33 - Silva Filho Et Al (2021)
33 - Silva Filho Et Al (2021)
33 - Silva Filho Et Al (2021)
Vol. 33 – Nº 10
Artigo
Análise da Equidade da
Regra 85/95 Progressiva no RGPS
Nota Técnica
Resultado do RGPS: Set/2021
1
MINISTRO DO TRABALHO E PREVIDÊNCIA
Onyx Dornelles Lorenzoni
SECRETÁRIO EXECUTIVO
Bruno Silva Dalcolmo
SECRETÁRIO DE PREVIDÊNCIA
Leonardo Jose Rolim Guimarães
CORPO TÉCNICO
Andrea Velasco Rufato
Eduardo da Silva Pereira
Geraldo Andrade da Silva Filho
ELABORAÇÃO
Eduardo da Silva Pereira
REVISÃO
Otávio José Guerci Sidone
O Informe de Previdência Social é uma publicação mensal do Ministério do Trabalho e Previdência - MTP, de
responsabilidade da Subsecretaria de Regime Geral de Previdência Social e elaborada pela Coordenação-Geral de Estudos
Previdenciários.
É permitida a reprodução total ou parcial do conteúdo desta publicação desde que citada a fonte.
Correspondência
Ministério do Trabalho e Previdência - MTP• Subsecretaria de Regime Geral de Previdência Social
Esplanada dos Ministérios Bloco F, 7º andar, Sala 750 • 70059-900 – Brasília-DF
Tel. (061) 2021-5011. Fax (061) 2021-5408
E-mail: [email protected]
2
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 5
4. ANÁLISE SOBRE A EQUIDADE DAS ATC CONCEDIDAS SOB A VIGÊNCIA DA REGRA ..20
3
Análise da Equidade
da Regra 85/95
Progressiva no RGPS
Silva Filho et al
4
ANÁLISE DA EQUIDADE DA REGRA 85/95
PROGRESSIVA NO RGPS
1. INTRODUÇÃO
1 Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental. Doutor em Economia pela EESP/FGV. Atualmente em exercício na Coordenação Geral de Estudos
Previdenciários da Subsecretaria do Regime Geral de Previdência Social do Ministério do Trabalho e Previdência.
2 Doutor em Economia pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, Mestre em Direito Econômico pela Faculdade
de Direito da Universidade de São Paulo. Ocupante do cargo de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, atualmente em exercício na
Coordenação-Geral de Estudos Previdenciários da Secretaria de Previdência do Ministério do Trabalho e Previdência.
3 Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental. Mestre em Direção e Gestão dos Sistemas de Seguridade Social pela Universidade de
Alcalá/Espanha e pela Organização Ibero-americana de Seguridade Social (OISS) e economista pela UFMG. Atualmente em exercício na Coordenação Geral
de Estudos Previdenciários da Subsecretaria do Regime Geral de Previdência Social do Ministério do Trabalho e Previdência.
4 Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental. Mestra em Antropologia de Orientação Pública pela Universidade Autônoma de Madri/Espanha.
Atualmente em exercício na Coordenação Geral de Estudos Previdenciários da Subsecretaria do Regime Geral de Previdência Social do Ministério do Trabalho
e Previdência.
5 Doutorando em Economia na UnB, mestre e bacharel em Economia pela USP e mestre em Direção e Gestão de Planos e Fundos de Pensão pela Universidade
de Alcalá/Espanha e pela Organização Ibero-americana de Seguridade Social (OISS). É Auditor Federal de Finanças e Controle da STN/ME e atua como
Coordenador-Geral de Estudo Previdenciários na Subsecretaria do Regime Geral de Previdência Social do Ministério do Trabalho e Previdência.
6 Por exemplo, uma mulher de 54 anos de idade que tivesse contribuído por 31 anos, podia se aposentar com valor do benefício integral (igual à média dos
salários de contribuição), pois a soma dos dois valores é igual a 85, enquanto outra mulher, com apenas 30 anos de contribuição, caso se aposentasse, veria a
5
Destaca-se que tais exigências de pontos (somatória entre essa questão, pois, conforme destacado por Afonso (2016),
idade e tempo de contribuição) eram progressivas, ou seja, a análise por indivíduos representativos tenderia a
aumentavam ao longo do tempo. subestimar os indicadores. Atribuímos essa subestimação
envolvida no uso de indivíduos representativos, no caso da
Os resultados apresentados neste artigo, a partir de
TIR, a maiores níveis de densidade contributiva do que a
microdados do RGPS, confirmam algumas previsões
média verificada nos dados administrativos, implicando uma
presentes na literatura a respeito da inequidade da Regra
superestimação de contribuições, e, no caso da TR, a
85/95, mas contraria, em certa medida, outras. Penafieri e
superestimação do crescimento da remuneração ao longo
Afonso (2013), ao analisarem as ATCs do RGPS,
da vida laboral, implicando uma superestimação do
empregaram a metodologia do indivíduo representativo e,
denominador desse indicador.
pela primeira vez na literatura nacional, estimaram e
compararam resultados obtidos com a aplicação do FP Ademais, ao se basear em perfis hipotéticos de renda
versus resultados sob a aplicação da Regra 85/95, que na e idade, as análises de indivíduos representativos não
época se encontrava em análise no Congresso Nacional. O incorporam possíveis alterações de escolha devido à
embasamento teórico vem dos conceitos de neutralidade introdução da regra, nem como tais mudanças poderiam
atuarial e de justiça atuarial7. Os autores calcularam a Taxa impactar a TR e a TIR individuais e médias dos segurados.
de Reposição (TR), a Alíquota Necessária (AN) e a Alíquota Assim, na abordagem dos referidos autores, não se
Efetiva para diferentes grupos, caracterizados com base no considera heterogeneidades de comportamento associadas
tempo de contribuição, na idade de aposentadoria e no sexo a diferentes fatores, dentre eles, níveis de escolaridade e de
dos aposentados. Além de reiterar evidências da renda antes da aposentadoria, que são focos deste artigo.
progressividade das ATCs, mostraram que a Regra 85/95 Nesse sentido, este artigo investiga as
geraria descontinuidades (saltos) em todos os indicadores, heterogeneidades de comportamento segundo os níveis de
decorrentes de fortes elevações do salário de benefício rendimentos e escolaridade dos segurados no que diz
devido à não aplicação do FP quando os trabalhadores respeito à exploração da regra, e como elas podem afetar a
alcançam o limiar de acesso à regra (85, se mulher, ou 95 equidade do RGPS, em termos de TR e TIR dos grupos
pontos, se homem). Os autores concluíram que a regra, ao afetados.
permitir a não incidência do FP, afetaria significativamente
os incentivos à oferta de trabalho, ao estimular a Além dessa expectativa de aumento do retorno para
aposentadoria quando o segurado atingisse a pontuação os segurados com a participação no RGPS, há na literatura
estabelecida. um trabalho que estimou o aumento de despesas
decorrentes da alteração na forma de cálculo do valor do
Por outro lado, a partir de uma análise também benefício das ATCs. Costanzi et al. (2018), por meio de
baseada em indivíduos representativos, Afonso e microssimulações com o subconjunto formado pelas ATCs
Zylberstajn (2019) calcularam que a regra poderia elevar o concedidas pela Regra 85/95 progressiva em seus primeiros
valor da Taxa Interna de Retorno (TIR) anual dos 25 meses de vigência, estimaram um aumento de 21,6% da
aposentados elegíveis em até 0,6 pontos percentuais (p.p.) despesa acumulada no curto prazo (junho de 2015 a junho
no caso dos homens, e em até 1,2 p.p. no caso das de 2017) em relação ao que seria gasto, caso o FP tivesse
mulheres, resultados distintos dos obtidos no presente sido aplicado.
estudo, como se verá adiante. No caso da TR, os autores
estimaram valores inferiores aos encontrados em nosso Costanzi et al. (2018) não estudaram como o
estudo, mas impactos da instituição da regra na mesma aumento de despesas estimado estaria sendo dividido entre
direção8. Entretanto, o método de análise de Afonso e os aposentados segundo seus rendimentos antes da
Zylberstajn (2019) pode não ser apropriado para investigar aposentadoria e seu nível de escolaridade. O presente texto
contribui com essa discussão, permitindo inferências a
A introdução da Regra 85/95 no arcabouço normativo objetivo foi apresentado pelo então Deputado Paulo Paim
do RGPS em 2015 está diretamente relacionada à criação (PL 3.746/2000). Ao longo dos anos seguintes, inúmeras
do Fator Previdenciário, que ocorreu por meio da Lei 9.876, outras propostas foram apresentadas com o mesmo
de 26 de novembro de 1999. Não é o objetivo desse capitulo objetivo. Essas propostas reverberavam um firme e
tratar do FP, mas é importante considerá-lo para constante posicionamento do movimento sindical, de
compreender por que a Regra 85/95 foi criada. aposentados e pensionistas do RGPS e da Associação
Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil
O FP trouxe para o contexto da Previdência Social um
- ANFIP10.
elemento importante para promover maior equilíbrio
financeiro e atuarial ao RGPS, ao relacionar o valor do Em todos os momentos em que se discutiu mudanças
benefício das ATC9 diretamente à idade na aposentadoria e das regras no âmbito do RGPS, esses movimentos
ao tempo de contribuição do beneficiário. Diante das baixas demandaram a extinção do FP. Tal interesse apareceu de
idades de aposentadoria observadas na concessão dessa forma muito clara no Fórum Nacional de Previdência Social,
espécie de benefício e a crescente expectativa de sobrevida realizado ao longo de 2007, constando no documento final
em idades avançadas, para a maioria dos beneficiários o FP do Fórum como um elemento da declaração de dissenso da
implicava uma redução, muitas vezes significativa, do valor bancada dos trabalhadores em relação aos efeitos da
do benefício. transição demográfica na previdência social11. Deve ser
observado também que a implantação gradativa do FP no
Por essa razão, desde a sanção da Lei 9.876/99
cálculo do valor dos benefícios, bem como a evolução da
houve muita resistência a essa forma de cálculo do valor do
expectativa de vida ao longo do tempo foi amplificando seus
benefício, sendo que, ao longo de 16 anos após a sua
efeitos sobre o valor das aposentadorias, o que reforçou na
introdução, o FP se tornou um dos focos das críticas de
sociedade a percepção de que essa regra imporia perdas
trabalhadores e beneficiários ao RGPS. Sem surpresa, logo
aos trabalhadores, estimulando a demanda política pela sua
em 2000 começaram a surgir propostas legislativas visando
extinção. Durante esse período, a posição do Ministério da
extinguir o FP. O primeiro projeto identificado com esse
Previdência Social foi no sentido de demonstrar os efeitos
9 Embora o Fator Previdenciário pudesse ser aplicado às aposentadorias por idade, isso somente ocorria quando seu valor era superior a 1,00.
10 A ANFIP sempre foi uma entidade muito envolvida nas discussões sobre o RGPS. Anteriormente representava os fiscais da Previdência Social, mas após a
unificação das atividades de arrecadação de contribuições previdenciárias com as atividades de arrecadação de outros tributos federais, passou a representar o
conjunto dos auditores fiscais da Receita Federal do Brasil.
11 Ministério da Previdência Social (2009).
7
relevantes do FP para o equilíbrio financeiro e atuarial do substitutivo seria uma regra que afetaria exclusivamente o
RGPS, condicionando o seu fim à adoção de outras medidas cálculo do valor do benefício.
que garantissem efeitos similares em termos de Como o substitutivo do relator não foi votado, o PL
sustentabilidade fiscal do sistema. 3.299/08 continuou tramitando. Em razão disso, entre 2009
Nesse contexto, em abril de 2008, o Senado Federal e 2015 a discussão sobre a extinção do FP continuou
aprovou o Projeto de Lei 296/03, de autoria do agora ocorrendo14, com as principais entidades sindicais
Senador Paulo Paim, extinguindo o FP. Esse projeto foi apresentando recorrentemente a utilização da Regra 85/95
enviado à Câmara dos Deputados onde, renumerado como como uma alternativa ao fim do FP, e que atuaria no sentido
PL 3.299/08, iniciou sua tramitação. A possibilidade real de de favorecer o equilíbrio financeiro e atuarial do RGPS ao
extinção do FP ampliou a pressão das entidades contrárias estimular a postergação da aposentadoria.
ao FP sobre a Câmara dos Deputados. Durante a Uma nova oportunidade para tratar do fim do FP
tramitação, em outubro de 2009, o relator da matéria na surgiu em 2015, com a edição da Medida Provisória (MP)
Comissão de Fiscalização e Tributação, Deputado Pepe 664, de 30 de dezembro de 2014. Embora originalmente não
Vargas, após intensas negociações com trabalhadores e o tratasse do FP, durante sua tramitação, foi apresentada uma
governo, apresentou um substitutivo propondo a adoção da emenda que visava introduzir na legislação a Regra 85/95
Regra 85/95 como condição para a não aplicação do FP no que, uma vez atendida, suspenderia a aplicação do FP no
cálculo do valor do benefício de ATC. Apesar da proposta cálculo do valor dos benefícios de ATC. Retomava-se,
ter sido construída com o envolvimento das principais assim, a proposta apresentada inicialmente em 2009. Essa
centrais sindicais e do governo, parte do movimento dos emenda foi, por fim, aprovada, sendo isso decorrente do
trabalhadores não era favorável ao substitutivo do relator12. contexto político do momento, com uma administração
Como resultado dessa situação e da dificuldade de articular politicamente enfraquecida e, depois de anos de discussão,
interesses divergentes em torno do tema, o relatório não foi uma compreensão dos atores políticos e sociais de que a
votado na Comissão e o projeto encontra-se parado até hoje simples extinção do FP seria improvável, sendo possível, no
na Câmara dos Deputados. Mas essa foi a primeira vez em entanto, introduzir algum regramento que flexibilizasse sua
que a proposição da Regra 85/95 apareceu formalmente aplicação. Nesse momento a posição do governo foi
como uma alternativa à extinção do FP, embora a mesma já contrária à introdução da Regra 85/95, especialmente dado
tivesse sido ventilada e discutida em outros momentos, o contexto econômico em que se deu a discussão e a
mesmo que não de maneira ampla. A partir desse momento, necessidade de reafirmar seu compromisso com um maior
as discussões sobre o fim do FP passaram a considerar a equilíbrio e sustentabilidade fiscal.
possibilidade de aplicação dessa nova regra para a
concessão de ATCs no RGPS. Tendo de lidar com a decisão do Congresso Nacional,
o Poder Executivo, acordou o veto à Regra 85/95 na
A Regra 85/95 na forma apresentada no substitutivo promulgação da Lei 13.135, de 17 de junho de 2015, e a
do Deputado Pepe Vargas se assemelha à previsão contida edição de uma nova Medida Provisória, a MP 676, de 17 de
no inciso III do art. 3º da Emenda Constitucional nº 47, de 5 junho de 2015, introduzindo na legislação a mesma regra,
de julho de 2005, que permite ao servidor público reduzir um mas com a soma de idade com tempo de contribuição
ano da idade de aposentadoria (60/55 anos para progredindo ao longo do tempo. Dessa forma, até o ano de
homem/mulher) para cada ano adicional de contribuição 2022 a Regra 85/95 evoluiria para 90/100. Na tramitação
acima da carência mínima (35/30 anos de contribuição para dessa MP, o Congresso Nacional estendeu esse prazo
homem/mulher).13 No entanto, no caso dos servidores ainda mais, tornando a pontuação 90/100 exigível somente
públicos, ela é uma regra de elegibilidade ao benefício, ou a partir de 2026, conforme a Lei 13.183/15.
seja, acesso à aposentadoria, enquanto no caso do
12 http://www.sinprominas.org.br/noticias/ctb-nova-central-cobap-e-fst-rejeitam-proposta-do-governo-para-aposentadoria/
https://ugt.org.br/post/3054-Sindiapi-na-luta-pelo-fim-do-fator-previdenciario
13 Idades e tempo de contribuição estabelecidos pela Emenda Constitucional nº 41/2003.
14 Ver, por exemplo, a realização de Audiência Pública em 15/05/2012 pela Comissão de Seguridade Social e Família para discutir o PL 3.299/08.
8
Logo, ficou estabelecido que o segurado poderia FP no cálculo do valor de sua aposentadoria, reduzindo-o
optar ou não pela incidência do FP se a soma de sua idade em relação à média dos salários de contribuição.
e de seu tempo de contribuição para o RGPS alcançasse o Ao longo do período entre 1999 e 2015, a discussão
número 85 para mulheres, e 95, para homens, até o dia 30 sobre o FP, especialmente na dimensão política
de dezembro de 2018. Ou seja, o trabalhador passou a congressual e na sociedade de uma forma mais ampla, ficou
poder se aposentar recebendo integralmente a média de
bastante limitada, por um lado, aos seus efeitos positivos
seus salários de contribuição (computado pela média dos para o equilíbrio financeiro e atuarial do RGPS e, por outro,
80% maiores salários entre 1994 e o mês anterior à a uma suposta injustiça por ele promovida ao reduzir o valor
aposentadoria), se a soma de sua idade mais o tempo de dos benefícios concedidos a idades reduzidas. Os efeitos do
contribuição para o RGPS alcançasse o número 85/95 para FP, e da Regra 85/95, que flexibilizou sua aplicação,
mulheres/homens. Portanto, a partir do dia 18 de junho de relacionados a outras dimensões fundamentais da política
2015, quando a MP 676/2015 passou a vigorar, uma mulher previdenciária, como equidade e redução de desigualdades
de 54 anos de idade, que já tivesse contribuído por 31 anos, parecem não terem tido a relevância que talvez
podia se aposentar integralmente, pois a soma dos dois merecessem.
valores dava 85, enquanto que outra, com apenas 30 anos
de contribuição, caso se aposentasse, veria a incidência do
Para aferir os efeitos da introdução da regra sobre o Vale mencionar que antes da vigência da regra, o
comportamento dos segurados, seria necessário acesso às INSS não computava os pontos (somatória entre idade e
trajetórias dos segurados do RGPS ao longo de período tempo de contribuição), então, muito frequentemente as
anterior e posterior à publicação da MP 676/2015 e a adoção aposentadorias iniciadas nesse período não possuem
de algum desenho de avaliação de impacto que permitissem pontuação calculada e disponibilizada na base de dados
inferências causais. Neste trabalho, como o objetivo (84,7% do total delas). Já entre as que se iniciaram após sua
principal não era a análise do impacto da regra, mas avaliar vigência, a situação se inverte, com 85,4% possuindo
a adequação e equidade dos benefícios previdenciários pontuação calculada e disponível na base de dados, como
urbanos, o foco deu-se exclusivamente sobre as indicado na Tabela 1. Foi preciso, então, recorrer à
aposentadorias, não tendo sido utilizadas informações construção da pontuação com base em duas variáveis,
referentes a segurados ainda não aposentados, , nem idade (na Data de Início do Benefício - DIB) e anos de
tampouco o uso de desenho de avaliação de impacto, o que contribuição, presentes na base. Em 70,8% das
poderá ser feito em trabalho posterior. aposentadorias que possuem pontuação disponível na base
a variável construída (proxy) conseguiu reproduzir a
De todo modo, apenas comparando características
pontuação presente nos dados.
de ATCs (espécie B-42) antes e depois da instituição da
regra, foi possível notar mudanças de comportamento dos Apesar de haver erros na recuperação da pontuação,
segurados no que diz respeito à decisão sobre o momento argumenta-se que, ao acertar em mais de 70% dos casos, a
de se requerer a aposentadoria. A análise apresentada nos proxy recupera bem a pontuação necessária para o
próximos parágrafos foi feita a partir de todas as 1.520.700 enquadramento das aposentadorias na nova regra, sem
ATCs (espécie B-42) concedidas que foram requeridas nos grandes diferenças de acertos entre as aposentadorias
anos de 2014 a 2017. Havendo, portanto, aposentadorias iniciadas antes e após a regra, o que é importante para evitar
requeridas antes e após a instituição da regra em junho de vieses na comparação. As análises foram feitas
2015. considerando essa variável proxy. Há maior frequência de
casos em que a variável construída é superior em um ponto,
9
ou seja, mais frequentemente se atribui pontuação de 85/95 homens que se aposentaram com 95 pontos de um período
quando na realidade seria de 84/94. Portanto, é possível que para o outro, de 4,4% para 12,8%, se consideram-se as
os achados apresentados a seguir, no que diz respeito às aposentadorias iniciadas até o final de 2016, ou 13,8%, se
diferenças entre indivíduos que exploraram a regra e os que considerado período mais longo, até o final de 2020.
não exploraram, estejam levemente subestimados. Também Houve ainda elevação da proporção de homens que
podem estar, mas apenas levemente, subestimadas
se aposentaram com 96 a 100 pontos. Provavelmente,
(superestimadas) as proporções de ATC aos 84/94 (85/95) indivíduos que estavam postergando sua aposentadoria
pontos. No entanto, não há razão para subestimação ou para evitar a incidência do FP com a instituição da regra
superestimação sistemática das diferenças encontradas anteciparam sua aposentadoria. Ou seja, há fortes indícios
entre as proporções antes e após a regra. de que houve forte movimento em busca do benefício
A Tabela 2 apresenta a distribuição de aposentados proporcionado pela regra. Antes da regra, a proporção de
por tempo de contribuição antes e após a instituição da homens que se aposentavam com 95 a 100 pontos era de
Regra 85/95. Observa-se queda da proporção de homens 17,5%. Após a regra, esse percentual subiu para 34,4% até
que se aposentaram com 94 pontos do período antes da 2016 e 34,0% até 2020, quase dobrando.
instituição da regra para o período de vigência da mesma,
de 5,0% para 4,0%, e forte elevação da proporção de
Nota: As diferenças entre a variável proxy e a pontuação foram sempre de 1 para mais ou para menos.
Fonte: Suibe. Elaboração dos autores.
10
Tabela 2 ─ Distribuição de ATC antes e depois da instituição da Regra 85/95, segundo a pontuação do segurado
- Homens
DIB
Tabela 3 ─ Distribuição de ATC antes e depois da instituição da Regra 85/95, segundo a pontuação da segurada-
Mulheres
DIB
11
A Tabela 3 apresenta a distribuição análoga para as quantidade de aposentadorias com pontuações superiores
mulheres aposentadas antes e após a instituição da regra. a 85/95 pontos até as pontuações respectivas associadas a
O fenômeno é semelhante, com queda da proporção de FP igual ou superior a um. Entre os homens, essa
aposentadas com 84 pontos, de 6,1% para 4,1% e forte pontuação, em média, é de 101 pontos; já entre as
elevação da participação de aposentadas com 85 pontos, de mulheres, é de 96 pontos.
6,3% para 15,8% e do total de aposentadas com 85 a 93
A análise dos termos de troca intertemporais
pontos, de 29,7% para 53,2%. envolvidos na decisão de postergar a aposentadoria revela
É interessante notar que o aumento da participação resultados interessantes. A cada ponto adicional
de aposentadorias, em ambos os sexos, ocorre na faixa de conquistado, o segurado tendia a obter, em média, um
pontuação em que o FP é inferior a 1, em média (identificada aumento do benefício de aposentadoria de pouco mais de
pelas células hachuradas nas Tabelas 2 a 5). Quando se 3%, ao ter elevado o FP. Com a instituição da regra,
atinge pontuações em que o FP, em média, é maior que um, permitindo a não incidência do FP, o ganho marginal de
observa-se queda da proporção de aposentadorias do postergar a aposentadoria dos 94 até se atingir 95 pontos
período anterior para o posterior à instituição da Regra ficou em 24,3% para os homens e 49,1% para as mulheres
85/95, conforme indicado pelas Tabelas 4 e 5. (ver Tabelas 4 e 5). Nesse cenário da nova regra, os ganhos
marginais entre 95 pontos e 101 pontos, no caso de homens,
As Tabelas 4 e 5 mostram ainda os ganhos marginais
e entre 85 e 96 pontos, no caso de mulheres, tenderam a
associados à postergação da aposentadoria. Antes da
desaparecer, eliminando incentivos a postergar a
instituição da regra, os ganhos marginais são bastante
aposentadoria até se atingir os 95/101 pontos, quando, pelo
homogêneos, refletindo a elevação marginal dos fatores
fato de o FP ser superior a um, em média, volta-se a ter
previdenciários ao longo da pontuação devido ao aumento
incentivo a se postergar a aposentadoria e optar pela
da idade e menor duração esperada do benefício. Fica
aplicação do FP.
evidente que a regra gerou incentivo muito elevado para se
postergar a aposentadoria até os 85/95 pontos, com Em suma, houve aumento da proporção de quem se
aumento médio do valor do benefício de 49,1% para aposenta com pelo menos a pontuação definida pela regra,
mulheres e 24,3% para homens, e eliminou qualquer ganho beneficiando-se da não incidência do FP. Nesse grupo estão
na postergação logo após o acúmulo dessa pontuação. incluídos não só os que tinham acabado de completar a
Esses fatos provavelmente justificam o comportamento da pontuação mínima exigida, mas também os que já tinham o
distribuição de aposentadorias segundo os pontos, direito de se aposentar pela ATC há algum tempo, mas
conforme Tabelas 2 e 3. continuavam a contribuir ou aguardavam para requerer a
aposentadoria com idade mais elevada, de modo a elevar o
A instituição da regra, pelo que os dados mostram, foi
FP e, portanto, obter benefício de maior valor.
responsável pela redução da concessão de aposentadorias
em idades mais precoces, até os 53 anos entre mulheres e Os Gráficos 1 e 2 apresentam as distribuições de
até os 57 anos entre os homens, momentos em que concessões de ATC de homens e mulheres,
usualmente ainda não ocorreu a perda da capacidade respectivamente, com base na pontuação obtida no
laboral. No entanto, verifica-se que tal feito, ao invés de ser momento do início da aposentadoria para diversos
realizado por meio da fixação de uma idade mínima de momentos do tempo, antes e depois da instituição da Regra
acesso, decorreu do incentivo relativo ao aumento esperado 85/95. Antes da Regra 85/95, nas regiões mostradas nos
dos valores médios de benefícios, devido à inaplicação do gráficos, a relação entre quantidade de ATC e pontuação
FP. Com a regra, houve forte redução da proporção de era quase linear, quanto maior a pontuação menor era a
aposentadorias antes de se atingir 85/95 pontos, de 66,1% proporção de ATC concedidas. A Regra 85/95 alterou
para 42,8% no caso das mulheres, e de 77,4% para 61,3% profundamente essa relação.
no caso dos homens. Por outro lado, segurados que As principais conclusões que os gráficos permitem
estavam protelando o momento da aposentadoria com o extrair são:
intuito de ver seu FP subir deixaram de ter incentivo para
• houve forte elevação, com aceleração ao longo do
manter essa decisão. Assim, verificou-se elevação da
12
tempo, da proporção de ATCs aos 85/95 pontos; anterior à instituição da regra;
• houve elevação temporária das ATCs com mais de • houve redução, aparentemente mais duradoura, de
85/95 pontos, ou seja, com o passar do tempo, a ATCs com pontuações inferiores a 85/95 pontos,
proporção de aposentadorias acima do valor mesmo que em menor grau com o passar do tempo
estabelecido pela regra tendeu a voltar ao nível
Tabela 4 ─ Fator previdenciário médio antes e depois da instituição da Regra 85/95, segundo pontuação - Homens
13
Tabela 5 ─ Fator previdenciário médio antes e depois da instituição da Regra 85/95, segundo pontuação - Mulheres
14
Gráfico 1 ─ Distribuição das concessões de ATC de homens por pontos em diferentes momentos do tempo
12%
8%
4%
0%
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101
antes regra 12-18 meses antes regra 6-12 meses antes regra 0-6 meses após regra 0-6 meses
após regra 6-12 meses após regra 12-18 meses após regra 18-24 meses após regra 24-30 meses
Nota: Estão apresentadas no gráfico as distribuições de concessões de ATC de homens com pontuação apenas no intervalo entre 90 e 101 em diferentes
momentos do tempo, tendo como referência o momento de instituição da regra. Foi escolhido intervalo de pontuação que englobasse o ponto de corte da Regra
85/95 onde se observou maior variação na distribuição das ATC antes e depois da instituição da regra. Assim, o total de concessões apresentados no gráfico
não constituem a totalidade de ATC e, portanto, não somam 100%.
Fonte: Suibe. Elaboração dos autores.
Gráfico 2 ─ Distribuição das concessões de ATC de mulheres por pontos em diferentes momentos do tempo
16%
12%
8%
4%
0%
80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95
antes regra 12-18 meses antes regra 6-12 meses antes regra 0-6 meses após regra 0-6 meses
após regra 6-12 meses após regra 12-18 meses após regra 18-24 meses após regra 24-30 meses
Nota: Estão apresentadas no gráfico as distribuições de concessões de ATC de mulheres com pontuação apenas no intervalo entre 80 e 95 em diferentes
momentos do tempo, tendo como referência o momento de instituição da regra. Foi escolhido intervalo de pontuação englobando o ponto de corte da Regra
85/95 onde se observou maior variação na distribuição das ATC antes e depois da instituição da regra. Assim, o total de concessões apresentados no gráfico
não constituem a totalidade de ATC e, portanto, não somam 100%.
Fonte: Suibe. Elaboração dos autores.
15
Se, por um lado, a Regra 85/95 estimulou a A Tabela 6 mostra um último ponto importante.
postergação de aposentadorias até os 85/95 pontos, Enquanto a proporção de mulheres com o EM completo que
gerando a elevação da idade média de ATCs (em 0,45 ano se aposentam com pontuação entre 86 e 91 pontos, após
naquelas com DIB entre 2014 e 2017, com destaque para forte elevação no primeiro ano de vigência da Regra 85/95,
mulheres – 0,89 ano15), o que pode ter tido algum efeito em volta aos poucos ao nível pré-regra, a proporção das que
termos de reduzir as disparidades entre ATC e não possuem o EM completo nessa mesma condição se
aposentadorias por idade (AI), por outro lado, a regra gerou eleva menos intensamente sob a vigência da Lei
a elevação dos valores médios dos benefícios ao permitir a 13.183/2015 e, muito mais lentamente, caminha em direção
não incidência do FP, o que tem o papel de elevar ao nível anterior, mantendo-se, mesmo após 24 a 30 meses
disparidades entre ATC e AI e, entre as próprias ATCs, de do início da regra, quase 7 p.p. acima do nível anterior. Por
quem explorou a regra versus de quem não a explorou. outro lado, a proporção que se aposenta exatamente aos 85
Então, importa entender a comparação entre os grupos de pontos é bem maior entre as mais escolarizadas em todo o
ATCs que, de fato, exploraram ou não a regra e levantar período após a instituição da regra. Esta heterogeneidade
explicações para esse fenômeno. parece indicar uma maior demora das mulheres sem EM
para usufruir da regra, havendo tendência de, quando o faz,
Quando se separa e se compara as ATCs de
aposentar com pontuação maior do que a limítrofe.
mulheres com e sem o ensino médio (EM) completo16,
percebem-se algumas diferenças nos comportamentos das Para os homens ocorreram fenômenos parecidos,
distribuições nas diferentes pontuações e em diferentes conforme pode ser visto nos Gráficos 4A e 4B e Tabela 7. A
momentos do tempo. As mulheres com graus de instrução proporção de aposentados com 95 pontos que têm EM
mais elevados exploraram mais rapidamente a mudança. Ao completo sobe mais rápida e fortemente do que a de
olhar para os Gráficos 3A e 3B, nota-se que a proporção de aposentados que não completaram o EM. A proporção de
mulheres que se aposentaram com pontuação entre 85 e 91 homens com EM aposentados entre os 96 e 101 pontos
pontos cresceu mais entre as mulheres com EM completo sobe muito mais e por mais tempo do que os que não
do que entre as que não atingiram essa escolaridade. Antes concluíram o EM. Ou seja, dentre os que já possuíam mais
da instituição da regra, a proporção de aposentadas com 85 de 95 pontos no momento de instituição da regra, os mais
pontos com EM completo sobe de maneira mais rápida e escolarizados moveram-se mais, e rapidamente, enquanto
acentuada, partindo de nível semelhante à proporção das os menos escolarizados parecem ter mais frequentemente
mulheres sem o EM, mas entre 6 e 12 meses após a mantido a decisão de postergar a aposentadoria. Assim
instituição da regra a proporção foi de 5 p.p. superior entre como ocorreu com as mulheres, pode ser indício de que os
as mulheres com EM completo. mais escolarizados obtiveram conhecimento da regra antes
ou que mais rapidamente puderam reverter sua decisão de
Observa-se ainda que o trecho da curva de
postergar a aposentadoria ou ainda que parte dos menos
distribuição entre os 86 e 91 pontos para as mulheres sem
escolarizados preferiram aguardar seu FP se elevar acima
o EM demora mais tempo para voltar ao nível pré-regra do
de 1 para obter benefício com maior valor.
que a das mulheres com EM completo. Ou seja, dentre as
que estavam com mais de 85 pontos, as mais escolarizadas
moveram-se mais rapidamente, se aposentando antes das
menos escolarizadas. Isso pode ser indício de que as mais
escolarizadas obtiveram conhecimento da regra antes ou
conseguiram interpretá-la melhor e, assim, reagir de
maneira estratégica, ou ainda que, mais rapidamente,
puderam reverter sua decisão de postergar a aposentadoria.
15 Observe que a antecipação das aposentadorias dos trabalhadores que tinham uma pontuação acima de 85/95 quando da introdução da regra também contribui
para o aumento da idade média de aposentadoria. Mas esse efeito deve ser temporário.
16 O agrupamento das ATCs segundo grau de escolaridade separando segurados com e sem o EM completo foi feito de modo a simplificar a análise e sua
exposição, juntando as escolaridades mais parecidas em termos da distribuição de ATCs por pontuação.
16
Tabela 6 ─ Proporção e distribuição de mulheres que se aposentam com pelo menos 85 pontos antes e depois da
Regra 85/95
Com EM completo 36,7% 37,7% 35,5% 68,8% 59,2% 52,5% 49,3% 49,1%
Até EM incompleto 43,9% 44,7% 43,9% 58,7% 55,8% 52,9% 53,3% 54,2%
Com EM completo 7,9% 8,0% 7,1% 11,5% 14,8% 15,7% 16,5% 17,8%
Até EM incompleto 8,0% 7,4% 7,6% 8,9% 9,8% 10,4% 10,9% 11,1%
Com EM completo 28,8% 29,6% 28,4% 57,4% 44,4% 36,8% 32,8% 31,3%
Até EM incompleto 36,0% 37,3% 36,3% 49,8% 46,0% 42,6% 42,4% 43,1%
Gráfico 3 ─ A: Distribuição das concessões de ATC de mulheres com ensino médio completo, por pontos e em
diferentes momentos do tempo
18%
12%
6%
0%
80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95
17
B: Distribuição das concessões de ATC de mulheres sem Ensino Médio Completo, por pontos e em diferentes
momentos do tempo
12%
8%
4%
0%
80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95
antes regra 12-18 meses antes regra 6-12 meses antes regra 0-6 meses após regra 0-6 meses
após regra 6-12 meses após regra 12-18 meses após regra 18-24 meses após regra 24-30 meses
Nota: Estão apresentadas no gráfico as distribuições de concessões de ATC de mulheres com pontuação apenas no intervalo entre 80 e 95 em diferentes
momentos do tempo, tendo como referência o momento de instituição da regra. Foi escolhido intervalo de pontuação englobando o ponto de corte da Regra
85/95 onde se observou maior variação na distribuição das ATC antes e depois da instituição da regra. Assim, o total de concessões apresentados no gráfico
não constituem a totalidade de ATC e, portanto, não somam 100%.
Fonte: Suibe. Elaboração dos autores.
Tabela 7 ─ Proporção e distribuição de homens que se aposentam com pelo menos 95 pontos antes e depois da
Regra 85/95
Antes regra Após regra
12-18 6-12 0-6 0-6 6-12 12-18 18-24 24-30
meses meses meses meses meses meses meses meses
Homens 25,4% 26,3% 25,3% 42,0% 38,3% 35,4% 34,0% 34,3%
Com EM completo 24,8% 25,6% 24,4% 46,8% 41,0% 36,7% 35,4% 34,9%
Até EM incompleto 25,9% 26,9% 26,1% 37,8% 35,8% 34,2% 32,7% 33,8%
95 pontos 6,1% 6,0% 5,5% 9,3% 10,4% 11,0% 11,1% 11,8%
Com EM completo 5,9% 5,7% 5,3% 10,7% 11,9% 12,6% 12,9% 13,6%
Até EM incompleto 6,2% 6,2% 5,8% 8,1% 9,0% 9,7% 9,5% 10,2%
96 ou + 5,0% 5,3% 4,7% 8,3% 7,3% 6,7% 6,4% 6,5%
Com EM completo 4,8% 5,1% 4,4% 9,3% 7,6% 6,8% 6,5% 6,4%
Até EM incompleto 5,2% 5,5% 5,0% 7,5% 6,9% 6,6% 6,4% 6,6%
Fonte: Suibe. Elaboração dos autores.
18
Gráfico 4 ─ A: Distribuição das concessões de ATC de homens com ensino médio completo, por pontos e em
diferentes momentos do tempo
15%
10%
5%
0%
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101
B: Distribuição das concessões de ATC de homens sem Ensino Médio Completo, por pontos e em diferentes
momentos do tempo
12%
8%
4%
0%
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101
antes regra 12-18 meses antes regra 6-12 meses antes regra 0-6 meses após regra 0-6 meses
após regra 6-12 meses após regra 12-18 meses após regra 18-24 meses 24-30 meses
Nota: Estão apresentadas no gráfico as distribuições de concessões de ATC de homens com pontuação apenas no intervalo entre 90 e 101 em diferentes
momentos do tempo, tendo como referência o momento de instituição da regra. Foi escolhido intervalo de pontuação que englobasse o ponto de corte da Regra
85/95 onde se observou maior variação na distribuição das ATC antes e depois da instituição da regra. Assim, o total de concessões apresentados no gráfico
não constituem a totalidade de ATC e, portanto, não somam 100%.
Fonte: Suibe. Elaboração dos autores.
19
4. ANÁLISE SOBRE A EQUIDADE DAS ATC CONCEDIDAS SOB A VIGÊNCIA DA
REGRA
Como visto na seção anterior, ao se analisar ATC regra vai de encontro com o objetivo da previdência social
antes e após a instituição da Regra 85/95, percebe-se que a de atenuar as desigualdades de renda pré-existentes.
resposta dos segurados aos incentivos criados variou As análises apresentadas a seguir são fruto do estudo
conforme seu nível de escolaridade. Esta seção apresenta realizado em meio à Avaliação de Benefícios
a análise da equidade local das ATC considerando a Previdenciários Urbanos no âmbito do CMAG-CMAP. Como
possibilidade de não se aplicar o FP segundo a Regra 85/95. relatado em Silva Filho et al. (2021), foram analisadas
A partir do cômputo da Taxa de Reposição - TR e da Taxa aposentadorias da clientela urbana concedidas ao longo do
Interna de Retorno - TIR para grupos de aposentados por ano de 2018 e iniciadas entre 2016 e 2018, garantindo que
ATC que exploraram vis-à-vis os que não exploraram a todos os benefícios tenham sido concedidos sob as mesmas
regra, considerando-se os níveis de escolaridade e de condições vigentes, incluindo as impostas pela Regra 85/95.
rendimentos antes da aposentadoria, analisa-se como a
A Tabela 8 apresenta informações a respeito das exploraram a Regra 85/95, a TR atingiu a média de 92,3%,
características das ATC concedidas em 2018 no entorno do quase 18 p.p. a mais.
limite de pontuação que permite aos segurados optar pela As mulheres que se aposentaram ao completar 85
não incidência do FP. Como visto na seção anterior, após a pontos obtiveram valor de benefício médio de R$ 3.026,49,
publicação da MP 676/2015, que instituiu a regra, a cerca de 91,9% superior ao valor de benefício médio das
quantidade de segurados que se aposentam ao completar mulheres que se aposentaram quando computavam 84
85/95 pontos é muito maior do que as que se aposentam pontos, conforme pode ser visto na Tabela 8. Enquanto os
com 84/94 pontos. benefícios das primeiras correspondem integralmente à
O Gráfico 5 ilustra bem o efeito da não incidência do média dos salários de contribuição, sem penalização da
FP na reposição de rendimento pelas ATC de homens e incidência do FP no caso de valores inferiores a um, os
mulheres. As descontinuidades (saltos ou grandes benefícios destas últimas sofreram a incidência de FP médio
variações) na TR ao redor das pontuações 85/95 são de 0,67317. Ao decidirem pela aposentadoria sem completar
evidentes, ilustradas pelas linhas tracejadas no gráfico. Para 85 pontos, estas aposentadas receberam benefício médio
mulheres que decidiram se aposentar por tempo de cerca de R$ 758,20 inferior, em valores de dezembro de
contribuição contabilizando 84 pontos na soma de idade e 2018, ao que poderiam ter obtido caso tivessem aguardado
tempo de contribuição, a TR média ficou em 74,6%, já para completar os 85 pontos18. Os homens que se aposentaram
as que se aposentaram apenas quando contabilizaram 85 ao completar 94 pontos, e não postergaram a aposentadoria
pontos, isto é, postergaram o momento da aposentadoria e até os 95 pontos, vivenciaram uma perda menor, R$ 534,05,
mas ainda assim bastante substancial.
17 Note-se que a diferença de valor médio de benefício é resultado da homens), estimaram-se os salários de benefícios antes da incidência do FP
interação entre menores salários de contribuição ao longo de sua vida de cada segurada dividindo o valor do benefício pelo FP. A perda estimada
laboral entre as mulheres que se aposentaram com 84 pontos e incidência consiste na diferença entre esse salário de benefício antes da incidência do
do FP na definição do valor de seus benefícios. FP e o valor do benefício.
18 Para se chegar a esse valor (construção análoga foi realizada para os
20
Homens Mulheres Total
Remuneração média 36 meses (R$) 3.311,18 4.791,52 2.748,03 4.298,65 3.059,21 4.559,89
Ganho/perda com regra (R$) -534,05 594,36 -758,20 963,20 -634,34 774,81
Ganho/perda relativa (valor benefício) -25,8% 18,4% -48,1% 31,8% -34,3% 24,7%
Quant contr 36 meses antes DIB 29,3 30,0 30,4 31,6 29,8 30,8
Quant contr 12 meses antes DIB 9,6 10,1 9,8 10,3 9,7 10,2
Escolaridade:
Notas: Importante notar que o salário de benefício médio antes da aplicação do FP (estimado) não corresponde à média do salário de benefício antes da aplicação
do FP de cada aposentado, mas foi obtido ao se dividir o valor do benefício médio pelo FP médio para quem se aposentou com 84/94 pontos. No caso de quem
se aposentou com 85/95 pontos, repetiu-se o valor do benefício já que, segundo a regra, não haveria incidência do FP. O ganho/perda foi calculado pela diferença
entre o valor do benefício e o salário de benefício antes do FP estimado. Já o ganho/perda relativa corresponde a este valor anteriormente calculado dividido
pelo valor do benefício.
Fonte: Suibe. Elaboração dos autores.
21
Gráfico 5 ─ Taxa de Reposição de aposentadorias por tempo de contribuição e sexo do segurado segundo
pontuação (idade mais tempo de contribuição)
110%
85 pts: Fator = 0,682
Mulheres ganharam R$ 101,2%
100% 963/mês 96,8%
84 pts: Fator = 0,673 93,9%
Mulheres perderam R$
758/mês 92,3%
90%
95 pts: Fator = 0,816
83,9% Homens ganharam R$
80% 594/mês
50%
46,1% 49,7%
40%
70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100101102103104105
Masculino Feminino
Notas: (1) Para evitar que os valores da TR oscilassem demasiadamente, foram consideradas apenas pontuações com ao menos 200 aposentadorias por tempo
de contribuição.
(2) Taxa de reposição bruta; remuneração antes da aposentadoria estimada como média nos 36 meses que antecedem a aposentadoria.
(3) As competências (meses) em que os registros de valores de remuneração/salários de contribuição se mostraram inferiores ao mínimo receberam imputação
da média dos valores referentes ao período de referência.
(4) Outliers identificados e excluídos de acordo com metodologia utilizada pelo IBGE na PNADC e Bacon (5%). Resultados são qualitativamente robustos mesmo
sem essa exclusão.
Ao se comparar aposentados nas vizinhanças dos meses antes do início da aposentadoria), enquanto quem
valores de corte, 85, se do sexo feminino, e 95, se do sexo somou os 95 pontos repôs com o benefício da
masculino, percebe-se que quem se aposentou sem a aposentadoria 96,8% de sua renda anterior, uma diferença
incidência do FP possuía nível de escolaridade mais de quase 13 p.p.. Na vizinhança dos 95 pontos, observa-se
elevado, como já mostrado na seção anterior, e também rendimento médio antes da aposentadoria de R$ 4.791,52
maior renda do trabalho na média. Entre as mulheres, as entre os que se aposentaram integralmente, 44,7% superior
concessões de ATCs que somaram 85 pontos e que, aos R$ 3.311,18 dos que sofreram redução do valor de
portanto, não sofreram a incidência do FP, o rendimento benefício decorrente do FP por somarem 94 pontos.
médio nos 36 meses que antecederam a aposentadoria foi Conclui-se, portanto, que mulheres e homens que
de R$ 4.298,65 contra R$ 2.748,03, a valores de dezembro postergaram o momento da aposentadoria de modo a se
de 2018, daquelas que se aposentaram com 84 pontos, ou beneficiar da possibilidade de não sofrerem a incidência do
seja, com desconto do FP. As mulheres que se aposentaram FP na definição do valor de seu benefício de aposentadoria
integralmente tinham rendimento médio do trabalho 56,4% possuíam rendimentos do trabalho muito superiores aos que
superior às que se aposentaram com 84 pontos e, portanto,
se aposentaram antecipadamente, imediatamente um ponto
sob a incidência do FP. antes de terem o direito à regra.
No caso dos homens, ocorreu fenômeno semelhante, Observa-se diferença marcante também no que se
mas em menor grau. Homens que se aposentaram por refere ao nível de escolaridade dos aposentados (ver Tabela
tempo de contribuição ao somar 94 pontos lograram repor 8). Entre as do sexo feminino que se aposentaram
83,9%19 de sua renda pré-aposentadoria (considerados 36
19 Esse número corresponde à média das TR calculadas individualmente, remunerações, apresentadas na Tabela 8.
e não à razão entre a média do valor dos benefícios e a média das
22
integralmente 45,0% cursaram ou concluíram o Ensino Chama a atenção o fato de que parte dos segurados
Superior (ES) e apenas 7,7% não concluíram pelo menos o não usufruíram da regra e acabaram requerendo a
Ensino Fundamental (EF). Já entre as que sofreram a aposentadoria antes de completar a pontuação que lhes
limitação do FP por somarem 84 pontos 27,9% cursaram ou permitiria não sofrer a aplicação do FP. Sendo assim, seus
concluíram o ES (17,1 p.p. a menos), e 24,7% não benefícios de aposentadoria foram bastante inferiores ao
concluíram o EF (17 p.p. a mais). Quanto aos do sexo que poderiam ter sido caso tivessem contribuído por mais
masculino, entre os que se aposentaram integralmente, alguns meses ou aguardado cerca de um ano, mesmo sem
29,4% cursaram ou concluíram o ES e 16,0% não possuem contribuir, antes de requerer a aposentadoria. No caso das
nem o EF, contra 15,0% e 24,7%, respectivamente, entre os mulheres, como visto, se as que optaram pela
que somaram 94 pontos e tiveram abatimento devido à aposentadoria ATC ao ter 84 pontos tivessem contribuído
aplicação do FP. por mais 6 meses, teriam se aposentado com benefício, em
média, R$ 758 maior.
Outra característica distinta, também ilustrada na
Tabela 8, entre quem se aposentou com 85/95 pontos em A identificação precisa dos determinantes desse
relação a quem se aposentou com 84/94 pontos é a situação comportamento não foi possível, ainda que se possa sugerir,
laboral no momento do requerimento de aposentadoria. A por hipótese, que isso tenha decorrido de fenômenos
maioria dos aposentados por ATC na vizinhança da relacionados à racionalidade limitada (desconhecimento ou
pontuação preconizada pela regra foi de empregados entendimento incorreto da regra e de suas consequências
(pouco mais de 60% considerando homens e mulheres). No ou dificuldade de resposta estratégica), à escolha
entanto, houve 10,6 p.p. (7,5 p.p.) mais (menos) de intertemporal (elevado grau de impaciência ou viés do
empregados (desempregados) na pontuação 85/95 do que presente)20, à capacidade contributiva21 ou à restrição ao
na pontuação 84/94. Sendo que, entre os homens, foram 10 crédito.
p.p. a menos de desempregados e 10,6 p.p. a mais de Fato é que, contribuindo por 5 meses como
empregados entre os que exploram o disposto na Lei Contribuinte Individual (20% do salário mínimo no plano
13.183/2015. Já entre as mulheres, essas diferenças foram completo, o qual dá direito à ATC), uma segurada gastaria
de 4,2 p.p. e 10,5 p.p., respectivamente. Ou seja, quem em torno de um salário mínimo; e, em 2 meses de
decidiu se beneficiar da regra mais frequentemente estava aposentadoria, já teria recebido, com o aumento no valor do
empregado no momento do pedido de aposentadoria. benefício, todo os valores gastos com essa contribuição
Talvez isso ajude a explicar as diferenças encontradas no extra. Alternativamente, poderia não contribuir e aguardar
que se refere à quantidade média de contribuições ao RGPS cerca de 10 meses para requerer aposentadoria, recebendo
tanto nos 12 meses, quanto nos 36 meses antes da um benefício de valor maior ao longo de toda vida. Vale
aposentadoria. É razoável supor que os formalmente lembrar que a duração esperada do benefício, mensurada
empregados possam ter tido mais condições de escolha a pela expectativa de sobrevida aos 54 anos para as mulheres
respeito da postergação da aposentadoria. em 2018, era de 29,3 anos, ou seja, em média, a mulher
Do exposto nos parágrafos anteriores, é possível, receberia o adicional de cerca de R$ 758 por todo esse
portanto, concluir que quem se beneficiou da regra tende a período de sobrevida, totalizando quase 300 mil reais a
possuir maiores rendimentos antes da aposentadoria, ser preços de dezembro de 2018
mais escolarizado e possuir melhor inserção no mercado de
trabalho, tendo melhores condições de contribuir ao RGPS.
20 De acordo a Economia Comportamental, que estuda a influência apresenta uma dimensão temporal às escolhas humanas. Segundo a teoria
cognitiva, social e emocional no comportamento das pessoas, nem sempre do desconto intertemporal e viés do presente, as pessoas tendem a preferir
as escolhas são baseadas em decisões racionais. Segundo a teoria da um benefício menor no presente a um benefício maior no futuro. Para mais
racionalidade limitada, há restrições ao processamento de informações informações ver Avila e Bianchi (2015).
pelos indivíduos e dessa forma nem todas as decisões são ótimas do ponto 21 Como já colocado, é razoável supor que os formalmente empregados no
de vista econômico. A situação de pobreza, por exemplo, ao drenar recursos momento do requerimento da aposentadoria possam ter tido mais condições
mentais do indivíduo para satisfação de necessidades básicas imediatas do de escolha a respeito da postergação da aposentadoria, hipótese que
dia-a-dia, pode gerar um efeito indireto negativo sobre a racionalidade de poderá ser objeto de trabalho futuro.
suas escolhas econômicas. Outro ramo da Economia Comportamental
23
4.2. Taxa Interna de Retorno
Para a análise da Regra 85/95 com base na TIR, esta aposentadoria e o valor das contribuições previdenciárias ao
subseção utiliza uma base amostral de aproximadamente 40 longo da vida laboral, conforme os Gráficos 8 e 9.
mil indivíduos, que é representativa dos aposentados O Gráfico 8 mostra que os aposentados com a
urbanos do RGPS com Data de Despacho do Benefício
pontuação de corte possuíam rendimentos mais elevados
(DDB) no ano de 2018 e Data de Início do Benefício (DIB) antes da aposentadoria, havendo uma descontinuidade com
entre 2016 e 2018, utilizando dados do ‘Arquivo de Cadastro relação ao valor da renda prévia daqueles com pontuação
de Vínculos e Remunerações’ fornecido pela Empresa de inferior (também como observado na subseção anterior).
Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev, Isso sugere que os indivíduos que alteraram seu
2020), do fluxo de benefícios de aposentadoria do Sistema comportamento para atingir a pontuação mínima da Regra
Único de Informações de Benefícios – Suibe (Instituto 85/95 possuíam, no geral, renda mais elevada do que
Nacional do Seguro Social, 2020), e da Tábua de aqueles com pontuação menor que não puderam usufruir
Mortalidade do IBGE Extrapolada de 2018 para homens e das vantagens da regra. Homens com a pontuação de corte
mulheres separadamente (SPREV, 2019)22. possuíam salário de contribuição ou remuneração, em
Diferentemente do mostrado na subseção anterior média, aproximadamente 1,7 mil reais por mês maior do que
para o caso da TR, não se observa uma elevação abrupta aqueles que tinham a pontuação imediatamente inferior. No
(ou descontinuidade) do valor médio da TIR nas pontuações caso das mulheres, a diferença em termos de salário de
de corte. Conforme apresentado no Gráfico 6, a TIR média contribuição ou remuneração é de aproximadamente 1,4 mil
dos homens com 95 pontos é apenas 0.1 p.p. maior do que reais. E tendo uma renda maior durante sua vida laboral,
aqueles com 94 pontos, enquanto para as mulheres o grupo houve, em média, contribuições mais elevadas ao RGPS,
com 85 pontos chega a ter uma TIR média inferior à do como fica evidenciado no Gráfico 9. Os homens que
grupo com 84 pontos. usufruíram da regra contribuíram ao RGPS, em média e
considerando a contribuição patronal, quando houve, cerca
Esses dados sugerem um cenário distinto daquele
de 0,5 mil reais por mês a mais do que os que se
apresentado por Afonso e Zylberstajn (2019), que
aposentaram ao contarem 94 pontos. A diferença observada
concluíram que ocorreria uma elevação da TIR na
entre as mulheres foi um pouco menor, de 0,4 mil por mês,
pontuação de corte. Ademais, essa ausência de
em média.
descontinuidade é um resultado pouco intuitivo, uma vez
que, tudo o mais constante, um benefício mais elevado em Esses dados sugerem que a resposta dos indivíduos
decorrência da não incidência do FP deveria levar a uma com renda mais elevada aos benefícios da Regra 85/95
maior TIR. Analogamente ao observado na base completa, pode explicar a ausência de descontinuidade no valor da
usada para o cômputo da TR, o Gráfico 7 ilustra que esse TIR dos aposentados por tempo de contribuição (conforme
aumento no valor dos benefícios pode ser observado na o Gráfico 6). Considerando a fórmula de cálculo do indicador
base amostral e é substancial: os aposentados por tempo (AFONSO, 2016), contribuições de valor mais alto
de contribuição com a pontuação mínima da regra (decorrente da renda elevada) tendem a reduzir a taxa de
receberam uma aposentadoria cujo valor inicial médio era retorno dos indivíduos (tudo o mais constante). Assim, no
de 1,3 a 1,5 mil reais maior do que aqueles com a pontuação cálculo da TIR, a concentração desses indivíduos com alta
imediatamente anterior. capacidade contributiva compensaria (em alguma medida) o
benefício maior que eles usufruíram, evitando uma
A fim de tentar esclarecer a ausência de
descontinuidade no indicador ao redor da pontuação de
descontinuidade da TIR para os aposentados com tempo de
corte.
contribuição, analisa-se a renda média antes da
7%
Taxa Interna de Retorno (TIR)
6,2%
6,1%
5,8% 5,9%
6% 5,5%
5,5%
5,3%
4,9% 5,6%
5% 4,6% 4,7% 4,6% 4,7%
4,5% 5,2% 5,3% 4,4%
4,0% 4,0%
4% 4,5%
4,4% 4,3% 3,6%
3,2% 4,0% 4,0%
3,2% 3,9%
3,0% 3,0%
3,5% 3,6%
3%
3,2% 3,2%
2,9% 3,0%
2,9%
2%
75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104
Pontuação
Homens Mulheres
Gráfico 7 ─ Valor médio da ATC (em milhares de reais de dezembro de 2018) por sexo e pontuação na amostra
3,5 3,32 3,33
3,04
Valor do benefício na DIB (em R$ mil)
2,93
3,0 2,81
2,732,72 2,76
2,60
2,50 2,50
2,5 2,30 2,65
2,27
2,19 2,50
2,14 2,46
2,07 2,10 2,082,07
1,97
2,0 1,83 2,13 2,10
2,08 2,07 2,07
1,68 1,96
1,59 1,60
1,0
75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104
Pontuação
Homens Mulheres
Notas: Valores corrigidos pelo INPC/IBGE. Considera apenas os aposentados com as pontuações apresentadas. N = 15.068.
Fonte: elaboração própria, com base em Instituto Nacional do Seguro Social (2020), Dataprev (2020) e Secretaria da Previdência (2019).
25
Gráfico 8 ─ Renda média antes da aposentadoria (em milhares de reais de dezembro de 2018) dos aposentados
por tempo de contribuição por sexo e pontuação na amostra
5
Valor médio das remunerações positivas (em R$ mil)
5,0
5
4,5
4 3,8
3,7
3,7 3,7
3,6 3,6
3,4 3,3
4 3,3 3,3 3,3
3,2 3,1
3,4
3 2,9
2,8 2,8 2,7 3,2 2,8 3,1
2,6 2,6 3,0
2,9
2,5 2,8
2,4 2,4
3 2,7
2,5
2,4
2,3 2,3
2,2 2,2
2
75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104
Pontuação
Homens Mulheres
Notas: Valores corrigidos pelo INPC/IBGE. Considera apenas os aposentados com as pontuações apresentadas. N = 15.068.
Fonte: elaboração própria, com base em Instituto Nacional do Seguro Social (2020), Dataprev (2020) e Secretaria da Previdência (2019).
Gráfico 9 ─ Contribuição previdenciária mensal média antes da concessão da ATC (em milhares de reais de
dezembro de 2018) por sexo e pontuação selecionada (valor médio)
1,3
1,2
Valor médio das contribuições positivas (em R$ mil)
1,2 1,2
1,1 1,1
1,0 1,0
1,0 1,0 0,9
0,9 0,9
0,9
0,9 0,9 0,9
0,9 0,8 0,9
0,8
0,8 0,9 0,8
0,8 0,8
0,8 0,7 0,8 0,8
0,7
0,7
0,7 0,7 0,8
0,7
0,7 0,7
0,7
0,6 0,6 0,7 0,7
0,6
0,6 0,6
0,5
75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104
Pontuação
Homens Mulheres
Notas: Valores corrigidos pelo INPC/IBGE. Considera apenas os aposentados com as pontuações apresentadas. N = 15.068.
Fonte: elaboração própria, com base em Instituto Nacional do Seguro Social (2020), Dataprev (2020) e Secretaria da Previdência (2019).
26
Outro fator que pode ter contribuído, mas em grau intervalo de 76 a 99 pontos para as mulheres e de 86 a 98
menor, para a distribuição da TIR no Gráfico 6 é o tempo de pontos para os homens.
contribuição dos aposentados na concessão. A Tabela 9 Nesse intervalo, a única exceção ocorre na
apresenta o valor médio dos itens que compõem a pontuação de corte. Os aposentados desse grupo
pontuação utilizada para aferir a elegibilidade aos benefícios apresentam uma proporção do tempo de contribuição
da regra: a idade na DIB e o tempo de contribuição (em
ligeiramente superior à observada para o grupo com a
anos). As quatro primeiras colunas da tabela mostram que, pontuação imediatamente inferior, o que, novamente, tende
com o aumento da pontuação, ambos os componentes a reduzir o valor da TIR média na pontuação de corte (ainda
apresentam valores médios mais elevados. Entretanto, a que essa redução tenda a ser pouco expressiva, devido ao
proporção desses fatores no cálculo da pontuação tende a pequeno aumento do tempo de contribuição).
se alterar (quatro últimas colunas da Tabela 9), com o
declínio gradual da proporção do tempo de contribuição no
Tabela 9 ─ Idade média na DIB e anos de contribuição (AC) de mulheres (M) e homens (H) aposentados por tempo
de contribuição na amostra
As análises com base na TIR apresentadas nesta apresentados) são necessários para discussão e avaliação
seção traçam um quadro ambíguo e pouco conclusivo da equidade dessa alteração da política previdenciária. Por
quanto à equidade da Regra 85/95, sugerindo que outros um lado, os dados indicam que a elevação do valor dos
indicadores (como a TR e o nível de escolaridade benefícios não levou a um retorno médio maior dos
27
aposentados com a pontuação de corte. Todavia, seria com pontuação próxima. E é razoável supor que esses
precipitado interpretar esse resultado como evidência da indivíduos tenham optado pela pontuação de corte por ser
ausência de implicações da regra para a equidade do essa a melhor escolha para elevar sua renda na
RGPS. Parece claro que a distribuição da TIR é em boa aposentadoria, e que, nesse sentido, a regra estaria
medida afetada pela concentração de indivíduos com renda elevando os benefícios e favorecendo aqueles que já se
elevada e maior tempo de contribuição na pontuação de encontrariam em uma situação financeira mais vantajosa, ao
corte, mantendo a taxa em níveis similares aos dos grupos invés daqueles com menores níveis de renda.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo mostrou que a instituição da Regra 85/95 equidade do RGPS. As estimativas da TIR foram, em grande
alterou incentivos, provocando mudanças comportamentais medida, afetadas pela renda mais elevada e, em menor
estratégicas por parte dos segurados do RGPS, por medida, pelo maior tempo de contribuição na pontuação de
possibilitar a não incidência do FP na definição do valor do corte. Assim, é razoável supor que esses indivíduos tenham
benefício. Como esperado, dados os apontamentos da optado pela pontuação de corte por ser essa a melhor
literatura a respeito do tema, houve forte elevação da escolha para elevar sua renda na aposentadoria, e que,
proporção de ATC aos 85/95 pontos, com aceleração ao nesse sentido, a regra estaria elevando os benefícios e
longo dos meses após o início da regra. Essa elevação dos favorecendo aqueles que já se encontrariam em uma
valores dos benefícios ao permitir a não incidência do FP situação financeira mais vantajosa pré-aposentadoria.
gerou disparidades entre as ATC de quem explorou a regra Os resultados apresentados em Silva Filho et al.
versus de quem não a explorou. (2021), de forma geral, permitiram concluir que aposentados
Segundo nosso conhecimento, este trabalho é o com maior rendimento do trabalho antes da aposentadoria e
primeiro que analisa as diferenças entre quem usufruiu e com nível de escolaridade mais elevado tiveram TR inferior,
quem não usufruiu dos benefícios da regra. Ficaram em média, às daqueles com posição menos privilegiada no
evidentes algumas diferenças nos comportamentos das que diz respeito a essas dimensões, tanto para a totalidade
distribuições nas diferentes pontuações e em diferentes das aposentadorias do RGPS quanto para cada grupo de
momentos do tempo. Os segurados com graus de instrução espécies consideradas.
mais elevados exploraram mais frequentemente e mais No entanto, a análise apresentada neste artigo
rapidamente a mudança. conclui que a Regra 85/95, especificamente, pode ser
No que diz respeito ao retorno estimado em participar considerada regressiva já que, ao se comparar pessoas
do RGPS, Colombo et al. (2021) mostrou elevado grau de aposentadas com pontuações nas vizinhanças dos valores
progressividade entre as aposentadorias desse regime. No de corte (85, se do sexo feminino, e 95, se do sexo
entanto, este artigo, com o cômputo da TIR para indivíduos masculino), percebe-se que quem se aposentou sem a
às margens da pontuação de corte para fruição da regra, incidência do FP, em média, repôs maior proporção da
indicou que, na média, quem se beneficiou da não incidência renda pré-aposentadoria, sendo que esses trabalhadores
do FP e, portanto, obteve benefícios de aposentadoria de possuíam maior renda do trabalho, grau de escolaridade
maior valor obteve retorno equivalente a quem não se mais elevado e melhor inserção no mercado de trabalho às
beneficiou da regra. Dito de outra forma, a elevação do valor vésperas da aposentadoria.
dos benefícios não levou a uma TIR média maior dos Identificar de modo preciso os determinantes desse
aposentados com a pontuação de corte, contrariando comportamento heterogêneo dos segurados no que diz
resultados esperados pela literatura a respeito do tema. respeito à fruição da Regra 85/95 exigiria o aprofundamento
Todavia, seria precipitado interpretar esse resultado como da análise e provavelmente acesso a outras informações, o
evidência da ausência de implicações da regra para a que poderá ser feito em trabalho futuro. Não obstante, os
28
dados apresentados e analisados sugerem algumas
possíveis explicações, não excludentes. O texto sugere ter
havido conhecimento e aprendizado a respeito da regra e
suas implicações para a definição do valor do benefício da
aposentadoria mais frequente e célere entre os mais
escolarizados.
Mesmo que seja possível que a heterogeneidade de
comportamento entre os indivíduos seja explicada pela
diferença em termos de disponibilidade de recursos e de
acesso a crédito ou pela diferença de nível de impaciência,
a elevadíssima renúncia média em termos de benefícios a
valor presente envolvida na decisão de não adiar a
aposentadoria enfraquece o potencial explicativo desses
fatores. Isto é, diante da análise feita e apresentada neste
artigo, a hipótese mais forte é de que a regra e suas
implicações não tenham sido bem informadas a parte
expressiva dos segurados ou que as implicações
decorrentes do fenômeno da racionalidade limitada tenham
atingido mais frequentemente os menos escolarizados.
29
REFERÊNCIAS
AFONSO, L. E. Progressividade e aspectos distributivos na previdência social: uma análise com o emprego dos microdados
dos registros administrativos do RGPS. Revista Brasileira de Economia, v. 70, n. 1, p. 3-30, 2016. ISSN 0034-7140.
AFONSO, L. E; ZYLBERSTAJN, H. Reforma da previdência: uma avaliação dos impactos distributivos da Proposta de
Emenda Constitucional 287/2016 sobre os benefícios programáveis de aposentadoria do RGPS. Economia Aplicada,
v. 23, n. 3, p. 5-28, 2019. ISSN 1980-5330.
COLOMBO, D.; SILVA FILHO, G.; FERNANDES, A. SANTOS, C. dos; SIDONE, O.. Análise da equidade dos benefícios
previdenciários: comparando a taxa interna de retorno dos segurados do RGPS. Informe de Previdência Social, vol.
33, número 8, 2021. Disponível em <https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/noticias-e-conteudo/publicacoes-
previdencia/publicacoes-sobre-previdencia-social/informes/arquivos/informe-de-previdencia-agosto-de-2021.pdf>.
Acesso em 10 de dezembro de 2021.
COSTANZI, R. N.; FERNANDES, A. Z.; ANSILIERO, G.. O Princípio Constitucional de Equilíbrio Financeiro e Atuarial
no Regime Geral de Previdência Social: tendências recentes e o caso da Regra 85/95 progressiva. Texto para
Discussão, n.º 2395, Rio de Janeiro: Ipea, 2018.
PENAFIERI, A. C.; AFONSO, L. E. O impacto da mudança da regra de cálculo das aposentadorias por tempo de contribuição
do INSS: o fator previdenciário é atuarialmente justo? Economia Aplicada, v. 17, p. 667-694, 2013. ISSN 1413-8050.
SILVA FILHO, G.; FERNANDES, A.; SANTOS, C. dos; SIDONE, O.. Análise da equidade dos benefícios previdenciários:
comparando a taxa de reposição de segurados do RGPS. Informe de Previdência Social, vol. 33, número 7, 2021.
Disponível em <https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/noticias-e-conteudo/publicacoes-
previdencia/publicacoes-sobre-previdencia-social/informes/arquivos/informe-de-previdencia-julho-de-2021-2.pdf>.
Acesso em 10 de dezembro de 2021.
30
Receitas e Despesas do
Regime Geral de
Previdência Social
Setembro de 2021
31
RECEITAS E DESPESAS DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL
SETEMBRO / 2021
Necessidade de Financiamento
(em R$ bilhões reais de set/2021 - INPC)
Acumulado no mês (set/21) 14,9
TABELA 1: Evolução da Arrecadação Líquida, Despesa com Benefícios Previdenciários e Resultado Previdenciário,
segundo a clientela urbana e rural (2020 e 2021) – Resultado de set/21 em R$ milhões de set/21 – INPC
Acumulado no Ano
set/20 ago/21 set/21 Var. % Var. %
Item jan / set Var. %
(A) (B) (C) (C/B) (C/A) 2020 2021
1. Arrecadação Líquida Total (1.1 + 1.2 ) 36.985,7 38.418,2 39.499,7 2,8 6,8 299.104,2 331.734,2 10,9
1.1 Arrecadação Líquida Total - Urbana 36.179,2 37.489,7 38.490,9 2,7 6,4 292.474,0 323.719,4 10,7
1.1.1 Arrecadação Líquida Urbana 35.445,2 36.980,9 37.909,6 2,5 7,0 284.036,1 317.589,1 11,8
1.1.2 Compensação Desoneração da Folha de Pagamento 730,2 505,2 574,3 13,7 (21,4) 8.407,3 6.015,8 (28,4)
1.1.3 Comprev 3,8 3,7 7,0 90,7 86,7 30,6 114,6 274,2
1.2 Arrecadação Líquida Total - Rural 806,4 928,4 1.008,8 8,7 25,1 6.630,2 8.014,8 20,9
2. Despesa com Benefícios (2.1 + 2.2) 56.069,6 54.423,0 54.375,9 (0,1) (3,0) 572.215,6 565.063,8 (1,2)
2.1 Despesa com Benefícios - Urbano 44.496,6 43.129,7 43.256,0 0,3 (2,8) 456.315,1 449.083,8 (1,6)
2.1.1 Benefícios Previdenciários Urbanos 43.170,7 41.915,5 41.869,7 (0,1) (3,0) 438.786,3 430.664,1 (1,9)
2.1.2 Passivo Judicial - Urbano 1.030,9 1.017,0 1.172,0 15,2 13,7 15.101,8 16.831,6 11,5
2.1.3 Comprev 295,0 197,2 214,3 8,7 (27,4) 2.427,0 1.588,1 (34,6)
2.2 Despesa com Benefícios - Rural 11.573,0 11.293,2 11.120,0 (1,5) (3,9) 115.900,4 115.980,0 0,1
2.2.1 Benefícios Previdenciários Rurais 11.303,1 11.025,7 10.817,2 (1,9) (4,3) 112.224,0 111.622,1 (0,5)
2.2.2 Passivo Judicial - Rural 269,9 267,5 302,8 13,2 12,2 3.676,4 4.357,9 18,5
3. Resultado Previdenciário (1 - 2) (19.083,9) (16.004,8) (14.876,2) (7,1) (22,0) (273.111,3) (233.329,6) (14,6)
3.1 Urbano (1.1 - 2.1) (8.317,4) (5.640,0) (4.765,0) (15,5) (42,7) (163.841,1) (125.364,4) (23,5)
3.2 Rural (1.2 - 2.2) (10.766,6) (10.364,8) (10.111,2) (2,4) (6,1) (109.270,2) (107.965,2) (1,2)
Fonte: INSS (fluxo de caixa ajustado pelo Sistema Informar) Elaboração: SPREV/MTP
33
GRÁFICO 1: Arrecadação Líquida, Despesa com Benefícios Previdenciários e Resultado Previdenciário, segundo a clientela
urbana e rural - Acumulado até setembro - R$ bilhões de setembro/2021 – INPC
500,0
449,1
450,0
400,0
350,0 323,7
300,0
R$ bilhões
250,0
200,0
150,0 116,0
100,0
50,0
8,0
-
Arrecadação Líquida Despesa com Benefícios Arrecadação Líquida Despesa com Benefícios
URBANA RURAL
Fonte: INSS (fluxo de caixa ajustado pelo Sistema Informar) Elaboração: SPREV/MTP
34
TABELA 2: Arrecadação Líquida, Benefícios Previdenciários e Saldo Previdenciário – set/20, ago/21 e set/21– Valores em
R$ milhões de set/21 – INPC
Acumulado no ano
set/20 ago/21 set/21 Var. % Var. %
Item jan / jun Var. %
(A) (B) (C) (C/B) (C/A) 2020 2021
1. Arrecadação Líquida (1.1 + 1.2 + 1.3 + 1.4 + 1.5) 36.985,7 38.418,2 39.499,7 2,8 6,8 299.104,2 331.734,2 10,9
1.1. Receitas Correntes 37.281,4 39.077,5 40.205,9 2,9 7,8 301.291,0 338.627,6 12,4
Pessoa Física 1.026,2 1.173,2 1.112,7 (5,2) 8,4 8.767,7 9.163,4 4,5
SIMPLES - Recolhimento em GPS 1.552,8 1.732,6 1.738,7 0,4 12,0 14.440,7 15.573,9 7,8
SIMPLES - Repasse STN 5.147,3 5.534,3 6.472,8 17,0 25,8 32.782,7 40.547,5 23,7
Empresas em Geral 22.843,8 24.001,1 24.273,3 1,1 6,3 190.656,9 214.786,4 12,7
Setores Desonerados - DARF 896,9 932,1 998,8 7,2 11,4 6.516,3 8.488,9 30,3
Entidades Filantrópicas 353,8 375,3 364,7 (2,8) 3,1 3.200,2 3.347,2 4,6
Órgãos do Poder Público - Recolhimento em GPS 3.521,7 3.593,6 3.548,8 (1,2) 0,8 29.481,2 30.770,4 4,4
Órgãos do Poder Público - Retenção FPM/FPE 411,5 164,0 148,4 (9,5) (63,9) 2.748,0 2.679,8 (2,5)
Clubes de Futebol 4,1 3,1 1,1 (65,5) (74,0) 32,8 34,0 3,8
Comercialização da Produção Rural 108,9 120,9 130,1 7,5 19,4 813,4 1.122,0 37,9
Retenção (11%) 974,0 1.000,7 969,9 (3,1) (0,4) 8.374,3 8.390,7 0,2
Fundo de Incentivo ao Ensino Superior - FIES - - - - - - - -
Reclamatória Trabalhista 427,4 436,2 435,3 (0,2) 1,8 3.376,7 3.566,9 5,6
Outras Receitas 12,8 10,5 11,3 7,3 (12,0) 100,1 156,5 56,4
1.2. Recuperação de Créditos 964,0 945,4 877,0 (7,2) (9,0) 7.604,3 7.471,6 (1,7)
Arrecadação / Comprev / Dec.6.900/09 3,8 3,7 7,0 90,7 86,7 30,6 114,6 274,2
Arrecadação / Lei 11.941/09 49,4 49,3 46,5 (5,7) (6,0) 359,1 476,2 32,6
Programa de Recuperação Fiscal - REFIS 9,2 9,6 9,5 (0,9) 3,0 94,5 80,9 (14,4)
Depósitos Judiciais - Recolhimentos em GPS 0,1 0,3 0,0 (96,8) (86,9) 5,7 1,1 (81,0)
Depósitos Judiciais - Repasse STN 5,3 199,6 140,7 (29,5) 2.543,2 657,9 491,2 (25,3)
Débitos 100,1 50,3 35,0 (30,4) (65,0) 361,0 264,7 (26,7)
Parcelamentos Convencionais 796,1 632,6 638,3 0,9 (19,8) 6.095,5 6.042,9 (0,9)
1.3. Restituições de Contribuições (4,9) (3,7) (2,5) (33,7) (49,6) (73,5) (57,1) (22,3)
1.4. Transferências a Terceiros (1.985,0) (2.106,1) (2.154,9) 2,3 8,6 (18.124,8) (20.323,6) 12,1
1.5. Compensação da Desoneração - STN 730,2 505,2 574,3 13,7 (21,4) 8.407,3 6.015,8 (28,4)
2. Despesas com Benefícios Previdenciários 56.069,6 54.423,0 54.375,9 (0,1) (3,0) 572.215,6 565.063,8 (1,2)
Pagos pelo INSS 54.768,8 53.138,5 52.901,2 (0,4) (3,4) 553.437,4 543.874,4 (1,7)
Sentenças Judiciais - TRF 1.300,8 1.284,5 1.474,7 14,8 13,4 18.778,2 21.189,5 12,8
3. Resultado Previdenciário (1 – 2) (19.083,9) (16.004,8) (14.876,2) (7,1) (22,0) (273.111,3) (233.329,6) (14,6)
35
3. RECEITAS CORRENTES
As receitas correntes somaram R$ 40,2 bilhões em 37,2 bilhões) a mais do que o registrado no mesmo período
setembro de 2021, registrando um aumento de 2,9% (+R$ de 2020. A rubrica “Empresas em Geral” registrou aumento
1,1 bilhão), frente ao mês anterior (ago/21) e de 7,8% (+R$ de 12,7% (+R$ 24,1 bilhões), e a rubrica “Setores
2,9 bilhões) em relação ao valor de setembro de 2020. Em Desonerados – DARF” cresceu 30,3% (+R$ 2,0 bilhões). A
relação a agosto de 2021, cerca de metade das rubricas única rubrica a apresentar comportamento negativo no
apresentaram redução, sendo as maiores variações período foi “Órgãos do Poder Público – FPM/FPE”, que
absolutas as rubricas: “SIMPLES – Repasse STN” com registrou queda de 2,5% (-R$ 68,3 milhões), conforme se
crescimento de 17% (+R$ 938,5 milhões), “Empresas em pode observar no Gráfico 3.
Geral” com aumento de 1,1% (+R$ 272,2 milhões), a A arrecadação previdenciária está diretamente
“Órgãos do Poder Público- Recolhimento em GPS” que vinculada ao comportamento do mercado de trabalho
diminuiu 1,2% (-R$ 44,9 milhões) e “Pessoa Física” que formal, na medida em que aumentos e reduções no nível de
registrou queda de 5,2% (-R$ 60,4 milhões), como mostra emprego formal do país refletem um resultado positivo ou
o Gráfico 2. negativo na arrecadação previdenciária.
No acumulado de 2021 (até setembro), as receitas
correntes somaram R$ 338,6 bilhões, cerca de 12,4% (+R$
GRÁFICO 2: Variação das Receitas Correntes de setembro de 2021 em relação ao mês anterior: em R$ milhões de set/21
(INPC)
Pessoa Física (60,4)
SIMPLES - GPS 6,1
SIMPLES - STN 938,5
Setores Desonerados - DARF 66,7
Empresas em Geral 272,2
Entidades Filantrópicas (10,6)
Órgãos do Poder Público - GPS (44,9)
Órgãos do Poder Público - FPM/FPE (15,6)
Clubes de Futebol (2,0)
Comercialização da Produção Rural 9,1
Retenção (11%) (30,8)
FIES -
Reclamatória Trabalhista (0,9)
Outras Receitas 0,8
36
GRÁFICO 3: Variação das Receitas Correntes (janeiro a setembro) de 2021 em relação a 2020: em R$ milhões de set/21
(INPC)
37
4. RECEITAS ORIUNDAS DE MEDIDAS DE RECUPERAÇÃO DE CRÉDITOS
38
GRÁFICO 4: Variação das Receitas de Recuperação de Créditos (set/21) em relação ao mês anterior - Em R$ milhões
de set/21 (INPC)
Débitos (15,3)
-80 -30 20
Fonte: INSS (fluxo de caixa ajustado pelo Sistema Informar). Elaboração: SPREV/MTP
GRÁFICO 5: Variação das Receitas de Recuperação de Créditos (janeiro a setembro) de 2021 em relação a 2020 - Em
R$ milhões de set/21 (INPC))
Débitos (96,3)
REFIS (13,6)
39
5. BENEFÍCIOS EMITIDOS E CONCEDIDOS
Em setembro de 2021 foram emitidos 36,2 milhões de O valor médio dos benefícios emitidos entre janeiro e
benefícios, registrando um aumento de 1,2% (+413,7 mil setembro de 2021 foi de R$ 1.701,40, o que representa uma
benefícios) frente ao mesmo mês de 2020. Nessa mesma queda, em termos reais, de cerca de -3,38% em relação ao
comparação, os “Benefícios Previdenciários” cresceram mesmo período de 2020. Quando comparados o período
1,6% (+468,3 mil benefícios), os “Benefícios Acidentários” acumulado de janeiro a setembro de 2021 e o período
tiveram um crescimento de 1,7% (+12,5 mil benefícios) e os correspondente de 2014, observa-se que o valor médio real
“Benefícios Assistenciais” tiveram uma diminuição de 1,4% dos benefícios emitidos cresceu 9,9% (Gráfico 7).
(-66,1 mil benefícios), conforme pode ser visto na Tabela 3. Em setembro de 2021, foram concedidos 405,4 mil
Na comparação de setembro de 2021 com setembro novos benefícios, evidenciando uma diminuição de 6,4% (-
de 2020, observa-se que as aposentadorias por tempo de 27,8 mil benefícios) em relação ao mês anterior e queda de
contribuição cresceram 0,5% (+31,6 mil aposentadorias); as 9,6% (-43,2 mil benefícios) em relação a setembro de 2020.
aposentadorias por idade aumentaram 1,9% (+210,6 mil Em relação ao mês anterior (ago/21), a concessão de
aposentadorias); as pensões por morte subiram 2,1% Benefícios Previdenciários diminuiu 5,9% (-22,0 mil
(+167,3 mil benefícios); porém, o auxílio-doença teve um benefícios), a de Acidentários teve uma diminuição de 5,2%
crescimento de 19,2% (+161,2 mil benefícios). (-869 benefícios) e de Assistenciais registrou redução de
Da quantidade média de 36,0 milhões de emissões 11,8% (-5,0 mil benefícios), conforme pode ser visto na
verificadas no período de janeiro a setembro de 2021, cerca Tabela 4.
de 60,1% (21,6 milhões) foram destinados a beneficiários da No acumulado de 2021 (até setembro), a quantidade
clientela urbana, cerca de 26,6% (9,6 milhões) a de benefícios concedidos foi de 3,6 milhões de benefícios, o
beneficiários da clientela rural e cerca de 13,3% (4,8 que mostra uma redução de 0,5% (+18,3 mil benefícios) em
milhões) aos assistenciais (Gráfico 7). De 2013 a 2021, a relação ao mesmo período de 2020. Nessa comparação, os
quantidade de benefícios emitidos apresentou incremento “Benefícios Previdenciários” cresceram 0,5% (+15,7 mil
de 22,9% no meio urbano, de 9,2% no meio rural e de 17,8% benefícios), os Benefícios Acidentários cresceram 87,8%
nos assistenciais. (+63,0 mil) e os Benefícios Assistenciais recuaram 24,0% (-
96,9 mil benefícios).
40
TABELA 3: Evolução da Quantidade de Benefícios Emitidos pela Previdência Social (set/20, ago/21 e set/21)
set/20 ago/21 set/21 Var. % Var. %
Item
(A) (B) (C) (C/B) (C/A)
TOTAL 35.825.210 36.200.790 36.238.879 0,1 1,2
PREVIDENCIÁRIOS 30.180.639 30.618.863 30.648.909 0,1 1,6
Aposentadorias 21.338.405 21.488.758 21.498.958 0,0 0,8
Idade 11.339.745 11.537.931 11.550.319 0,1 1,9
Invalidez 3.330.804 3.253.989 3.249.219 (0,1) (2,4)
Tempo de Contribuição 6.667.856 6.696.838 6.699.420 0,0 0,5
Pensão por Morte 7.839.244 7.985.346 8.010.002 0,3 2,2
Auxílio-Doença 776.280 919.754 917.830 (0,2) 18,2
Salário-Maternidade 63.540 74.001 70.665 (4,5) 11,2
Outros 163.170 151.004 151.454 0,3 (7,2)
ACIDENTÁRIOS 752.416 765.452 764.958 (0,1) 1,7
Aposentadorias 208.673 205.822 205.574 (0,1) (1,5)
Pensão por Morte 104.609 101.450 101.127 (0,3) (3,3)
Auxílio-Doença 62.081 81.648 81.733 0,1 31,7
Auxílio-Acidente 345.679 349.016 349.327 0,1 1,1
Auxílio-Suplementar 31.374 27.516 27.197 (1,2) (13,3)
ASSISTENCIAIS 4.892.155 4.816.475 4.825.012 0,2 (1,4)
Benefício de Prestação Continuada/BPC - LOAS 4.786.399 4.721.396 4.731.008 0,2 (1,2)
Pessoa idosa 2.096.432 2.139.529 2.150.275 0,5 2,6
Pessoa com deficiência 2.579.032 2.581.775 2.580.657 (0,0) 0,1
Antecipação do BPC 110.935 92 76 (17,4) (99,9)
Rendas Mensais Vitalícias 88.361 78.648 77.661 (1,3) (12,1)
Idade 8.434 6.621 6.415 (3,1) (23,9)
Invalidez 79.927 72.027 71.246 (1,1) (10,9)
BENEFÍCIOS DE LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA (BLE) 17.395 16.431 16.343 (0,5) (6,0)
Fonte: INSS (fluxo de caixa ajustado pelo Sistema Informar) Elaboração: SPREV/MTP
41
GRÁFICO 6: Evolução da Quantidade de Benefícios Emitidos pela Previdência Social, segundo a clientela (2013 a 2021)
- Em milhões de benefícios - Média de janeiro a setembro.
40
35,2 35,7 36,0
34,0 34,7
35 32,4 33,2
30,4 31,5 4,7 4,8 4,8
4,5 4,6 4,7
30 4,2 4,4
4,1
25 9,5 9,5 9,6 9,6
9,2 9,3 9,4
8,8 9,0
20
15
10 19,4 19,9 20,5 20,9 21,3 21,6
17,6 18,2 18,9
5
0
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
GRÁFICO 7: Valor Médio do Total dos Benefícios Emitidos (média de janeiro a setembro de cada ano) – 2014 a 2021: em
R$ de set/21 (INPC)
1.800 1.760,99
1.700
1.619,59 1.701,40
1.500 1.535,75
1.400
1.300
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Fontes: Anuário Estatístico da Previdência Social - AEPS; Boletim Estatístico da Previdência Social – BEPS Elaboração: SPREV/MTP
42
TABELA 4: Evolução da Quantidade de Benefícios Concedidos pela Previdência Social (set/20, ago/21 e set/21) e
acumulado de janeiro a setembro (2020 e 2021)
Acumulado no Ano
set/20 ago/21 set/21 Var. % Var. % Var. %
Item jan-jul
(A) (B) (C) (C/B) (C/A) 2020 2021
TOTAL 448.561 433.230 405.398 (6,4) (9,6) 3.637.169 3.618.850 (0,5)
PREVIDENCIÁRIOS 418.043 374.145 352.164 (5,9) (15,8) 3.161.536 3.177.246 0,5
Aposentadorias 95.379 93.470 95.562 2,2 0,2 835.365 816.885 (2,2)
Idade 59.127 58.984 62.305 5,6 5,4 482.621 541.815 12,3
Invalidez 9.078 10.565 10.508 (0,5) 15,8 85.050 81.620 (4,0)
Tempo de Contribuição 27.174 23.921 22.749 (4,9) (16,3) 267.694 193.450 (27,7)
Pensão por Morte 44.367 61.136 56.368 (7,8) 27,0 302.389 450.465 49,0
Auxílio-Doença 225.202 162.046 151.599 (6,4) (32,7) 1.562.652 1.415.061 (9,4)
Salário-Maternidade 51.306 55.266 46.277 (16,3) (9,8) 443.408 478.016 7,8
Outros 1.789 2.227 2.358 5,9 31,8 17.722 16.819 (5,1)
ACIDENTÁRIOS 4.895 16.716 15.847 (5,2) 223,7 71.691 134.601 87,8
Aposentadorias 411 355 339 (4,5) (17,5) 3.038 2.840 (6,5)
Pensão por Morte 15 19 32 68,4 113,3 106 181 70,8
Auxílio-Doença 2.439 14.477 13.645 (5,7) 459,5 50.773 116.472 129,4
Auxílio-Acidente 2.015 1.855 1.828 (1,5) (9,3) 17.693 15.049 (14,9)
Auxílio-Suplementar 15 10 3 (70,0) (80,0) 81 59 (27,2)
ASSISTENCIAIS 25.623 42.327 37.349 (11,8) 45,8 403.620 306.740 (24,0)
Benefício de Prestação Continuada/BPC - LOAS 25.623 42.327 37.349 (11,8) 45,8 403.620 306.740 (24,0)
Pessoa idosa 16.890 26.144 21.228 (18,8) 25,7 153.488 171.055 11,4
Pessoa com deficiência 3.846 16.161 16.099 (0,4) 318,6 67.778 133.259 96,6
Antecipação do BPC 4.887 22 22 - (99,5) 182.354 2.426 (98,7)
BENEFÍCIOS DE LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA (BLE) - 42 38 (9,5) - 322 263 (18,3)
Fontes: Anuário Estatístico da Previdência Social - AEPS; Boletim Estatístico da Previdência Social – BEPS. Elaboração: SPREV/MTP
43
ANEXO I
I.I Relação entre a Arrecadação Líquida e a Despesa com Benefícios (R$ milhões de set/21 - INPC)
Arrecadação Bruta Transferências a Arrecadação Benefícios
Relação % Saldo
(1) Terceiros Líquida Previdenciários
Período
(A) (B) C = (A - B) (2) (3) (4) (5) E=(D/C) F= (C - D)
(D)
Valores referentes ao acumulado até o mês de Setembro, a preços de Set/2021 INPC
45
I.II Arrecadação Líquida X Despesa com Benefícios (acumulado até o mês de setembro de cada ano, em R$ milhões de
set/21 –INPC
660.000
572.216 565.064
560.000 529.824
515.427
501.191
467.604
460.000 434.410
423.077 425.864
398.598
371.495
360.000
361.983 349.914
346.184 338.617
331.286 324.535 326.752 329.170 331.734
308.366 299.104
260.000
160.000
60.000
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
46
ANEXO II
47