OVERDRAMA - Chris Thorpe

Fazer download em pdf
Fazer download em pdf
Você está na página 1de 39
pireset Flbvia Denide, Miguel Fzegata, Pedro Of, silvia Filipe, Tania Alv cry aruno Sinko Esgurinos ita Lopes Al Denial worm tasisttncia de coussde adéie inegen do-dévulgacto Fotogretins de cone Beuno Sinse Hanuel Pages portugel/secretézio do Estado da culturs/Dizecgte-dezel des Artes, ontzuture auto = Miguel atte chrra ~ Anabela Alnedaa hateo (ve rapaz joven) ~ Micued Fragats panta (une aulner mais vatha) = Wbxoie oreis Eouanoo - Pedro 082 onazeia rhage A}v Sata — silvia Felipe caTanrua ~ Flavia Guat fanuos (GARLA, a versie inieiAl) havéuro (A4aA, na voxel inicial) Sema ~ chdudsa caiolas potfera noRTo, noRDONO, REOS, hnutMer 0 EDUAROD © PRIA ‘A cena é separada do piiblico por uma fita de “zona interditada”. ‘Um agente da policia de choque jaz morto no chit (durante todo co expecticulo). O cenbvio de uma peca de teatro parece ter sido empurrado & pressa contra ofundo da cena, tendo ficado todo desalinhado. Esse cendrio &constituido por sofs (onde os actores ‘se sentam) e respectivas mesas de apoio, e por um conjunto de painkis de fundo que representan sitios diversos. Ems linha, da esquerda para a direita ~ a sala da casa do professor de piano, uma esplanada e um carro de policia, um escritério, o exterior de uma estado de metro (ste paincl em tela, tem uma parte cortada ts tiras que funciona como uma porta), uma paragem de autocarro ¢ o interior de uma fébrica. Em cada um dos espagos, ‘hé uma campainha em cima de uma mesa. Quando o piiblico entra, apenasse encontra em cena POLICIA ‘MORTO, Todas as personagens, excepto MARIA, passam em grupo da esquerda para a direita. PAULO, EDUARDO, CATIA, CATARINA ¢ DANIELA voltam a passar da direita para a esquerda. CARLOS ¢ ANTONIO entram da direita e sentam-se ‘na estagao de metro, PAULO, CATIA e EDUARDO entram pela ‘esquerda e MARCO entra pela diveita. PAULO, CATIA € MARCO sentam-se na sala do professor de piano e EDUARDO senta-se no escritério, PAULO, CATIA € MARCO servem-se de vino e bebem durante todo o espectéculo, FRANCISCA ¢ SELMA entram pela direita e sentam-se na paragem de autocarro. CENAL MARIA entra pela esquerda e sesta-se no escritbrio. Boa noite! Sempre achei. Sempre achei que quando cenvelheceste ia desenvolver uma nogio de Historia, O que nao é q mesmo hue a meméria, obviamente. A minha meméria esti a. A shinha memoria atéesté se calhar um bocadinho 30a de mais, Se eu nfio tivessea certeza de me lembrar das coisas ~ se nfo soubesse que sinda estou na posse das minhas es a0 ponto de me lembrar da maior parte da minha ay mas eu lembro-me da maior parte da minha vida, isso era “outra coisa, Nesse caso, eu- Pausa, MARIA levanta-se ¢ sai lentamente pela esquerda. Volta ‘a entrar com uma pasta na mao. Volta a semiar-se no escritério, abre a pasta ee. Sempre ache. Sempre shel que quando envethecesse ia desenvolver uma nogao de Historia. O que nao é 0 mesmo {que a meméria, obviamente. A minha mer:ria esti 6ptima, A minha meméria até esté se calhar um bocadinho boa de nai, Se eu nto tvesse a certeza de me lernbrar das coisa ~ Mo soubesse que sinda estou na posse das minhas faculdades to ponte de me lembrar da malor parte da tenho a certera de que me lembro da maioc parte du minha ida, aso era outra cols. Nesse caso, partiia do principio de ue, sabendo que hi espagos em branco ~ periodos de que znio me lembro ~ a minha falta de uma nogio de Historia, de progresso, se ficaria a dever ao facto de gue alguns dos pontos, {ue eu tinha de uni se tinham perdido para sempre num cfrebro em degencresctnéla, inha vida, mas Pause. [A pengunta que se impée, no entanto,& 6bvia. A pergunta "mas Maria, se houvesse espagos em branco na tua meméria nio poderia dar-seo caso de no estates consciente dees?” ‘Talves, sugere a pergunt, haja coisas que eu nfo so esquect como me esqueci de que as exqueci. F se isso for verdade, ‘qualquer assereo da minha parte quanto a ter boa membria mas nenhuma nogdo de Historia se torna imediatamente fuspeita porque eu s6 posso achar que tento boa memoria. ‘Tornei-me cega aos espagos em branco, Mas nio ha espagos em ‘ranco. A nio ser que o meu subconsciente os preencha, claro. [Ano ser que eu cri de forma espontdnesfiegdes que sio tho ‘onvincentes que tornam invsiveis os espagos em branco. Podia estar a fazer isso, Mas duvido que esteja.E satisfaz-me alimentar esta divida. Pausa, Ao invés de pensar gue tenho uma mente que esté simultaneamiente a perder membrias e & capaz de eriar ‘mentiras absolutamente convineentes para esconder a perda de si propria, Por isso escolho lembrar-me que me lembro de tudo. E continuo sem unia nogdo de Hist6ria, Lembro-me de tudo e nio aprendi nada com isso. Ou aprendi bastante. Mas nada que tenha gerado uma sensagio de familiaridade ou seguranga, Nada que me permita imaginar que sei o que esti ao virar da esquina, E estou satisfeita com isso. Acho, Ou pelo ‘menos estou reconciliada com esse facto. CENA? Na sala da casa do professor de piano. Soa a campainha. Como é que correu? Pause, oktea Achimos que te vimos. Na televisio. Pausa: ite sentar? oArea ‘Toma um copo de vinho, Parece: = So te ve ha dias. feu na teld chrza ‘dificil saber, para dizer a verdade. Parecia animado pot 16. nance Er. catzA - & seguro? Claro que ¢ seguro, mie. edrza ‘Desde que tenhas a certeza. Devias vir comigo. ckrza Oh, acho que esse tempo jé Id vai, nfo achas? Se estis preocupada- eArza Bu s6 ia atrapalhar, i Hild pessoas da tua idade, A strio? ‘Nao. Nem por i Isto agora parece tio mais pesado. Nas noticias disseram que houve feridos, nakeo alguns oarza ‘Mas eu disse ao teu pai. Eles exageram sempre nos nfimeros. Para parecer mais perigoso do que aquilo que é, Para vos fazer passar a todos por delinquentes. Para desencorajar a participago no movimento. O movimento? sim. 0. Qual movimento? cENA3 CATARINA atravessa a cena da esquerda para a direita enquanto fala, Todas as imagens publicadas, agora, quase por tradigio, ‘tem anexada algures a palavra “Primavera”. Quando envio ‘uma pasta de imagens, penso ~ “mais Primavera". E depois pergunto-me quando sera Verdo. E se algum dés envolvidos alguma vez para para pensar que a Primavera é s6 parte de ‘um ciclo. CENAS ‘Na paragem de autocarro, Soa a campainha. Como que ae pa cst et Deantoarr.Come de costne Actas que nt i problems ee So estava a perguntr Nahi prebema, Que que ft Nida fae que psest teu cco? tava muito calor de mani en rouse taanereca Vai chover: io te preocupes. om enti até smash ‘Vou contigo at pargem dosntocaro ‘io fica no teu amish Também no vou para as Vals onde Paras tus aos na verde aint Rmcromét outer com umapessa, Cate Mas expos rap, agora qu pens nso ‘stun can longi. of assim i onge Disses quela cover. Dusen tre cae, our seh um guards ehav, Hksempe um gar chav exiveco. oso tal de voli ananh Isso é roubar. f pedir empreiade i scalguem preiar dele f pouc provive que oem durante note quando podem vir useo aman no scast Nunca sesahe, ‘De quer modo. No lam coospur entrar sessem Ahcodn um apn ete teu encons? Pref nto zr isso um sim, No, um prefirono dizer. 0 qus equ aconttea a stot A aalrs ai pares gue hve cas Eni mesmo um rape, site io. imo era desndequao, Deaadequadet Para quem? Para ma mer doe lesado stato soca? Entio vais a pé ou apanhas 0 autocarro? Decido quindo chegar & paragena. fou contigh- 0 tens que ficar de olho em mim, sabes disso. ‘Nao & nada disso. (pausa) Nao & Pausa. Anda ene Niocston nase ‘Mo estou a tent Pols nto. Se qe €impossvel, Sabes qué impossvel. Ma io brinques comigo. Esti ‘tentar na mesma. ~ CENA Ocxterior da éstagao de metro. ‘Soa a campainha, anréux0 Desculpa. Estou encharcado, foda-se. aurouzo ‘io ests nada, Ab, pois nie. ANréuzo Estava a trabalhar. Devias estar em graride- anréuzo ‘Nao propriamente- Devias estar em grande, para me deixares aqui especado a apanhar chuva durante meia hora, foda-se. anréuzo Jé pedi desculpa. Foi um dia complicado. Nao és 0 dinico. auréuro Entiio onde é que me vais levar? ‘Dé-me um cigarro. ANTONIO encontra os cigarros edé 0 mago a CARLOS. CARLOS tira um cigarro, acende-o ¢ poe 0 mago no bolso. ‘Ainda nflo sto horas. Eu fumo, Estamos i espera. CENA No escritério. ‘Soa a campainha, epuanoo Perdio? Estava na lua, no era? Era, Pego desculpa. Esté a ser um longo dia. Bm que € que esta pensar? Deixe etal bebe mals gua, ” Acha? / Mais gua. Para hidratar 0 cérebro. Um homem pode estagnar ‘num trabalho destes. Pois. ‘Quer que eu volte ao principio? Nioé- \Nasci em mil novecentos e trinta e nove- So cooee Pein oe povendepneaeee ve Fae ecttenen Eu teria todo 0 gosto em ajudé: Optimo- Se ao menos soubesse como. lhe disse. CENA Na paragem le autocarro. ‘Soa uma campainha. > Queres um cigatro? Nio. ‘Tué que sabes. Entram ckmxios da diveita. Sentam-se na esplanada. canas ‘No eseritério. EDUARDO dirige-se i boca de cema, Fala directamente para 0 piiblico. ‘Ougam esta historia. # verdadeira. Hi um homem., Se aquiserem, podem inagind-lo parecido comigo. Se ajudar. Hi uum homem. Mats o1 menos do meu tamanho, da minha idade. Com o meu ipo depelee corde cabelo. © meu timbre de vor. Hii um homem. (paiss) OK. Sou eu. Hi urn homem e sou eu. Ha eu. E depois hé outro homem parecido comigo. Mas de certeza que nfo‘ et. Tudo depende de haver dois homens, na verdade. Se ealhar nfo devia ter falado no primeiro homem. Aquele que eu disse que nfo era eu, mas que sou eu, Aquele aque na verdade nunca existiu leo era seu, afinglr que podia contar a histéria em me inclu a mim, Mas como a histéria € sobre mim, ¢ também sobre um homem parecido comigo, percebo como é que apresentar um homem que eu disse que & parecldo comigo mis que &,na verdade,alguém que esti em ‘ez de mim, logo a partida, pode ter erlado confusto. Portanto, pari clrifiar. Esta uma historia sobre mim, e sobre outro homem, que é parecido comigo. Que é possivelmente da a familia. Que, com efeito, pode ser o meu irmilo gémeo. {irmao gémeo que eu nunca conheci. Mas eu ainda nio sei sso. No no inicio éa histéria. Nao que haja uma hist6ria. ‘S6 uma série de acoatecimentos que vistos de uma certa, perspectiva podem comegar a ganhar forma. Comego a pensar ‘seriamente'se 0 meu uso da palavrs “histéria” no iniclo de tudo no foi ma ideia. Umi doé homens. fu, Aquele dos homens que ééu é funcionario piblico. Trabalha na Seguranga Social. ‘Nada de extraordindrio, Nao & bem pago, mas o suficiente. ‘Vive com a mulher. 0 outro, o irmao gémeo de cuja existencia eu nio fago ideia, apesar de, por um improvivel desenrolar dos acontecimentos, termos os dois sido eriados ni s6 no ‘mesmo pais mas na mesma cidade, por diferentes casais de pais adoptivos, ambos aparentemente jgnorantes ou nfo cientes do facto de que a erianga que estavam a criar como se fosse deles tinha um gémeo, ainda que as circunstineias 4do nosso naseimenito ¢ adopgio tenham sido tanto quanto sei vulgares, eregistadas como é normal com estas coisas,0 ‘outro, 0 gémeo, esteve fora. Nao que eu saiba que cle esteve fora, porque eu nunca soube sequer que ele existia para poder ir para fora, muito menos que existia aqui, na mesma cidade que eu, de modo a poder ir embora dela. Mas ainida assim ele, © mewirmio gémeo, esteve fora. E agora voltou, Pronto, Ah. Earminhia mulher acha que éu estou a ter um caso, Nao fago ideia porqué. A menos que & ntcessérlo, para que esta série de acontecimentos se desenrole, que ela ache nesta altura que euestou a ter um caso, Tendo por base provas multo.pouco convincentes. Talver eu tenha chegado tarde a casa, com um odor levemente flora. Ab, e nfo fodo com ela hé um més, Digamos. 0 que pode dever-se @ uma data de coisas. Ea minha mulher esté a ter aulas de piano nesta altura, ‘A ainha mulher eomegou agora mesmo a ter aulas de piano com um tipo no inigio da meia-idade que esta secretamente apaixonado por ela. Mas ela no sabe. Porque é segredo. ‘Nao fago ideia porque ¢ que.a minha mulher, aos trinta ¢ cinco anos de idade, comegou de Fepente a ter aulas de piano, Nilo 6 como se ela de repente quisesse ser pianista. E nbs nem sequer temos um piano, Talvez seja um simbolo de algo que vem do fundo dela. Uma dnsia de desabrochar artisticamente que dez anos de casamento comigo, ou uma vida inteira de + baixa auto-estima, reprimiram até agora. Embora eu nunca tenhia reparado que a minha mulher sofra de baixa auto-estima. Isto, jf agora, nfo & suposto ser irénico. Nao estou a dar a entender que a sua auto-estima é notoriamente alta, Apenas que a sua auto-estima, tanto quanto me dou conta, & normal, o que quer que isso seja, Embora se eu fosse o tipo de pessoa que encoraja ou promovesse a sua baixa auto-estima acho que seria inteiramente provivel que eu ou defendesse {que nao havia nada digno de nota no seu nivel de auto-estima, fou que eu nfio tivesse sequer reparado que estava a contribuir para a sua supressio. Se eu for esse tipo de homem, no estou de certeza a fazt-lo de propésito. Nao sou um filno da puta. “Embora, de novo, talver.esteja apenas a enganar-me ao pensar que nfo sou. O que nio penso mesmo & que ndo ter sexo coma minha mulher durante um més faga de mim um filho da puta. Prineipalmente quando ela nem falou do assunto. EDUARDO foca a campainha. Se calhar nio devia fumar no escritorio. Mas que se lixe. ‘io esté cA mais ninguém hoje. MORDOMO entra comi uma bandeja com wm cigarro aceso mun cinzeiro. RDUARDO pega no cinzeiro e fuma. MORDOMO sai. Portanto a minha mulher, cheia de suspeitas infundadas, Jlembrem-se, de que eu ando a jogar fora de casa, vai a caminho do outro lado da cidade para a sua aula de piano. Tanto quanto cla sabe, eu estou a trabalhar até tarde, o que € verdade. Est uma bela noite. Portanto ela décide ira pé, quando normalinente teria apanhado o autocarro. Portanto ela esta a atravessar a pé uma praga que normalmente no atravessaria, ‘Como eu disse, esté bom tempo. A maior parte das pessoas jfiacabou de trabalhar, portanto as esplanadas esto cheias. Gente a conversar. Quem haveria ela de ver, do outro lado da praga, senio 0 seu marido? Eu estou ali sentado, quando era, suposto estar a trabalhar. Nao apenas ali sentade sozinho, a apreciar wih copo de vinho ¢ um bolo, ou seja o que for, mas ali sentado|eom uma mulher. Uma mulher ligeiramente mais va do qu a minha mulher, acha ela, que els nio conhece. /s, mulher, a mulher méis nova, é bastante bonita, segundo a ‘minha mulher. Nao que eu venha a saber que ¢ minh mulher ‘acha que ela é bonita até perto do fim da hist6ria, ‘A minha mallier vé-me, do outro lado da praga, a peger na mio da mulher sobre a mesa. E claro que em ver de vir ter comigo eperguntar que merda é que eu estou a fazer, ow ir para casa esperar por mim, nio, vai a aula de piano, Nao é como se ela ji fosse capaz de achar catirtico tocar piano. Ainda $6 esti a aprender hi umas semanas. Nio alcangou o nivel de descarga emocional, estés6 a tocar escalas. Portanto ela, desafiando francamente tudo o que eu acho que sei sobre ela, vai aula de piano, E obviarhente ests perturbada. Portanto a meio do é menor, tocado apenas com a mio direita,vai-se abaixo. Enquanto esta séntada ao lado deste professor de piano que mal conhece, E que esti, aparentemente, profundamente apaixonado por ela, A minh mulher, que continuou o percurso a.pé para aaula de piano apesar de ser controntada com 0 que ela acha ser uma prova inegével de que eu estou a ter um aso, desata a chorar em frente de um homem casado que por estar perto dela a0 piano aproveita para gconsolar pondo um brago volta dela, Felizmente, nfo faz mais nada, Limita-se 2 ouvir enquanto ela despeja a sua tristeza por causa daquilo que acha que acabou de ver. Ele faz ruidos compreensivos, um cha, Ciaro que ao mesmo tempo esta tentar ocular a sua alegria.¥ é bastante bem sucedido nessa tarefa. Diz as coisas do costume sobre talvez nfo Ser o que parece & primeira vista coisa que apesar de cle nfo estar a ser sincero & 0 menos exacto,esperando com tudo aquilo ela eaia nos seus bragos. £ um homem de paixées, este professor de piano. Paixies cobardes, mas ainda assim. A minha mulher vai para casa espefar por mim. Entretanto éu ainda estou a trabalhar, atrasado que fui por uma chamada da minha tia, A minha tia vive no norte eeu nio costumo falar muito com ela, A'minha tia nfo gosta da minha mulher. Nunca fui capaz de perceber porgué. Ligou para me contar que a minha prima, que € uns anos mais nova do que cu, vinha cidade para uma entrevista de emprego. Claro que isto é uma informagio muito simples, ‘mas a minha tia preocupa-se extraordinarlamente com a minha prima, que raramente esteve na grande cidade, com todos os perigos que a minha tia imagina, mas que é ne verdade muito mais conhecedora do mundo do que a minha tia esté preparada para aceitar. Portanto, depois de me dar para ai sete vezes a morada do hotel onde a minha prima ia ficar e de eu ter prometido que ia certificar-me de que ela estava bem, consigo finalmente desligaro telefone ¢ ir para ca casa recebo uma chamada da minha prima, que acabou de chegar e quer encontrar-se comigo mais logo. Digo-Ihe que sim e pergunto onde € que ela se quer encontrar connosco, sas ela diz-me que temos de nos encontrar a sos. Quer queeu vvi.com ela. entrevista de emprego mas nao quer que a minha mulher saiba que ela esté por e4. Digo-Ihe que nio gosto muito da ideia mas ela faz-me prometer encontrar-me com ela num bar da baixa dali a umas horas e diz-me que vai explicar tudo. Prometo ir ter com ela ¢ nfo contar & minha mulher, que se dé bem com a minha prima, Pergunto a minha prima porque (que ela niu quis Gear exu nossa casa € cla inventa uma desculpa sobre ni querer incomodar mesmo se temos um quarto a mais Id em casa ¢ acho todo aquele comportamento muito cesquisito. Portanto esté isto tudo a passar-me pela cabega e ‘quando atravesso a rua em frente ao meu prédio vejo, quem diria, o professor de piaio da minha mulher a sair. Acho estranbo. Nao acho que ele conhega alguém no nosso prédio. ‘Tomo mentalmente nota de mencionar isto & minha mulher. ‘Nii tenho no entanto oportunidade de mencionat isto a minha mulher, porque quando entro no apartamento ela est de pé junto a bancads da e

Você também pode gostar