Sebenta de FP I
Sebenta de FP I
Sebenta de FP I
Finanças Públicas II
Dr. Felipe Figueiredo Martins
2ª Turma
PARTE I-------------------------------------------------------------------------------------------
INTRODUÇÃO
A ciência das FP centra-se na parte da atuação do Estado que “opera pelas medidas de
receita e de despesa do orçamento público”. Assim, ficam de fora do objeto das FP atuações
do Estado que se traduzem na definição de regras de conduta (definição de salário mínimo).
De fora fica a atuação das empresas (pessoas jurídicas que assumem formas de direito
privado) detidas pelo Estado ou outras entidades públicas, ou seja, o Setor Público
Empresarial. Ficam também de fora a política monetária e a regulação.
1.2. Pluridisciplinaridade
O objeto de estudo das FP é pluridisciplinar, visível com a economia e o direito, refletida na
própria designação adotada da cadeira no passado economia das finanças públicas. Tem a
ver com uma opção a ser feita entre enfatizar uma abordagem jurídica ou económica da
matéria.
Disciplina económica
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O Dr. Teixeira Ribeiro diz que a economia se ocupa de relações partidárias (em pé de
igualdade) e em FP o estado está num patamar superior ao dos indivíduos. O objeto de
estudo da economia é a afetação ou alocação de recursos escassos. No fundo, tem o
objetivo de responder a 3 perguntas: O que produzir?, Como produzir?, Para quem
produzir?. As finanças públicas têm o mesmo objeto de estudo e querem responder às
mesmas perguntas, mas as FP adotam a posição do estado: O que o estado deve produzir?,
como? e para quem é que o estado deve produzir? O estado é um agente económico, e a AP
afeta recursos escassos com o objetivo de realizar uma produção, com o objetivo de
satisfazer as necessidades (individuais e coletivas).
Apesar de existir uma unidade do objeto material de estudo da Economia Política e das
Finanças Públicas – a realidade social –, pode ser defendida uma separação para efeitos
meramente didáticos. Esta autonomização aparece também justificada, nas palavras de
Teixeira Ribeiro, pelas especificidades de financiamento da atividade do agente económico
Estado, levando a que se sustente que as Finanças Públicas têm como objeto o estudo da
“aquisição e utilização de meios financeiros pelas coletividades públicas”.
Isto é a causa das divergências existentes na economia. A análise positiva faz um diagnóstico
ou um prognóstico (explicar o que existe e o que se prevê que aconteça) e a normativa faz
uma prescrição (avaliar as consequências das políticas e fazer recomendações). Não
confundir a prescrição com a previsão. As previsões estão nas análises positivas. A previsão é
uma descrição do futuro.
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EXEMPLO: Suponhamos que foi anunciada a criação de um novo imposto sobre o
património.
- Análise positiva: Perante uma medida deste tipo é importante saber quem
efetivamente vai suportar o encargo desse imposto, interessa ainda saber qual(is)
o(s) efeito(s) sobre a receita fiscal total, conhecer quais os efeitos esperados sobre
todo o setor imobiliário e sobre os setores que com este estão relacionados (setor da
construção civil), pensar na avaliação dos efeitos que este imposto pode vir a ter na
escolha de instrumentos de investimento.
Disciplina Jurídica
As FP enquanto disciplina jurídica confundem-se frequentemente com direito financeiro,
que é a abordagem jurídica das FP. No Direito financeiro estão integrados outros ângulos do
direito, o direito tributário e o direito fiscal.
Definição de direito financeiro do dr. teixeira ribeiro - “conjunto de normas que regulam a
obtenção, a gestão e o dispêndio dos meios públicos” , mas que não se reduz nem ao direito
fiscal nem ao direito tributário.
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financeiro que integra estes 2, ou seja, o direito fiscal não deixa de ser direito financeiro.
Diferença entre imposto e taxa (é o que distingue o direito fiscal do direito tributário):
As taxas são residuais, ou seja, o estado cobra cada vez mais taxas. O imposto significa a
imposição de um encargo financeiro ou outro tributo sobre o contribuinte (pessoa física ou
jurídica) por um estado.
Direito Tributário: ramo relativo ao conjunto de normas que regulam a obtenção de receitas
coativas do Estado.
● Receita - estuda as receitas provenientes dos tributos, não são as mesmas receitas do
estado (empréstimo público e dívida pública, recurso à dívida pública, receitas
patrimoniais do património mobiliário ou imobiliário). Constituem exemplos as
receitas obtidas dos impostos sobre o rendimento, dos impostos sobre os bens e
serviços, sobre o património e outros impostos.
Estes níveis não esgotam os níveis em que Portugal se integra, porque Portugal faz parte da
UE, e também faz parte de Organizações Internacionais (fundo monetário internacional,
OCDE).
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SPA: “conjunto de entidades e de serviços da Administração Central, Local e Regional e ainda
pela Segurança Social e pelos Fundos Autónomos”.
Refere-se ao papel do estado nas economias mistas. Nos vários sistemas económicos há
diferentes compreensões sobre as funções do estado. As decisões sobre a afetação de
recursos são tomadas/determinadas pela lógica de mercado, ou seja, são tomadas de forma
descentralizada. É distinta a compreensão do papel do estado nos distintos sistemas
económicos. O Estado é dos mais importantes doadores económicos, é o maior doador de
mão de obra, o estado é um dos maiores empregadores de mão de obra. Os gastos públicos
respondem por parcelas significativas do PIB.
É excluído do SPA as empresas ou outras entidades públicas que integram o setor público
empresarial.
O que se estuda não são as funções do estado são as funções do SPA, porque quando
definimos AP regional não nos referimos ao estado, ou seja, a terminologia Estado está
concentrada na AP central.
Assumindo que o estado é um agente económico, que lógica é que o estado intervém na
economia. O estado não consegue satisfazer todas as necessidades individuais ou coletivas,
(segurança nacional, por exemplo) e isso reflete-se nas falhas de mercado. O conjunto da
economia não funciona segundo a eficiência de pareto. Ótimo de pareto é a situação em
que ninguém pode ser colocado numa posição melhor sem que ninguém seja prejudicado.
Isto não quer dizer que tem de existir uma distribuição equitativa dos recursos financeiros.
Há domínios em que os particulares são incapazes de atuar ou pelo menos há casos em que
os particulares, ainda que sejam capazes de atuar, não conseguem atuar satisfatoriamente.
(educação, por exemplo, não é desejável que todos os particulares desempenhem a função
de ensino).
O estado ou o SPA desenvolve a sua atividade financeira com base em critérios não
empresariais/não de mercado.
Funções:
- pressuposto para a existência e funcionamento das economias de mercado,
- garantir segurança económica,
- fazer cumprir as regras do jogo económico,
- Funções reservadas ao poder legislativo e judicial, mas estes poderes não esgotam o
papel do estado na economia,
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- funções nas economias mistas apesar do papel do mercado ainda se considera existir
um papel para o estado,
- funções reservadas ao estado na economia que vão além de regular, legislar, julgar. O
estado faz cumprir contratos. Definir direitos patrimoniais.
Trata-se de uma exigência moral ou de justiça, não se trata de uma deficiência económica.A
justificativa moral prende-se com a exigência de justiça, ou seja, redistribuir rendimentos e
riqueza não tem necessariamente a ver com uma questão de eficiência económica, o que
não invalida que se possa comentar que a redistribuição dos rendimentos pode favorecer o
funcionamento da economia, mas independentemente disso esta função pode encontrar
como pressuposto apenas o juízo moral. A compreensão do que é justo é uma compreensão
subjetiva; a compreensão do que é eficiente é objetiva.
● trabalho - salário
● capital - juro
● comércio - lucro
● terreno- renda
Esta função traduz-se na necessidade de promover a diminuição das desigualdades sociais.
Os privados não seriam capazes de levar a cabo esta função, pois só o estado é que
consegue redistribuir.
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Uma das causas da desigualdade, por exemplo, é o casamento entre pessoas do mesmo
nível económico.
A provisão pública de bens pode ser redistribuição de bens, o imposto é uma receita coativa.
Concluindo, esta função deve ser executada pelo estado quando a economia passe por
períodos de acelerado crescimento económico (um crescimento económico muito acelerado
pode significar uma inflação por pressão da procura, o que causa desestabilização),
adotando-se uma política de caráter anticíclico. Keynes foi o principal defensor da
intervenção económica, na medida em que a política financeira deve poder atuar no sentido
da correção das várias macroeconomias.
Consiste em determinar o que se produz e o quanto se produz. O que afeta os recursos são
os mercados. Assumimos que existe uma atuação pública que tem como objetivo aumentar
o grau de satisfação de necessidade ou aumentar a eficiência do número de recursos
disponíveis .
Quando temos uma ineficiência de recursos na economia, esta pode ser justificada pela
atuação do estado. Na hipótese do estado não assegurar a posição de um determinado bem,
os particulares irão fazê-lo em relação ao bem que esteja em causa. Prende-se com uma
intenção de satisfação e eficiência (no caso de existência de falhas de mercado)/
quantitativa(redistributiva) de necessidades.
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Nas nossas economias é uma função subsidiária no mercado.
Pode aparecer a função de proteção ambiental, que pode ser conduzida a lógica da função
de afetação de recursos, na medida em que para reduzir a poluição o estado faz com que o
poluidor pague mais imposto (princípio do poluidor-pagador) o que desincentiva o poluidor.
Quando o estado procura promover o uso de energia renováveis está a afetar recursos.
Função de afetação de recursos - ganha força no pós segunda guerra mundial, em função da
necessidade de se conseguir uma recuperação económica urgente, para reconstruir
infraestruturas urbanas, hospitais, etc.
Quando há um elevado crescimento económico favorecido ou não pelo estado, que esteja a
experimentar, há risco na estabilidade dos preços, ou seja, o crescimento económico pode
estar a ser favorecido pela a afetação de recursos.
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A afetação de recursos não desagrada o grupo social, já a redistribuição dos mais ricos para
os mais pobres desagrada um grupo (que muitas vezes não é o grupo com mais votos mas é
o que consegue exercer pressão política).
PARTE II------------------------------------------------------------------------------------------
PROVISÃO PÚBLICA DE BENS
A expansão da atividade financeira política, levou a que fosse questionada essa intervenção
do estado. Um aumento da despesa pública, leva a um aumento dos défices, o que leva a
uma limitação da intervenção do estado, que é traduzida na redução da importância da
política financeira. Como a política financeira está limitada ganha importância a política
monetária, como instrumento de estabilização económica, porque na maioria dos casos a
Política Monetária é conduzida por um autoridade monetária independente, que se chama
BCE e que está salvaguardada de influências políticas. Já a política financeira é executada por
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governos que estão permanentemente preocupados com as eleições. Tudo isto serve para
limitar a atividade financeira. Este processo é posto em causa na pandemia.
O estado intervém na economia, que é de tipo financeiro, sendo que está integrado o papel
do estado enquanto produtor ou provedor de bens e serviços.
Provisão - tendo em conta um bem público, um bem provido publicamente pode ser um
bem público puro ou um bem público não puro, sendo que este bem puro ou não puro pode
ser produzido publicamente ou pelos particulares. A provisão pode ser garantida com a
provisão organizada publicamente pelo estado ou então a provisão pública de bens com
produção privada (o estado financia a produção de bem), sendo que não interessa quem
detém os meios de produção.
A provisão pública de um bem com produção privada é menos provável nos casos em que
está em causa o exercício de funções de soberania (por exemplo, a defesa nacional).
Que bens têm de ter a sua provisão assegurada pelo estado? Bens que apesar de produzidos
pelo mercado não satisfazem as necessidades que devem satisfazer.
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3. Satisfação de necessidades
Tem de ser feita uma compreensão das necessidades que merecem ser satisfeitas pelo
estado (nos sistemas capitalistas a maior parte das necessidades são satisfeitas pelo estado).
Hipótese Tiebout - há bens públicos providos localmente em relação aos quais é possível
uma manifestação de preferência, que demonstra a elevada capacidade de eficiência de
mercados para uns e outros.
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Quando há uma impossibilidade absoluta de cobrança de um preço ou quando há uma
impossibilidade técnica ou prática de cobrança de um preço. Como se realiza a exclusão de
um bem? Cobrando um preço. Deste modo, o preço é um instrumento de exclusão. Os BPP
(bens públicos puros) não gozam do princípio de exclusão pelo preço, logo serão
necessariamente não excluíveis, por necessidade absoluta de cobrança de um preço,
aqueles bens em que não haja procura individualizada. Não há procura individualizada
quando as necessidades subjacentes de provisão do bem são necessidades de satisfação
passiva.
Bem que satisfaz passivamente a necessidade - organização das forças armadas, segurança
nacional (ninguém procura as forças armadas para encontrar a soberania nacional).Um bem
de satisfação passiva é um bem não excluível.
Um bem pode ser não excluível através de uma satisfação ativa de necessidade. A
iluminação pública é um bem privado de provisão pública.
- bem excluível: alimentação (tenho de procurar a maçã, pagar a maçã e comer, sendo
que mais ninguém pode comer)
Os bens públicos puros existem no caso de satisfação passiva de necessidades e quando há
impossibilidade absoluta de um preço. Quando não se exerce a cobrança de um preço mas
ela é possível - bens públicos impuros.
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4.3. Não rivalidade (irrivalidade) no uso
2. Não rivais ou irrivais
Não rivalidade de bem público puro - quando a sua utilização por um indivíduo não
prejudica, não rivaliza com a utilização que pode ser feita por outro indivíduo desse mesmo
bem.
- prato de comida e garrafa de água: rival
- autoestrada: não rivalidade relativa, pois a acumulação simultânea de utilização é
perda de utilidade
Estamos perante bens cujo custo marginal de produção é zero, a limitação do número de
utilizadores através da cobrança de um preço seria ineficiente do ponto de vista económico
por poder criar situações em que a utilidade total é menor do que aquela que seria possível
caso esse valor não fosse cobrado. Para além disso, nestes casos existe um custo de
produção do bem que tem de ser suportado por alguém.
Mais incentivo para provisão privada não rival? Quando a não rivalidade for absoluta não
precisa a interseção da oferta e a procura não é suficientemente remuneradora da atividade
económica.
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Um bem que satisfaz passivamente necessidades é não rival. Um bem que satisfaz
ativamente necessidades é um bem rival e não rival (a rivalidade vai ser relativa)
- pneu: rival e excluível (se eu compro ele é meu, é rival pois só eu estou a usar)
- autoestrada: é excluível não é um bem público puro, pois é possível atribuir um
preço; a autoestrada é um bem privado e de utilização não rival relativa,
- farol: não excluível e não rival
Nos casos em que o bem é de uso não excluível (inexcluível) então também será um bem de
uso não rival (irrival) não se verificando, porém, o inverso!!!!!!!
São uma exceção, porque são bens com características de BPP, mas são bens de provisão
privada. Estes bens são de uso não excluível pelo preço e de uso não rival, no entanto são
bens privados. São uma exceção, pois a regra geral é os BPP não serem produzidos por
privados.
Exemplo: o farol é um BPP, pois todos os barcos conseguem ver a luz do farol e é impossível
excluir o uso deste porque quem não paga. Todavia, os primeiros faróis foram construídos
por privados. Os primeiros privados a construí-los pensaram que seria preferível pagarem e
sujeitarem-se a que outros beneficiem do farol, do que correr o risco dos seus barcos
naufragarem e sair mais caro esse arranjo ou a perda desse barco.
6. Bens semipúblicos
Bens de uso rival ou excluíveis pelo preço (totalmente aos BPP, não rivais e inexcluíveis). Na
presença de não rivalidade pode existir a possibilidade de exclusão pelo preço e a provisão
do bem ser apetecível ao setor privado, mas quando esteja em causa a não exclusão ocorre
o inverso.
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6.2. As decisões políticas de provisão de bens semipúblicos
6.2.1. Quanto à provisão
A provisão de bens semipúblicos é feita abaixo do preço do mercado e do custo de
produção, podendo ser gratuita. Há uma transferência de custos do utilizador para a
comunidade que suporta um encargo acrescido com impostos para financiar esse consumo.
A decisão de provisão pública de um certo bem é uma decisão política que pode ou não ter
justificação económica (pode não ser universalmente aceite). Aqui é a decisão política que
transforma o bem privado em bem semipúblico, ou seja, bem de provisão pública.
6.2.3. Critérios
A. Falhas de mercados (ou critério de eficiência)
São justificação para provisão pública de bens, que podem justificar a intervenção financeira
do lado da receita para limitar certos comportamentos, através da tributação agravada. Por
outro lado, também podem justificar intervenções que estão fora do domínio das FP,
efetuadas por via normativa, do setor empresarial do Estado ou da criação de entidades
reguladoras públicas.
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Há situações em que das escolhas do agente resulta para terceiros uma consequência
positiva ou negativa.
Exemplos:
- uma empresa que pode escolher entre fazer ou não o tratamento de resíduos que
despeja num rio (pode ou não gerar poluição)
- indivíduo que pode escolher ir de automóvel ou comboio (pode ou não aumentar o
tempo de deslocação para terceiros)
Na verdade, o efeito sobre terceiros não é tido em conta na ponderação individual de custos
e benefícios. A este efeito sobre terceiros chamamos externalidade ou exterioridade, sendo
negativas (quando impõem um custo aos outros) e positivas (quando há benefício para
terceiros). Na presença destas, os agentes não tomam decisões eficientes do ponto de vista
social.
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A assimetria de informação dá-se quando as duas partes de uma transação possuem
diferente informação sobre o bem que é objeto da transação. Essa assimetria vai refletir-se
em maior informação por parte do vendedor que, vendendo só aquele produto, tem mais
interesse e menores custos em adquirir a informação do que tem o comprador. Esta justifica
muitas intervenções públicas por meios não financeiros, como as obrigações de rotulagem
dos produtos.
A assimetria de informação leva a falha de mercado por seleção adversa. Ao facto dos
preços não transmitirem toda a informação relevante podemos somar a existência de custos
de transação, levando à existência de falhas de coordenação.
Uma das funções desempenhadas pelos Estados modernos é serem um sistema de seguro,
desempenhado pela segurança social e também pelo sistema de saúde. Estes seguros
protegem todos os membros da comunidade contra riscos emergentes da vida em
sociedade que podem levar ao surgimento de situações de privação e pobreza (como
situações que fazem cessar o rendimento, o desemprego, a doença ou a invalidez). A
Segurança Social é um seguro, porque funciona com contribuições de todos os seus
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beneficiários, mas acaba por pagar a uns mais do que a outros, sem que se possa saber à
partida quem vão ser os beneficiados.
O Estado faz provisão de um bem que fica acessível a todos, abaixo do preço do mercado,
mas a sua utilização acaba por ser feita mais intensamente por pessoas de menores
rendimentos (ex.: transportes públicos, os seus utilizadores têm rendimentos mais baixos do
que as pessoas que utilizam viatura própria para a sua deslocação).
Considera que não são capazes de avaliar corretamente os seus interesses e consomem em
excesso bens cujo consumo é socialmente indesejável - demerit goods - ou subconsomem
bens relativamente aos quais, do ponto de vista social, seria desejável um consumo mais
elevado - merit goods.
É essa coletividade representada nos órgãos do Estado ou governo que “decide sobre a
existência de necessidades coletivas e sobre a conveniência da sua satisfação”. Exemplos:
obrigatoriedade de uso de cinto de segurança, de capacete ou outros equipamentos de
segurança, a escolaridade mínima obrigatória ou o Programa Nacional de Vacinação; no caso
português, a Companhia Nacional de Bailado, a RTP 2 ou os passes sociais.
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bens essenciais em que repugna ao nosso sentido ético coletivo que as pessoas sejam
excluídas.
PARTE III-----------------------------------------------------------------------------------------
DESPESA PÚBLICA
1. Introdução
1.1. A despesa pública enquanto ramo de estudo das Finanças Públicas
Os governos são responsáveis pelo desempenho de determinadas funções na economia,
entre as quais a provisão pública de bens, sendo que o seu reflexo financeiro pode ser
encontrado quer do lado da receita pública, quer, sobretudo, do lado da despesa pública.
Compreende-se o estudo da evolução da despesa pública e das justificações para a sua
evolução, revelando-se uma área de estudo muito importante.
Apesar de existirem algumas exceções, esta trajetória de crescimento tem vindo a abrandar
desde a segunda metade da década de 90, sendo substituída por taxas de crescimento da
despesa mais baixas ou até mesmo por um decréscimo dos montantes despendidos pelos
Estados.
(posterior desenvolvimento do estudo jurídico das despesas) Foi a partir de meados do séc.
XIX que os economistas, preocupados com as taxas de crescimento da despesa pública,
começaram a estudar de modo mais aprofundado as razões por detrás desse
comportamento.
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4. Teorias explicativas da evolução da despesa pública
Autores que defendem os fatores do lado da procura: Adolph Wagner, Wileinsky, Castel,
Peacock e Wiseman
Autores que defendem os fatores do lado da escolha pública: Vito Tanzi e Ludger Schuknecht
- críticas
1. Dificuldades em aplicar esta “lei” a sociedades com uma organização diferente da
conceção orgânica de Estado (adotada por Wagner).
2. Há uma preocupação exclusiva com uma análise retrospetiva do comportamento de
despesa pública.
Os estudos de Wagner permitiram afirmar que a causa do aumento das despesas públicas,
qualquer que ela seja, está relacionada com o incremento – tanto intensivo como extensivo -
da atividade estadual. Confirma-se a tendência para existência de uma correlação entre o
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comportamento da despesa pública e os níveis de atividade do Estado, sendo que Wagner já
considerava a pressão do progresso social sobre o poder político para o aumento da despesa
pública.
Wagner defendia ser necessário equacionar se esses valores podiam atingir um valor
percentual tal que obrigasse a uma tributação excessiva (oppressive taxation - taxa
excecional que pode existir em casos de emergência nacional em que está em causa a
sobrevivência do Estado).
Sempre que ocorre uma perturbação social o estado vê-se forçado a aumentar a despesa
pública para suportar os encargos necessários a dar resposta às exigências da situação. O
volume global das despesas públicas desloca-se, assim, para um patamar superior ao que
existia antes da perturbação social – esse é efeito da deslocação da despesa. Como é
necessário obter financiamento para essas mesmas despesas, também o nível dos impostos
sofreria idêntica alteração.
Terminada a perturbação social seria de esperar que o nível global das despesas públicas
regressasse aos valores anteriores à crise, mas não é isso o que acontece.
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- o efeito concentração
Trata-se de um efeito que também tem por base a mesma justificação e que pretende
designar a repartição desigualitária deste aumento da despesa entre governo central e
governo descentralizado, isto é, o aumento dos níveis de despesa pública originado pelas
perturbações sociais leva, ainda, a uma maior concentração dos níveis de despesa no
governo central.
EM SUMA: existe uma tendência para variação dos níveis de despesa pública ao longo do
tempo, variação esta que é irregular e que se encontra justificada pelas perturbações sociais
cuja escala seja tal que exija uma intervenção do Estado para a resolver.
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Baixos, Noruega e Suíça apresentavam níveis de despesa pública na ordem dos 20%
do PIB.
Entre 1960 e 1980 assiste-se a um rápido crescimento das despesas públicas e do Estado
ausente, passamos ao estado interventor. A crença no poder reprodutivo das despesas
públicas levaria a um maior envolvimento dos estados na provisão de bens e serviços. Foram
desenvolvidas ainda novas técnicas de avaliação e implementação das políticas orçamentais
por forma a permitir a maximização dos gastos públicos.
A rápida urbanização nos países industrializados exigiu uma maior intervenção pública, mas
também facilitou o aumento da tributação para financiar esse aumento de despesa. Um
outro fator que contribuiu para o aumento da despesa pública foi o envelhecimento
populacional.
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A nível político assiste-se a uma orientação da despesa para grupos especiais e a
dificuldades em reduzir os níveis de despesa já atingidos, acompanhadas de contestações ao
nível da teoria da escolha pública. A despesa pública continuou a aumentar e atingiu, em
muitos países, máximos históricos.
Em 1980 a despesa pública situava-se, com algumas exceções, entre os 45% e os 52% do PIB.
Em 1990, ascendia a 44,8% do PIB e em 1996 a 45,6%, apresentando uma tendência para
crescer. Alguns países iniciaram a introdução de políticas reformistas tendo em vista a
redução dos níveis da despesa pública, com a implementação de reduções em várias áreas,
sobretudo ao nível das transferências e dos subsídios.
5. de 1996 a 2005
Com a mudança de século, assistimos a uma intensificação das ideias liberais e da ideia de
que seria essencial limitar o crescimento da despesa pública. Os Estados passaram a ser
vistos como operadores económicos, mas desempenhariam um papel de correção das falhas
de mercado. Entende-se, neste contexto, que um mercado mais eficiente exige menos
intervenção pública e níveis menores de despesa pública.
A despesa pública tem crescido desde 1980 até à atualidade, mas apresenta uma tendência
para o decréscimo ou crescimento menos intenso.
A magnitude do impacto deriva diretamente da crise pandémica que afetou a saúde, mas
colocou em causa a liberdade de circulação, o emprego, a educação e o comércio interno e
internacional. Os efeitos dos lockdowns da primeira vaga provocaram uma descida
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acentuada nos níveis de consumo, investimento, produção industrial e manufatura, bem
como um crescimento nas taxas de desemprego.
O atual contexto económico levou a uma revisão das projeções relativas ao crescimento
económico da generalidade dos países, dando especial ênfase à necessidade da adoção de
medidas enquadradas dentro da política monetária por forma a controlar a inflação e o
crescimento do endividamento e, ao mesmo tempo, proteger os mais vulneráveis.
PARTE IV-----------------------------------------------------------------------------------------
O ORÇAMENTO DE ESTADO
1. Antecedentes históricos
1.1. Idade Média
necessidade de autorização das Cortes para cobrar impostos (consentimento das Cortes)
Os poderes orçamentais têm origem no poder das cortes medievais para autorizar a receita
(tanto na cobrança de tributos como o cercear da moeda, isto é, a cunhagem da moeda
(reduzir o seu conteúdo de metal precioso).
A cobrança do imposto estava ligada ao seu lançamento e este era feito com caráter
irregular, na medida em que cada aldeia tinha o seu foro, que determinava os tributos que aí
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podiam ser cobrados, num sistema que variava de local para local e para o qual não se
poderia formular uma regra geral.
A evolução dos poderes das Cortes da Idade Média até à época liberal segue, na Europa,
duas linhas significativamente distintas:
- o aprofundamento do poder real na direção do absolutismo foi reduzindo o papel
das Cortes
- um reforço continuado dos poderes financeiros das assembleias representativas, que
condicionam não só as receitas dos monarcas mas também a sua despesa.
Dois sistemas:
● “sistema de coação” - os impostos são criados unilateralmente pelo poder real, que
não suporta condicionantes significativas no uso dos recursos assim gerados
● “sistema de consentimento” - o imposto depende do assentimento de uma forma de
assembleia representativa
1.2. Absolutismo
centralização do poder real e perda de importância das Cortes
Em Portugal assiste-se a uma centralização do poder real e decadência do poder tributário
das cortes.
1.3. Liberalismo
afirmação da autorização representativa para a cobrança de tributos (no taxation without
representation; princípio de autotributação) e realização de despesas
O final do século XVIII é o momento em que dois processos revolucionários - a
independência dos EUA e a Revolução Francesa – afirmam o princípio de necessidade de
autorização parlamentar para a cobrança da receita e reforçam os poderes da assembleia
em matéria de despesa.
A independência americana tem aliás na sua origem uma questão tributária – a resistência
dos colonos americanos ao pagamento de impostos votados pelo parlamento britânico, no
qual não estavam representados. Essa resistência é sintetizada pelo conhecido lema no
taxation without representation.
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A soberania reside no povo, e são os mesmos cidadãos que pagam os impostos que decidem
que impostos pagam. A votação de impostos é uma auto-tributação, a forma como os
membros de uma comunidade decidem a distribuição, entre si, dos encargos comuns. A
despesa é fixada pelas Cortes, porque a atuação do executivo está subordinada à lei.
Bill of Rights
No que toca à receita, sobretudo à cobrança de impostos, a questão do consentimento é um
dos pontos de conflito aceso entre o Parlamento e o poder real, que acaba por ser
definitivamente resolvido a favor do primeiro com o Bill of Rights de 1689, que estabeleceu
ser ilegal a cobrança de impostos sem autorização do parlamento. No final do século XVII,
John Locke introduz o conceito de separação de poderes entre o poder legislativo e o poder
executivo e defende a supremacia do primeiro.
A passagem de regimes de raiz absolutista para regimes de raiz liberal, ao longo de século
XIX, dissemina pela Europa uma nova conceção sobre os poderes financeiros do Parlamento
O orçamento começa por surgir, entre os séculos XVIII e XIX, como um instrumento do
Governo, uma forma de dar coerência a receitas esperadas e despesas pretendidas,
autorizadas pelos parlamentos em deliberações avulsas. O crescimento da despesa pública
ao longo do século XIX torna-o indispensável.
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1.4. O Orçamento de Estado nas constituições portuguesas
● 1822: inspiração liberal; “predomínio formal das Cortes sobre o Rei”
Em Portugal, a constituição liberal de 1822 estabeleceu ser da competência das Cortes “fixar
anualmente os impostos, e as despesas públicas”, “fiscalizar o emprego das rendas públicas,
e as contas da sua receita e despesa” e “autorizar o Governo para contrair empréstimos.”
O dever do governo apresentar “todos os anos às Cortes, logo que estiverem reunidas, um
orçamento geral de todas as despesas públicas do ano futuro; outro da importância de todas
as contribuições e rendas públicas; e a conta da receita e despesa do tesouro público do ano
antecedente.” O primeiro Orçamento foi aprovado em 1823.
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Art. 161º CRP: a aprovação do Orçamento é competência exclusiva da Assembleia
A Assembleia da República tem a competência para decisão em matérias financeiras
fundamentais.
Art. 199º/b) CRP: o Governo tem a competência para “fazer executar o Orçamento do
Estado”
Âmbito do Orçamento
a) Quanto ao âmbito do orçamento, o n.º 1 do artigo 105º diz-nos que ele contém as
receitas e despesas do Estado, incluindo as dos fundos e serviços autónomos. O orçamento
abrange não só as despesas e receitas da pessoa jurídica Estado, mas também a das outras
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entidades administrativas com personalidade jurídica distinta do Estado e ainda que dotadas
de regimes de autonomia na sua gestão. A aplicação desses critérios traduz-se na prática na
inclusão no chamado “perímetro orçamental” de entidades que estariam excluídas por
terem natureza empresarial.
Art. 105º/1 CRP - determina que o Orçamento do Estado inclui o orçamento da Segurança
Social.
Art. 63º CRP: dever do Estado organizar, coordenar e subsidiar um sistema de segurança
social.
Princípio da descentralização
b) A Constituição estabeleceu, além do nível nacional, dois outros níveis de
democracia representativa – o nível regional (nos Açores e na Madeira) e o nível local
(constituído por dois níveis de autarquias locais, municípios e freguesias). Em cada um há
uma assembleia representativa, a quem cabe aprovar o orçamento anual, e um executivo
que propõe esse orçamento e o executa depois de aprovado.
Compete à AR a aprovação:
Art. 164º/t) - do regime de finanças das regiões autónomas
Art. 165º/q) - do regime das finanças locais
Art. 164º/r) - regime geral de elaboração e organização dos orçamentos das RA e das AL
Princípio da Anualidade
c) A Constituição estabelece que a aprovação do orçamento é anual, concretizando
assim a limitação temporal que existe em qualquer orçamento, porque um orçamento é
uma previsão de receitas e despesas.
Art. 14º LEO - o período de duração de um orçamento coincide com o ano civil.
Assim, a Lei do Orçamento de cada ano deve em regra entrar em vigor no dia 1 de janeiro e
cessar vigência no dia 31 de dezembro.
30
valor reforçado numa parametricidade específica: um valor reforçado relativamente ao
orçamento e aos diplomas que disponham sobre aquelas matérias orçamentais.
Tal significa que o legislador pode a todo o tempo alterá-la, mas tem que a respeitar
enquanto não a alterar e a violação da LEO pelo orçamento traduz-se em ilegalidade do
orçamento por violação de lei com valor reforçado.
Nota: esta parametricidade da LEO face ao Orçamento significa também que a LEO não pode
ser alterada no próprio articulado do Orçamento.
A questão teve uma alteração significativa pela reconfiguração da LGO operada pela revisão
da Lei de Enquadramento Orçamental ocorrida em 2015. Nos termos dos novos artigos 34º e
35º da LEO, a LGO passa a integrar a primeira fase do processo orçamental, sendo
apresentada em abril, e incorpora um “quadro plurianual das despesas públicas”.
Os valores deste quadro são vinculativos para o orçamento do ano económico seguinte, ou
seja, os limites de despesa nele constantes constituem máximos que não devem ser
ultrapassados pelo orçamento que é aprovado no final do mesmo ano (parte significativa da
decisão orçamental foi passada do momento da Lei do Orçamento para a aprovação da LGO,
dando a esta uma força vinculativa sobre a Lei do Orçamento).
Importa ter presente que o simples facto de uma norma constar da Lei do Orçamento não
lhe confere esse valor reforçado, ou seja, um valor superior ao da restantes legislação. A
proteção conferida pelo caráter reforçado da lei do orçamento apenas abrange aqueles
conteúdos que constitucionalmente devam constar do orçamento.
31
Vamos usar como âncora uma definição apresentada nas lições do dr teixeira ribeiro que nos
diz que o orçamento do estado é o documento onde são previstas e completadas as receitas
e despesas anuais competentemente autorizadas.
Elemento de participação
A participação é mais expressiva se o OE for elaborado por um governo com um horizonte
mais alargado. Uma vez elaborado o orçamento, depois de aprovado e discutido em sede
parlamentar, a execução orçamental pelo poder executivo está limitada ao raio de ação
estabelecido no orçamento. Isto é, o governo não vai poder cobrar receitas ou realizar
despesas que não estejam no OE.
32
também é manifestada em sede de controlo de execução orçamental que é exercida pelo
poder legislativo.
2.2. Previsão
O orçamento de Estado enquanto instrumento de gestão previsional
Esta proteção só é cumprida, porque existe a ideia de previsibilidade de determinada
execução orçamental. Esta previsibilidade diz que o OE é um documento elaborado num ano
e que o OE é um documento de gestão previsional. O facto do Orçamento ser uma previsão
não significa que seja uma mera previsão, sobretudo no que diz respeito às despesas.
Distinção entre o orçamento de Estado e a conta geral do Estado (art. 107.º da CRP; art.
66.º da LEO)
O OE distingue-se da conta geral do estado, tendo em conta que o orçamento é uma
previsão e a conta geral é um registo, referente ao passado. No fundo, a conta geral do
estado é uma efetivação das receitas pagas. A conta geral é um Balanço do Estado não tem
escrito nem receitas nem despesas, tem escrito ativos e passivos dos créditos e das dívidas e
do estado, num determinado momento.
33
- Orçamento de gerência: são previstas no orçamento de estado as receitas e as
despesas que o estado irá obter e pagar respetivamente durante o ano económico.
Previsão de receitas e despesas numa fase terminal de cobrança e pagamento. Não
interessa se a despesa ou a receita surge ou não este ano. As receitas e as despesas
são pagas ou cobradas no ano da execução orçamental. Fazemos uma inscrição
previsional das receitas que vão entrar no cofre do estado, no ano económico que
esteja em causa. Diz-se que o orçamento de gerência é feito numa fase terminal de
cobrança de pagamento.
- Orçamento de exercício trata-se do contrário, não surge na fase terminal, mas na sua
fase inicial, são previstas as receitas que o estado irá cobrar e as despesas que o
estado irá pagar em virtude dos créditos e das dívidas que irão surgir a seu favor ou
contra si no ano económico. Interessa a consideração do facto jurídico que
determina o dever jurídico do estado em obter uma receita e cobrar uma despesa.
2.4. Funções
● Função de relacionação das despesas com as receitas
(art. 105.º, n.º 4 da CRP)
No orçamento preveem-se as despesas e o montante de receitas necessário ao seu
pagamento. O Orçamento prevê a receita necessária para cobrir todas as despesas.
Podemos falar a este propósito de um equilíbrio formal do Orçamento: o valor da despesa
total é idêntico ao valor da receita total.
Esta exigência de equilíbrio formal do orçamento não é contrariada pelo facto de geralmente
os Orçamentos apresentarem um saldo (e mais frequentemente, entre nós, um saldo
34
negativo, ou défice). Défice orçamental não significa que a receita total não é suficiente para
cobrir a despesa total – significa que para a cobertura de parte da despesa é necessário
recorrer a endividamento. A receita resultante do endividamento, contudo, também é uma
receita e também tem que estar prevista e autorizada no Orçamento, assegurando que o
total das receitas é suficiente para a cobertura do total das despesas.
Qualquer orçamento deve sempre estar em equilíbrio formal na medida já que não faz
qualquer sentido prever despesas a pagar sem prever os recursos financeiros necessários
para fazer esse pagamento.
O montante de receitas tem de ter autorização e uma previsão. O montante das despesas
tem de ter autorização e limite. Assim, o orçamento das receitas é uma enunciação
estimativa e o orçamento das despesas é uma enunciação limitativa.
35
No enquadramento constitucional, o plano financeiro contido no Orçamento deve ser
adequado à concretização das opções políticas que correspondem às grandes opções em
matéria de planeamento. A norma pode ser entendida de uma forma mais geral –
adequação do orçamento às opções fundamentais de planeamento que tenham sido
tomadas antes dele; ou de forma mais restrita, como necessária articulação entre o
Orçamento e a lei das grandes opções, prevista na alínea g) do artigo 161º LGO e
concretizada pela LEO no artigo 34º, que prevê a apresentação pelo Governo, anualmente,
de uma proposta de lei das grandes opções em abril, na primeira fase do processo
orçamental.
Princípios → surgem como resposta às exigências das Finanças Públicas dos tempos
modernos, e refletem a importância que se reconhece ao Orçamento do Estado na
condução das políticas públicas e da economia em geral.
A atual Lei de Enquadramento Orçamental (LEO) dedica um capítulo aos princípios e regras
orçamentais.
36
● Regra da unidade
(art. 9.º da LEO; art. 105.º/3 da CRP)
Tem como função principal garantir a transparência das contas públicas, sendo essencial
para que o orçamento possa cumprir as suas funções.
A regra da unidade impõe que se encontrem reunidas num único documento todas as
receitas e todas as despesas estaduais. A lei que aprova o Orçamento do Estado deve reunir
todas as receitas e todas as despesas públicas. Para que esta regra se considere cumprida,
não basta que o orçamento do Estado conste de um único documento, sendo ainda
necessário que nesse documento estejam reunidas todas as receitas e todas as despesas das
entidades públicas.
Por outro lado, se pretendemos que nesse documento seja exposto e explanado o plano da
atividade financeira do Estado o mesmo deve ser elaborado pela mesma entidade, com a
observância das mesmas regras e parâmetros de avaliação, por forma a evitar contradições,
duplicações ou omissões, bem como uma análise mais célere dos dados nele contidos e das
opções relativas às políticas públicas que materializam.
A pluralidade orçamental foi por vezes justificada com base na necessidade de elaboração
de orçamentos distintos. Pode existir alguma vantagem prática na elaboração de orçamentos
distintos consoante a classificação das despesas de acordo com o critério de equilíbrio a
adotar, tal não implica, necessariamente, que seja violada a regra da unidade orçamental.
Em Portugal há a elaboração de vários mapas orçamentais. No entanto, com uma dispersão
do orçamento de Estado em vários documentos torna-se difícil apurar o saldo orçamental.
O Setor Público Administrativo é constituído por vários subsetores, que correspondem aos
níveis de administração nacional, regional e local. A estes soma-se a Segurança Social (setor
nacional da administração), mas é sempre tratada autonomamente pela legislação
orçamental. É comum designar o conjunto como administrações públicas, no plural.
37
da União Europeia. Só é possível sujeitar o défice de todos os estados-membros a um limite
se forem as mesmas as regras para a contabilização desse défice.
● Regra da especificação
(art. 17.º da LEO; art. 105.º, n.º 1 e 3 da CRP)
Significa prever cada receita e cada despesa de modo individualizado.
Os limites da especificação
Esta discriminação deve ser feita de modo a não eliminar ou condicionar excessivamente a
liberdade de gestão dos serviços e de adaptação da gestão às circunstâncias factuais.
Teixeira Ribeiro dizia que as verbas não devem ser tão “miudamente discriminadas, para que
os serviços possam adaptar os seus gastos às circunstâncias”. Pretende-se evitar a existência
38
de dotações para utilizações confidenciais ou fundos secretos, exceto em situações
excecionais justificadas por razões de segurança nacional, devidamente autorizadas pela
Assembleia da República (art. 17º/3 e 105º/3 CRP). São de excecionar, também as despesas
a incluir na designada dotação provisional do Ministério das Finanças e as despesas a
integrar no programa destinado a gerir a despesa fiscal resultante da concessão de
benefícios tributários.
Quanto às despesas, exige-se que as mesmas estejam desagregadas com base numa
classificação orgânica, económica, e funcional, devendo ainda ser estruturadas por
programas e por fonte de financiamento. (Decretos-leis n.º 171/94 e nº 26/2002)
Classificação orgânica - é feita uma divisão por ministérios e secretarias de Estado e, dentro
destes, como por capítulos, divisões e subdivisões orçamentais – cfr. art.º 5.º do Decreto-Lei
n.º 26/2002, de 14 de fevereiro.
39
É a importante exceção ao princípio da especificação. Nos termos do n.º 11 do art. 45º da
LEO, existe no orçamento da despesa um programa (uma dotação) que é destinado a fazer
face a despesas imprevisíveis e inadiáveis, e serve precisamente como válvula de segurança
face às limitações da capacidade humana de previsão. A dotação provisional pode assim
num ano ser usada para reforçar a dotação da Proteção Civil, porque houve uma catástrofe
natural, e noutro ano para reforçar o Ministério da Saúde, porque se verificou uma
epidemia.
Esta pode servir para acudir a qualquer situação em que se verifique derrapagem na
execução orçamental ainda que não propriamente imprevisível. É uma autorização
parlamentar para fazer despesa sem que se saiba previamente com que finalidade é que
essa autorização vai ser utilizada. Não se sabe no momento do Orçamento, mas saber-se-á
no momento da Conta, que explicitará essa utilização. O princípio da especificação proíbe “a
existência de dotações para utilização confidencial ou para fundos secretos
40
iii) as receitas de juros resultantes das operações associadas à aplicação dos
excedentes de Tesouraria do Estado, assim como as associadas aos adiantamentos de
tesouraria, são abatidas às despesas com juros da dívida pública direta do Estado;
iv) as receitas de juros resultantes de operações ativas da Direção-Geral do
Tesouro e Finanças.
A opção do legislador nacional permite dar cumprimento ao princípio da tipicidade
qualitativa, uma vez que são conhecidos os tipos de receita e de despesa que concorrem
para a determinação do saldo líquido. Já não se permite saber o valor efetivo de cada
despesa, sendo impossível cumprir a função de fixação da despesa.
O regime especial de execução das despesas com receitas consignadas: o duplo cabimento
(art. 20.º do Decreto-lei n.º 155/92 – RAFE)
Esta dupla limitação decorre de uma especificidade do regime de execução do orçamento
das despesas apenas aplicável nos casos em que exista consignação. Para além do
cumprimento dos demais requisitos legais, uma despesa que disponha de receitas
consignadas para poder ser autorizada e paga tem de cumprir um duplo cabimento: o valor
da despesa não pode ultrapassar o valor do crédito ou dotação orçamental − primeiro
cabimento ou cabimento geral − nem o valor da receita efetivamente arrecadada que lhe
estava alocada − segundo cabimento.
41
Nos casos em que o produto das receitas consignadas iguale ou exceda o montante previsto
para as despesas a cujo financiamento estavam destinadas, o organismo ou a despesa que
delas dispõe pode executar o(s) crédito(s) orçamental(is) na sua plenitude, uma vez que
foram arrecadadas receitas suficientes para a(s) pagar.
Já nos casos em que o produto da receita consignada seja inferior ao montante previsto para
a(s) despesa(s) a cujo financiamento se encontrava adstrita, o valor da(s) despesa(s) a
realizar fica limitado ao valor da receita consignada efetivamente cobrada. Esta limitação
mantém-se ainda que exista excedente orçamental nos demais serviços ou receitas do
Estado.
Este “favor”, contudo, pode ser enganador. A despesa à qual é consignada a receita passa a
estar dependente, não de uma decisão política sobre a prioridade da despesa, mas das
vicissitudes da receita, que pode não ter qualquer relação com a despesa. Se a receita em
causa, a prazo, diminuir, isso vai determinar uma redução da despesa do serviço à qual foi
consignada que nada tem a ver com as necessidades do serviço ou com a utilidade pública
que é criada.
42
em fases posteriores e noutros permitem clarificar alguns aspetos do próprio orçamento e
os efeitos dele decorrentes quer no curto, quer no médio, quer no longo prazo.
● Princípio da sustentabilidade
Art.º 11.º da LEO - Ao elaborarem a proposta de orçamento os serviços do Estado terão de
considerar não só a capacidade para cumprir no ano em curso os compromissos por si
assumidos como também a possibilidade de, num cenário construído e projetado de acordo
com modelos de evolução provável das circunstâncias e das variáveis, continuarem a
cumprir adequadamente esses compromissos e poderem assumir novos compromissos.
A sustentabilidade das finanças pública faz-se sentir com maior acuidade no que diz respeito
à escolha das fontes de financiamento, sobretudo do recurso ao endividamento, uma vez
que impõe que os serviços determinem se existe ou não, quer no ano em causa quer nos
anos seguintes, capacidade para prover ao financiamento dos compromissos já assumidos e
daqueles que será necessário assumir para, garantir a execução orçamental (impõe a
observância de políticas públicas e práticas de elaboração e de execução orçamental).
O esforço de consolidação orçamental deve ser distribuído por todas as entidades que
compõem o setor das Administrações Públicas e não apenas pelo Estado central, de forma
equitativa e, sempre que possível, proporcional. É com base neste princípio que se justifica a
limitação dos poderes de endividamento das Regiões Autónomas e das Autarquias Locais,
desde que tal limitação não coloque em causa a autonomia financeira que lhes é
reconhecida pela Constituição (restrição orçamental de soft law).
43
Se nas previsões do orçamento do Estado, for feita uma distribuição equilibrada e com base
num quadro plurianual, dos custos e dos benefícios pelos orçamentos dos vários períodos
financeiros ficarão salvaguardadas as legítimas expectativas das gerações vindouras.
Pretende-se que seja possível criar condições para se possam avaliar quais os impactos
futuros das opções ao nível das despesas e das receitas públicas sobre os compromissos
futuros (elaboração de orçamentos futuros e a liberdade de programação futura).
Há uma ligação deste princípio com o princípio da sustentabilidade das Finanças Públicas e
da responsabilização da geração presente pelo nível de bem-estar das gerações futuras e
vice-versa. É importante financiar a despesa pública com recurso a impostos ou a emissão de
dívida pública, pois os impactos na receita e na despesa pública futuras podem ser muito
diversos.
Arts. 73.º a 76.º da LEO − terá de ser disponibilizada informação sobre a implementação e a
execução dos programas, objetivos da política orçamental, orçamentos e contas do setor das
administrações públicas, por subsetor.
44
A informação disponibilizada deve ser fiável, completa, atualizada, compreensível e
comparável internacionalmente, de modo a permitir avaliar com precisão a posição
financeira do setor das administrações públicas e os custos e benefícios das suas atividades,
incluindo as suas consequências económicas e sociais, presentes e futuras.
A existência de equilíbrio ou excedente orçamental deverá, para estes efeitos, ser verificada
por referência às normas que regulamentam o seu cálculo (art.º 20.º a 31.º da LEO) e ainda
das normas de Direito da União Europeia que regulamentam esta questão.
45
4. Equilíbrio orçamental
4.1. Equilíbrio orçamental em sentido formal
(relação entre receitas e despesas totais - art. 105.º, n.º 4, CRP)
Qualquer orçamento está em equilíbrio, no sentido em que prevê necessariamente um
montante de receitas suficiente para cobrir as despesas, e o destino a dar a todas as receitas
do lado da despesa.
Dos empréstimos contraídos pelo Estado resulta uma receita que é inscrita no Orçamento.
Mas essa receita tem como contrapartida a criação de uma dívida, que mais tarde terá de
ser paga. A dívida é uma receita que não paga a despesa de modo definitivo – essa despesa
voltará a aparecer num orçamento futuro, sob a forma de reembolso da dívida.
Todas elas tentam resolver um problema comum - saber quais são as despesas que podem
ser cobertas com endividamento público, ou seja, saber em que medida podemos ter num
orçamento recurso a empréstimos e qualificar esse orçamento como equilibrado.
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Classificações de receitas e despesas
- consideração da variação patrimonial
Quando falamos de equilíbrio, saldo ou défice orçamental falamos do equilíbrio efetivo do
orçamento: aquele que compara receitas efetivas com despesas efetivas. Receitas efetivas
são as que aumentam o património do Estado e despesas efetivas são aquelas que
diminuem o património do Estado. Assim, quando o Estado recebe uma receita efetiva, tem
um acréscimo no seu património correspondente ao valor recebido, como acontece quando
é cobrado um imposto ou uma taxa. Quando o Estado contrai um empréstimo, o seu ativo
aumenta (pelo valor recebido) mas também aumenta o seu passivo (porque se constitui uma
dívida). Um valor compensa o outro e a variação patrimonial é nula.
Esta é a conceção de equilíbrio do liberalismo clássico oitocentista, que deveria ser cumprida
em anos normais. Todas as despesas do Estado eram tidas como despesas efetivas, com
exceção da amortização dos empréstimos. E todas essas despesas deveriam ser cobertas
sem recurso a novos empréstimos. O critério apenas deixava de ser aplicado em tempos de
guerra, porque estava em causa a sobrevivência do país. Em tempo de guerra, portanto,
haveria défices orçamentais e a dívida crescia; em tempo de paz, não se deveria gerar nova
dívida e devia desejavelmente pagar-se a existente.
Atualmente, já não se pode dizer que elas correspondem a todas as despesas do Estado com
exceção do reembolso de empréstimos. Há certas despesas que se traduzem na aquisição de
ativos que aumentam o património financeiro do Estado (tal como certas receitas têm como
contrapartida a diminuição desse património). Quando há aquisição de ativos de natureza
financeira (designadamente empresas e participações em empresas) à despesa corresponde
a entrada no património do Estado de um ativo que tem um valor contabilístico, pelo que a
despesa é uma despesa não efetiva. Correspondentemente, a receita da alienação de ativos
financeiros é uma receita não efetiva.
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Saldo efetivo do Orçamento: medir o saldo efetivo é medir o efeito do orçamento sobre o
endividamento público. Do lado da receita, o critério separa fundamentalmente impostos e
taxas para um lado (receitas efetivas) e empréstimos para o outro.
A generalidade das despesas serão despesas efetivas, com exceção do reembolso dos
empréstimos. Num orçamento equilibrado, só há contração de dívida para pagar dívida que
existe, e não há variação do endividamento.
- há défice: a dívida pública cresce no mesmo montante, porque as receitas efetivas
não chegaram para as despesas efetivas e foi preciso contrair empréstimos para
financiar parte das despesas efetivas (défice efetivo é equivalente a endividamento
líquido)
- há superavit: a dívida pública desce.
O saldo orçamental permite saber o valor da evolução do endividamento público, e o
objetivo de saldo equilibrado vai ao encontro das preocupações sobre crescimento da dívida
pública.
O indicador que devemos ter presente como indicador da sustentabilidade da dívida pública
não é o valor nominal da dívida, mas o peso da dívida pública na economia nacional, ou seja,
o valor da dívida em percentagem do PIB. Basta assegurar que o défice se contém em
valores que assegurem um crescimento do endividamento que é inferior ao crescimento
económico.
Situações de défice
- aumento nominal da dívida
O crescimento anual e constante do valor nominal da dívida pública não é só por si uma
situação insustentável. Os países tendem a registar anualmente crescimento económico, o
que significa que o tamanho da economia também tende a crescer anualmente. Um país
pode ver crescer todos os anos o valor nominal da sua dívida pública, e simultaneamente
descer o encargo real que essa dívida representa, se o PIB nominal crescer a ritmo superior.
Exemplo: Portugal, entre 2016 e 2018, registou um défice orçamental efetivo e uma subida
do valor nominal da dívida, o peso desta desceu de 131,5% do PIB para cerca de 122% PIB.
- absorção do aforro privado
Para o liberalismo clássico, que via toda a despesa pública como despesa de consumo, o
défice orçamental era a medida em que o aforro das famílias era desviado do investimento
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(privado) para o financiamento de despesa pública, representando o défice orçamental,
portanto, uma diminuição do investimento do país. Havendo menos investimento, haveria
também uma redução do ritmo de crescimento económico.
- crowding-out
Esta conceção não pode hoje ser defendida, porque é evidente que o Estado faz também
despesa de investimento, suscetível de aumentar a riqueza do país no futuro. Contudo, não
deve ser ignorado que o défice orçamental pode efetivamente ter efeitos negativos sobre o
investimento privado. Na verdade, os detentores de capitais que são emprestados ao Estado
poderiam também ser aplicados em investimento. A procura de fundos pelo Estado nos
mercados de capitais empurra naturalmente para fora do mercado algum investimento
privado, por via do aumento da taxa de juro, fenómeno que tem a designação de crowding
out.
Não há nenhuma razão para sustentar que o equilíbrio orçamental é, em todas as situações,
um objetivo desejável de política orçamental. A sustentabilidade da dívida pública é
compatível com a existência de situações de défice orçamental permanente; o eventual
efeito no investimento privado tem de ser comparado com o efeito benéfico da despesa
pública adicional; o risco de inflação é mitigado pela existência de bancos centrais
independentes que não financiam diretamente os défices orçamentais.
Na definição do saldo orçamental desejável, deve ser tida em conta a conjuntura económica.
Na definição de política orçamental não pode ser ignorado o efeito da variação da despesa e
receita do Estado sobre o ritmo do crescimento. Em períodos de recessão, a existência de
défice orçamental pode ser considerada uma situação desejável, porque a procura e a
absorção da poupança do Estado compensam a falta de procura e o excesso de poupança
desejada dos privados.
A situação do Estado não pode ser comparada com a de uma pessoa individual, devido
- à duração do Estado, que não tem de se preocupar em pagar as suas dívidas durante
o seu período de vida
- ao facto do Estado não poder abstrair-se do efeito que o saldo orçamental tem sobre
a economia em geral e sobre as suas próprias receitas
49
Quando o Estado resolve aumentar a sua poupança, reduzindo a despesa, isso tem um
efeito direto de redução do PIB; além disso, como a despesa do Estado é também
rendimento de famílias ou empresas, a redução da despesa pública vai refletir-se em
redução da despesa destas (nova redução do PIB) e em redução das próprias receitas fiscais
do Estado. Nada disto acontece quando uma família reduz a sua despesa.
Efeitos conjunturais
Na definição de um orçamento equilibrado como objetivo de política orçamental, não pode
ser ignorada a sua relação com a conjuntura económica, por duas razões:
1. o saldo do orçamento pode variar significativamente em função da conjuntura,
independentemente de qualquer alteração de políticas;
2. as medidas de política económica que devem ser adotadas para contrariar a
conjuntura, designadamente para contrariar uma recessão, envolvem a necessidade
de défices orçamentais.
- estabilizadores automáticos
Os efeitos da conjuntura sobre o equilíbrio orçamental recebem o nome de estabilizadores
orçamentais automáticos, e resultam do comportamento de certas despesas e receitas em
função das flutuações da atividade económica.
A receita fiscal é muito sensível ao ritmo do crescimento económico. A maioria dos impostos
incidem sobre rendimentos e sobre transações, e ambos tendem a diminuir com uma crise:
- pessoas que ficam desempregadas não têm salários;
- as compras de bens e serviços descem afetando tanto os impostos sobre os lucros
das empresas como os que incidem sobre a despesa de consumo;
- impostos que são liquidados não são pagos por os devedores entram em insolvência.
Inversamente, a receita fiscal tende a aumentar em períodos de expansão pelos fenómenos
opostos.
50
Inversamente, se há criação de emprego e aumento dos rendimentos, estas despesas
descem.
Todas estas despesas são despesas efetivas e o saldo orçamental varia por mero efeito da
conjuntura e mesmo que não exista qualquer nova medida de políticas públicas. Em
recessão, aumentam as despesas e diminuem as receitas, degradando o saldo orçamental.
Em expansão, as receitas aumentam, as despesas diminuem e o saldo melhora.
Chamamos a estes efeitos estabilizadores porque o seu funcionamento ajuda, só por si, a
contrariar os efeitos do ciclo económico. Uma recessão é marcada pela falta de procura
agregada. Estes efeitos de agravamento do défice orçamental são, portanto, positivos no
sentido de aliviar uma recessão.
Objetivo deste cálculo - sabermos em que medida o saldo efetivo que se verifica está a ser
determinado pela conjuntura, ou seja: até que ponto o défice que se regista resulta da
conjuntura e até que ponto existiria de qualquer maneira mesmo que a economia estivesse
em pleno emprego.
Problemas metodológicos
- políticas anti cíclicas
No longo prazo, o produto tende a coincidir com o produto potencial, e o ritmo do
crescimento económico depende essencialmente do crescimento da produtividade.
51
No curto prazo, registam-se afastamentos entre o produto e o produto potencial (hiato de
produto) caracterizados alternativamente por situações de inflação ou de desemprego. Nos
processos de afastamento para baixo relativamente ao produto potencial, o valor do PIB
pode diminuir em termos reais, e temos uma recessão.
Os instrumentos para corrigir esta situação são a política monetária e a política orçamental.
- política monetária: face à procura de moeda, as autoridades monetárias descem a
taxa de juro, mas essa política torna-se ineficaz quando a taxa de juro se torna
próxima de 0
- política orçamental: pode ser usada para contrariar o excesso de poupança desejada
dos agentes económicos, fazendo o Estado uma “poupança negativa”, ou seja,
registando um saldo orçamental deficitário. Pode assim ser aconselhável, face a uma
recessão, adotar uma política orçamental expansionista, através de medidas que
aumentam a despesa ou reduzem a receita. Devemos ter em conta que a política
orçamental apenas age sobre a procura interna, que é apenas uma parte da procura
agregada.
O grau de abertura da economia ao exterior limita a eficácia da política orçamental, quer
porque não afeta a procura externa (que pode estar também em queda numa recessão
global) quer porque parte dos acréscimos de despesa pública e privada se dirigem a bens
importados, dissipando o efeito da política orçamental.
Despesas primárias e Os juros como despesas obrigatórias (art. 44.º, n.º 2 da LEO) e não
discricionárias
Para apuramento do saldo primário, comparam-se as despesas efetivas com as receitas
efetivas, com apenas uma modificação: a receita efetiva é comparada com a despesa
primária. A despesa primária não inclui a despesa com os juros da dívida pública, que é uma
52
despesa efetiva. As despesas com juros são promovidas a “despesas não efetivas
honorárias.” e são despesas obrigatórias (art. 44º/2 LEO).
O argumento político
O objetivo de equilíbrio de saldo primário tem uma fundamentação essencialmente política.
O Governo financia com receitas efetivas as despesas que “decide”, e paga com empréstimos
a despesa que “herda”, ou seja, os juros da dívida passada. Assim, não sendo possível atingir
o equilíbrio efetivo (por culpa do peso da dívida herdada), pelo menos atingir-se-ia o
equilíbrio de saldo primário.
53
construção de estradas (falando-se então em despesas extraordinárias recorrentes). É
artificial, porque não tem consistência económica a ideia de que despesas que tendem a
repetir-se todos os anos não têm benefícios em períodos futuros e que despesas
extraordinárias têm necessariamente esses benefícios.
A“sobrevivência” contemporânea
O critério de equilíbrio ordinário não tem hoje aplicação geral, mas há uma sua
sobrevivência na qualificação de certas despesas como extraordinárias para justificar o
incumprimento de metas de saldo orçamental efetivo. A razão de ser dessa qualificação é
não se justificarem medidas de correção de desvios se a situação que motivou o
desequilíbrio das contas não tender a repetir-se.
54
● as receitas que provêm do aforro dos particulares, como a dívida pública, são
receitas de capital.
A despesa do Estado deve ter como objetivo aumentar o bem-estar das populações. O PIB,
não é um indicador perfeito do bem-estar. O principal problema da regra do equilíbrio
corrente é que não fornece um indicador de sustentabilidade do endividamento público. Se
um país tem um orçamento em equilíbrio corrente, então tem necessariamente um défice
55
efetivo, ou seja, está a ter endividamento líquido pelo valor das despesas de capital. Esse
endividamento pode ser superior ao que é possível, podem estar a ser gerados défices
efetivos que fazem com que a dívida pública cresça duradouramente mais depressa do que o
PIB.
O art. 10º LEO (princípio da estabilidade orçamental) estabelece como objetivo uma
“situação de equilíbrio de excedente orçamental”. A situação de equilíbrio ou excedente
orçamental é objetivo para o conjunto das administrações públicas.
- art. 20.º e 22º a 25º (Regras orçamentais gerais): o saldo orçamental estrutural
(primário e corrigido)
Art. 20º LEO: objetivos do saldo orçamental,por referência aos critérios do PEC
● nº1 - objetivo de médio prazo para o saldo orçamental estrutural, que é o que
resultar das regras do PEC
● nº2 - limite do défice estrutural , limite de 0,5% do PIB, conforme o Tratado
Orçamental
● nº6 - obrigação de melhorar anualmente este saldo estrutural enquanto o objetivo
de médio prazo não for atingido
A LEO deixou desde 2015, qualquer objetivo para saldo do orçamento do Estado.
56
Art. 22º a 24º - desvio significativo face ao objetivo de médio prazo e seus mecanismos de
correção, sendo que o conceito de desvio significativo resulta do PEC.
Compete ao Conselho das FP: “alertar o Governo para a necessidade de reconhecimento da
existência de desvio significativo” (artigo 22º), emitir parecer sobre o plano de correção
apresentado pelo Governo (artigo 23º) e sobre o reconhecimento da situação de
excecionalidade (artigo 24º)
1ª fase
A adoção de medidas de caráter preparatório das fases seguintes quer a nível da política
económica dos Estados-Membros quer da política monetária.
- política económica: necessidade de privilegiar as políticas ativas de emprego e as
políticas de investimento público e privado, para a reabilitação ou construção de
infraestruturas de redes de transportes, educação e saúde.
- política financeira: necessidade de aprofundar a liberdade de circulação de capitais
dentro do território da União, e passa a exigir-se ainda que os Estados-Membros
comecem a adotar medidas para a convergência monetária e, sobretudo, para a
estabilidade dos preços.
57
Noção de dívida: “a dívida global bruta, em valor nominal, existente no final do exercício, e
consolidada pelos diferentes setores do governo em geral, tal como definido no primeiro
travessão”, ou seja, trata-se do valor nominal da dívida consolidada do Setor Administrações
Públicas.
Noção de investimento: “a formação bruta de capital fixo, tal como definida no Sistema
Europeu de Contas Económicas Integradas”.
Noção de endividamento líquido: diferença entre receitas efetivas e despesas efetivas, o que
nos permite afirmar que no art.º 126.º do TFUE se encontra consagrado expressamente o
critério do défice efetivo do orçamento.
3º fase
Nascimento de uma nova moeda (o Euro) e fixação de taxas de conversão irreversíveis para
cada moeda nacional. Estava criado um novo espaço de integração económica no continente
europeu. Em 2011 dá-se uma reforma profunda do PEC. Em 2012 foi aprovado um
instrumento de direito internacional, o Tratado sobre a Estabilidade, Coordenação e
Governação na União Económica e Monetária (TECG) ou Tratado Orçamental.
Direito Internacional
- Tratado sobre Estabilidade, Coordenação e Governação (não inclusão no acervo de
Direito da UE)
Assinado em 2012. No capítulo dedicado ao Tratado Orçamental podemos encontrar normas
relativas à delimitação dos défices orçamentais e às metas a atingir por cada um dos Estados
Membros a que estas disposições são aplicáveis e normas relativas ao mecanismo de
correção a instituir a nível nacional.
5. Processo orçamental
É a preparação pelo Governo da Proposta de Lei de Orçamento do Estado e a sua discussão e
votação pela AR, que conduz anualmente à aprovação do Orçamento.
58
relativas à distribuição de poderes entre instituições e organismos e que podem variar ao
longo das várias fases, na concretização de um princípio de supra-infra-ordenação entre o
poder executivo e o legislativo. Esta dinâmica orçamental também é condicionada pelas
decorrências de normas externas que vinculam o Estado Português.
Atualização do Programa de Estabilidade (art. 33.º LEO) e Lei das Grandes Opções (art. 34.º
LEO)
Programa de Estabilidade → documento de previsão macroeconómica e de previsão
calendarizada de medidas a tomar ao longo do período abrangido (5 anos). É um documento
sem conteúdo normativo (as medidas têm de ser adotadas por um instrumento adequado) e
a sua eventual rejeição tem um significado político. O horizonte de cada programa de
estabilidade deve ser (art. 20º LEO) a convergência do saldo orçamental com o objetivo de
médio prazo.
Lei das Grandes Opções → a antecipação da apresentação da LGO é como uma alteração do
seu conteúdo, que passa a incluir além da “Identificação e planeamento das opções de
política económica” também “programação orçamental plurianual” (art. 34º LEO).
O Programa de Estabilidade é enviado pelo Governo até 15 de abril para a AR que o deve
apreciar (33º LEO). Segue-se o envio ao Conselho Europeu e à Comissão Europeia até final
de abril (33º/6 LEO), devendo ser tornado público. A revisão anual do Programa de
Estabilidade para o Conselho Europeu e para a Comissão deve ser feita presencialmente até
30 de abril, sendo que a AR tem 10 dias para o apreciar. Logo, o processo tem de ser iniciado
antes de 1 de abril.
59
Concluída esta análise é divulgada a opinião sobre a validade do programa e, se necessário,
é emitido pela Comissão um parecer com recomendações para que o estado-membro
proceda ao ajustamento do Programa.
Foi introduzido um regime transitório que vigorará em vez do artigo 35º da LEO até 2025.
Este regime transitório desloca a vinculatividade do QPDP do total de despesa para o saldo
60
orçamental, permitindo que o Parlamento aprove um orçamento com maior despesa total
desde que sejam igualmente aprovadas medidas de compensação que, apesar da redação
do número 10 deste artigo, nos parece terem de ser medidas de aumento da receita.
● Breve referência aos métodos de avaliação das receitas e despesas (a omissão legal)
A LEO é hoje omissa quanto aos métodos para estimar a despesa necessária para o ano
seguinte. Depreende-se que essa estimativa é sobretudo da responsabilidade dos gestores
de programas orçamentais, que devem estimar os custos das medidas de políticas públicas
previstas.
61
importantes porque do seu realismo depende a credibilidade das projeções de receita e
despesa e consequentemente a projeção relativa ao saldo orçamental. Por exemplo, o valor
da receita fiscal e de algumas despesas, como o subsídio de desemprego, depende do ritmo
de crescimento da economia e da criação de emprego.
Aprovada a PLOE, esta segue para ratificação por parte do Presidente da República e, caso
seja promulgada, segue-se a sua publicação em Diário da República. Após aprovação, o
orçamento é também enviado para cumprimento dos mecanismos de supervisão
multilateral da União Europeia.
Da CRP e da lei resulta assim uma grande amplitude formal dos poderes de emenda do
orçamento que são concedidos à AR. A efetividade prática desses poderes varia consoante a
configuração do Parlamento, com o facto do Governo dispor ou não de uma maioria
parlamentar.
62
- caso de maioria parlamentar: o Governo possa contar com a rejeição da generalidade
das propostas a que se oponha
- caso dos Governos minoritários: a aprovação ou não de alterações depende das
maiorias conjunturais, emenda a emenda, que o Governo consiga negociar ou que se
formem no sentido de alterar a sua proposta
Esta solução de direito nacional dá ao parlamento possibilidades de alteração do Orçamento
muito mais alargadas do que as que existem no sistema jurídico de outros países.
Art. 167º/2 CRP: lei-travão, não é aplicável à própria discussão do orçamento mas apenas a
iniciativas que ocorrem durante a execução desses orçamentos. A reserva constitucional de
iniciativa do Governo condiciona juridicamente os poderes parlamentares de emenda.
Criaram-se condições para que o papel do Parlamento não fosse o do controlo da disciplina
orçamental mas o de “minar essa disciplina bombardeando a proposta de orçamento
apresentada pelo governo com alterações que cortam receitas e aumentam despesas”.
A existência de um QPDP na LEO, cujos totais de despesas são vinculativos para o Orçamento
que é aprovado no mesmo ano, significa que a lei passou a prever um momento de votação
parlamentar do total da despesa, inserido no processo orçamental, embora na sua 1ª fase e
antes da discussão do próprio orçamento.
A Proposta de Lei de Orçamento inclui todos os elementos que irão integrar a própria Lei do
Orçamento do Estado, que são o articulado e os mapas orçamentais (art. 40º LEO). Inclui
ainda o Relatório, que deve incorporar a justificação da política orçamental proposta pelo
Governo e um vasto conjunto de elementos informativos enumerados (art. 37º LEO). Estes
elementos compreendem as previsões macroeconómicas sobre as quais:
- assentam as previsões orçamentais
- a explicação de medidas constantes do orçamento
- indicadores sobre o desempenho orçamental
- estado das contas públicas
- projeção das necessidades líquidas de financiamento (défice ou superavit
orçamental)
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- a permitir um debate parlamentar mais informado
- permitem que a opinião pública possa conhecer e compreender melhor as opções
constantes da proposta de orçamento
- constituem o melhor instrumento para um ponto de situação sobre a situação
financeira do país e prestação de contas
- fornecem informação útil para os agentes económicos
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Este regime de duodécimos não é aplicável ao pagamento de prestações sociais aos
beneficiários do sistema de segurança social, podendo esse pagamento ser realizado pelos
valores que sejam devidos nos termos da lei, independentemente das dotações previstas no
orçamento.
6. A Lei do Orçamento
6.1. Sistematização (art. 40.º)
Articulado, mapas orçamentais e demonstrações orçamentais e financeiras
Nos termos do artigo 40º da LEO, a lei do Orçamento do Estado integra um articulado, os
mapas contabilísticos e as demonstrações orçamentais e financeiras.
65
6.2. O articulado e o problema do conteúdo “estritamente necessário
para a execução da política orçamental e financeira” (art. 41º/2);
cavaleiros orçamentais (budget riders)
Art. 41º/1 LEO: indica quais as matérias que devem constar do articulado da Lei do
Orçamento, ou seja, o conteúdo necessário do articulado, definido por lei de valor reforçado.
No geral são as regras relativas à execução do próprio Orçamento.
Alínea c): estatui que do articulado deve constar o montante máximo do acréscimo de
endividamento líquido, determinando assim que no Orçamento se deve exercer a
competência atribuída ao Parlamento pelo alínea h) do artigo 161º da CRP.
Esta diversidade de conteúdo do articulado levanta algumas questões que devemos analisar,
designadamente a admissibilidade e o regime aplicável a normas sem conteúdo orçamental
e a autorizações legislativas, e a sujeição ou não das normas do articulado ao princípio da
anualidade.
66
mesmo na vigência do OE, podem ser alteradas por iniciativa dos deputados ou (se
se tratar de matéria de competência concorrente) por ato legislativo do Governo.
Não existindo uma proibição constitucional dos cavaleiros orçamentais, ela existe desde
2001 em lei de valor reforçado, dispondo o nº 2 do artigo 41º da LEO que “As disposições
constantes do articulado da lei do Orçamento do Estado limitam-se ao estritamente
necessário para a execução da política orçamental e financeira”.
Coloca-se então o problema de saber se também se limita a vigência das restantes normas
constantes do articulado.
- normas jurídicas que são aplicáveis diretamente a partir do orçamento: a alteração
legislativa incorpora-se no próprio diploma que é alterado e a sua vigência passa a
estar dependente da vigência deste último, não estando assim por qualquer forma
limitada pelo princípio da anualidade.
- normas vigoram diretamente a partir do Orçamento do Estado. Aqui, a questão deve
ser dividida em duas:
67
interpretação casuística relativa a uma intenção não expressa pelo legislador orçamental ou
à natureza orçamental das normas.
Trata-se de saber se esta determinação sobre a vigência da norma, prolongando-a para além
do ano económico, é admissível face à Constituição e face à LEO. A solução deve ser extraída
da mesma regra que foi enunciada para os cavaleiros orçamentais: se se trata de normas
que não têm estritamente natureza orçamental, não lhes é aplicável o regime jurídico
próprio da Lei do Orçamento, devendo ser tratadas como lei comum, logo não estão
limitadas pelo princípio constitucional da anualidade.
Enquanto para as autorizações legislativas em geral vale a regra de que só são válidas
enquanto se mantiverem em funções o Governo que as pediu e o Parlamento que as
aprovou, as autorizações legislativas em matéria fiscal ficam sujeitas ao mesmo princípio de
anualidade que vale para as restantes normas orçamentais.
Condições:
- a autorização legislativa está incluída no Orçamento
- trata de matéria fiscal
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constam as transferências feitas do Estado para os outros subsectores que exercem
autonomamente poderes orçamentais em função da descentralização financeira: setor
regional (regiões autónomas dos Açores e da Madeira) e setor local (integrando municípios e
freguesias).
As administrações regional e local têm direito a que lhes seja destinada uma parte das
receitas do Estado. As suas leis de financiamento determinam como se calcula o montante
em causa, e a Lei do Orçamento concretiza anualmente esse dever de apoio financeiro do
Estado, estabelecendo nestes mapas o valor a transferir.
- Ótica de caixa
Orçamento de gerência: Os mapas orçamentais são realizados segundo uma ótica de caixa,
ou seja, de entradas e saídas de dinheiro: são previstas as receitas que se prevê receber num
determinado ano económico, e as despesas cujo pagamento se preveja ocorrer nesse
mesmo ano económico.
Orçamento de exercício: as despesas são inscritas no ano económico em que surge
juridicamente a obrigação, e as receitas são inscritas no ano económico em que surge
juridicamente o crédito a favor do Estado.
69
Num orçamento de exercício, pelo contrário, esta despesa seria prevista no ano em que se
vai assumir o compromisso de pagar, e este método tem assim a vantagem de permitir
acompanhar a assunção de compromissos e a evolução da situação patrimonial do Estado.
- Ótica do acréscimo
Há vários anos que se ensaia que o Estado tenha também uma contabilidade realizada na
ótica do acréscimo, ou seja, considerando as variações patrimoniais do Estado no ano em
causa, e portanto na ótica do orçamento de exercício. A LEO de 2015 é uma nova tentativa
de implementação deste método contabilístico, criando a obrigação de o Estado dispor de
uma contabilidade na ótica do acréscimo, que designou por contabilidade financeira (artigo
62º da LEO).
A contabilidade financeira não teria apenas expressão no registo das operações de execução
orçamental. Teria também uma dimensão previsional, ou seja, as previsões orçamentais
seriam realizadas não só na ótica da contabilidade orçamental, mas também na ótica da
contabilidade financeira. (alínea c) do art. 40º e o art. 43º da LEO). A implementação de
contabilidade financeira ao nível da execução orçamental ainda não foi completada e foi
adiada para 2026.
70
Dentro dessas situações de rigidez, podemos identificar algumas em que ela tem uma
natureza jurídica, no sentido de que existe uma obrigação de realizar certas despesas. A
questão das vinculações externas refere-se à existência no ordenamento jurídico de um
conjunto de obrigações relativas ao conteúdo material do Orçamento do Estado, que
vinculam tanto o Governo na elaboração da Proposta como o Parlamento na aprovação final
do Orçamento.
Lei, nesta situação, corresponde aos atos legislativos independentemente de terem origem
na AR ou no Governo e às regras de Direito Internacional que vinculam o direito português.
Existindo uma obrigação de pagar, a mera não orçamentação não faz cessar tal obrigação,
nem extingue o correspondente direito de receber, de que será titular uma pessoa exterior
ao Estado. O Orçamento deve conter a dotação correspondente sob pena do Governo ficar
sujeito a dois deveres incompatíveis – a obrigação de pagar, resultante de lei ou de contrato;
e a impossibilidade legal de pagar porque só podem ser pagas as despesas que estejam
previamente inscritas no Orçamento.
Há um dever de identificar quais são os valores inscritos que dizem respeito a despesas
obrigatórias (art. 42º da LEO). Essa obrigação permite avaliar o cumprimento do dever de
orçamentação das despesas obrigatórias. O cumprimento do dever de inscrição de despesas
obrigatórias é mais fácil de verificar quando se trate de despesas cujo valor se conhece no
momento da votação do Orçamento.
71
Pagamento das despesas decorrentes de lei:
A vinculação do Orçamento à inscrição das dotações necessárias ao pagamento das
despesas decorrentes de lei não significa uma total vinculação da Lei do Orçamento às
obrigações decorrentes de legislação pré-existente. A Constituição não exclui que a própria
Lei do Orçamento revogue a lei que cria a referida obrigação, ou a modifique, ou suspenda a
sua vigência para o ano orçamental em causa – salvo, naturalmente, se se tratar de norma
internacional ou constante de lei de valor reforçado que a Lei do OE não possa modificar.
72
Quando não se limitar a atuação do Governo, este pode assumir compromissos plurianuais
de despesa, e que se o Parlamento não anular em tempo esses compromissos, então
trata-se de compromissos do Estado que o Orçamento deve respeitar.
As alterações orçamentais que a LEO reserva à Assembleia da República são exercidas, tal
como a aprovação do Orçamento, por via legislativa, através da aprovação de uma proposta
de lei que só pode ser apresentada pelo Governo. A apresentação de uma proposta de lei de
Revisão Orçamental – “Orçamento Suplementar” ou “Orçamento Retificativo” - é uma opção
livre do Governo. Assim, salvo iniciativa governamental, o conteúdo orçamental não pode
ser alterado. Essa garantia de estabilidade do conteúdo orçamental desdobra-se em 3
aspetos de regime jurídico que é necessário analisar separadamente:
- a lei travão
- o regime da apreciação das propostas de lei de alteração orçamental
- a proteção concedida ao conteúdo do orçamento pelo caráter de lei reforçada da lei
orçamental
Esta norma não se aplica na discussão da proposta de Orçamento (aí ainda não receitas e
despesas previstas), só quando aprovado o Orçamento é que a CRP protege a competência
do Governo para a execução orçamental.
73
Isto não impede que o Parlamento tenha iniciativa legislativa de aumentar a despesa ou
diminuir a receita, mas impede que tal legislação tenha efeitos no ano em curso.
Os poderes parlamentares de emenda estão também condicionados pelo facto da lei travão
ser aplicável à discussão e votação da lei de revisão orçamental, ao contrário do que
acontece no debate do próprio orçamento. Os deputados e grupos parlamentares não
podem no âmbito dessa discussão apresentar propostas de alteração que aumentem a
despesa ou diminuam a receita. Logo, só poderão ser aprovadas medidas nesse sentido se
elas constarem da proposta do Governo.
A proteção conferida pelo caráter reforçado de uma lei apenas abrange aqueles conteúdos
normativos que pertençam à lei de valor reforçado. Tendo em conta a diversidade de
conteúdos que tendem a constar da lei do Orçamento, a questão é saber quais desses
conteúdos “pertencem” ao Orçamento e estão protegidos de alteração por lei comum.
74
A inclusão na Lei do Orçamento é aliás proibida pelo art. 41º/2 da LEO. Esta categoria de
“cavaleiros orçamentais” pode livremente ser alterada pela legislação comum.
Assim sendo, face a disposições orçamentais que, por exemplo, alterem as taxas de IRS ou
regulem a retribuição devida por horas extraordinárias na administração pública, não parece
que se possa dizer que “pertencem” ao Orçamento no sentido de terem um valor reforçado.
Nada na Constituição ou na LEO indica que se trata de matérias que devam ser reguladas na
Lei do Orçamento do Estado.
Estas disposições podem ser alteradas ao longo do ano por legislação ordinária, e essa
legislação não tem um exclusivo de iniciativa do Governo, podendo a iniciativa ser dos
deputados. Se se tratar de competência concorrente, pode o Governo alterá-las através de
Decreto-Lei.
Tratando-se de iniciativa de deputados (ou de qualquer outra entidade que não o Governo),
as normas constantes do Orçamento não podem ser alteradas se tal alteração se traduzir em
aumento da despesa ou diminuição da receita, pois tal implicaria uma violação da lei travão.
Esta limitação, contudo, nada tem a ver com o valor reforçado da Lei do Orçamento.
Concluímos assim que, embora a Lei do Orçamento seja uma lei de valor reforçado, essa
qualificação é irrelevante para a maior parte das normas que em regra integram o articulado
do orçamento, mesmo tratando-se de normas com impacto na receita ou na despesa. O
teste mais relevante face a iniciativas legislativas com conteúdo financeiro é se têm como
efeito um aumento da despesa ou diminuição da receita, violando a lei travão.
7. Execução orçamental
7.1. Competência e princípio da legalidade
A execução do orçamento é a atuação pública através da qual se arrecadam as receitas e
realizam as despesas autorizadas no Orçamento. Essa execução vai ser realizada pela
atuação quotidiana dos serviços do Estado e das restantes entidades incluídas no sector da
administração pública. O Governo é o órgão superior da administração pública (artigo 182º
da Constituição) e é ao Governo que compete fazer executar o Orçamento do Estado, como
determina a alínea b) do 199º da Constituição.
75
A legislação portuguesa reserva dentro do Governo, uma “posição proeminente” ao Ministro
das Finanças, que se traduz na necessidade da sua aprovação para um conjunto de atos de
criação de despesa; para a assunção de compromissos de natureza plurianual; para
utilização da dotação provisional e de parte das restantes dotações orçamentais; e para
certas alterações orçamentais.
No artigo 53º/3 da LEO, essas normas devem ser agrupadas num único decreto-lei, que é
geralmente designado por Decreto Lei de Execução Orçamental (DLEO).
Está presente no artigo 52º da LEO, estando previsto tanto para as receitas – alínea b) do
n.º1 – como para as despesas - alínea b) do n.º 3. As receitas e as despesas só se podem
realizar se tiverem “inscrição orçamental” (é necessário fazer a correspondência entre o
valor a gastar ou receber e as tipologias de receita e de despesa que estão nos mapas
orçamentais).
- Se se cobra uma taxa, é necessário que o orçamento das receitas tenha previsto a
arrecadação de uma verba daquela taxa ou tipo de taxa.
- Se se pretende pagar um salário, é necessário que o orçamento tenha previsto, nos
mapas da despesa, o pagamento desse tipo de despesa por aquela entidade.
Modalidades da tipicidade:
- Tipicidade qualitativa
No caso da receita, ver o que dispõe o n.º 2 do artigo 52º da LEO. O valor inscrito para a
receita é uma mera previsão, que pode ser ultrapassada. A autorização para a arrecadação é
dada pela inscrição daquele tipo de receita nos mapas, não sendo relevante qual o valor
inscrito.
- Tipicidade quantitativa
Na execução do orçamento das despesas dizemos que o montante inscrito nos mapas
orçamentais é um limite à despesa que pode ser realizada. Logo é necessário realizar uma
76
operação que se designa por verificação do cabimento (ou cabimentação): é necessário
verificar se o valor da despesa a realizar “cabe” na dotação ou crédito orçamental (i.e., se
não ultrapassa o valor da dotação). Pretende-se verificar se existem os meios financeiros
para fazer face à despesa, sendo uma operação de controlo da legalidade financeira que visa
assegurar que aquela despesa está autorizada pelo orçamento da despesa. É necessário
também assegurar que existem os meios financeiros para suportar a despesa que se faz.
77
Unidade de tesouraria
O dinheiro é um bem fungível e lógico, do ponto de vista da gestão racional das
disponibilidades financeiras do Estado, que todos os recursos financeiros públicos sejam
geridos conjuntamente.
Art. 54º LEO - estes recursos financeiros estão subordinados ao princípio da unidade de
tesouraria, que “consiste na centralização e manutenção dos dinheiros públicos na
Tesouraria Central do Estado.”
Vantagens:
- se os dinheiros públicos estivessem compartimentados ou dispersos por várias
entidades, facilmente faltaria dinheiro em algumas enquanto haveria excesso em
outras, obrigando, ou a condicionar o ritmo da execução orçamental, ou a recorrer a
empréstimos de curto prazo
- melhor gestão dos recursos financeiros públicos, maximizando o acesso às
disponibilidades financeiras existentes e restringindo o recurso à dívida flutuante ao
estritamente necessário
Neste regime, perdeu importância o controlo prévio de cada ato de despesa por parte do
Ministério das Finanças, passando esse controlo para o próprio serviço, e prevendo a LBCP
(art. 10º) um “controlo sistemático sucessivo” da gestão orçamental.
78
A LBCP prevê também a existência de um regime de autonomia reforçada, o regime de
autonomia administrativa e financeira.
Condições de atribuição deste regime (cumulativas - art. 6º LBCP)
(i) que o regime se justifique para a sua adequada gestão
(ii) que as suas receitas próprias atinjam um mínimo de dois terços das despesas
totais.
Não basta a verificação material das condições, sendo ainda necessário que o regime seja
atribuído à entidade por ato legislativo. Adicionalmente, têm autonomia administrativa e
financeira as entidades em que tal decorra de imperativo constitucional – como é o caso das
universidades (art. 76º CRP).
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As normas de execução orçamental (constantes do OE ou do DLEO) podem estabelecer
regras das quais resulta o condicionamento da utilização de parte do valor da dotação,
designadamente condicionando essa utilização a uma autorização. Logo há uma “cativação”.
A autorização em causa pode ser de uma entidade hierarquicamente superior, mas as
cativações mais relevantes são as que sujeitam a libertação de uma parte da dotação
orçamental a autorização do Ministro das Finanças.
Nº4 → obriga a que o compromisso de despesa obedeça a um requisito legal adicional: que
o seu pagamento seja “assegurado pelo orçamento de tesouraria da entidade”.
Na descrição feita até agora, temos suposto a situação em que o compromisso da despesa e
o seu pagamento são realizados no mesmo ano, ou seja, na execução do mesmo orçamento.
Neste caso, quando se faz o cabimento do compromisso, o valor comprometido fica
indisponível até que, mais tarde nesse ano, se tenha de realizar o pagamento.
O Nº3 do art. 52º, ao referir a dotação do programa orçamental, está a supor a existência de
mapas plurianuais da despesa, e que, ao assumir o compromisso, se faz o cabimento na
dotação global (plurianual) do programa, identificando se o pagamento ocorre em anos
futuros. A dotação prevista no orçamento plurianual funciona assim como teto global da
despesa que pode ser comprometida no âmbito de um programa.
Não se verificando a efetiva cobrança de receita no montante previsto, não era possível
pagar, gerando-se um problema de atraso nos pagamentos, transitando por vezes essas
dívidas para anos subsequentes. A Lei dos compromissos e pagamentos em atraso
introduziu novas exigências aplicáveis no momento da assunção de compromissos.
Se as entidades têm pagamentos em atraso, esta previsão das receitas próprias a cobrar
passa a ser feita por um critério determinado diretamente pela lei, e que assenta na receita
cobrada nos dois anos anteriores. Assim, uma entidade que tenha tido o referido
80
“otimismo” na previsão de receitas, e consequentemente tenha ficado na situação de
pagamentos em atraso, fica impedida de prosseguir a mesma prática.
Se todos os serviços realizassem a maior parte da despesa no início do ano criar-se-ia uma
situação difícil do ponto de vista da tesouraria do Estado, porque não existiriam os meios
financeiros para fazer os pagamentos. A dotação não está em geral totalmente disponível
para os serviços logo no início do ano, ou seja, a autorização para realizar a despesa não
pode ser logo totalmente utilizada.
Ela vai sendo libertada gradualmente ao longo do ano, através de um procedimento que se
designa por libertação de créditos e que envolve o pedido mensal de libertação da parte da
dotação de despesa necessária à realização dos pagamentos previstos para o mês
correspondente. A definição do ritmo da libertação dos créditos é deixado às normas que
regulam a execução orçamental (presentes no próprio Orçamento ou no DLEO).
Estes orçamentos de tesouraria, apesar do nome de “orçamento”, não têm qualquer poder
autónomo para autorizar despesa, limitando-se, do lado da despesa, a registar
compromissos cuja autorização pelo Orçamento do Estado deve ter sido corretamente
verificada (art. 52º/4 da LEO - exigência)
Nos serviços que dependam apenas das receitas gerais do Estado, o orçamento de
tesouraria, do lado da receita, é mera concretização do ritmo a que sejam libertados os
créditos orçamentais da despesa. Quando existam receitas próprias, o orçamento de
tesouraria das entidades incluirá também a previsão dessa receita, para o momento em que
se estima que venha a ser efetivamente cobrada.
81
8. Controlo (da execução) orçamental
8.1. Motivações jurídico-política e económica
A fiscalização da execução orçamental é uma das fases da execução orçamental e destina-se
a garantir uma gestão adequada dos dinheiros públicos. Tem como objetivo principal
controlar a execução do orçamento da despesa, ou seja, a forma como o Estado gasta as
suas receitas, mas não omite os problemas relacionados com a cobrança de receitas. Os
estados têm o direito de recolher receitas coativas e de penalizar o incumprimento das
obrigações tributárias, então os contribuintes têm o direito de controlarem diretamente ou
através de entidades legitimadas para o efeito, o destino que é dado a essas receitas.
82
É um tipo de controlo que permite verificar o cumprimento das regras que subjazem à
execução orçamental de forma mais cuidadosa do que os demais tipos de controlo e que
permite apreciar quer a regularidade dos atos de receita e despesa, quer as justificações
concretas apresentadas para o efeito.
De entre as diferenças de regime destacam-se as que dizem respeito aos serviços dotados de
autonomia administrativa e as que regulam o controlo da execução orçamental dos serviços
com autonomia administrativa e financeira.
Dada falta de autonomia financeira estes serviços têm que manter todas as suas
disponibilidades financeiras junto do IGCP e que requerer, em cada mês, a libertação de
créditos orçamentais à Direcção-Geral do Orçamento (DGO) – art.º 3.º LBCP e art.º 17.º
RAFE. Este pedido é efetuado mediante requerimento e acompanhado do balanço da
execução do mês anterior e da descrição dos pagamentos que se espera que venham a
ocorrer no mês seguinte.
Antes da autorização da despesa, um controlo prévio da despesa, que por ser feito dentro
do próprio serviço se denomina por autocontrolo interno e por ser anterior à realização da
despesa é prévio (a denominada “conferência”) – art.º 26.º do RAFE.
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heterocontrolo interno sucessivo e sistemático, a efetuar trimestralmente pelo Ministério
das Finanças (al. b) do n.º 1 artigo 53.º.)
Nos casos em que seja solicitada a transferência das verbas inscritas no orçamento de
estado, a DGO efetua, um heterocontrolo interno prévio e, quanto a essas verbas, também
um controlo sucessivo por parte do mesmo órgão – art.º 11.º da LBCP e art.º 53.º do RAFE.
A discussão e votação da conta – remetida à AR até 30 de junho do ano seguinte ao que diz
respeito - é precedida da receção do parecer do Tribunal de Contas e do parecer do
Conselho de Finanças Públicas bem como dos pareceres da comissão permanente e das
comissões setoriais. O processo orçamental apenas fica completo com a aprovação da conta
e com a sua publicação no Diário da República.
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216.º) e pela Lei de Organização e Processo do Tribunal de Contas - LOPTC como um
verdadeiro tribunal, tem funções que exorbitam as tradicionais funções jurisdicionais. As
especificidades deste Tribunal alargam-se também à sua composição: os juízes conselheiros,
recrutados por concurso público documental, não são necessariamente magistrados nem
têm que possuir formação jurídica.
● repartição de competências
Do n.º 4 do referido art.º 64.º da LEO decorre que a competência principal de controlo
jurisdicional da execução orçamental cabe ao Tribunal de Contas reconhecendo-se
competência aos demais tribunais. A competência para a efetivação do controlo jurisdicional
da execução orçamental reparte-se entre os vários órgãos jurisdicionais, ou seja, os
Tribunais, de acordo com as várias esferas de competência.
Estão sujeitos a fiscalização prévia por parte do Tribunal de Contas os atos e contratos que
originem despesa pública, praticados pelas entidades referidas no art.º 2.º da LOPTC, e cujo
valor exceda o valor fixado no art.º 48.º da LOPTC. Ficam sujeitos a fiscalização prévia pelo
Tribunal de Contas todos os atos de realização de despesa, mas apenas aqueles que se
encontrem previstos no art.º 46.º LOPTC e não excetuados pelo art.º 48.º.
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Submetido o pedido de fiscalização prévia, este é inicialmente analisado pelos Serviços da
Direção-Geral do Tribunal de Contas. Pode ser solicitada qualquer diligência instrutória. Caso
seja possível concluir desde logo pela existência de conformidade, será a própria
Direção-Geral a emitir a declaração de conformidade do ato (art. 83.º/1 LOPTC).
Assim, a emissão de visto nos casos em que não tenha sido possível a emissão de declaração
de conformidade ou em que tenham existido dúvidas sobre a legalidade dos atos ou
contratos fica sujeita a uma apreciação por 3 juízes ou pelo plenário da secção. Se há
fundamentos para a recusa do visto a apreciação terá sempre que ser feita pelo plenário da
secção. Qualquer que seja a decisão, esta deve ser comunicada à entidade requerente no
próprio dia em que tenha sido proferida.
O processo tem que estar concluído no prazo de 30 dias úteis contados a partir da data de
registo da entrada, prazo este que se suspende quando tenha sido solicitado à entidade
requerente o envio de elementos ou a prática de atos instrutórios. A suspensão ocorre entre
a data em que é ordenado o envio de documentos ou a prática de diligências até à data em
que os elementos solicitados sejam enviados ou as diligências concluídas.
O visto do TdC assume-se como condição de eficácia financeira do ato apreciado, que não
pode produzir efeitos até à data da notificação da concessão do visto. Se durante esse
período tiverem sido realizados trabalhos ou adquiridos bens pode ser efetuado o seu
pagamento, desde que tal não implique encargos superiores aos previstos para aquele
período.
- atos ou contratos que, estando sujeitos a visto, sejam de valor inferior a € 950 000,00
o ato ou contrato pode produzir apenas efeitos não financeiros (45º/4 a contrario da
LOPTC)
- atos, contratos ou demais instrumentos sujeitos à fiscalização do TdC cujo valor seja
superior a € 950 000,00 apenas se admite a produção de efeitos não financeiros se o
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ato ou contrato sujeito a fiscalização prévia tiver sido praticado na sequência de um
processo de ajuste direto por motivos de urgência imperiosa resultante de
acontecimentos imprevisíveis pela entidade adjudicante (45º/5 LOPTC)
A recusa de visto tem como efeito direto a cessação de todos os efeitos jurídicos dos atos ou
contratos visados que ocorram após a notificação da decisão do TdC. Estando em regra
suspensos os efeitos financeiros, admite-se, excecionalmente, o pagamento daquelas
despesas cuja contrapartida material já tenha ocorrido, desde que o valor não ultrapasse o
que estava programado para a execução do ato ou do contrato naquele período.
● Fiscalização concomitante
Prevista no art. 49º da LOPTC e tem algumas similitudes com a fiscalização prévia. Contudo,
o procedimento, seus efeitos e vinculatividade dos juízos emitidos pelo TdC são diversos. É
semelhante a finalidade da fiscalização: acautelar o cumprimento das normas
jurídico-financeiras aplicáveis aos atos de gestão pública.
Podem ser detetadas ilegalidades e, quando tal suceda, os processos podem ser remetidos
para apuramento de eventual responsabilidade financeira. Sempre que essa ilegalidade diga
respeito a procedimentos pendentes, deve ser notificada a entidade com competência para
autorizar a despesa ser notificada para remeter o processo para emissão de visto prévio,
suspendendo-se de imediato a possibilidade de execução do ato até ao momento da
emissão de visto favorável.
● Fiscalização sucessiva
Regulada nos arts. 50º e ss. LOPTC distingue-se das restantes porque incide sobre atos e
contratos já executados. Neste tipo de fiscalização são apreciadas (todas) as contas das
entidades sujeitas à jurisdição do TdC, avaliados os sistemas de controlo interno de cada
serviço e a “economia, eficácia e eficiência” da gestão financeira. O TdC assegura, ainda, a
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fiscalização da comparticipação nacional nos recursos da União Europeia e aplicação dos
recursos financeiros oriundos da União Europeia.
As práticas de boa gestão podem incluir ainda a referência ao momento escolhido para a
prática do ato ou execução do contrato. Por se tratar de juízos técnicos que se afastam dos
juízos de legalidade esta atividade constitui uma nuance específica do controlo jurisdicional
efetuado pelo Tribunal de Contas e que não existe nos casos em que a fiscalização
jurisdicional da execução orçamental é efetivada pelos demais Tribunais.
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