Leitura Ofidismo
Leitura Ofidismo
Leitura Ofidismo
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OFÍDIOS E OFIDISMO
{ AULA PRÁTICA }
Minhocuçus: são anelídeos oligoquetas muito grandes e longos, medindo meio metro ou
mais; habitam no geral o solo úmido, com bastante matéria orgânica. Apreciadores da pesca
tradicional os utilizam muito para a preparação de iscas. Os chamados minhocuçus
‘mineiro’e ‘paulista’ são os mais usados. A espécie Rhinodrilus fafner encontra-se sob risco
de extinção. Não oferecem riscos ao homem. Veja abaixo exemplar de Megascolides
autralis, minhocuçu comum na Austrália, com mais de 60 cm de comprimento.
Por serem inócuos ao homem, tais animais não devem ser temidos e tampouco
tornarem-se alvos de perseguição ou caça. Alimentando-se comumente de insetos daninhos,
podem ser consideradas, por vezes, como formas úteis. Não são venenosos, nem perigosos.
Há outros animais deste tipo na fauna estrangeira (enguias de água doce, moréias etc.), mas
os aqui referidos incluem-se entre os mais destacados da fauna brasileira.
Ofídios e Ofidismo
Corais verdadeiras : adulto de Micrurus corallinus (esq.) e filhote durante a eclosão (dir.)
Corais verdadeiras: exemplar de Micrurus sp. sobre o solo surpreendido em movimentação noturna
e pessoa picada sob tratamento monitorado por complicações decorrentes do envenenamento.
Cobras solenotodontes comuns no Brasil: urutu (Bothrops alternatus; alto, à esquerda); surucucu-
pico-de-jaca (Lachesis muta; alto, à direita); cascavel (Crotalus durissus; abaixo), com o guizo
caudal bem visível. O contato e principalmente o confronto com tais ofídios deve ser evitado.
O exame da região caudal das solenotodontes, cobras com fossetas loreais, permite
a distinção entre elas: as cascavéis têm o típico guizo ou chocalho; as surucucus têm as
escamas nessa parte do corpo fortemente eriçadas, parcialmente elevadas; e as jararacas
possuem a cauda lisa, normal, afilando-se gradual ou rapidamente.
Deve-se destacar que as solenotodontes, como as demais cobras, não mastigam ou
dilaceram as suas vítimas (= alimento), mas simplesmente as engolem por inteiro, a partir
da cabeça. Em conseqüência de várias modificações adaptativas, conseguem distender
largamente a boca e engolir animais surpreendentemente grandes. Durante a deglutição, a
glote pode ser projetada para a frente de modo a permitir e/ou auxiliar a respiração.
Acidentes com jararacas e surucucus: forte ação proteolítica expressa na forma de inchaço, edema e
necroses na área em que se deu a picada (ao alto); a aplicação de torniquete agrava muito o quadro
podendo resultar em necrose generalizada ou deformação total do membro (abaixo, dir/esq)
Bem menos numerosos que os causados por jararacas, mas com o mais alto índice
de óbitos humanos. A cascavel, ao agitar o guizo caudal, muitas vezes está pretendendo
anunciar a sua presença e, com isso, evitar o confronto com algum outro animal; agindo
assim, poupa o veneno que teria de utilizar para se defender em eventual contra-ataque.
Portanto, não são agressivas e isso explica o menor número de acidentes.
Ao picar, inocula veneno que tem discreta ação proteolítica, causando dor local
temporária mas nenhum sintoma mais sério que se mostre bem visível. Em vista disso, é
comum a pessoa atingida limitar-se a uma limpeza superficial do local e aguardar certo
tempo para melhor avaliar a situação. Algumas horas depois começa então a exibir quadro
geral de sintomas faciais chamado facies neurotoxica (vulgarmente, “cara-de-bêbado”), que
é decorrente do efeito neurotóxico do veneno; expressa-se por dificuldade de o paciente em
manter os olhos bem abertos, testa enrugada, saliva escorrendo pelos cantos da boca na
forma de baba, grande ansiedade etc. Normalmente, a esta altura já deverá estar internado
em uma unidade de assistência médica e inicia-se então uma “luta” para evitar que a mais
terrível ação do veneno, a hemolítica, leve-a à morte. O veneno passa a destruir grande
número de glóbulos vermelhos do sangue, disso resultando acúmulo de resíduos destes que
necessita ser drenado pelos rins e eliminado pela urina. Se o soro antiofídico não for
ministrado em tempo, pode ocorrer que a pessoa passe a urinar cada vez menos um líquido
bem escuro (urina ‘cor de coca-cola’) e, por fim, acabe se mostrando incapaz de urinar em
virtude da paralisação total dos rins. Ocorre então a morte por insuficiência renal aguda.
Todavia, tratado devidamente e em período adequado, o paciente volta a urinar de modo
normal (volume e coloração) devido à reativação da função renal e a recuperação advém
gradualmente. O soro específico para picadas por cascavéis é o anticrotálico.
Acidentes com cascavéis: pessoa picada com “cara-de-bêbado” (esq.) e urina coletada do paciente
para monitoramento da função renal após tratamento com o soro (dir.); observa-se a recuperação
gradual da atividade dos rins pelo aumento do volume de urina e por sua coloração mais clara
Produção de Soros
Segundo dados do Instituto Vital Brazil (RJ), 40 mil acidentes por envenenamento
devido a picadas são ali registrados anualmente, dos quais 8 mil por aranhas, 10 mil por
escorpiões, 20 mil por cobras e 2 mil por outros animais.
A evolução do quadro de sintomas nos acidentes ofídicos é variável em função de
fatores como o tipo de cobra envolvido, a parte do corpo picada, a dose de veneno
inoculada, o peso da vítima etc. Independente disso, um dos aspectos fundamentais nesses
casos é a adoção das medidas corretas de atendimento ao acidentado dentro do menor
espaço de tempo possível. Acalmar a pessoa picada no primeiro momento é importante.
Nessa fase, analgésicos podem ser bastante úteis para diminuir a dor local. Não aplicar
torniquete ou garrote sob qualquer pretexto, deixando tal procedimento a cargo do médico
ou de pessoas especializadas; evitar a realização de cortes próximos ao local da picada e
mesmo o ato de tentar chupar o veneno com a boca. O ideal é transportar o acidentado até
uma unidade assistencial o quanto antes, sem permitir que ele realize esforços físicos. A
aplicação do soro antiofídico será sempre essencial a uma plena recuperação; outros
medicamentos, como antialérgicos, se for o caso, poderão ser usados a critério médico.
Entre outras instituições, o Instituto Butantan, em São Paulo, e o Instituto Vital
Brazil, no Rio de Janeiro, têm se responsabilizado pela produção de soro antiofídico no
Brasil. No Instituto Butantan, atualmente produz-se tanto soros pelo método tradicional,
empregando hiperimunização em cavalos, como os chamados soros liofilizados. O método
convencional envolve várias etapas. O veneno (= antígeno) é diluído e ministrado em
cavalos (de cerca de 500 kg de peso) em doses crescentes e aguarda-se período aproximado
de 40 dias. Nesse intervalo, deve ser muito estimulada a produção de anticorpos pelo
animal, o que é avaliado por amostragens periódicas de seu sangue. Quando o teor de
anticorpos tido como ideal é alcançado, procede-se à sangria final, retirando-se ao redor de
15 litros de sangue em duas etapas, separadas por espaço de 48 horas. Os anticorpos estão
presentes no plasma (parte líquida), que é purificado e concentrado, dando origem ao soro.
[ Para reduzir os efeitos colaterais da sangria, grande parte das hemáceas é reintroduzida
nos cavalos por uma técnica chamada plasmaferese. ] O soro passa por testes de aferição da
qualidade antes de ser liberado para uso. Cerca de 600 mil âmpolas ao ano são produzidas.
1. AGLIFODONTE
1 2. OPISTOGLIFODONTE
3. PROTEROGLIFODONTE
4. SOLENOTODONTE
Quatro séries de dentição observadas em ofídios: 1. Sem dentes inoculadores; 2. Presas sulcadas, na
parte posterior da boca; 3. Presas sulcadas, na parte anterior da boca; e 4. Presas canaliculadas,
muito grandes e bem anteriores na boca; também com fossetas loreais (“cobras de 4 ventas”)
Amaral, A., 1976. Serpentes do Brasil. Iconografia colorida. Melhoramentos, São Paulo, 246 p.
Borges, R.C., 1999. Serpentes peçonhentas brasileiras: manual de identificação, prevenção e
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Grantsau, R., 1991. Cobras venenosas do Brasil. Bandeirantes, São Paulo, 101p.
Russell, F.E., 1980. Snake venom poisoning. J.B. Lippincott Co, London, 562p.
Vizotto, L.D., 2003. Serpentes: lendas, mitos, superstições e crendices. Plêiade, São Paulo, 240p.
http://www.ivb.rj.gov.br
http://www.butantan.sp.gov.br