Meu Melhor Amigoo#
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Crédito da imagem: VISTACREATE - CANVA
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anos e/ou multa.
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Dedicatória
Sinopse
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Epílogo
Agradecimentos
Outras Obras
Instagram
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TikTok
Roberta Campos (part. Nando Reis) — De janeiro a janeiro
Fernando e Sorocaba - Casal perfeito
Fred & Gustavo - Minha vontade
Luan Santana - MC Lençol e DJ Travesseiro
Zé Neto e Cristiano - A farra perdeu para o amor.
Orochi - Amor de Fim de Noite
Bruno Mars - Just The Way You Are
Bruno Mars - Nothin' On You
Chris Brown - superhuman
Justin Bieber - Hold On
Calun Scott - You Are The Reason
Calum Scott – Flaws
Para todos que encontraram em seu melhor amigo o seu grande
amor.
Amigos desde a infância, Ana e Felipe cresceram juntos e sempre
confiaram tudo um ao outro. Mas desde que ele decidiu se mudar para a
casa ao lado da sua, os sentimentos quase fraternais que acreditara nutrir
por Felipe começam a ser colocados em prova. Agora eles se veem dia e
noite, e essa aproximação, mesmo Ana tentando reprimir, está mexendo
com sua cabeça e seu coração, e ela vive em um dilema:
Desde que se mudou para a casa ao lado da minha, quase três meses
atrás, novos sentimentos despertaram, me deixando confusa, desapontada e
enciumada com qualquer coisa que ele diga ou faça. Era tão mais fácil
antes, quando eu só o via como o garotinho magricela e sorridente que me
seguia para todo lugar, e não esse homem lindo, forte e confiante que se
tornou.
— Será que ela tem noção que eu te amo? — Lipe fala, olhando
para mim, e sinto minha respiração falhar por um momento. Ele envolve o
braço em minha cintura e me puxa para perto dele, e então beija minha
testa. — Você é minha melhor amiga, como não iria te amar?
Sorrio para ele.
— Pensa, Lipe. Tem que ter algo. Eu sei o que eu mais gosto em
você. — Esse álcool está me dando coragem. Vou aproveitar isso.
— Eu também.
— Temos que descer do carro para o Uber poder ir pra outra corrida.
— Sua mão continua a acariciar meu rosto, a voz paciente.
Eu suspiro.
— Tudo bem, já que não tenho escolha. — A contragosto, abro os
olhos e me endireito.
Lipe paga o Uber, dando um extra pelo tempo que demoramos para
descer, e me acompanha até a porta de minha casa.
— Boa noite, docinho. Até amanhã. — Ele beija minha bochecha.
Entro em casa com muito cuidado para não acordar minha mãe. Não
quero levar uma bronca por chegar a essa hora, e bêbada. E assim que entro
no meu quarto, me arrasto até o banheiro e me preparo para dormir. Meu
pensamento logo volta para Felipe. Sua voz, que é tão boa de ouvir, seu
toque suave... Como será o gosto dos seus lábios? Como seria ter ele por
completo só para mim? Me aconchego no edredom e me permito sonhar um
pouco.
Minha mãe nem parece ter quarenta anos. Sua pele é bem-cuidada e
seus cabelos estão sempre pintados de preto para esconder qualquer fio
branco que possa aparecer. Por isso as pessoas geralmente pensam que ela é
minha irmã mais velha. Somos muito parecidas.
Depois do café, decido ir ao supermercado comprar o que falta para
o almoço, e me deparo com Felipe em frente a sua casa lavando o carro,
sem camisa e com o peito todo molhado. Fico admirando as tatuagens que
cobrem seus braços. A do lado direito vai até seu peito. Os músculos se
flexionam quando esfrega com um pouco mais de força. Tenho a certeza de
que nunca vi nada mais lindo em toda a minha existência. Eu poderia passar
o resto da minha vida parada bem aqui. Quando vira de costas, meu olhar
desenha cuidadosamente os traços de suas tatuagens. Os símbolos japoneses
estão perfeitamente alinhados; só não me lembro agora o que cada um deles
significa. Lipe me rouba todo o raciocínio. Tenho certeza de que não existe
outro homem mais lindo que esse. Fico olhando para ele sem conseguir
desviar a atenção. E então ele me vê e acena. E eu torço para que não tenha
notado minha expressão. Eu estava literalmente babando em meu melhor
amigo.
— Bom dia, docinho. Você está linda como sempre — ele diz, com
um sorriso encantador no rosto.
— Bom dia, Lipe. Dormiu bem?
— Dormi sim, e você? Está indo a algum lugar? — Lipe pega uma
toalha e começa a enxugar o abdômen, e eu sigo com os olhos cada
movimento seu. Pensamentos impuros tomam minha mente e tenho certeza
que vou diretamente para o inferno por causa deles.
Mas seria uma boa ideia. Juntaria o útil ao agradável. Não precisaria
andar nesse sol forte, e eu ainda passaria um tempo com ele. Lipe olha para
mim e sorri. E meu coração se derrete para ele.
— Você nunca me incomoda. Só espera dois minutinhos. Já volto.
Ele se vira para mim, coloca uma mecha de cabelo atrás da minha
orelha e desliza o dedo por minha bochecha. Meu corpo responde
imediatamente a seu toque e eu fico sem fala. Lipe me olha nos olhos. Será
que não consegue perceber como me deixa desnorteada? Ou será que finge
não perceber por também ter medo de estragar o que construímos durante
todos esses anos? Ou pior... Ele sabe o que sinto e finge não saber para não
me magoar porque não sente o mesmo. O sentimento não é mútuo. E com
certeza essa é a opção que mais dói em meu coração.
Meu olho esquerdo começa a coçar sem parar. Com certeza foi
algum cílio que caiu. O carro é estacionado.
Assinto.
Sua mão toca meu rosto e seu polegar puxa levemente minha pele
para tentar manter o olho aberto. O cheiro do seu hálito de menta é bom.
Lipe assopra duas vezes. Estamos tão próximos que um simples movimento
meu encostaria nossos lábios. Me forço a não olhar para eles. Daria muita
bandeira. Em minha mente vem a imagem do que eu faria se tivesse
coragem. Imagino meus lábios nos dele. Imagino um beijo tão intenso que
me deixaria sem ar. Eu vou é ficar louca.
— Estou, obrigada.
— Disponha, docinho.
Ele dá de ombros.
— Eu sinto falta dos meus pais, mas com o tempo você se acostuma.
Já somos adultos, Ana. Às vezes chega a hora de abandonarmos o ninho.
— Você tem razão. Mas por enquanto não terei que pensar nisso.
Não tenho namorado, muito menos um noivo. Acho que só a deixarei
quando me casar.
— Eu sei que não irei me casar, então já foi bom procurar meu
canto.
— Não. Quero manter esse estilo de vida até bater as botas. Você
deveria tentar esse método de pegar e não se apegar.
Lipe assente.
— Gosto de tudo o que diz respeito a você. Não consigo escolher
uma coisa só. — Com um grande sorriso me viro para a janela. — Gosto
muito quando sorri assim.
Para ela, não importa quantos anos eu tenha, sempre serei sua
princesinha. Mas ouvi-la me chamar assim na frente dele é um pouco
embaraçoso.
— Mãe, eu não sou mais criança. — E não quero que Lipe me veja
como uma. Quero que ele olhe pra mim e veja uma mulher feita.
— Pense bem, Ana. Faço muito gosto desse namoro. Vocês são
amigos desde a infância, e sabe como Sônia e eu torcemos por vocês. —
Seu entusiasmo é notável.
— Tenho medo. Ele sai com tantas garotas, e nunca namorou ou se
apaixonou por ninguém. — Só de me lembrar da moça da noite passada que
estava quase se jogando nele, sinto um misto de ciúmes e frustração. —
Pelo menos que eu saiba. Isso seria estranho. Será que logo eu conseguiria
mudar isso nele? Já me fiz essa pergunta várias vezes.
Bia: Nossa, Ana, nem um beijinho? Tipo: opa meus lábios sem
querer encostaram nos seus. Quer dar uns amassos?
Rio. Só Bia para pensar nisso.
Agora ele vai pensar que sou uma louca que fica vigiando cada
passo seu.
Assinto.
O senhor Carlos, apesar de ser bem exigente, não é grosseiro. Temos
uma relação até que boa. Suas exigências não são um absurdo, ele só gosta
de tudo bem organizado. Não é aqueles patrões que gritam com as
secretárias ou que pede para ir buscar um café no fim do mundo só porque
gosta. Eu só queria entender o que o faz mudar tanto de secretária em tão
pouco tempo. A maioria não passa nem do tempo de experiência. Pelo
menos foi o que me disseram na agência de empregos. Eu passei, já estou
há seis meses aqui e espero continuar. Espero o tempo solicitado, me
levanto, arrumo minha roupa e bato à sua porta antes de entrar.
— Sente-se, por favor. Eu preciso que reveja toda a minha agenda
da semana, confirme os compromissos importantes e faça também uma
pesquisa sobre as melhores pousadas de Guarujá. Os investidores que virão
para uma reunião semana que vem querem ficar alguns dias por aqui. —
Até o jeito dele de falar é impecável. Sua dicção é perfeita. Ele não gagueja,
não vacila. É um perfeito homem de negócios. Será que meu pai é assim
como ele? Para, Ana, esse não é o momento de deixar sua mente fértil te
distrair.
— Só isso, por enquanto. — Ele sorri. Antes de sair de sua sala ele
diz: — Está fazendo um ótimo trabalho.
Sorrio sem jeito. Não é todo dia que recebemos um elogio desses de
nosso chefe. Agradeço e volto para minha mesa. Foco em meu trabalho e
em cumprir o que me pediu. Começo a confirmar seus compromissos
enquanto pesquiso as pousadas e só paro no horário de almoço. Me
mantenho tão focada que quando dou por mim, já são quase seis da tarde.
Graças a Deus está chegando a hora de ir para casa.
— Está tudo bem agora, estou aqui com você. Ninguém vai te fazer
mal, eu não vou deixar — diz, me apertando em seus braços.
— Pode parar, Ana. — Segurando meu queixo ele levanta meu rosto
e me olha nos olhos. — Você não tem culpa de nada. Isso aqui logo sara. O
importante é que não fizeram nada com você. — Beija minha testa. —
Vamos, vou te tirar daqui. Não é seguro, eles podem ter ido buscar ajuda.
Não vamos arriscar.
Lipe me conduz para dentro do carro. Agora mais calma me viro
para ele. Preciso agradecer. Não fiz isso.
— Ana, você não tem culpa por não estar segura na rua. Não tem
culpa por existir seres como aqueles três que queriam tirar proveito de sua
vulnerabilidade.
— Mas...
Entro e vou direto para o banheiro tirar essa roupa e tomar o banho
mais longo da minha vida. Estou me sentindo suja. Depois, vou direto para
a cama sem nem jantar. Fico mexendo no celular e agradecendo aos céus
por não ter acontecido nada comigo. O bloqueio para tentar dormir, mas
assim que o coloco em cima da mesa de cabeceira, ele apita, avisando que
chegou uma nova mensagem, e quando olho para a tela, vejo o nome de
Lipe.
Quando eles fogem, puxo-a para meus braços. Eu odeio vê-la desse
jeito. Gosto de vê-la sorrindo, brincando. Feliz. Tudo que quero é manter
Ana em meus braços e protegê-la do resto do mundo. Ela sempre foi tão
doce, frágil, e linda... Tão linda. Afasto esses pensamentos. Ana é minha
amiga, nada mais que isso. Jamais arriscaria perdê-la. Já não sei mais viver
sem Ana ao meu lado.
Seguro seu queixo levantando seu rosto e olho em seus olhos. Esses
olhos castanhos são os mais lindos do mundo. Para com isso, Felipe! Grita
meu subconsciente. Beijo sua testa. Não sei se Ana sabe, mas ela é a única
mulher além de minha mãe que ganha esse tipo de carinho.
Ana: E que ideia foi essa? Não foi de abrir uma casa de stripper de
novo não, né?
Rio ao ler a mensagem. Ela nunca vai se esquecer disso. Falei isso
quando completei dezoito anos. E nem era sério.
Eu: Kkk não. Aquilo foi brincadeira. Já te falei isso várias vezes.
Agora, falando sério, nosso trabalho é perto e saímos no mesmo horário...
quero passar no seu e te trazer pra casa, assim não fica esperando ônibus. O
que acha?
Eu: Boa noite. Sonhe com coisas boas. A melhor de todo o mundo
sou eu, então sonhe comigo.
Ana: Pode deixar, senhor convencido.
Leio a última mensagem com um sorriso no rosto e posso imaginá-
la rindo enquanto escrevia isso. Bloqueio o celular. Não sei como não havia
pensado nisso antes. Poderia ter começado assim que me mudei para cá.
Agora mais tranquilo, já posso me deitar e dormir.
Enquanto finalizo mais um dia de trabalho, em minha cabeça não
para de se repetir o que aconteceu ontem. A preocupação de Lipe, seu
carinho. A ideia que teve para me manter segura foi o que mais mexeu
comigo. E quando enfim chega a hora de ir embora, começo a arrumar
minhas coisas sem muita pressa, tentando controlar meu nervosismo. Agora
que Felipe virá me buscar todos os dias, vamos ficar ainda mais próximos.
Por um lado, será bom, mas por outro...
Assim que saio, vejo Lipe sentado no capô do carro, com aquele
sorriso perfeito que sempre invade meus sonhos. Nos cumprimentamos com
um abraço e um beijo na bochecha, e ele abre a porta para mim e em
seguida entra.
Lipe leva a mão ao peito e faz uma cara como se essa pergunta o
tivesse ofendido.
Meu coração está acelerado. Aperto uma mão na outra. Será que
digo a verdade? Será que digo que tenho inveja delas? Que queria saber
como é tê-lo para mim. Não. Não posso fazer isso.
O vejo engolir em seco. Espero que isso seja uma coisa boa.
— Ana. — É a primeira vez que diz meu nome nesse tom. Meu
coração parece que vai sair pela boca. Seus olhos estão fixos no meu. — O
que é um pontinho vermelho pulando de galho em galho?
Me viro para a porta desesperada para sair. Mas ela ainda continua
travada. Não consigo nem baixar os vidros. Lipe começa a me fazer
cócegas. Bato com as mãos no vidro. Eles são escuros, não dá para ver aqui
dentro.
Eu olho para Lipe. Ele está branco como um papel. Seu olhar pede
desesperadamente para que diga a verdade. Me viro para o homem.
— Quer que eu conte mais piadas pra ficar feliz novamente? Tenho
muitas outras.
— Até amanhã.
— Até amanhã, docinho. — Ele solta minha mão lentamente.
Estou feliz por poder passar mais tempo com ele, mas também
preocupada, pois a cada dia me vejo mais apaixonada. Cada sorriso dele me
hipnotiza, e estou sempre lhe fazendo perguntas só para ouvir o som da sua
voz. Até quando durmo ele aparece em meus sonhos. E não posso me
esquecer dos minutos que passamos juntos dentro do carro quando
chegamos em casa. É como se Lipe quisesse ficar mais tempo comigo.
Perdi as contas de quantas piadas ruins já me contou durante essa semana.
Ele parece mesmo ter um estoque infinito delas. Será que ele as procura na
internet e decora só para me contar depois? Não, ele não teria todo esse
trabalho só para conseguir alguns minutos a mais comigo naquele carro.
Estou inventando coisas.
Hoje já é sexta-feira. E só de pensar que amanhã não irei passar
tanto tempo ao seu lado sinto um aperto no peito. Espero que Bia apareça
como uma fada madrinha e arrume algum lugar para irmos juntos. Ela quem
se encarrega dessa parte, de arrumar lugares incríveis para curtirmos o
sábado à noite. Nos fins de semana que não saímos juntos quase não o vejo
direito.
Se bem que dois fins de semana atrás ele foi lá para casa para
assistirmos a um filme juntos. Eu fiquei nervosa por estar sozinha com ele
em casa, e olha que já ficamos tantas vezes só nós dois. Mas agora sinto que
tudo é diferente. Eu não estou conseguindo mais controlar meus
sentimentos, sufocar e deixar guardado lá no fundinho. Isso está saindo de
controle. Quando Lipe me deixa em casa, eu imagino tudo diferente,
imagino ele me pedindo para não ir, ou me negando a sair do veículo por
me sentir melhor quando estou ao seu lado. O coração tem umas coisas tão
loucas.
Ao ver sua mensagem instantaneamente um grande sorriso se forma
em meu rosto. É sempre assim quando o assunto é ele. Lipe é como minha
própria fonte de felicidade.
Ele se vira para mim. Sua expressão séria faz meu estômago
embrulhar. Tem algo de errado.
— Peça por favor. — Ele ri e todo o meu corpo relaxa.
Você tem razão, Lipe, eu realmente amo. Mas não do jeito que está
pensando. Acho que não devo mais reprimir isso. Nesse momento estou
assumindo a mim mesma que amo Felipe, amo como homem e não como
amigo.
— Lipe.
— Oi, docinho.
— Eu separei três muito boas pra poder encerrar essa semana. Está
pronta?
— Sim, mas após ouvir as três darei minha nota. Vai de zero a cinco.
Não vale ficar chateado se for zero.
— Moto?
— O que foi? — Será que tem algo fora do lugar? Borrei o batom
sem perceber?
— É para o seu próprio bem. — Sua mão vai até meu cabelo. Nesse
momento não consigo nem me mexer. Lipe segura o elástico que o prende e
começa a puxa-lo lentamente sem tirar seus olhos do meu. Será que é essa
jaqueta que está fazendo a temperatura subir ou o jeito que me olha?
Acredito fielmente que seja a segunda opção. — Não me perdoaria se
acontecesse algo com você por minha culpa. — Ele começa a arrumar meu
cabelo e depois beija minha testa. Coloca o capacete em mim e confere se
está tudo certo. — Agora vamos? Quero te levar a um lugar.
— O tempo passa tão rápido. Parece que foi esses dias que
completei dezoito. — Fecho os olhos ao sentir sua mão em meu cabelo. —
Lembra do presente que me deu? — Levanto meu rosto e Lipe me olha e
sorri.
— O avião foi aos dezoito porque você ama viajar. — Ele toca a
pequena aeronave feita de prata e segue para o próximo. — A Torre Eiffel
aos dezenove porque quer conhecer Paris. Quem sabe podemos fazer essa
viagem juntos um dia. — Só de imaginar isso sinto uma felicidade me
tomar. Estamos os dois sorrindo. Será que ele também conseguiu imaginar?
— Aos vinte uma estrela do mar porque ama ir à praia. — já perdi as contas
de quantas horas já passamos juntos só nós dois na praia. — E um
brigadeiro, porque você é o docinho da minha vida. — É completamente
impossível não amar um homem que te olha como Lipe está me olhando
agora.
— Estou com ele em meu bolso. Quer agora ou prefere esperar até
amanhã? — Olho em seus olhos. — Tá, você quer agora nesse exato
momento. — Sorrio e assinto. — Mão esquerda ou direita? — Ele fecha as
duas.
— Direita.
Ele a abre e vejo um lindo berloque no formato de ursinho, é
igualzinho ao Fini. Eu nunca imaginei que encontraria alguém que me
conhecesse tão bem quanto Lipe conhece. Sinto meus olhos se encherem de
lágrimas. Nesse momento tenho a certeza de que não devo arriscar perder
tudo isso que construímos. Simplesmente não posso!
Uma semana longe dele. Uma semana sem sentir seu cheiro. Sem
sentir sua mão acariciando meus cabelos. Eu não posso pensar em mim isso
é bom para sua carreira. Tenho que apoiá-lo como sempre fiz durante esses
anos.
— Isso é bom pra você. Quer dizer que gostam do seu trabalho. —
Seguro sua mão. — Uma semana passará rápido.
Lipe ri. Nem parece o mesmo que estava com cara de cachorro que
caiu da mudança a segundos atrás.
— Você vai sentir minha falta? — O jeito que ele me olha já me diz
tudo. É como se tivesse feito a pergunta mais absurda do mundo. — Estou
esperando sua resposta.
— Acho que não. — Eu sei que está brincando então decido entrar
na brincadeira.
— Também não sentirei a sua. — Me deito na grama e encaro o céu.
Lipe continua sentado. — Acho que vou arrumar um carinha pra me fazer
companhia enquanto estiver fora.
— Como assim não faço esse tipo? Acha que não posso fazer sexo
casual?
— Não gosto de falar de sexo com você, Ana.
— Falo por cima, nunca aprofundo o assunto. Falar sobre isso com
você é estranho.
— Lipe. — Ele vira seu rosto para mim. — Você acha que sou pura
e recatada? Pode ter certeza de que essa carinha esconde muita coisa. —
Não sei de onde tirei coragem de falar isso. Ele arqueia a sobrancelha. Me
mantenho firme, mesmo sentindo o coração bater descontroladamente.
— Tipo o quê? — Sinto um toque de malícia em seu tom de voz.
Onde fui me meter?
— Não sei, Márcio? — Sai mais como uma pergunta. Escuto Lipe
rir.
— Você nem o conhece direito. Sei que ele é a fim de você, mas
acho que vocês não combinam.
— Tomás?
— Fiquei sabendo que ele nem sabe como se coloca uma camisinha
direito. Quer ficar grávida? Um filho dele não seria muito bonito. — Rio.
— Só se ele puxasse a você. — Sinto algo se revirar em meu estômago.
— Faça e me mostre.
— Você iria colocar defeito em todos eles?
— Provavelmente sim.
— Por quê?
Sua mão toca meu rosto. Lipe me olha com carinho.
— Porque mesmo pra ser sua amizade colorida o homem tem que
ser “o cara”. — Sem dizer mais nada ele se senta. — Quero lhe mostrar
uma coisa antes que escureça de vez. — Me sento e Lipe começa a tirar a
jaqueta. Será que fez alguma tatuagem nova? — Olha isso. — Ele aponta
para uma pequena tatuagem. No meio de tantas outras que cobrem seu
braço.
— Isso é...?
— Não tenho, mas minha amiga irá dar uma volta comigo. — Se
depender de mim, várias vezes. — Vou levar aquele rosa ali. — Aponto
para o capacete que é a cara dela. É um rosa bem clarinho e tem algumas
flores.
Quando Ana sai, parece que estou preso em um transe. Ela está
linda. E sem perceber deixo meus pensamentos saírem por minha boca e ela
cora.
Ana reclama por ter que bagunçar o cabelo que está perfeitamente
arrumado. Desço da moto e me aproximo. Eu acredito que até acordando de
manhã com eles bagunçados ela deve ficar linda. Seus olhos estão nos
meus. Seguro o elástico e começo a puxar lentamente para não a machucar.
Não consigo olhar para outro lugar além de seus olhos. Sinto algo estranho
no estômago.
Fui sincero quando disse a ela que comprei a moto para que ela
ficasse com o carro essa semana. Sua segurança sempre vem em primeiro
lugar. Meu carro é meu xodó, mas sei que Ana cuidará bem dele. Também
sei que uma semana inteira longe dela será uma verdadeira tortura. Só
aceitei ir porque não podia negar esse pedido. Se quero continuar me
mantendo sozinho sem a ajuda de meus pais, tenho que fazer o meu melhor,
mesmo que isso signifique ficar longe de uma das pessoas mais importantes
da minha vida.
Não acreditei quando disse que queria arrumar um cara para uma
amizade colorida. Esse não faz o estilo dela. Não sei por que aquilo me
irritou tanto. Ela é linda e solteira, qualquer homem tem que se sentir no
mínimo privilegiado por tê-la ao lado. Mas as opções que escolheu... Se
bem que se fosse por mim ela não ficaria com ninguém, pois ninguém é
bom o suficiente para ela.
Olho para a pulseira em meu pulso e toco cada berloque. Será que
Lipe tem noção de tudo o que me faz sentir? Cada segundo que passamos
juntos essa tarde foi tão especial. É mais fácil o fim do mundo chegar do
que Lipe esquecer meu aniversário.
Eu: Hoje?
Eu: Lipe vai me levar pra dar uma volta em seu carro, pois ficarei
com ele essa semana.
Bia: Como assim? O que aconteceu que você ainda não me contou?
— Não estou dirigindo. — É a primeira coisa que diz. Ela sabe que
pego no seu pé quando faz isso. — Estou próxima a sua casa. Em menos de
cinco minutos chego aí e você me contará tudo. Tudo mesmo.
Eu: Podemos deixar pra dar uma volta em seu carro amanhã?
Forço o celular contra o peito. Por que será que está tão interessado
nisso? Gemo. Maldita hora que inventei que arrumaria um carinha. Eu só
queria ver o que ele iria dizer e agora estou presa nessa situação
constrangedora. Meu celular vibra. Levanto a tela.
Lipe me manda um emoji com um grande sorriso e não sei com qual
responder. Fico minutos ali olhando todas as opções. O barulho da porta do
meu quarto me assusta. Bia entra rapidamente e se joga na cama ao meu
lado. Ela sabe que não precisa bater na porta que pode entrar direto e vir até
meu quarto. Minha mãe nem liga. Faz pouco tempo que ela chegou de uma
festinha de aniversário, agora deve estar no banho.
— Eu fiz o que você não teve coragem. — Meu celular vibra e vejo
que Lipe respondeu com um coração batendo. — Está vendo? Ele gostou.
De nada.
Passo os próximos minutos contando tudo para ela, desde que Lipe
me pegou aqui em casa. Bia presta atenção a cada palavra dita. Ela sempre
foi uma boa ouvinte. E sempre me deu ótimos conselhos. Mas quando se
refere a ele não consigo segui-los, eu simplesmente travo. Tudo com Lipe
é... complicado.
— Então você falou mesmo pra ele que iria arrumar um cara pra ter
uma amizade colorida? — Ela parece não acreditar. Rindo de nervosa
assinto. — E ele colocou defeito nos dois que mencionou. — Repito o gesto
apesar de achar que ela só está repetindo pra tentar entender. — Ele fez uma
tatuagem em sua homenagem.
— Isso tem a ver com a amizade colorida? Acho que seu raciocínio
fugiu da rota.
— Tenho quase certeza de que não sou. Inclusive estou vendo uma
marquinha em seu pescoço. — Aponto para ele. Bia leva a mão até a pele.
Ela é branca demais, qualquer coisa fica a marca.
Rio. Bia só pode estar louca. Ela me olha séria e leva as mãos a
cintura. Me sento na cama ainda rindo.
— Bia, ele disse que não gosta de falar sobre esse assunto comigo.
O que lhe faz pensar que ele quer ser um candidato?
— Ai, Ana, às vezes não sei o que fazer com você. Lipe colocou
defeito nos rapazes. E saiba que não vou conseguir olhar para Tomás sem
pensar que não sabe nem colocar uma camisinha. — Nós rimos. — Como
será que Lipe soube disso? — Dou de ombros. — Será que isso é verdade?
Qual homem não sabe fazer isso? Ele deve ter filhos espalhados por aí. Sem
contar as doenças.
— Eu não sei. Só sei que Lipe não quer ser meu sexo casual. Isso
iria colocar nossa amizade em risco.
— Vocês são adultos podem muito bem lidar com isso. Se não der
certo é só parar.
Sei que se um dia ficasse com ele não iria querer outro homem. E se
ele não gostasse? Se achasse que sou sem graça? Ele já ficou com tantas
garotas. Eu só disse aquilo pra ele sobre minha cara de inocente para não
sair por baixo. Na hora do “vamos ver” é diferente. Não sou nenhuma
depravada, superexperiente no quesito sexo. Vou fazer 22 anos e posso
contar em uma única mão com quantos já transei. Perto desses dois eu sou
uma virgem. Rio de meu pensamento. Bia me olha sem entender e balança a
mão como se não se importasse.
— Eu sei o que digo, Ana, e quando ele ler essa lista e colocar
defeito em cada um você irá perceber. Eu não entendo, você quer ele e ele
te quer. Alguém tem que dar o primeiro passo e arriscar — Bia diz com
tanta certeza que Lipe me quer. Queria mesmo que fosse verdade. Ele só é
carinhoso por ser meu melhor amigo. — Agora vá lá e me mostre qual
vestido irá usar hoje. Quero você bem gostosa. — Só Beatriz pra me dizer
esse tipo de coisa.
— Estou indo.
— Eu já sei que trabalham com você — ele diz com uma confiança
na voz. — Não acha que se não der certo, se não rolar química, a questão
dele trabalhar com você irá complicar as coisas?
— Como assim? — Viro meu corpo para ele.
— E se...
Lipe abre a porta e agradeço. Entro e ele vem em seguida. Bia está
no telefone falando com Lucas. Espero que ele seja um cara legal. Sei que
ela não é de se apegar fácil, mas quem sabe é esse que irá mudar a história.
Lipe assente.
Vou tentar não pensar nisso nas próximas horas. Quero me divertir e
Lipe ficará uma semana longe. Temos que aproveitar essa noite. Ele nem foi
e já estou sentindo sua falta. Deito minha cabeça em seu ombro e ele segura
minha mão. Uma semana... Será que irei sobreviver?
O lugar está cheio. A música alta me faz querer dançar. Vamos os
três até o bar e tomamos uma rodada de tequila. Não demora muito para ele
ir à “caça”, como diz. Eu pensei que o que Bia havia dito poderia ser
verdade. Mas se Lipe quisesse algo comigo... Para, Ana, a voz grita em meu
subconsciente. Bia me olha com compaixão quando o vê conversando com
uma bela ruiva. Balanço a cabeça para convencê-la de que está tudo bem.
Que já estou acostumada com esse jeito dele.
— Vou ficar. Uma ótima noite pra vocês. Cuide da minha amiga,
Lucas. Se ela não me mandar mensagem amanhã de manhã, chamo a
polícia. — Dou uma piscadela e os dois riem.
Bia vai até Lipe, acho que para avisá-lo também. Ela não iria sem se
despedir de nós.
Não sei se é o álcool, mas Bruno e eu acabamos nos beijando. Mas
esse beijo não consegue me fazer sentir algo especial. Após um tempo, pede
licença e vai até o banheiro, e eu fico na pista o esperando.
— Tenho, Lipe. Não vou atrapalhar seu encontro. Ela não gostou de
você ter vindo atrás de mim.
Saio junto com Bruno, e assim que chego lá fora, fico um tempo
conversando com ele e o conhecendo melhor. Descubro que ele é o mais
velho de três irmãos, tem sua própria loja de artigos esportivos e é solteiro,
claro. Parece um homem incrível. Lipe aparece bem atrás dele. Não
acredito que ele veio aqui fora.
— Estou.
— Sim.
Olho para o lado e vejo Ana, e fico sem fala ao perceber como está
linda. Deveria ser crime uma única mulher ter tanta beleza. Vou até ela e a
cumprimento com um beijo no rosto. Seu cheiro é um dos meus favoritos. É
doce assim como ela, mas não chega a ser enjoativo. É suave. A elogio,
pois seria impossível ver uma mulher dessa e não dizer o quanto está
bonita. Digo que irá chamar atenção e ela diz que é isso que quer, forço um
sorriso. Eu tenho que parar de sentir o que não devo por ela.
Ela pergunta o que iria dizer, mas prefiro deixar para lá. Talvez seja
o destino me mandando ficar calado. Deixo as duas no bar e vou à caça.
Preciso ficar com alguém e ocupar minha cabeça para não pensar besteira.
As duas vão para a pista e começam a dançar. E logo dois caras bem-
afeiçoados se aproximam. Ana sorri para os rapazes, e o homem moreno
nem consegue disfarçar o quanto está interessado nela. Não tenho o direito
de ficar enciumado. A bela ruiva já está na minha. Foi tão rápido.
Não consigo evitar olhar para Ana vez ou outra. Ela parece ter algo
que me puxa. Poucos minutos depois, Bia vem até mim e se despede. Agora
será somente Ana e eu.
Querer eu não quero, mas também não vou ser indelicado a esse
ponto.
Anseio pela resposta de Ana. Eu quero ir embora com ela; quero que
ela deite em meu peito no Uber e que se sinta tão segura ao ponto de
adormecer em meus braços.
Sua resposta me faz sorrir, ela vai embora comigo, mas logo me
recomponho. Os dois se despedem e ele a beija fazendo algo se revirar em
meu estômago.
Quando diz que gostou dele me sinto incomodado, não deveria ter
perguntado. Pego a lista. Preciso mudar de assunto. Desdobro o papel e não
acredito ao ver meu nome ali no fim. Eu sou uma opção?
Estou em choque. Queria sumir nesse exato momento. Lipe está
encarando o papel em completo silêncio.
— Ei, por que não olha pra mim? — Minha vontade é de sair
correndo e me trancar dentro de casa e não sair mais. Continuo em silêncio.
Sua mão segura meu queixo e Lipe com calma levanta meu rosto e me olha
nos olhos. — Me sinto lisonjeado por ser uma de suas opções. — Sinto que
tem um “mas” vindo aí. — Mesmo ficando no fim da lista. — Odeio
quando Lipe sorri assim. Fico mole igual uma gelatina. — Dizem que o
melhor sempre fica pro final. Agora estou começando a acreditar nisso. —
Seu rosto se aproxima do meu. Ai, meu Deus, ele vai me beijar? Mas então
ele se afasta. — Mas não podemos...
— Não fui eu que escrevi seu nome, foi Beatriz pra zombar de mim
— o interrompo. Não vou sair por baixo, e é a verdade. — Por isso está no
final. Bia veio em casa e escreveu enquanto estava mexendo no guarda-
roupa. Ela sabe copiar minha letra. Fazia isso na escola. Já me colocou em
tantos apuros. — Forço um sorriso. Ele se afasta ainda mais. Lipe ia dizer
que não podemos nos arriscar. Ouvir isso de sua boca partiria meu coração.
— Não foi por mal, Lipe, eu entrei em desespero quando vi o nome ali.
— Ana, por que eu não posso ser uma opção? — Sua voz está
arrastada. Ele não estava bêbado assim. — Por que, Ana? Eu sou um
candidato perfeito.
— Você é tão linda. — Me seguro para não gemer quando seu nariz
toca meu pescoço. — Eu sou o candidato ideal. Você não sente a química
que temos? — Meu corpo está quente como nunca havia ficado antes.
— Mas eu não quero. — Lipe beija meu ombro com carinho e vai
subindo. Fecho meus olhos sem saber o que fazer. Ele beija o canto dos
meus lábios. — Eu quero muito te beijar, docinho. Me deixe provar seus
lábios? Quero saber se é tão doce quanto imagino. — Como vou dizer não
se é tudo o que mais quero? Sem pensar muito nas consequências assinto.
Sua mão segura minha nuca e Lipe me beija. Sim, Felipe enfim me
beija. É um beijo calmo. Eu não tenho como descrever o quão bom é beijá-
lo. É melhor do que ganhar um chocolate na TPM, melhor do que o cheiro
de um livro novo, ou até dançar na chuva. Mas o beijo vai se tornando mais
intenso. Sua mão vai descendo e a sinto em meu seio. Não consigo pensar
em nada, em minha cabeça tudo está fora do lugar. Eu só quero mais dele.
Com cuidado ele me deita sobre sua cama e fica com seu corpo sobre o
meu.
Seus olhos estão nos meus. Estou presa no azul mais intenso e lindo
que já vi em toda a minha vida. Envolvo meus braços em seu pescoço
quando seus lábios voltam a explorar a pele do meu ombro até minha
orelha. Cruzo minhas pernas em volta de sua cintura. Seu movimento vai
acelerando.
— Você fica tão gostosa quando goza assim, falando meu nome.
Nenhum outro homem me disse algo desse tipo, e tudo o que quero
pelo resto da minha vida é repetir seu nome várias e várias vezes. Ele para
de mover minha cintura e até penso que já se satisfez, mas ainda o sinto
dentro de mim.
Me viro sem saber direito o que virá depois. Lipe segura minha
perna e a levanta colocando por cima da dele. Ele volta a se encaixar em
mim. Ele distribui beijos por minhas costas, meu ombro e meu pescoço. Sua
mão vai até o meio de minhas pernas e ele me toca enquanto entra e sai
rapidamente de mim. Acho que morri e fui parar no céu.
Por instinto tento fechar minhas pernas quando pela segunda vez
meu corpo é tomado pelo prazer, mas Lipe as mantém abertas, seus dedos
continuam a me torturar. Sua respiração acelera em meu ouvido. Seus
movimentos vão diminuindo o ritmo até parar de vez. Sua mão agora está
em minha cintura. Lipe sai de dentro de mim e abaixa minha perna devagar.
Estamos os dois respirando pesadamente. Fecho meus olhos e não consigo
acreditar no que acabamos de fazer. No que ele me fez sentir.
— Lipe...
— Sim, docinho.
Dessa vez não preciso inventar nada sobre os rapazes, digo somente
a verdade. Como Ana pode ter escolhido um cara que nem gosta do que ela
tem a oferecer? Ela nem deve falar mais com ele. Tenho certeza que esses
nomes aqui são aleatórios. Ela nem pensou neles.
O que posso dizer sobre mim que ela não saiba? É completamente
impossível. Ana me conhece tão bem quanto minha mãe.
Não quero que sinta que está fazendo algo errado. Disse a ela para
procurar alguém que confie e ela pensou em mim. Seguro seu queixo e com
calma levanto seu rosto. Mas será que vale a pena arriscar tudo? Será que
conseguiríamos lidar com a situação se não der certo? E se der? Se eu ficar
com Ana, se beijá-la e sentir algo diferente? Se ela quiser eu estou disposto
a tentar. Sorrio. Aproximo meu rosto, então me lembro que nós dois
beijamos outras pessoas. Não seria um beijo bom. Me afasto. Ana merece
um beijo “limpo”, vamos assim dizer.
Me sento no sofá e não sei direito o que pensar ou como agir. Eu fui
tão... Burro, ingênuo, imbecil em pensar que ela me veria como uma opção.
Ela só me vê como seu amigo eu não sou nada além disso. Por que estou me
sentindo tão incomodado? Será que é o ego ferido? Deve ser isso. Preciso
de algo pra me distrair. Após o banho pego uma garrafa de vodca e sigo
para a cama.
Sorrio ao ouvir a voz baixa da minha mãe cantando parabéns. Me
espreguiço e me sento na cama. Uma bandeja repleta de coisas boas é
colocada sobre meu colo. Minha mãe se senta na minha frente e estamos as
duas sorrindo. Uma pequena vela está em cima do cupcake rosa. Gosto
dessa nossa tradição. É uma coisa simples, mas que sempre me enche de
felicidade.
Desejo que Lipe enfim perceba que fomos feitos um para o outro.
Assopro a vela.
Ela sorri.
— Eu também. — Sai do quarto e fecha a porta.
Como tudo o que minha mãe trouxe. Deixo a bandeja vazia sobre a
cômoda e vou até a janela. Abro somente o suficiente para dar uma
espiadinha em sua casa. Não consigo ver direito então abro um pouco mais.
Parece ser automático, no momento em que olho para a porta lá está Lipe.
Acho que ele foi a algum lugar. Ele está bonito. E quando ele não está?
Pergunta meu subconsciente, me fazendo rir. Ele olha para os lados e depois
para minha janela. A fecho rapidamente. Será que ele sentiu que tinha
alguém espionando? Vou até a cama e me jogo nela. Que vergonha!
— Ele não viu. Ele não viu — repito várias vezes a mesma coisa.
Meu celular vibra e na tela aparece uma mensagem de Lipe. — Ele viu. —
Afundo meu rosto no colchão. Me viro e desbloqueio o celular.
Apoio o celular no peito e rio. Felipe não tem jeito. Ele não mora
sozinho, mora Lipe e seu ego. Eles devem até dividir as refeições, certeza
que já tem vida própria de tão grande que é. Tão grande quanto... Meu
celular vibra e levanto o aparelho. Já estava começando a pensar besteira.
Lipe: O suficiente pra saber que iria até o espaço pra resgatar você,
se fosse preciso. Ninguém tira você da minha vida, Ana. Nem mesmo os
ETs
— Tive que vim ver com meus próprios olhos se você ainda estava
nesse planeta. Me deixou falando sozinho novamente.
Assinto.
— Obrigada.
— Não precisa agradecer. — Sua mão vai até meu cabelo, e Lipe o
coloca atrás da orelha. Queria que ele me beijasse. Queria muito que me
beijasse. — Abra, vamos comer.
— É melhor deixar pra lá. — Ele se vira para mim e sorri. — Ontem
quando cheguei em casa bebi um pouco a mais e depois apaguei. Só não sei
como consegui fazer um curativo tão bem feito. — Ele ergue a mão.
— É Bruno.
— Bom dia.
— Achei melhor te ligar do que mandar mensagem. Como ontem
voltou pra casa tarde, decidi esperar pra ligar, não queria te acordar.
Lipe se vira pra mim e se apoia na janela. Ele parece irritado. Ele
está com ciúmes? Talvez isso seja uma coisa boa.
— Me levar pra sair. — Lipe balança a cabeça tantas vezes, não sei
como não ficou tonto. Ele começa a fazer mímica e me seguro para não rir
das caretas que faz enquanto tenta me dizer que irá me levar pra passear de
moto. — Hoje eu não posso, mas podemos marcar algo durante a semana
após o trabalho. O que acha?
— Sem problema. Te mando mensagem durante a semana. — Lipe
caminha até a cama e se senta me encarando. — Feliz aniversário, docinho.
— Os olhos de Felipe se arregalam. É como se Bruno tivesse acabado de
falar o maior absurdo do mundo.
Bia já foi para casa e minha mãe me deixou sozinha com Lipe na
sala. Ela não tem jeito, o que puder fazer para que eu e ele fiquemos mais
tempo juntos sozinhos ela fará. Estou com o coração apertado, pois daqui a
alguns minutos ele irá subir a serra. Só de pensar que ficaremos uma
semana separados. Se tudo fosse diferente, se ele se lembrasse da nossa
noite, será que me pediria em namoro? Usarei essa semana para tomar
coragem de contar a ele assim que retornar. Não vou conseguir conviver
com ele todos os dias sem dizer o que aconteceu.
— Você nem me levou pra dar uma volta de carro.
Sorrio com sua confissão. Bem que queria passar uma semana com
ele em outra cidade.
— É sim. Você vai tirar de letra — ele diz com tanta firmeza. Lipe
sempre acredita em mim, em meu potencial. — Só está um pouco
enferrujada, docinho. Agora ligue o carro e vamos dar uma volta.
— É melhor não. — Ele sai e bate a porta. Não posso nem reclamar,
o carro é dele. Desembarco e ligo o alarme. — Vou pra casa. Daqui a uma
semana nos vemos de novo — diz sem se virar para mim. Ele dá o primeiro
passo.
— Não duvide.
Sei que duvidei de sua ameaça, não deveria ter feito isso. Estava de
cabeça quente e Ana é orgulhosa. Ela pode morrer de saudade de mim que
não irá ligar ou mandar mensagem só porque duvidei que conseguisse.
Estou confuso demais com tudo isso que estou sentindo ultimamente.
Coloco o capacete e ligo a moto. Talvez esse tempo separados seja bom
para nós dois.
— Não sei se é uma boa ideia. As pessoas podem pensar o que não
devem. — E com certeza não me sentiria à vontade, ainda mais sabendo
que Carlos é um homem casado.
— Nós somos amigos, não iremos fazer nada de errado. — Não sei
porque, mas seu jeito de falar faz eu me sentir culpada. É como se estivesse
insinuando que ele iria querer se aproveitar de mim. — Só vamos sair pra
comer. Outras secretárias já fizeram isso. Não sou nenhum depravado, Ana.
Minha esposa estará ciente, não escondo nada dela.
— Com licença — diz Diana ao entrar na sala. Fico feliz com sua
intromissão. — Preciso que confira um designer que finalizei. Enviei para
seu e-mail.
— Não era pra ter ligado por vídeo. Vai ficar encarando meu
notebook. Olha como esse papel de parede de panda é lindo.
— Por quê? Tem alguém com você? — Sem pensar muito viro o
celular e olho para ele confusa. — Um alienígena.
— Eu sabia que essa pergunta iria te fazer olhar pra mim. — Ele dá
de ombros e só então percebo que Felipe está deitado e sem camisa. Não
posso ficar encarando seu peito ou ele irá perceber. — Você estava com
vergonha por causa do creme no rosto?
— Sim. Você me ligou ontem por voz e pensei que hoje seria assim.
Então tomei banho antes de jantar e já aproveitei e passei um creme.
— Não faça isso, Ana, eu ainda não tive a minha dose diária.
Ainda bem que estou com a máscara verde no rosto, porque devo
estar vermelhinha. Será que Felipe diz esse tipo de coisa a outras mulheres?
Eu espero que não. Que isso seja só meu. Que essa sua versão seja
exclusivamente minha. Eu queria estar lá com ele, deitada nessa cama.
Queria sentir seu braço me envolver mais uma vez após fazermos amor.
— Hoje posso dizer que é o cansaço. Meu dia foi puxado. — É uma
meia verdade. Não vou dizer a ele que a maioria das vezes que fico perdida
em pensamento é por estar pensando nele.
— Espera eu tirar esse creme do rosto? Não posso dormir com ele
ou irei sujar toda a cama. — Felipe assente. — Não demoro. — Deixo o
celular em cima do travesseiro e corro para o banheiro.
“Vai, taca. Taca, taca, taca, taca, taca. Vai, taca. Taca, taca, taca,
taca, taca....”
Estamos os dois rindo. Nunca imaginei que ele iria cantar uma
música do Jerry Smith e MC Zaac. Lipe não gosta de funk ele prefere um
hip-hop, trap ou rap. Ele só ouve sertanejo e pagode por causa de mim. Essa
parte deve ter sido a única que gravou na cabeça. Limpo as lágrimas e
respiro fundo.
Ele ri e assente. Fecho meu olho e sua voz volta a tocar meu
coração.
Assim que coloco o pé para fora do prédio, ouço meu celular tocar.
Acelero o passo, entro no carro e atendo a ligação de Bia.
— Alô.
— Pra dizer a verdade, Lipe me pediu pra ver se estava tudo bem
quando saísse do trabalho. Pensei em mandar mensagem, mas achei melhor
ligar. Sabe como eu sou. Ele disse que hoje teria que trabalhar até mais
tarde e não sabia se conseguiria ver sua mensagem. — Um grande sorriso
se forma em meu rosto. Gosto desse cuidado que tem comigo. Ele pensa em
tudo.
— Avisarei.
— Te amo, amiga.
— Eu também.
“Sei que está trabalhando até tarde hoje e espero que não fique
cansado demais. Quero minha ligação e minha música para dormir.
Saudade.”
Ao entrar em casa, vejo minha mãe no sofá. Hoje ela chegou mais
cedo, geralmente sou eu quem chego primeiro. Ao seu lado está uma caixa
rosa, e eu sei que nela há minhas coisas de quando era bebê. Ao me notar, a
vejo limpando discretamente as lágrimas.
— Eu te amo, mãe. Te amo tanto que nem sei como demostrar todo
o amor que sinto.
Após a conversa que tive com minha mãe, fiquei pensando em tudo
o que passou e realmente não consigo entender como um homem consegue
sumir sem deixar rastros, deixando para trás sua namorada grávida. Estou
tão distraída que me assusto ao ouvir o celular tocar. Limpo as lágrimas e
respiro fundo antes de atender.
— Oi, docinho. — Lipe está sorrindo, mas seu sorriso aos poucos
vai se desfazendo. Agora só vejo preocupação em seus olhos. — O que
aconteceu? — Ele se senta na cama.
— Ela me contou sobre meu pai. Ele sumiu assim que soube da
minha existência. — Apoio o celular no travesseiro e me encolho. Queria
que ele estivesse aqui pra me abraçar assim como faz sempre que estou me
sentindo triste. — Você sabe que sempre quis saber mais sobre ele, mas
nunca tive coragem de perguntar, por saber que era um assunto delicado pra
minha mãe. Hoje, assim que cheguei do trabalho, nos sentamos no sofá e
ela me contou a história.
— Ana.
— Sim.
— Você não precisa me agradecer, docinho. Sabe que por você faço
qualquer coisa.
— Começar?
— Começar a cantar pra mim. Separei seis músicas pra essa noite.
Felipe ri, fazendo um dos meus sons favoritos.
— Porque você faz coisas pra mim que não faz pra mais ninguém.
Daria até pra fazer uma listinha de "coisas exclusivas entre Lipe e Ana".
— Você sabe que não pode fazer promessas em vão. Prometeu tem
que cumprir. — Felipe assente e me sinto ansiosa só de pensar nele
cantando para mim pessoalmente acompanhado por um violão. — A
primeira: você tem uma tatuagem em minha homenagem. A segunda: você
canta somente pra mim. A terceira: quando você está triste ou desanimado,
é a mim que procura. A quarta: você reserva um tempo só pra mim em
todos os meus aniversários. E nos seus também. — Rindo, ele balança a
cabeça concordando. — Quinta: você não permite que nenhuma outra
pessoa me chame de docinho, porque esse apelido é exclusivamente seu.
Lipe, você é uma das pessoas mais importantes da minha vida.
— Com certeza terá. Agora comece a cantar pra mim, senhor Felipe
Martins.
Me olho no espelho e fico feliz com o resultado. Bia me ajudou a
escolher um belo vestido longo preto. Bruno irá me levar para jantar, então
optamos por algo mais formal. Estou me sentindo nervosa. Não pelo
encontro em si, mas por ter que explicar a ele que não vai rolar mais nada
entre nós. Aquela noite foi boa. Ele é um cara legal e com certeza merece
alguém que esteja ao seu lado de coração aberto. Não quero que perca seu
tempo tentando algo que sei que não irá para frente. Escuto uma buzina
tocar na frente de casa. Mas não parece ser de carro. Olho para o relógio e
ainda faltam dez minutos para o horário marcado com Bruno. Será? Meu
coração acelera. Caminho até a janela e a abro. E não acredito no que meus
olhos veem. Felipe tira o capacete e sorri para mim.
— Fazer o quê? — pergunta confuso. O jeito que ele sorri para mim
é tão lindo.
Deus, eu quero tanto casar com esse homem. Ter uma família e
envelhecer ao seu lado.
— Vou lá em cima e já volto. — Não sei para qual dos dois estou
dizendo isso, só sei que ambos concordam.
Eu não acredito que minha mãe falou isso. Percebo que Bruno fica
sem jeito, já Felipe está com um sorriso tão grande que daria para iluminar
a baixada toda.
Tá, eu perdoo minha mãe. Gosto de ouvi-lo dizer que sentiu minha
falta.
— Na verdade...
— Eu não sabia.
Quando Ana se afasta, meu corpo sente falta do seu. Ela segura
minha mão e entrelaça nossos dedos. Ao ver a nova tatuagem, sua
curiosidade fala mais alto. Coloco seu cabelo atrás da orelha. Gosto de fazer
isso porque ela sempre cora. Me aproximo mais e encosto nossas testas. Eu
quero beijá-la, quero muito. Nunca quis tanto beijar uma mulher como
quero beijar minha melhor amiga. Quero saber se será tão bom quanto em
meus sonhos.
— Não aqui. Preferia conversar com você a sós. — Seu olhar vai até
Lipe. Só então reparo que ele está nos encarando enquanto come seu
sorvete. Bruno volta sua atenção a mim. — Podemos dar uma volta na
praia. O que acha? A noite está gostosa.
Eu preciso conversar com Bruno a sós. Mesmo que Lipe não goste,
e que eu goste menos ainda, terei que dispensá-lo. Coloco um sorriso no
rosto e seguro a mão do meu amigo. É incrível como só um toque em sua
pele me faz tão bem.
— Acho que darei uma voltinha com ele. Não se preocupe, pode ir
pra casa descansar. Amanhã você trabalha, eu não.
Felipe olha para Bruno. Segundos se passam e tenho medo que seja
agora que as coisas saiam de controle.
Felipe não entendeu foi nada. Ele tenta pegar o celular e desvio. Seu
braço se envolve em minha cintura e ele me pressiona contra a parede. Me
sinto quente só de tê-lo assim tão perto. Será que consegue ouvir as batidas
do meu coração gritando seu nome?
— Lipe... — eu sussurro.
Seus olhos estão nos meus. Sua mão livre segura meu rosto e então
ele me beija.
Sim, Felipe Martins está me beijando mais uma vez e não está
bêbado. Não é efeito de álcool. Seus lábios estão nos meus e nosso beijo é
intenso. E gostoso. Exatamente como me lembrava.
— Vão para um motel — alguém grita ao passar de carro.
Paramos de nos beijar, mas não nos afastamos.
Ele assente e paga a conta. Vamos até seu carro, e assim que
entramos, me viro para ele.
Sei que em sua cabeça deve estar se passando uma ideia bem
diferente da realidade.
— Espero que ele lhe faça feliz — é o que diz antes de dar a partida
e sumir na estrada.
Eu sei que fará. Se Lipe já me faz feliz sendo meu amigo, imagina
sendo meu namorado? Será que ele irá me pedir em namoro? Sinto meu
coração acelerar. Com a sacola e a sandália em mãos, vou até sua casa. Bato
à porta e não demora para abrir. Ele está sério.
— O que foi? — Toco sua testa franzida. — Por que essa carranca?
— Lipe se vira e entra na casa. Fecho a porta e o sigo até o sofá. Ele se joga
nele e me olha dos pés a cabeça. Ele está pensando... — Pode tirar essa
ideia da sua cabeça.
— Tem que concordar comigo que é estranho você demorar na casa
de um cara e ainda voltar de banho tomado e com as roupas dele.
Não acredito que ele está me dizendo isso. Jogo a sacola com o
vestido nele.
— Eu caí de bunda em cima de um cocô. Queria que voltasse
fedendo pra casa? Aí está o vestido sujo. — Meu coração se aperta. — Você
acha que eu beijaria você e minutos depois iria transar com outro? — Sinto
meus olhos arderem. — E pior... Que depois disso ainda viria bater na sua
porta? Acha que sou o quê? Uma garota da vida?
Seu olhar muda. Ele parece envergonhado.
— Promete pra mim nunca mais falar ou pensar algo daquele tipo?
Levanto meu rosto e olho para ele sorrindo. Sua mão acaricia minha
bochecha.
— Não consigo acreditar. Você não pode ver uma mulher bonita.
— O que seria?
— Desculpa, mas não tem como. Ela tinha sotaque de algum lugar
ou coisa assim?
— Acho que a segunda opção parece uma boa. — Felipe sorri. Ele
segura a bainha da camisa e levanto os braços. Seu olhar percorre cada
pedacinho de pele que agora está à mostra.
Estou nervosa. É como se fosse nossa primeira vez de novo. Ele não
se lembra, acha que foi um simples sonho. Aquela noite foi muito boa, mas
agora, pensando bem, não sei se fiz o certo deixando as coisas saírem de
controle. Mesmo sabendo que tinha uma pequena chance de ele não se
lembrar, eu me deixei levar pelo desejo. Eu realmente acreditei que a
porcentagem de álcool em seu sangue não estava tão alta. Que ele se
lembraria. Se fosse o contrário, eu ficaria muito magoada se ele não me
dissesse que algo rolou entre nós. E prometi a mim mesma que contaria a
Felipe quando retornasse. Só não imaginei que tudo isso iria acontecer.
Estou sentindo algo apertar meu peito. Eu queria que essa fosse mesmo a
nossa primeira vez.
Assinto.
Com todo cuidado, Felipe abaixa uma alça do sutiã e beija meu
ombro e então faz o mesmo do outro lado. Ele retira a peça e a coloca ao
seu lado no sofá. Lipe me olha como se eu fosse uma verdadeira obra
prima. Aquela noite foi boa, mas esse momento está sendo mil vezes
melhor. Nunca imaginei que ele seria assim tão calmo e paciente. Ele está
aproveitando o momento. Suas mãos seguram minha cintura e vão subindo
lentamente, deixando meu corpo ainda mais quente. Elas seguram meus
seios. Lipe encosta a testa na minha. Estamos os dois respirando
pesadamente.
— Lipe.
— Sim, docinho.
Meu Deus do céu, como eu adoro ouvir sua voz nesse tom.
— Você terá tudo o que quiser de mim, Ana. Tudo. — E para firmar
essa promessa, ele me beija intensamente.
Ainda nos beijando, Felipe se levanta e me deita sobre o sofá,
ficando por cima de mim. Sentir sua ereção em minha barriga me faz querer
suplicar a ele que tire o restante de nossas roupas e me tome mais uma vez.
Ele se ajoelha e tira sua camisa. Minhas mãos tocam seu abdômen. Sorrio
ao saber que tudo isso agora é meu. Posso encarar, tocar e fazer tudo o que
sempre sonhei.
— Eu sei que você gosta — ele diz com um sorriso travesso. Felipe
volta a ficar sobre mim, se apoiando nos cotovelos. — Já perdi a conta de
quantas vezes já te vi encarando meu peito.
Felipe me beija com vontade. É tudo tão intenso. Seus lábios vão
descendo até meus seios. Nesse momento meu quadril já se move no ritmo
de seus dedos. Fecho os olhos e aperto seus braços quando sinto que estou
perto. Me sinto frustrada quando seu movimento para. Encaro Felipe sem
entender. Ele volta a se ajoelhar na minha frente.
— Não quero que a primeira vez que goze pra mim seja em meus
dedos. — Segurando com uma mão de cada lado no cós da calça de
moletom, ele começa a tirá-la junto com a calcinha. Levanto minha cintura
e logo estou como cheguei ao mundo. Me sinto um pouco constrangida
quando ele segura minha perna e a coloca sobre o encosto do sofá. Estou
totalmente exposta a Felipe. — Você está vermelha. Não precisa ter
vergonha de mim. Lembre-se quem eu sou. — Ele começa a espalhar beijos
por minha coxa. Ao parar bem entre minhas pernas, ele me olha sorrindo. É
como se ele estivesse prestes a experimentar algo que já queria há muito
tempo. — Relaxa e aproveita Ana.
Forço a cabeça para trás ao sentir sua língua me invadir. Seu dedo
se junta a seus lábios e sua língua. Cada vez mais meus gemidos se
intensificam e ele parece gostar, pois toda vez que os ouve fecha os olhos
como se estivesse ouvindo a melhor melodia do mundo. Aperto o estofado e
espasmos tomam meu corpo. Felipe sobe beijando cada pedacinho de pele.
Felipe não tem noção de como me deixa quando faz isso. Todos os
pelos do meu corpo estão arrepiados.
— Sim. Estou muito feliz.
— Terá que se acostumar. Agora você tem a mim pra te elogiar, pra
te fazer sentir coisas que sei que não havia sentido antes.
— Se eu disser o que quer ouvir, seu ego não caberá nessa cama. —
Nem minha voz quer sair direito. Ele sorri, com certeza está satisfeito em
como me deixou com um simples toque.
— Como assim?
— Uma lista de coisas que você quer fazer. Coisas que tem vontade
e nunca fez.
— Está se referindo a sexo? — Pensar nisso me deixa
envergonhada.
— Sim, farei tudo isso se você quiser. — Sua mão segura meu rosto.
— Me conte quais são suas fantasias, Ana. Fiquei curioso.
— Eu tenho vergonha.
— Docinho, você precisa perder essa vergonha. — Lipe segura meu
queixo, me fazendo encará-lo. — Sou eu, o homem que cresceu ao seu lado,
que te conhece como a palma de sua mão. Eu quero ser tudo o que você
merece, em todos os sentidos. Pode me dizer, não importa o que seja.
Felipe segura minha mão direita e leva até sua ereção. Nem consigo
acreditar que tudo isso é só meu a partir de hoje. Com sua mão segurando a
minha, ele começa a subir e descer. Sem parar o movimento, ele se
aproxima do meu ouvido e diz:
— Estou sendo o pecador indecente que irá tirar toda a sua pureza.
Com um sorriso safado, ele assente. Fecho meus olhos ao sentir todo
o meu corpo ser tomado pelo prazer. Seu nome sai baixinho de minha boca.
Felipe para e solta minhas mãos. Ele se apoia na cama e me beija. Sinto-o
pulsar contra minha barriga e logo o líquido quente se derramar sobre ela.
Estamos ofegantes olhando nos olhos um do outro.
Com meu lanche pronto, caminho até o sofá. Enquanto como, penso
em nossa primeira noite juntos. Eu preciso contar a Felipe, dizer que essa
não foi nossa primeira vez. Irei pedir desculpas. Ele estava bêbado e eu não
deveria ter deixado as coisas saírem do controle. Sei que se dissesse para
ele parar, aquela noite, ele teria se segurado. Me assusto ao sentir um beijo
em meu pescoço.
— Você é impossível!
Ele dá de ombros rindo.
— Pra mim, não. Cada gesto seu me faz pensar várias besteiras. —
Ele aproxima seu rosto do meu e a ponta de sua língua toca o canto
esquerdo da minha boca. Meu coração dispara. Fecho os meus olhos por um
breve momento. Quando os abro, ele está sorrindo. Não sei se amo ou se
odeio esse poder que tem sobre mim. Talvez as duas coisas. — Ainda
estava sujo. Agora está limpinha.
— Acho que estou apaixonada por Lucas — diz tudo de uma vez.
Quase não entendo.
— É engraçado ver uma garota como você que cresceu em uma boa
família falando esse tipo de coisa.
Sorrindo Bia vem até a cama e se senta ao meu lado.
— Vamos deixar claro que não estou ama... Aquela palavra com
“A”.
— Agora vou indo, não quero ficar de vela. E ele beija sim. Se
duvidar rola até beijo de língua. — Ela acena e se vai.
Minha mente fértil está imaginando a cena. Até consigo ver Felipe
sem camisa flexionando os braços como aqueles caras de competição de
musculação. Ou com o rosto colado no espelho beijando seu reflexo. Dessa
vez não consigo segurar o riso.
— Ana, você sabe que te conheço muito bem. Se não me disser, irei
fazer cócegas em você. — Suas mãos sobem até minha costela.
— Está brava?
— Estou!
Não vou gemer. Fecho meus punhos com força. Controle, Ana.
— Sei sim. É uma cara de quem quer gritar: Felipe, por favor, tire
minha roupa. — Rindo ele se levanta e me abraça por trás. — Mais tarde
continuamos. — Beija meu ombro. — Agora preciso me afastar de você ou
esse volume não vai diminuir.
Com ele mais calmo, descemos para tomar café com minha mãe.
O vento gela minhas bochechas. Acho que não foi uma boa ideia
ficar com a viseira do capacete aberta. Já anoiteceu e o vento que vem do
mar está forte. Fecho-a rapidinho e volto a envolver meus braços em sua
cintura. Lipe me chamou para acompanhá-lo na festa de um amigo do
trabalho. Dei uma bronca nele por me avisar em cima da hora, mas
felizmente deu tempo de me arrumar. E como Bia já tem planos com Lucas,
cada uma está com seu par essa noite de sábado. Minha amiga pode dizer
que não, mas sei que está amando aquele homem. Ele conseguiu um
verdadeiro milagre. Lucas, assim como eu, conseguiu parar alguém que é
adepto ao pego e não me apego. Eu sei que ela não ficou com nenhum outro
desde que começou a sair com ele.
Tentei conversar sobre aquela noite com Lipe, mas toda vez que ia
entrar no assunto, algo acontecia. Será que é um sinal para deixar isso
quieto? Tentarei essa noite após a festa. Claro que se ainda estiver em
ótimas condições. Não quero falar de algo tão importante estando bêbada.
— Você também está divina. Seu cabelo ficou lindo com essas
tranças.
Seu sorriso fica ainda maior.
— Tenho tanta coisa pra te contar. — Seu olhar vai até Felipe, que
está atrás de mim. — Onde estaria Ana sem seu fiel guarda-costas? — Os
dois se abraçam. — Como anda a vida?
— Esse bonitão aqui já está saindo com alguém. — Lipe olha para
mim e sorri.
— E ela não tem ciúmes de Ana? — Aponta para mim. — Vocês
dois parecem um carrapato.
Fico encarando Felipe. Estou muito curiosa para saber o que vai
dizer.
Não gosto de ficar longe de Ana. Ainda mais em uma festa como
essa. Meu docinho é linda demais e os homens dão em cima dela na cara
dura. Se ela não pegava geral era porque não queria, e não por falta de
oportunidade. Mas sei que as duas precisam colocar o papo em dia. E Ana
sabe como dispensar um homem, ela já é craque nisso. Não quero que se
sinta sufocada ao meu lado, não posso vacilar como fiz ontem. Eu confio
nela assim como confia em mim. Mesmo com meu histórico.
É estranho pensar que assumi para uma garota que estou saindo com
alguém e não fiz isso porque Ana estava perto. Eu faria até se estivéssemos
em cidades diferentes. Olho em volta e tento encontrar o aniversariante.
Raul está no canto com uma garrafa de tequila já na metade. Por seus
movimentos desajeitados, dá para perceber que já está alegrinho. Me
aproximo e cumprimento todos.
— Quer mesmo saber? — Por seu tom, sei que está querendo me
provocar. Dou de ombros. — Quatro.
Ela me olha com expectativa. Ana quer que eu assuma que estamos
juntos. Mas quando abro a boca, Lavínia aparece chamando seu nome com
uma garrafa de tequila na mão e cinco copos.
— Eu aceito!
Olho surpreso para Ana. Eu sei que também não é muito forte para
bebida. Só quero ver no que isso vai dar.
Já é a terceira rodada. Até agora está tranquilo. Não foi nada
comprometedor. Estamos revezando para cada participante fazer a pergunta.
Agora é a vez de Lavínia e o jeito suspeito que está me olhando me diz que
irá aprontar. Os anos se passaram, mas esse jeitinho não muda. Seus olhos
castanhos estão brilhando e sua testa está franzida. Quando contar a Bia que
ela está de volta, ficará com ciúmes. Elas não chegaram a se ver
pessoalmente, só em chamada de vídeo. Quero apresentar as duas. Tenho
certeza que se darão muito bem.
— Talvez sim, talvez não. — Dou de ombros. Não irei assumir para
ninguém além de Bia.
— Ana, Felipe é o maior galinha que conheço e ele está com você!
— Rio alto. Ela também já está com álcool a mais no sangue. — Tinha que
ser você a mulher a colocar um fim na pegação dele.
— Eu não disse que estamos juntos. — Olho para Felipe, que sorri e
pisca. Tão lindo, e agora é exclusivamente meu.
Assinto.
Não sei onde Lavínia foi parar, mas o rapaz que estava dançando
com ela também sumiu. Felipe se aproxima um pouco mais, e sua mão livre
segura meu rosto com carinho. Seu polegar se move lentamente sobre
minha bochecha. É como se o mundo estivesse em silêncio. Só consigo
ouvir a minha respiração acelerada. Fecho meus olhos e o que eu mais
esperava finalmente acontece. Na frente de todos, ele me beija. Um beijo
calmo. Um beijo que transborda carinho. Eu não sou só mais uma na sua
enorme lista. Esse beijo demostra isso.
— É croped, Lipe.
— Então vamos?
Assinto.
Nós rimos.
A lua está cheia, o que deixa o lugar bem iluminado. Felipe tira a
jaqueta e a estende no chão. Ele gesticula para que eu me sente.
— Vinte e duas — diz. Olho para ele confusa. — No céu tem vinte e
duas estrelas, docinho — explica.
— Conta, Lipe. Você faz isso desde os meus catorze anos. Sempre
que pergunto você desconversa. Por favor. — Lhe dou vários selinhos.
Foi a primeira vez que saí da minha cidade sem minha mãe ou
algum amigo. E também a primeira vez que viajei de helicóptero. Eu gostei
bastante. Apesar de minha relação com meu chefe ainda estar estranha, fiz o
meu trabalho da melhor maneira possível. E mesmo não dizendo nada, pude
ver nos olhos do senhor Carlos que estava satisfeito com meu desempenho.
Agora tudo o que quero é aproveitar o restinho do final de semana
com meu deus grego, abraçar minha mãe e sentir seu cheirinho de amor. Já
faz quase dois meses que Lipe e eu estamos juntos. E a cada dia ele me
surpreende mais. Eu não sei se fiz o certo, mas decidi deixar aquela noite só
em minha memória. Só eu e Deus sabemos do que realmente aconteceu. Eu
estava disposta a contar, mas tudo conspirava contra. E no dia em que
decidi enfim tirar esse peso das costas, ele me procurou nervoso pois tinha
discutido com um dos funcionários da loja. Eu não entendi muito bem, só
sei que esse funcionário mentiu e escondeu algo muito importante dele; que
por ser o gerente acabou recebendo as consequências por algo que não foi
ele que fez. Felipe só repetia que eu era a única pessoa em quem podia
confiar, que nunca esconderia algo dele. E isso pesou de um jeito que nunca
imaginei. Fui fraca e covarde. Sei disso, mas agora já é tarde para voltar
atrás.
Durante esses dois dias, conversamos por telefone até um dos dois
acabar dormindo. Na primeira noite fui eu e na segunda ele. Estamos
empatados. Nós dois juntos somos tão perfeitos. Queria que isso já tivesse
acontecido há mais tempo. Se bem que tudo tem o seu momento certo, e
esse é o meu. Quer dizer, o nosso.
Lipe deita a cabeça em meu peito e ri. Amo tanto esse som.
— Sou louco por você, Ana — diz com a voz baixa em meu ouvido.
Felipe encosta sua testa na minha e em completo silêncio abre o botão da
calça jeans. Meu corpo se contrai ao sentir seus dedos gelados em minha
intimidade quente. — Daqui a pouco eles estarão quentes como você. —
Seus lábios voltam a tomar os meus. Seus dedos se movimentam
lentamente subindo e descendo. Aperto as costas de Lipe ao sentir um se
encaixar dentro de mim. Seu ritmo é delicioso. — Diz pra mim que está
gostando. — Sua voz não passa de um sussurro rouco. — Diz, docinho. —
Seu dedo acelera o ritmo.
— E se alguém aparecer?
— Ok.
— Vamos fingir que isso nem aconteceu. Está tudo bem, pode ficar
tranquila. Ele é só um cara insistente que quer ficar comigo. — Ela segura
minha mão e a de Felipe. — Vamos entrar. Estou preparando um jantar
delicioso pra nós. — Agora sorrindo ela nos leva para dentro de casa.
Algo dentro de mim me diz que essa não é a real história. E que não
foi a última vez que vimos esse tal de Alessandro.
Bia está andando de um lado para o outro dentro do meu quarto.
Daqui a pouco ela vai abrir um buraco no chão e cair no andar inferior. Seja
lá a novidade que irá nos contar, é algo muito importante.
Meu queixo literalmente cai. Olho para Lipe, que está do mesmo
jeito.
— Ei, eu ainda estou aqui! — Bia caminha até a cama e nos separa,
sentando-se entre nós dois. — Será que já estamos assim tão melosos como
vocês?
Rindo ele tira o celular do bolso, passa o dedo pela tela e nos mostra
o vídeo. Eu nem percebi que ele estava gravando. Estava mais preocupada
com minha refeição.
Olho para ele, que balança a cabeça sem parar. Movo os lábios
dizendo que vai apagar sim. Felipe sabe que mesmo resistindo, sempre faz
o que peço. Sempre foi assim.
— Não. — Percebo que ele não queria dizer isso em voz alta. Bia se
vira para ele. — Não se preocupe que vou apagar sim. — Sorri na maior
cara de pau. — Nós somos amigos, eu nem sei porque gravei. Vou apagar
aqui na frente de vocês. – E assim ele faz.
— Precisa ir agora?
Eu quero dizer que não. Que se pudesse já teria me casado com ele
faz tempo. Mas agora, vendo como as coisas estão caminhando bem entre
nós, para que apressar?
Gosto de ver Ana andando pela casa vestida com uma camisa
minha. Ela parece um vestido nesse corpo pequeno e simplesmente perfeito.
Ainda nem consigo acreditar que estamos namorando. Sim, Felipe Martins
sossegou de vez, e graças a ela. Era Ana que eu procurava em outras
mulheres. Eu poderia ter ficado com todas as mulheres do mundo, mas
nenhuma delas iria me conquistar. Ana é única. Esse tempo que já estamos
juntos como um casal me mostrou o quanto posso ser feliz com ela ao meu
lado. Com Ana estou vivendo tantas coisas novas, e estou amando cada
uma delas. Por muitos anos tentei me enganar, me convencer que a via
somente como a garotinha que precisava da minha proteção. A menina doce
e meiga que via em mim o seu herói. Mas sempre senti por ela um amor tão
puro e verdadeiro que me confundia. Mas agora as coisas estão claras. É
com ela que quero ficar.
— Sim, caí da escada agora à noite. — Olho para Ana surpreso. Ela
não me contou que caiu. — O que tudo isso tem a ver?
— Você teve algumas complicações devido à queda — explica a
doutora.
Como vou explicar para Felipe que esse bebê é dele se ele acha que
aquela noite não passou de um sonho? A confusão está estampada em seu
rosto. Ele não precisa dizer nada, seus olhos gritam: como isso é possível?
O arrependimento toma todo o meu corpo. Se tivesse contado o que
aconteceu, Lipe não estaria assim. É como se visse tudo o que construímos
até agora se desmoronar no chão. Uma simples frase faz minha vida que
parecia estar perfeita virar de cabeça para baixo. Agora terei que dar um
jeito de colocar tudo de volta no lugar.
As duas sorriem.
Lipe beija minha testa. Meu coração se aperta por saber que terei
que esperar até amanhã para poder conversar com ele a sós.
— Até amanhã.
Minha mãe nunca me deixou faltar amor. Mas eu queria ser como a
maioria das minhas amigas. O único exemplo de pai que tive foi Fernando,
meu sogro. Sempre achei tão lindo a relação dele com o filho. Eu gostava
de ficar na casa de Lipe quando ele chegava do trabalho. Fernando sempre
brincava com nós dois. Eu me sentia muito feliz. Eu tinha um pai postiço
por alguns minutos do dia.
Crianças são tão inocentes que um dia eu até cheguei a pensar que
meu pai não sabia da minha existência. Ou que não gostou de saber que era
uma menina, por isso não quis me conhecer. Talvez seu sonho fosse ter um
menino. Eu criei tantas desculpas durante a vida para tentar entender a
razão de não tê-lo por perto. Mas no fim a verdade foi a mais dolorosa
possível. Ele nos abandonou porque quis. Me deixou para trás como se não
significasse nada. Era como se minha mãe fosse uma peça de roupa velha
que ele havia cansado de usar.
— Entrem.
— Ainda não sei ao certo, pai. Parece que a ficha não caiu.
— Eu sei filho. Mas agora tudo mudou. Está na hora de deixar a loja
de carros esportivos. — O tom do meu pai me diz que ele está disposto a
me fazer mudar de ideia. Mas isso não vai acontecer. — Você pode tentar
mais uma vez. Lhe darei total auxílio para aprender a rotina e tudo mais. Eu
sei do seu potencial, por isso mesmo acho que deve pensar bem.
Gerenciando a empresa vai conseguir proporcionar a melhor vida para o seu
filho.
— E sua mulher — complementa minha mãe.
— Sim — minto. Ele não precisa saber nada sobre minha vida. —
Agora preciso mesmo ir. — Olho para o celular. Que demora para encontrar
um motorista.
Não gosto de vê-lo sorrir. Toda vez que faz isso, noto a semelhança.
Isso me deixa ainda mais irritada.
— Desculpe — murmura.
— Tchau, Alessandro.
Ele apenas acena com a cabeça. Enquanto nos afastamos, olho para
trás e vejo que continua ali parado encarando o veículo.
— Sim, só não sei o que uma coisa tem a ver com a outra. Eu te
deixei em casa aquela noite e fui pra minha.
— Eu não sou o seu pai, Ana — diz com firmeza. — Eu não sei o
que me magoa mais, você ter escondido algo tão importante pra mim, como
a nossa primeira vez, ou ter acabado de dizer que eu sou como ele. —
Felipe suspira, visivelmente frustrado. Sei que mesmo não querendo, acabei
de ferir seu coração. — Você é a pessoa que mais me conhece, sabe do meu
caráter. Nunca abandonaria um filho. Jamais abandonaria você. — Ouvir
isso é como receber um tapa. Apesar de ele ter razão, não consegui evitar.
— Eu estava disposto a te ajudar, a estar do seu lado mesmo esse bebê não
sendo meu. Eu só precisava saber da verdade. Com quem ficou antes de
mim. Eu confesso que por um momento cheguei a pensar que havia ficado
com outro enquanto estávamos juntos, mas aí me lembrei de que minha Ana
jamais faria uma coisa dessas comigo.
— E Lipe é o pai.
— Sim.
— Eu sei que não deveria ter feito isso, mas foi sem pensar. Quando
me dei conta, as palavras já tinham saído. — Me sento. — Bia, você
cresceu com seu pai ao seu lado te dando amor e carinho. Mesmo que fosse
ausente em alguns momentos, devido ao trabalho, mas ele estava ali por
você. — Encaro a pulseira de ouro em seu pulso. Sei que foi seu pai que a
presenteou em seu último aniversário. — Em todos os dias dos pais você
procurava ele na plateia durante as apresentações. — Toco a joia para que
saiba de quem estou me referindo. — Era para ele que você entregava os
cartões que fazia.
— Sua mãe sempre fez o papel dos dois. Não sente orgulho por
isso?
— Bia, pra ser sincera, eu nem sei mais o que sentir. — Volto a me
sentar. Seco meu rosto. Chega de chorar por hoje. — Quando eu o vi essa
manhã, percebi que queria puxar assunto comigo e não consegui evitar ser
grosseira com ele.
— Sabe o que seria uma boa? — Balanço a cabeça confusa com sua
pergunta repentina. — Contratarmos um detetive pra investigar esse
homem. Meu pai conhece um muito bom. O que acha?
— Não sei.
— Você tem que pôr na balança o que é melhor pra você. Prefere
viver com essa dúvida ou saber de uma vez se é ele? Eu com certeza
escolheria a segunda opção.
Suspiro.
— Eu realmente não sei, Ana, mas saiba que nunca estará sozinha.
Você tem sua mãe, Lipe e eu. E mesmo que agora tudo pareça estar fora do
lugar, mais cedo ou mais tarde as coisas vão se resolver. — Bia me abraça
forte. Mesmo sentindo um peso no coração, eu sorrio por tê-la em minha
vida. — Agora vamos até a cozinha que irei fazer pipoca de chocolate para
a minha afilhada.
— Está muito distraída hoje, Ana. Pelo visto os dois dias que ficou
em casa não foram o suficiente para se recompor — diz, com a voz séria.
Me sinto envergonhada e constrangida. Senhor Carlos não precisava falar
isso na frente de outros funcionários. Era só me chamar atenção após a
reunião. — Preste um pouco mais de atenção. Por favor.
Queria muito sumir nesse exato momento. Quem é que decide fazer
uma reunião faltando apenas alguns minutos para acabar o expediente? O
dia foi tão puxado. Senhor Carlos me fez compensar os dois dias de
atestado. Mesmo tendo ficado outra em meu lugar.
— Isso não vai se repetir — digo já imaginando o que vem por aí.
— Estou com alguns problemas pessoais...
— Lipe?
— Oi. — Levanto meu rosto e encaro seus olhos azuis que me
olham atentamente. — Você precisa de um abraço? — pergunta baixinho.
Ele me conhece tão bem. Um maneio de cabeça é o suficiente. Lipe
solta o cinto e faço o mesmo. Não demora para sentir seus braços me
envolverem. Ali, sentindo seu cheiro e o quentinho de seu abraço, sinto o
meu coração voltar a pulsar.
— Sim, senti falta de cada uma delas. — Lipe segura minha mão
que está em seu rosto e a beija. — Mas posso dizer que de todas as coisas, o
que mais senti falta foi sua amizade. Antes de se tornar o amor da minha
vida, você foi o meu melhor amigo, meu cúmplice e meu herói.
— Se não parar eu vou chorar, estou de TPM. — Nós rimos. Lipe
deita a cabeça em meu ombro e respira fundo. — Eu sei que tem sido dias
difíceis. Mas nós vamos dar um jeito. Vamos consertar as coisas. Tudo
bem?
— Isso é tudo o que mais quero. — E pela primeira vez desde que
descobrimos sobre o bebê, sinto sua mão tocar minha barriga. Meu coração
se aquece quando seus dedos se movem lentamente.
— Docinho?
— Sim.
— Não sei ao certo. — Olho para ele confusa. Não era essa a
resposta que estava esperando. — Eu estou feliz, Ana, mas também
assustado. É muita responsabilidade. Teremos uma pessoinha que será cem
por cento dependente de nós. E se eu fizer algo errado?
— Tipo?
— Não sei. Ele será tão pequeno e frágil. Se por algum acidente
acabar ferindo ele? Eu nunca iria me perdoar. E se lhe deixar faltar algo?
Tem tantas perguntas martelando minha cabeça.
Surpresa com sua confissão, volto a me sentar para poder olhar seu
rosto.
— Eu sei. Foi isso que repeti várias vezes aquela noite. Gosto do
meu trabalho, lá posso ser eu mesmo. Não preciso me esconder atrás de um
terno e gravata. Ficar preso em um escritório. Tenho minha
responsabilidade, mas é uma loja de carros esportivos, totalmente minha
praia. — Sua mão toca minha barriga. Coloco a minha sobre a dele.
Estamos os dois olhando para ela. — Mas fico na dúvida se não seria
melhor pra você e pra ele que eu aceitasse logo o cargo — diz baixinho.
— Sabe no que estou pensando? — Sua voz sai abafada, pois seu
rosto está em meu decote. Fico feliz por ter colocado esse vestido após o
banho. Felipe se afasta e me olha, e só então percebo que não respondi sua
pergunta. Balanço a cabeça. — Como já está grávida, nós podemos fazer
sexo sem camisinha. — Ele se aproxima do meu ouvido e com aquele tom
de voz que tanto amo diz: — Deve ser tão gostoso sentir pele a pele.
— Qual?
— Se a sensação for tão boa como em meu “sonho”, não vou querer
sair de dentro de você.
— Você gosta — diz com firmeza. Está para nascer um homem tão
confiante como ele. E não tem nem como discordar. Sinto seu dedo deslizar
lentamente para dentro de mim. Agora Felipe está me olhando nos olhos
enquanto se move lentamente de um jeito tão gostoso. — Diga que gosta do
meu jeito safado, Ana. — Eu queria era gravar em meu celular ele falando
desse jeito, nesse tom. Seria meu áudio favorito. — Diga, Ana — insiste.
— Lipe...
Sim, algo aconteceu. Sua voz está baixa. Essa não é a minha amiga.
— Não. Só queria sumir dali. — Ela se joga para trás. — Não pensei
que namorar dava tanto trabalho. Deveria ter dito não ao seu pedido.
Continuado na vida que sempre levei, a que estava acostumada. Amar é
uma bosta! — Olhamos para ela surpresos. Bia tapa a boca com a mão.
Parece enfim ter se tocado do que disse. — Não ousem dizer nada sobre o
que acabaram de ouvir.
— Tá bom. Não vou zoar por ser uma situação delicada — diz
Felipe. — Mas acho que vocês devem conversar. Esclarecer as coisas.
Talvez não seja o que está pensando. Deixe ele se explicar. — Olho para
Lipe surpresa com sua maturidade. — Não me olhe assim, Ana. — Ele sorri
sem jeito e coça a nuca. É tão fofo. Parece que voltou a ter seus dez anos
novamente. — Eu posso ser brincalhão e sem filtro, como você mesma já
disse várias vezes, mas também sei falar sério.
— Eu não disse nada — me defendo.
— Valéria pinta o cabelo de tantas cores que nem sei como não está
careca. — Lucas ri e Bia, mesmo tentando evitar, esboça um sorriso. É
assim que gosto de ver minha amiga. Lucas se abaixa e segura sua mão
livre. — Eu amo só você, Beatriz Marinho. Você é a única dona do meu
coração. Não seria burro pra te trair e muito menos levaria outra pra minha
casa sabendo que estava próximo do horário de você chegar.
— Nisso ele tem razão — Lipe diz, e todos nós olhamos para ele. —
Foi mal. Pensei alto.
Lucas se levanta.
— “Está maravilhosa hoje, Ana. Esse conjunto vinho lhe caiu muito
bem”. — Sinto um frio subir por minha espinha. — “Use essa cor mais
vezes”. — Fico encarando o papel, tentando imaginar quem deixou esse
bilhete.
Eu não queria vê-la assim tão preocupada. Faz pouco mais de dois
anos que Diana perdeu o bebê em um aborto espontâneo, e desde então não
conseguiu mais engravidar. Assim que soube que estava grávida, ficou
ainda mais próxima de mim. Ela é uma mulher tão boa e forte. Eu peço a
Deus para que consiga realizar esse seu sonho. Que tenha uma família
grande e feliz.
— Já deu seu horário. Não precisa esperar ele sair. — Ela entrelaça
seu braço no meu.
— Talvez seja coisa da sua cabeça. A pessoa pode ter ficado com
vergonha de falar pessoalmente por saber que você é comprometida.
Senhor Carlos acabou de sair para almoçar com sua esposa. Ele não
parecia muito feliz, acho que as coisas não estão indo muito bem em seu
casamento. E sinto muito por isso. Sempre achei Luiza uma mulher tão
meiga e delicada. Espero que seja lá o que esteja acontecendo, eles
consigam resolver. Ao terminar de organizar a papelada que Carlos terá que
assinar hoje, pego minha bolsa. Perdi dez minutos do meu almoço aqui.
Tenho que dar um corte nela, mas não quero ser grosseiro. Quer
saber? Foda-se!
— Se fosse pra ter alguém me acompanhando, queria que fosse Ana.
Mas não seria uma surpresa se ela visse o presente. — Ela abre a boca, mas
antes de dizer algo, eu continuo. — Valéria, eu amo Ana como nunca
imaginei amar uma mulher e ela está carregando um filho nosso. Apesar de
ter levado uma vida de garanhão, a palavra “traição” não existe no meu
dicionário. Eu respeito ela, nosso relacionamento e nosso filho. Então se
acha que jogando charme pra cima de mim vai conseguir algo, pode
esquecer.
— Está se achando muito, Felipe. — Sua voz agora não está mais
como antes. Toda a alegria e sensualidade se foram.
Aceno e começo a entrar na loja antes que possa dizer alguma coisa.
Suspiro ao perceber que ela enfim se foi. Tudo aqui dentro é tão lindo que
me sinto perdido, mas darei o meu melhor para achar um presente digno de
nosso primogênito. O sexo de ontem foi tão gostoso que sinto que se não
nos cuidarmos teremos vários filhos. Tenho que preparar meu bolso.
Tudo em nossas vidas está caminhando bem. Já fomos a três
consultas do pré-natal juntos e todas elas são especiais para mim. No dia em
que ouvimos o coração do nosso filho pela primeira vez, era Felipe
chorando de um lado e eu do outro. Aquilo foi inesquecível. Agora que o
período mais crítico da gestação passou, chegou a hora de resolver uma das
pendências em minha vida. Não sei se estou fazendo o certo. Eu realmente
espero que sim.
Me sento com o coração apertado. Sei que essa conversa tem uma
grande chance de me destruir, mas tenho que ser forte.
— Ele está bem. Ainda não sabemos o sexo do bebê. — Sorrio sem
mostrar os dentes. Não direi que estamos esperando o chá revelação. Ele
não será convidado. — E os enjoos felizmente já passaram.
Corto o bife e o levo até a boca. Preciso mantê-la ocupada para não
falar o que não devo. Não vou ter esse tipo de conversa com ele. Não vou
ficar comparando para saber no que mais somos parecidos. Alessandro
percebe e então começa a comer. O garçom retira nossos pratos e diz que
trará a sobremesa. Alessandro apoia os dois cotovelos na mesa e me olha
com carinho. É a primeira vez que me olha desse jeito.
— Pare com isso — peço, sentindo meu coração apertar. — Por que
não fala logo a verdade? — Ele ergue as sobrancelhas. — Diz logo que é
meu pai. — No mesmo instante ele abaixa a cabeça. — Olha pra mim,
Alessandro. — Fico feliz por conseguir controlar a raiva e não elevar o tom
de voz.
— Você não tem noção do mal que fez a mim. Ninguém diria que
um homem bonito, elegante e que fala tão bem como você seria um ser sem
coração. Totalmente vazio. Um dos piores tipos que há nesse mundo. — Bia
tinha razão, é muito bom colocar tudo para fora. Minha vontade é ir embora
e nunca mais dirigir uma palavra a ele, mas preciso ir até o fim. — Por isso
dizem que quem vê cara não vê coração. Você é o exemplo vivo disso,
Alessandro.
— Eu sei que mereço todo esse ódio. — Ele baixa os ombros como
se se sentisse derrotado. Alessandro encara as mãos, que estão sobre a
mesa. — Mereço todos os insultos existentes, Ana.
— Por favor, diga alguma coisa — pede em uma voz baixa. Abro a
boca e fecho várias vezes. A dor em meu coração é tão grande que parece
me roubar o ar. Sem pensar muito, me levanto, pego minha bolsa e saio
rapidamente do restaurante. — Ana — ele chama várias vezes e o ignoro.
— Eu sempre quis saber quem era meu pai. Sempre quis ter um pai.
Via minhas amigas comentarem como seus pais eram incríveis, e eu queria
isso pra mim também. Todos os dia dos pais, aniversários, natal, eu
imaginava como seria ter meu pai ao meu lado. — Alessandro abaixa a
cabeça. — Saiba que perdeu a chance de ter uma mulher incrível ao seu
lado. Minha mãe é a melhor desse planeta. A vida é feita de escolhas,
Alessandro, e você fez a errada. — Ele levanta o rosto. As lágrimas
continuam a cair. — Eu vivi sem você até agora e posso continuar vivendo.
Você continua sendo um estranho pra mim. Eu nunca vou te chamar de pai.
Nunca irei te amar como um. Não me procure mais. — Aceno com a cabeça
para Lipe e nos viramos.
— Eu abri mão de você uma vez e não farei isso de novo. — Não
me viro. Minha mão aperta a de Felipe. — Vou implorar por seu perdão até
o último dia da minha vida, Ana. Eu amo você.
— Você vai contar a sua mãe? — Lipe arruma meus cabelos. Ele
sorri para mim, e mesmo ainda sentindo a dor esmagar meu peito, eu sorrio
de volta. Tenho tanta sorte de tê-lo aqui comigo.
— Oi, meu amor. Como foi o almoço com Lipe? — ela pergunta,
distraída, e quando finalmente volta o olhar para mim, se levanta
rapidamente ao ver minha expressão. — O que aconteceu? Por que seus
olhos estão inchados? — Ela toca meu rosto.
— Eu sabia que não iria gostar da ideia, mãe. Por isso não contei
que ia encontrá-lo. — As lágrimas voltam a molhar meu rosto. — Mas
agora eu sei que ele é meu pai. Sei o real motivo do abandono.
— Eu não queria ver você sofrendo assim. Por isso pedi pra ficar
longe dele. — Minha mãe me abraça forte.
Foi tão difícil me concentrar no trabalho hoje. Aquela voz não sai da
minha cabeça. Ele disse que me ama. Aquele maldito homem que nos
abandonou teve a coragem de dizer que me ama. Eu deveria ter dito que
estava mentindo. Mas ouvir aquelas palavras, mesmo que não querendo,
mexeu comigo de um jeito que nunca imaginei. Alessandro não tinha esse
direito. Ele com certeza é a pessoa que mais me machucou. Meu pai, o
homem que deveria me amar incondicionalmente e proteger, é o causador
de uma dor que carregarei para o resto da vida.
— Vamos dar uma voltinha na praia. A noite está linda e sei que
precisa espairecer um pouco.
— Eu sei que ela seria muito chata e sem graça se não tivéssemos
nos conhecido. — Sorrindo, me afasto e balanço a cabeça concordando. —
Você não teria um deus grego que conta piadas de tiozão que você tanto
ama.
— Qual foi a pessoa mentirosa que falou que eu gosto das suas
piadas?
— Não é justo falar esse tipo de coisa pra uma mulher grávida que
está com o coração machucado. — Faço bico e Lipe começa a me dar
vários selinhos.
— Tudo bem.
Enquanto ele se arruma, olho em volta tentando encontrar um lugar
para podermos sentar um pouco.
— Ana.
— Sim?
Me viro para ele e meu coração dispara. Não acredito no que vejo.
Felipe está ajoelhado diante de mim com uma caixinha na mão e nela um
anel brilha intensamente. Meu Deus, eu não posso ter um troço agora. Eu
esperei tanto por esse momento.
Eu vou me casar!
Nervoso, ando de um lado para o outro. Ela está demorando. Sei que
deveria ter pedido sua ajuda antes de encomendar a joia, mas só pensei
nisso ontem. E se Ana não gostar do modelo? Se preferir uma pedra maior?
Por mim, colocaria um tijolo de diamante em seu dedo. Mas agora teremos
um bebê e tenho que manter as contas em ordem. Não posso e não vou
deixar faltar nada para eles.
— Você sabe que eu adorava tirar sarro dos caras quando estavam
apaixonados e bobos por causa de uma garota. E que sempre dizia que
comigo isso não iria acontecer. — Minha mãe balança a cabeça
concordando. — E agora eu estou do mesmo jeito. Me sinto tão... Sei lá.
Ana me desperta tantos sentimentos bons que às vezes me pergunto se isso
tudo é mesmo real.
Não quero dizer na cara dura que sei que o casamento dela está em
crise. De longe se percebe isso.
— Sei que a senhora pode achar que sou jovem demais pra saber
sobre a vida, sobre os altos e baixos do amor e de uma vida a dois, mas
acredito que todos nós merecemos o melhor de nossos companheiros. —
Com minhas palavras, Luiza abaixa a cabeça. Não sei se ela tem uma amiga
de verdade ou alguém que possa abrir seus olhos, mas posso tentar. — A
senhora é uma mulher linda e inteligente. Não estou dizendo que deve
desistir do relacionamento, mas peço que analise com todo o cuidado se
isso é mesmo o melhor para a sua vida. Muitas vezes um ciclo precisa se
encerrar para um melhor começar.
Compadecida com sua dor, seguro sua mão sobre a mesa. Seu olhar
vai até minha barriga, e eu enfim a entendo.
— Estou tentando convencer Carlos disso. Mas ele sempre disse que
queria ter um filho da mulher que ama. Por isso estou fazendo tudo o
possível, mesmo não sabendo se eu sou essa mulher. — Sorri fracamente.
— E também tem o fato dos pais. Carlos tem um certo preconceito. Não
quer adotar uma criança sem saber do histórico dos pais. Doença, vícios e
essas coisas.
— Eu... — Parece até que não sei formular uma frase. — Preciso
falar de um assunto muito sério com o senhor.
— É uma joia muito bonita. Mas ainda não entendo o que uma coisa
tem a ver com a outra. — Seu olhar volta a encontrar o meu.
Abro o bolso lateral da minha bolsa e coloco sobre a mesa os vários
bilhetes anônimos que venho recebendo nos últimos meses. Carlos começa
a ler cada um deles com atenção.
Me afasto de Carlos.
— Obrigado por ajudá-la, mas pode deixar que eu cuido dela agora.
— Felipe envolve o braço em minha cintura. Eu conheço esse tom de voz.
Lipe está com ciúmes. Será que ele sabe que Carlos tem idade para ser meu
pai? Apesar de ser bem conservado, ele não é nenhum garotinho.
— Não precisa agradecer. Vou voltar que tenho uns assuntos pra
resolver. Boa noite, Felipe. — Ele sorri fracamente. — Tenha uma ótima
noite, Ana.
— Não consigo te levar no colo com esse vestido. Esse tecido não
estica e é muito colado, vai rasgar e mostrar minha bunda.
Não consegui dormir direito. Carlos me ligou por volta das nove da
noite de ontem dizendo que já sabe quem é a pessoa. Pediu para que
chegasse um pouco mais cedo e o encontrasse na sala de reuniões. E aqui
estou eu adentrando o prédio. Meu estômago está doendo e meu coração
batendo forte contra o peito. Não sei ao certo o que irá acontecer. Lipe
queria me acompanhar, mas sei que ele poderia facilmente perder a cabeça e
acabar fazendo um escândalo, e não quero isso, pois, apesar de tudo,
estamos no meu ambiente de trabalho. Do mesmo jeito que ele é
responsável em seu serviço, eu também sou. Com o coração quase saindo
pela boca, bato à porta e sou autorizada a entrar.
Caíque vai até minha mesa olha em volta para se certificar de que
não há testemunha e deixa o bilhete. E isso se repete por vários dias.
Consigo confirmar na data e hora que aparecem no cantinho da tela. Chega
o momento do presente. Ele abre a pequena caixa, confere tudo e sorri. Um
sorriso enorme que nunca vi em seu rosto. Por um momento nossos olhares
se encontram e eu não consigo sentir nada. Ele não me olha como se
gostasse de mim. Não tem sentimento ali. Não é como Lipe, nem mesmo
como Bruno quando ficamos. É diferente.
— Não sou nenhum louco psicopata, Ana. Não irei lhe fazer mal, só
achei que... — Ele coça a nuca. — Na verdade, acho que não estava
raciocinando direito. Nunca fiz isso antes. Era pra ser só um bilhete
elogiando a roupa, você estava tão bonita, mas as coisas saíram do controle
e ontem... — Caíque suspira. — Desculpa, não queria te assustar. O
presente foi de coração, não precisa me devolver.
Não quero que ele perca o emprego, mas também tenho medo de
que continue alimentando algo por mim.
Nos levantamos.
— Muito obrigada, nem sei como agradecer por toda essa ajuda. —
Queria agradecer com um abraço, mas acho muito íntimo, então apenas
estendo minha mão com um sorriso verdadeiro estampado no rosto. Carlos
a aperta e também sorri. Um sorriso que nunca vi em seu rosto antes. —
Agora preciso ligar para Felipe. Avisar que conseguimos resolver tudo, ele
ficou tão preocupado.
— Tem certeza?
Assinto.
— Muito. Não sei se reparou, mas não consegui dormir direito essa
noite.
— Nota 7.
— Só isso?!
— E quem disse que não serei? Bia com certeza terá filhos. Vamos
encher o saco deles. — Rindo, balanço a cabeça concordando. Já até
consigo imaginar a cena de nossos filhos brincando juntos, de Lipe os
ensinando essas piadas catastróficas. Não vejo a hora de isso acontecer. —
Agora vamos, docinho. Preciso saber se é um menino ou menina. Não
aguento esperar mais.
— Eu... — Não sei o que responder. Já faz dias que Alessandro está
tentando se aproximar, falar comigo, mas nunca permito. O corto logo de
cara e vou embora. Ele levanta o dedo indicador e move os lábios pedindo
apenas um minuto. — Eu só vou ver o que ele quer. Se não for, ele pode
ficar lá fora esperando e não quero que minha mãe o veja.
Lipe assente.
— Não preciso de nada que venha de você. Meu bebê também não
precisará. — Por instinto, toco a barriga, e não acredito quando o sinto se
mexer.
Não vou deixar Alessandro estragar esse dia tão especial. Nem
sequer sei como descobriu que hoje seria o chá de revelação. Eu sei que
estamos um pouco atrasados era pra ter acontecido final do mês passado.
— Ele vai ser muito lindo — Bia diz enquanto me abraça forte.
— Sim, vai arrasar os corações das menininhas — diz Lucas.
— Se puxar ao pai, está perdida, Ana. Não esqueça que Lipe era um
mulherengo antes de finalmente sossegar. — Bia vai até ele e o abraça, e
Lucas faz o mesmo comigo.
— Eu nunca fui santo, mas sosseguei quando me toquei que o amor
da minha vida estava ali ao meu lado o tempo todo. — Lipe beija minha
testa.
— Sim, meu filho mudou drasticamente, e sou grata a Ana por isso.
— Minha sogra me abraça. — Estou muito feliz em saber que meu primeiro
netinho será um menino, mas confesso que ainda quero uma menininha.
Eles riem. Olho para minha mãe, que está com um olhar distante,
peço licença e vou até ela.
— Sim, meu amor. Estou muito feliz por você. — Ela segura minha
mão. — Quando engravidei, seu pai sumiu e fiquei com muito medo de não
conseguir te criar sozinha. Foi difícil, mas valeu muito a pena. Você se
tornou uma mulher maravilhosa, honesta e batalhadora. Eu tenho tanto
orgulho de você, minha menininha. — Suas lágrimas começam a rolar, e eu
as enxugo.
— Mãe, você é a minha inspiração pra ser o que sou. Espero ser pro
meu pequeno Noah uma mãe tão especial assim como você é pra mim. —
Nos abraçamos.
Nós rimos.
Ela sai em busca da água. Olho para Lipe, que está sorrindo para
mim.
— O que foi?
— Eu só estou imaginando nosso filho correndo por aí, brincando,
fazendo bagunça. Imagino eu o ensinando a jogar futebol e videogame.
Estou tão feliz, Ana. Tudo isso graças a você, meu docinho. Muito
obrigado. — Seus lábios tocam os meus. — É tanta felicidade que parece
que vou explodir a qualquer momento.
— Tenho certeza de que vocês serão grandes amigos.
“Olá, Ana
Se está lendo isso é porque abriu meu presente, e não sabe como
fico feliz por isso. Comprei a ovelhinha pois não sabia se era menino ou
menina, e a moça da loja disse que é unissex. Espero que tenha gostado
dela, eu achei bem fofa. O elefante rosa é pra você.”
Paro de ler e respiro fundo tentando acalmar meu coração. Não
acredito que ganhei um presente dele. Um pouco mais calma, continuo.
“Eu sei que estou lhe devendo muitos presentes, e também sei que
nenhum deles irá suprir a falta que fiz em sua vida. Mas saiba que peço a
Deus todos os dias para que possa me dar uma chance de reparar o maior
erro que já cometi. Quero que saiba que mesmo sendo esse homem burro
que abriu mão do seu maior tesouro por anos, EU TE AMO.”
Eu vou me casar apenas uma vez; tem que ser tudo do jeito que
sonhei. Lipe está em outro setor com seu pai e Lucas escolhendo um terno.
Espero que consiga achar um que goste. Ele também é bem exigente com
suas roupas.
Ela ri.
Nós rimos.
— Não era pra estar aqui. — Sua mãe segura seus ombros e o faz
virar. — Sabe que não dá sorte ver a noiva antes do casamento. Te falei
várias vezes, filho.
— E você sabe que não acredito nessas coisas, mãe. Ela está tão
perfeita. — Lipe tenta se virar, mas ela não deixa. — Ela está linda, me
deixe admirar só mais um pouco? Cinco minutos.
— Tá bom! Mas quero deixar claro que estou indo contra minha
vontade. — Ele para de caminhar, mas não se vira. — Posso tirar uma foto?
Ele ri. Sei que essa pergunta foi só pra provocar. Ele é o homem da
minha vida.
— Pizza de brócolis é ruim demais, docinho. Não pode ser uma com
bastante queijo? — Balanço a cabeça. — Tá. Vamos pedir meio a meio. —
Ele beija minha testa e coloca o capacete em mim.
— Estou. Pode ficar calmo. — Toco seu rosto. Só meu coração que
ainda está batendo rápido demais, mas ele não precisa saber disso. — Estou
bem, Lipe. Foi só um susto. O que aconteceu? Foi tudo muito rápido, eu só
fechei os olhos por alguns segundos.
— Um idiota tentou ultrapassar o carro da frente e quase... — Ele
suspira e passa a mão no cabelo. — Meu pai tem razão. Não vamos mais
sair de moto enquanto estiver grávida. Se você tivesse se machucado, nunca
iria me perdoar. — Seu olhar desce até minha barriga.
— Pare! — digo com a voz firme. Sei o que está se passando em sua
cabeça. — Não quero que pense nisso. Foi um erro do outro motorista, não
seu.
Assim que saio do banheiro, ele entra para o banho. Fico ali
enrolada na toalha sem saber o que fazer. Preciso dar um jeito de fazê-lo
pensar em outra coisa. Eu conheço meu homem, sei muito bem como
distraí-lo. Vou até seu guarda-roupa e pego um belo conjunto de lingerie
vermelha. A calcinha é minúscula. Solto o coque do meu cabelo e o arrumo
como daquela vez na chamada de vídeo. Deixo só a luz do abajur ligada e
me sento na beirada da cama com as pernas cruzadas. Sei que meu corpo
não está mais como antes, a barriga é evidente e já ganhei alguns quilos, e
tive momentos de insegurança, mas Lipe me mostrou que sou linda de
qualquer jeito. Ele abre a porta do banheiro e olha para mim desconfiado.
Sorrio para meu noivo, já deixando evidente as minhas intenções.
— Até que dá pro gasto — digo, tocando cada músculo. Subo até
seu peito tatuado. Meus dedos deslizam por seu braço torneado. — Acho
que está precisando reforçar os exercícios na academia.
Felipe ri. É a primeira vez que faz o som que tanto amo desde o
ocorrido.
— Você acha mesmo? — Ele arqueia a sobrancelha. Assinto. Sua
mão segura a minha. Felipe me faz tocar lentamente cada músculo. Peito,
abdômen e bíceps. Forço uma perna na outra, já sentindo o desejo por ele
pulsar dentro de mim. — Pensei que esse tanquinho estava trincado o
suficiente. — Ele leva minha mão até o “v” em sua cintura. Já posso ver
que está ficando duro. É evidente o volume embaixo da toalha branca.
Molho meus lábios. — Porra, Ana. Não faz isso. — Sua voz mostra o
quanto esse simples gesto o afetou.
— Que delícia, Ana — ele diz entre os gemidos enquanto seu prazer
quente desce por minha garganta. Me afasto recuperando o fôlego. — Só
tem um probleminha. — Ele se curva e sussurra em meu ouvido: — Estou
em desvantagem. Você está muito vestida.
Sinto meu corpo arrepiar. Lipe abre o fecho do sutiã e beija meu
ombro.
— Deite-se, docinho. Quero admirá-la.
Ouvir sua voz cheia de tesão me pedindo para implorar para que
tome meu corpo é provocação demais.
— Cada vez que te olho fico mais apaixonado. E nem sabia que era
possível. — Me viro e vejo Lipe descendo as escadas sorrindo. Seu perfume
inconfundível logo se espalha por todo o cômodo. Queria que ele estivesse
junto na festa, mas sei que essa noite não será possível. Admiro meu
homem. Ele está uma verdadeira perdição. A camiseta preta deixa em
destaque sua correntinha de prata. É difícil vê-lo de calça jeans ele prefere
as de algodão, mas fica gostoso do mesmo jeito. Se Noah for como o pai,
terei cabelos brancos bem cedo. — Eu não posso ir com vocês não? — Ele
me dá um selinho.
— Nem pensar. — Bia entrelaça seu braço no meu. — É noite das
garotas. Você irá aproveitar com Lucas e Beto. Eles já estão lá fora te
esperando. Tchau. — Acena em despedida.
— Eu também. Não beba demais, quero você inteiro pra dizer o sim
amanhã. Juízo, senhor Felipe Martins. Nem pense em tocar em algum peito
por aí. — Ele sabe que estou brincando. Confio plenamente em Lipe.
Lipe vai até a porta, a abre e então para. Ele olha para fora e então
volta sua atenção a nós três.
— Sim, meu pai fez questão. — Bia sorri. — Agora vamos que
planejei várias coisas pra essa noite.
Lipe acena antes de entrar no carro de Lucas e partir. Admiro a linda
limusine branca estacionada em frente a nossa casa. Será a primeira vez que
andarei em uma dessas. Assim que entramos, fico ainda mais admirada; o
estofado é todo de couro bege e as luzes que iluminam o teto são rosa, e
uma música eletrônica toca baixinho. Vejo minha sogra e minha mãe lá
dentro conversando enquanto tomam uma taça de champanhe.
Olho em volta e rio ao notar que sou a única a ainda estar sóbria.
Todas estão se divertindo. A noite está melhor que imaginei. Bia está
dançando com Lavínia e minha sogra. Nunca havia visto Sônia assim tão
solta. Já minha mãe está toda animadinha conversando com o dançarino
fantasiado de médico. Dona Carla está aproveitando mais que eu. Gosto de
vê-la assim tão animada. Esses últimos meses foram tão tensos devido à
volta de Alessandro. Balanço a cabeça. Não vou ficar pensando nele agora.
Mesmo contra minha vontade, Alessandro já tem ocupado muito a minha
mente nos últimos dias.
— Aonde vai? — pergunta Bia aos gritos.
— Ana.
Lucas ri.
— Bia queria a experiência completa. — Ele dá de ombros.
Olho para Beto, que está tão perdido quanto eu, e seguimos Lucas
até uma salinha pouco iluminada. Há um sofá preto de couro e um pequeno
palco com três cadeiras.
— Ela parecia estar te comendo com os olhos. Sabia que iria sair do
controle. Ainda bem que você se levantou, estava a ponto de fazer isso. Se
Lavínia sonhar com isso ela me capa.
— Eu te trouxe.
— Esse bebê é meu e de Felipe — digo com calma para que entenda
cada palavra. — Você está fora de si. Me deixe ir que finjo que isso não
aconteceu. — Claro que é uma grande mentira. Assim que estiver longe de
suas garras, irei direto para a delegacia. — Carlos, isso não é brincadeira.
Estamos falando de um sequestro. Você tem noção disso? Do quão grave é
o que acabou de fazer? — Ele se mantém calado. — Eu tenho uma família,
um noivo. Meu casamento...
— Você precisa entender que estou fazendo isso para que você se
apaixone por mim. — Me forço a não rir. Esse homem está mais louco do
que imaginei. Como ele pode pensar que me mantendo presa vou me
apaixonar por ele? — Eu amo você, Ana. — Balanço a cabeça negando. —
Eu amo sim. Estou fazendo isso por amor. Eu só quero ter a chance de fazer
você me amar como eu te amo. Juro que serei o melhor homem, o melhor
pai. Vamos recomeçar longe daqui. Teremos uma bela casa. Já era para
estarmos bem longe. — Ele bufa e passa a mão no cabelo. Parece estar a
ponto de arrancar cada fio. — As coisas não saíram como o planejado.
— Você não vai fugir, Ana. — Não me viro para Carlos. Continuo a
gritar e bater na porta sem parar. — A partir de agora, você é minha, e esse
bebê também.
Desesperado, saio do veículo. Olho em volta e vejo duas viaturas da
polícia. Isso faz meu coração acelerar ainda mais. Bia me pediu para vir
aqui urgentemente, e senti em seu tom que algo estava errado. Perguntei
sobre Ana e Noah, e ela só disse que não queria falar por telefone. Naquele
momento soube que algo aconteceu com eles. Corro até Carla, mas
Alessandro chega antes.
— Eu juro pela minha vida que vou trazer nossa filha e o bebê de
volta pra casa. — Alessandro segura seu rosto e olhando em seus olhos diz:
— Não vou falhar com vocês dessa vez, Carla. É uma promessa. — Ele
beija sua cabeça.
Ela assente.
— Ana não queria envolver a polícia, pois sabia que você iria ficar
sabendo e não queria que fingisse se importar com ela.
Alessandro suspira.
— Isso nunca vai acontecer, Carlos. Não importa o tempo que passe.
— Sou sincera. — Eu amo Felipe, não quero nenhum outro homem. Você
pode me manter presa para sempre e mesmo assim o único homem que terá
meu coração é o que cresceu ao meu lado. O que me acompanhou em cada
fase da minha vida. — Ele se mantém sério. Não sei se falar isso irá abrir
seus olhos ou complicar ainda mais a minha situação. — Por favor, entenda
isso — suplico. — Eu quero voltar pra casa. Quero minha liberdade de
volta.
— Você que não entende, Ana. Estou arriscando tudo por você. Por
vocês. — Sua mão toca minha barriga e rapidamente a afasto. Ele não vai
encostar um dedo sequer em meu filho. Carlos se levanta. Ele vai até um
pequeno bar e se serve de uísque. — Eu já me apaixonei por outras
secretárias. — Olho para ele surpresa. — Tenho que confessar que nos
últimos anos todas chamaram minha atenção de alguma forma.
E então me lembro da conversa com Luiza. Será que era disso que
estava falando? De ter que lutar por seu casamento cada vez que uma nova
secretária era contratada. Será que ela sabia dessa sua obsessão doentia?
— Não vou deixar você com fome. — Ele se senta na cama e isso
me incomoda. — Vou ficar aqui até terminar de comer.
— Eu sei tudo sobre você, Ana. — Sua mão toca minha bochecha e
engulo em seco. — Você gosta de doces. Ama comer um quando retorna do
almoço. Sei que sempre tem um na sua bolsa. — Como ele sabe tudo isso?
— Quando está ansiosa você morde a ponta da caneta e sorri quando deixa
algo cair da mesa sem querer. Eu sempre te observei. É um dos meus
passatempos preferidos.
— Os bilhetes?
— Por quê?
— Carlos, solte minha mão, por favor — imploro várias vezes. Com
a mão livre, seguro seu pulso. — Está doendo muito. — Lágrimas molham
meu rosto.
O rapaz assente.
— Eu posso ficar? — Vejo a dúvida em seus olhos. — Por favor.
— Não quero ir. — Dou um passo para trás. — Você não precisa
fazer isso, Carlos. Me levar pra outro lugar e me manter presa é loucura.
Meu filho merece ter uma vida normal. Eu mereço — digo desesperada.
Preciso usar todas as armas que tenho. — Você sempre quis ter um filho.
Pare e pense o que sentiria se ele fosse mulher e um homem fizesse com ela
o que está fazendo comigo agora. Ou se Luiza estivesse no meu lugar. Por
favor, não faça isso.
— Ele saberia sim. — Minha voz quase não sai. — Felipe sempre
soube cuidar de mim. Ele sempre me protegeu.
— Você é o vilão. Será que não percebe isso? — Olho por cima de
seu ombro. E com o olhar suplico em silêncio para que Caíque me ajude.
Consigo ver a confusão em seus olhos. Ele não pode deixar esse louco me
levar daqui.
Lipe logo aparece. Eu tive tanto medo de não vê-lo nunca mais.
Olho para minha melhor amiga, que está com lágrimas nos olhos.
— Você passou por muita coisa nas últimas horas. Vou pedir para
prepararem tudo. Você terá seu filho em seus braços antes do esperado.
Estou na sala de pré-parto com um acesso em meu braço e um soro,
que felizmente já está acabando. Eu não estava sentindo contração nem
qualquer tipo de incômodo, provavelmente devido à adrenalina com tudo o
que estava acontecendo. Mas agora já sinto, e não é nada bom. Lipe está ao
meu lado, e percebo por seu olhar que também está tenso. Ninguém
esperava que Noah nascesse agora. Estamos todos com o coração apertado.
Mesmo o doutor dizendo que não preciso me preocupar, que isso pode
acontecer com qualquer mulher, não consigo não pensar no pior. Faltavam
poucas semanas. Já estamos no meio de dezembro.
Falamos tanto sobre isso no último mês. Sorrio para Lipe, que
devolve o gesto.
— Está. Ele passou por uma cirurgia pra retirada da bala. Agora está
em repouso. — Sua atenção vai até Felipe. — Sei que ainda não comeu
nada. Você também passou a noite em claro. Vá se alimentar. Eu fico com
ela.
— Tem certeza?
— Tenho sim. Não quero que deixe meu neto cair de seus braços por
estar fraco demais.
Nós rimos. Lipe me olha. Ele ainda está em dúvida.
A dor agora está insuportável. Se piorar, creio que irei apertar a mão
de Deus. Não imaginei que seria assim. Misericórdia.
Meu sorriso se desfaz com a contração forte que sinto. Aperto sua
mão com toda a força para empurrar mais uma vez.
Olho para a porta e não acredito ao ver todos ali. Assinto e logo o
quarto está lotado. Bia, Lucas, Lavínia e Roberto estão segurando vários
balões azuis. Tem até com o nome de nosso pequeno. Meu sogro está com
um urso branco enorme nos braços. E minha sogra com um jarro de lindas
rosas brancas. Ela a coloca sobre a mesa de cabeceira. Não sei como
conseguiu tudo isso de última hora. Não há um nesse quarto que não esteja
com um sorriso enorme estampado no rosto.
— Ele realmente não tem — diz Lipe todo orgulhoso. — Acho que
podemos fazer mais uns cinco que nenhum nascerá com cara de joelho. Não
esqueça que eu sou o pai. — Não consigo evitar revirar os olhos. — Mas a
beleza da mãe também ajuda. — Pisca.
— Nós vamos dar um tempinho pra vocês — diz Lipe. Olho para
ele, que dá um leve aceno de cabeça. Fico impressionada em como Felipe
me conhece. Eu não teria coragem de pedir para saírem. Todos se despedem
e começam a se retirar. Lipe fica por último. Ele me dá um beijo na testa. —
Abra o coração, Ana. Não tenha medo de dizer o que está sentindo.
Ninguém irá lhe julgar. — Após dar um beijo na cabeça de Noah, ele se vai,
fechando a porta em seguida.
Agora estamos só Alessandro, Noah e eu. Me sinto nervosa. Não sei
ao certo o que fazer. Como colocar em palavras o que estou sentindo aqui
dentro. Ele se aproxima um pouco mais da cama.
— Ele é lindo, Ana. — As lágrimas banham seu rosto, e mesmo
tentando, não consigo conter as minhas. Querendo ou não, estou
apresentando meu filho a meu pai. Nunca pensei que viveria isso. — Eu não
acredito que perdi um momento tão especial como esse. — Sua voz quase
não sai. Eu sei do que está falando. Ele não estava lá para ver quando
cheguei ao mundo. — Posso tocar? Eu lavei as mãos.
Só consigo balançar a cabeça concordando. Alessandro toca a mão
de Noah com todo cuidado. O jeito carinhoso que olha para meu filho mexe
profundamente comigo.
— O tempo que foi perdido não volta mais, Alessandro. Temos que
aceitar isso.
Ele sorri sem jeito. Agora tenho certeza que saiu do quarto
escondido.
Lipe sorri. Eu sei que está feliz por mim. Fecho meus olhos e me
concentro em seu cheiro, que por um momento pensei que nunca mais
sentiria.
— Assim como eu, ele ficou muito preocupado com você. Acredito
de coração que ele se arrependeu. Mas, independentemente do que
aconteça, sempre vou estar ao seu lado pra te apoiar.
— Claro.
— Você ainda vai querer se casar comigo?
— Você está tão perfeita, Ana — fala minha mãe, tentando limpar as
lágrimas sem borrar a maquiagem.
— Ela tem razão. Você está linda demais, não podemos estragar
nada. Você ficou perfeita nesse vestido. — Ela toca a saia.
— Vai dar tudo certo. — Minha mãe beija minha testa e me entrega
o buquê de girassol.
Abraço Lipe.
— Você tem toda razão. — Lipe beija minha cabeça e nos viramos e
voltamos a admirar a vista. — Sabia que te amo tanto que poderia gritar
agora pra todo mundo ouvir?
— Você não faria isso. Tem muita gente aqui, e eles vão pensar que
somos loucos. — Ele se afasta. — Lipe, volta aqui!
— Vou ligar pra minha mãe pra saber como está tudo por lá — digo
assim que chegamos em nosso quarto do hotel. Inicio uma chamada de
vídeo, que não demora para ser atendida. — Oi, mãe! — Aceno.
Vejo que meu pequeno está em seus braços, e sorrio quando ele
tenta pegar o celular de sua mão. A boca de Noah está toda suja de papinha,
o que o deixa ainda mais fofo.
— Ótima! Oi, meu bebê. Mamãe também já está com saudade, meu
amor. — Noah sorri e bate palminhas. Fico toda boba. — E aí, como está?
Esse pequeno está se comportando?
— Vim ver meu afilhado e contar a novidade pra sua mãe. Olha. —
Ela mostra a mão e nela posso ver um anel de noivado. — Lucas me pediu
em casamento e eu aceitei.
Nós rimos. É bem a cara dele. Meu pai é louco pelo neto. Gosto de
ver meus pais se dando bem.
Mesmo estando pouco tempo longe de meu menino, já sinto falta até
de seu cheirinho. De vê-lo sorrir para mim enquanto mama. Da bagunça
que fazemos quando vai tomar banho.
Nós rimos.
— Está feliz?
Fim.
Obrigada a você que leu este livro. Essa é uma nova versão da
primeira história que escrevi em minha vida. Quem já leu a primeira
percebeu que muita coisa mudou. Mas o que não muda de jeito nenhum é o
amor que sinto por ela e por cada personagem. Tenho que assumir que Lipe
é um dos meus personagens favoritos da vida.
J.S
Quando Matheus Oliveira perdeu sua esposa em um trágico
acidente, três anos atrás, toda a sua vida pareceu perder o sentido e seus
dias agora se resumiam a trabalho e mais trabalho; sem família, sem
amigos, sem ninguém que pudesse remendar seus cacos e torná-lo inteiro
novamente.
Juntos eles irão descobrir que o amor pode estar onde menos se
espera.
aquele fim de semana, Luna inventa outro nome para si. A conversa
entre os dois é breve, mas o suficiente para perceber que a química é
instantânea. Mas ela não cai em tentação de primeira. Ela quer um sinal do
destino de que é para acontecer algo entre os dois. Então desafia Gustavo a
encontrá-la na manhã seguinte.