Becker - Int Clinica Infancia - 18.05.21

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INTERVENÇÃO CLÍNICA NA

INFÂNCIA
Joana Proença Becker
[email protected]

2020/2021
TEORIA PSICANALÍTICA DO TRAUMA

Jean-Martin Charcot (1889)

Josef Breuer (1893)

Sigmund Freud (1893-1926)

Melanie Klein (1932)

Sandór Ferenczi (1932)

Donald Winnicott (1956; 1960)

Pierre Marty (1993)

Boris Cyrulnik (2004-2009)


ACIDENTES FERROVIÁRIOS

- John Erichsen (1866)

- Edwin Morris (1867)

- Carl Moeli (1881)

- Herbert Page (1883)

- Jean-Martin Charcot (1886)


- Freud (1888)

Medo intenso + elemento surpresa = trauma (Charcot; Page; Freud)


HISTERIA

Freud acompanha investigações de Charcot.

Freud & Breuer – Estudos sobre a Histeria (1893)

- Evento traumático como desencadeante


- Qualquer experiência que “possa evocar afetos aflitivos – tais como os
de susto, angústia, vergonha ou dor física – pode atuar como um
trauma dessa natureza” (p. 41).

O trauma psicológico “age como um corpo estranho que, muito tempo depois de sua entrada,
deve continuar a ser considerado como um agente que ainda está em ação”. Diferente das
demais recordações, a lembrança do evento traumático não parece estar sujeita ao processo de
desgaste. Pois, a perda do afeto de uma memória depende de diversos fatores, sendo o
principal a “reação energética ao fato capaz de provocar um afeto”. A reação aqui significa as
ações e reflexos voluntários ou involuntários que descarregam tais afetos. Já “quando a reação
é reprimida, o afeto permanece vinculado à lembrança” (Freud, 1893, p. 41-42).
Alguns Conceitos da Teoria da Histeria

- Afeto: expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional.

- Trauma psíquico: afluxo excessivo de excitações no aparelho psíquico, com o qual o sujeito
é incapaz de lidar.

- Ab-reação: processo de descarga emocional capaz de liberar o afeto ligado à lembrança do


trauma e, assim, evitar o sintoma.

- Recusa: modo de defesa que consiste numa recusa em reconhecer a realidade de uma
percepção traumatizante.

- Regressão: retorno a formas anteriores do desenvolvimento do pensamento, relações de


objeto e estruturação do comportamento.

Laplanche & Pontalis, 2001


“Os contributos de Sigmund Freud emergiram, todavia, como os mais
proeminentes na viragem do século. O seu nome, mais do que qualquer outro,
ficou associado à histeria. [...] Apesar de ter estudado com Charcot, as
inclinações intelectuais de Freud alimentaram um genial modelo psicológico
para a histeria, a famosa psicanálise [...]. Mais tarde, propôs uma teoria
psicanalítica para as neuroses, independente do género, afastando-se de
Charcot e da ortodoxia de Salpêtrière. Em particular, centrou seus esforços no
estudo dos mecanismos psicológicos da formação de sintomas histéricos,
agora considerados como derivativos da repressão de memórias traumáticas,
remotas, com conteúdos libidinosos ou sexuais. [...] Para Freud e Breuer, as
pessoas histéricas sofriam sobretudo de “reminiscências”, de memórias
reprimidas a nível inconsciente que se tornavam claramente visíveis, anos
mais tarde, sob o disfarce de sintomas” (Quartilho, 2016, p. 52-53).
STRESS DE GUERRA

Durante a Primeira Guerra Mundial, as ideias de Freud sobre histeria são aplicadas nos
casos de neurose de guerra. Soldados voltam dos combates com os mais variados
sintomas, mas sem causa orgânica capaz de explicá-los. Para Ferenczi a guerra ofereceu
um ‘verdadeiro museu de sintomas histéricos’.

Charles Samuel Myers (1915)


- shell-shock
- Sintomas aparecem em soldados não expostos ao combate
- Causa unicamente emocional
- Neurose de guerra se assemelha à histeria
Abram Kardiner (1941)
- Começa carreira após análise com Freud
- The Traumatic Neuroses of War (1941)
- Neurose traumática: vigilância duradoura, excitação fisiológica
extrema, fixação no trauma, reação de sobressalto, irritabilidade
crônica e explosões de agresividade.
- Reações visam proteger contra as lembranças traumáticas.
Freud (1920) afirma que, diante de uma situação extrema e ameaçadora, a tendência do
indivíduo é voltar à situação traumática através de lembranças ou sonhos, ou seja,
permanecer fixado no trauma.

Freud (1920, p. 125) diferencia a chamada neurose traumática da histeria, por considerar que
a primeira envolve sofrimento subjetivo e maior transtorno nas funções psíquicas. Assim,
há pouca margem para oposição à afirmação do psicanalista de que a guerra “pôs fim à
tentação de atribuí-las [as neuroses traumáticas] a uma lesão orgânica do sistema
nervoso”.
DESENVOLVIMENTO INFANTIL/ CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO

Melanie Klein (1932) apresenta o trauma como responsável por possíveis falhas no
desenvolvimento infantil. Tais falhas se refletem diante das adversidades da vida adulta.

“A psicanalista cita Freud para corroborar seus achados clínicos, a salientar o


papel dos sonhos como uma tentativa de restaurar o controle e evitar o desprazer,
e o fato de que mesmo o adulto está exposto à volta de traumas precoces –
quando seu aparato mental está impossibilitado de lidar com o excesso de
excitação” (Becker, 2017).
SANDÓR FERENCZI (1932)
- se apoia na teoria da sedução*, na qual passa a incluir a hostilidade, e no conceito de
desamparo infantil, considerando o trauma uma condição necessária, a depender apenas
da conduta do outro para sua superação ou estabelecimento.

“O trauma se instala quando o adulto não cumpre com a função protetora e a


situação pega a criança desprevenida, destruindo um sentimento prévio de
confiança em si mesma e no ambiente. [...]. Contudo, embora o ataque externo
constitua uma condição necessária, a instalação do trauma ainda depende da
conduta do adulto: assistindo a criança ou agindo como se nada tivesse ocorrido”
(Costa, 2015, p. 104-105).

* Uma das primeiras teorias desenvolvidas por Freud para explicar os fenômenos histéricos. Segundo a
teoria, manifestações somáticas eram consequências de insinuações ou atos sexuais vividos por suas
pacientes, geralmente na infância e perpetrados por um adulto. Cabe destacar que essa teoria foi
abandonada pelo próprio psicanalista em 1897.
Sob essa perspectiva, Ferenczi assume uma visão negative do trauma, o compreendendo como
a soma do evento real somado ao desmentido.

O desmentido, entendido como a negação do ocorrido – quando o outro desvaloriza ou mesmo


nega o acontecimento –, é a base da teoria ferencziana do trauma, que o tem como o precursor
do trauma psicológico.

Ferenczi se afasta das teorias freudianas e separa os traumas em

- estruturantes – aqueles em que o fato é reconhecido;

- desestruturantes [ou patogênicos] – em que há o desmentido.

O desmentido representa um ataque e uma proibição à capacidade de simbolizar.


WINNICOTT (1956; 1960)

- Fator externo é essencial;

- Papel da mãe e a total dependência do bebê;

A mãe é essencial para o desenvolvimento do bebê, é necessário que essa consiga


desenvolver um estado que Winnicott (1956) chama de “preocupação materna primária”,
para que o bebê possa experimentar e qualificar as sensações dessa fase inicial. Uma
incapacidade materna nessa fase inicial de vida do bebê produz a aniquilação do self, pois
ele ainda não consegue distinguir o fracasso da mãe, o sente como uma ameaça à sua
própria existência (Becker, 2016, p. 51).
WINNICOTT (1956; 1960)

Self =A essência
- Relação mãe-bebê seria responsável pela formação do self; do sujeito.

“Quando um bebê é atendido adequadamente se gera um bem-estar de base, um


sentimento de estar vivo. E é esse sentimento que faz surgir a condição subjetiva do ser”.
Diante dessas condições ditas ideais, o ego, quando em desenvolvimento, consegue lidar
com as excitações do id, de modo que não sejam vividas como traumáticas (Becker, 2016,
p. 51).
CYRULNIK (2004; 2005; 2009)

- Trauma vs Resiliência
- Os recursos internos afetivos e comportamentais adquiridos nos primeiros anos de vida
influenciam diretamente o modo como o sujeito encara as adversidades.

“Não é difícil notar que o efeito dos traumas difere segundo as reações familiares, as
instituições e os mitos” (2009, p. 32).

Assim, quando a vítima se depara com uma situação de violência, não apenas as
agressões físicas e verbais influenciam no estabelecimento do trauma, mas também a
representação do ocorrido. A representação é o sentido atribuído ao acontecimento, é a
forma como o sujeito interpreta, sente e relata o que lhe ocorreu.
TRAUMA E PSICOSSOMÁTICA

Segundo o psicanalista Pierre Marty (1993), somos todos psicossomáticos.

- O dualismo mente-corpo não se manifesta apenas como doença, mas também de


modo saudável, pois o ser humano deve ser reconhecido como uma unidade
resultante dessa relação.

A relação conflito psíquico-sintoma começa a ser explorada nos estudos sobre os


fenômenos histéricos de Breuer e Freud (1893).

- Tais estudos ajudam a construir a técnica psicanalítica e sugerem que acontecimentos


traumáticos desencadeiam manifestações somáticas.
- Os sintomas, assim, seriam como uma descarga de um excedente de excitação,
considerando que na maioria dos casos são as representações afetivas a se
convergirem em fenômenos somáticos.
Se não para a maioria, em muitos sintomas histéricos as causas desencadeadoras podem
ser descritas como traumas psíquicos. “Os mais variados sintomas, que são
ostensivamente espontâneos e, como se poderia dizer, produtos idiopáticos da histeria,
estão tão estritamente relacionados com o trauma desencadeador” (Breuer e Freud, 1893,
p. 40).

Em mesmo sentido, o Institut Psychosomatique de Paris – (IPSO)* aponta o trauma como o


agente provocador das afecções psicossomáticas, o compreendendo mais pela quantidade
de desorganização psíquica do que pelo quão impressionante é o evento traumático (Marty,
1993).

*Escola de pensamento psicanalítico que se desenvolveu a partir da década de 1950 ao


redor de P. Marty, M. Fain, M. de M'Uzan e C. David.
MARTY (1993)

“As situações traumatizantes provocam ou um afluxo de excitações instintuais


(pulsionais, no nível do aparelho mental) ou uma queda do índice das excitações, ou uma
composição dos dois fenômenos. É assim que os traumatismos correm o risco de
desorganizar os aparelhos funcionais que atingem, já que a desorganização tem tendência
a se propagar (em sentido globalmente inverso àquele do desenvolvimento) enquanto não
encontrar um sistema que possa contê-la” (Marty, 1993, p. 30).

Marty (1993) ressalta o fato de que para as afecções psicossomáticas basta que a
quantidade de estímulos se sobreponha às possibilidades de adaptação, causando o efeito
desorganizador.
“Quando o ensurdecimento face às dores psíquicas se faz constante, não é surpreendente
constatarmos que a ruptura do elo entre o corpo e a psique propicia um terreno favorável
às eclosões psicossomáticas patológicas no lugar do arranjo psíquico que deveria ter
ocorrido” (McDougall, 1991, p. 158).

“A dor, ponte privilegiada que propicia a ligação entre o soma e a psique, continua a ser
objeto de muitas interrogações por parte daqueles que se preocupam com o sofrimento
humano. Quer se trate de sua expressão física ou psíquica, é a dor que leva o paciente a
procurar ajuda” (McDougall, 1991, p. 152).
PSICOTERAPIA
meio de expressão e representação do trauma

exemplo clínico
SÍNTESE

- TRAUMA
- TIPOS DE TRAUMA SEGUNDO FERENCZI
- DESMENTIDO
- REPRESENTAÇÃO
- SELF
- RESILIÊNCIA
- AFECÇÕES PSICOSSOMÁTICAS
Joana Proença Becker
[email protected]

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