Textos Literários No Enem
Textos Literários No Enem
Textos Literários No Enem
Teoria
Quando tratamos de interpretação de texto, é muito importante saber que, para além dos textos não
literários, existem os conceitos por trás na produção de um texto literário, ou seja, um texto com
propósitos artísticos. Trata-se de uma forma de arte que tem como matéria-prima a palavra.
O texto literário é aquele que não apresenta compromisso com o real nem com os fatos: por mais
que um autor tenha como referência a realidade, ele acabará recriando-a de alguma forma,
colocando em seu texto sua interpretação subjetiva e sua visão de mundo particular. Tais textos
não se propõem a cumprir uma função utilitária e informativa, compromissada com o mundo
externo, o que não quer dizer também que eles não possam apresentar informatividade.
É importante apontar que, apesar de a literatura ser um recorte específico das diferentes
manifestações artísticas, em diversos momentos da história, ela acompanhou as artes plásticas,
apresentando-se em movimentos que também abordaram a pintura, a escultura e, para além das
artes plásticas, o cinema. Vale ressaltar que os textos literários recorrem constantemente à
linguagem conotativa, isto é, ao sentido figurado dos termos.
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.
Literatura
……………………………………………………………………….
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. — Então,
doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não.
A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
(Manuel Bandeira)
Favelário nacional
Quem sou eu para te cantar, favela,
Que cantas em mim e para ninguém
a noite inteira de sexta-feira
e a noite inteira de sábado
E nos desconheces, como igualmente não te conhecemos?
Sei apenas do teu mau cheiro:
Baixou em mim na viração,
direto, rápido, telegrama nasal
anunciando morte... melhor, tua vida.
(...)
Aqui só vive gente, bicho nenhum
tem essa coragem.
(...)
Tenho medo. Medo de ti, sem te conhecer,
Medo só de te sentir, encravada
Favela, erisipela, mal-do-monte
Na coxa flava do Rio de Janeiro.
Medo: não de tua lâmina nem de teu revólver
nem de tua manha nem de teu olhar.
Medo de que sintas como sou culpado
e culpados somos de pouca ou nenhuma irmandade.
Custa ser irmão,
custa abandonar nossos privilégios
e traçar a planta
da justa igualdade.
Somos desiguais
e queremos ser
sempre desiguais.
E queremos ser
bonzinhos benévolos
comedidamente
sociologicamente
mui bem comportados.
Mas, favela, ciao,
que este nosso papo
está ficando tão desagradável.
vês que perdi o tom e a empáfia do começo?
(...)
(Disponível em: https://www.pensador.com/frase/MTYwMTQyMw/)
Literatura
Como interpretar um texto narrativo?
Os textos narrativos são aqueles que possuem uma sequência temporal para contar uma história.
Os elementos da narrativa são essenciais para esse tipo textual, pois é por meio deles que ocorrem
as ações da história. Dividem-se em cinco:
● Personagem: São as pessoas (ou seres) presentes na narrativa. De acordo com sua
importância, são denominados como “protagonistas” (figuras principais) ou “coadjuvantes”
(personagens secundários);
● Enredo: É o tema/assunto da história, que pode ser contada de maneira linear ou não-linear
(respeitando ou não a cronologia). É a partir dele que irá se desdobrar o decorrer da narrativa;
● Tempo: Pode ser cronológico (que segue uma linearidade dos acontecimentos) ou psicológico
(ocorrer de modo interior e digressivo). Toda a narrativa é transmitida em um certo tempo para
que se façam os acontecimentos;
● Espaço: É o local em que se desenvolve a narrativa.
● Narrador: Também chamado de “foco narrativo”, é a “voz” do texto, ou seja, é quem irá
transmitir as ideias presentes da narrativa. Pode ser dividido em: narrador personagem (1ª
pessoa – aquele que participa e conta a história); observador (3ª pessoa – aquele que observa
e conta a história) e onisciente (3ª pessoa – aquele que observa e conhece de forma
aprofundada os personagens).
Em suma, para uma boa interpretação de textos literários, deve-se investir em:
● Ampliar o seu vocabulário;
● Aumentar o seu repertório (isto é, explorar a leitura de diferentes gêneros textuais);
● Compreender as camadas de sentido presentes no texto;
● Situar os diferentes contextos de produção dos textos (isto é, o período em que foi produzido,
o movimento/escola literária);
● Identificar a recepção da obra.
Literatura
Exercícios de fixação
4. (Enem, 2022) Morte lenta ao luso infame que inventou a calçada portuguesa. Maldito D.
Manuel I e sua corja de tenentes Eusébios. Quadrados de pedregulho irregular socados à mão.
À mão! É claro que ia soltar, ninguém reparou que ia soltar? Branco, preto, branco, preto, as
ondas do mar de Copacabana. De que me servem as ondas do mar de Copacabana? Me deem
chão liso, sem protuberâncias calcárias. Mosaico estúpido. Mania de mosaico. Joga concreto
em cima e aplaina. Buraco, cratera, pedra solta, bueiro-bomba. Depois dos setenta, a vida se
transforma numa interminável corrida de obstáculos. A queda é a maior ameaça para o idoso.
“Idoso”, palavra odienta. Pior, só “terceira idade”. A queda separa a velhice da senilidade
extrema. O tombo destrói a cadeia que liga a cabeça aos pés. Adeus, corpo. Em casa, vou de
corrimão em corrimão, tateio móveis e paredes, e tomo banho sentado. Da poltrona para a
janela, da janela para a cama, da cama para a poltrona, da poltrona para a janela. Olha aí, outra
vez, a pedrinha traiçoeira atrás de me pegar. Um dia eu caio, hoje não.
TORRES, F. Fim. São Paulo: Cia. das Letras, 2013.
Com apuro formal, o poema tece um conjunto semântico que metaforiza a atitude feminina
de
(A) tenacidade transformada em brandura.
(B) obstinação traduzida em isolamento.
(C) inércia provocada pelo desejo platônico.
(D) irreverência cultivada de forma cautelosa.
(E) desconfiança consumada pela intolerância.
Literatura
7. (Enem, 2021) O pavão vermelho
Ora, a alegria, este pavão vermelho,
está morando em meu quintal agora.
Vem pousar como um sol em meu joelho
quando é estridente em meu quintal a aurora.
Clarim de lacre, este pavão vermelho
sobrepuja os pavões que estão lá fora.
É uma festa de púrpura. E o assemelho
a uma chama do lábaro da aurora.
É o próprio doge a se mirar no espelho.
E a cor vermelha chega a ser sonora
neste pavão pomposo e de chavelho.
Pavões lilases possuí outrora.
Depois que amei este pavão vermelho,
os meus outros pavões foram-se embora.
COSTA, S. Poesia completa: Sosígenes Costa. Salvador: Conselho Estadual de Cultura, 2001.
Confrontada pela dona da casa, a personagem alemã explica as razões de sua presença ali.
Em seu discurso, o amor é concebido por um viés que
(A) defende a idealização dos sentimentos.
(B) explica filosoficamente suas peculiaridades.
(C) questiona a possibilidade de sua compreensão.
(D) demarca as influências culturais sobre suas práticas.
(E) reforça o papel da família na transmissão de seus valores.
Exercícios de fixação
1. O texto literário tem como característica uma linguagem pessoal, subjetiva, envolta de emoção,
figuras de linguagem devido à conotação etc.
2. A
Os textos literários costumam apresentar uma linguagem mais subjetiva e, muitas vezes,
figurada. No entanto, não significa que seja uma linguagem desordenada ou confusa.
3. Um poema é um texto literário composto de versos, e que podem conter rimas ou não. Assim,
diferente da prosa, escrita em texto corrido, o poema é escrito em versos que se agrupam em
estrofes.
5. A
O texto literário se caracteriza por um caráter expressivo e trabalho estético com a linguagem
Exercícios de vestibulares
1. D
É correta a opção [D], pois os três últimos versos do poema, “que ora ofereço ao filólogo Aurélio
Buarque de Holanda” / para que as registre em seus léxicos, / pois que o povo já as registrou”,
permitem deduzir que o eu lírico valoriza a linguagem popular e não a norma culta dos literatos.
2. B
O público demonstra seu conservadorismo ao reagir negativamente à expressão futurista e
pretender retornar a estilos passadistas.
3. D
A hesitação da menina em perguntar à mãe o sentido da palavra “desquitada”, somada ao clima
gerado após a pergunta, representa o estigma social em relação à figura da mãe solteira.
4. A
O texto se organiza pela sequenciação de frases verbais e nominais que parecem sugerir, na
escrita, um discurso cheio de irritação e revolta.
5. A
No fragmento, a cena de tortura a Bom-Crioulo reproduz as concepções geradas pelo
cientificismo e pelo determinismo ao atribuir a sua capacidade de resistir à dor a figura física
do negro.
Literatura
6. A
O título do poema contém um vocábulo criado por João Cabral, aproximando a mulher de um
animal, em explícita analogia. Da mesma forma que o ouriço, ao sentir-se ameaçada, a mulher
se fecha para se proteger, assumindo até uma atitude agressiva, “capaz de bote, de salto”. Mas
“Se o de longe lhe chega em”, “de esfera aos espinhos, ela se desouriça”, ou seja, se o
desconhecido se aproxima de modo não ofensivo, ela se desarma, acabando por transformar
sua aparência “multiespinhenta” “na carne de antes”, pronta para oferecer-lhe seu “abraço”. O
poema metaforiza, assim, a atitude feminina de tenacidade transformada em brandura, como
se afirma em (A).
7. D
O eu lírico abre o poema apresentando a alegria como um pavão vermelho e, ao longo das
estrofes, fará várias metáforas para indicar o esplendor desse animal/sentimento. Além disso,
na última estrofe, ele fala de pavões lilases (representantes de outros sentimentos que não a
alegria) que passaram por sua vida, mas foram embora após a chegada do vermelho.
8. E
A plasticidade verbal verifica-se na oscilação do tamanho dos sintagmas, em acréscimo ao uso
de vocábulos (em especial adjetivos) que reforçam a descrição do inverno, contribuindo para a
estética impressionista do texto. Além disso, a cadência melódica diz respeito aos recursos
sonoros utilizados no trecho, como a repetição do fonema /r/ em “Tristes nevoeiros, frios
negrumes da longa treva boreal”, ou seja, usando a aliteração (figura de linguagem muito
explorada em poemas) em um texto prosaico.
9. D
A personagem alemã descreve o amor como algo influenciado por elementos culturais, como
a filosofia, que muda a ideia das relações interpessoais: não se trata de um amor idealizado ou
pautado em “loucuras”, mas prático e sincero.
10. B
A expressão “isso te devo” reveste-se de um sentido potencialmente irônico, pois o eu lírico
indica por meio dela sentimentos negativos (expressos pelo desassossego, alma esvaziada,
etc.) causados por esse interlocutor. Nota-se, também, o amadurecimento do eu lírico em
função dessas experiências vividas e um desapego em relação a essa figura com quem eu
poético teve um vínculo emocional.