Interpretação Bíblica

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ÍNDICE

Aula 1: AS TENTAÇÕES NO DESERTO E O MAU USO DA BÍBLIA 4

Aula 2: O MAU USO DAS ESCRITURAS 5

Aula 3: INTERPRETAÇÃO BÍBLICA 8

Aula 4: PERIGOS QUE RONDAM A HERMENÊUTICA 10

Aula 05: ELEMENTOS IMPORTANTES EM NOSSA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA: 12

Aula 6: Observação: Papel de Detetive (1) 13

Aula 7: Observação: Papel de Detetive (2) 15

Aula 8: ALGUNS PASSOS PARA A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA 18

Aula 9: REGRAS BÁSICAS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA (1) 20

Aula 10: REGRAS BÁSICAS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA (2) 23

Aula 11: REGRAS BÁSICAS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA (3) 26

Aula 12: REGRAS GRAMATICAIS = 10-17 28

Aula 13: REGRAS GRAMATICAIS = 10-17 (2) 31

Aula 14: REGRAS GRAMATICAIS = 10-17 (3) 35

Aula 15: REGRAS HISTÓRICAS = 18-20 37

Aula 16: REGRAS TEOLÓGICAS = 21-24 39

Aula 17: COMO FAZER UMA APLICAÇÃO43


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Aula 1: AS TENTAÇÕES NO DESERTO E O MAU USO DA BÍBLIA

Mt. 4.1-11 (as tentações no deserto tem a ver com a prova se Jesus ama a Deus
de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento – Dt.
6.5).

1ª tentação tem a ver como o verdadeiro crente deve viver. O crente vive da
Palavra de Deus, tanto da palavra de Deus revelada e escrita quanto da palavra de
ordem de Deus pela qual ele supre as necessidades da vida. (Dt. 8.3) – Israel não
entendeu isso no deserto!!!

2ª tentação envolveu provar a Deus (Ex. 16.4; Dt. 8.2). Deus é quem nos põe à
prova, jamais o inverso deve acontecer. Isso se constitui incredulidade, falta de
confiança, uma implícita negação da fidelidade de Deus (Dt. 6.16 cf. Ex. 17.7).

3ª tentação exige de Jesus adoração ao rival de Deus. Se Jesus se inclinasse e


adorasse a Satanás, faria o que Israel fez depois de entrar na terra prometida.
Adoraram a Baal (Os 2), por acharem que Baal era a fonte de sua prosperidade (Dt.
6.10-15).

Deus não nos deu as Escrituras simplesmente para tê-las guardadas na


estante ou abertas sobre uma mesa no salmo 23 ou 91. O desejo de Deus é que
sejamos bons obreiros que manejam BEM a palavra da verdade (II Tm 2.15), pois sua
intenção é que seus ensinamentos sejam aplicados à vida de cada um, habilitando-
nos para as boas obras de Deus (II Tm 3.16,17).

Logo depois de seu batismo, Jesus passou 40 dias no deserto sendo tentado
pelo diabo (Mt 4 e Lc 4). O diabo lança três tentações contra Jesus. Jesus as rebate
usando as Escrituras. Satanás usa também as Escrituras para tentar a Jesus citando
o Salmo 91.11,12. Ao conferirmos o texto citado por Satanás, confirmaremos o fato
claro de que ele não cita errado o texto, em vez disso, ele faz mau uso da
passagem, torcendo a intenção do salmista.

Assim como Satanás tentou seduzir e enganar a Jesus usando a Bíblia, ele
também o faz conosco. A melhor maneira de não cairmos nas armadilhas “bíblicas”
do diabo é aprendermos a manejar bem a palavra da verdade.
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Aula 2: O MAU USO DAS ESCRITURAS

A pergunta a ser levantada é: Como e quando podemos usar mal as


Escrituras? Vejamos cinco exemplos simples:

1. Usamos mal as Escrituras quando ignoramos o que ela diz sobre um


dado assunto.

A ordenação de homossexuais ao ministério vem se tornando uma prática comum


em igrejas estrangeiras, e este movimento vai se fortalecendo também no Brasil. No
entanto, a Bíblia condena expressamente as práticas homossexuais (Lv 18.22; Rm
1.26,27). Podemos ignorar ensinos bíblicos claros por simples desconhecimento ou
por pura rejeição deliberada. O segundo caso se constitui em pecado de rebeldia
contra Deus.

2. Usamos mal as Escrituras quando tomamos um verso fora de seu


contexto.

Isso pode ser entendido de duas formas:


a) Quando isolamos um verso de contexto imediato. Exemplos clássicos são: Is 41.6
(uma mensagem de otimismo, enquanto o contexto fala de idolatria); Ef. 5.22
(uma mensagem que pode levar à exploração feminina, enquanto o contexto
também fala da obrigação do marido).

b) Quando isolamos uma afirmação de seu contexto doutrinário mais amplo.


Podemos ler Jo 16.24 e achar que Deus responderá sempre positivamente
qualquer oração que fizermos, mas ao olharmos para Mc 14.36 e I Jo 5.14,15
concluímos que não é bem assim.

3. Usamos mal as Escrituras quando fazemos uma passagem dizer o que


ela não diz.

Lendo Mc 16.17,18, muitos afirmam estar ali a obrigatoriedade do falar em línguas


como sinal do batismo do Espírito Santo. Porém, o texto está simplesmente
descrevendo que esses acontecimentos acompanharão a Igreja em algumas
situações na vida da Igreja.
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4. Usamos mal as Escrituras quando enfatizamos indevidamente coisas


menos importantes dentro do texto.

De onde veio a esposa de Caim? Paulo pregou ou não o Evangelho na Espanha?


A carta de Paulo aos Gálatas foi enviada à Galácia do norte ou do sul? São
questionamentos desnecessários a uma compreensão correta e eficaz do texto, mas
que sempre são levantadas como entrave por muitas pessoas. São perguntas
interessantes, mas não importantes para o entendimento da Bíblia.

5. Usamos mal as Escrituras quando tentamos levar Deus a fazer a nossa


vontade, em vez de nos submetermos à Sua vontade.

Um rapaz ou uma moça apaixonados lêem Mateus 18.19 e se convencem de que


determinada moça ou rapaz devem casar consigo. Então em “obediência” a esse
texto chamam um ou uma colega para orarem a Deus para “pegarem” a moça ou o
rapaz de seus sonhos. A Bíblia não foi escrita para isso.

II. A NECESSIDADE DE MÉTODOS DE ESTUDO DA BÍBLIA

Precisamos aprender a “manejar bem a palavra da verdade”, isso significa


aprender a usar as regras de interpretação e aplicá-las ao nosso hábito de estudar a
Bíblia.

Métodos de estudo não são regras de interpretação, mas linhas de orientação


que facilitam a aplicação das regras de interpretação na compreensão do texto
sagrado.

a) Ajudam a termos objetividade no estudo.


b) Ajudam no aprendizado, memorização e repasse do ensino.
c) Ajudam na preparação do discipulado e evangelização.
d) Facilitam a formação de convicções.
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III. PRINCÍPIOS DE ESTUDOS BÍBLICOS:

1. Você deve fazer investigação original. At 17.11.


Conferir a verdade é uma atitude nobre. É preciso prestar muita atenção nas
afirmações bíblicas. É importante que nossas convicções se formem em torno do que
a Bíblia realmente diz.

2. Você deve fazer uma reprodução escrita:


Esta é a diferença básica entre ler e estudar. Quando você aprende a escrever
a sua pesquisa, adquire unidade e coerência de pensamento.

3. O seu estudo deve ser constante e sistemático:


Exemplos bíblicos: At 17.11, “todos dias”; Js. 1.8, “dia e noite”; Sl 1, “dia e
noite”. Não estude aleatoriamente (sem rumo certo), mas seguindo um programa que
lhe dará objetividade.

Ex.: ler livros inteiros da Bíblia e tentar compreender a sua mensagem (Ex. João;
Êxodo).

Escolha assuntos específicos e pesquise-os (Ex.: A Santificação; A Segunda


Vinda de Cristo).

4. O seu estudo precisa ser compartilhável:


O objetivo do estudo bíblico é o discipulado (instruir a outros - II Tm 2.2). Você
deve buscar o crescimento a fim de ser usado no crescimento dos outros. Deus quer
que nos tornemos cooperadores na sua obra (I Co 3.9).

5. Você deve aplicar o seu estudo primeiro à sua própria vida:


Ler e não obedecer é olhar no espelho e depois esquecer a sua aparência (Tg
1.22). O estudo da Bíblia deve ser “pão provado” 1 antes de ser repassado no
discipulado.

6. Seja PERSISTENTE:
Esta é a diferença entre a maturidade e a estagnação. Não desista, ainda que
seja difícil; o sacrifício sempre valerá a pena, porque Deus abençoa.

1 Harold Cook, O Livro de Monóculos, p.?


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Aula 3: INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

Sl. 119.1-18

Primeiro, precisamos entender com clareza que a Bíblia é a própria Palavra de Deus.
Ao lê-la, eu transfiro para minha vida a própria Palavra de Deus.

Abordagens de Leitura Bíblica:


1. Abordagem Intuitiva:
PALAVRA
DE
DEUS
PALAVRA (APLICADA À
DE LEITURA NO MINHA VIDA E
DEUS VÉRNACULO NA VIDA DE OUTROS)
(BÍBLIA)

REVELAÇÃO REVELAÇÃO

Vernáculo é a língua que leio. Se eu fosse um africano, leria pela língua falada em
minha região.
Os elementos da Abordagem Intuitiva são: a leitura no vernáculo (português), para
que eu tenha acesso direto a Palavra de Deus e a Revelação de Deus.

A Abordagem Intuitiva tem como riscos a:


a. alegorização, que é você espiritualizar o texto;
b. utilização de pressupostos pessoais (culturais, políticos, psicológicos, etc).

2. Abordagem Científica:
É oposta a Intuitiva. Tenta levar-nos a desligar emocionalmente do texto e me dirigir
ao contexto histórico-gramatical, ou seja, descobrir o seu sentido.
Esse método faz uso do que é conhecido como EXEGESE (pesquisa científica da
história e da gramática)

PALAVRA PALAVRA
DE DE
DEUS DEUS
(BÍBLIA) (BÍBLIA)

PASSADO PRESENTE
SENTIDO
A grande vantagem é descobrir o sentido real do texto.
A grande desvantagem é não contextualizar para a vida prática de hoje.
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A Abordagem Científica, no final das contas, nos autoriza a voltar para a Abordagem
Intuitiva, pois ela não contextualiza, ficando amarrada somente no sentido literal da
palavra.

3. Abordagem Contextual
Pega toda a Abordagem Científica e acrescenta a Exegese do Hoje (Política, Cultura,
Problemas, etc).

EXEGESE EXEGESE

PALAVRA PALAVRA
DE DE
DEUS DEUS
(BÍBLIA) (BÍBLIA)

{
PASSADO PRESENTE Os significados variam de:
SENTIDO Pessoas;
Região;
SIGNIFICA: País;
Situação Econômica;
História Atual (conjuntura)

Ex.: Êxodo 12.29-36

Tema: O DEUS QUE INTERVÉM

Deus intervém em favor dos seus...


I – Realizando julgamento sobre os inimigos do seu povo (29-30)

Deus intervém em favor dos seus...


II – Libertando seu povo escolhido (31-34)
A. usando o opressor para isso
B. libertando-os completamente
C. libertando-os para O adorarem
D. libertando-os como povo consagrado

Deus intervém em favor dos seus...


III – Concedendo a seu povo, graça diante dos olhos dos inimigos (35-36)
A. em suas necessidades importantes
B. elevando-os seus a uma posição de vitoriosos
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Aula 4: PERIGOS QUE RONDAM A HERMENÊUTICA

Efésios 1.3-14

1. Pré-Entendimento: é o perigo em se tornar o elemento que condiciona a


interpretação do texto bíblico.
O perigo é usar o pré-entendimento como chave para abrir o texto bíblico.

2. Nova Hermenêutica: fundir o horizonte do entendimento do intérprete com o


horizonte do entendimento da passagem bíblica.
O objetivo é que o intérprete compreenda o texto.

HORIZONTE DO HORIZONTE DO HORIZONTE DO


ENTENDIMENTO DO ENTEND. DO ENTEND. DE OUTRAS
TEXTO INTÉRPRETE PESSOAS
Sentido Signicado Universitários;

Intenção Contexto Social; Jovens;


Contexto Político;
Contexto Original Contexto Religioso; Idosos;
Contexto Cultural.
Outro povo;

3. Cânon dentro do Cânon: cânon é o processo de reconhecimento de inspiração


ou não. Cânon é a medição da inspiração do livro da Escritura.
Uma determinada tradição eclesiástica pode enfatizar certas ênfases em
detrimento de outras.

Ex.: Heb. 13.17 e Mt. 20.24-28 (se eu enfatizar um e não enfatizar outro, estarei, de
certa forma, caindo no risco da canonização de determinado texto).

É a inserção de conceitos dentro do texto. Se eu não equipar o texto, serei


levado a desenvolver um conceito de que tenho autoridade sobre os demais (Hb.
13.17). Estou introduzindo uma autoridade canônica dentro de um texto já
canonizado, mas que deve ser analisado segundo a luz de outros textos.

Se eu não analisar um texto “obscuro” através de “vários” outros textos mais


claros, estarei desenvolvendo uma doutrina, ou seja, estarei canonizando um texto,
segundo meu pré-entendimento (que não é negociável, do meu ponto de vista), já
embutido em mim.
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Entretanto, é necessário levar em consideração que meu pré-entendimento


não-negociável, às vezes, interpreta um texto de maneira equivocada.

Não devemos definir um texto de forma apressada, pois se tirarmos um sentido


errado do texto, todos os significados poderão sair errados, uma vez que os
significados são derivados do sentido que tirarmos da passagem.

O cânon dentro do cânon se manifesta quando damos preferência a certos


textos bíblicos. É impossível termos uma teologia séria se nos alimentarmos somente
de partes da Bíblia. Toda a Bíblia é inspirada por Deus (2Tm 3.16).

DOIS PROCEDIMENTOS PARA A NOSSA VIDA:

a. embarcar em nossa leitura com a Bíblia toda, confrontando toda a nossa


vida àquelas partes da Palavra de Deus que não gostamos.

b. diálogo com outros intérpretes sobre o texto que lemos. Se possível, com
intérpretes de outras culturas, com outros pré-entendimentos não
negociáveis.
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Aula 05: ELEMENTOS IMPORTANTES EM NOSSA INTERPRETAÇÃO


BÍBLICA:

1º) a Bíblia é a Palavra de Deus e significa reconhecer que encontramos a voz


de Deus / a revelação de Deus.
A Bíblia revela o que é suficiente para nossa salvação, não explicando totalmente o
que Deus é.

2º) a Bíblia é normativa. É regra de fé e prática. É autoridade sobre nossa vida.


Ao lermos precisamos encontrar aonde Deus quer que coloquemos em prática na
nossa vida.

3º) Sola Scriptura: só a Bíblia é normativa a fé cristã. Esse ponto é muitíssimo


importante, uma vez que o Catolicismo Romano considera a voz do Papa como
estando no mesmo nível da revelação escriturística.
Dentro do Sola Scriptura, temos ainda o Tota Scriptura, que é Toda a Bíblia.

Alguns elementos do Sola Scriptura não podem ser esquecidos por nós:

a. a Bíblia interpreta a si mesma. Cremos que a Bíblia não se contradiz,


existindo uma coerência interna perfeita.

b. O texto obscuro é interpretado à luz de todo o ensino Bíblico. Exemplo: se


não entendo o que Paulo diz ao usar determinada palavra, devo pegar os
outros livros/cartas de Paulo e ver qual a visão geral de Paulo sobre àquela
palavra.
Não posso esquecer de ver também o contexto mais amplo dentro do qual
àquela determinada palavra é usada por Paulo.

4º) Diversidade da Escrita Bíblica. A Bíblia foi escrita aproximadamente por um


período de 1600 anos por mais ou menos 40 autores de culturas diferentes, com
graus de intelectualidade diferentes. A Diversidade com a Unidade se casam devido à
Revelação / Inspiração de Deus.

5º) Desenvolvimento Progressivo. A Escritura é um livro de Desenvolvimento


Progressivo. Idéias, termos, definições e teologia que não aparecem de foram clara
inicialmente, ao longo da mensagem bíblica são desenvolvidas e vistas com clareza.
A Trindade não se manifesta com clareza em Gn 1.26-27, mas através do
Desenvolvimento Progressivo na Escritura, ela se manifesta de forma mais clara,
especialmente no Novo Testamento.
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Aula 6: OBSERVAÇÃO: PAPEL DE DETETIVE (1)

A Observação é o ato de reconhecer e anotar, registrando o que se pode ver


num determinado texto. Seu propósito é alcançar familiaridade com o texto em todos
os seus detalhes, sejam explícitos ou implícitos. A exatidão é muito importante na
observação, pois nem tudo terá igual valor para a interpretação.
Uma boa capacidade de observação é alcançada com concentração e prática.
Siga essas instruções:

1. Anote em uma folha de papel em branco tudo o que você colher em suas
observações.

2. Adote uma atitude mental correta.


➢ Observação exige um ato da vontade, porque para aprender é preciso querer
aprender.
➢ Observação exige persistência em saber e conhecer. Aprender exige disciplina e
diligência. Os resultados não aparecem imediatamente, mas eles vêm com
certeza.
➢ A observação exige paciência. O verdadeiro aprendizado toma tempo. O processo
é tão importante quanto o resultado.
➢ A observação exige registro diligente. Quando escrevemos nossas observações
ampliamos nosso conhecimento.
➢ A observação exige cautela. Porque é apenas o primeiro passo do estudo bíblico.
• Não se prenda a minúcias.
• Não pare com as observações na medida em que avança.
• Não dê igual valor a tudo. Siga a estrutura do texto e avalie com
discernimento.

3.As seis questões básicas: exemplo com 1 Pedro 1.


➢ QUEM? – Quais os personagens envolvidos?
➢ O QUÊ? – Que sucedeu? Que idéias são expressas? Quais os resultados?
➢ ONDE? – Consulte um dicionário Bíblico ou um Atlas bíblico ou uma Bíblia de
Estudos (A Bíblia de Estudos de Genebra é uma excelente Bíblia de Estudos).
Onde aconteceu?
➢ QUANDO? – Qual a época? Qual o fundo histórico. Veja um dicionário Bíblico
ou Bíblia de estudos.
➢ POR QUÊ? – Quais as razões para o que foi escrito e da forma como foi
escrito.
➢ COMO? – Como sucederam os acontecimentos? Com que eficiência? Como
os métodos produziram resultados?

4. As palavras chaves.
Em alguns textos a palavra chave salta aos olhos. Amor (I Co 13); Fé (Hb 11); Espírito
(Rm 8); provação e sofrimento em I Pedro.
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Mas nem todos os textos são assim. Por exemplo, às vezes a tradução
esconde a palavra chave (Sl 37.1,7, 8 – indignação, irritação e impaciência). O uso de
um dicionário bíblico é muito útil nessa fase da observação.
A princípio esse caminho se mostra difícil e complicado, e é mesmo. Porém,
com o tempo adquirimos mais prática. Não precisamos de pressa, somente de
perseverança.

5. Comparações e Contrastes.
As comparações mostram como as coisas se parecem e os contrastes
mostram em que são diferentes.
Para observar comparações observe se há no texto as expressões: “assim
como... assim também”, “como”, semelhantemente etc.
Registre todas as formas em que as comparações são feitas no texto. Paulo
faz duas comparações entre o seu ministério e o papel dos pais numa família (I Ts
2.7,11); duas comparações sobre o retorno de Cristo em 5.1-3 (será como a vinda de
um ladrão e como as dores de parto da mulher grávida).
Os contrastes nos são dados geralmente pelas palavras: mas, porém, contudo,
no entanto, entretanto, não, nem. Quando lemos uma narrativa ou declaração nas
Escrituras, devemos considerar as coisas que são parecidas em certos aspectos,
mas diferentes em outros 2.
Efésios 2.1-10 é um magnífico exemplo de comparação e contraste.

6. O uso de referências ao Antigo Testamento.


As únicas Escrituras que as pessoas tinham nos primeiros tempos da Igreja era o
Antigo Testamento. A vinda de Cristo foi o cumprimento das profecias e promessas do
AT. Por essa razão, os escritores do NT citam constantemente o AT a fim de mostrar
que Jesus é o Messias.
Temos isso claramente presente em Lucas 4.16-21.

7. As repetições.
Observe repetição de palavras, frases e expressões na passagem em estudo. Faça
um gráfico das repetições. Isso nos ajuda a fazer as perguntas certas ao texto. Veja
um exemplo em Josué 1.1-9:
Palavra ou frase Número de repetições Versículos usados
Sê forte e corajoso 3 6, 7, 9
Lei 2 7, 8

2 Walter A. Henrichsen, Métodos de Estudo Bíblico, Mundo Cristão, p.70.


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Aula 7: OBSERVAÇÃO: PAPEL DE DETETIVE (2)

Continuidade da aula anterior...

Os verbos nos mostram a ação e o movimento da passagem; o que está sendo feito
ou o que está acontecendo. Faça uma lista separada e observe:
➢ Qual a ação do verbo? Passado, presente ou futuro?
➢ A maioria dos verbos estão na voz ativa, passiva ou reflexiva?
➢ O modo é indicativo (narrativa), imperativo (mandamento) ou subjuntivo (dúvida ou
desejo)?
➢ Algum verbo se repete?
Em Hebreus 11 os verbos estão na voz ativa e no modo indicativo, demonstrando
que pela fé, participamos ativamente no propósito de Deus para nossas vidas. Em
Efésios 1.3-14 os verbos estão na voz passiva, indicando que a nossa salvação é
obra inteiramente de Deus, e que ela aconteceu fora de nós (na cruz) sendo
aplicada dentro de nós pelo Espírito Santo.

Exercício: Note a mudança nos tempos verbais no Salmo 32. Passado – presente –
futuro.

8. As ilustrações.
Na Bíblia, muitos ensinos são transmitidos por meio de figuras: Jesus chamava os
discípulos de ramos de uma videira (Jo 15); pescadores de homens (Mt 10);
lavradores (Jo 4); ovelhas (Jo 10). Somente em Tiago 3 há nove figuras ilustrativas.
Em II Tm 2 aparece 6 figuras do obreiro cristão. Efésios 6.13-17 fala da armadura do
cristão. Pergunte: Como essa figura esclarece o ensino da passagem? Se não
houver ilustrações ou figuras na passagem estudada, veja se elas aparecem em
outra passagem que trate do mesmo assunto.

9. As Explicações.
“Explicação é algo usado para ilustrar, esclarecer, iluminar, descrever, ou
demonstrar”3 um princípio. O tamanho de uma explicação pode variar muito, desde
parte de um versículo, até capítulos inteiros. Siga a lógica de raciocínio do autor
bíblico:
➢ Qual o seu objetivo? De que modo ele quer atingir esse objetivo? Como ele
apresenta o assunto?
Muitas vezes uma afirmação suscita uma pergunta num versículo, que é respondida
no próximo verso ou no próximo parágrafo. Observe as ligações entre um parágrafo e

3 Walter Henrichsen, Métodos de Estudo Bíblico, Mundo Cristão, p.76.


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outro. Paulo faz uma conclusão em Rm 3.28 e daí (4.1-8) ilustra sua conclusão com
dois exemplos do AT: Abraão e Davi.

10. Palavras e conjunções.

Preste atenção no uso da expressão “se” (Ex 19.5). Promessas não se concretizam,
porque suas condições não são cumpridas pelos crentes.
➢ Portanto = introduz um sumário das idéias ou os resultados de alguma ação (I Co
15.58).
➢ Porque, pois, então = muitas vezes introduzem uma razão, explicação ou
resultado (I Ts 1.5, 9).
➢ Mas, porém, todavia, contudo = faz saber que a seguir vem um contraste (I Ts 5.4;
3.6; Fp 4.13,14).
➢ Para que, a fim de que = expressões usadas para expor um propósito ou alvo (I Ts
3.13).

Algumas conjunções para pesquisas futuras:

a. Conjunção aditiva: (Gn. 3.3; 19.35; Mt. 6.20)


Conjunção que liga meramente dois termos ou duas orações de função idêntica: e,
nem

b. Conjunção adversativa: (Ef. 2.3)


Conjunção que liga dois termos ou duas orações de função idêntica, estabelecendo,
porém, uma idéia de contraste, de oposição: mas, porém, contudo, todavia, etc.

c. Conjunção causal: (Gn. 3.10; 6.12; 12.10; Lc. 1.20)


Denota causa: porque, pois, porquanto, pois que, já que, visto que, desde que, etc.

d. Conjunção comparativa: (Js. 2.12)


Conjunção que inicia uma oração subordinada que contém o segundo membro de
uma comparação, de um confronto: que, do que, qual, quanto, assim como, etc.

e. Conjunção conclusiva: (Lc. 22.70)


Expressa conclusão ou conseqüência: logo, pois, portanto, por conseguinte, etc

f. Conjunção condicional: (Dt. 5.16)


Conjunção que inicia uma oração subordinada em que se expressa uma hipótese ou
condição: se, caso, contanto que, salvo se, dado que, etc.
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g. Conjunção conformativa:
Expressa conformidade com um ato, fato, etc., a que se refere a oração principal:
conforme, segundo, consoante, como, etc.

h. Conjunção continuativa:
Exprime continuação do discurso ou transição de idéia: pois, porque, entretanto, no
entanto, daí, além disso, etc.

i. Conjunção explicativa:
Conjunção coordenativa que liga duas orações na segunda das quais se explana a
idéia contida na primeira: 2 [Tb. se diz apenas explicativa.]

j. Conjunção final:
Conjunção subordinativa que inicia uma oração que indica a finalidade da oração
principal: para que, a fim de que, porque [= para que ] , etc. [Tb. se diz apenas final.]

11. Esteja disposto a mudar o seu ponto de vista.


Submeta suas idéias preconcebidas ao que diz o texto. Deixe o texto julgar suas
idéias e não faça o contrário. O melhor modo de fazer isso é procurar ver o texto pelo
ponto de vista do autor ou dos leitores. Como seria escrever Efésios de uma prisão?
Como seria ler uma carta de alguém que está preso? Qual seria a reação dos judeus
mencionados em Gálatas e que viviam lá?

12. Marque a sua Bíblia enquanto lê.


Se for possível adquira uma Bíblia especialmente para isso. Faça marcas que
facilitem e apontem para as suas observações. Crie símbolos e sinais próprios para o
seu estudo particular da Bíblia. Canetas ou lapiseiras de bico fino são ideais para
isso.

Conclusão.
Não desanime logo no início, esse tipo de trabalho é difícil mesmo, e leva
tempo para aprendermos a fazê-lo de forma apropriada. Lembre-se que esses
princípios não se aplicam a todas as passagens que você estudar. Contudo, quanto
mais ferramentas soubermos usar, melhor será a nossa compreensão das Escrituras.
Seja persistente; seja perseverante.
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Aula 8: ALGUNS PASSOS PARA A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

A história, teologia, documentos ou regras de uma determinada igreja são


importantes, mas não decisivas para a interpretação da Escritura. Não é a igreja que
determina o que a Bíblia diz, mas a Bíblia é quem deve determinar, direcionar e
comandar os passos da igreja.

Passos para uma Saudável Interpretação Bíblica:

1º) Ir direto ao texto. Ler o texto várias vezes para se obter um conhecimento seguro
do que o texto diz (ler o livro inteiro antes de ler a passagem várias vezes).
Precisamos saber o que o livro diz, a respeito do quê fala, o que motivou a sua
escrita. Quais problemas eram enfrentados na época da escrita.
Ler a Bíblia consciente de que seu propósito fundamental é mudar as nossas vidas e
não aumentar nosso conhecimento. É levar o ser humano a uma obediência
verdadeira e prática a Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador.
Precisamos ler o texto conscientes que cada crente tem o direito de ler, entender e
interpretar a Bíblia, pois é um sacerdote diante de Deus (1Pe 2.9) e o Espírito Santo é
quem capacita todos a entender a Palavra.

2º) A Escritura tem somente um sentido e esse sentido deve ser tomado
literalmente. A partir desse sentido, transformamos em vários significados para
nossas necessidades contemporâneas, mas sem deteriorar seu sentido original que
deve ser tomado como literal.

3º) Interpretas palavras com vários sentidos em relação a sua sentença e ao seu
contexto. Nenhuma palavra pode ser interpretada sozinha, pois ela tem um contexto.
O autor a escreveu querendo empregá-la a seu contexto, tendo uma visão especial
sobre esta palavra.
Exemplo:
At. 13.24-26: a palavra sangue significa mesma origem.
Ef. 1.7: sangue significa o sacrifício de Cristo que nos conduz a salvação.
Hb. 9.6-7: sangue aqui é o biológico, o que passa pelas artérias.
As palavras da Bíblia devem ser interpretadas com o sentido que tinham no tempo do
autor e não no sentido do meu tempo. Interpretar cada palavra com o sentido que ela
tinha no seu tempo é a análise correta.

4º) Interpretar a passagem em harmonia com o contexto, pois cada escritor teve
uma razão particular para escrever. Existia um propósito. Ao escrever, o escritor
mantém uma coerência lógica, seguindo uma linha de pensamento, com determinada
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intenção. Não podemos desvincular a palavra, o versículo ou versículos do sentido


primário do texto, da intenção que o autor tinha ao escrever determinado livro.

Exemplo: 1Co 15.35, 50, 57-58; cap. 16. Paulo sai de um assunto relacionado a
ressurreição e fala em coleta. Parece que Paulo rompeu totalmente o espiritual do
cap. 15 ao cap. 16 que fala sobre ação social.
Os dois capítulos são inteiramente ligados, pois o cap. 15 qualifica o cap. 16, dando o
verdadeiro sentido bíblico do “POR QUE” contribuímos.
A nossa esperança em Cristo deve ser traduzida em forma de uma ação social. Da
esperança escatológica, procede a ação social. O texto do cap. 15 e 16 dizem isso.

5º) Quando um objeto inanimado é usado para descrever um ser vivo, a


proposição pode ser considerada figurada. Exemplo: Jesus é a luz do mundo. O
Sal da terra são os discípulos.
Quando se atribui vida a objetos inanimados também é figurado.

6º) quando uma expressão não caracteriza a coisa descrita, a proposição pode
ser considerada figurada. Exemplo: Paulo ao escrever aos Filipenses diz: acautelai-
vos dos cães (judeus que pregavam a circuncisão aos gentios que se converteram ao
cristianismo).

7º) uma palavra não pode significar mais de uma coisa de cada vez. Ou seja, ela
não pode ser usada com 2 significados no local em que está sendo usada. Exemplo:
Jesus é o leão de Judá e Satanás nos ataca como leão.
!20

Aula 9: REGRAS BÁSICAS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA (1)

As regras de interpretação bíblica se dividem em quatro categorias básicas:

(1) Gerais: Tratam dos conceitos gerais de interpretação.

(2) Gramaticais: Estabelecem as regras básicas para entendermos o texto em suas


palavras e sentenças.

(3) Históricas: Tratam do contexto histórico em que os livros da Bíblia foram escritos
(política, economia e cultura).

(4) Teológicas: Tratam da formação das doutrinas cristãs analisando o conteúdo amplo
(total) dos ensinos bíblicos.

REGRAS GERAIS = 1-9

1. Parta da pressuposição de que a Bíblia tem autoridade.


Uma pressuposição é aquilo que fica por baixo de tudo e que sustenta o que está por
cima. Se ela é fraca, todo o resto cai

Nas questões da espiritualidade bíblica podemos nos submeter a três autoridades:


A razão, a tradição ou as Escrituras. O catolicismo coloca a tradição e o magistério
eclesiástico em posição igual e até mesmo superior às Escrituras (ex. As doutrinas de
Maria). As seitas heréticas, suas revelações e escritos dos fundadores (ex. o Livro de
Moroni; O Grande Conflito). No meio protestante o racionalismo tem sido colocado como
critério de avaliação de validade de certos ensinos bíblicos (Igrejas liberais – negação de
milagres, do nascimento virginal de Cristo).
Para os cristãos a Bíblia é o supremo tribunal de recursos para a formação de
nossa fé.
A Bíblia tem autoridade porque é inspirada por Deus (IITm 3.14-16). Se alguém
quiser fazer a vontade de Deus, deverá conhecer a respeito da doutrina (Jo 7.17) e crer
como diz a Escritura (Jo 7.38).

2. A Bíblia interpreta a si mesma. Um texto é explicado por outro.

O Diabo foi o primeiro intérprete da Bíblia (Gn 3.1-5). Ele torceu o texto para implementar
a sua tentação. Existem três atitudes que implicam em erro na interpretação bíblica
!21

a) Omissão = Citar somente a parte que lhe convém de um texto e deixar de lado o
restante. Satanás citou a parte do poder comer de todas as árvores do jardim,
omitindo a exceção (Gn 3.1). também em Gn 3.5.
b) Acréscimo = Eva aumentou o mandamento de Deus ao dizer: “nem tocareis nele” (Gn
3.3)

c) Negação explícita = Negar a veracidade da afirmação bíblica. O Diabo negou que a


morte viria como conseqüência da desobediência de Eva (Gn 3.4).

Efésios 5.18 diz que devemos ser cheios do Espírito. Para entender o que é ser cheio
do espírito precisamos entender as outras afirmações bíblicas sobre o Espírito. Ser cheio
é andar no Espírito (Gl 5.16,25); não entristecer o Espírito (Ef 4.30); não enciumar o
Espírito (Tg 4.4,5) e não apagá-lo (ITs 5.19).

3. A fé salvadora e o Espírito Santo são-nos necessários para compreendermos e


interpretarmos as Escrituras.
Compreender e interpretar as Escrituras não é somente entender o significado das
palavras gramaticalmente. Se fosse somente isso, nossos professores de gramática
seriam excelentes cristãos. Jesus deixa claro na parábola do semeador (Mt 13) que
satanás fará de tudo para impedir que a palavra fique em nosso coração e cresça. Paulo
diz que ele “cegou o entendimento dos incrédulos” (II Co 4.4). falta-lhes a convicção e a
submissão que somente o Espírito Santo pode produzir no interior do crente.

Calvino chamava essa obra do Espírito de “Testemunho interno do Espírito”. Ele


testemunha com o nosso espírito que somos de fato filhos de Deus e das verdades das
Escrituras (Rm 8.14-16). Sem a obra interna do Espírito as pessoas simplesmente
rejeitam a verdade do Evangelho nas Escrituras, porque lhe são loucura (I Co 2.14). O
espírito que habita em nós não é o Espírito do mundo, mas de Deus (ICo 2.12), que nos
foi dado gratuitamente para nos guiar a toda verdade (Jo 16.13) A verdade é Jesus Cristo
(Jo 14.6).

Ser habitado pelo Espírito Santo não garante que você interpretará sempre
corretamente as Escrituras, porém é fundamental para que você entenda a verdade de
Deus nelas contida..

4. Interprete a experiência pessoal à luz da Bíblia, e não a Bíblia à luz da


experiência pessoal.
Podemos classificar a literatura do Novo Testamento em três classes distintas:

1. Narrativa = tratam da vida de Jesus nos Evangelhos e da vida da Igreja em Atos.


!22

2. Didática = As epístolas, que foram escritas para instruir os crentes sobre como viver a
vida cristã.

3. Profética = Apocalipse e partes dos Evangelhos e das Epístolas.

Quando lemos as Escrituras é fácil percebermos que suas afirmações doutrinárias


não são declaradas a partir das experiências das personagens bíblicas ou de seus
autores. Uma doutrina não é declarada verdadeira porque aconteceu com alguém, mas o
contrário. Algo aconteceu porque é verdadeiro. Por exemplo: O Novo Testamento não
ensina que porque Jesus ressurgiu dos mortos Ele é o Filho de Deus, mas Ele ressurgiu
dos mortos porque Ele é o Filho de Deus.

Na Bíblia, a afirmação da verdade vem sempre antes da experiência. Isso quer


dizer que não extraímos conclusões doutrinárias de narrativas de acontecimentos, a não
ser que essas narrativas incluam pregação ou ensino. Todas as narrativas bíblicas são
interpretadas à luz de passagens doutrinárias.

No dia de pentecostes (Atos 2.7,8) é dito que os discípulos falaram em outras


línguas, mas em Atos 8.17 não há menção do falar em línguas, o mesmo acontecendo no
caso de Paulo (At 9.17-19). Já os crentes de Éfeso não só falaram em línguas como
também profetizaram (At 19.6). Logo, não podemos concluir que o falar em línguas seja
sinal obrigatório da recepção do Espírito Santo. A passagem doutrinária quanto ao uso do
Dom de Línguas está em I Coríntios 12-14, onde Paulo regula os exageros daquela Igreja
quanto ao uso correto desse dom.

Todas as nossas experiências precisam ser interpretadas pelas Escrituras, não o


oposto como é comum em nosso meio. É errado crer que porque tivemos determinada
experiência ela é verdadeira. Paulo afirma que temos de nos esforçar para levar todo
pensamento cativo aos pés de Cristo (II Co 10.5). Nas Escrituras a experiência é um
teste para saber se andamos de acordo com a doutrina (Ex. Dt 18.22 – Se a palavra do
profeta não se cumprisse ele era um falso profeta e deveria ser apedrejado).

Com isso não queremos dizer que a experiência pessoal não tem valor, mas
apenas que a experiência pessoal não pode ser usada para a formação e interpretação
de nossas doutrinas, pois elas já tem a sua origem e interpretação nas Escrituras.
Aprendemos com as experiências que as verdades das Escrituras funcionam, mas elas
não podem ser a base de nossas interpretações.

Ilustração: Alguém quebra o cartão de crédito e trabalha arduamente para quitar as suas
dívidas. Daí passa a citar Romanos 13.8 como justificativa de sua vitória e a ensinar que
todos que compram a crédito violam esse mandamento bíblico. Você usou a sua
experiência para interpretar um texto das Escrituras.
!23

Aula 10: REGRAS BÁSICAS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA (2)

Continuidade da aula anterior..........

5. Os exemplos bíblicos só tem autoridade quando amparados por uma ordem.


Muitas vezes corremos o risco de querer aplicar as experiências narradas na
Bíblia à nossa própria vida de forma direta. Isso é comum especialmente quanto aos
milagres Bíblicos. Porque Jesus ressuscitou a Lázaro após quatro dias no túmulo,
achamos que todas as vezes que orarmos pela ressurreição de um morto ele deverá se
levantar. Porque Ana pediu a Deus um filho aos prantos depois de horas orando no
Tabernáculo, algumas mulheres acham que se fizerem do mesmo jeito Deus é obrigado a
dar-lhes um filho. Porque Elias fez descer fogo do céu, todos nós podemos fazê-lo.
Sempre queremos imitar o extraordinário, enquanto o preceito bíblico nos ensina que o
ordinário (comum) é o mais importante. Devemos imitar o caráter deles.

Um erro possível é o de você ler em Marcos 1.35, por exemplo, que Jesus orava
de madrugada e ligar com 1 Tessalonicenses 5.17 e dizer que todos nós devemos
levantar bem cedo para orar. O mandamento da oração é verdadeiro e válido, contudo as
escrituras não definem por uma ordem clara que isso deva ser feito somente de manhã.
Também não se ensina que “orar de joelhos é melhor”. O exemplo bíblico pode ser
aplicado pessoalmente a você como fruto de sua experiência com Deus e você crescerá
espiritualmente, mas não se deve transformar um exemplo bíblico em uma doutrina
expressa. Jesus não orava apenas de madrugada.

Por isso, os exemplos bíblicos só têm aplicação universal se amparados por uma
ordem expressa. As ordenanças bíblicas são positivas (o que se deve fazer – “fale a
verdade com o seu próximo”) e negativas (o que não se deve fazer – “não mintais uns
aos outros”). É preciso tomar cuidado com a afirmação de que “o crente é livre para fazer
qualquer coisa que a Bíblia não proíba”. A Bíblia não proíbe especificamente fumar, mas
sabemos que a Bíblia proíbe o uso de coisas que nos façam mal à saúde e de vícios (ICo
6.12). Ao afirmar o mandamento positivo da santificação as escrituras deixam claro que
tudo que atrapalhar esse processo deve ser evitado.

6. O propósito básico da Bíblia é mudar nossas vidas, não aumentar o nosso


conhecimento.
O que lemos nas Escrituras não são apenas afirmações do que devemos crer, mas do
que devemos viver! Aprendemos a verdade das escrituras pela prática e pela observação
da experiência dos outros. Nem tudo que é dito nas Escrituras eu preciso experimentar
para crer e saber que é o certo. Eu não preciso passar pela morte para saber que quem
perseverar até à morte receberá a coroa da vida.
Precisamos entender a Bíblia antes de aplicá-la, porém o entendimento sem
aplicação também é errado. Ninguém conhece as Escrituras mais que o diabo, porém a
!24

sua fé é morta (Tg 2.19), o diabo citou até os salmos na tentação. A Bíblia não foi escrita
para ficarmos espertos como o diabo, mas para que nos tornássemos santos como
Deus4 (IIPe 1.4).

É preciso tomar cuidado com a aplicação das Escrituras:

1. Algumas passagens não devem ser aplicadas da mesma maneira como foram na
ocasião em que foram escritas. Exemplo: Lv 7.1,2 = Não oferecemos mais
holocaustos ou oferta pela culpa, porque Cristo os aboliu na sua carne (Ef 2.15).
Como aplicamos essa passagem agora? Leia Hebreus 13.15,16).

2. Aplicações das passagens precisam estar em harmonia com o seu uso correto. Em
Mateus 17.14-20, os discípulos não conseguiram curar um enfermos e Jesus disse
que fora por causa da pequenez de sua fé. Muitos quando tem derrotas espirituais
acham logo que é por causa de pecado. Pequenez de fé não quer dizer pecado, mas
fé imatura. Jesus lhes dera a ordem de poder curar e eles duvidaram, não foi pecado,
mas imaturidade. Existe também a questão da vontade de Deus que é superior à
nossa.

7. Cada cristão tem o direito e a responsabilidade de investigar e interpretar


pessoalmente a Palavra de Deus.
Este foi um dos princípios fundamentais da reforma Protestante do século XVI. Por
séculos somente o clero podia interpretar as Escrituras. A Igreja Católica suprimia a força
qualquer tentativa de produzir traduções na língua do povo. Com a Reforma a Bíblia
passou a ser traduzida em todas as línguas.

Apesar dessa grande conquista da Reforma, muitas pessoas continuam “iletradas”


quanto ao conteúdo da Bíblia. É possível conhecer generalidades sobre ela, contudo,
conhecer as doutrinas e relacioná-las á própria vida parece que tem sido um privilégio de
poucos. Nos nossos dias têm surgido dentro das igrejas evangélicas inúmeras crendices,
tornando-nos semelhantes à Igreja Católica nos dias da Reforma. Portanto, interpretar as
escrituras é tanto um privilégio como uma responsabilidade de cada um particularmente e
da Igreja como um todo.

Paulo enfatiza que a Palavra deve habitar ricamente em nossos corações, a fim de
que possamos instruir e aconselhar uns aos outros (Cl 3.16). A Timóteo, Paulo exorta a
procurar apresentar-se a Deus aprovado, como um obreiro que não tem de que se
envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade (II Tm2.15). A nós nos é dado o
direito e o dever de não apenas conhecer as doutrinas bíblicas, mas de manejá-las, e
fazê-lo “bem”.
Estudamos as Escrituras para obedecer a Cristo, não para aumentar nossa cultura
ou conhecimentos. O desejo de Deus é que o contato contínuo e submisso com as

4
Walter A. Henrichsen, Princípios de Interpretação da Bíblia, Mundo Cristão, p.24.
!25

escrituras produza em nós santidade (Jo 17.17; I Ts 4.8). Pedro coloca que devemos
santificar a Cristo em nossos corações com a finalidade de dar respostas aos nossos
inquiridores a respeito de nossa fé. Como responder sobre a fé se não manejamos bem
as Escrituras?

Algumas aplicações dessa regra:


1. Leia a Bíblia todos os dias. Não é necessário lê-la toda durante o ano, mas
também não é ruim fazer dessa forma.
2. Leia um livro inteiro de cada vez. Evite ficar lendo aqui e ali, aleatoriamente.
3. Leia para obedecer.
4. Após a leitura, ore agradecendo o ensinamento e pedindo a Deus que o Espírito
Santo lhe fortaleça para obedecer.
5. Compartilhe com os outros o que você leu. Não cesses de falar desse livro da lei
(Js 1.8).

8. A história da Igreja é importante, mas não decisiva na interpretação das


Escrituras. (A igreja não determina o que a Bíblia ensina; a Bíblia determina o
que a Igreja ensina).
No início desse estudo falamos sobre três fontes de autoridade para conduzir a
vida das pessoas: A razão, a tradição e as Escrituras. Embora a razão e a tradição sejam
importantes, devem ser colocadas sob as Escrituras.

Algumas doutrinas bíblicas não são tão claras nas Escrituras. Há uma diferença
entre ensino explícito e ensino implícito. Explícito é aquele que é colocado claramente
(Ex. O sangue de Cristo nos purifica de todo pecado – I Jo 1.9; ou Cristo é o único
mediador entre Deus e os homens – I Tm 2.5). Um ensino implícito é aquele que
precisamos juntar mais informações para deduzi-lo (Ex. A divindade de Jesus, A
Trindade; o batismo de crianças; a forma do batismo, a relação entre a soberania de
Deus e a responsabilidade humana). Nesse segundo caso a tradição histórica da Igreja
nos ajuda a entender essas questões.

Ao estudarmos como os cristãos que viveram antes de nós tratavam com essas
questões e o seu legado deixado para nós. A esse legado chamamos de tradição.
“Somos devedores à história da Igreja que registra o que os crentes do passado
malharam na bigorna da sondagem da alma, da investigação escriturística e do debate” 5.

Todavia, as interpretações da Igreja só tem autoridade na medida em que estejam


em harmonia com os ensinamentos da Bíblia como um todo. Sempre devem ser
sondadas e reexaminadas à luz das Escrituras. A igreja pode falhar em sua interpretação,
como falhou muitas vezes (o celibato, a missa como renovação do sacrifício de Cristo, a
transubstanciação, a perpétua virgindade de Maria e sua assunção ao céu).

5
Walter A. Henrichsen, Princípios de Interpretação da Bíblia, Mundo Cristão, p.29.
!26

Aula 11: REGRAS BÁSICAS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA (3)

Continuidade da aula anterior..........

9. As promessas de Deus na Bíblia estão disponíveis ao Espírito Santo a favor dos


crentes de todas as épocas.
As promessas de Deus na Bíblia são um meio de Deus revelar-nos a Sua vontade,
porém a aplicação dessas mesmas promessas à vida de cada cristão é algo subjetivo, ou
seja, não serão aplicadas de forma exatamente igual na vida de cada um.
Nosso grande problema com as promessas são o seu mau uso. Exatamente como
é essencial interpretarmos corretamente uma passagem bíblica antes de aplicá-la,
também é essencial interpretarmos corretamente uma promessa antes de reivindicá-la de
Deus para nós6.
Se não formos cuidadosos, podemos permitir o aparecimento de inúmeras
fantasias não bíblicas. Ao ler Isaías 30.21, é possível desenvolver a paranóia de dizer
que vai receber a orientação do caminho a seguir diretamente de Deus. Foi esse o
propósito de Isaías ao escrever? O contexto demonstra que os mestres seriam essa voz
(v.20). Qual a indicação de que a junta de bois de Eliseu (I Rs 19.21) seja o meu 13º
salário que devo consagrar a Deus?7
Nós podemos confiar nas palavras de Ex 14.14 quando enfrentamos situações
adversas, mas esse texto não é o único sobre tais situações. O Sl 27.3,4 trás um
ensinamento diferente. Ambos são bíblicos e verdadeiros, mas cada crente deverá
discernir em oração e submissão a o Espírito Santo qual aplicar a si mesmo em dada
situação. A promessa da proteção de Deus é universal, porém sua aplicação será
subjetiva. Há muitos fatores a considerar além de unicamente a confiança em uma
promessa bíblica. II Pedro 1.3,4 afirma que o objetivo das promessas é nos tornar
participantes da natureza divina (santificação) e livrar-nos da corrupção das paixões que
há no mundo.
As promessas de Deus nos foram dadas para cumprirmos a Sua vontade para as
nossas vidas, não para fazer Deus cumprir a nossa vontade. Um exemplo é a questão do
casamento. Mt 21.22 diz; “E tudo quanto pedirdes em oração, crendo, recebereis”. Você
se apaixona por alguém e ora pedindo essa pessoa para Deus. Mas ela se casa com
outro e você se frustra. Será que era da vontade de Deus que se casasse com ela? A
sabedoria de Deus é muito superior à sua. Muitos casamentos são frustrados ou acabam
em divórcio porque não obedecemos a Ele e queremos obrigá-lo, por meio da
reivindicação de suas promessas a fazer a nossa vontade. Em todo caso culpamos a
Deus por não termos ouvido a sua vontade.

6 Walter A. Henrichsen, Princípios de Interpretação da Bíblia, Mundo Cristão, p.31.


7
Interpretação dada em uma das campanhas da Universal em 2000.
!27

Há três casos a considerar:

1. Quando a promessa aparentemente não se cumpre. Se Deus não cumpre as suas


promessas Ele não é o Deus que diz ser. Mas Deus não é homem para que minta
(Nm 19.23; II Tm 2.13).

2. Quando fazemos mal uso da promessa. Mesmo sendo sinceros para com Deus
podemos falhar nos objetivos em requerer o cumprimento ou aplicação de uma
promessa para nós. Mesmo assim é preciso sondar profundamente nossos motivos
sempre. Nem sempre o que achamos que seja glorificar o nome de Deus está nos
planos Dele. Davi queria sinceramente construir um belo e suntuoso templo para
Deus, mas Deus disse que essa tarefa não seria dele, mas de seu filho. Paulo queria
evangelizar a Bitínia, mas o Espírito queria que ele fosse para Filipos.

3. Quando a promessa se cumpre de forma diferente ou em época diferente. Deus


prometeu a Abraão uma descendência muito grande e ele viu apenas um filho
(Isaque). Somente seu neto Jacó viveu tempo suficiente para ver sua descendência
ultrapassar 70 pessoas. Mesmo assim Abraão tentou ajudar Deus no caso de Hagar e
de Quetura. De uma saiu os árabes (filhos de Ismael) e de outra os midianitas. Ambos
trouxeram e ainda trazem muitos problemas para Israel como nação. Hebreus 11.39
mostra que os heróis da fé “não obtiveram, contudo, a concretização da promessa”.
Somente Deus administra a aplicação de suas promessas. A nós nos cabe a
confiança em sua soberana sabedoria e propósito.

As promessas de Deus são gerais (disponíveis a todos. Ex. I Jo 1.9) e também


específicas, dadas a indivíduos específicos (Ex. o governo da descendência de Davi, a
gravidez de Ana). A aplicação de promessas específicas são muito subjetivas e devem
ser avaliadas cuidadosamente.

Aplicações quanto a promessas específicas:


1. O Espírito Santo tem soberania sobre as suas promessas (Sl 33.11). Deus aplica a
sua Palavra como melhor desejar.
2. Muitas vezes as promessas são condicionais, aplicadas mediante a obediência (se...).
3. Não se coloque na condição de juiz na presença de Deus. Ele é Deus, você é o servo
ou serva.
4. O objetivo das promessas é tornar-nos mais dependentes de Deus e não mais
independentes.
5. O cumprimento de uma promessa sempre visa a glória de Deus e não a exaltação
dos homens.
!28

Aula 12: REGRAS GRAMATICAIS = 10-17

10. A Escritura deve ser interpretada em seu sentido literal (natural).

As regras de 10 a 17 tratam de princípios gramaticais de interpretação das


Escrituras e visam responder à questão de como devemos entender as palavras e frases
das passagens que estudamos?
Quando falamos com alguém ou escrevemos uma carta, desejamos ser
entendidos, ou seja, que o sentido óbvio e verdadeiro seja compreendido por quem nos
ouve ou leia. Se você diz: “Na Índia as pessoas passam fome”; não gostaria que as
pessoas entendessem que você disse que eles passam fome intelectual. Se você diz:
“Atravessei o oceano do Brasil à África”, não gostaria que entendessem que você estava
atravessando dificuldades, mas chegou a um porto seguro”.
Temos de tomar cuidado com essas atitudes modernas em tratar uma palavra ou
um texto bíblico, dando-lhes novos sentidos. A Bíblia fala de reconciliação entre Deus e
os homens por meio da morte de Cristo. Algumas pessoas interpretam que essa
reconciliação é apenas entre homens e homens. Na Bíblia, redenção significa o preço
que a morte de Cristo pagou por nós na cruz. As igrejas modernas querem dizer que
redenção significa melhoria social na vida das pessoas. A Bíblia diz que Cristo nos salva
do pecado; as igrejas modernas dizem que ele nos salva das dívidas e da pobreza.
Essas interpretações ignoram o fato de que o verdadeiro propósito da palavra é
transmitir um pensamento e que a língua (linguagem) é um meio de comunicação digno
de confiança. Logo, a interpretação literal é a única interpretação verdadeira. O sentido
literal não implica em ignorar a palavra na frase, mas que cada texto deverá ser tomado
naturalmente.

Ex.: O pássaro do feirante é azul. Ao lermos essa frase, saberemos de imediato que o
pássaro tem um dono (o feirante). Sabemos o que é um feirante (o que trabalha na
feira). Saberemos que o feirante tem um pássaro e não outro animal (cão, gato, esquilo)
e que a cor do pássaro é azul e não verde ou amarelo. Ao percebermos isso
escaparemos de interpretações fantasiosas. Contudo, também não saberemos a
tonalidade do azul (escuro ou claro), se o pássaro é pequeno ou grande; ou como o
pássaro veio a ser seu. Mas mesmo assim essas imprecisões não nos desviam do básico
que foi comunicado: que o feirante tem um pássaro e que ele é azul.
Somente o contexto pode me indicar quando não tomar uma expressão de forma
figurada. Qual seria o sentido figurado de I Co 14.34? Um dado cultural pode me levar a
interpretar a passagem de outra forma, porém, nunca a ignorar o sentido básico.
Pergunte a si mesmo: Estarei pondo em dúvida o sentido de uma passagem porque não
quero obedecer-lhe? Aceitarei uma interpretação figurada ou condicionada culturalmente
para que ela se enquadre melhor na minha tendência teológica (ou da minha Igreja)
preconcebida? Ex.: II Rs 2.23,24. A maldição de Eliseu não pode ser interpretada
literalmente porque agride o caráter amoroso de Deus?
!29

Lembre-se que ao interpretarmos as Escrituras, nós somos servos de Deus.


Nossa tarefa é entender quem Ele é e o que Ele ordena em sua palavra. Nosso objetivo
não é confirmar nossas idéias, retirando o que não serve, mas entender a revelação que
Deus faz de si mesmo na Bíblia.
Na Bíblia, nenhuma palavra terá mais de um sentido em cada texto. Quando uma
palavra tiver aparentemente mais de um sentido, o seu sentido mais óbvio geralmente
será o correto.

Quebramos essa regra com freqüência. Na narrativa da multiplicação do pães,


quando Jesus alimentou a 5000 homens, alguns interpretam que Jesus na verdade fez
manifestar a bondade das pessoas ao verem o exemplo de jovem que repartiu o seu
lanche. Esse é o sentido óbvio do texto ou estão impondo uma categoria diferente de
interpretação por não aceitar a veracidade dos milagres de Jesus?

Aplicação:
1. Leia o texto com atenção antes de tentar interpretá-lo. Uma leitura descuidada pode
por tudo a perder.

2. Diga o que está no texto e não aquilo que você gostaria que estivesse.

11. Interprete cada texto de acordo com a intenção original do autor bíblico.

A parábola das dez virgens (Mt 25.1-13) fala de cinco virgens néscias e cinco
sábias. Para entender a passagem é preciso compreender o que era a lâmpada naquela
época e qual o seu uso, pois sabemos que não se trata de lâmpadas elétricas. A intenção
original do autor quando escreveu o texto é o fundamento da interpretação literal e óbvia.
Em João 2.19-21, Jesus expulsa os cambistas do templo e diz que para eles
destruírem o santuário que ele o reconstruiria em 3 dias. João afirma que o santuário era
o corpo de Jesus e que Jesus se referia à sua morte e ressurreição. Nesse caso, João
nos deu o sentido do uso da palavra santuário no texto. Precisamos estar atentos a
essas colocações dos autores bíblicos.
Determinar o sentido correto das palavras não é particularmente difícil, se
empregarmos as ferramentas corretas. Uma boa tradução e um bom dicionário bíblico
facilitam muito trabalho.
Ao estudar a Bíblia não pule as palavras que não compreende, pesquise-as. Uma
idéia errônea pode levar a uma interpretação também errônea. Ex.: Pv 29.18. Algumas
versões traduzem visão ou revelação em lugar de profecia, dificultando o entendimento.
Profecia diz respeito ao ministério da palavra, mas o que seria uma visão ou revelação?

Ao estudarmos uma palavra em particular, devemos determinar 4 coisas:


1. O uso que o autor faz dela. Qual o sentido de verdade em João?
2. Sua relação com o contexto imediato. O contexto nos dirá muita coisa sobre o sentido
da palavra empregada.
!30

3. Seu uso corrente na época da escrita. A palavra “batismo” não foi traduzida para
nossas Bíblias em português, mas apenas transliterada. Batismo significa; submergir,
lavar, aspergir, salpicar. Algumas igrejas acham que ela significa apenas submergir e
assim defendem que a única forma de batismo é o batismo por imersão. Contudo o
uso de batismo no NT, não aponta para a forma do batismo, mas para o seu
significado como rito de iniciação na fé cristã.

Concluindo: A intenção original do autor não pode ser desconsiderada ao lermos a


Bíblia, assim como não gostaríamos que a nossa intenção não fosse ao escrevermos
uma carta.

12. Cada palavra dever ser interpretada em relação à sua sentença e ao seu
contexto.
Já vimos como cada palavra tem seu sentido próprio, ainda que seja possível
observar pequenas variações no seu sentido. Exemplo: Pássaro azul. O pássaro
pode ser grande ou pequeno, mas certamente não será um gato. Azul pode ser claro,
médio ou escuro, mas com certeza não é amarelo. Agora vamos mostrar alguns
exemplos de como a palavra pode adquirir a partir de seu significado básico, usos e
aplicações diferentes. Tomemos dois exemplos:

1. Fé:
➢ Gálatas 1.23 = Fé significa a “doutrina do evangelho”. Fé = crença.
➢ Romanos 14.23 = Fé significa “convicção de que isto é o que Deus quer que você
faça”.
➢ I Timóteo 5.11,12 = Fé significa “penhor ou promessa feita ao Senhor”.
➢ Atos 16.31 = Fé significa “crer”. Confiar a sua vida a Cristo.

2. Sangue:
➢ Atos 17.24-26 = Sangue significa a pessoa inteira. A palavra sangue não aparece em
algumas traduções, onde é traduzida por “de um só”. O tradutor já colocou a
interpretação da palavra na frase.
➢ Efésios 1.7 = Sangue se refere à morte expiatória de Cristo.
➢ Hebreus 9.6,7 = Sangue se refere ao líquido que corre em nossas veias e artérias.
Ao delimitarmos o contexto de uma palavra ou frase é preciso lembrar que
“os manuscritos antigos dos quais fazemos nossas traduções da Bíblia, não
têm pontos, vírgulas, parágrafos, versículos e capítulos. Estes foram
introduzidos depois pelos tradutores, para clareza e facilidade do estudo.
Quando você fizer o seu estudo, é bom lembrar isso. O contexto nem sempre
se acha dentro dos limites do versículo ou do capítulo. Talvez seja necessário
incluir versículos do capítulo anterior ou posterior”8 .

8
Walter Henrichsen, Princípios de Interpretação da Bíblia, p.44.
!31

Aula 13: REGRAS GRAMATICAIS = 10-17 (2)

Continuidade da aula anterior....

13. Interprete a passagem em harmonia com seu contexto. “Texto fora de seu
contexto é pretexto para uma heresia”.

O estudo do contexto é fundamental para determinar o sentido de uma passagem.

O argumento de cada autor bíblico tem conexões lógicas entre uma seção e a outra. É
preciso encontrar o propósito global do livro a fim de determinar o sentido de passagens
e até de palavras particulares dentro do livro. Quatro perguntas são necessárias:

1. Como a passagem se relaciona com o material circunvizinho? (Contexto imediato).

2. Como se relaciona com o restante do livro? (Contexto do autor). O autor bíblico pode
Ter escrito mais de um livro: Paulo, João, Lucas ou Pedro, por exemplo.

3. Como se relaciona com a Bíblia como um todo? (Contexto Bíblico ou sistemático).

4. Como se relaciona com a cultura e o quadro histórico de fundo? (Contexto histórico,


cultural, geográfico). Vejamos os seguintes gráficos:
!32

EVANGEL DESTINATÁRIO FRASE CHAVE PRINCIPAIS ÊNFASES


HO
MATEUS A o s JU D E U S , “ P a r a se A Messianidade de Jesus. Ele é o
60 d.C. escrito d e cumprir o que Rei dos Judeus que fora prometido.
A n t i o q u i a d a fora dito...”. Os ensinos de Cristo são
Síria. enfatizados; Discursos (Mt 5-8; 24) e
as parábolas. Sua genealogia
procede de Davi.
MARCOS Aos Romanos. “ O F i l h o d o Jesus é o servo poderoso. Ênfase
50 d.C. E s c r i t o d e H o m e m v e i o nos milagres.
Roma. para servir e dar
a sua vida”.
10.45.
LUCAS Aos GREGOS. “Apresentastes- Ele é o homem perfeito. Ênfase nas
60 d.C. ou gentios. me este características humanas de Cristo (A
Escrito de homem...” vida de oração, emoções). Sua
Roma. 23.14. genealogia procede de Adão. A
certeza histórica do Evangelho.
JOÃO À população “Para que A divindade de Cristo é o foco
80 ou 90 GERAL creiais que principal. Às vezes aparece a
d.C. da Ásia Menor. Jesus é o expressão “Eu Sou”: O pão da vida
Escrito de Éfeso. Cristo...”. 20.30. (6.35); a luz do mundo (8.12); a
porta das ovelhas (10.7); o bom
pastor (10.11); a ressurreição e a
vida (11.25); o caminho e a verdade
e a vida (14.6); a videira verdadeira
(15.1)

14. Quando um objeto inanimado é usado para descrever um ser vivo, a proposição
pode ser considerada figurada.

Linguagem figurada é quando usamos um objeto inanimado para descrever um ser


vivo. É importante Ter clara compreensão do objeto em que se baseia a figura ou da qual
é feita a imitação. Alguns exemplos: os usos de Jesus da expressão “EU SOU” no
Evangelho de João: Pão da vida (6.35); Luz do mundo (8.12); porta das ovelhas (10.7);
caminho (14.6); videira verdadeira (15.1). a Bíblia trás exemplos desse tipo: “o justo
florescerá como a palmeira, crescerá como o cedro do Líbano” (Sl 92.12).
Para entendermos as comparações figuradas, é bom conhecermos as características
básicas o objeto utilizado. Todavia é importante nos aprofundarmos em detalhes, pois
certamente forçará a analogia, desfigurando e/ou forçando o objetivo do autor. Exemplo.
Subir com asas como águias em Is 40.30 é simplesmente Ter objetivos elevados e
!33

excelentes, não encontrar 20 características da águia que os cristãos precisam assumir.


Isso é o que chamamos de alegoria.

Existem passagens em que a interpretação figurada é ponto de debate na Igreja. As


passagens sobre a ceia são o exemplo clássico (Mt 26..26-28; I Co 11.23-26). O pão e o
cálice referentes ao corpo e sangue de Cristo devem ser interpretados literalmente ou
figuradamente? Católicos e luteranos defendem uma interpretação literal, enquanto que
reformados e arminianos defendem uma interpretação figurada.

Católicos Luteranos Calvinistas Zuinglianos

Transubstanciação: Consubstanciação: Presença espiri- Memorial:


O pão e o vinho se O corpo e o sangue tual: O corpo de Cristo
transformam no de Cristo estão sob, O corpo de Cristo está no céu. Os
corpo e sangue de ao redor e ao lado está no céu. Ele se elementos pão e
Cristo. dos elementos pão faz presente nos vinho são
e vinho. elementos pão e simplesmente
vinho por meio do s í m b o l o s
Espírito Santo, que memorativos de
habita nos crentes. Cristo.

O ponto focal dessa regra é quando se atribuem vida e ação a objetos inanimados, a
proposição deve ser considerada figurada. Na maioria das vezes é o CONTEXTO que
determinará quando a interpretação figurada será a mais correta.
Exercício: Qual o sentido montes em Miquéias 6.2? E de hissopo no Salmo 51.7?

15. Quando uma expressão não caracteriza a coisa descrita, a proposição pode ser
considerada figurada.
Um exemplo dessa regra é encontrado em Filipenses 3.2,3 (Cães = judaizantes).
Lucas 13.32 (raposa = Rei Herodes). Mais uma vez, é o contexto quem demonstrará o
sentido da palavra na frase e no parágrafo.
Algumas vezes o sentido figurado correto não é tirado do contexto imediato, mas
do remoto. Como em João 1.29,36: “Jesus é o cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo”. É uma referencia ao cordeiro morto no altar do holocausto em favor do pecador
no AT. Isaías 53.7 aplica a figura ao Messias, chamado de Servo sofredor. O Novo
!34

testamento diz ser claramente uma referência à obra de Cristo na Cruz. Ele é o nosso
cordeiro pascal (I Co 5.7: confira com: At 8.32, I Pe 1.19, Ap 5.6,12; 7.10).
Por outro lado, aplicações figuradas de uma mesma palavra podem ser utilizadas
em contextos diferentes na Bíblia. Leão (I Pe 5.8 {diabo}e Ap 5.5 {Jesus}).
Muitas vezes a linguagem figurada é aplicada a Deus. Sabemos que Deus é
Espírito, mas a fim de que nós pudéssemos entender sua revelação, Ele fez uso de
figuras tanto humanas quanto retiradas do mundo da criação para se comunicar conosco.
(1) Elementos humanos: olhos: II Cr 16.9; Sl 11.4. o braço do Senhor: Sl 77.15. mão: Ex
33.23. (2) Animais: asas: Sl 17.8; Lc 13.34. (3) Da natureza: Rocha: I Sm 2.2; Sl 92.15; I
Pe 2.8.

Por fim, duas observações são importantes:


1. Uma palavra não pode significar mais de uma coisa de cada vez. Não pode Ter
sentido figurado e literal ao mesmo tempo; ou sentido comum e espiritual ao mesmo
tempo. Ou é um ou é o outro.
2. O sentido literal sempre tem a preeminência na interpretação. Somente quando o
sentido LITERAL não se enquadra bem é que partimos para o uso figurado. O critério
para decidir qual caminho seguir sempre será o contexto.
!35

Aula 14: REGRAS GRAMATICAIS = 10-17 (3)

Continuidade da aula anterior....

16. As principais partes e figuras de uma parábola representam certas realidades.


Considere somente essas partes principais e figuras quando tirar as
conclusões na interpretação.
Uma parábola é uma forma de discurso, ou uma estória ou um dito para ilustrar uma
lição 9.
Elas podem ser de três tipos: História verídica, estória e ilustrações. Também são
contados entre as parábolas ditos breves (provérbios). Na sua interpretação é preciso
fixar a atenção nos elementos principais e não nos detalhes, a fim de não fazê-las dizer
mais do que dizem; não se pode ir além da intenção do autor bíblico no seu uso e
aplicação.

Aplique os seguintes princípios básicos:

1. Determinar o propósito da parábola: Com qual objetivo ela foi contada? Lc 10.29 = O
objetivo da parábola do bom samaritano. Na Parábola do Semeador (Lc 8.4-15; Mt
13.1-23), o propósito é ilustrar os diferentes tipos de respostas que se dá à
proclamação da Palavra.

2. Certificar-se de que a explicação das diferentes partes está em harmonia com o fim
principal. Cada parábola tem um ponto principal de comparação. Procure relacionar
este ponto com aquilo que o orador estava ensinando.

3. Usar somente as partes principais para explicar a lição. Não é para dar nomes e
significados espirituais a cada detalhe (vinho e óleo = sangue e Espírito Santo: Lc
10.), mas aplicar a lição principal aos ouvintes.

17. Interprete a palavra profética no seu sentido comum e histórico, a não ser que
o contexto ou a maneira como se cumpriram indiquem claramente um sentido
simbólico. O cumprimento delas pode ser por etapas, cada cumprimento sendo
uma garantia daquilo que há de seguir-se.

Notemos quatro pontos em particular:

1. A profecia deve ser interpretada literalmente, a menos que o contexto ou alguma


referência posterior na Escritura indique outra interpretação. Quando Ml 4.5,6 fala da

9
S. J. Kistemaker, Parábolas de Jesus, EHTIC vol. III, p.96.
!36

vinda de Elias, Jesus aplica a profecia à vinda de João Batista (Mt 11.13,14; Mt
17.10-13). Casos como esse são exceções e não regras.

2. Pode ser que haja ocasiões em que se possa derivar dois sentidos aparentes de uma
profecia. Nesse caso dá-se preferência ao sentido mais óbvio para a compreensão
dos ouvintes originais.

3. Há casos em que o escritor do NT dá uma interpretação profética a uma passagem do


AT que não parece ser profética. Compare Oséias 11.1 com Mateus 2.15. Sabemos
que a passagem de Oséias é profética porque Mateus o diz sob a inspiração do
Espírito Santo, mas nosso estudo das Escrituras não podemos tomar tais liberdades
com o texto. A inspiração diz respeito à escrita da Escritura e não ao seu estudo para
compreensão.

4. Uma profecia do AT pode se cumprir parcialmente numa geração, com o restante se


cumprindo noutra época. Isso só é perceptível quando as Escrituras narram o
cumprimento parcial. Esse é o caso de Joel 2.28-32, que Pedro em Atos 2.15-21.
Outro exemplo é isaías 61.1,2 com Lucas 4.17-21. Quando os profetas viam a vinda
do messias, viam os seus dois adventos num só. Chamamos a isso de perspectiva
profética. É como olhar para uma cadeia de montanhas de longe. Não dá para
perceber a distância entre a primeira fila e as posteriores. Veja o gráfico abaixo:


Reconhecer isso o ajudará em seu estudo da Bíblia, bem como animará o seu coração,
pois o cumprimento da primeira etapa é uma garantia do seu cumprimento total e final, da
mesma forma como o Espírito santo é o penhor ou garantia de sua herança em Cristo 10.

10
Walter A. Henrichsen, Princípios de Interpretação da Bíblia, Mundo Cristão, p.55.
!37

Aula 15: REGRAS HISTÓRICAS = 18-20

18. A Bíblia foi escrita em contexto histórico próprio, portanto só pode ser
compreendida plenamente à luz da história bíblica.

Essa regra visa colocar-nos no cenário histórico do texto que estivermos estudando.
Leva-nos a fazer as seguintes perguntas:

(1) A quem foi escrito?


(2) Qual o pano de fundo dos acontecimentos?
(3) Qual ocasião originou essa mensagem?
(4) Quem são as personagens principais? Para entendermos a epístola de Paulo aos
Gálatas precisamos entender o pano de fundo judaico da fundação de algumas Igrejas e
as decisões do Concílio de Jerusalém (At 15).

19. Dentro da revelação progressiva, Antigo e Novo Testamentos formam uma


unidade.

O Antigo Testamento monta o cenário para a correta interpretação do Novo


Testamento. A base das doutrinas da criação, queda e redenção do homem vêm do
Antigo Testamento. Como entender a Cristo sem sabermos a respeito de Adão? (Rm
5.12-21). Por outro lado, o Novo Testamento explica o propósito de muitos
acontecimentos do AT.

O melhor exemplo da unidade entre os Testamentos é a carta aos Hebreus. Se


não estivermos familiarizados com o sistema sacrificial do Tabernáculo e do sacerdócio
do AT não conseguiremos entender o argumento de Hebreus, pois ela explica o
significado e a finalidade das formas de culto do AT.

As pessoas eram salvas nos tempos do AT do mesmo modo como são salvas no
NT; a justificação por Deus sempre foi por meio da fé e não da lei. No AT as pessoas
eram salvas pela fé no Messias que havia de vir, enquanto no NT são salvas pelo
Messias que já veio.

O meio e o conteúdo da salvação vão sendo progressivamente revelados e


esclarecidos por todo o AT até sua revelação plena em Cristo. Abraão sabia mais de
Deus e seus propósitos do que Adão; Moisés sabia mais que Abraão; Davi mais do que
Moisés; Isaías mais que Davi; Malaquias mais que Isaías; até o advento de Cristo, que é
a plenitude da revelação (Cl 2.9; Hb 1.1,2).
!38

A palavra testamento significa aliança ou pacto. Não são duas alianças distintas, uma
nova e outra velha, mas uma mesma aliança em duas dispensações distintas. O NT está
escondido no AT e o AT está revelado plenamente no NT. O AT é sombra ou figura do NT
(Hb 8.5; Cl 2.16,17).

Veja o gráfico:

O gráfico acima demonstra que a revelação divina nas Escrituras é:

➢ Histórica = Acontece dentro da história humana.


➢ Progressiva = À medida que acontece a sua compreensão se torna maior
➢ Orgânica = É perfeita em todos os seus estágios.
➢ Adaptável = Sua linguagem é compreensível a quem a recebe.

20. Os fatos ou acontecimentos históricos bíblicos só podem ser interpretados


simbolicamente quando a Bíblia assim designa.

Um símbolo é “algo que representa ou lembra alguma outra coisa por relação,
associação, convenção ou semelhança acidental; especialmente um sinal visível de uma
coisa invisível” 11. Embora haja diferenças entre as palavras símbolo, tipo, alegoria, símile
e metáfora, são termos muito próximos, justificando a aplicação dessa regra a todas elas.

1. Exemplos históricos usados como símbolos no NT. A passagem pelo Mar vermelho
(Ex 14.22) é aplicada ao batismo (I Co 10.1-4). A serpente de Bronze (Nm 21.9 = Jo
3.14). Jonas e a baleia (Jn 3.4,5 = Lc 11.29-32; Mt 12.38-42).

2. O uso de alegorias (Gl 4.22-24). Paulo fez essa interpretação sob inspiração divina. O
objetivo do estudo bíblico é entender o sentido visado pelo autor, não colocar nas
palavras dele o conteúdo que nós achemos caber ali. Não podemos criar “sentidos
mais profundos” e usos para as palavras, pois isso significa trair a mensagem
inspirada, substituindo-a por imaginação humana. Um exemplo de alegorização é
aplicado a Filemon: Filemon representa Deus. Paulo representa Cristo e Onésimo
representa a humanidade. Não podemos confundir aplicação com alegoria. A primeira
respeita o sentido histórico, a segunda o ignora.

11
Dicionário Webster.
!39

Aula 16: REGRAS TEOLÓGICAS = 21-24

21. Você precisa compreender a Bíblia gramaticalmente, antes de compreendê-la


teologicamente (doutrinariamente).
Não podemos separar o estudo gramatical das Escrituras de sua compreensão
teológica. O segundo parte do primeiro. “Você precisa entender o que diz a passagem,
antes de poder esperar entender o que ela quer dizer” 12.

Por exemplo: Romanos 5.15-21. Paulo compara Cristo com Adão. Deus nos
considera injustos com base no pecado de Adão e faz o mesmo, declarando-nos justos,
com base na obra de redenção de Cristo na cruz.
É de textos como esses que desenvolvemos a doutrina da IMPUTAÇÃO, ou seja, foi-
nos imputado o pecado de Adão, apesar de nós não termos feito nada para merecê-lo;
assim também nos foi imputada a justiça de Cristo, apesar de não termos feito nada para
merecê-la. Daí, concluímos que a imputação não afeta o nosso caráter moral, mas a
nossa posição legal diante de Deus. Deus trata com o nosso caráter moral na
santificação, não na justificação.
É muito importante o estudo da gramática, pois não se pode interpretar qualquer texto
sem termos o conhecimento de sua estrutura e vocabulário. Os significados das palavras
e suas funções dentro das frases e parágrafos é o ponto de partida para entendermos
corretamente as Escrituras sagradas.

22. Uma doutrina só pode ser considerada bíblica, quando resume e inclui tudo o
que a Escritura diz sobre ela.

Temos aprendido uma forma fracionada de ler e entender a Bíblia. A forma como
ensinamos os crentes a decorar versículos isolados de seu contexto e a proliferação das
“caixinhas de promessas”, são fatores que contribuem para a formulação de doutrinas
incoerentes e imprecisas no meio cristão. O fato é que não podemos tirar conclusões a
respeito de qualquer doutrina bíblica antes de estudar tudo que a Bíblia diz sobre o
assunto.

Podemos tirar conclusões apressadas sobre nosso relacionamento com a Lei se


lermos Gálatas 3.28 e Romanos 5.18, sem levar em consideração Romanos 6.1-4. Nesse
ponto um estudo tópico da Bíblia é útil. O estudo tópico é quando separamos temas
Bíblicos e percorremos toda a Escritura buscando todos os textos relacionados ao tema
escolhido, estabelecendo seus paralelos. Citamos três exemplos:

12
Walter A. Henrichsen, Princípios de Interpretação da Bíblia, Mundo Cristão, p.63.
!40

a) Paralelos de palavras. Ao estudarmos a vida de Balaão em Números 22-24. Sabemos


que ele era um profeta de Deus que não pode amaldiçoar a Israel. Mas o NT
acrescenta alguns detalhes ao entendimento de seu procedimento pecaminoso que
uma leitura superficial de Números não nos deixa captar (II Pe 2.15; Jd 11; Ap 2.14).

b) Paralelos de idéias. Podemos estudar o assunto mais complexo como


“Autoridade” (Mt
21.23). Ao procurarmos textos que tratam do assunto, perceberemos que a palavra
autoridade não aparecerá em todos eles, mas o conceito estará presente. Gênesis 3 trata
da primeira rebelião do homem contra autoridade. Números 16 registra o severo castigo
de Deus sobre aqueles que questionaram uma autoridade legitimamente constituída por
Deus.

c) Paralelos doutrinários. Podemos ampliar nossa pesquisa para grupos de doutrinas


dominantes nas Escrituras: Os Atributos de Deus; a Redenção; a justificação ou a
Santificação. Então reunimos todas as informações bíblicas sobre os temas. Para isso
fazemos uso de dois métodos; o método indutivo (o processo de raciocinar das partes
para o todo) e o método dedutivo (o processo de raciocinar do geral para o particular).
O estudo dedutivo, no geral é um auxiliar importante do estudo indutivo. O estudo
indutivo é extremamente importante no desenvolvimento de nossas convicções
doutrinárias, porque ao estudarmos as partes podemos captar um retrato cada vez
mais claro do todo.
Fazer estudos doutrinários é muito importante na formação de nossas convicções
espirituais, pois nos livra de cultivarmos uma espécie de “fé implícita”, ou seja, leva-
nos a crer não só porque a Igreja ou o pastor ensina, mas porque conferimos
pessoalmente o que diz a Bíblia. Precisamos ser bons intérpretes das Escrituras para
obtermos convicções fortes sobre a nossa fé pessoal em Cristo.

23. Quando duas doutrinas ensinadas nas Escrituras parecerem contraditórias,


aceite ambas como bíblicas, crendo confiantemente que se explicarão dentro de
uma unidade mais elevada.
Existem nas Escrituras certo número de APARENTES contradições ou paradoxos.
Paradoxos acontecem quando sustentamos duas verdades aparentemente
contraditórias. Elas parecem contraditórias porque o nossa mente finita não pode
compreender plenamente a mente infinita de Deus. Alguns paradoxos bíblicos são:

a) A Trindade. Nós não servimos a três deuses, mas há um só Deus, contudo cada
Pessoa da Trindade é plena e completamente Deus, iguais em substância e poder.
Na Trindade divina 1 + 1 + 1 = 1. Nenhuma ilustração humana pode explicar esse
mistério teológico. Os que negam a Trindade são chamados de Arianos ou
Unitaristas, como os Testemunhas de Jeová.
!41

b) A dupla natureza de Cristo. Cristo é completamente Deus e completamente homem.


Ele é uma pessoa só, contudo, tendo duas naturezas, uma divina e outra humana. Ele
não metade Deus e metade homem. Para ele nos salvar era necessário que fosse
plenamente homem, pois pagou por pecados de homem. Todavia, também era
necessário que fosse plenamente Deus, pois se não só poderia morrer pelos pecados
de um só homem, e não pela humanidade inteira.

c) A origem e existência do mal. A Bíblia diz que Deus criou o mal (Is 45.7), porém não é
o seu autor, ou seja, não o pratica. Logo, o mal não é um princípio eterno em
oposição ao bem. Todavia, o mal já estava presente na tentação do homem na
pessoa de Satanás. Não sabemos qual o propósito do mal nos decretos eternos de
Deus, mas sabemos que Deus tratou dele na cruz de Cristo.

d) A soberana eleição de Deus e a responsabilidade do homem. Fomos escolhidos em


Cristo antes da fundação do mundo (Ef 1.4), mas também é desejo sincero de Deus
que nenhum pereça (II Pe 3.9). Na Bíblia toda existe um bem intencionado
oferecimento do Evangelho a todas pessoas, pois o homem é mostrado nas
Escrituras como um agente moral responsável diante de Deus que lhe pedirá contas
de suas obras. Não podemos afirmar uma em detrimento da outra. Nós só podemos
sustentar as duas doutrinas aparentemente “conflitantes” como verdadeiras, pois
ambas são ensinadas nas Escrituras.
João Calvino ensinava que o intérprete das Escrituras só pode ir até onde elas vão;
nem ficar aquém, nem ir além do seu ensino. Devemos dizer o que a Bíblia diz e calar
onde ela se cala. Não podemos especular a verdade, pois isso é transformá-la em
sabedoria humana, e a Bíblia é muito mais que isso.

24. Um ensinamento simplesmente implícito na Escritura pode ser considerado


bíblico quando uma comparação de passagens correlatas o apóia.

Existem ensinos que não são afirmados explicitamente nas Escrituras, mas que
são verdadeiros. Um exemplo tomado da própria Escritura é quanto à doutrina da
ressurreição no AT. É o caso do debate de Jesus com os saduceus, que não criam na
ressurreição de mortos (Mc 12.26,27). Jesus faz uso de raciocínio dedutivo para provar
que a doutrina da ressurreição está presente implicitamente no AT.

Assim também, a Bíblia não afirma em parte alguma que as mulheres devem
tomar a Ceia. Mas é um ensino implícito no NT. I Coríntios fala de mulheres como
membros da Igreja (Cloe e Priscila – 1.11; 16.19); que as mulheres participavam dos
cultos (11.2-16; 14. 34,35); não existe nenhum texto que lhes proíba a comunhão. Logo,
inferimos que elas podiam participar livremente do sacramento.

Esse princípio precisa ser tratado com muito cuidado, pois é exatamente do abuso
desse princípio que muitos ensinamentos errados surgem na Igreja. Exemplo: Jesus
!42

orava de madrugada (Mc 1.35). Tomando esse texto isoladamente podemos criar o
seguinte princípio: Cristo orava de madrugada. O cristão deve ser semelhante a Cristo.
Logo, o cristão deve orar sempre de madrugada. Mas a comparação com outras
passagens vai nos mostrar que esse mandamento não existe dessa forma, pois Jesus
não orava só de madrugada, mas também em outros horários e em circunstâncias
variadas.

A regra 5 nos lembra que os exemplos bíblicos só têm autoridade quando


amparados por uma ordem. As regras de interpretação também não podem ser tomadas
isoladamente, mas em harmonia. Não podemos violar um princípio de interpretação a fim
de justificar outro.

Conclusão:

Ao utilizarmos essas regras na interpretação da Bíblia, precisamos nos lembrar


sempre que são ferramentas a nosso dispor. Contudo, cada ferramenta tem seu uso
apropriado. Assim como uma chave de fenda não é suficiente para concertarmos um
motor, assim também uma única regar não será suficiente para interpretarmos a Bíblia
com eficiência e fidelidade. Será preciso estar atento a que regra aplicar em cada
situação de estudo. À medida que as aplicamos adquirimos destreza, mas no começo
aprenderemos cometendo erros. Por isso, o estudo constante é recomendável, pois nos
habilita e amadurece com o tempo.
!43

Aula 17: COMO FAZER UMA APLICAÇÃO

O objetivo de todo o nosso estudo da Bíblia é a sua aplicação na vida dos cristãos.
O mandamento bíblico é que sejamos praticantes e não somente ouvintes da palavra,
pois ao agir assim, enganamo-nos a nós mesmos (Tg 1.22). Por isso, constitui-se uma
das regras mais importantes da hermenêutica entendermos que “o propósito primário da
Bíblia é mudar as nossas vidas, não aumentar o nosso conhecimento” 13.

Fazer aplicação da Palavra não é basicamente provocar emoções, mas conduzir a


ações de obediência a Deus por meio de sua Palavra. A palavra poderá nos emocionar, e
muitas vezes até o fará, contudo, a aplicação deve conduzir a ação e não somente à
expressão de sentimentos pessoais.

Aplicar a palavra tem a ver com um ato da vontade (volição), mais do que com as
emoções (Mateus 21.28-32 - A parábola dos dois filhos).

Siga os seguintes passos para fazer a aplicação dos ensinamentos bíblicos


encontrados no estudo:

1. Use o princípio da observação novamente.


Ao fazer a observação do texto assinale possíveis aplicações. Quando estiver
estudando para ministrar peça ao Espírito Santo que o oriente em qual ou quais
aplicações utilizar. Faça as seguintes perguntas:

➢ Há algum exemplo que devo seguir?


➢ Há alguma ordem que devo obedecer?
➢ Há algum erro que devo evitar?
➢ Há algum pecado que devo confessar?
➢ Há alguma promessa que devo reivindicar?
➢ Há algum novo pensamento acerca de Deus?

2. Siga as regras de interpretação.


Para aplicar corretamente, precisamos interpretar corretamente. Podem existir várias
aplicações de um texto bíblico, mas haverá apenas uma interpretação correta. Toda e
qualquer aplicação deve ser extraída do que o texto diz e não de suposições
pessoais, alegorizações imaginosas, espiritualizações piedosas ou da extração de
“princípios eficazes” ou “lições” das Escrituras.

13
Walter A. Henrichsen, Métodos de estudo Bíblico, Mundo Cristão, p.109. Confira com a regra nº6 de Princípios
de Interpretação da Bíblia, do mesmo autor, p. 23-26.
!44

Todos esses elementos citados acabam por nos levar a tirar o texto de seu contexto e
ignoram a intenção original do autor bíblico. A aplicação precisa se limitar ao objetivo
do texto, pois ela visa alcançar para hoje o mesmo efeito que buscou alcançar para
os seus primeiros leitores ou ouvintes.

3. Seja seletivo.
O bom despenseiro sabe o que servir e a quantidade que vai servir. Assinale as
possíveis aplicações e concentre-se nas mais urgentes. Peça em oração que o
Espírito lhe mostre aquelas que Ele quer que você ponha em ação AGORA.
O objetivo da seleção não é escolher o conveniente e deixar o constrangedor para
depois, mas a finalidade é garantir objetividade.
A pergunta que vai orientar a seleção será: O que o Senhor quer que eu faça agora?

4. Seja específico.
Resista às generalizações. Todos sabemos que devemos ser servos como Jesus foi
(Fp 2.5), porém, em que áreas específicas não tenho sido servo ou tenho buscado
mesmo o contrário: ser servido em vez de servir? Aplicações possíveis podem ser:
entender que não temos servido nossos filhos com o ensino adequado. O marido
pode ficar sentado à frente da TV sem fazer nada, enquanto a esposa tem de cuidar
do almoço, lavar as vasilhas e da arrumação da casa. Servir significa desligar o
aparelho e ajudar em alguma dessas atividades a fim de que esposa tenha mais
tempo para descansar também.

5. Seja pessoal.
Como nós gostamos de repartir responsabilidades! Sempre falamos de “nós”, “eles” e
“vocês”.
Na aplicação precisamos trocar os pronomes plurais por singulares; “Eu e você”.

6. Escreva a aplicação por extenso.


A aplicação é uma parte essencial do estudo da Bíblia. Se o estudo está sendo
preparado a fim de ser ministrado, a aplicação deve receber dobrada atenção. Ela
deverá ser escrita integralmente. Escrever possibilita confirmação posterior e um
aprendizado mais uniforme e coerente.
!45

7. Formule um processo de verificação.


A aplicação requer ações específicas e eficazes. Ela deve te levar a devolver o que
pediu emprestado, ou a pedir perdão por uma mentira que ofendeu um irmão mais
íntimo.
Por outro lado, a aplicação não pode visar apenas fins imediatos, mas também
incentivar e ordenar projetos de mudança a médio e a longo prazo, como mudar a forma
de organizar as finanças ou se envolver num projeto de implantação de uma nova igreja
ou no sustento mensal de um missionário em um país africano até que a igreja naquele
país se torne autônoma (um projeto para longos anos).
A Igreja Presbiteriana brasileira se tornou autônoma dos EUA depois de cerca de 30
anos (1888); e independente estatutariamente depois de mais 30 anos (1910).
Um outro exemplo pode ser o cultivo do fruto do Espírito, como ser manso como
Moisés foi? (Nm 12.3). Tome atitudes objetivas: (a) memorizar textos bíblicos que falam
do fruto espiritual da mansidão. (b) colocar cartões e mensagens sobre mansidão em
vários pontos de sua casa para lembrar-se de seu objetivo. (c) Compartilhar com uma
pessoa mais íntima (cônjuge, irmão, namorada, melhor amigo crente) o assunto para que
te ajude e não se esqueça de seu projeto.

Conclusão:

A aplicação, por sua própria natureza é pessoal. Seu objetivo mais profundo é a
transformação do nosso caráter e do caráter a quem ministrarmos a palavra de Deus.
Quando somos mais que ouvintes da palavra, o Espírito santo, que habita em nós, nos
capacitará a obedecê-lo a fim de praticarmos o que aprendemos convictamente. Uma vez
que o Espírito Santo habita em nós, toda mudança ocorrerá de dentro para fora, pela
aplicação da palavra no coração e sua execução no nosso dia-a-dia.

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