Barroco 1

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Apostila de literatura luso-brasileira

Prof. Venceslau
BARROCO

O Barroco é um estilo que dominou a arquitetura, a pintura, a literatura e a música na Europa


do século XVII.
Por isso, toda a cultura desse período, incluindo costumes, valores e relações sociais, é
chamada de "barroca".
Essa época surgiu no final do Renascimento e manifestava-se através de grande ostentação e
extravagância entre os grupos beneficiados pelas riquezas da colonização.

Características do Barroco

● Arte rebuscada e exagerada;

● Valorização do detalhe;

● Dualismo e contradições;

● Obscuridade, complexidade e sensualismo;

● Barroco literário: cultismo e conceptismo.

A arte barroca na Europa

O estilo barroco teve início na Itália, sendo, posteriormente, desenvolvido em outros países
europeus na pintura, na arquitetura, na escultura, na música e na literatura.

O Barroco na Itália

A Itália foi considerada o berço do Renascimento e da arte barroca, onde diversos artistas se
destacaram.

1. Caravaggio (1571-1610)

Caracterizado pela rudez de suas obras, Caravaggio pintou temas religiosos em que explorava o
contraste entre luz e sombras.
Destacam-se: "A Captura de Cristo", "Flagelação de Cristo", "A Morte da Virgem", "A Ceia de
Emaús", "Davi com a cabeça de Golias".

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A Ceia de Emaús (1601), de Caravaggio
2. Bernini (1598-1680)

Bernini foi um escultor e arquiteto italiano. Suas obras encontram-se em Roma e no Vaticano,
entre elas: a "Praça de São Pedro", "Catedral de São Pedro", "O Êxtase de Santa Teresa", "Busto de
Paulo V" e "Castelo de Santo Ângelo".

O Êxtase de Santa Teresa (1647-1652), de Bernini


3. Borromini (1599-1667)

Francesco Borromini foi arquiteto e escultor italiano. Entre suas obras destacam-se: a "Catedral
de São Pedro", "Sant'Agnese in Agone", "Palazzo Spada", "Palazzo Barberini", "Sant'Ivo alla
Sapienza" e a "Igreja de San Carlo alle Quattro Fontane".

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Sant'ivo alla Sapienza (1642-1660), de Borromini
4. Andrea Pozzo (1642-1709)

Pozzo foi arquiteto, pintor e decorador italiano. Entre suas obras estão: "Glorificação de Santo
Inácio", "Anjo da Guarda", "A Apoteose de Hércules", o teto do "Salão Nobre do Palácio
Liechtenstein", em Viena, e a "Falsa Cúpula de São Francisco Xavier".

Falsa Cúpula de São Francisco de Xavier (1676), de Andrea Pozzo

O Barroco na Espanha

A Espanha foi o centro dos poetas barrocos, dos quais se destacaram: Quevedo, Gôngora,
Cervantes, Lope de Vega, Calderón, Tirso de Molina, Gracián e Mateo Alemán.
Eles que fizeram a melhor literatura do século XVII, assimilada pelo resto da Europa a partir da
segunda metade do século XVII.
Além da literatura, o barroco espanhol foi um dos mais marcantes desse período, onde se
destaca o pintor Diego Velázquez e as obras: "As meninas", "Velha fritando ovos", "Retrato de um
homem" e "Cristo Crucificado".

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As Meninas (1656), de Diego Velásquez

O Barroco em Portugal

Em Portugal, o Barroco vai de 1508 a 1756. Padre Antônio Vieira é o principal autor do Barroco
literário no país, no entanto, passou a maior parte de sua vida no Brasil.
Sua Principal obra "Os Sermões" constituem um mundo rico e contraditório. Revelam sua
inteligência voltada para as coisas sacras e, simultaneamente, para a vida social portuguesa e
brasileira.
Vieira foi uma espécie de cronista da história imediata. Assim, ele elaborava os sermões dentro
da técnica medieval, explicitando as metáforas da linguagem bíblica.
Além de Vieira, merecem destaque: o padre Manuel Bernardes, D. Francisco Manuel de Melo,
Francisco Rodrigues Lobo, soror Mariana Alcoforado e Antônio José da Silva.
Na pintura do barroco português, merece destaque a pintora Josefa de Óbidos, que embora tenha
nascido na Espanha, viveu e desenvolveu sua arte em Portugal. Dentre suas obras mais destacadas
estão: "Maria Madalena confortada pelos Anjos", "Calvário", "A Sagrada Família" e "Santa Maria
Madalena".

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Sagrada Família (1664), de Josefa de Óbidos

O Barroco no Brasil

O Barroco no Brasil foi introduzido por intermédio dos jesuítas, no fim do século XVI. Só partir
do século XVII, generaliza-se nos grandes centros de produção açucareira, especialmente na Bahia,
através das igrejas.
Passada a fase do Barroco baiano, suntuoso e pesado, o estilo atingiu no século XVIII a
província de Minas Gerais. Foi ali que Aleijadinho (1738-1814) elaborou uma arte profundamente
nacional.

Cena da Paixão de Cristo no Santuário de Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas (MG). Essa obra
foi produzida por Aleijadinho entre 1796 e 1799
Nessa época, não havia no Brasil condições para o desenvolvimento de uma atividade literária
propriamente dita. O que se viu foi alguns escritores se espelhando nas fontes estrangeiras,
geralmente nos portugueses e espanhóis.

Autores Barrocos do Brasil

Os principais escritores brasileiros desse período foram:

● Bento Teixeira (1561-1618)

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● Gregório de Matos (1633-1696)

● Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711)

● Frei Vicente de Salvador (1564-1636)

● Frei Manuel da Santa Maria de Itaparica (1704-1768)

O contexto histórico do barroco: resumo

O Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, causou grandes reformas no Catolicismo, em


resposta à Reforma Protestante de Martinho Lutero. Assim, a autoridade da Igreja de Roma foi
vigorosamente reafirmada, depois de perder muitos fiéis.
A Companhia de Jesus, reconhecida pelo papa em 1540, passa a dominar quase que
inteiramente o ensino. Ela exerceu um papel importante na difusão do pensamento católico
aprovado no Concílio de Trento.
A Inquisição, que se estabeleceu na Espanha a partir de 1480, e em Portugal a partir de 1536,
ameaçava a liberdade de pensamento. O clima era de austeridade e repressão.
Foi nesse contexto que se desenvolveu o movimento artístico chamado Barroco, numa arte
eclesiástica que desejava propagar a fé católica.
Em nenhuma época se produziu um número tão grande de igrejas e capelas, estátuas de santos
e monumentos sepulcrais.
Em quase todas as partes, a Igreja se associava ao Estado. Assim, a arquitetura barroca, antes
só religiosa, surge também na construção de palácios, com o objetivo de causar admiração e poder.
O Humanismo é um movimento literário de transição entre o Trovadorismo e o Classicismo que
marcou o fim da Idade Média e início da Idade Moderna na Europa.
Com foco na valorização do homem, ele se destacou com as produções em prosa (crônicas
históricas e o teatro) e poética (poesia palaciana) durantes os séculos XV e XVI.

As características do humanismo

As principais características do humanismo nas artes e na filosofia são:

● Antropocentrismo: conceito filosófico que ressalta a importância do homem como um ser


agente dotado de inteligência e de capacidade crítica. Avesso ao teocentrismo (Deus como centro do
mundo), esse conceito permitiu descentralizar o conhecimento que antes era propriedade da Igreja.

● Racionalismo: corrente filosófica associada à razão humana que foca na produção de


conhecimentos sobre o ser humano e o mundo, contestando o espiritualismo.
● Cientificismo: associado ao racionalismo, esse conceito coloca a ciência em um lugar de
destaque. Através do método científico, ele fomenta as descobertas desse campo a fim de entender
os fenômenos naturais.
● Antiguidade clássica: os artistas humanistas foram inspirados pelos estudos realizados
anteriormente por pensadores clássicos gregos e romanos, sobretudo pela literatura e mitologia
greco-romana.
● Valorização do homem: inspirado nos modelos clássicos greco-romanos, houve a
valorização do corpo humano e das emoções do homem. Assim, as artes humanistas focavam nos
detalhes que revelassem as expressões e desejos.
● Ideal de beleza e perfeição: aliado ao conceito de valorização dos modelos clássicos,
nesse período buscou-se atingir a perfeição das formas humanas por meio das proporções
equilibradas e da beleza perfeita.

O Humanismo em Portugal

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O marco inicial do humanismo literário português foi a nomeação de Fernão Lopes como
cronista mor do reino, em 1434. Esse movimento vai até 1527 com a chegada do poeta Sá de
Miranda da Itália, quando começa o Classicismo.

O teatro popular, a poesia palaciana e a crônica histórica foram os gêneros mais explorados
durante o período do humanismo em Portugal.

Dentre os principais autores do humanismo português estão: Gil Vicente, Fernão Lopes e Garcia
de Resende.

Gil Vicente (1465-1536) foi considerado o “pai do teatro português” e sua obra aborda temas
religiosos e humanos. Apesar de possuir uma visão religiosa cristã e moralista, seus textos também
apresentam críticas sociais.

Esse autor escreveu diversas peças teatrais chamadas de Autos e Farsas. Os Autos focavam em
temas humanos e divinos, e as Farsas estavam relacionadas com os costumes da sociedade
portuguesa da época.

Dentre sua obra de dramaturgia, destacam-se:

● Auto da Visitação (1502)

● O Velho da Horta (1512)

● Auto da Barca do Inferno (1516)

● Farsa de Inês Pereira (1523)

Trecho do Auto da Barca do inferno de Gil Vicente

Diabo Cavaleiros
— Cavaleiros, vós passais — Quem morre por Jesus Cristo
e nom perguntais onde is? não vai em tal barca como essa!

1.º Cavaleiro Tornaram a prosseguir, cantando, seu


— Vós, Satanás, presumis? caminho direito à barca da Glória, e, tanto que
Atentai com quem falais! chegam, diz o Anjo:

Anjo
2.º Cavaleiro — Ó cavaleiros de Deus,
— Vós que nos demandais? a vós estou esperando,
Sequer conhecermos bem: que morrestes pelejando
morremos nas Partes d'Além, por Cristo, Senhor dos Céus!
e não queirais saber mais. Sois livres de todo mal,
mártires da Santa Igreja,
Diabo que quem morre em tal peleja
— Entrai cá! Que cousa é essa? merece paz eternal.
Eu nom posso entender isto! E assim embarcam.

Fernão Lopes (1390-1460) foi o maior representante da prosa historiográfica humanista, além
de fundador da historiografia portuguesa.
Antes dele, a historiografia de Portugal se resumia aos nobiliários, ou seja, os livros de linhagem
que reuniam as árvores genealógicas dos nobres medievais.
Assim, ele ampliou esse conceito ao escrever obras de grande valor artístico e histórico sobre a
história dos reis de Portugal, das quais merecem destaque:

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● Crônica de El-Rei D. Pedro I

● Crônica de El-Rei D. Fernando

● Crônica de El-Rei D. João I

Trecho da crônica El-Rei D. Pedro I de Fernão Lopes

E porquanto el−rei Dom Pedro, cujo reinado se segue, usou da justiça, de que a Deus mais
praz que cousa boa que o rei possa fazer, segundo os santos escrevem, e alguns desejam saber
que virtude é esta, e pois é necessaria ao rei, se o é assim ao povo: vós, n'aquelle estilo que o
simplesmente apanhámos, o podeis lêr por esta maneira.

Justiça é uma virtude, que é chamada toda virtude; assim que qualquer que é justo, este
cumpre toda virtude; porque a justiça, assim como lei de Deus, defende que não forniques nem
sejas gargantão, e isto guardando, se cumpre a virtude da castidade e da temperança, e assim
podeis entender dos outros vicios e virtudes.

Esta virtude é mui necessaria ao rei, e isso mesmo aos seus sujeitos, porque, havendo no rei
virtude de justiça, fará leis por que todos vivam direitamente e em paz, e os seus sujeitos sendo
justos, cumprirão as leis que elle puzer, e cumprindo−as não farão cousa injusta contra nenhum. E
tal virtude, como esta, póde cada um ganhar por obra de bom entendimento, e ás vezes nascem
alguns assim naturalmente a ella dispostos, que com grande zelo a executam, posto que a alguns
vicios sejam inclinados.

Garcia de Resende (1470-1536) foi o maior representante da poesia palaciana humanista. O


escritor publicou em 1516 a obra Cancioneiro Geral, que reúne mais de mil poemas da literatura
medieval, de 300 autores diferentes.
A poesia palaciana recebe esse nome, pois era geralmente produzida nos palácios e tinha o
intuito de entreter os nobres. Os temas mais explorados eram religiosos, amorosos e satíricos.
No período literário anterior (trovadorismo), a poesia tinha uma relação forte com a música, no
entanto, com o humanismo, ela se dissocia desse aspecto musical.
Além disso, a poesia palaciana do humanismo inovou nos aspectos formais da produção poética,
com o uso da redondilha maior (versos com sete sílabas poéticas), que conferia maior ritmo e
memorização, em detrimento da redondilha menor (versos com 5 sílabas poéticas).

Trecho da poesia Trova de Inês de Garcia Resende

Qual será o coraçam


tam cru e sem piadade,
que lhe nam cause paixam
úa tam gram crueldade
e morte tam sem rezam?
Triste de mim, inocente,
que, por ter muito fervente
lealdade, fé, amor
ó príncepe, meu senhor,
me mataram cruamente!
A minha desaventura
nam contente d'acabar-me,
por me dar maior tristura
me foi pôr em tant'altura,
para d'alto derribar-me;
que, se me matara alguém,
antes de ter tanto bem,
em tais chamas nam ardera,
pai, filhos nam conhecera,
nem me chorara ninguém.

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Os humanistas: autores e obras do humanismo

Os humanistas eram os estudiosos da cultura antiga que se dedicavam, sobretudo, aos estudos
dos textos da antiguidade clássica greco-romana.
Todos eles foram influenciados por características do período como o culto às línguas e às
literaturas greco-latinas (modelo clássico).

Dentre os grandes representantes da literatura humanista estão:

● Francesco Petrarca (1304-1374) - poeta italiano fundador do humanismo e autor das


obras: Cancioneiro e o Triunfo; Meu livro secreto; Itinerário para a Terra Santa.
● Dante Alighieri (1265-1321) - poeta e político italiano, autor das obras: A Divina Comédia; Sobre
a Língua Vulgar; Vida Nova.
● Giovanni Boccaccio (1313-1375) - poeta italiano e autor das obras: Decamerão; A canção
bucólica; Mulheres famosas.
● Erasmo de Roterdã (1466-1536) - teólogo e filósofo neerlandês, autor das obras: Elogio da
Loucura; Manual do Cavaleiro Cristão; Colóquios.
● Thomas More (1478-1535) - escritor e filósofo inglês, autor das obras: Utopia; Tratado sobre a
Paixão de Cristo; Súplica das Almas.
● Michel de Montaigne (1533-1592) - filósofo e escritor francês, autor de uma única obra reunida
em 3 volumes: Ensaios.

Contexto histórico do humanismo

O humanismo surgiu no século XV na Itália, mais precisamente na cidade de Florença durante o


período do Renascimento Cultural. Por isso, ele também é chamado de Humanismo Renascentista.

Esse movimento intelectual de valorização do homem, influenciou diversos campos de


conhecimento (filosofia, ciências, literatura, escultura, artes plásticas) e rapidamente se espalhou por
outros países da Europa.

Homem Vitruviano (1590) de Leonardo da Vinci: símbolo do antropocentrismo humanista

A época renascentista foi um momento de importantes transformações na mentalidade europeia.


Alguns fatores que permitiram surgir uma nova visão no ser humano foram:

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● a invenção da imprensa de Johannes Gutenberg, que proporcionou a expansão do conhecimento,
antes controlado pela igreja.
● as grandes navegações e a expansão marítima europeia, que permitiram ampliar os horizontes do
homem europeu.
● a crise do sistema feudal, pois diversas atividades comerciais despontavam, dando início ao
mercantilismo e o uso de moedas de troca (dinheiro).
● o surgimento da burguesia como uma nova classe social, que se consolida com a expansão do
comércio e o desenvolvimento das cidades medievais.

Todas essas mudanças foram necessárias para questionar os velhos valores num impasse
desenvolvido entre a fé a razão.

Diante disso, o teocentrismo (Deus como centro do mundo) e a estrutura hierárquica medieval
(nobreza-clero-povo) sai de cena, dando lugar ao antropocentrismo (homem como centro do mundo).
Esse último, foi o ideal central do humanismo renascentista.

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