Memorial Tse - Airc - Deltan Dallagnol

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Colendo Tribunal Superior Eleitoral

“Essa casa até pouco tempo era conhecida como a


Suprema Corte do país, e é uma casa essencial pra
democracia. Mas infelizmente ela se tornou a
casa da mãe Joana, uma mãe para os corruptos
do nosso país.”1. DELTAN DALLAGNOL.

MEMORIAIS
RECURSO ORDINÁRIO NA AIRC N. 0601407-70.2022.6.16.0000
Pela RECORRENTE COMISSÃO PROVISÓRIA DA FEDERAÇÃO “BRASIL DA ESPERANÇA” NO ESTADO DO PARANÁ

BREVÍSSIMA SÍNTESE

Trata-se na origem de impugnação ao registro de candidatura de DELTAN


MARTINAZZO DALLAGNOL, ao cargo de Deputado Federal no Estado do Paraná, por incidência
nas hipóteses de inelegibilidades descritas pelo art. 1º, inciso I, alíneas ‘g’ e ‘q’, da Lei
Complementar n. 64/90.
Apresentada defesa pelo IMPUGNADO, este d. juízo reconheceu a relevância das
provas protestadas pelos IMPUGNANTES (ID 43086547), determinando a expedição de ofício
ao Conselho Nacional do Ministério Público para apresentação da “cópia integral de
todos os feitos disciplinares em nome de DELTAN MARTINAZZO DALLAGNOL, que ainda não
estavam arquivados no momento do pedido de exoneração”.A documentação solicitada foi
acostada pelo Conselho Nacional do Ministério Público em 22 de setembro de 2022 (ID
43086547), tendo sido disponibilizada para cópia das IMPUGNANTES somente em 26 de
setembro de 2022 (ID 43170802), em razão de problemas técnicos para acesso aos links
do CNMP.
Mesmo diante de fatos evidentes que impunham a procedência da AIRC, o E.
TRE/PR, já após as eleições, entendeu pela rejeição das impugnações, conforme decisão
assim ementada:
“REGISTRO DE CANDIDATURA. AÇÕES DE IMPUGNAÇÃO. ARTIGO 1º, INCISO I,
ALÍNEA “G”, DA LEI COMPLEMENTAR N. 64/1990. REJEIÇÃO DE CONTAS PELO
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. ACÓRDÃO SUSPENSO POR DECISÃO LIMINAR
PROFERIDA PELA JUSTIÇA FEDERAL. AUSENTE REQUISITO OBRIGATÓRIO.
INELEGIBILIDADE AFASTADA. ARTIGO 1º, INCISO I, ALÍNEA “Q”, DA LEI

1
Propaganda eleitoral do IMPUGNADO cuja excluída judicialmente pelo E. TRE/PR (autos n. 0603849-09.2022.6.16.0000).

1
COMPLEMENTAR N. 64/90. NORMA RESTRITIVA. INTERPRETAÇÃO ESTRITA.
AUSÊNCIA DE PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR STRICTO SENSU NO
MOMENTO DO PEDIDO DE EXONERAÇÃO. INELEGIBILIDADE AFASTADA.
ARTIGO 14, §9º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. EFICÁCIA LIMITADA. NORMA
NÃO AUTOAPLICÁVEL. INELEGIBILIDADE AFASTADA. CONDENAÇÃO EM
LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. PEDIDO INDEFERIDO. AÇÕES DE IMPUGNAÇÃO AO
REGISTRO DE CANDIDATURA JULGADAS IMPROCEDENTES. REGISTRO DE
CANDIDATURA DEFERIDO.
1. O artigo 1º, inciso I, alínea “g”, da Lei Complementar n. 64/1990 exige, para a
sua configuração, a presença cumulativa dos seguintes requisitos: a) exercício de
cargo ou função pública; b) rejeição das contas pelo órgão competente; c)
insanabilidade da irregularidade verificada; d) ato doloso de improbidade
administrativa; e) irrecorribilidade do pronunciamento de desaprovação das
contas; e f) inexistência de suspensão ou anulação judicial do aresto de rejeição
das contas.
2. O provimento liminar de suspensão dos efeitos do acórdão desaprovador de
contas afasta a inelegibilidade prevista no artigo 1º, inciso I, alínea “g”, da Lei
Complementar n. 64/1990, eis que ausente um dos pressupostos essenciais para
sua caracterização, sendo desnecessária aferir a presença dos demais requisitos.
3. Para configuração da inelegibilidade prevista no artigo 1º, inciso I, alínea “q”,
da Lei Complementar n. 64/1990 é necessário que, ao tempo do pedido de
exoneração do cargo, o membro do Ministério Público esteja respondendo a
processo administrativo disciplinar stricto sensu, entendido como aquele do qual
possa resultar aplicação de sanção administrativa legalmente prevista, com
garantia do devido processo legal.
4. As normas que restringem direitos fundamentais, como é o caso das
inelegibilidades, que limitam a capacidade eleitoral, devem ser interpretadas de
modo estrito, a fim de que alcancem, tão somente, as situações expressamente
positivadas, garantindo a máxima efetividade do respectivo direito.
5. O artigo 14, §9º, da Constituição Federal é norma constitucional de eficácia
limitada, na medida em que não produz efeitos concretos, enquanto o legislador
ordinário não estabelecer outras causas de inelegibilidade por meio de lei
complementar.
6. Incabível a análise da incidência dos parâmetros abstratos postos no artigo 14,
§9º, da Constituição Federal, como a moralidade e a probidade, com o suposto
intuito de configurar possível causa de inelegibilidade, pois cumpre a esta Justiça
Especializada tão somente subsumir os fatos apresentados às hipóteses objetivas
de inelegibilidade previstas na Lei Complementar n. 64/1990.
7. Não há se falar em litigância de má-fé, em razão do exercício do direito de
petição, a partir de premissa jurídica equivocada, de modo que não merece
acolhimento o pedido de condenação a esse título.
8. Ações de impugnação ao registro de candidatura julgadas improcedentes.
Registro de candidatura deferido”.

Com o devido respeito à Corte paranaense, mas, seja pela inquestionável (1)
pendência de julgamento de mérito em relação aos Processos Administrativos

2
Disciplinares n. 1.00898/2018-99 (Pet. 8614/STF) e 1.00982/2019-48 (Pet. 9068/STF)
quando da exoneração de DELTAN (ocorrida em 03 de novembro de 2021); seja pelas (2)
numerosas investigações instauradas para apurar condutas infracionais cometidas pelo ex-
Procurador da República, as quais foram/serão arquivadas tão somente em razão da
manobra escusa realizada (sua exoneração), o fato é um só: o registro de DELTAN
MARTINAZZO DALLAGNOL não comporta deferimento.
Veja-se.

PENDÊNCIA DE PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS DISCIPLINARES STRICTO SENSU


EM FACE DE DELTAN QUANDO DE SUA EXONERAÇÃO

Pelo artigo 1º, inciso I, alínea ‘q’, da Lei Complementar n. 64/90, são inelegíveis: “os
membros do Ministério Público (...) que tenham pedido exoneração (...) na pendência de
processo administrativo disciplinar, pelo prazo de 8 (oito) anos”.
Ao contrário do decidido pela Corte a quo, a hipótese não demanda
interpretação ampliativa no caso concreto.
Em consulta ao sítio eletrônico do Supremo Tribunal Federal – STF, demonstrou-
se a pendência de dois procedimentos administrativos disciplinares em desfavor do
IMPUGNADO quando de sua exoneração, a saber: (1) PAD 1.00898/2018-99 (Pet. 8614/STF)
e (2) PAD 1.00982/2019-48 (Pet. 9068/STF).
Em ambos os casos, de relevo notar que, inobstante tenha havido encerramento no
âmbito administrativo (com a condenação de DELTAN), o mérito das infrações foi
questionado pelo IMPUGNADO perante o judiciário, estando ambas pendentes de
julgamento. No caso do PAD 1.00898/2018-99 (Pet. 8614/STF), houve, inclusive, medida
liminar vigente para que o CNMP “deixe de considerar a penalidade aplicada” no
assento funcional de DELTAN até o julgamento de mérito (ID 43059374):

3
Ocorre que, em 09 de março de 2023, foi publicada a decisão monocrática do Min.
Dias Toffoli julgando improcedente a Petição n. 8.614, uma vez que este não comprovou
a “inobservância do devido processo legal, de exorbitância das competências do CNMP e de
injuridicidade ou de manifesta irrazoabilidade do ato impugnado”, qualificando como
“totalmente descabida a TENTATIVA de sua anulação”.
Ou seja, se o PAD/CNMP 1.00898/18-99 realmente tivesse esvaído seus efeitos e
se não houvesse mais possibilidade de mudança da pena aplicada administrativamente, a
Petição 8614/STF teria sido extinta sem resolução de mérito pela perda
superveniente de seu objeto após a exoneração do então procurador. Não o foi. Ao
contrário. A decisão prolatada neste momento pela Suprema Corte apenas confirma que, a
despeito de seu encerramento no âmbito administrativo disciplinar, o PAD em questão
ainda estava, por faculdade do próprio RECORRIDO, “na pendência” de confirmação em
âmbito judicial e, consequentemente, se projetariam sobre os outros DOZE procedimentos
instaurados contra DELTAN junto ao CNMP.
Como é evidente, o objetivo do IMPUGNADO ao ajuizar as ações perante o Supremo
Tribunal Federal foi justamente o de “deixar pendente” a eficácia dos processos
disciplinares contra si movidos. Não houve suspensão da punição ou dos feitos. Basta
analisar, neste sentido, o próprio fundamento das liminares requeridas: “a não concessão
da medida cautelar poderia ‘abrir o caminho para que se cogite, em julgamentos futuros,
a aplicação de sanções mais graves’” (ID 43059373):

4
E, ainda, no fundamento da urgência na petição inicial:

Já no segundo PAD (1.00982/2019-48) se imputou a prática de infrações


disciplinares ao IMPUGNADO, por manifestações do requerido em suas redes sociais que
deixaram de observar o dever funcional de guarda de decoro pessoal, previsto no art. 236,
inciso X, da Lei Complementar nº 75/1993.
Em 10/08/2020, DELTAN moveu ação perante o STF (Pet. 9068), no qual
Inicialmente, a liminar foi integralmente concedida pelo Supremo Tribunal Federal, na data
de 17 de agosto de 2020. Contudo, após a interposição de agravo pela União, foi revogada
a decisão de deferimento, de modo que o PAD instaurado fora referendado pelo plenário
do CNMP, com julgamento de procedência realizado em 08 de setembro de 2020.
Posteriormente, na data de 07 de abril de 2021, foi proferido v. acórdão pelo
Supremo Tribunal Federal, julgando improcedente a ação movida pelo IMPUGNADO, todavia
até este momento não houve trânsito em julgado do feito, “pendentes” de análise os
embargos de declaração com pedido de efeitos infringentes pelo RECORRIDO.

5
Aí o questionamento: teria a “casa da mãe joana” suspendido a inelegibilidade de
DELTAN? Bastaria aos membros do Ministério Público questionar eternamente perante “a
mãe dos corruptos do Brasil” as penalidades administrativas contra si aplicadas a fim de
escapar das inelegibilidades previstas pela Lei Complementar n. 64/90? Estaria tal postura
amparada pela lei?
Evidente que não. Os procedimentos administrativos em questão estavam e ainda
estão PENDENTES, enquadrando-se na literalidade do art. 1º, inciso I, alínea “q” da Lei de
Inelegibilidades. Não se trata, portanto, de interpretação ampliativa às hipóteses de
inelegibilidades infraconstitucionais.
Pelo contrário, a hermenêutica aqui é LITERAL, já que a redação legal não faz
qualquer distinção entre coisa julgada administrativa ou judicial. Pela letra da lei, processo
administrativo disciplinar pendente é aquele que ainda pode ter seu resultado alterado,
motivando assim a exoneração como mecanismo de escape.
Nem poderia ser diferente. Ora, ou uma decisão transitou em julgado, aplicando-se
ou não a penalidade respectiva, ou não é apta a gerar precedente e, portanto, pode ser
considerada pendente. Ou seja, aqui, a hipótese de inelegibilidade se aplica de forma
OBJETIVA, uma vez que a exoneração ocorreu “na pendência de processo administrativo
disciplinar”, conforme amplamente demonstrado.
Nesse contexto, descabe analisar fundamentos ou sanções aplicadas nos
procedimentos administrativos stricto sensu citados. Além de compreendidos na
literalidade da norma, resta presumida a gravidade quando há exoneração na
pendência de análise de mérito de procedimento administrativo disciplinar. Vale
reiterar a posição de Marcelo Peregrino: “A inelegibilidade surge de uma presunção jure et
jure da renúncia, pedido de aposentadoria ou exoneração (...) como confissões de ilícitos”.
Diante do exposto, em razão da patente pendência em relação aos Processos
Administrativos Disciplinares n. 1.00898/2018-99 (Pet. 8614/STF) e 1.00982/2019-48
(Pet. 9068/STF) quando da exoneração de DELTAN DALLAGNOL (03 de novembro de 2021),
pugna-se pela incidência da hipótese de inelegibilidade prevista pela alínea “q” do art. 1º,
inciso I, da LC n. 64/90, para fins de indeferimento do registo do IMPUGNADO.
Mas não é só.

6
GRAVIDADE DOS DEMAIS FEITOS DISCIPLINARES PENDENTES E A CONFISSÃO DE QUE A EXONERAÇÃO DE
DELTAN CONFIGUROU VERDADEIRA MANOBRA DE ESCAPE AO CRIVO DE PROCEDIMENTO DE CONTROLE
DE RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR

Para além dos procedimentos administrativos previamente detalhados, a crença


de que a lei não é para todos legou ainda ao IMPUGNADO verdadeira coleção de reclamações
e sindicâncias disciplinares. Conforme se denota da documentação acostada pelo Conselho
Nacional do Ministério Público, pendiam em face de DELTAN, quando de sua exoneração, 16
(dezesseis) feitos disciplinares. Eis a linha resumida dos fatos que aqui serão
rediscutidos:

03 de novembro de 2021: Exoneração Deltan Dallagnol do Ministério


Público Federal

Processos Administrativos Disciplinares pendentes perante STF


quando da exoneração:

1. PAD n. 1.00898/2018-99 (Pet. 8614/STF);


2. PAD n. 1.00982/2019-48 (Pet. 9068/STF).

Feitos disciplinares pendentes perante o CNMP quando da exoneração:

1. Reclamação Disciplinar n. 1.00555.2019-23;


2. Reclamação Disciplinar n. 1.00422.2019-93;
3. Recurso Interno em Reclamação Disciplinar n. 1.00490.2019-06
4. Recurso Interno em Reclamação Disciplinar no 1.00591.2019-97
5. Reclamação Disciplinar n. 1.00530.2020-27;
6. Reclamação Disciplinar n. 1.00484.2020-39;
7. Reclamação Disciplinar n. 1.00441.2020-90;
8. Reclamação Disciplinar n. 1.00530.2020-27, convertida em sindicância;
9. Pedido de Providências no 1.00455.2020-59;
10. Reclamação Disciplinar n. 1.00540.2021-61;
11. Reclamação Disciplinar n. 1.00232.2021-18;
12. Reclamação Disciplinar n. 1.00138.2021-04;
13. Reclamação Disciplinar n. 1.00099.2021-08;
14. Reclamação Disciplinar n. 1.00090.2021-07;
15. Recurso Interno em Reclamação Disciplinar n. 1.00741.2021-96;
16. Sindicância nº 1.00145.2020-06;

PAD’s continuam pendentes perante o STF até a presente data;

Feitos disciplinares extintos/arquivados perante o CNMP somente sob


o fundamento de que a exoneração de DELTAN tornaria “inviável o
exercício da atividade sancionatória disciplinar” pelo órgão.

7
Por si só, em número e temática, os procedimentos mencionados denotam a
ausência de mínima aptidão ética e moral do IMPUGNADO para o exercício de um cargo
eletivo, quando mais de Deputado Federal. Nada obstante, a subsunção ao art. 1º, I, alínea
“q”, da LC n.º 64/90 decorre do intento manifesto e escuso de DELTAN em fraudar a própria
disposição legal mencionada – o que não pode ser tutelado por esta D. Justiça
Especializada.
Como já antecipado, a preocupação do legislador em tornar inelegíveis aqueles que
buscam burlar as normas eleitorais se exonerando antecipadamente não é
exclusividade de magistrados ou membros do Ministério Público. O próprio Supremo
Tribunal Federal – STF já traçou um paralelo equiparando os agentes públicos integrantes
do executivo e legislativo (alínea “k”) aos do judiciário (alínea “q”) neste ponto:
“Ambas as previsões [alínea k e alínea q] configuram hipóteses em que se
furta o acusado ao crivo de procedimento de controle de responsabilidade
política ou disciplinar, por ato eminentemente voluntário. (...)
Não poderia se beneficiar eternamente da presunção de inocência o cidadão que
renuncia, já que fica prejudicado o procedimento de apuração de
responsabilidade tendente à sua expulsão do quadro de agentes políticos.
Mormente porque uma das consequências da procedência de sua exclusão seria
a inelegibilidade prevista constitucionalmente. (...)
Da mesma forma, disto não se beneficiam os magistrados e os membros do
Ministério Público que fulminam procedimento disciplinar via exoneração
ou aposentadoria voluntárias.” (...)

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – (...) Alínea "q": (...) Ninguém pede
aposentadoria ou exoneração gratuitamente. Pede para fugir de alguma
coisa.
O SENHOR MINISTRO AYRES BRITTO - Abrindo mão até do contraditório e da
ampla defesa.
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Exato.
(STF, ADI 4578, Rel. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 16/02/2012)

Vê-se, portanto, que a melhor interpretação à alínea ‘q’ deve considerar a


finalidade última da norma: garantir a “probidade administrativa e a moralidade para
exercício de mandato, considerada vida pregressa do candidato”. É dizer: sempre que a
exoneração de membro do Ministério Público vise escapar “ao crivo de procedimento de
controle de responsabilidade disciplinar” (nas palavras do STF), haverá incidência da
hipótese de inelegibilidade, mesmo que ocorra antes da instauração efetiva de
procedimento administrativo disciplinar stricto sensu.
Trata-se dever previsto pela Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro –
Dec. Lei 4.657/42, em seu art. 5º : “na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que
ela se dirige e às exigências do bem comum”.

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Não se desconhece a vedação à interpretação extensiva das normas atinentes à
imposição de inelegibilidade. Contudo, através de uma leitura sistemática do ordenamento
jurídico eleitoral, é possível concluir pela aplicação da alínea “q” especificamente para o
caso concreto, tendo em conta a minuciosa análise realizada em sede de alegações finais
quanto aos feitos disciplinares pendentes em face de DELTAN.
Por evidente, nesses casos, pela própria teleologia da norma e em respeito aos
direitos políticos fundamentais, entende-se que não é todo e qualquer feito disciplinar
distinto do PAD que enseja a incidência da inelegibilidade prevista pela alínea “q”, mas
sim, somente aqueles que ostentem (1) gravidade suficiente para ensejar a perda do
cargo, aliadas a (2) claros indícios de manobra escape, mediante exoneração, “ao crivo
de procedimento de controle de responsabilidade disciplinar”.
Precisamente o ocorrido aqui.
Primeiramente, quanto à gravidade, conforme se demonstrou, os feitos abordam
possíveis atos de improbidade administrativa; desvio de verbas públicas; violação ao dever
de sigilo profissional; interceptações telefônicas ilegais; gastos ilícitos com diárias e
passagens na Operação Lava Jato; recebimento de recursos de empresas delatoras na
Operação Lava-Jato; recebimento de vantagens indevidas; quebra de decoro profissional.
Enfim, eram diversas e gravíssimas as irregularidades investigadas, muitas
podendo ocasionar na penalidade de demissão, como se viu. Tudo nos termos da Lei
Orgânica do Ministério Público – LC n. 75/93):
Art. 240. As sanções previstas no artigo anterior serão aplicadas:
V - as de demissão, nos casos de:
a) lesão aos cofres públicos, dilapidação do patrimônio nacional ou de bens
confiados à sua guarda;
b) improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º, da Constituição
Federal; (...)
d) incontinência pública e escandalosa que comprometa gravemente, por sua
habitualidade, a dignidade da Instituição; (...)
f) revelação de assunto de caráter sigiloso, que conheça em razão do cargo ou
função, comprometendo a dignidade de suas funções ou da justiça; (...)
h) reincidência no descumprimento do dever legal, anteriormente punido com a
suspensão prevista no inciso anterior;

Em segundo lugar, quanto aos indícios de manobra de escape, verifica-se que


grande parte dos procedimentos foram arquivados tão somente em razão da
exoneração de DELTAN, obstaculizando a continuidade da investigação probatória, bem
como a conversão das demandas em eventuais procedimentos administrativos
disciplinares. A título de exemplo, veja-se a decisão de arquivamento da Reclamação n.
1.00484/2020-39:

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Observe-se atentamente o despacho que contempla os arquivamentos: a exoneração
de DELTAN implicou na “inviabilidade do exercício da atividade sancionatória
disciplinar pelo CNMP”, exatamente a letra do que dispõe a alínea ‘q’. Ou seja, a exoneração
de DELTAN se deu para impedir o exercício do poder disciplinar do CNMP, que seria
proveniente da apuração ainda pendente no momento de sua saída.
Ressalte-se, ademais, que em todos os feitos foi oportunizado o contraditório ao
IMPUGNADO, havendo notória possibilidade de comparação com a obrigatoriedade que
permeia os Procedimentos Administrativos Disciplinares stricto sensu relativamente às
garantias da ampla defesa, pois DELTAN já estava plenamente ciente das acusações e dos
fatos que lhe eram imputados.
Conforme se demonstrou, a possibilidade de se adotar tal equiparação
interpretativa confirma-se frente às definições do próprio Regimento Interno Conselho
Nacional do Ministério Público, o qual prevê a possibilidade de se instaurar desde logo
Processo Administrativo Disciplinar, independentemente de referendo do Plenário,
quando houver indícios suficientes de materialidade e autoria da infração:
Art. 77. Prestadas as informações pelo reclamado, decorrido o prazo sem
manifestação ou encerradas as diligências, o Corregedor Nacional poderá adotar
uma das seguintes providências: (...)
II – instaurar sindicância, se as provas não forem suficientes ao esclarecimento
dos fatos;

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IV – instaurar, desde logo, processo administrativo disciplinar se houver
indícios suficientes de materialidade e autoria da infração ou se configurada
inércia ou insuficiência de atuação, publicando a respectiva portaria;

Eis, portanto, a manobra escusa do IMPUGNADO: percebendo que seria demitido,


ante as consequências da instauração de procedimento administrativo disciplinar
para apuração das diversas ilicitudes cometidas, optou por pedir sua exoneração
antecipada. As evidências trazidas pela também IMPUGNANTE COMISSÃO PROVISÓRIA DO PMN
– Paraná são indenes de dúvidas, já que revelam a verdadeira CONFISSÃO de DELTAN da
motivação de sua saída do MPF:

Como se viu, aliás, tal hipótese foi aventada logo no dia 05 de novembro de 2021,
em uma das reclamações disciplinares (n. 1.00741.2021-96) movidas em face do
IMPUGNADO, muito antes de publicizada a vontade de DELTAN de ser Deputado Federal:

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Igualmente, destaca-se que, também após exercido contraditório pelo ora
RECORRIDO/IMPUGNADO, a Reclamação Disciplinar n. 1.00530.2020-27 foi convertida na
Sindicância nº 1.00145.2020-06 (art. 77, II, RICNMP), ou seja, o órgão disciplinar não estava
convencido das razões para absolvição sumária de DELTAN e também teve o exercício de
seu poder disciplinar tolhido pela fuga do então procurador em fugir de sua
responsabilização quase certa2.
Ora, resta mais que evidente que os “pedaços da realidade” tratados nos processos
disciplinares foram fundamentais para que o IMPUGNADO formasse sua “convicção” de que a
exoneração era o único esquema restante para evitar maior desmoralização pública e, de
brinde, escapar da inelegibilidade da alínea ‘q’ da Lei Complementar n. 64/90,
possibilitando eventual regresso à vida pública. Ademais, se efetivamente a intenção do
IMPUGNADO fosse a exoneração somente para fins eleitorais, não o faria em novembro de
2021, mas sim às vésperas do marco dos seis meses de desincompatibilização que
antecedem às eleições.

2Algo que ocorreu recentemente com o juiz Marcelo Bretas, que seguia as mesmas práticas abusivas levadas
a cabo pela ‘Lava-Jato’, Deltan e Sérgio Moro: https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/02/28/cnj-
decide-afastar-o-juiz-marcelo-bretas.ghtml

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Diante do exposto, resta plenamente possível a aplicabilidade da alínea “q” na
medida em que, conforme anteriormente defendido, os feitos disciplinares ostentam (1)
gravidade suficiente para ensejar a perda do cargo e concomitantemente existam (2)
indícios de manobra de escape “ao crivo de procedimento de controle de responsabilidade
política ou disciplinar”, mediante exoneração.
Novamente, não se desconhece a vedação à interpretação extensiva das normas
atinentes à imposição de inelegibilidade. Não é o caso aqui.
Como o próprio CNMP destacou nos despachos de arquivamento acima
destacados, a exoneração de DELTAN implicou na “inviabilidade do exercício da atividade
sancionatória disciplinar pelo CNMP”, exatamente a letra do que dispõe a alínea ‘q’ e a
mens legis do dispositivo da Lei da Ficha Limpa. Ou seja, a exoneração de DELTAN se deu
para impedir o exercício do poder disciplinar do CNMP, que seria proveniente da apuração
ainda pendente no momento de sua saída.
Isso não pode ser ignorado a partir de uma leitura meramente formalista da
norma, sob pena de inegável consagração de uma manobra do IMPUGNADO de claramente se
esquivar da quase certa pena de demissão que lhe seria aplicada. Como visto, DELTAN já
havia se defendido e tinha ciência de todos os processos abertos contra si, ou seja: somente
pediu exoneração para fugir das punições disciplinares que seriam aplicadas.
Resta, portanto, evidente a incursão de DELTAN na causa de inelegibilidade da alínea
q, por força da finalidade última da norma, seja pela inquestionável (1) pendência de
julgamento de mérito em relação aos Processos Administrativos Disciplinares n.
1.00898/2018-99 (Pet. 8614/STF) e 1.00982/2019-48 (Pet. 9068/STF); seja pelas (2)
dezenas de outras investigações instauradas para apurar condutas infracionais cometidas
pelo ex-Procurador da República, as quais foram/serão arquivadas tão somente em razão
da manobra escusa realizada pelo IMPUGNADO: sua exoneração.

REQUERIMENTOS FINAIS

Diante de todo o exposto, requer-se provimento do presente recurso ordinário, de


modo a reformar o acórdão regional e indeferir o registro de candidatura de DELTAN
MARTINAZZO DALLAGNOL.
Atenciosamente,

13
Curitiba, 05 de maio de 2023.

LUIZ EDUARDO PECCININ EVELYN MELO SILVA


OAB/PR 58.101 OAB/RJ 165.970

MARCELO WEICK POGLIESE PAULO HENRIQUE TELES FAGUNDES


OAB/RJ nº 187.603 OAB/RJ 72.474

PRISCILLA CONTI BARTOLOMEU DYLLIARDI ALESSI


OAB/PR 97.632 OAB/PR 55.617

MARIA LÚCIA BARREIROS JEANCARLO DE OLIVEIRA COLETTI


OAB/PR 103.550 OAB/PR 81.995

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