Manual - Deontologia e Etica Profissional II
Manual - Deontologia e Etica Profissional II
Manual - Deontologia e Etica Profissional II
República de Moçambique
Formação
Ministério da Saúde Para
Direcção de Recursos Humanos
Departamento de Formação Técnicos de
Medicina
Geral
Deontologia e Ética Profissional II
2º. Semestre
2012
FICHA TÉCNICA
O presente Manual faz parte do currículo de formação inicial doTécnico de Medicina Geral
(TMG), baseado em competências, que consiste em 5 semestres de formação clínica,
compostos por 36 disciplinas, leccionadas de forma linear e modular com actividades na sala de
aula, laboratório humanístico e multidisciplinar e estágio clínico.
O Programa de Formação inicial do TMG é fruto da colaboração do I-TECH (International
Training and Education Center for Health), uma colaboração entre a Universidade de
Washington e a Universidade da Califórnia em São Francisco, com o MISAU (Ministério de
Saúde de Moçambique), para melhorar as capacidades clínicas do TMG no diagnóstico e
tratamento das principais doenças, incluindo as relacionadas ao HIV/SIDA, contribuindo desta
forma para a melhoria da saúde da população moçambicana.
Copyright 2012
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Departamento de Formação
Maputo-MZ
Coordenação
Elaboradores de Conteúdo:
Florindo Mudender Ricardina Nhampula Christopher Pupp
Revisores Clínicos:
Maria Fernanda Alexandre Gerito Impelemarebo Christopher Pupp
Revisores Pedagógicos:
Christopher Pupp
Formatação e Edição:
Ana Bela Amude Fernanda Freistadt Adelina Maiela
Maíra dos Santos
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Descrição da Disciplina:
Esta disciplina, Deontologia e Ética Profissional, é parte integrante do currículo do TMG cuja
preocupação é colaborar com a formação do conhecimento dos alunos sobre o conceito de
Medicina, a complexidade da relação médico-paciente-família, o segredo médico como condição
«sine qua non» para o exercício profissional da Medicina, entre tantos outros.
Deontologia designa, portanto, o conjunto de regras e princípios que ordenam a conduta
profissional do homem ou cidadão; é a ciência que trata dos deveres a que são submetidos os
integrantes de uma profissão. Com frequência, ela é utilizada para designar ética profissional ou
Deontologia e Ética Profissional II – Versão 2.0 6
a moral do exercício de uma profissão. Assim, a deontologia é uma ética profissional das
obrigações práticas, baseada na “livre” acção da pessoa e no seu carácter moral.
1. ERRO MÉDICO
Introdução
O médico não almeja um resultado danoso, ele assume o compromisso de dar o melhor de si o
favor dos seus pacientes. Porém não é infalível nos seus diagnósticos, nas suas conclusões e
na escolha de conduta adequada que aconteçam erros médicos.
O erro médico representa um custo económico e social bastante elevado. Veja os estudos
efectuados em algumas partes do mundo:
País Mortes por Ano por Invalidez por Ano Lesões População
Erro Médico por Erro Médico Adicionais
(est. 2011)
Austrália 18.000 50.000 ??? 22.542.000
EUA 40.000 – 98,000 ??? 1.000.000 311,950,000
Moçambique ??? ??? ??? 22.416.881
De um modo geral, os erros médicos chegam a constituir uma importante causa de morte, às
vezes maior do que o SIDA, o cancro ou os acidentes de viação. Os erros relacionados com os
medicamentos são os que mais contribuem para as complicações e mortes em pacientes
pediátricos, nos serviços de urgências e em pacientes com patologias complexas.
Muitos dos erros médicos que acontecem nas unidades sanitárias não são documentados.
O assunto "erro médico" é extremamente delicado, isto porque, a actuação do profissional de
medicina, não se compara com a de um operário. Tendo em conta que este último, segue regras
acessíveis a qualquer pessoa, o médico é regido por normas científicas, e os resultados
frequentemente são de vida ou morte.
Os erros médicos resultam de falhas nos procedimentos, sistemas, e factores humanos (como
cansaço) para além de deficiências na formação dos profissionais de saúde.
Erros no diagnóstico
Nota:
Má-prática é crime, mas erro médico não. Por isso é importante em todo o momento evitar
confusão entre estes dois conceitos. Para definirmos melhor o que seria a má prática clinica é
necessário definir as 4 modalidades: a imperícia, a imprudência e a negligência.
A. Negligência: Culpa por omissão (de propósito não por esquecimento), é quando o
profissional não fez o que deveria ter feito, seja por passividade, desmazelo, descuido,
menosprezo, preguiça ou mesmo cansaço. Neste caso podemos citar um exemplo de culpa
por negligência:
Possíveis Causas:
O clínico não utiliza os instrumentos de consulta como por exemplo, normas clínicas,
guiões algoritmos,
O clínico encontra-se desactualizado sobre os protocolos de investigação clínica.
O clínico é pouco comunicativo, não interage com os colegas de semelhante
categoria ou categoria superior para troca de experiência, discussão de casos ou
esclarecimento de dúvidas.
Factores Contextuais:
Cansaço do clínico - ficou toda a noite nas urgências e agora está a trabalhar
(estudos indicam que ou número de erros médicos aumenta por 3 vezes quando os
clínicos não dormem por 24 horas consecutivas).
Depressão e desmoralização (falta de motivação?) do clínico.
Longas filas de pacientes e pouco tempo para a avaliação clínica.
Inexistência de normas, guiões algoritmos actualizados.
Possíveis Causas:
O clínico não usa o formulário nacional de medicamentos para confirmar as doses,
indicações contra-indicações etc.
O clínico não discute a história de tratamento na anamnese – história de alergias a
medicamentos do paciente, não confirma a idade gestacional, etc.
Factores contextuais:
Cansaço do clínico - ficou toda a noite nas urgências e agora está a trabalhar
(investigações indicaram que ou número de erros médicos aumenta por 3 vezes
quando clínicos não dormem por 24 horas consecutivas).
Depressão e falta de motivação do clínico.
Longas filas de pacientes e pouco tempo de explicação.
Falta de acesso ao formulário do medicamentos.
Diferenças linguísticas entre o paciente e o clínico.
Condições complicadas ou múltiplas condições (mais frequentes com pacientes
seropositivos e pacientes idosos).
Formação e Competência
Fraca capacidade de raciocínio.
Formação inadequada ou desactualizada.
Tendência de esconder ou não admitir que cometeu um erro médico ou de reconhecer a
gravidade do problema de erros médicos e assim falta de discussão acerca de como
resolver problemas.
Fraca comunicação com os colegas para a discussão de casos, esclarecimento de
dúvidas.
Possíveis soluções
Promover na unidade sanitária a discussão de casos clínicos, apresentação e discussão
de temas focalizando as principais causas de morbimortalidade.
Promover o seguimento pormenorizado dos protocolos e normas clínicas nacionais.
Oferecer oportunidade de formação contínua, incluindo tutoria, baseada nas
necessidades de cada profissional e de trabalho e certificar que o conhecimento é
replicado entre os colegas.
Incentivar a partilha de problemas de trabalho, consulta e discussão de erros médicos
cometidos e criar o espírito de interajuda na busca de soluções.
Incentivar boa comunicação e consultas para esclarecimento de dúvidas.
Possíveis soluções:
Fazer com que os profissionais gozem férias anuais.
Controlar a equidade nas escalas de trabalho.
Prestar apoio necessário ou encaminhar o profissional com depressão para serviços
especializados.
O clínico que comete um erro médico, deve confessá-lo à pessoa com a qual sente segurança
(colega ou superior hierárquico). O clínico tem a responsabilidade ética de dizer ao paciente
sobre o erro especialmente se o erro pode causar danos ao paciente.
Se estás perante um colega que cometeu um erro médico, comece por revelar a sua própria
experiência porque pode diminuir o sentimento de isolamento do colega, pergunta acerca do
erro, avalia e discuta a importância da revelação à família. A seguir procura o solução do foco do
problema, explora o que poderia ter sido feito de maneira diferente o que poderá ser feito na
instituição e ao clínico para evitar recorrências.
A atitude correcta perante os erros médicos é aceitar a existência dos erros médicos e a
possibilidade de preveni-los através do reconhecimento, e da análises e modificação/correcção
dos principais factores identificados como causas.
O que você como Técnico de Medicina deve fazer após cometer um erro médico?
De maneira geral, a atitude do clínico em relação a um erro médico tem sido mais
frequentemente a de negação: negar a existência do erro. Devido ao facto de que todos os
clínicos em alguma ocasião cometeram algum erro médico, cria um sentimento de empatia
mútua que leva a falta de crítica. Nesse caso justifica-se o erro alegando razões como as
naturais incertezas que rodeiam a prática clínica; as limitações humanas; as características das
doenças e dos doentes; os problemas de organização dos serviços de saúde; a fadiga e
excesso de trabalho; entre outros.
Deontologia e Ética Profissional II – Versão 2.0 16
Todo profissional de saúde sabe sobre a dificuldade de cometer um erro, a pessoa sente-se
exposta, presa ao sentimento de se alguém percebeu, fica em dúvida sobre o que fazer, se deve
dizer a alguém, o que dizer, questiona a sua competência, mas ao mesmo tempo tem medo de
ser descoberto, sabe que deve confessar mas ao mesmo tempo teme a punição e reacção do
paciente.
Muitas vezes o apoio que necessitamos depois de cometermos um erro médico raramente
conseguimos. Uma razão é que aprender das falhas dos outros ajuda ao clínico a destituir-se
dos seus erros passados e ajudar o grupo a ser menos exposto ao erro médico.
Tem sido sugerido que a única forma de enfrentar a culpa depois de um erro grave é a
confissão, mas a falta de fórum próprio para a discussão e outros riscos de repressão de
superiores hierárquicos torna isto impraticável.
Médicos, técnicos, farmacêuticos, enfermeiros estão susceptíveis aos erros. Quando cometer
um erro, fale com o seu colega, outro técnico com qualificações superiores ou o seu superior
hierárquico, com quem se sente em segurança em confessar o erro. Observa a reacção do seu
colega e observe a sua própria reacção: Que ajuda recebeu? O que fez disso difícil?
Os clínicos sempre cometerão erros, o factor decisivo será como lidar com eles. A segurança do
doente e a saúde e bem-estar do clínico estarão bem servidos se nós podermos ser honestos
sobre os nossos erros para os doentes, colegas e nós próprios.
A atitude correcta perante os erros médicos é aceitar a existência dos erros médicos e a
possibilidade de preveni-los através do reconhecimento, e da análises e modificação/correcção
dos principais factores identificados como causas.
Conclusão
Cometer erros é uma condição humana: portanto pretender erradicar os erros é um objectivo
não realista, contudo, é possível controlar e reduzir a ocorrência de erros, pelo menos os de
maior gravidade. Isto pode conseguir-se através da integração de factores individuais, de
equipa, técnicos e organizacionais e o estabelecimento das diferentes estratégias preventivas
cuja essência é uma boa e efectiva comunicação num sistema de saúde bem estruturado e
funcional a todos os níveis de prestação de cuidados de saúde aos utentes.
O Segredo Médico (segredo profissional) abrange todos os factos que tenham chegado ao
conhecimento do médico, no exercício do seu trabalho ou por causa do seu trabalho. Constitui
segredo médico, toda a informação sobre o estado de saúde do utente, e no caso de que este
apresente alguma patologia, os sintomas e os sinais observados, o prognóstico; as possíveis
consequências, o tratamento indicado, os resultados do tratamento e das análises, e ainda,
todas as revelações dos pacientes no decurso do acto médico. Toda a informação colhida deve
ser protegida contra a sua revelação não autorizada.
Os clínicos, no decurso da sua actividade profissional têm acesso através da anamnese, do
exame físico, dos meios auxiliares de diagnóstico, através de relatórios médicos ou mesmo de
colegas, de conhecimentos sobre dados e circunstâncias sobre os pacientes, que deve ser
preservada. É dever do clínico não revelar a informação obtida durante o acto médico.
A confidencialidade traz benefícios tanto para o clínico quanto para o paciente, e esta
resulta do vínculo, da confiança e comprometimento entre ambos:
A confidencialidade encoraja aos pacientes a descreverem todos os seus problemas
e circunstâncias de vida, o que aumenta a capacidade do médico de realizar os
diagnósticos mais pertinentes e a seguir uma conduta terapêutica adequada.
Os pacientes sentem-se mais seguros e têm melhor adesão ao tratamento.
Há mais cumprimento com as visitas de controlo.
Difundem uma boa imagem sobre o clínico o que melhora a sua auto-estima e
desempenho.
Pontos-chave
1. A confidencialidade ou segredo profissional apoia-se em princípios de ética médica (
autonomia, beneficiência/não maleficiência, dignidade, equidade/justiça).
2. O Segredo Médico (segredo profissional) abrange toda a informação sobre o estado de
saúde do utente, e no caso de que este apresente alguma patologia, os sintomas e os
sinais observados, o prognóstico; as possíveis consequências, o tratamento indicado, os
resultados do tratamento e das análises e ainda, todas as revelações do pacientes no
decurso do acto médico.
3. A privacidade deve ser igualmente salvaguardada em todos os momentos em que o
paciente revela qualquer informação relacionada com a sua doença ao clínico e quando
este executa o exame clínico. A presença outras pessoas na consulta, por exemplo
alunos durante o estágio, deve ser precedida de um claro esclarecimento ao doente e um
pedido de autorização.
4. A confidencialidade é um dos pilares fundamentais à sustentação de uma relação clínico-
paciente produtiva e de confiança, traz benefício para o paciente e para a sociedade, daí
que nas relações clínicas são consideradas características importantes:
Confidencialidade na relação interpessoal, clínico-paciente.
Confidencialidade do registo desta informação.
5. Determinadas informações podem ser partilhadas com outros membros da equipa clínica
seguindo os seguintes orientações:
Informação sobre pacientes somente podem ser partilhados com outros clínicos
se estiver envolvido nos cuidados, se estiver a pedir opinião, se está a formar o
outro clínico, se estiver a referir/transferir o paciente.
Somente informação clinicamente relevante ao diagnóstico, cuidados e
tratamento do paciente pode ser partilhado com outros clínicos.
Pode dar informações a outros funcionários de saúde, envolvidos nos cuidados
do paciente, somente se a informação for necessária para a prestação dos
cuidados.
Deve dar qualquer informação acerca do paciente necessária para a protecção
dos funcionários de saúde.
Somente podem ser dadas informações adicionais se a condição do paciente
exige medidas de protecção par além das normas de biossegurança normais.
Se o paciente é um funcionário de saúde e tiver uma condição que pode
prejudicar os pacientes ou outros colegas se continua a trabalhar.
No entanto:
Existem situações em que a quebra de confiança e de confidencialidade pode acontecer, são
situações específicas, em que através desse facto de revelar, seja obtido um bem maior que
deve ser protegido, e este nunca deve ter um carácter pessoal. Na verdade, o dever de
confidencialidade do clínico e o direito à confidencialidade do doente não são absolutos.
A quebra de confidencialidade (eticamente admitida ou não) refere às situações em que o clínico
partilha informação sobre o paciente sem o seu consentimento. Sem consentimento, significa:
situações em que a autorização do paciente não foi solicitada, tal como situações em que o
paciente foi solicitado mas recusou-se a autorizar o clínico. Por isso, a decisão tem de ser
justificada por um bem maior.
Nota:
A quebra de confidencialidade, mesmo quando eticamente admissível sempre expõe riscos para
o paciente, por isso é sempre melhor tentar convencer o próprio paciente a partilhar a
informação ou a autorizar o clínico a partilhar a informação. Se o paciente concorda com a
partilha da informação já não é considerada quebra de confidencialidade.
A preservação de segredos está associada tanto à questão da privacidade quanto a de
confidencialidade e estes têm como fundamento ou sustentação os princípios fundamentais de
ética médica (autonomia, beneficência/não maleficência, dignidade, justiça/equidade), como foi
enfatizado na aula anterior. Estes princípios devem na medida do possível ser preservados
aquando da tomada de decisão de quebra de confidencialidade e privacidade, para a
preservação da vida ou preservação de outras pessoas.
Um sério dano físico ou psicológico para terceiros (ou a sociedade em geral) aconteceu
ou tive alta probabilidade de acontecer
1 Um paciente informa que pretende assaltar ou matar À pessoa ameaçada e à
alguém. polícia, e se for relevante aos
serviços de saúde mental.
2 Se um paciente informa sobre um crime sério que foi Policia
cometido (assassinato, violência, abuso de crianças,
sequestro, violação sexual, etc.)
3 Se o paciente apresenta um risco significante e imediato Depende da situação
à segurança pública. específica: agente
Por exemplo: empregador, serviços de
viação e trânsito, polícia.
Pacientes sofrendo de diminuição da acuidade visual,
Situações especiais:
HIV/SIDA: o HIV/SIDA, trouxe um desafio ao princípio da confidencialidade, na medida
em que um valor mais alto, neste caso a vida das pessoas que têm contacto directo com
o paciente. O clínico tem por obrigação ética e legal de informar ao
cônjuge/companheiro do seu paciente a sua situação de doença. É igualmente
obrigatória a notificação da doença às autoridades de saúde.
Gravidez e aborto com menores: em determinadas situações particulares, os pais ou
responsáveis legais têm direito as informações: exemplo, uma adolescente de 14 anos
que se apresenta na consulta grávida, a informação sobre o seu estado deve ser dada
aos pais.
Pesquisa: Os direitos de privacidade e confidencialidade devem ser preservados. Os
indivíduos participantes em pesquisas, devem ser informados dos limites da habilidade
do pesquisador em salvaguardar a confidencialidade e das possíveis consequências da
quebra de confidencialidade. Por exemplo, deve ser informado que a informação
resultante da pesquisa será divulgada em conferências, em jornais científicos, etc.
A quem divulgar o segredo médico e que riscos podem advir desta divulgação?
A quem se deve divulgar o segredo médico?
A informação deve apenas ser partilhada com pessoas relevantes no caso e em todas as
situações em que o clínico partilha informação em relação a um paciente com outras pessoas, a
preservação da privacidade e confidencialidade deve prevalecer no seio de quem tem acesso à
informação.
A divulgação do segredo pode ocorrer na relação do profissional de saúde com terceiros, como:
Com colegas, família, empregadores, autoridade policial.
Pontos-chave
1. O dever de confidencialidade do clínico e o direito à confidencialidade do doente não são
absolutos.
2. A quebra da confidencialidade: é a acção de revelar ou deixar revelar informações
fornecidas em confiança (sem a autorização do paciente).
3. A quebra de confidencialidade é eticamente admitida nos seguintes contextos:
Um sério dano físico ou psicológico para o paciente aconteceu ou teve alta
probabilidade de acontecer.
Um sério dano físico ou psicológico para terceiros (ou a sociedade em geral)
aconteceu ou teve alta probabilidade de acontecer.
4. A divulgação do segredo médico deve apenas ser para pessoas relevantes no caso.
5. A quebra do segredo médico acarreta riscos significantes para o paciente, para o clínico
e para os serviços de saúde, por isso a decisão de quebrar deve ser feita comparando
bem os benefícios e riscos.
Responsabilidades fundamentais
O profissional de saúde presta assistência clínica a pessoa, família e comunidade, em
situações que requerem medidas relacionadas com a promoção, reabilitação, protecção de
saúde, prevenindo as doenças e incapacidades, e alívios de sofrimento num princípio
terapêutico, levando em consideração os diagnósticos e os planos de tratamento para a cura.
As responsabilidades do profissional de saúde incluem:
Zelar pela provisão e manutenção adequada de assistência e atendimento clínico, social
e ajuda.
Fazer a programa clínico coordenado por triagem, clínico, tratamento, que vise o bem-
estar do paciente.
Avaliar a sua competência e aceitar atribuições delegadas quando demonstre
capacidade para o efeito.
Se actualizar e ampliar seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais para o
benefício do paciente e desenvolvimento da profissão.
Exercício Profissional
1. Exercer a sua actividade com zelo e probidade, obedecendo aos preceitos da
ética/moral profissional, do civismo, das leis em vigor, preservando a honra, o prestígio
e as tradições da profissão.
2. Manter a confidencialidade profissional de que tenha conhecimento, em razão da sua
actividade e exigir a mesma conduta pelo pessoal sob a sua direcção.
3. Prestar assistência de saúde (médica no caso do Técnico de Medicina) ao paciente
respeitando a dignidade e os direitos da pessoa humana independentemente de
qualquer consideração relativa a etnia, nacionalidade, credo político, religião e condição
socioeconómica de modo que a prioridade no atendimento obedeça exclusivamente as
razões de urgência.
4. Respeitar a vida humana; jamais deve cooperar com factos que atentem ou risque a
integridade física e moral do paciente.
5. Colocar os seus serviços profissionais à disposição do paciente. Em casos pessoais, de
guerra, calamidade, endemias ou crise social, sem pleitear vantagens pessoais.
Deontologia e Ética Profissional II – Versão 2.0 32
6. Respeitar o natural pudor e a intimidade do paciente.
7. Respeitar o direito do paciente decidir sobre a sua pessoa e seu bem-estar.
8. Manter e zelar que o processo clínico do paciente permaneça fora do alcance de
estranhos, da equipe, e às vezes do próprio paciente.
Pontos-chave
O perfil profissional do Técnico de Medicina Geral descreve um funcionário de saúde com
funções principalmente clínicas, mas também com a possibilidade de funções de gestão, de
saúde pública e de ensino.
1. A ética e deontologia devem orientar e guiar todas as tarefas profissionais do técnico de
medicina.
2. O código ético estabelece que gozar uma boa saúde é situação vital e normal do ser
humano, e que assim a saúde é um bem fundamental. Assim a preocupação com saúde
é um DEVER moral de todos.
O perigo do medicamento
Os medicamentos usados com o intuito de tratar a doença ou qualquer outro transtorno no
paciente, não são completamente inócuos. Por isso o clínico ao administrar o medicamento deve
pensar nas vantagens e desvantagens do mesmo e nunca receitar um medicamento
desnecessário.
Quando o clínico prescreve a toma de um medicamento, ou a realização de um procedimento
terapêutico, para o tratamento de uma doença, ou outro transtorno clínico, ele espera cura ou
alívio no paciente. Mas ao mesmo tempo a prescrição por vezes implica:
O uso de produtos de natureza biológica, química ou natural que modificam as funções
bioquímicas e biológicas do organismo do paciente submetendo-o a um risco que
anteriormente não tinha. Os resultados nem sempre correspondem a cura ou o alívio das
manifestações da doença, como nas situações em que:
o Existe a persistência ou alívio não satisfatório das manifestações da doença.
o Existem efeitos adversos ou indesejáveis que podem variar desde ligeiras moléstias,
a reacções tóxicas de diferentes níveis de severidade até mesmo chegarem a ser
invalidantes ou fatais.
Leitura adicional
Outras orientações importantes na prescrição/receita médica
Legibilidade: a receita deve ser escrita de forma clara e legível. A falta de clareza na escrita
da receita médica, pode induzir a erros na toma dos medicamentos (combinações, doses), que
podem ser a causa de falência terapêutica, efeitos adversos, lesões ou a morte de pacientes.
Uso de símbolos: Evitar o uso das vírgulas, tanto nas frases como nos números, exemplos: 5
ml, em vez de 5.0 ml ou 5,0, evita que o 5.0 seja lido como 50.
Nota:
As etapas básicas abaixo mencionadas são necessárias para alcançar eficácia
terapêutica:
É preciso definir o problema, fazer uma anamnese detalhada, realizar os exames
complementares necessários e estabelecer o diagnóstico.
Especificar os objectivos terapêuticos (cura, alívio).
Seleccionar o tratamento mais eficaz (temos a certeza que vai produzir o resultado
desejado).
Seleccionar o tratamento específico e seguro para o paciente (exemplo quinina para
tratar a malária numa mulher grávida).
Pedir consentimento ao paciente para a realização do tratamento.
Prescrever, incluindo medidas medicamentosas e não medicamentosas se necessário
(exemplo: um doente com dor na coluna lombar que lhe é receitado diclofenac é
recomendado que se deite numa cama dura).
Incluir informação sobre a terapêutica para o paciente (dosagem, horário, possíveis
efeitos secundários).
Monitoramento do tratamento proposto (monitorar se há melhoria, manutenção ou
agravamento dos sintomas).
Nota:
para manter a confidencialidade do paciente, os atestados geralmente não devem conter o
diagnóstico/descrição do problema clínico salvo a pedido do paciente.
O documento que não deve ser confundido com o atestado é a declaração de comparecimento
do paciente aos serviços médicos. A declaração é mera confirmação do comparecimento do
paciente ou responsável à consulta naquele dia. Alguns clínicos ao datar a declaração colocam
também o intervalo horário do atendimento ou expressões como "nesta manhã", "nesta tarde",
etc.
Nota:
Nem sempre é preciso chegar a um diagnóstico definitivo para passar o atestado. Pode-
se avaliar que um paciente não está em condições de ir ao serviço ou executar certos
actividades sem saber a causa da doença.
O rigor da avaliação necessário é fortemente ligado ao tipo de atestado a ser elaborado,
e as consequências duma avaliação errada. P.ex. a avaliação de aptidão dum motorista
deve ser minuciosa porque se fizer um erro pode por em risco a vida do motorista e de
terceiros enquanto um atestado de doença por malária do mesmo motorista pode apenas
custar 3 dias de ausência ao serviço.
Nota:
Existem situações em que a transferência não obedece necessariamente a esta hierarquia
estabelecida:
Casos de urgência, em que o paciente é referido directamente para um nível de atenção
muito mais elevado que oferece os serviços necessários, um exemplo é quando um
paciente politraumatizado é referido de um centro de saúde periférico para um hospital
provincial.
Casos em que o clínico refere para seu colega de mesma categoria, mas com melhor
experiência no manejo da doença em causa.
Situação em que o paciente é referido de um clínico para o outro consoante a
disponibilidade na unidade sanitária ou no dia da consulta: exemplo de enfermeiro para
médico.
Pontos-chave
1. O atestado médico é um documento que deve merecer respeito pelos princípios éticos,
sempre com o objectivo de preservar a saúde do paciente ou proteger a terceiros.
2. O atestado deve apresentar a opinião do clínico sobre o assunto em questão mas não
fornecer detalhes e nenhuma informação sobre a condição clínica salvo em pedido
especial do paciente ou ordem judicial.
3. O clínico deve fazer uma avaliação adequada para o atestado que está a elaborar. Se
não tem competência ou acesso aos meios auxiliares necessários para o atestado, deve
referir o paciente a um nível de atendimento superior.
4. Eticamente, a transferência deve ser sempre efectuada pondo em primeiro plano o bem
para o paciente (princípio de beneficência).
5. A decisão de transferir o paciente deve pesar os benefícios da transferência com os
riscos/desvantagens da transferência.
6. DILEMA MÉDICO
Dilema – Definição
Dilema é um argumento formado por dois fundamentos contrários entre si. Na prática clínica, os
clínicos enfrentam diversas situações de carácter ético que, devido à sua natureza, gerem
dúvidas e colocam o clínico perante a difícil tarefa de reconciliar posições contrárias. Dado que,
pela sua natureza, os fundamentos que constituem um dilema são contrários entre si, a
resolução de um dilema é sempre contraditória, portanto é sempre uma solução que fica às
meias; uma solução que nunca satisfaz completamente.
Quando um clínico encontra-se numa situação em que, desde o ponto de vista ético, não sabe
muito bem que conduta adoptar, o mais importante é ter presente os quatro princípios éticos e
apoiar-se nos colegas:
Nesta aula queremos colocar o nosso enfoque numa situação específica que se apresenta como
dilema eticamente e moralmente complexo: o Aborto (provocado).
Em 2005, Moçambique assinou “A Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos relativa
aos Direitos da Mulher em África” e assim passou a ser lei. (BOM 2005, 1ª Série, N° 49). Nesse
documento é especificado que:
“Os Estados que tomaram parte devem tomar medidas apropriadas para:
a) Proteger os direitos de reprodução da mulher, particularmente autorizando o aborto em
casos de agressão sexual, violação, incesto e quando a gravidez põe em perigo a saúde
mental e psíquica da mãe ou do feto.”
Conclusão
Há muito mais argumentos fortes a favor e contra a prática de aborto. Para além disso, pessoas
têm opiniões e convicções morais, culturais e religiosas muito fortes e geralmente dificilmente
alteráveis acerca do aborto.
Nesta aula o objectivo não é de alterar convicções ou chegar a um consenso, mas sim de
garantir que um paciente, chegando a uma unidade sanitária a procura de serviços de aborto,
receba serviços padronizados ao nível do sistema nacional de saúde, orientados pelas leis em
vigor no país e as directivas do Ministério de Saúde, e não por convicções individuais do
profissional de saúde.
Pontos-chave
1. O aborto provocado consiste na interrupção voluntária da gravidez através da extracção
do feto da cavidade uterina.
2. O profissional de saúde deve prestar a assistência clínica necessária a toda a mulher
grávida que pretende abortar ou com aborto em curso conforme as normas
recomendadas pelo Ministério da Saúde, independentemente dos princípios
morais/religiosos pessoais em relação a prática do aborto.
8. EUTANÁSIA
A eutanásia é um tema controverso e que suscita muitos debates tanto no seio da comunidade
médica, como nas organizações civis e nos sistemas legais. Há dois extremos de pensamentos,
os defensores da eutanásia, que sustentam os seus argumentos na base de que a dignidade
humana consiste no direito de poder eleger livremente o momento da morte e os críticos que se
sustentam sobre a base de que a eutanásia é um assassinato ou assistência ao suicídio (actos
considerados ilegais e imorais).
Em certos países como Holanda, a eutanásia é permitida ao abrigo da lei em determinadas
situações seguindo critérios. Em outros, como nos estados de Oregon e Washington (nos
Estados Unidos) o médico também, seguindo certos critérios, pode fornecer ao paciente terminal
os meios de terminar a sua própria vida mas não pode administrar. Em muitos outros países é
reconhecido o direito do paciente de rejeitar os tratamentos ou procedimentos clínicos
extraordinários, podendo desta forma optar por uma morte tranquila, pacífica e digna.
Definição da Eutanásia
A eutanásia é um procedimento clínico, que por razões de compaixão, o médico deixa morrer ou
ajuda a morrer um paciente desgastado e sem possibilidades de cura, com o objectivo de evitar
ou de por fim ao seu sofrimento. A eutanásia pode ser:
Eutanásia activa – é quando o clínico provoca uma morte aplicando doses fatais de
substâncias mortíferas.
Eutanásia passiva (por omissão) – é quando o clínico deixa de prestar certos cuidados
e tratamentos necessários e adequados para prolongar a vida do paciente de forma a
acelerar ou a permitir a morte.
Como na discussão de aborto, a questão a ser abordada não é se você como clínico ou como
pessoa esteja a favor ou contra a eutanásia, mas sim, se acha que os clínicos, funcionários da
saúde, devem eticamente fornecer os serviços de eutanásia quando um paciente desejar esse
serviço.
Argumento de inevitabilidade
Quando um paciente sofrendo duma doença terminal decide que quer morrer, ele vai procurar
uma maneira de se suicidar. Mas é provável que os métodos de suicídio que o paciente tem
acesso resultem numa morte mais demorada e mais dolorosa que os métodos que o clínico tem
acesso.
Riscos de Eutanásia
Do ponto de vista legal, é difícil conceber uma lei que regula a eutanásia e que ao mesmo tempo
evita os abusos que possam resultar da sua prática estendida, mesmo que esta seja limitada
aos casos dos pacientes que solicitam consciente e insistentemente que seja posta fim a sua
vida e os sofrimentos associados. Na realidade é difícil evitar o perigo que representa o trânsito
de uma morte solicitada a uma morte não solicitada: o trânsito da eutanásia aplicada aos
pacientes que a solicitam a uma eutanásia que pode ser imposta aos doentes inconscientes.
Deontologia e Ética Profissional II – Versão 2.0 54
Nos países africanos com grandes epidemias de SIDA, pobreza, malnutrição etc., doenças que
exigem elevados custos para o seu cuidado, a legalização da eutanásia poderia criar nestes
países um contexto em que a eutanásia seja aplicada coactivamente aos doentes terminais e
sem grandes possibilidades de recuperação.
Todas as doenças sempre originam muitos gastos económicos e desajustes na vida da família,
ocasiona sofrimento no seio das pessoas que cuidam do paciente. Numa situação em que a
opção da eutanásia é possível, poderá tornar-se fácil que o paciente desesperado e infeliz pelo
sofrimento que causa nos familiares sinta-se forçado moralmente a solicitar que se ponha fim a
sua vida.
As difíceis circunstâncias causadas pelas doenças ou experiências familiares desagradáveis
podem causar nos indivíduos posições a favor da eutanásia. No entanto, os casos extremos não
podem constituir base para a elaboração de leis que sejam socialmente justas. A citação do acto
de matar intencionalmente a um paciente como solução para um problema abre as vias para
outros problemas para os que matar seja a solução.
O que fazer quando um paciente diz que quer morrer ou que quer apoio para morrer?
Esses pedidos nunca devem ser ignoradas, desprezadas, tratados duma maneira leve
levemente ou criticados. Em virtualmente todos os casos, a decisão do paciente de querer
morrer foi uma decisão pesada. Sempre deve ser tratada com respeito, compaixão seriedade e
paciência. O Clínico deve conversar com o paciente para investigar os motivos desse desejo
para morrer.
A conversa com o paciente deve ter os seguintes objectivos:
Confirmar se é isso mesmo que o paciente quer, isto é, quer mesmo morrer, ou se na
realidade quer continuar a viver mas está a ser pressionado pelos familiares ou pelo
sentimento de não querer ser um peso para a sua família.
Há um risco de o doente, perante o sofrimento que causa aos familiares que tomam
conta dele, mesmo não querendo morrer se sinta obrigado a solicitar uma eutanásia sem
esgotar todas as possibilidades de vida.
Pontos-chave
A Eutanásia é um procedimento clínico, que por razões de compaixão, o médico deixa morrer ou
ajuda a morrer um paciente desgastado e sem possibilidades de cura, com o objectivo de evitar
ou de por fim ao seu sofrimento. A eutanásia pode ser activa ou passiva (por omissão):
1. A eutanásia activa é considerada como homicídio e assistência clínica à morte
considerada como assistência ao suicídio. Ambos são crimes puníveis por prisão maior.
2. Eutanásia passiva (por omissão) não é punível quando for solicitado pelo paciente porque
é difícil distinguir do direito do paciente a recusar tratamento.
3. Quando um paciente disser que quer morrer ou pedir ajuda para terminar a sua própria
vida é muito importante investigar a razão pelo desejo de morrer porque podem existir
outros motivos, que têm outros tratamentos ou soluções como:
Depressão que pode ser tratada com medicamentos ou aconselhamento
psicossocial;
Dores que podem ser controladas com melhores cuidados paliativos;
Sofrimento emocional ou espiritual que pode ser abrangido por aconselhamento e
fortalecimento de redes sociais;
Vulnerabilidade emocional transitória que passa com o tempo;
Um sentimento de perca de dignidade que pode ser tratado com maior atenção ou
orientação de familiares ou outros cuidadores.
Definição
Consentimento informado consiste na troca de informação no âmbito da relação clínico-paciente
através da qual o paciente recebe do clínico informação em linguagem compreensível que o
capacita para participar de maneira voluntária, activa e consistente na tomada de decisões em
relação ao diagnóstico e tratamento da sua doença.
O consentimento informado é um processo gradual na relação clinico-paciente, na sequência da
qual o paciente aceita ou não submeter-se a um procedimento diagnóstico ou terapêutico após o
clínico ter-lhe facultado a informação necessária e suficiente sobre a natureza, os riscos e
benefícios que implicam os mesmos, assim como as possíveis alternativas.
O consentimento informado é um direito moral do paciente que gera obrigações morais para os
demais profissionais envolvidos na assistência clínica.
Fase de Consentimento – que acontece uma vez que o paciente é esclarecido em relação aos
procedimentos a serem tomados, o paciente manifesta a sua aceitação ou não para a realização
dos mesmos.
Nesta fase, também há aquela dita como “consentimento propriamente dito”. Esta é a fase final
de todo o processo, quando o paciente diz sim ou não para o procedimento e o tratamento que é
recomendado pelo clínico. Pode ser feito de forma verbal ou escrita. Em todo o processo o
clínico deve criar um ambiente de confiança e assegurar a confidencialidade.
Nota:
O objectivo é que o paciente seja capaz de fazer a sua própria escolha, segundo o seu desejo e
suas aspirações e não as do clínico (princípio de autonomia). É aceitável que o paciente peça ao
clínico a opinião do clínico, e é sabido que só o profissional treinado pode melhor entender as
variabilidades e complexidades das várias opções terapêuticas e se por exemplo ele põe
confiança num certo tratamento, ele vai apresentar ao paciente de uma forma que o paciente
ache que aquela é a melhor opção, mas a última decisão é do paciente. Daí que ultimamente
se sugira a substituição do termo consentimento informado por “escolha informada” para
enfatizar o papel primário do paciente.
Característica da informação
A informação deve ser correcta e corresponder a verdade. O clínico não deve nunca mentir para
o doente (princípio da honestidade).
Conteúdo da informação
A informação deve ser completa e adequada para o paciente. Portanto, o clínico deve fornecer
toda a informação sobre a natureza, o propósito, o efeito esperado e esperados efeitos
colaterais da intervenção (procedimento diagnóstico ou terapêutico). Por exemplo:
Um paciente com HIV que necessita de TARV, deve ser informado que o TARV é o
tratamento recomendado para a sua doença, o tratamento é benéfico porque vai
melhorar o seu estado de saúde e vai prolongar a vida, durante o tratamento terá a
oportunidade de conhecer, partilhar e ter apoio psicológico e de outras pessoas com o
mesmo problema, mas que corre alguns riscos tais como: ter problemas no fígado, na
pele por causa do tratamento e se optar por não fazer, a doença vai-lhe levar à morte.
Um paciente que se apresenta à consulta com sintomatologia compatível com infecção
por HIV o clínico necessita que ele faça o teste: o paciente precisa ser informado sobre a
doença, a vantagem que ele tem ao fazer o teste (conhecer o seu seroestado e receber o
tratamento se for positivo) e que o contrário aconteceria se ele não fizesse o teste. (Nota:
Um paciente devidamente informado torna-se capaz de tomar decisões livres e
autónomas sobre a sua saúde).
A transmissão da informação
O clínico deve dispor de conhecimentos actualizados, transmitidos em uma linguagem clara e
adaptada às necessidades e crenças do paciente. A informação deve ser compreendida pelo
paciente, de acordo com a complexidade técnica dos termos usados:
Nota:
É sempre importante avaliar se a mensagem foi compreendida ou se há necessidade de reforço
de alguma maneira através de perguntas de verificação. Na eventualidade em que o paciente
não aceita dar o seu consentimento para a realização dos procedimentos que são
recomendados e sobre os quais recebeu informação, isto pode significar que o paciente ainda
não está preparado. Nestes casos o paciente deverá receber mais informação, e nunca ser
pressionado a tomar uma decisão:
o O paciente deve estar apto a consentir.
o O consentimento deve ser fornecido de forma livre e sem coerção (forçado).
Situações em que poderá não ser aplicável a realização do consentimento informado, em que
torna-se difícil ou impossível manter o diálogo entre o clínico e o paciente. São situações em que
é aceitável a omissão do diálogo entre o clínico e o paciente:
Quando existe uma urgência vital em virtude da qual devem ser levados a cabo
procedimentos rápidos apesar destes serem decididos unilateralmente pelo clínico:
perigo de vida do paciente, perigo de ocorrência de lesões irreversíveis, por exemplo,
infartos, paciente com politraumatismo que necessita de cirurgia urgente, etc. Este
procedimento apesar de ser eticamente pouco justificável, constitui a opção correcta a
ser tomada pelo clínico. Quando a condição de urgência tiver passado o clínico deve
informar e justificar ao paciente, sua família ou terceiro responsável por ele, todas as
condições e procedimentos que a equipa realizou durante a assistência.
Quando existe uma incapacidade do paciente e obriga que o consentimento informado
seja realizado com os seus familiares ou representantes legais: paciente menor, paciente
com problemas mentais, paciente inconsciente. Na ausência de familiares ou
responsável pelo paciente, o clínico deverá proceder da melhor forma em benefício do
paciente (princípio de beneficência).
Quando existe um imperativo legal ou judicial (cuidados médicos a um paciente em
cumprimento de pena judicial, que se recusa a colaborar com o clínico).
Mesmo depois de seguidos todos os passos acima indicados as soluções podem não ser
evidentes perante um conflito ético. O compromisso assumido pelo clínico no seguimento de
Pontos-chave
1. No consentimento informado, o dilema acontece em situações em que um paciente se
recusa a consentir acerca de um tratamento ou procedimento médico, após ser
informado adequadamente sobre a necessidade do mesmo.
2. Não existe uma maneira bem definida para a solução do dilema. Diferentes estratégias e
maneiras são aplicadas para a solução de um dilema.
3. O compromisso assumido pelo clínico no seguimento de padrões éticos é essencial na
prática clínica mas também é essencial o compromisso do clínico no respeito dos direitos
e dignidade do paciente.
CUIDADOS PALIATIVOS
Definição
Segundo a OMS, 2002, cuidados paliativos são definidos como uma abordagem que melhora a
qualidade de vida dos pacientes e suas famílias que enfrentam os problemas associados com
doenças potencialmente fatais, através da prevenção e alívio do sofrimento por meio da
identificação precoce e avaliação perfeita e tratamento da dor e outros problemas, incluindo
físico, psicossocial e espiritual.
Quando se fala de cuidados paliativos, não se trata de cuidados para apressar ou adiar a morte.
Pelo contrário, os cuidados paliativos afirmam a vida e encaram a morte como um processo
normal.
Para os pacientes, os cuidados paliativos oferecem um sistema de apoio para que eles possam
viver tão activamente quanto possível até a morte. E para os familiares, oferece um sistema de
apoio para ajudá-los a lidar com a doença do paciente e seu próprio luto.
O controlo médico da dor em adultos deve ser feito com o esquema de “controlo de dor”:
1º) Analgésicos não-opióides;
2º) Opióides leve;
3º) Opióides forte.
A dor crónica deve ser tratada numa base regular. É aconselhável começar com uma analgesia
leve e gradualmente ir aumentando até aos fortes.
Pontos-chave
Cuidados paliativos são definidos como uma abordagem que melhora a qualidade de vida dos
pacientes e suas famílias que enfrentam os problemas associados com doenças potencialmente
fatais, através da prevenção e alívio do sofrimento por meio da identificação precoce e avaliação
perfeita e tratamento da dor e outros problemas, incluindo físico, psicossocial e espiritual.
1. O paciente terminal é todo aquele que está em fase terminal de doença, onde o
prognóstico é a morte, independentemente do tratamento. Estes doentes sofrem de
várias oscilações de emoções e o TMG deve estar preparado para ampará-lo.
2. A comunicação com o doente terminal e a sua família deve ser empática, ter uma escuta
activa, prestar atenção, verbalizar sensível, e respeitar a condição do doente.
3. As várias oscilações emocionais do paciente com as quais o TMG deve estar
familiarizado são: negação, depressão, esperança, raiva, aceitação.
DISSEMINAÇÃO DE DADOS
Legalmente a privacidade é definida como um direito que o utente tem de ter a sua informação
pessoal secreta. Estas leis determinam quem deve ter acesso aos dados, quem pode processá-
los e a quem se destina a informação no caso de ter que ser disseminada.
Já a confidencialidade está relacionada ao direito que os pacientes têm de manter a
informação sobre a sua saúde protegida. A confidencialidade ajuda a evitar revelações não
autorizadas a terceiras pessoas que podem fazer um uso inapropriado.
Outra dimensão sobre a segurança dos dados está relacionada com o seu uso:
Garantir que os dados recolhidos sejam usados;
Garantir o carácter anónimo do processo de recolha de dados. Este aspecto é
particularmente importante quando se fala de dados em massa, por exemplo, quando se
quer fazer um estudo numa US, comunidade;
8. Reclusos:
Se o paciente é um recluso e está sob custódia policial, as autoridades da unidade
sanitárias podem revelar informação do doente às autoridades da prisão.
9. Compensação ao trabalhador:
A unidade sanitária pode revelar informação para permitir o cumprimento dos direitos do
trabalhador (lesões na sequência de acidentes laborais, etc.).
Situações em que o doente tem o direito de se opor a revelação de dados que não
necessitem de consentimento
Os dados podem ser usados sem necessidade de consentimento informado, mas o paciente tem
o direito de objectar nas seguintes situações:
Quando se quer revelar os dados de saúde aos demais membros da equipa de
cuidados, e familiares do doente. Deve ter-se em consideração os aspectos gerais do
estado do doente e respeitar o direito/desejo do doente.
Nas emergências: os dados podem ser usados em situações de emergências para
permitir o tratamento do doente. A informação pode ser facultada aos paramédicos nas
situações em que há necessidade de evacuação. Deve procurar-se obter o
consentimento informado do doente imediatamente após os cuidados urgentes, quando
a situação for considerada como razoável e permitida.
Pontos-chave
1. A disseminação dos dados de saúde é bastante importante a nível de saúde pública,
segurança social e por vezes é o que está por de trás da salvação da vida do paciente.
2. Embora a disseminação de dados de saúde seja obviamente útil em saúde pública, ela
pode ir contra princípios bioéticos como a confidencialidade e a privacidade do doente ou
de uma comunidade.
3. Para que a disseminação de dados de saúde seja eticamente aceite, deve-se seguir
algumas normas ou ferramentas que são: criação de protocolos, garantir a segurança no
manejo, e uso adequado do consentimento informado.
4. Durante o manejo dos dados de saúde deve-se priorizar a sua segurança para que os
mesmos não sejam disseminados de maneira ilícita.
5. Existem dados que podem ser revelados sem o consentimento dos doentes, outros que
precisão de consentimento.
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