande valor agregados. São utilizados microaspersores

10
autocompensados ou regulares, bem como filtros de disco ou telas.
Normalmente é indicado para o caso de pomares, principalmente de
frutas para exportação. Ele é modular, tem fácil instalação, operação e
manutenção, além de, é claro, economizar muita água e mão de obra
(Figura 11).

Figura 9 – Irrigação por aspersão convencional

Crédito: David A Litman/Shutterstock.

Figura 10 – Irrigação por pivot central

Crédito: Solid photos/Shutterstock.

11
Figura 11 – Irrigação por microaspersão

Crédito: Alin_Kris/Shutterstock.

A escolha do sistema de irrigação deve estar ligada à capacidade técnica


do agricultor, bem como sua capacidade econômica, oferta de água na região,
valor agregado da cultura escolhida.

TEMA 3 – MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS: PARTE 1

3.1 Conceitos básicos

Uma das maiores contribuições que a agricultura pode dar à conservação


do solo e da água é o manejo das microbacias hidrográficas.
Se observarmos os diferentes mapas do mundo, veremos que, na maioria
dos lugares em que há grandes rios, existem rios que vão contribuir para um rio
maior. A tendência desses rios menores (1.ª ordem) é escoar a água de uma
certa região até outra, em que se encontram rios maiores (2.ª ordem), e assim
por diante (3.ª, 4.ª, 5.ª ordens…). São as redes de drenagem.
Essa rede de drenagem forma a bacia hidrográfica, que podemos
conceituar como “uma área de captação natural da água de precipitação que faz
convergir o escoamento para um único ponto de saída. Compõe-se de um
conjunto de superfícies vertentes e de uma rede de drenagem formada por

12
cursos de água que confluem até resultar em um leito único no seu exutório”
(Tucci, 1997). Ou ainda, “um conjunto de terras drenadas por um rio e seus
afluentes, formada nas regiões mais altas do relevo por divisores de água, onde
as águas das chuvas, ou escoam superficialmente formando os riachos e rios,
ou infiltram no solo para formação de nascentes e do lençol freático” (Barrella et
al., 2001).
No Brasil, temos algumas grandes bacias hidrográficas, como a Bacia do
Rio Paraná, a Bacia do Rio Amazonas (Figura 12), a Bacia do Rio São Francisco,
entre outras.
Dentro das bacias hidrográficas, podemos reconhecer as sub-bacias e as
microbacias hidrográficas. “As sub-bacias são áreas de drenagem dos tributários
do curso d’água principal. Possuem áreas maiores que 100 km² e menores que
700 km²” (Faustino, 1996). Além disso, “a microbacia possui toda sua área com
drenagem direta ao curso principal de uma sub-bacia, várias microbacias formam
uma sub-bacia. Possuem a área inferior a 100 km2” (Faustino, 1996).

Figura 12 – Bacia Hidrográfica do Rio Amazonas

Crédito: Pyty/Shutterstock.

13
Podemos dizer que, de um ponto de vista físico, a microbacia nada mais
é que uma área geográfica mais ou menos homogênea, que está localizada entre
divisores de água, e é drenada por um rio principal. Contudo, nos dias de hoje
vemos mais do que somente uma questão geográfica na microbacia hidrográfica,
e sim uma questão social, pois ela atualmente é considerada uma unidade de
planejamento de uso e conservação de solos, e na qual são feitas atividades
agrícolas, preferencialmente de modo sustentável (Figura 13).
As microbacias são formadas por rios de 1.ª e 2.ª ordens, eventualmente
por rios de 3.ª ordem. Têm área reduzida, sem ter um consenso geral do que
seria a área máxima, mas abrange entre 10 e 20.000 hectares.

Figura 13 – Microbacia hidrográfica

Crédito: Stihii/Shutterstock.

Alguns conceitos são importantes para entendermos as microbacias


hidrográficas:

a. curvas de nível – são linhas que mostram todos os pontos de uma área
que têm a mesma altitude. Representam o relevo da área (Figura 14);
b. pontos cotados – é quando fazemos a projeção ortogonal de um ponto
qualquer no terreno, indicando a sua altitude em relação ao nível do mar.
Normalmente representamos assim topos de morros ou mesmo fundo de
vales (Figura 14);

14
Figura 14 – Curvas de nível e pontos cotados

Crédito: NGdesignhun/Shutterstock.

c. divisor de água – representa os limites geográficos da microbacia, assim


como determina a direção do fluxo de água, portanto, em que local será a
captação de água da microbacia. Ele é relacionado diretamente com o
relevo, mostrando a área de em que virá a água superficial do terreno.
Podemos ainda falar em divisor de águas freático, que são os limites
daqueles reservatórias de água subterrânea (Figura 13, linha pontilhada);
d. declividade – é a diferença entre a altitude (cota) entre dois pontos e sua
distância horizontal, conforme a Equação 1 a seguir, em que △H = altitude
maior – altitude menor (em metros); L = extensão do rio (em metros)
(Figura 15):
△𝐻𝐻
− Declividade = 𝐿𝐿.100 (Equação 1)

15
Figura 15 – Casas construídas em uma grande declividade na cidade do Rio de
Janeiro

Crédito: Antonio Salaverry/Shutterstock.

3.2 Gestão de recursos hídricos e microbacias hidrográficas

A gestão de recursos hídricos tem como finalidade básica fazer com que
se compatibilize a disponibilidade de água entre as diferentes necessidades e
usos pelo ser humano. Isso já é um fato que suscita desafios, levando-se em
conta questões políticas e sociais. É importante serem consideradas questões
sociais, econômicas, usos do solo e desenvolvimento da região em questão.
A gestão de recursos hídricos deve ser sempre vista em diferentes
escalas temporais e espaciais, tanto no que se refere a questões ambientais,
institucionais e organizacionais. Em particular, a microbacia hidrográfica se
mostra como um grande instrumento para esse tipo de gestão.
Podemos dizer que as microbacias hidrográficas formam um sistema com
quatro distintos subsistemas:

a. biológico, que é formado pela fauna e pela flora do local;


b. físico, que é constituído pelo solo, subsolo, geologia, recursos hídricos,
clima etc.;

16
c. econômico, que se refere a toda atividade humana da região em questão,
como indústria, meio urbano, agricultura, pecuária, infraestrutura, serviços
de apoio etc.;
d. social, que são todos os elementos que se referem diretamente à
comunidade humana ali instalada, como aspectos demográficos,
institucionais, culturais, políticos, legais, saúde, habitação, educação,
entre outros.

Todas essas abordagens envolvem processos temporais e espaciais que


devem ser levados em consideração. O manejo das microbacias hidrográficas
prevê não somente o manejo do fluxo de água, com vistas a diminuir o
escoamento superficial, a erosão, e aumentar a infiltração e água no solo, mas
sim o manejo integrado dos recursos naturais, visando à gestão ambiental
integrada.
Nesse sentido, o Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas (Brasil,
1987) visa “promover um adequado aproveitamento agropecuário dessas
unidades ecológicas, mediante a adoção de práticas de utilização racional dos
recursos naturais renováveis”. Ele tem como objetivos básicos:

I – executar ações voltadas para a prática de manejo e conservação


dos recursos naturais renováveis, evitando sua degradação e
objetivando um aumento sustentado da produção e produtividade
agropecuárias, bem como da renda dos produtores rurais;
II – estimular a participação dos produtores rurais e suas organizações
nas atividades de que trata o inciso anterior;
III – promover a fixação das populações no meio rural e reduzir os
fluxos migratórios do campo para cidade.

TEMA 4 – MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS: PARTE 2

Quando fazemos o manejo de uma microbacia hidrográfica, precisamos


levar em conta vários temas diferentes, que vão afetar a vida das pessoas na
área. Esses temas servem como diagnóstico de todos os problemas que ocorrem
naquele momento na região, incluindo os conflitos que aí ocorrem (diagnósticos)
e podem levar à elaboração de soluções (prognósticos).

a. Diagnóstico físico-conservacionista: é sempre o primeiro a ser realizado.


Nesse diagnóstico, fazemos a quantificação total de retenção de água de
chuva por infiltração, e tudo o que é relacionado a isso, como a
identificação de áreas que sejam apropriadas ao reflorestamento, onde
serão as faixas de retenção, técnicas de conservação do solo a serem

17
utilizadas etc. Essa etapa tem como objetivo coletar informações para o
fazer o prognóstico da retenção e controle de água da chuva na
microbacia. Também podem contar como objetivos distribuir as áreas
mais apropriadas para cada atividade na microbacia, quais são as
melhores práticas de retenção de água da chuva, diagnosticar o efeito da
erosão e estiagens, levantar dados sobre o assoreamento de corpos de
água (Figura 16).

Figura 16 – Assoreamento de rio

Crédito: Alf Ribeiro/Shutterstock.

b. Diagnóstico socioeconômico: objetiva a elaboração de um relatório sobre


a deterioração do ponto de vista socioeconômico da comunidade da
região. São feitos dois levantamentos específicos, por produtor e por
região (município, por exemplo). Ambos devem levantar a situação social,
econômica e até mesmo tecnológica dos produtos e moradores da região
(Figura 17).

18
Figura 17 – Comunidade rural no Amazonas

Crédito: BeautifulBlossoms/Shutterstock.

c. Diagnóstico ambiental: tem como objetivo levantar todos os tipos de


poluição que ocorrem na região, e assim auxiliar na determinação do grau
de deterioração da microbacia. Com isso, pode-se recomendar as
melhores práticas de recuperação e preservação ambiental, levando-se
em conta as particularidades ambientais da região (Figura 18).

Figura 18 – Queimadas são um dos principais tipos de deterioração ambiental na


área agrícola, juntamente com o uso indiscriminado e incorreto de agrotóxicos e
adubação mineral

Crédito: Kwanchai.C/Shutterstock.

19
d. Diagnóstico da vegetação: o principal objetivo desse diagnóstico é de
levantar informações sobre o estado atual da vegetação da microbacia,
por exemplo, espécies presentes e predominantes, qual é a sua
distribuição espacial (onde estão localizados os remanescentes florestais,
por exemplo) e porcentagem de cobertura do solo (Figura 19).

Figura 19 – É importante estudar a presença e distribuição da vegetação na


microbacia

Crédito: Miks Mihails Ignats/Shutterstock.

e. Diagnóstico da fauna: assim como da vegetação, esse diagnóstico


pretende levantar informações sobre a fauna remanescente da região,
sua distribuição, biodiversidade, tanto de fauna terrestre quanto aquática
e até fauna “aérea” (aves) (Figura 20).

20
Figura 20 – A fauna pode ser um ótimo indicador do estado atual do meio
ambiente na microbacia: quanto mais indivíduos e maior diversidade, melhor
será o estado ambiental da microbacia

Crédito: SaveJungle/Shutterstock.

f. Diagnóstico da água: todos os diagnósticos são muito importantes, mas


este é básico. O objetivo principal é quantificar e qualificar a água dentro
da microbacia estudada. Só com base nisso podemos planejar de forma
adequada o uso dessa água para as diferentes atividades. A água
disponível não é importante só para a agricultura, mas para uma grande
série de atividades, como abastecimento doméstico e industrial, projeto e
construção de obras hidráulicas, irrigação, drenagem, regularização dos
cursos d’água e controle de inundações, controle de poluição, navegação,
aproveitamento hidrelétrico, recreação, preservação e desenvolvimento
da vida aquática. Para tal, devemos levantar uma série grande de dados,
como dados pluviométricos (de chuva), fluviométricos (medição dos níveis
da água, velocidades e vazões dos rios, o que possibilita estabelecer o
regime dos rios), linimétricos (altura de um rio), bem como se há depósitos
de água subterrânea, qual é o relevo, cobertura vegetal, como é a

21
infiltração de água no solo, uso que é dado atualmente à água e também
devemos medir a qualidade da água, tanto de forma quantitativa quanto
qualitativa, para verificar se há contaminação dos corpos de água (Figura
21).

Figura 21 – Medição da altura de um rio

Crédito: Simon Annable/Shutterstock.

g. Diagnóstico do solo: nesse caso, devemos mapear quais são as unidades


de solo existentes na área, sua estrutura, composição física e química,
correlacionando com a sua posição no relevo dentro da microbacia.
Assim, podemos sugerir quais seriam as melhores atividades econômicas
para cada tipo de solo e como proceder para a adoção de adubação,
sistema de preparo e técnicas conservacionistas (Figura 22).

22
Figura 22 – Características das diferentes unidades de solo são importantes para
se determinar ações de intervenção na microbacia, como tipo de solo, estrutura
do solo, profundidade do solo, teores de argila, silte, areia, matéria orgânica etc.

Crédito: Antonov Roman/Shutterstock.

O conjunto de informações obtidas nos diagnósticos discutidos


possibilitará a correta interpretação do que está acontecendo na microbacia
(diagnóstico) e então atitudes podem ser sugeridas (prognóstico) com base
nesses resultados iniciais. Deve ficar bem claro que as técnicas escolhidas para
serem implementadas são em função do que encontramos pela frente e não uma
“receita de bolo”, já preparada em outro lugar. As técnicas de conservação de
solo devem ser utilizadas em conjunto com a preocupação com a comunidade e
o meio ambiente ali presentes, sempre pensando na questão social e ambiental
ao mesmo tempo. O solo e a água são recursos escassos que devem ser
utilizados com cuidado e parcimônia.

23
TEMA 5 – PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS EM MICROBACIAS
HIDROGRÁFICAS

Depois do diagnóstico realizado na microbacia hidrográfica, podemos


começar a determinar as principais práticas conservacionistas a serem
realizadas, mas sempre pensando no meio ambiente e na questão
socioeconômica da área que estamos examinando. O manejo de microbacias
hidrográficas deve respeitar a produção, o meio ambiente e o ser humano. De
nada adianta sugerir algo que as pessoas não terão como cumprir.
Sem dúvida alguma, o principal motivo de promovermos o manejo de
bacias hidrográficas é a contenção da erosão, principalmente a da erosão
hídrica, provocada pela força das águas. Nesse aspecto, já vimos algumas das
práticas conservacionistas, mas que agora não aplicaremos somente em uma
propriedade isolada, e sim no conjunto de propriedades que ocorrem na
microbacia estudada. Se houver mais de uma propriedade na microbacia, elas
devem ser consideradas em conjunto, como se fossem uma só. Não existem
cercas para a erosão em uma microbacia hidrográfica. Se aplicarmos os
conceitos de práticas conservacionistas somente em uma propriedade da
microbacia, a água fluirá pelas outras, talvez até em maior velocidade e força,
provocando danos ainda maiores. Essa propriedade, na qual foram feitas
práticas conservacionistas, também sofrerá, mesmo tomando tantas
precauções. Por isso, na microbacia é como se tivéssemos somente uma
propriedade.
Entre as práticas que podemos adotar em conjunto na microbacia, muitas
já estudamos, como cobertura morta, cultivo em nível (curvas de nível), cultivo
em faixa, adubação verde, controle de voçorocas, sistemas agroflorestais, e,
principalmente, práticas como o terraceamento, se tornam importantes.
No entanto, em uma microbacia, principalmente quando se trata de várias
pequenas propriedades em conjunto, as estradas tomam uma importância
enorme (Figura 23). É por meio delas que o agricultor chega à sua própria área,
desloca-se dentro dela e escoa a sua produção. Contudo, as estradas, se mal
conservadas, serão um ponto de aumento da erosão., até que elas mesmas
fiquem sem condições de serem utilizadas. Então vamos lá pensar um pouco
nas estradas rurais.

24
Figura 23 – Estrada rural

Crédito: Joa Souza/Shutterstock.

5.1 Bacias de captação e retenção de águas pluviais provenientes de


estradas

Para construirmos uma estrada, inicialmente precisamos retirar toda a


vegetação e depois compactar o solo ou impermeabilizar esse solo. Essa ação
fará com que a infiltração de água nessa área seja praticamente nula. Essa água
vai para as laterais, se acumula e sua velocidade aumenta muito, aumentando a
erosão. Aquelas estradas que não são pavimentadas, o que é muito comum no
meio rural, sofrem ainda mais com esse fenômeno. Então, captar essa água é
de grande importância para que não se formem essas grandes massas de água,
com enorme poder de erosão. Conservar estradas é conservar a microbacia.
Quanto maior for a inclinação da estrada, maior é o poder erosivo da água.
Então os mesmos princípios utilizados no campo de cultivo devem ser utilizados
nas estradas. A ideia é interromper o comprimento de rampa, para diminuir a
velocidade da água. Pode-se construir a estrada o mais próximo possível de
curvas de nível. Isso acontece muito nas pequenas estradas no meio da lavoura.
Pode-se fazer o terraceamento, como se faz no campo de cultivo, mas uma outra
solução é se a água for direcionada e, assim, captada em bacias; chamamos
isso de “bacias de retenção”.

25
Em primeiro lugar, devemos fazer um levantamento topográfico para
identificar onde estão os divisores de águas, quer dizer, os pontos mais altos de
cada trecho de estrada. Esses pontos vão determinar onde a água vai começar
a se acumular e descer. Esses divisores vão direcionar a água das chuvas para
as bacias de retenção, que vão ser localizadas em função do declive e do volume
de água que vão receber.
O dimensionamento das bacias de retenção é de suma importância para
que tenham um resultado efetivo. Em primeiro lugar, deve-se calcular o volume
de água que será captado pela estrada. Para isso, vamos considerar
comprimento (C), largura (L) e a lâmina d'água (h) da estrada, pensando em uma
precipitação máxima em 24 horas, em metros (Equação 2). Se não tivermos os
dados meteorológicos da nossa região, devemos usar 100 mm de chuva (ou 0,1
metros, sempre é preciso colocar esse componente da equação em metros e
não em milímetros), que já é uma chuva enorme. Entretanto, estamos em tempos
de mudanças climáticas, logo, as chuvas estão ficando cada vez maiores.

V = C · L · h (resultado em metros cúbicos – m3) (Equação 2)

Em que C é o comprimento da estrada, L é a largura da estrada e h é a


lâmina de água (chuva).
Agora sabemos quanta água vem abaixo e podemos calcular o tamanho
das bacias de retenção, o seu volume. Por uma simples questão de segurança,
consideramos que a altura média de uma bacia de retenção deve ser de um
metro. Mais do que um metro de profundidade (ou altura) é muito perigoso, com
um volume imenso de água. Daí podemos usar a seguinte Equação 3:

V = 1,5 · L2 (resultado em metros quadrados – m2) (Equação 3)

Em que L é a largura da estrada.


A distância entre as bacias deve ser determinada em função da
declividade e da largura da estrada: quanto maior a declividade, maior a
velocidade da água, e quanto maior a largura da estrada, mais água ela capta
(Quadro 1).

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Quadro 1 – Determinação da distância entre as bacias, em função da variação do
declive e da largura da estrada

Declividade Largura (L) da estrada (em metros)


(%) 4 6 8 10 12 14
Menos que 48 72 96 120 144 168
5
6 43 65 86 108 130 151
7 38 58 77 96 115 134
8 34 50 67 84 101 118
9 29 43 58 72 86 101
10 24 36 48 60 72 84
11 22 34 45 56 67 78
12 21 31 42 52 62 73
13 19 29 38 48 58 67
14 18 26 35 44 53 62
15 16 24 32 40 48 56
16 15 23 30 28 46 53
17 14 22 29 36 43 50
18 14 20 27 34 41 48
19 13 19 26 32 38 45
Maior que 12 18 24 30 36 42
20
Fonte: Acra, 1984.

No Quadro 1 anterior, é possível notar que quanto maior a declividade e


maior a largura da estrada, menor será a distância recomendada entre as bacias
de retenção, pois quanto maior a declividade e maior a largura da estrada, mais
água ela vai captar em menor espaço. Portanto, se construirmos as bacias de
retenção longe uma da outra, elas teriam de aguentar muita água, além de ser
gigantescas. Por isso fazemos mais perto uma da outra.
É claro que as bacias de retenção devem ser construídas, de preferência,
após o término do período de chuvas, porque senão elas serão destruídas ainda
durante a sua construção. Além disso, fica difícil o trabalho com as máquinas
durante esse período. Em primeiro lugar, se dá forma ao talude da estrada, para
que a bacia de retenção seja alocada. Para isso, quebra-se o barranco localizado
às margens da estrada. Tanto as margens quanto os taludes deve ser
posteriormente revegetados, para que aguentem a ação do clima, dando
estabilidade e proteção aos canais pelos quais entrará a água.
Após a construção da bacia de retenção, devemos fazer então uma
escarificação do fundo dessa bacia, principalmente quando temos solos muito
argilosos, compactados. Devemos lembrar que a bacia não é somente para

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segurar a água, mas um local em que a água infiltrará pelo solo. Assim, na
próxima chuva a bacia estará vazia e poderá receber mais água.
Há a possibilidade de construirmos bacias nos dois lados da estrada,
sempre uma de frente para a outra. Dessa forma, o raio de cada uma dessas
bacias poderá ser a metade do que seria se tivéssemos bacias de um lado só da
estrada, pois a quantidade total de água será dividida em duas bacias.
Não se esqueça de fazer uma manutenção periódica das bacias de
retenção nas estradas. Com o tempo, elas vão acumulando muitos sedimentos,
e o volume de água que elas captam se torna bem mais baixo. Também se deve
fazer o controle da vegetação no seu talude.
O custo de uma bacia de retenção não é muito alto. Um bom operador de
pá carregadeira gasta em torno de meia hora para fazer uma bacia de retenção
de 10 metros de raio.

FINALIZANDO

O solo e a água estão intimamente ligados, por isso temos de ter isso em
mente. O que fizermos para o solo se refletirá na água também. A água é a base
de nossa existência e de nossa atividade econômica. Vamos tomar mais
cuidado? Precisamos preservar o solo e água, para que as futuras gerações
também tenham os mesmos recursos para poderem sobreviver.

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REFERÊNCIAS

ACRA, A. M. Captação e aproveitamento de águas pluviais das estradas. Boletim


Técnico da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, Campinas, n. 185,
12 p., 1984.

BARRELLA, W. et al. As relações entre as matas ciliares os rios e os peixes. In:


RODRIGUES, R. R.; LEITÃO FILHO; H. F. (Ed.). Matas ciliares: conservação e
recuperação. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos


Jurídicos. Decreto n. 94.076, de 5 de março de 1987. Institui o Programa Nacional
de Microbacias Hidrográficas, e dá outras providências. Diário Oficial da União,
Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 mar. 1987. Disponível em: <https://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/1985-1987/d94076.htm>. Acesso em: 10 abr.
2023.

FAUSTINO, J. Planificación y gestión de manejo de cuencas. Turrialba:


CATIE, 1996. 90p.

TUCCI, C. E. M. Hidrologia: ciência e aplicação. 2. ed. Porto Alegre: ABRH;


Editora da UFRGS, 1997.

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