Pinheiro Tarcisiomarciomagalhaes D
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Pinheiro Tarcisiomarciomagalhaes D
DA VIGilANCIA
ONES'
- 0 ENTADOR -
CAMPINAS
1996
T ARCiSIO MARCIO MAGALHAES PINHEIRO
DA VIGILANCIA
1996
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AGRADECIMENTOS
Sou muito grato tambem ao Professor Everardo Duarte Nunes, que em inllmeras
ocasiOes presenteou-me com suas reflex5es, sugestOes e atitudes generosas, que jamais sertio
esquecidas.
Hci vclrios anos tenho a satisfayao de conviver com a Profa. Elizabeth Costa Dias,
profissional brilhante e incanscivel. Do come~ ao fim desta tese a Beth esteve presente.
contribuindo como possfvel eo impossfvel. Suas crlticas e sugestOes foram decisivas para
0 Prof. Helene Rodrigues Correa Filho e a Profa. Ana Maria Segal Correa
alimentaram discussOes essenciais para este trabalho e me acolheram de urn modo pleno e
inesquecfvel. Se amigo e para se guardar a sete chaves, eu os guardo a oito, a dez, a ...
na figura dos professores Marilisa Berti de Azevedo Barros, Manildo FAvero, Djalma de
Carvalho Moreira Filho, Ana Maria Canesqui e da funciomiria D.Lina pelo excelente curso
agradec;o-lhes pelas discussOes, pelo incentive e amizade que me dispensaram. Valeu muito.
Agradec;o a Profa. Raquel Maria Rigotto pelas leituras criticas das versOes iniciais
do segundo capitulo.
trabalho.
VI
Lacaz, Sergio AntOnio Martins Carneiro, Jose Carlos do Carmo, Jorge Machado, Luis
Carlos Fadel Vasconcelos, FAtima Sueli Neto Ribeiro, Jacinta de FAtima Sena da Silva,
Cibele G. de Mello Os6rio. Leila Mora Faccio. Leiliane Coelho Andre Amorim. Paulo
Aos amigos Maria Laura Mayrink Sabinson e Eric Sabinson agrd~o pelas mais
Sou grato a Pitucha pelos mementos hidicos, e em especial a Bruno Lopes Pinheiro
e Daniel Lopes Pinheiro pelo amor e pela paciencia de conviver com urn pai em "estado
RESUMO
das pd.ticas de VIST no SUS, onde se percebeu uma €:nfase na participa<;iio dos
principal que norteou a trajet6ria da VIST no SUS foi a sua natureza eminentemente
SUMARIO
p:igina
I. INTRODUCAO ...................................................................... I
p;igina
INTERNACIONAIS ................................................................ 71
p3.gina
I. INTRODUCAO
importante tema de estudo e de preocupayao te6rica e pnltica para diversos e distintos atores
com a promulgacao da nova Constituic;ao Federal em 1988 e com a Lei Org3.nica da Sallde
n° 8080/90, a questao da Vigil3.ncia adquiriu uma relev3.ncia maior e passou a fazer parte,
de modo central e explfcito ainda que incipiente, das politicas pllblicas de SaU.de do
assim lanc;ado o grande desafio que era e eo de se conceber, trm;ar, executar e consolidar
as ac;6es de VIST no SUS. Este foi sem diivida, urn marco e urn memento muito rico e
novo, para o setor saiide/SUS. A atenc;ao a saiide do trabalhador foi recolada no setor
estrutura do quadro da atenc;ao a saiide dos trabalhadores e ao mesmo tempo que trazia
avanc;os e correc;6es, fez emergir uma serie de contradic;Oes e tens5es. Estes conflitos que
destaque e gerou urn cemirio de disputas e lutas 3.rduas e acaloradas. Estas disputas passam
por v3.rias quest6es como veremos ao Iongo deste trabalho, mas a principia uma merece
uma cita<;ilo especial: quem tern competencia legale poder de fato para ter acesso e intervir
nos ambientes de trabalho? Neste ponte em particular fica evidente uma grande tensao
Ministerio da SaU.de num mesmo espac;o, uma vez que este com a Constituic;ao Federal de
dois conceitos e pnlticas importantes ganharam o centro das discussOes e dos embates
empregados quase que sem atritos e as vezes ate despretensiosamente enquanto sin6nimos,
passaram a ser vistas e usados de modo diferente. Neste novo contexto, vigil§.ncia e
senti do de se delimitar campos, de se definir e redefinir o que 6, o que faz, como faz, com
Este quadro novo nao se restringe apenas aos muros internos do Estado/Governo.
consequencias para os outros dois grandes atores sociais mais diretameme em relac;ao:
do Estado sabre os ambientes de trabalho podem significar uma ameac;a ou urn ganho para
REICH & GOLDMAN, 1984). Esta turbu!encia no interior do Estado nao tern passado
jurfdicos captaram esta apreensao dos atores sociais em foco e os seus posicionamemos
Foi ficando evidente que a questao da VIST nao se resumia apenas a urn punhado
de letras jurfdicas monas, insipidas, mas se tratava de urn processo social extremamente
,'
Refon;ando este ponto de vista, ranto nos meios academicos como nos dos servi9os
de sa.Ude, a partir do inlcio da decada de 90, come~a a serem realizados por todo o Brasil,
discutir, trocar experiencias, refletir e sobretudo buscar estrat6gias para se inserir, viabilizar
e expandir a VIST no SUS. A vigi!Ancia passou a ganhar carla vez mais espa~o e
Esta tese e parte e fruto deste memento hist6rico marcado sobretudo pelo imenso
desafio de se refletir e organizar uma pr:itica nova, em construc;ao, contra-hegem6nica,
complexa, inserida num sistema de sa.Ude com dificuldades estruturais, e numa sociedade
permeada pelos conflitos, pela desigualdade e injustic;a social, num mundo econ6mica e
contexto de determinac;ao, eborn que se diga que esta tese pretende ser apenas uma modesta
contribuic;ao, reconhecendo que os "olhares" podem ser mllltiplos e distintos, e este e tao
desta tese e se traduziram nos capftulos e t6picos que compuseram este trabalho.
geral que sustentou e norteou este estudo. Ainda oeste capftulo descrevemos os caminhos
bibliogcifica realizados.
pniticas de vigil&ncia em salide pUblica a nivel dos Estados, tanto na esfera internacional
como na esfera nacional. Esta reconstruc;ao teve sempre uma preocupac;ao de investigar e
ganhando visibilidade e se inserindo no campo da das relar;6es entre saUde e trabalho. Neste
capftulo abordei apenas o plano externo, tentando identificar que impmtincia e que
consideradas prirneiras vivencias no setor sa.Ude, por volta de meados da d6cada de 80, ate
o u~rmino do anode 1995 e suas principais caracterfsticas hoje no SUS. Este breve espayo
cen:irio nacional, sobretudo a nfvel do SUS. Para exposiyao neste capitulo, sub-dividimos
1988 e a Lei Orgftnica da Sallde. Procuramos dar visibilidade a questao da VIST atrav6s
do seu estudo nos chamados Programas de Sallde do Trabalhador (PST), nas polfticas
pllblicas especificas e nos seus f6runs, nos instrumentos juridicos, nos encontros t6cnicos
conteUdo e apresn~o do nosso objeto, buscamos tracar urn perfil b3.sico das
caracterfsticas que dao uma certa unicidade as pr3.ticas de VIST no SUS. Dentre estas
2. 0 REFERENCIAL TEORICO-METODOLOGICO
Este trabalho nao foi diferente dos demais. Deparamos com uma serie infindivel
de questionamentos e dUvidas, que por v<irias vezes nos "levaram a lana" e nos mostraram
que era precise aprimorar mais e estirnular a criatividade numa tentativa de se superar os
natural mente de reinventar a roda, mas por outro !ado , constammos que a rota nao estava
MINA Y0(1992) resgata corn muita propriedade este aspecto "do por fazer", da
criatividade e do esforyo que a atividade de pesquisa geralrnente tern e/ou exige para sua
realizayao. Esta caracterfstica subjetiva e necessaria, muito das vezes e negada, esquecida,
corn o intuito principal de se ressaltar e colocar sob "urn mesmo teto" aqueles aspectos de
princfpios e definiy5es que servem para dar organizayao l6gica a aspectos selecionados da
No nosso entendimento, teoria e metodologia sao vistas como as duas faces de uma
mesma moeda.
a escolha, defini<;ao e constrw;ao de urn marco te6rico geral que pudesse dar sustenta91i.o
Reconhecemos que esta "visii.o de mundo" tal como muitos, de forma alguma e
9
neutra ou ao acaso (LOWY, 1978; GON(ALVES, 1986, MINA YO, 1992). Aceitamos que
ela e historicamente construfda tendo como pano de fundo as rela<;Oes sociais de classes e
seus desdobramentos nas diversas instancias de uma dada sociedade. Este "vies" desta
"visao de mundo'', se assim pode ser chamado, de forma alguma e aqui negado ou
minimizado.
Na verdade, rnais do que urn vies, e uma condiyao estrutural e inevitavel uma vez
que tanto o autor quanto o objeto de estudo estao inseridos numa dada realidade social e
estabelecem com esta uma rela<;ao. Por mais que nao se queira, ao se estudar urn dado
objeto, o sujeito transferee incorpora ao mesmo, princfpios de sua prOpria relac;ao com a
ideol6gico" por se entender que "for<;ar a barra, aprisionar e deturpar a realidade" costuma
nao propiciar urn entendimento de boa qualidade. Tal pnitica, freqiientemente nos conduz
desej<lvamos.
Por sua vez, reconhece-se que a realidade nao e algo dado, imediato, que se
intencionalidades (MIN A YO, 1992), Interpretar uma dada realidade e sobretudo uma
Urn outro ponto de dificuldade e de limite eo que diz respeito ao car<iter dinfunico
da realidade que "insiste em se transformar a cada memento" ludibriando caprichosamente
esta questao, GONCALVES (1986) nos diz com muita pertinencia e propriedade :"a
complexidade da questao, assume tambem que e possfvel tratar com objetividade (ainda que
entendimento de que os fen6menos sao expressOes concretas das essencias e das rela<;Oes
dos objetos de analise e que existem a despeito do "olhar" do sujeito (LOWY,l978), dai
ser possfvel uma certa "objetividade". 0 objeto existe (ou deixa de existir) a despeito do
Embora nos fosse muito dificil mapear e em certa medida au~ resistente, a ideia de
te6rico, o trabalho de GARCIA(I989) nos aponta na direc;ao da corrente que este autor
E interessante ainda frisar, que o campo da Medicina Social e urn espa<;o ou uma
ll
(1986) entre as chamadas ciencias sociais e as chamadas ciencias naturais. Trata-se de uma
disciplina, embora nao inteiramente nova (ROSEN, 1980), ainda em uma trajet6ria inicial
de constrw;ao e de consolida<;l'io.
Por sua vez esta corrente de pensamento nao e Unica ou homogenea no seu interior.
Ela abarca uma s6rie de sub-correntes que se distinguem, mas que trazem pontes gerais de
posslvel (nem desejivel eu diria) recorrer e aplicar urn Unico modele te6rico ou autor.
Construir urn objeto de estudo nao costuma ser uma tarefa f<icil e imediata. As
dificuldades te6ricas e metodol6gicas para se atingir este fim sao inUmeras e de distintas
ordens.
claramente identificlivel pelo pesquisador. Pelo contr.irio, dentro dos princfpios do marco
diniimico, dialetico, com mllltiplas relag5es e que pode ser "visto" a partir de diversos
Urn ponto crucial para a constru~ do objeto se refere a sua natureza. No nosso
lapidando, afunilando e priorizando alguns dos muitos aspectos que poderiam ser
abordados.
Este trabalho pretende abordar como objeto geral de estudo e de reflexao alguns
A pole mica se inicia com o prOprio termo aqui deliberadamente adotado enquanto
"Vigil:lncia ern", ( e nao vigihlncia "i\" ou "da"), tento resgatar e reforyar o elo da VTST
com a VigiH.i.ncia ern SaUde em geral, estabelecendo assim urn nexo mais explfcito com seu
campo e sua matriz te6rica mais consistente. Embora se entenda que a Vigil§.ncia em
Sat! de do Trnbalhador tenha especificidades importantes, este trabalho entende tambem que
a mesma se insere e e tao somente uma das possfveis modalidades ou campos de aplicayao
13
da chamada Vigilftncia em Sallde. Nao se trata em absolute de reduzir grosseiramente ou
de se fazer urn esforc;o de repens<i-la, bern como suas articulac;6es, num plano mais macro,
com o intuito de se enxergar e superar suas aparentes e reais dicotomias. Nos capftulos 3
que este termo representa melhor uma corrente de pensamento e de pnitica, no interior da
chamada "Sallde Coletiva", que concebe as relac;Oes entre sallde e trabalho de modo distinto
foi a de que se existia ou se fazia senti do de jci se poder falar de urn campo de pniticas de
em curso ou j<i se podia falar efetivamente de pciticas num plano para alem do s6
discursive?
semelhanc;a e de diversidade? Onde e por quem seriam levadas estas pniticas? Que pensam
consrruc;:ao e reconstruc;:ao.
r6tulo de VIST existiam pr<iticas de natureza e de interesses sociais distintos entre si, e
Isto nao quer dizer que nao existam ou nao possam existir semelhan<;as, nem que
0 que se quer dizer, em sentido amplo, e que nao existe s6 a VIST no Estado.
Embora este trabalho concorde que seja muiro interessante e pertinenre o estudo
15
de todas aquelas categorias de VIST e de suas relac;Oes. optou-se por adotar como eixo
do Estado e rnais especificamente numa universidade pUblica federaL Ea partir "do olhar"
deste "posto estrutural de observac;ao", e permeado por uma serie de discussOes e prAticas
coletivas com nossa equipe de trabalho, que fomos dirigindo nossas inquietac;5es e
Por outro !ado, este corte espelha e guarda uma estreita relac;ao com toda uma
conjuntura polftica e tecnica mais ampla e de cunho nacional, que nos recoloca e nos
''
explicita a questao da VTST pelo Estado de forma tao aguda, conflitiva, cornplexa,
Ao localizarrnos nosso alvo no Ambito do Estado, depararnos corn urn rico e largo
espectro de discursos que utilizavarn (e utilizarn) urna sefie de conceitos e termos, como
irnprecisos significados, pelos distintos atores sociais. Esta diversidade e irnprecisao dos
termos nos charnou a atens;ao para a existencia de conceps;5es distintas de VIST em uma
novo e o velho, tado a !ado e em confronto. Foi ficando clara que isto nlio se devia ao
de ser. Nos capftulos 3 e 4 faremos uma analise destes conceitos, seus significados e suas
diferenc;as numa tentativa de contribuir para destrinchar e desatar os "nOs" que cercam esta
questao.
Por ora e como ponte de partida neste trabalho. ficaremos com o delineamento
geral de que Vigilfi.ncia em Sallde do Trabalhador engloba pr3ticas que vao do registro
e municipal, sobretudo a partir da ctecada de 80, por entendermos que este e o locus
privilegiado da VIST no Estado.
E exatamente aqui, nos PSTs que as pr<iticas de VIST vern encontrando seu solo
mms fertil, e ao mesmo tempo mais conflitivo, trazendo uma serie de inquietayOes e
17
reflexOes fundamentais para a hist6ria e a transformayao da VIST no Brasil.
estaremos por diversas vezes, dialogando e trac;ando paralelos com outras pr:iticas de VIST
Por que, quando, onde e como surge a VIST no sistema de saUde do Brasil?
Quais sao as caracteristicas conceituais bAsicas das pnlticas de VIST que estao
sendo construidas, hoje, no SUS? 0 que elas tern em comum e quais sao as
suas di ferem;as?
no SUS?
18
concepifOeS e m6todos de vigil3.ncia, mas que apesar desta diversidade existe urn
padrio b:isico caracterfstico das pr3.ticas de VIST no SUS. Esta variabilidade seria
urn reflexo das contradi~,;Oes do contexto econ6mico, politico e social em que a VIST
emerge e se insere no Brasil. Contradi~6es estas que produzem ecos e que se manifestam
no interior do prOprio SUS, nos seus embates com outros setores do Estado, e nas suas
portanto uma intensa I uta para a viablz~,;o do seu projeto que e contra-hegemOnico
Estado. A presem;a destes conflitos parece dar o trac;o mais marcante, decisivo e
Ministerio do Trabalho. Acreditamos que nao se pode falar de uma Vigi13.ncia em Sallde
"Na abordagem qualitativa, as hip6teses perdem a sua din:lmica formal comprobat6ria para
pesquisa (MINA YO, 1992) e que vai ser gerada a partir dos dados, nurn processo indutivo-
2.4 OS OBJETIVOS
.
'
Os objetivos gerais deste trabalho sao identificar e analisar as principais concepc;6es
sus.
20
e) identificar e analisar algumas das principais quest5es de ordem conceitual
nem seus impactos para a saUde dos trabalhadores. Juigamos que estes temas mere9am
2.5 A METODOLOGIA
pesquisador".
Eimportante explicitar neste memento algumas ideias que orientaram este trabalho:
a) teoria e metodos caminham juntos, e por vezes fica diffcil prec1sar os seus
das teorizac;Oes.
levantada, optamos pela abordagem dita qualitativa por entender que esta nos daria mais
Num primeiro momento, como prop6sito de conhecer melhor o objeto {!esse estudo
Foram utilizados alguns Bancos de Dados mais gerais como o MEDLINE (1978-
para a abordagem do tema em estudo: Sallde & Debate, Cadernos de SaUde PUblica,
22
Revista de Sallde PUblica, Revista Brasileira de Sallde Occupacional, Anais dos Congressos
"garimpagem" institucional - ainda que de forma nao sistematica e parcial - levantar textos,
relat6rios, boletins, emrevistas que versassem sobre nosso tema. Dentro deste
Ministerio da SaUde, em Brasilia, que nos colocou a disposic;ao seu acervo sobre VJST no
SUS,
Como foi muito diffcil abarcar nosso objeto de estudo s6 sob o r6tulo de vigilcincia,
trabalho, trabalhador, doen~a, risco, acidente, morte, sallde. Tal sistematica foi muito
tradicionais e universais.
utilizado enquanto "materia prima" e material empfrico para a elabora<;ao dos capftu(os
seguimys.
23
3. A VIGILANCIA EM SAUDE PUBLICA
constitui num campo cia SaUde PUblica e/ou da Sallde Coletiva. Entendemos tambem que
ed:!tico, de acordo com FERREIRA (sf d), o verbo vigiar (ou vigilar) apresenta vlirios
espreirar; velar por; procurar,ou campear; tomar cuidado, estar atento, -Ou cuidar; estar
Neste campo mais geral, verificamos que se trata de urn verbo transitive direto.
Pode-se concluir que alguem vigia a si mesmo ou vigia algo ou alguem, de urn determinado
modo, com algum objetivo e com alguma finalidade. Neste primeiro memento, evidencia-
24
se uma dimensao pouco neutra ou desinteressada ou anti-social da ar;ao de vigiar. Pelo
Mio e por acaso, pois, que no plano emplrico, se tern v:irios usos/aplica<;Oes e
Esta acep\=ao e uso mais geral da definiyao de vigilcincia e muito interessante para
se verificar todo este legado mais ampliado, embutido no termo, e como que ao mesmo
tempo este conceito foi transposto, adaptado e traduzido mais especificamente no campo
da saude.
agravos especfficos (como por exemplo: acidentes, doem;as, incapacidades, dlnceres, mal-
para este trabalho, pode-se esbcx;ar seis grandes classificar;Oes para a vigilcincia em sallde:
b) no nfvel coletivo
b) de exposir;ao
c) de efeito/agravo
d) procedimentos
26
III. Quante ao nfvel da atenyao a sallde
a) promcx;ao da sallde
b) prevem;ao
c) curative
a) ativo
b) passive
pretendeu aqui criar uma classificac;ao rigida nem excludente, mas tao somente apresentar
uma sistematizayao uma vez que as pniticas de vigil:lncia podem ter (e e desejavel)
dimens5es, objetos e m6todos suplementares e mllltiplos (LYNGE, 1988).
CARTER, \994).
intervenyao.
condic;6es.
Fiscaliza9ao e urn tipo de ay3:o distinta da vigil:lncia uma vez que tern urn caniter
mais pontual e el3.stico no tempo e que se dirige fundamentalmente para a verific3.9ao do
possam fazer parte da vigil§.ncia e de que metodos de vigilfincia possam ser empregados
naquelas ayOes.
conjunto de a96es de saU.de pUblica para a detecc;ao, coleta, amilise e ac;ao sobre os
SaUde do Trabalhador, nao e uma questao menor ou meramente lingufstica, restrito a uma
dimensao conceitual de base t6cnica. Trata-se sim de uma complexa forma de expressao
dimirnica e comradit6ria de diferentes atores sociais, que t~rn formas distintas e hist6ricas
Por detr:is de urna aparente "picuinha" ou "tudo ea rnesma coisa", se esconde urna
verdadeira !uta para a demarcayao, viabilizagao e hegemonia de pr:iticas que sao distintas.
do Trabalhador hoje no Brasil, e importante que se mencione alguns dos pontos principais
da trajet6ria hist6rica da vigil:incia ern sallde pUblica, e de duas de suas principais vertentes
BERKELMAN (1992) por ser considerado mais correto, pertinente e abrangente do que
Vigi!Ancia Epidemiol6gica. Aqueles autores ale game outros concordam (SANCHES, 1993)
que a vigilclncia e urn elemento ou um £ipo de a~o da saU.de pUblicae nao apenas urn ramo
PUblica vern crescendo muito e se diferenciando nas Ultimas tres ctecadas. Alguns autores
chegam a dizer que a vigilancia esci se constituindo numa disciplina prOpria e quase que
Deixando urn pouco de !ado estas controversias atuais sobre onde se insere e que
espa<;o ocupa a vigilclncia como urn todo, no resgate hist6rico deste trabalho, mostrou-se
tempo que viio se definindo, se inter~lacod, vao tracando suas especificidades e suas
estrategias de enfrentamento.
fiscalz~o efetuadas pelo Ministerio do Trabalho. Uma analise hist6rica e critica das
inspe~6 e fiscalz~Oe desenvolvidas pelo setor trabalho foi recentemente produzida lffiT
OLIVEIRA (1994).
30
3.3 HISTORIA DA VIGILANCIA EM SAUDE PUBLICA
A princfpio pode parecer que falar de vigilclncia e falar de alga muito novo e
moderno. Na realidade nao se trata nem de uma coisa nem de outra (TOVAR, 1970). A
hist6ria da vigilftncia e de seus princfpios come<;ou hci muitos seculos e encontra referencias
Neste sub-ftem, nao se pretende tecer uma hist6ria detalhada e original, mas tao
somente identificar e resgatar alguns mementos histOricos que se pode considerar como
De ante mao, pode-se dizer que nao h:i urn consenso absoluto quanto aos precursores
Para THACKER & BERKELMAN (1992), " ... a primeira real a<;ao de saude publica
que pode ser relacionada a vigilftncia ocorreu em 1348, durante a peste bub6nica, quando
Segundo estes autores, estaria af, na [dade Media, o embriao da vigilAncia. t>:nquanto pnilica
de saUde pUblica do Estado. A vigilancia daquela epoca, estava cakada nos conceitos
explicativos de contagia das epidemias e nas medidas bisicas de controle que eram as de
a) que existisse uma estrutura parecida com urn sistema de saUde no interior do
Estado;
adequados.
regulamentos sobre poluic;ao das ruas, controle da igua de uso pUblico, instruc;ao para
sua obra Natural and Political Observations Made upon the Bills of Monality trouxe uma
32
grande contribuiqao ao estabelecer o campo da Epidemiologia (ROTHMAN, 1981) e lan<;ar
BERKELMAN, 1992).
Outra contribui<;ao importante foi a de Leibnitz, em 1680, que criou urn Conselho
Em Rhode Island, nos Estados Unidos, em 1741, foi aprovada uma lei que
Merece destaque o trabalho do alemao Johann Peter Frank, em 1766, que dentro do
Dentro de urn outro enfoque hist6rico mais abrangente, ROMERO & TRONCOSO
sallde pUblica.
popular. Se por urn !ado, estas ac;Oes afetavam mais diretamente os "vigiados" e suas
famflias, por outre !ado, freqUentemente eram contrariados os fortes interesses econ6micos
sobrepunha muito ao campo da prOpria saUde pUblica, tornando-se quase que a (mica
expressao desta ou no mfnimo sua face mais vi sfvel e legitimada. Com relas:ao ao embriao
Somente mais tarde, com a busca de uma mais precisa delimita98-o dos campos da
caracterfsticas das tres principais correntes que constitUlram a sallde pUblica do seculo
fortalecer o Estado. Este memento hist6rico refon;a muito uma ideia e urn legado que a
vigilincia carrega ainda hoje como sendo uma pnitica coercitiva, punitiva e tfpica de Estado
forte e intervencionista.
sallde pUblica tinham finalidades mais dirigidas para conhecer e contro\ar a forc;a de
trabalho (ROMERO & TRONCOSO, 1981), A vi sao destes autores refor10a uma tese de que
mais do que urn controle sobre a popula<;ao em geral, a vigilftncia em sallde pUblica j;i na
suas origens, tinha como preocupa<;ao e alvo maior o controle da saUde dos trabalhadores
perfodo das guerras napole6nicas onde numa estrategia militar, se "observava" grupos de
35
pessoas consideradas subversivas.
conceito, prAtica social e disciplina apenas no Seculo XIX, nos Estados Unidos.
explicitando alguns conflitos sociais centrais e ao mesmo tempo tentando impor restric;6es
as indllstrias.
Dentro de uma perspectiva de se estabelecer marcos hist6ricos da Vigil3.ncia em
Sallde PUblica, nos EUA, em 1850, o governo publicou as primeiras estatisticas nacionais
Sallde PUblica a coletar dados sobre doenc;as sob quarentena e em 1893 estabeleceu que esta
.,
coleta seria semanal (THACKER & BERKELMAN (1992).
Este processo iniciado nos EUA ern 1878, somente se efetivou totalmente naquele
pais em 1914. Os paises europeus tambem passaram par uma trajet6ria semelhante neste
periodo con forme mencionam EYLENBOSCH & NOAH (1988), DECLISH & CARTER
(1994).
Embora se fac;:am necessArias outras e novas elucidac;:Oes hist6ricas, pode-se dizer que
e no interior da satide pUblica europt!ia e norte-americana dos seculos XVIII e XIX que
surge a vigililncia, voltada sobretudo para as doenc;:as infecto-contagiosas, mas j:i trazendo
no seu interior alguns aspectos importantes relativos a satide de parcela dos trabalhadores.
Neste processo de construc;:ao da matriz da vigibincia em sallde pUblica, vat-se
Tendo em vista, este breve apanhado hist6rico, comec;amos aqui a esbCK;ar melhor
o pano de fundo onde emerge, se situa e se d<i o campo da vigilclncia em saUde pUblica e
vividas cultural e historicamente. Este macro cemirio referido, construfdo nas relac;Oes de
confronto e subordinac;ao entre aqueles atores sociais, de idas e vindas, nao pode ser em
hip6tese alguma esquecido ou menosprezado, uma vez que gera um impacto significative
Se a Vigil<incia em SaUde PUblica teve suas origens nos seculos XVIIJ e XIX, foi
apenas no s6culo XX, notadamente no perfodo p6s~I Guerra Mundial, que a mesma ganhou
Nao devemos deixar de estabelecer urn paralelo e urn elo entre a vigil:incia e alguns
c) o papel do Estado
Todos estes determinames citados sao reflexes dos embates hist6ricos vividos
cheques de correntes que vao das teorias m:igico-religiosas, passando pelas teorias do
social (BARATA, 1978). Estas correntes conviveram ao Iongo do tempo de forma conflitiva
e assimetrica, mas pode-se dizer que para a vigilincia tiveram grande impacto as teorias do
IDENTIFICA(AO DE
DETERMINANTES PROMO<;:Ao
DETERMI- PROCESSO E DISTRIBUIC:::AO CONTROLE
NA(AO SADDE-DOENC:::A DO PROCESSO PREVEN<;:AO
SOCIAL NA SADDE-DOENC:::A TRATAMENTO
SOCIEDADE POR CLASSES
SOCIAlS
39
Por outro !ado, os Estados foram modificando suas naturezas e seus papeis enquamo
urn retlexo das transfom~;Oe ocorridas nas sociedades, e passaram a incorporar e cuidar,
de modo crescente. da atem;ao asallde das popula<;Oes. Um marco importante nesre sentido
surgiu por ocasiao da Revoluc;ao France sa, quando Mirabeau tornou pUblico o principia que
mais tarde passaria a fazer parte das Constituh;oes de varios pafses, de que a sa.Ude da
Sallde vern ganhando corpo enquanto uma polftica social universal com f:nfase sobretudo
nos chamados cuidados b:isicos ou prim:irios (WHO, 1978). Todavia nunca e demais abrir
urn parentese e lembrar que historicamente nas politicas de sallde rem sido privilegiadas e
preventivas/promocionais coletivas.
A questli.o cia partic~o e controle social das poula~Oes sobre as a<;Oes de sallde
s6 mais recentemente foi incorporada pelos Estados nas suas constituic;Oes e pelas agencias
a popular;ao sempre era vista como um rnero objeto das suas ay5es de controle. Esta vi sao
foi sistematicamente cultuada ao Iongo dos seculos e ainda hoje nao est:i completamente
Alma Ata em 1978, pode ser citada como urn marco no sentido do reconhecimento da
Center for Disease Control and Prevention) em 1946. Seu ob}etivo inicial era ode auxiliar
(LANGMUIR, 1963).
organizacionais e praticas vinculadas aos Serviyos Militares de Inteligencia dos EVA. Com
para cumprir tambem algumas tarefas civis. Dentre estes novos encargos, o primeiro foi
(WALDMAN, 1991). Nesta ocasiiio foi criado urn Sistema de Vigiiftncia de Poliomielite.
A vigiHl.ncia moderna come<;a entao a sair de uma esfera predominantemente militar e passa
suspeitos e contatos. A partir de entao, h<i uma ampliac;ao do objeto que passa a ser a
1992).
Esta polt~mica persiste ate hoje e alimema acaloradas discuss6es. Podemos dizer que a partir
das d6cadas de 50 e 60, comec;ou a ficar evidente que o campo da vigilcincia abarcava uma
pluralidade de vigil§.ncias.
LANGMUIR (1963) trouxe uma grande contribuic;aoao estabelecer que caberia avigilfi.ncia
observar continuamente a distribuiyao das doenc;as mediante urn processo de coleta, amilise,
e disseminac;ao de informac;Oes para aqueles que necessitam conhecer para agir. Esta
RASKA ( 1966) propOs uma ampliayao do campo da vigiliincia para alem das doenr;as
pesquisa propostos por LANGMUIR. Este mesmo autor cria o termo vigilclncia
popular;Oes.
Em 1968, a OMS reconheceu que a vigiliincia era uma bern estabelecida e essencial
a tempo para aqueles que precisam conhecer. 0 elo final da cadeia de vigihincia e
a aplicac;ao dos dados para a prevn~o e o controle. 0 sistema de vigiiAncia inclui
campo conceitual. Os termos continuo (e nao pontual quanto ao tempo) e sistematico (e nao
Por outro !ado, fica evidente que vigil<incia nao tern a ver s6 com a preverx;:ao ou
o comrole. A vigil<incia e uma atividade elastica que perpassa por todas as etapas da
abordagem do processo salde-on~, que vai desde a promoc;ao da saUde ate a prevn~ao,
publica e central para o processo de prevenc;ao das doen<;as" (HALPERIN & BAKER
(1992) e/ou s6 e efetiva se ligada diretamente as ac;oes preventivas (BAKER & MATTE,
1994).
questao da rapidez na detecc;ao de urn problema sob vigil<incia e mais valorizado do que a
Embora a questao da vigi!iincia venha ganhando urn espac;o cada vez mawr no
interior da sallde pUblica, sobretudo nos servic;:os, observam-se ainda muitas lacunas quanto
Fica mais evidente que a dimensao de vigil3.ncia na sallde pUblica foi muito mais
dirigida para a setor da vigilftncia epidemiol6gica do que para o da vigil<incia sanitaria. Esta
impulse com a transferencia da Corte portuguesa para o Brasil no infcio do seculo XIX.
trabalho (ou de setores desta) importantes para a expansa.o capitalista no pafs e niio a
tota\idade da popula,ao (COSTA, 1985). Eborn que se frise que hi quem discorde desta
visao. Para IYDA (1993), a Sallde PUblica Brasileira tinha uma proximidade maior como
modelo alemiio do que com o ingles, ou seja, buscava sobretudo dar legitimidade ao
Estado. Para tal, mais do que cuidar estritamente da reprodm;ao e manutem;:ao da fon;a de
trabalho para o capital, se preocupava em centrar sua atu~o nas poula~Oes que se
A abordagem estatal das relay6es saU.de-trabalho passou num primeiro momenta pe!o
ambito e pelo enfoque exclusive do setor sallde. Dentre as diversas atribuiy6es da sallde
45
pUblica, uma delas se referia is inspec;:Oes das f:ibricas. As ac;Oes inidais em SaUde do
sallde. Estas prciticas de sallde pUblica visavam atuar fundamental mente no meio urbane,
sobre as condic;Oes fabris de trabalho, num enfoque mais sanitaria e menos assistencial
individual (HENRIQUES,1989).
(COSTA. 1985).
Neste memento no Brasil, ainda estavamos muito Ionge de atingir a uma daquelas
pre-condiqOes apontadas por THACKER ( 1994), ou seja, aquela que se refere a implamaqao
No governo Vargas, ocorreu a marcante cisilo de atribuiqOes entre o setor sallde (que
passa a cuidar mais da assistencia) eo setor trabalho que passa a ser o grande respons:ivel
ainda foram mantidos ao Iongo dos anos, sobretudo nos C6digos Sanitarios
(HENRIQUES, 1989).
46
Segundo WALDMAN (1991), a Vigil<incia epidemiol6gica emergida e mol dada nas
d6cadas de 50 e 60 nos EUA e Europa, s6 foi introduzida no Brasil no infcio dos anos 70,
KALICHMAN, 1993). Deve-se ressaltar que e a partir deste momento que a VigilAncia em
Sallde PUblica, ainda que dicotomizada e parcializada, adquire uma visibilidade definitiva.
a partic~o das unidades basicas de satlde. Tambem nao havia oeste primeiro memento
uma preocupa<;lio com a formar;ao mais especifica dos tecnicos, nem o desenvolvimento de
MENDON(:A, 1992).
Vigil<incia Sanitaria j:l havia uma que tratava mais especificameme da fiscalizac;ao sabre as
nao estava efetivamente incorporada e muito menos privi!egiada nos sistemas de vigil<incia
sanitaria, de alguns aspectos do que mais tarde seria conhecido como o campo da Sallde do
doenr;a infecciosa no trabalho e nao do enfoque de urn processo de trabalho gerando uma
ainda nao era propfcio ao surgimento de uma vigil3.ncia a sallde do trabalhador no interior
da vigiHincia em sa.Ude pUblica.
48
Dentro da trajet6ria da Vigilancia no Brasil, e imponante se regis~a que no mesmo
sallde pUblica como urn todo comec;ava a se reestruturar e expandir. Na JCcada de 70, no
pouco atingiram o ambito da vigilftncia, embora tambem aqui j<i comec;assem a deixar sua
Neste periodo ficou patente a segmentac;ao entre vigilancia e assistencia, com nftida
conveniadas. Pode-se dizer que as vigilftncias ocupavam urn espac;o nitidamente secundario
no ambito da atenc;ao a sallde, que ganhavam a! gum destaque e importancia por ocasiao de
Brasil.
traziam caracteristicas dos modelos internacionais tambem muito criticaveis por diversos
1987; ROSAS, 1987; JOUVAL JUNIOR & ROSENBERG, 1992; CEBES, 1992;
saUde. Urn registro bern exemplificador desre memento foi o da publicayao de urn nUmero
num apanhado crftico, sao apresentadas e refletidas algumas das diversas e complexas ay5es
sanitaria. Afirma LIMA (1987) que a vigil§.ncia saniGiria "€ dentre as tarefas da SaUde
PUblica [al mais f3.cil e perigosa pois pode ser objeto de urn exercfcio autoricirio e
50
excludente da popular;ao ... ". Neste mesmo trabalho, o au tor acrescenta que a essf:ncia da
vigihlncia seria a prOpria comunidade. Alerta tambem para o papel que o Estado tern
assumido quanta a vigil§.ncia, onde vern adotando uma postura eminentemente coercitiva,
pniticas de vigilftncia sanitaria: "NOs entendemos vigil:incia sanitaria num sentido muito
mais amplo, como alguns estados j<i estao caminhando e tentando reformular-se
questao da sallde do consumidor e bern mais am pia do que apenas a de con sumo e produtos.
espac;o no interior da vigillincia sanitaria. Ainda neste anigo, ROSAS (1987) prop6e que
trabalhador. Diz ROSAS: "Uma quana area que pensamos tarnbem tern a ver com a
vigi!ancia sanitaria mas que, por ser uma area de tal magnitude, tenderia a ser uma area
sao fundamentais. Este eo setor que realmente lloje no Brasil e muito desprezado. A
vigil<incia sanitaria na questao da sallde do trabalhador nao esta incorporada demro das
51
a<;Oes de saU.de, ela esta isolada no Minist6rio do Trabalho e n6s temos que recuperar isto.
Houve ate uma sugestao da ga Confen!ncia para incluir no conjumo das ay5es de sallde a
sallde do trabalhador".
Desta fala, pode-se evidenciar pelo menos quatro grandes questOes: primeiro, que
trabalhador; segundo, que a saUde do trabalhador se constitui num campo especffico para
ail!m da vigi!Ancia sanitaria; terceiro, que existe uma sobreposi<;:iio de atua<;:iio com o
Minist6rio do Trabalho; quarto, que se torna necesscirio resgatar a vigilincia dos ambientes
Ainda enquanto parte daquela colecinea citada, pode-se ainda destacar o artigo do
''
setor de Vigiliincia Sanitaria da Secretaria Estadual de Saude de Sao Paulo (1987). Neste
de Estado da SaUde, vinculado diretamente ao Secretario. Este Centro teria tres setores: a)
com a sa.Ude; c) vigihincia sanitAria de ac;Oes sobre o meio-ambiente. Neste Ultimo setor se
"controle dos efeitos na sa.Ude individual e coletiva no ambiente de trabalho ou fora dele,
decorrendo do processo produtivo" (SAO PAULO/SES/VS, 1987). Neste texto fica tarnbern
trabalhador.
urn espa<;o diferenciado no interior das vigil3.ncias sanitarias de alguns estados e municfpios.
Todavia e born lembrar que neste momenta estas a<;6es de vigil<incia ainda se encontravam
desacopladas das a<;6es de assistencia.
da questiio da saude no Brasil. Alguns dos principios de Alma Ata (WHO, 1978), do
CARY ALHO & SANTOS ( 1992) destacam alguns t6picos relevantes da Constituic;ao
de 1988 quanto a sallde: sallde como direito de todos e dever do Estado; importancia das
criac;ao do sistema U.nico de sa.U.de; competencia comum das vlirias esferas de governo
doenca.
I- a execuc;ao de ac;6es:
a) de vigilftncia sanitaria;
b) de vigilftncia epidemiol6gica;
c) de sallde do trabalhador;
citadas e a saUde do trabalhador. Por ora vamos nos ater a questao constitucional das
de ar;Oes capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos a salide e de intervJr n0s problemas
de servic;os de interesse da sallde". sao ponanto urn conjunto de ayOcs para eliminar,
diminuir e prevenir riscos, em diversos locais do meio-ambieme incluindo-se aqui o
vigihincia sanitaria.
agravos" (CARVALHO & SANTOS, 1992). Embora se tenha uma visao coereme e
prOxima dos conceitos ampliados de sallde e de vigil:incia, o objeto de ac;ao ainda continua
A Lei 8080/90 no seu par3.grafo 3°, do artigo 6°, define Satide do Trabalhador
como: "urn conjunto de atividades que se destina, atraves das ac;Oes de vigil§.ncia
do Trabalhador tern uma definic;ao bern abrangente, mas fica claro que compreende ac;5es
base esta definic;ao de Sallde do Trabalhador ficam abertas v<irias possibilidades de insen;ao
tradur;ao e urn rearranjo de todo urn processo social e politico dinftmico, complexo, que traz
novas quest6es e que no caso da vigil:lncia em sallde pUblica a pOe em dial6go mais estreito
institucional que comega a se estabelecer. Uma serie de artigos c eventos vern a tona
registrando esta questao (CENEPI, 1992; GUTIERREZ, 1992a; LADEIRA, 1992b;
Esta oticina se constituiu numa tentativa de se prom over uma retlexao ampliada a partir dos
setores e instituiy6es.
Ainda dentro deste quadro de retlexao, o trabalho de SILVA (1992) traz importames
SUS devera ser o fio condutor na implantac;ao de urn sistema de vigilftncia, gerando urn
modele prOprio que nao seja uma c6pia. SILVA (1992) defende uma vigilftncia
epidemiol6gica para alem do grupo das doenyas infecciosas, com descemralizac;ao de gestao
arcabouyo jurfdico, que coloca a vigihi.ncia dos locais de trabalho tambem como de
57
compeu!ncia da vigil<lncia sanitaria, uma serie de curses de capit~o comet;am a ser
objetivos principais destes cursos sao os de capacitar e formar tecnicos para atuarem no
campo de vigilftncia em sallde do trabalhador. Comec;a aqui a ser estabelecido mais urn elo
registra em urn dos seus considerandos este processo ora em curso: "considerando, ainda,
(BRASIL, 1994). Este trecho, espelha bern a ideia de que a constru,ao do conceito de
como veremos a seguir, e tambem compartilhada pela chamada Vigil3ncia a Sallde e pela
Vigil:incia em Saiide do Trabalhador.
saUde atraves da estrategia de implamagao dos Sistemas Locais de SaUde (SILOS). Dentro
da concepyao dos SILOS, a vigil<lncia era uma das a<;:Oes estrategicas a ser enfatizada.
Tratava-se de construir a vigilftncia num novo patamar e sob a 6tica dos SILOS
(MENDES, 1992).
0 desenvolvimento dos SILOS pode ser visto como urn dos mais importantes
Saiide". Este modelo centraliza seu foco na abordagem dos determinantes e condicionantes
imediaramente encomrou urn cemirio favoravel no Brasil com a recente criar;ao do Sistema
Dnico de SaUde.
ampliada de sallde e o nfvel local de atem;:ao a saUde como seu locus principal, os distritos
sanitarios. Estava assim adotada como estrat6gia de polftica de sa.Ude o desenvolvimento
das tradicionais vigiHincias sanitaria e epidemiol6gica, entraria em cena uma outra forma
a OPAS passou a promover uma serie de eventos nacionais como objetivo de implementar
interior do SUS as bases de uma nova forma de conceber e atuar em vigilftncia, que se dizia
consequencia disto, pode adquirir dois grandes tipos de atuac;:ao, que nao se excluem, mas
sanitaria.
respostas sociais referidas pelo paradigma da "promo;:ao da saU.de", sob regula<_;ao de uma
autoridade sanitaria local, e os conjuntos sociais com seus problemas diferenciados, que se
0 distrito sanitaria nao e vista como urn mero espa<;o geogrcifico-burocnl.tico mas
como urn espa10o politico, ideol6gico, tecno16gico (MENDES, 1992; PAlM, 1993), onde
distintos atores sociais estao em urn processo constante de !uta na tentativa de que seus
a
De acordo com MENDES (1992), a Vigilftncia Sallde seria "uma resposta social,
(MENDES, 1992). Os problemas para a atua<;ao da vigil<lncia nao sao defmidos a priori,
verticalmente, padronizadamenre.
(1993) definem vigil<lncia a sallde como uma "pr3.tica sanitaria informada pelo modelo
educa!;:3.o para a sallde, nas a~,;oes sabre o meio ambiente, com ar;Oes extra-setoriais,
nfvel de micrmirea".
Tendo em vista este conceito de Vigil§.ncia, podem ser destacados alguns aspectos:
reprodur;ao social.
objetivo da vigil§.ncia.
Segundo PAlM & TEIXEIRA (1992), a Vigilimcia a Saude atuaria em tres niveis:
tange a grupos, fica explfcito que urn dos enfoques do denominado ambieme
coletivo se refere aos ambiemes de fcibricas. Estes por seu !ado sao urn dos
64
principais campos de atuagao da Sallde do Trabalhador. Percebe-se aqui urn ponte
trabalhador.
PAIM(1993) e SOUZA & KALJCHMAN (1993) dizem que nao se trata de uma
simples somat6ria de pniticas, mas por outre !ado nao fica claro como que
epidemiol6gica e a sanitaria sob uma nova 6tica, e sob urn novo modelo
assistencial.
sendo mais deslocada para a esfera do metodo. Esta sem dtlvida nao e uma
regiOes e municfpios brasileiros: Sao Paulo, Vale do Ac;o (MG), Belo Horizonte, Curitiba,
a
planejamento e programac;ao local da VigiiAncia Sallde. onde experient:ias foram refletidas
a polftica, a economia.
Esta oficina revelava que a Vigi!Ancia ii SaU.de deixava de ser apenas uma formulac;ao
c) promover a eqUidade
desprezo 3. informac;3.o", onde decis6es s3.o tomadas a despeito do que OS dados revelam.
Informac;ao e poder de decisao devem andar juntos, senao pode-se cair no aliename "para
planejamento das a106es de saude, dentre estas as de vigilancia (TASCA, 1992; OPAS, 1994 ),
Em agosto de 1992 foi realizada uma oficina de trabalho patrocinada pela OPAS
CUJO tema foi "A Vigil§.ncia Sanitaria como a~_;o da Vigihincia a Sallde no Distrito
caracterfsticas hist6ricas negativas que a vigilcincia sanitaria adquiriu no Brasil ao Iongo dos
saUde a nfvel local e com panic~o popular (MELO, 1992). Por omro lado, aquela
oficina ressaltou que ha. urn novo momemo de possibilidade e de reconstruc;:::lo-da vigil:incia
sanit:iria onde esta poderia se orientar por principios do SUS, como os da descentralizac;ao,
eqGidade, panic~o social. A despeito de ser uma pr:itica nova, a Vigil§.ncia Salldea
vern avanc;ando institucionalmeme e algumas secretarias de saUde (municipais e estaduais)
relevantes vern sendo formuladas. MERHY ( 1995) tece algumas considerac;6es crfticas
sobre a Vigilincia a Satlde que merecem registro. A primeira e que a Vigilftncia a Sallde
67
lembra em multo os limites do velho sanitarismo ingles do seculo XIX, calcado
detrimento dos pr6prios atores sociais. A quarta crftica apontada e que nao h;:i combate real
ao modele nu~dico-hegm6 neo-liberal. MERHY (1994) todavia aponta que por utilizar
mostram que a despeito dos problemas iniciais serem traduzidos como diarreia. parasitoses,
estes mesmos problemas a luz das discuss6es, podem se transformar em luta por melhoria
no acesso de determinantes de satide como saneamento, alimentac;ao, emprego. Ao contr<irio
(MENDES, 1992; CENEPI, 1992) ao mesmo tempo em que abre possibilidades para se
0 fim da ctecada de 80 e come~ das ctecada de 90 pode ser considerado como urn
(VISD nao emergiu enquanto proposta e pnitica s6lida no interior da chamada vigilftncia
vigilcincias, estas nao foram seus nascedouros principais. Os espac;:os estavam sendo
construfdos mas nao havia ainda solo propfcio para se destacar, especificar e dissecar a
pUblica. 0 que existia era apenas uma abordagem rudimentar, difusa, incipiente,
Dentro das abordagens entre saude e trabalho. segundo MENDES & DIAS (1991)
e DIAS (1994) existem basicamente tres grandes correntes de pensamento: ada medicina
Embora esta tese se preocupe central mente com a hist6ria da vigilftncia em satide do
trabalhador, e importante conhecer e estabelecer urn dia.Iogo com as m;Oes de vigilftncia que
forarn e sao desenvolvidas sob a perspectiva da Medicina do Trabalho e da Sallde
Ocupacional. Como bern ressaltou DIAS (1994) a Satlde do Trabalhador traz na sua matriz
te6rica elementos daqueles dais outros campos (a clfnica e a higiene do trabalho), o que por
vezes torna diffcil a precisa delimitac;ao daquelas correntes de abordagem das relac;Oes sallde
e trabalho.
estatais. nos Programas de Sallde do Trabalhador do SUS, nas experiencias italiana e nas
iniciativas nao estatais latino-americanas (M6xico, Equador). Esta divisao nao e estanque,
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71
INTERNACIONAIS
Como jci foi anteriormente dito, as nc:x;Oes de vigil3.ncia embora tipicas de Estado
inclusive que o Estado entrou em cena posteriormente a aqueles dois atores, numa tentativa
trabalho (fins do seculo passado) e de sallde ocupacional (come~; e meados do seculo XX).
(REICH & GOLDMAN, 1984). Todavia, naquele memento, nao se pode dizer que no
pelo Estado, e nestes cases o Estado assume mais urn papel de regulamentac;ao e/ou
Sallde do que dos dois outros citados e vern fazendo parte de sua agenda de atua<;iio. J:i a
fiscaliza<;iio tern sido reconhecida como uma pr.itica desenvolvida pelo setor Trabalho.
trabalhador.
Nao podemos perder de vista neste memento de exposi<;iio, que se por urn !ado a
a preocupa<;ao maior se dirigia para as a<;Oes fiscalizat6rias. Ou seja, ainda nao estavam
sat.1de do trabalhador pelo Esrado, tem trazido ao Iongo do tempo .sirios problemas de
conflitos estruturais inter e intra-institucionais que culminam por debilitar e ate inviabilizar
global. Diversos autores j<i abordaram e detalharam este processo hist6rico de interv~o
estatal nas areas de sallde e seguranya no trabalho iniciada na Europa no seculo XIX e que
depois se difundiu para os Estados Unidos, gerando a primeira legislayiio de inspe<;ao fabril
servi<;os e forma<;iio de recursos hurnanos na area de saUde e trabalho no rnundo como urn
todo. A vigil:incia, como veremos a seguir, tambem vern merecendo urn tratamento
Organizayao Internacional do Trabalho (OIT). Desde entiio a OIT passou a ter urn papel
(MENDES,1980; 0IT,I994).
atuando junto aos estados membros promovendo diversas ac;6es de seguranc;a e higiene no
trabalho (GOMES & BEDRIKOW, 1987) e dentre estas se incluem algumas de assistencia,
emprego.
ambiente de trabalho.
destinados aos trabalhadores assalariados e do setor industrial. Fala-se muito ern inspes;:lo,
ficaram de fora do centro da agenda tematica da OIT. Por sua vez, a Organizac;ao
Mundial de Saude (OMS) s6 e estruturada e criada em 1948, ponanto 29 anos ap6s a OTT.
Internacionalmente, o setor Trabalho saiu na frente do setor Sallde no que tange a questao
especifica da sallde dos trabalhadores. 56 a partir de entao se comeya a observar no plano
internacional uma disputa mais evidente entre o setor SaUde e o setor Trabalho sobre a
hegemonia e cornpetencia das ac;Oes de intervenc;:ao nas relac;:Oes entre salide e trabalho. E
:
born que se diga que por volta das d6cadas de 40, 50 e 60, a questao da sallde e trabalho
era ainda muito incipiente, periferica e negligenciada no interior do prOprio setor sallde.
algumas tentativas rem sido feitas no sentido de homogeneizar olhares, aparar arestas e
anicular ac;:6es (DIAS, 1994). Alguns eventos e informes t6cnicos conjuntos, envolvendo
do programa era contribuir para a redm;ao das taxas de doenc;as e acidentes do trabalho em
ambiente e dentre estas se incluem as relativas aos ambientes de trabalho (OMS, 1973).
setorial das quest5es entre sallde e trabalho. Ha uma tentativa que merece mais a nossa
atenc;ao e analise por enfocar o tema especffico desta tese. Trata-se da elaborac;ao do
Higiene del Trabajo", produzido em 1973. por urn comite de experts da OMS com a
participagao da OIT (OMS, 1973). Neste relevante documento, sao explicitadas as possiveis
fun(_(Oes da vigilftncia:
desconhecidos
trabalho. E digno de registro que neste mesmo documento, reflexo talvez da composic;ao
heterogenea e inter-setorial dos "experts" e do momento de construc;ao de urn novo
78
conceito, utiliza-se de diversas adjetivac;Oes para a vigiUlncia na tentatlva de anicubi-las.
(0PAS,I992d),
ocupacional. Este rex to da OPS recomenda que na Area de investigayao e estudos em sallde
ocupacional, seja dada prioridade a 4 temas. Dois destes temas eram: a) aperfi~omnt
programas de salide, a OMS passou a adotar o termo Salide dos Trabalhadores para seus
do sua Convenc;ao 161 de 1985 reatlrma que o caniter essencial dos servic;os de sallde no
trabalho deve ser o de prevenc;ao e reconhece que sao suas funy6es a vigi!Ancia do meio-
79
prontamente os riscos para a saUde e avaliar a efic<icia dos programas de protec;ao e fomento
a sallde". Este mesmo documento abordou outros papeis importantes que a vigihi.ncia pode
vigilftncia nao sao Uteis s6 para avaliar os programas de fomento da sallde, mas tambem
para estimular a participacao dos trabalhadores e contribuir para fomentar novas ideias
''
sabre a intera~.;o entre o trabalho e a saU.de" (OMS, 1988)
definia que os paises membros e a OPS promoveriam de fonna mais efetiva a saUde dos
Como parte desta iniciativa, ainda em 1992, foi produzido talvez urn dos mais ricos,
Trabajadores" (OPAS, 1992b). Neste trabalho, a questao da vigil:incia nao ficou de fora,
tendo merecido diversas e destacadas referencias. Urn primeiro ponto a ser destacado neste
80
texto, 6 0 que diz respeito 3.s 396es doS ministerios dO trabaiho e iS a~Oes de fisca!izac_;:ao:
da Jegislac;ao em materia de sallde ocupacional, niio tern uma ampla cobertura de Jugares
que a atua(_(:lo do setor trabalho se cta de forma muito limitada, com baixa coberta e dentro
SaUde para os Trabalhadores, ha urn que destaca a vigihincia: " desenvolvimento de urn
a vigiHincia temos:
a) "diagn6stico actualizado de Ia salud de los trabajadores: Establecimiento de
desarrollo de Ia investigaci6n"
a y
No Item de orientac;Oes estrategicas desta-se uma que se refere "vigilancia control
trabalha com urn conceito muito ampiiado de vigilAncia, que vai desde a abordagem de
(OPAS, 1992b).
de sallde ocupacional;
y sensibilizaci6n para generar Ia aceptaci6n social de que las !eyes favorecen a los
trabajadores, a los empresarios y a Ia sociedad en general". Neste plano da OPS, por fim
sao propostos alguns indicadores gerais para avaliar;ao. e dentre estes destacamos urn que
for All: The Way to Health at Work" (WHO,I995). Este trabalho foi o produto do II
p;iginas e que se propOe a ser uma "bfblia" para a "sa.Ude ocupacional" de urn modo geral,
a questao da vigiUincia foi pouco abordada e privilegiada. Nao foi dado o mesmo destaque
que a OPS j<:i o havia feito em 1992. No prOprio titulo nao se falou em saUde dos
ideol6gicos, como j<i se disse, nao sao desprezfveis e aleat6rios. A palavra vigilfrncia
("surveillance"), por exemplo, e citada apenas duas vezes e de forma bern periftrica e
esvaziada de contelldo. Nao que uma das bases principais da vigihlncia, o sistema de
83
informac;ao. nao tivesse sido mencionado. Pelo contr:irio, este estava emre os dez objetivos
com a conor.ac;ao de informac;ao para a ac;ao, tao presente nas ayOes de vigihincia em sallde
no geral.
INSTITUI<;OES ESTRANGEIRAS
estados da questao da vigilftncia em sallde e trabalho. Diversos pafses como por exemplo,
acoes de vigil3.ncia em satlde e trabalho. Dentre estes pafses, alguns vern se destacando
mais, seja pela formulac;iio e efetivac;ao de programas e servic;os, seja pela pesquisa e
84
prodw;ao cientifica. Sao os cases de pafses como Estados Unidos da America e Italia, que
Estados Unidos vern acumulando uma rica experiSncia desencadeada em fins do seculo
XIX. No infcio do seculo XX, esta area recebeu marcantes impulses e repercussao
(1984) dividem a hist6ria none-americana em dois perfodos distintos: o primeiro que vai
ate o ano de 1969 e e baseado e centrado na atua'tilo a nivel dos estados; o segundo que se
inicia ap6s 1969, e e alicerc;ado sobre uma base nacional. Nosso foco de atenc;ao se coloca
mais oeste segundo periodo. Numa perspectiva de compara<;iio com o processo italiano, os
referidos autores chamam a aten<;ao para duas grandes diferen<;as entre os mode los daqueles
suas ac;6es combinada com uma baixa articulac;ao e participa<;ao dos trabalhadores (REICH
& GOLDMAN,1984). Estes dois elementos de caracterizac;ao apomados parecem ter urn
grande poder explicative para o porque de serem implantados modelos assistenciais tao
distintos em cada urn destes paises. Outre elemento importante e o fato do setor assistencial
de sallde norte-americana ser desenvolvido hist6rica e eminentememe pela iniciativa
e doenc;as relacionadas ao trabalho sao bern mais antigas. A literatura especializada vern
85
registrando amplamente estas apreens6es (JOM, 1961: ROSE et al., 1969;
LANDRIGAN, 1989).
ROSE et al. ( 1969) defenderam a cria(_(J.o de uma rede nacional de vigihlncia em sa.Ude
ocupacional. Estes autores estabeleceram tres passos para a constrw;ao daquela rede:
e intervenc;Oes) ainda que num ambito bern restrito. Estes autores j<i ressaltavam a
Ocupacional (Occupational Safety and Health Act), que trouxe grandes impactos e
transformac;Oes no cen<irio nacional. Esta lei criou no plano federal duas instituic;5es
Occupational Safety and Health (NIOSH). A OSHA e vinculada ao setor Trabalho sendo
responS<ivel pela normatizac;ao e fiscalizac;ao da legislac;ao e o NIOSH e ligado ao setor
86
Sallde sendo que entre suas atribuic;5es principais esffi o desenvolvimcmo Je pesquisas para
das intervenc;Oes.
Entre as tarefas da OSHA estao duas dignas de serem enfatizadas para fins de
se destaca a tradicional BLS Annual Survey, que e realizada a partir de dados do OSHA
200 log (MARKOWITZ, 1992). Nao existe disponivel urn banco de dados sistematico e
Por sua vez, o NIOSH que e urn 6rgao ligado ao CDC, reproduz os princfpios
b3.sicos de vigihlncia que norteiam aquela instu~ao. Devido a sua prOpria natureza e perfil
da epidemiologia. Efundamental que se frise que para a realidade dos EUA, o nivel federal
do setor saU.de, sobretudo o ligado a vigil§.ncia epidemiol6gica. teve urn papel fundamental
no desenvolvimento e a construc;ao dos programas de vigi!ancia na area de sallde dos
trabalhadores.
metodol6gico a partir dos trabalhos desenvolvidos pelo Prof. David RUTSTEIN et a!.
Para estes autores, a existencia de urn evento-sentinela e urn sinal de alena de que a
aereo, seria exigida uma rigorosa e minuciosa investigac;ao de suas causas, visando o
desencadeamento de uma s6rie de ac;5es e decis5es, de modo a evitar casas futuros. Para
ser classificado como urn evento-sentinela, o mesmo deveria ser uma condi<_;ao nosol6gica
(1976) elaboraram uma tabela, que deveria ser periodicamente revista, e que continha
dezenas eventos-sentinelas em sa.Ude, sendo que dentre estes alguns eram tipicamente de
88
origem ocupacional.
Em 1982, o NIOSH concentrou seu foco de atuac;ao ao elaborar uma lista dos dez
1) pneumopatias ocupacionais
2) les6es mUsculo-esqueleticas
3) ccinceres ocupacionais
5) doem;as cardiovasculares
6) desordens da reprodll(;ao
7) desordens neuro-t6xicas
9) condic;Cles dermatol6gicas
uma vigilftncia de ambito nacional e mais uma vez reforyada. Como veremos mais a
89
frente. os futures programas de vigilincia em saU:de ocupaciona! se estruturarao a partir
higiene industrial; ou 2) servir como urn sinal de alerta de que substituic;ao de materiais,
(RUTSTEIN et al. 1983). Nesta ocasi:Io, foi elaborada uma lista de 50 eventos-sentinela,
Daquele grupo de eventos constavam algumas das cl;issicas doenc;as ocupacionais e algumas
das chamadas doenc;as relacionadas ao trabalho. Anos mais tarde aquela lista seria arualizada
a) determinar prioridades
ocupacional
ocupacionais (minoria) e com outros que podem estar relacionados como trabalho
A despeito dos lirnites e das crfticas, o uso dos ESSO trouxe urn grande fmpeto para
A partir da decada de 80, h:l nos EUA urn aumento sensivel das discuss6es.
Por volta de 1985 e 1986, dentro de uma abordagem ainda mais preventivista, na
urn grande nllmero de situac;Oes onde as exposic;6es sao comp\exas e mU.ltiplas e os efeiros
sao diversos (SUNDIN et at., 1986). Vigilcincia do fator de risco e "a mensurm;ao da
ocorrencia, da distribuic;ao e da tendencia secular dos nfveis de fatores de riscos (agentes
quimicos t6xicos, agentes ffsicos, estressores biomed.nicos assim como agentes biol6gicos)
Num breve pan!ntese, esta proposiyao se aproxima urn pouco da discussao brasileira
A vigiliincia ern saiide ocupacional superou a etapa das formulay5es e ganhou forma
92
et a/.,1989).
facilidade para a implantac;:ao de diversos programas de vigiHl.ncia a nfvel dos estados, nos
EUA.
Dentre estes programas se destaca a criac;:ao em fins de 1987 e inlcio de 1988, pelo
prioridades j3. citadas para a area de sallde ocupacional, foram selecionadas seis condi<;6es
a serem vigiadas:
a) silicose
b) asma ocupacional
propunha a ser tao somente mais uma possibilidade de metoda para identificar e
Traumatic Occupationol Fatalitv (NTOF) a partir de dados dos atestados de 6bito (BELL
nos EUA, analisando-os por Estados, sexo, idade, cor, ocupacao, ramo de atividade
Injuries and lllness (Bureau Labour Statistics), Informational Reports on Mining (MSHA-
(OSHA), Mine Inspection Data Analysis System (BOM - Bureau of Mines), National
Secun"ty Administration (SSA). Esta enorme variedade de Bancos de Dados reflete bern a
serem usadas em saUde do trabalhador, o que ilustra bern a dificuldade que se tern para
vigihlncia.
conceituada revista American Journal of Public Health dedicou urn nllmero exclusive e
PUBLIC HEALTH,l989),
& HAHN,1992).
GORDON,1994;
et a/.,1995a);
MAIZL!SH et al.,1995b);
HOWE,1994);
d) instrumentos:
f) fontes sentinela:
al.,l989):
et a/.,1992),
(TANAKA et a/.,1988).
97
E verdade no entamo, que as dificuldades persistem, sobretudo quanto ao
American Journal of Public Health de 1983 "Acur.icia dos dados de acidemes e doen<;as
ocupacionais nos Estados Unidos: este enigm<itico problema pode ser resolvido?"
MARKOWITZ (1992) afirma que a vigiliincia nos EUA. a despeito dos avan<;os
hipertrofiando seus objetos de vigia na dimensao dos agravos, e gerando uma estatfstica
trabalho. Este autor atribui este quadro a urn sub-desenvolvimento da saU.de ocupacional
prodw;iio de conhecimento.
destacado papel hist6rico na abordagem das relac;Oes entre o trabalho e a saU.de. Foram
que abriu em Milao em 1910 a primeira clfnica mundial especializada na assistencia aos
da panicipac;ao popular jii se fazia presente no discurso de Devoto que se referia a sua
clinica como "democratica" e "filha do povo" (WILLSON,I985). Se por urn !ado a Italia
ocupacional, por outro !ado teve tambem urn papel fundamental na post~ri construc;ao da
particularmente no processo da reforma sanitaria italiana, por volta dos anos 60170, e mais
& MARQUEZ. 1983; BERLINGUER, 1983; REICH & GOLDMAN, 1984; ODDONE et
BETANCOUT, 1995). A VIST apareceu no bojo de urn processo social maior, de forte
era concebida como urn instrumento de transfom~. Estava Ionge de ser uma mera
sallde.
Ao mesmo tempo, a VIST nascia num momento particular da hist6ria italiana, num
cemirio muito bern caracterizado por BERLINGUER & BIOCA (1987). Havia uma
aceleragao das atividades industriais, urn aumento dos Indices de acidentes e doen9as
daqueles conceitos b3.sicos, conhecidos como o modelo oper.irio italiano foram analisados
por diversos autores (BAGNARA et at., 1981; LAURELL & NORIEGA, 1989;
FACCHINI, 1994) e estao muito bern desenvolvidos no livro Arnbiente de Trabalho: a !uta
Neste perfodo, os trabalhadores acumularam algumas vit6rias dentre outras: dire ito
A rigor, ate infcio dos anos 70, o que havia no ambito estatal de intervem;ao em
do MinistCrio do Trabalho.
bem distinto das tradicionais vigilincias sanitaria e epidemiol6gica, j<i sob forte controle
social por parte dos trabalhadores. Este canlter mais popular e sindical na gestae das ac;5es
aspecto tecnico-metodol6gico.
A emergencia da vigil§.ncia no setor saiide nao foi de modo algum urn processo
na Itillia, j:l explicitava rnuito bern urn dos conflitos que era central. delicado e que envoi via
direramente outros setores de governo: "0 ponto essencial do conflito entre o Ministerio
pUblico sabre a saUde nas f<ibricas irnpediu muiras iniciativas das municipalidades, mas
abriu muitos olhos. Nos Ultimos projetos (mesmo governamentais) de reforma sanitaria, a
muita propriedade, apoma a entao essencia dos conflitos e disputas inter-setoriais: o poder
Esta etapa seria consolidada em 1978, com a criagilo do Servil;o Sanitaria Nacional
BIOCCA, 1987). As inspe<;Oes passaram a ser efetuadas sob urn novo olhar- o da satide,
o que gerou uma serie de atritos com o poder judiciirio (BERLINGUER &
BIOCCA, 1987). Neste novo quadro, paradoxa! mente, a vigillincia italiana parecia cornec;ar
Apesar de todo o avanc;o que este rnovirnemo reformista significou, REICH &
E born que se diga, que a fon;a e a fraqueza deste rnodelo de vigililncia est:i.
movimentos sindicais.
urna pr3.tica extremamente rica, recente, inovadora, alicergada hegemonicamente come sob
a perspectiva dos trabalhadores, mas que tarnbem nao deixou de incorporar alguns
trabalhador no pafs.
Numa tentativa de sfmese, pode-se dizer que a atu~YfO das agencias e instituiy5es
contradit6rio. A OJT nao tern centrado seu enfoque na quesrao da vigilfrncia propriamente
dita, estando rnais dirigida para as a<;oes legislativas e de inspe<;fto dos ambientes de
trabalho. A tendencia da OMS tern sido a de desenvolver mais o enfoque da vigilfrncia sob
o "olhar" da sallde ocupacional. Ja a OPS tern urn discurso que busca precisar melhor as
ay5es de vigililncia e que tenta caminhar da "6tica" da saUde ocupacional para a saUde dos
sallde da rede pUblica, com fone enfase nos aspectos politicos, preventivisras, legislativos
''
104
emergiu das a{(Oes de inspec;ao dos ambientes do trabalho desenvolvidas pelo Ministerio do
Trabalho.
setor de satlde, junto aos chamados Programas de Sallde do Trabalhador (PSn na decada
Nao e objetivo deste trabalho privilegiar a an:llise global das polfticas pllblicas de
sa.Ude do trabalhador nem dos PST, mas essencialmente buscar naquelas areas os principais
DIAS(1994) nos relata que a atem;ao a saUde do trabalhador no SUS e urn pratica
instituinte, em construc;:ao, marginal, com tra<;os inovadores, sob a perspectiva dos
acompanhado de uma grave crise no setor saU.de no Brasil onde convivem dois modelos
comradit6rios: urn projeto estilo neoliberal e outro social-democrata. Esta autora estuda
urn perfodo que se inicia na decada de 70 com as primeiras tentativas de se levarem ay6es
especfficas de sallde-trabalho na rede pUblica ate o infcio o anode 1994, onde a Sallde do
Trabalhador j;:i podia ser considerada uma realidade. Se a Sallde do Trabalhador como um
todo, j<i podia ser considerada uma realidade, a vigil§.ncia ainda engatinhava e DIAS ( 1994)
nao pode afirmar o mesmo: tratava-se de uma pri:ltica "pouco expressiva, quase inexistente
DIAS (1994) reconhece que as ayOes de sallde dos PST apresentam algum~s
variando muito com seu o tipo e o seu nivel institucional de inserc;ao. A vigil<incia passou
a ser construida a partir dos olhares de diversos setores e atores sociais: do municipio, do
Neste capftulo vamos registrar e analisar alguns destes passos e os cemirios em que
a VIST foi ganhando visibilidade e comec;ou a ser uma questao particularizada, discutida
e desracada nas politicas pUblicas, nos PST, nas instituic;Oes de ensino, nas legislac;Oes, nos
Podemos dividir esta trajet6ria em dois perfodos distintos. 0 primeiro que comec;a
com alguns projetos-pilotos e os pioneiros PST, e que vai ate a aprovayao da Lei Org<inica
interromper nosso estudo em dezembro de 1995. Tal divisao e proposta a partir da visao
de que a Constituic;ao de 1988 e a Lei 8080/90 represenraram urn marco significative para
companilhava da teoria de que os agravos ocupacionais eram prevenfveis. Por sua vez,
estariam expostos aos rnesrnos fatores de risco. Aceitava-se tambem que o ambiente de
trabalho era urn espm;o de atuac;ao da saUde pUblica. Urn elemento de destaque nesta
teriam as chamadas ac;ISes de intervenc;ao. Nao havia uma precisao sobre que ac;ISes de
hist6rico havia enormes dificuldades para que os mesmos fosssem piena.mente alcan<;ados.
Urn dos principais obsciculos era a falta de tradic;ao e experif:ncia do scror sallde como urn
No que tange aos embri6es da vigil3.ncia, existiarn ainda diversos problemas mais
arnbiemes de trabalho.
e satisfat6rio.
vigilclncia come<;ava a ser reconhecido enquanto uma das ac;Oes de atenc;ao a sallde do
espa<;o e visibilidade, e importante que tambem registremos que ocorreram algumas previas
sistema de sallde.
questa.o. Uma das medidas tomadas foi a de tornar obrigat6ria a notifca~; em Cubatao de
cinco doen<;as profissionais a partir de 18/10/84. Foi escolhido urn Centro de Sallde como
referencia e seus m6dicos foram treinados para detectar as doen<;as profissionais notificaveis
Cubatao foi a edic;3.o daquele que pode ser considerado como o primeiro manual de
de atividades que permite reunir a informa<;ao indispenSlivel para conhecer a todo momenta
l!O
possa ocorrer por alterar;Oes nos seus fatores condicionantes com o fim de recomendar
oportunamente, sob bases firmes, as medidas indicadas, eficientes que levem a prevem;ao
e controle cia enfermidade." Percebe-se que se partiu do conceito mais cl<issico de
autoridades, adaptado para a sallde do trabalhador. Mas os autores tern uma preocupar;ao
na vigi!iincia das doenc;as do trabalho era imponante estabecer "criterios por parte dos
6rgaos da saUde que permitam a prevenc;ao da incapacidade, e dar subsfdios aos 6rgaos
fiscalizadores das condiy5es de trabalho para o controle dos riscos dos ambientes insalubres"
em que havia uma segmentayao entre vigitancia e fiscalizayao; entre a<;Oes do setor saUde
das a<;Oes assistenciais em sa.Ude do trabalhador na rede pUblicae urn predomfnio do modelo
uma das cinco doem;as profissionais selecionadas. Sem dUvida, este trabalho foi urn marco
VEPETOX abriu escola e que se tornou um modelo e uma referencia nacional. Este
programa tinha como objetivos a deteq::ao de casos de intoxicac;:ao por pesticidas, prestar
oriemac;:Oes preventivas e de controle ambiental. Este projeto tambem seguia uma linha
rural e a da sallde do trabalhador urbane, com urn aparente deslocamento das quest6es
por pesticidas em trabalhadores rurais e diante do alto fndice constatado (21 %), foi
(CURY,I986). No bojo deste processo, que diga-se de passagem era expressao de urn
movimento de cunho nacional, em 26/6/85 foi proposta e aprovada a lei municipal n°242,
tempo, o Centro Regional de SaUde de Sete Lagoas, ao qual estava vinculada Baldim,
112
ainda nao havia urn grande questionamento as quest5es de terminologia, como vigil3.ncia
uso destes termos se vinculava rnuito as origens e as experiSncias institucionais dos tecnicos
educagao sanitaria sobre saUde e trabalho, com a participac;iio efetiva dos trabalhadores em
todos os mementos do Programa" (PIMENTA & FREIRE, 1989). Nota-se que as ac;Oes de
vigil3.ncia sao claramente explicitadas enquanto urn dos tres objetivos a serem alcangados
pelo PST. Por outro !ado, nao se fala em vigilftncia em sallde do trabalhador (VISD,
1987, haveria uma tentativa de amplia<;:iio do PST como urn todo e da vigiHincia em
municipio" (PIMENTA & FREIRE, 1989). Neste trecho dois pomos chamam a atenqao.
Primeiro o uso do conceito de mapa de riscos, que come(_(a a ser incorporado a partir da
experiencia italiana. 0 segundo, seguindo uma tendencia geral, que eo de dirigir as ar;Oes
Em setembro de 1985, o PST da Zona Norte de Sao Paulo (PST-ZN) iniciou suas
atividades com objetivos de pre star assistencia e realizar ag6es de intervenyao em saUde do
114
et al., !989). 0 PST-ZN desenvolveu sua metodologia de intervenc;ao baseada em seis fases:
trabalhadore s/ si ndicato
quantitativas
Preto no primeiro semestre de 1986 (PALOCCI & PALOCCI FILHO, 1994), Este programa
experiencia foi uma iniciativa da Vigilcincia Sanitaria regional, e contou com a participar;ao
por pesticidas entraram na lista das doengas de notificayiio obrigat6ria e foram incorporadas
Neste perfodo, a partir das recentes experiencias localizadas nos serviyos e nas
municipais, estaduais e nacionais (DIAS,1994). Urn passe importante neste sentido, foi a
fOrum, num memento de redemocratizac;ao do pafs, sem dllvida, representou urn marco na
Sallde dos Trabalhadores, novas alternativas de arenc;ao a sallde dos trabalhadores e polftica
TRABALHADOR, 1986).
reconhece que h:i "diversas concepc;Oes e conceitos legais sobre as doem;as ocupacionais e
117
acidentes do trabalho nos virios 6rg3.os do Estado que atuam na area, cada urn emitindo
Trabalho, vai ser formulado a partir das caracteristicas e fraquezas h.<i pouco apontadas.
Dentre outras, foi proposto que as fiscaliza<;:6es passassem para o :lmbito do SUS, e que
durante sua execu<;::lo fosse garantido o acompanhamento por parte dos trabalhadores, e que
vigiliincia 6 empregado pela primeira vez. Junto com a inclusao dos PST no SUS. foi
proposto que este deveria criar urn sistema de vigihincia epidemiol6gica de acidentes e
perceber 6 que neste memento nao havia uma aniculay:lo maior em torno das id6ias da
198+' <;om uma proposta de vigiliincia muito prOxima daquelas anteriormente citadas
118
(PREFEITURA/CAMPINAS, 1992).
sindical. Tecnicos ligados a este programa viriam nos anos seguintes a trazer grandes
& RIBEIRO, 1994). As ay6es de vigitancia sao concebidas, executadas e avaliadas por
destacado na questii.o da VIST, seja do ponto de vista t6cnico seja do ponto de vista
politico, se constituindo num dos mais reconhecidos palos nacionais. Desde 1992 vern
manual tenta sistematizar diversos aspectos da vigilAncia, dentre estes 'Sua definiyao, seus
Ainda que de modo pontual e parcial, mas decisive, a vigilAncia dava importantes
passes no senti do de gerar experiencias e de se criar urn ample movimento polftico, recnico
trabalho, e dentre estes nas grandes empresas (COSTA et al., 1989). 0 acesso formal a estes
locais nao era uma mrefa facil e simples. Embora houvessem controversias, prevalecia o
darem respaldo e suten~_;ao legal para as a<;Oes de interven<;ao nos ambientes de trabalho.
Alem disto havia a resistencia hist6rica do empresariado e de amp los setores do Ministerio
conjuntas e estabelecerern convenios sobretudo com as DRT para que se pudesse realizar
comeyaria a ser modificada, urna vez que havia urn fato novo significative: passava a ser
uma atribuiyao legal do SUS exercer a vigil:lncia e a fiscalizayao dos ambientes de trabalho.
trabalhador"
deveria fazer e que iam desde a deteq:ao, a investigac;ao, a avaliac;ao. a tomadas de medidas
a incorporac;ao da VIST no SUS. A VIST deixara de ser uma aspirac;ao para se tornar uma
obrigac;ao legal.
trabalhador recem institucionalizado via recrudescer antigos conflitos como setor trabalho.
cientifica.
Urn outro panorama comec;:ava a se configurar para a VIST no Brasil. Este novo
Em 1989, o municipio de Sao Paulo criaria seu proprio PST (CARNEIRO, 1992).
das ac;6es de vigilAncia e a articula<;:iio destas na rede bilsica de sallde. Tambem era urn
poder executive (o governo petista de Erundina). Urn grande esfon;o foi empreendido no
sentido de elaborar e aprovar o projeto de C6digo Municipal de Sallde, que entre outros
Quanto aos PST, houve urn forte aumento nacional do n(Imero de PST, sobretudo
entre 1991 e 1992. Estes programas que a principio se concentravam nos estados de Sao
para os diversos estados do Brasil, de norte a sul, inserindo-se nos nfveis estaduais e
municipais das secretarias de saUde (DIAS, 1994). A enfase no entanto era no processo de
124
municipalizar;ao dos programas e das ac;Oes de vigilii.ncia. Com isto se abriram ainda mais
experiencias imponantes, dentre estes pode-se citar os PST de Joao Monlevade(MG), Santo
Andre (SP), Porto Alegre, Londrina e mais recentemente Belo Horizonte (PREFEITURA
vigil§.ncia nao ficou restrito aos serviyos da rede pUblica de sallde. Alguns servic;os
regulamentac;ao da Lei Orgftnica da Sallde, uma serie distinta de instrumentos legais ainda
seriam necess<irios e criados ao Iongo deste periodo, com o intuito de se definir melhor e
PAUL0,\992).
a atividade de vigiliincia sanitaria dos ambientes de trabalho e dos problemas de sallde com
eles relacionados. Este decreto define que as a~,;Oes de vigiliincia sanitaria se dariam atraves
Secretaria Municipal de Saude e Servi10o Sociais (BRASIL, 1992). Os tecnicos do PST local
seu capitulo III aborda a questao da Sallde do Trabalhador e destaca que cabe ao SUS
CATARlNA,l993)
ocorreram uma s6rie de eventos municipais, regionais e estaduais, onde a questao da VIST
era enfocada de modo exclusivo ou muito destacado. A VIST foi tema obrigat6rio das
estados brasileiros. 0 tema fundamental deste curse de 16 horas, foi a Vigilincia em Sal1de
1992).
fiscalizayiio dos ambientes do trabalho. Estas dllvidas acabaram ao Iongo dos anos
Urn parecer que foi amplamente divulgado no pafs foi o emitido em 3 de setembro
de 1992, pela Promotoria Geral de Justic;a do Minisrerio PUblico de Sao Paulo sobre a
atesrava:
sobre Dire ito Sanitario - aspectos legais da Vigi lincia em Sallde do Trabalhador", tle
Semimirio Estadual de Sallde do Trabalhador no SUS. Este evento foi patrocinado pela
considerados peyas cruciais para as ac;Oes das vigil.ilncias. Na Sallde do Trabalhador tam bern
nao seria diferente. Alem do Sistema SISCAT que se expandia entre os PST. algumas
alguns encontros regionais e nacionais com profissionais dos PST de diversos estados do
Brasil, para discutir uma proposta mais abrangente de construc;iio de urn sistema de
e 6 de agosto de 1993. Este seminario foi organizado pelo CESAT/Ba e pela DlTRAIMS
as quest6es de ordem mais geral que envolvem a questao da VIST; discutir as conep~Os
oficina de trabalho de grande proximidade tematica com aquela anteriormente citada. Trata-
de estabelecer limites/articula<;Des com a saUde ambiental. Esta oficina fez urn amplo
(CIST), em abril de 1993, composta pelos Ministerio da Saude (MS), Trabalho (MTb),
Como pane de seus trabalhos, foi realizada em Brasflia entre os dias 17 e 19 de maio de
1993, uma reuniiio com diversos especialistas brasileiros. para que os mesmos produzissem
relat6rios sobre os quatro sub-temas considerados centrais pela CIST: preven9iio, assistencia
Ministerio do Trabalho, pela lei 8490/92. Num diagrama produzido pelo Minist6rio do
reconhece ainda "a po!emica que rem despertado as ac;Oes de fiscalz~,;o/vgn dos
solidciria" (CIST,l993a). Este documento retrata muito bern este momenta dialetico de
Em maryo de 1994 foi realizada a t:io aguardada e posrergada II CNST, cujo tema
espa9o prOprio, precise e bern destacado na agenda deste evento. Foram realizadas quatro
Mesas Redondas sendo que uma de las se intitulava "Vigilclncia em Sad.de do Trabalhador".
social.
131
integrar as ac;Oes nas diversas esferas de governo, cabendo aos municlpios
complexas.
dentro dos princfpios gerais que regem o SUS defendia a unificagao. Ja o MTh, numa
a proposta da unifc~ao. Durante o perfodo de transi~o ate a sua efetivac;ao, o SUS ficaria
132
encarregado de coordenar este processo. Embora tenha sido esta a decisao da II CNST, a
SNVS/DISAT), sem ter urn espac;o proprio (DIAS, 1994). Tal divisao, do ponto de vista
determinou a integra~,;o formal dos setores acima citados, sob a cordena~,; da COSA T
no SUS (NOST). A NOST seria urn instrumento normativo para auxiliar a implant~,;o e
conslida~,; das a96es de saU.de do Trabalhador no SUS. Esta norma foi elaborada a
panir de urn representative processo de discussao, onde participaram tecnicos do MS, das
se tornaria num dos mais bern elaborados e relevantes documentos produzidos no campo
no SUS:
construir urn sistema nacional e reconhece que existem condir;Oes para que o rnesmo se
efetive. Analisa que os atuais sistemas de informar;ao sao de baixa cobertura e pobres em
variAveis para analise. Este texto faz uma proposra de articular;iio de bancos de dados j<i
existentes e a criar;iio de urn instrumento prOprio do SUS para fins de notificayiio de riscos
foi aprovada pelo Conselho Nacional de Sallde, estando ainda em fase de discussao.
fez presente, e naquela ocasiao foram apresentados 6 trabalhos abordando sua tematica
(CONGRESSO, !995a). Neste evenro foi aprovada uma moc;ao em defesa da consolidac;ao
Se por urn !ado haviam avn~os da questao da vigil.ftncia no SUS, por outro !ado
135
os trabalhos da CIST e as decisOes da II CNST nao conseguiram por urn ponte final nas
querelas sobre a competencia legal pelas fiscalizay6es dos ambientes de trabalho (OBINO
CARNEIRO, 1995),
novos atritos desta natureza nos estados do Rio de Janeiro e de Sao Paulo.
e
afiliadas, urn documento onde in formam que apenas o Ministerio do Trabalho respons<i.vel
pelas a96es de inspe9ao dos ambientes do trabalho. 0 Conselho Estadual alicer9a sua
explicitada oeste trecho do documento referido: "Sem dllvida, a inten9ao das entidades
companilhar da sua interpretac;ao de que s6 vale o pedac;o da Lei que e(es desejam que
Este epis6dio e muito ilustrativo da !uta oirdua e estrategica que vern sendo travada
em torno dos conceitos e das pr.iticas de vigilAncia, fiscalizac;ao, inspec;iio, pelos distintos
nas investiga_s:Oes nos ambiemes de trabalho (SES-BA, 1995). Esta portaria permitia uma
precisa e ampla atua<_;:ao do SUS nas a<;5es de VIST em todo estado da Bahia.
0 caso do Rio de Janeiro acabou por desencadear uma mobiliza<;ao mais vigorosa
de ambito nacional. No dia 31 de julho de 1995 foi realizado o "Ato Nacional em Defesa
foi assinada a Portaria N°015, que descreve e enumera as atribuiy6es dos Centros de
(SMS-BH,I995).
talvez possa ser considerado urn quadro nacional do "estado da arte" nos PST. Devido a
sua importiincia, vamos explicitar os principais conceitos e formas de operacionaliza((3.o
Por urn conceito combinado entende-se que incorpora elementos das definiy5es de
especffico, e porque este conceito centra seu objeto nos processes e ambientes do trabalho,
deixando em segundo plano a dimensao da reproduyao social. Ja por abrangente quis me
referir a aspectos que vao dos determinames, aos agravos e as avaliay5es das imerveny5es
139
e ainda incluem a dimensao da pesquisa.
processes e ambientes do trabalho. Percebe-se que dentre estes estiio os principios que
estrutural do mesmo.
ou nao, ou seja, se trabalha com uma conep~i. universal e de limites ainda indefinidos
2) identifical'aO da demanda
3) planejamento da intervenc;ao
do impacto ambiental).
Este documento pode ser considerado como uma sintese deste intenso processo de
141
constrw;ao da VIST no SUS. refletindo seus embates. as experiCncias e os acUmulos
vivencidos pelos PST ao Iongo das decadas de 70, 80 e 90, incorporando a comribuic;ao das
ainda em fase de constrw;:ao, parcial, com lacunas, mas que sem dllvida representa urn
Apesar da VIST no SUS vir se constituindo numa pr:itica multiforme, com diversas
influencias, percebe-se que existem algumas caracterfsticas que !he sao muito frequentes e
centrais e que acabam por estabelecer urn padriio de unidade no meio da diversidade. Nao
consideramos centrais no perfil da VIST no SUS e que culminaram por dar-lhe algumas
Minist6rio do Trabalho.
142
QUADRO 2- PRINCIPAlS CARACTERiSTICAS DA VIST NO SUS
C AT E G0 R I A CARACTERISTICA
MATERILS~O HISTORICO _
MARCO TEORICO DETERMINA(AO SOCIAL DO PROCESSO SAUDE-
OOE!i(;_A
EP!DEMIOLOG[A SOCIAL
METODOS MODELO OPERARIO ITALIANO
VIGILANCIA EPIDEMIOLOGICA
HIGIENE DO TRABALHO
PRATICA POLITICA CONTRA-HEGEMONICA
inves de negar ou camuflar o conflito entre os atores sociais o explicita. Alguns PSTs vao
mais alem, e assumem uma posir;iio francamente aliada aos trabalhadores. Os trabalhadores
encontram espac;o para tambem participarem da gestae, execw:;ao e avaliac;iio das ar;Oes cia
VIST no SUS. Este nlvel de envolvimento, embora presente pontualmente, niio tern sido
uma pnitica rotineira nem urn objetivo sistematico das vigiliincias em sallde pUblica ou das
Num outro ponto inovador, a VIST procura romper com as pniticas de vigi!Ancia
populayoes, por entender que o objeto de suas a<;Oes e o processo (nao apenas resultado)
negatividade, distribufdo na sociedade entre suas classes sociais. Nao se trabalha portanto
s6 com a dimensao negativa dos eventos nem com a no<;iio reducionista de populagao
A VIST no SUS tern dirigido estrategicamente seu tOco priorit<irio de atuaqao para
operacionalizar;ao das ac;6es diante da complexa dernanda social combinada com a escassez
:
de recursos hurnanos e materiais da :irea.
torna mais completo mas ao mesmo tempo se torna mais complexo na sua
operacionalizac;iio, uma vez que se preve ag6es sobre os macro-determinantes e ate sobre
principio rem basicamente dois objetivos. Primeiro, busca-se dar mais agilidade, eficcicia
urn aspecto pedag6gico de atuar;ao e de desalienayao do trabalho, visa criar condic;6es para
que os profissionais de sallde dos PST possam realizar concomitantemente, tanto ac;Oes de
engenheiros como nas fiscalizac;Oes do MTh, incorpora-se elementos das ch!ncias sociais na
diferentes setores que nao os tradicionais sallde, trabalho e previdSncia social, como por
pniticas de VIST no SUS. Como tentamos demonsrrar mlo se pode falar de uma pnitica
Eeste seu car3.ter de conflito que parece essencialmente "dar o tom" e se constituir
no "fio condutor" da hist6ria da VIST no Brasil. Corroborado pela experiencia
internacional (BERLINGUER, 1996), ao Iongo de todo este trabalho, pudemos notar que
a relag:Ao de contlito, sempre esteve muito prOxima cia questao da VIST, seja pela sua
Por que esta vigihincia gera tanto atrito? Ou dito de outro modo, por que esta
Agora vamos explorar este veio analftico e nonear nossa discussa.o como se fosse
especlfica de uma sociedade, num determinado Iugar e tempo. Esta vigilftncia de que
estamos falando. concretamente se insere e e construfda sobre (e pelo) o pano de fundo das
147
social, cultural, ideol6gica e biologicamente, por diversos atores sociais de forma dinil.mica,
mutivel e contradit6ria, no plano individual e coletivo. Este cen:irio tr3.9ado nos da urn
detenninante na organizar;ao das sociedades como urn todo. Aquelas relac;5es sao de
procedimentos adotados diante das relagOes conflitivas capitl~rbho na sua rela.yao com
provavelmente trar.i a tona. Este aspecto de que esramos falando fica mais evidente ao
observarmos que urn dos motives de maiores atritos institucionais e com as outros atores
demais vigilcincias em sallde pUblica. 0 que esta em jogo e em xeque e quem detem a
governo.
Entretanto aquele objeto de ac;ao da VIST tern uma outra grande particularidade.
Nao se trata, afinal de contas, de vigiar urn objeto inanimado em algum material. Trata-se
.·
de vigiar diversas situar;Oes/problemas visando a promoc;ao e a preservar;ao da sa.U.de de uma
grande parcela da sociedade, que tern uma hist6ria de classe social, de fra~Oes de classe e
participar;ao do trabalhador a essSncia de sua pnitica, e eu arriscaria a dizer ate que esta e
politico mas tambem do ponto de vista tecnico e de conhecimento. Sup6e-se uma certa
mostrado urn processo rico, permeado de conflitos, heterogeneo, com experiencias exitosas
e fracassadas (8REILH,l995).
149
imprecise e nao tao 6bvio como possa parecer. Este conceito de trabalhador nao e
merarneme o mesmo da populal;iiO economicamente ativa (PEA), nem o da popula'!iiO
polftica de quem participa das a<;6es de VIST. Historicamente, algumas categorias mais
constru<;ao da VIST no SUS. No emamo, tal constata<;ao, por vezes suscita tambem a
indagac;ao de que se nao deveria fomentar, priorizar e garantir a participac;ao dos setores
Por outro !ado, nesta breve trajet6ria da VTST no Brasil percebe-se a clara
empresariado, diante da atuac;lio do SUS no interior das empresas, sobretudo nas indlistrias
setor trabalho sejam harmOnicas e sem problemas. Todavia as ac;5es fiscalizat6rias do setor
trabalho eram conhecidas historicamente pelos emprestirios e estes j3. possuiam estrat6gias
pr.itica, que tinha urn potencial de expansa.o maior, cujo enfoque e concep9ao de saUde era
mais abrangente, cujos mecanisrnos de imervenc;ao podiam ser diferentes, que geralmeme
0 objeto e o campo de ac;:ao da VIST eponanto urn espac;:o particular onde se situa
estabelece uma relac;ao com as partes em conflito que nao e neutra e que tambem e
hererogenea, conflitante, contradit6ria e permeada por diversos conflitos internes a sua
prOpria natureza enquanto uma pnltica de Estado.
Urn primeiro conflito que nos parece central eo fato decorrente de ser uma prcitica de
Estado. As inter-rela(_;Oes hist6ricas da vigil.ftncia com o Estado como urn todo sao muito
fmimas e imbricadas. Como j;i vimos anteriormente (sobretudo no capftulo 3), a natureza
para a adoc;ao de urn modelo cujo papel do Estado era mais ampliado e abrangente nas
A partir dos anos 90, houve uma modificacao desre panorama, com urn quadro
paniciparivo para o setor sallde. Neste quadro contlitivo, a VIST no SUS passou a
conviver com estes dois modelos de papel de Estado assumindo uma posi9ao arriscada de
que o Estado continua assumindo seu papel tambem coercitivo, de "poder de policia"
a n01.(3.o do vigiar e punir para vigiar e negociar. Apesar destes esfon;os, a construc;ao
de uma almejada alianc;a org3.nica na VIST entre Estado e os trabalhadores, nao deixa de
Uma outra ordem de confliro imporrame diz respeiro aabordagem inter-setorial das
rela<;:Oes sallde-trabalho pelo Estado. No Brasil, como ja foi dito, estas relacOes tern se dado
152
de forma segmentada e pouco articulada. No que range a VIST ha um ainda urn agravame
pais ha uma relayao de forte rensao (e por vezes. ate de confronto) com o Ministerio do
It-alia, com a reforma sanitaria, houve a incorpora\=iio daquelas ac;:Oes do seror trabalho pelo
setor sa.Ude. No Brasil, embora existam reiteradas decisOes neste sentido, as mesmas nao
foram ainda efetivadas e nem dao sinal de que o seriio a curta e media prazo. A
politico
-as rivalidades hist6ricas e conceituais entre os dois setores, que as vezes trocam
de trabalho, seja de urn setor seja do outro, perdem fon;a e eficJ.cia, e correm o risco de
existe urn posicionamemo claro quanta a sua insen;ao nos organogramas institucionais. uma
estrutura mais vi:ivel, mas por outro !ado flexibiliza tanto na sua institucionalizac;:ao que
setores referidos.
(MENDES,l993).
e assisrencia, sob o atual modelo, ocorre uma relac;fto tensa e assim6trica na execuc;ao destas
duas modalidades de a~o. Neste modelo, a assistencia acaba por ser amplamente
privilegiada e por absorver a parte mais significariva das atividades, dos recursos humanos,
dos recursos materiais e financeiros do setor sallde. Tal fato, acaba por tornar mais diffcil
0 processo de implantac;iio das ac;Oes de VIST nao se pautou pela adoc;:iio de urn
Unico modelo. Havia princfpios gerais que sofreram modifca~Oes e adpt~Oes a parrir de
cada localidade. Se isto era vantajoso por urn !ado, ao aproximar a VIST de cada realidade
uma preocua~ maior de gerar pd.ticas localizadas, com grande autonomia. Sobretudo
expansao, comec;ou a haver urn movirnento no senti do de uma maior sistematizayao. Creio
hegemonicamente enquanto proposta e pr3.tica nos chamados PST da rede pUblica de sallde.
8080/90 ganhou urn grande impulso rumo a sua institucionalizac;ao e a urn redirecionamento
de suas pd.ticas. Na d&ada de 90, houve urn aumento do interesse pelo tema, fato este
perceptive! pelo espa~_;o obtido nas polfticas pllblicas, mobilizagOes socials. conferSncias.
eventos, cursos, produc;ao cientffica. Neste mesmo perlodo que a VIST tentava se
consolidar, orientar e sistematizar sua pr:itica no SUS, ocorria urn aumento na utilizac;ao
de instrumentos legislativos e jurfdicos, fruto este do acirramento das tensOes polfticas e dos
atritos legais pela competencia na realizac;ao das ac;Oes de imervencao nos locais de
trabalho. Ap6s a realizac;iio da II CNST tern havido urn esforco significative no sentido de
uma pnltica incipiente e multiforme, com diversas influencias te6ricas, a vigil§.ncia tern
algumas caracteristicas que !he ciao uma unidade e que tern na relac;ao de conflito seu
movente principal.
!56
6. CONSIDERA<;OES FINAlS
de que achamos ser mais peninente se falar em considerar;Oes finais do que em conclus6es,
urna vez que a VIST no SUS e uma pnitica de hist6ria recente e inacabada.
Evidenciou-se que a partir da decada de 80, tanto no plano imernacional como no
nacional, a questao da vigiliincia estatal na area de salide e trabalho foi se tornando cada
vez mais presente a nfvel da elaborac;ao e da execw;ao das politicas pllblicas para a area.
Embora tenha havido este crescimento, a vigi!ancia ainda pode ser considerada uma
espar;o perif6rico e mal definido dentro dos modelos de aten9ao a sallde no Brasil e na
Apesar deste espac;:o secundario, a VIST no SUS foi concebida como uma parte
entanto, nao caracteriza a VIST no SUS enquanto uma prAtica sem forma definida e sem
que visa hierarquizar e absorver conhecimenros e recnicas distintas. sob a perspectiva e com
Ficou evidente que o caminho nao estava trac;ado. Nao se tratava de reproduzir urn
modelo pronto e testado de vigilc1ncia, mas de gestar urn pnitica nova, contlitiva, anti-
hegem6nica, complexa, com lacunas te6ricas e metodol6gicas. num setor sem tradic;ao e
em cnse.
limites e obsciculos.
nao se trata disto. A VIST e parte de urn Estado que pode ser modificado a qualquer
momenta pela sociedade em que se insere. A VIST nao tern o poder irrestrito e automcitico
para fazer valer todas as suas decis6es. Mais do que determina, a VIST do Estado e
determinada pela correlar;ao de forr;as entre o capital e o trabalho. Nao d3. portanto para
esperar ou exigir da VIST no SUS, o que ela nao tern condir;Oes hist6ricas de realizar ou
SUS. Ainda que a VIST consiga se desenvolver isoladamente, sua proposta ficani
tern representado urn desgaste constante. Esta esrrat6gia deveria ser repensada no sentido
de se encontrar soluc;:5es para superac;:ao deste impasse. Ainda que a Area de sa.Ude e
importantes com o Minist6rio do Trabalho, como por exemplo o das fiscalizac;:Oes das
rela~6s de trabalho. As rela96es s3.ude e trabalho sao por natureza inter-setoriais e nao se
pode correr o risco de se atrasar mais ainda esta abordagem.
159
Quarto, vivemos urn memento peculiar. dramatico e agudo de modificac;ao do
que lutar por melhorias das condic;Oes de trabalho, os trabalhadores hoje estao
Quinto, nio devemos esquecer tam bern que no Brasil convivem processes de
novas. Esta situa!f3.0 exige uma abordagem mais sofisticada e complexa do ponto de
vista da vigil3.ncia.
nos pafses centrais. Hoje se tern a experiencia d~ que seja a vigi13.ncia de empresas,
e·
mas o que significa ou implica para a sociedade o cidad3.o o Estado fazer vigil3.ncia
certeza, nao e urn fim em si mesma, mas podera ter urn papel importante enquanto
:
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