Técnicas de Preparo de Conservas
Técnicas de Preparo de Conservas
Técnicas de Preparo de Conservas
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RESUMO
Técnicas de conservação de alimentos têm sido utilizadas há séculos pela humanidade por
meio de métodos térmicos, de redução do teor de água e de oxigênio bem como de pH, e
adição de conservantes. No caso das frutas e hortaliças, a conservação por salga, adição de
açúcar, acidificação e fermentação são métodos viáveis para a produção artesanal. Os frutos
e hortaliças em conserva apresentam maior vida útil e, muitos vezes, palatabilidade superior
ao alimento fresco. Outras vantagens desses produtos é a possibilidade de consumir produtos
sazonais em todas as épocas do ano além de serem considerados benéficos à saúde. Para
a produção de conservas artesanais, três pontos importantes devem ser considerados: a
qualidade da matéria-prima, o uso de tecnologia adequada e a adoção de boas práticas de
fabricação para garantir produtos finais adequados ao consumidor. Assim, o objetivo dessa
revisão é apresentar os principais métodos de conservação de alimentos de origem vege-
tal, com destaque para as conservas de frutos e hortaliças, as boas práticas de fabricação
e algumas técnicas de preparo de conservas artesanais para serem disponibilizadas para
agricultores familiares, donas de casa, pessoas adeptas ao consumo de alimentos artesanais
e pequenos empreendedores.
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artesanais, podendo promover a geração de renda para os pequenos produtores e a preser-
vação do habitat. Além disso, esses alimentos recebem destaque por suas peculiaridades
de sabor, aroma e propriedades funcionais (FLORES et al., 2012; RAMOS et al., 2022;
SILVA et al., 2019).
Na Figura 1, estão apresentadas algumas conservas vendidas no Mercado Central de
Belo Horizonte, MG.
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de preservar costumes, hábitos e conhecimentos tradicionais desses povos (CARVALHO
et al., 2021; SOUSA; JESUS; BERALDO, 2021).
Outros setores da sociedade que podem se beneficiar com a produção de conservas
artesanais são as donas de casa, as pessoas adeptas ao consumo de alimentos artesanais
e os pequenos empreendedores, já que esta técnica também é considerada adequada para
evitar o desperdício de alimentos, economizar e ter mais opções de produtos para consumo
ou venda (PAZINATO et al., 2012), além de poder disponibilizar frutos e hortaliças sazonais
durante todo o ano (JULIÃO; NETO; AMARAL, 2019).
Diante do exposto, o objetivo desse trabalho é apresentar os principais métodos de
conservação de alimentos de origem vegetal, com destaque para as conservas de frutos
do cerrado e de hortaliças, as BPF de conservas e algumas técnicas de preparo de con-
servas artesanais.
DESENVOLVIMENTO
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d) Acidificação: os acidulantes mais utilizados são suco de limão, vinagre, ácidos cí-
trico, acético e lático, entre outros (PAZINATO et al., 2012). O vinagre é amplamente
empregado como conservante de diversas preparações alimentícias, conferindo-lhes
um sabor acético peculiar. Seu conteúdo em ácido acético (5%) é capaz de inibir
o crescimento de microrganismos. Os ácidos orgânicos podem ser associados com
pasteurização, conservantes, refrigeração ou uma combinação destes tratamentos,
resultando em conservas não fermentadas com características propriedades senso-
riais (MATOS et al., 2019). A quantidade de acidulante a ser adicionada no líquido da
conserva deve garantir que o pH do produto final alcance valor igual ou menor que 4,5
(BRASIL, 2002);
e) Adição de açúcar: o açúcar em altas concentrações inibe o crescimento microbiano,
principalmente quando associado ao calor (PAZINATO et al., 2012);
f) Fermentação: processo em que microrganismos, principalmente bactérias láticas,
Micrococcaceae, bacilos, leveduras e fungos filamentosos, transformam o açúcar do
alimento em ácido orgânico, que reduz o pH do meio causando uma ação inibitória
sobre microrganismos deteriorantes dos alimentos (BEHERA, et al., 2020; PAZINATO
et al., 2012). Uma das principais vantagens de utilizar a fermentação como método
de conservação é que o valor nutricional dos vegetais é pouco alterado, dessa forma
os alimentos fermentados fornecem muitas das qualidades nutricionais dos vegetais
frescos, além de promover mudanças sensoriais desejáveis e prolongar a vida útil
(FORNARI, 2006);
g) Secagem ou desidratação: a perda de água do alimento inibe o crescimento micro-
biano, prolongando a vida útil do produto (PAZINATO et al., 2012);
h) Defumação: a fumaça é depositada na superfície do alimento, protegendo-o contra
agentes deteriorantes, além de alterar o sabor do produto (PAZINATO et al., 2012).
• Hortaliça em conserva:
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• Fruta em Conserva:
É aquela cujo pH é igual ou menor que 4,5 devendo ser submetida ao trata-
mento térmico de pasteurização para sua conservação, podendo ser adicionada
de açúcar.
• Hortaliça Marinada:
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Figura 2. Conservas Simples (A), Mistas (B) e Seletas (C).
A B C
Fonte: Autores (2022).
Alguns tipos de conservas são nomeados como picles, chutney e chucrute. O picles
é constituído de frutos ou hortaliças cortados em pedaços, dispostos em frascos de vidros
recobertos por salmoura ou vinagre, com ou sem fermentação, podendo ser adicionado de
açúcar ou especiarias (JULIÃO; NETO; AMARAL, 2019; PAZINATO et al., 2012). Em al-
guns estudos, os picles são divididos em diferentes categorias. No trabalho de Julião, Neto
e Amaral (2019), os picles são categorizados pelo líquido de cobertura utilizado: picles em
salmoura (fermentados e não fermentados) e picles em vinagre (doces, ácidos e aromatiza-
dos). Já Aljahani (2020) classificou de acordo com o método de produção em picles fermen-
tados ou salgados, cuja produção dura por semanas para a ação das bactérias fermentativas,
e em picles de processo rápido, que consistem em vegetais simples encobertos por vinagre
e outros ingredientes. No estudo de Behera et al. (2020), a classificação se dá com base
na fermentação, em picles não fermentados, produzidos em salmoura (até 16% de sal) ou
em vinagre, e em picles fermentados azedos (em salmoura com 2 a 5% de sal) ou doces
(contendo ácido lático ou acético, açúcar e especiarias). Vários tipos de vegetais com con-
sistência firme, pois suportam melhor esse tipo de preparação, podem ser transformados em
picles, como exemplos, pepino, cenoura, couve-flor, cebola, pimentões, rabanete, chuchu,
vagem, repolho, alcaparras, beterraba, pimenta, nabo, berinjela, entre outros (ALJAHANI,
2020; BEHERA et al. 2020; JULIÃO; NETO; AMARAL, 2019).
O chutney é um tipo de conserva picante e agridoce de origem indiana, na qual hor-
taliças e, ou frutos são cozidos com especiarias, vinagre e açúcar. A alta concentração de
açúcar exerce a ação conservante e a adição ou não de vinagre irá depender da acidez
e do estágio de maturação do vegetal utilizado. Como exemplos de vegetais utilizados na
elaboração de chutney têm-se cajá-manga, maracujá do mato, goiaba (JULIÃO; NETO;
AMARAL, 2019), abobrinha, berinjela, tomates verdes (PAZINATO et al., 2012), araticum
(BARBOSA-SILVA et al., 2012) e cagaita (MEDEIROS, 2011).
O chucrute, prato típico alemão, é o produto obtido pela fermentação do repolho, prin-
cipalmente da variedade branca e lisa (Brassica oleracea var. capitata L.), picado e salgado
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(FORNARI et al., 2006; PAZINATO et al., 2012; PENÃS et al., 2010), onde os carboidra-
tos são convertidos em ácido lático e o pH é reduzido a valores abaixo de 4 (FORNARI,
2006). É considerado um produto fermentativo por salga seca, processo usado em vegetais
com pouco teor de água em que o sal é adicionado em camadas sobre o repolho cortado
em tiras (DAVISON, 2018). O produto final apresenta-se na forma de tiras finas e úmidas
de repolho, de cor amarelo-esverdeado e de gosto ácido bem característico (FORNARI,
2006). Palani et al. (2016) verificaram que, logo após o processo fermentativo, o chucrute
apresentou os maiores teores dos compostos bioativos ascorbigeno e indol-3-carbinol com
propriedades antioxidante e anticancerígena.
As boas práticas de fabricação (BPF) são ferramentas de qualidade que devem ser
adotadas pelos produtores de alimentos para garantir a qualidade sanitária e a conformidade
dos produtos alimentícios às normas técnicas e aplicadas durante todo o fluxo de produção
(BRASIL, 2002; MACHADO; DUTRA; PINTO, 2015), incluindo também instalações, pessoal,
controle de pragas, controle da matéria-prima, registros, documentação e rastreabilidade
(MACHADO; DUTRA; PINTO, 2015). As BPF destinadas aos estabelecimentos produtores/
industrializadores de frutas e hortaliças em conservas são regulamentadas pela RDC n°
352/2002 (BRASIL, 2002). O procedimento para as BPF de conservas, segundo essa reso-
lução, está apresentado na Figura 3.
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entre outros (PAZINATO et al., 2012). Em seguida, decorrem a lavagem e higienização dos
frutos e hortaliças. A lavagem deve ser realizada em água corrente, de preferência potável,
um por um, e em local bem iluminado para a remoção de sujeiras maiores, como areia, barro,
terra e folhas (KROLOW, 2006; PAZINATO et al., 2012). Na higienização, os vegetais são
imersos em água potável contendo solução clorada (0,5 a 2,0 ppm) (BRASIL, 2002).
A próxima etapa é o branqueamento ou pré-cozimento, indicado para vegetais mais du-
ros ou quando for produzir conservas mistas e seletas que contenham vegetais de diferentes
texturas cujo produto final deve se apresentar com texturas homogêneas. Nesse processo, as
hortaliças são imersas em água potável fervente por cerca de 3 min, depois, são retiradas e
mergulhadas em água fria. Após o resfriamento, são acondicionadas em recipientes de vidro
de forma bem dispostas de modo a ter uma boa aparência para o consumidor (KROLOW,
2006; PAZINATO et al., 2012). Em seguida, adiciona-se o líquido de cobertura, que deve
conter quantidade de ácido necessária para que o pH de equilíbrio no produto final seja igual
ou menor que 4,5 para os vegetais em conserva acidificados artificialmente (BRASIL, 2002).
Antes do fechamento, é indicado remover as bolhas de ar presentes no interior dos
frascos introduzindo uma faca, para minimizar a ocorrência de reações químicas durante o
armazenamento (KROLOW, 2006). Em seguida, deve-se fechar os vidros, manual ou meca-
nicamente, com tampas metálicas rosqueáveis e novas com a parte interna forrada por um
vedante que se molda na boca do vidro no tratamento térmico, garantindo a hermeticidade
e impedindo vazamentos (BRASIL, 2002; PAZINATO et al., 2012).
Para o tratamento térmico, os frascos são levados ao banho-maria e, para evitar cho-
que térmico, devem ser colocados em cestos perfurados ou sobre grades. A água quente
deve ultrapassar a altura dos recipientes e, após a ebulição, marca-se o tempo: 15 min para
alimentos com pH menor que 4,5 (KROLOW, 2006) e 40-45 min no caso de se utilizar vidros
comuns (tipo de palmito), a duração deve ser suficiente para que no interior do vidro se
alcance 95 °C/5 min. Essas variações devem levar em conta o tamanho e formato do reci-
piente e o tipo do alimento a ser acondicionado. Quanto mais ácido o meio, mais facilmente
o calor consegue eliminar os microrganismos nocivos (PAZINATO et al., 2012). O binômio
tempo-temperatura utilizado deve ser anteriormente definido com base em estudos científicos
e garantir a segurança do processo quanto à eliminação de microrganismos patogênicos e,
ou deteriorantes (BRASIL, 2002).
Imediatamente após o aquecimento, deve-se proceder o resfriamento gradual para inter-
romper o cozimento dos vegetais e evitar mais alterações de suas características (KROLOW,
2006). O caldeirão do banho-maria deve ser retirado do fogo e levado à pia, deixando es-
correr água fria sobre a água quente até transbordar e a temperatura interna atingir 40 °C
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(PAZINATO et al., 2012). Em seguida, retira-se os frascos da água e deixa secar, ou as
tampas podem ser secas com pano limpo e seco (KROLOW, 2006).
É aconselhável fazer o teste de vedação para verificar a formação de vácuo. Para
isso, girar a tampa sem forçar e inverter o frasco, se não vazar, desvirar para a posição
normal. Se as tampas utilizadas forem duplas, rosqueá-las até o fim para um fechamento
adequado, se forem simples, não se deve mais rosquear para não perder o vácuo nem a
hermeticidade (PAZINATO et al., 2012).
Para finalizar, deve-se proceder a rotulagem dos produtos. Se for para consumo pró-
prio, na etiqueta devem constar nome do produto, data de fabricação, prazo de validade e
ingredientes utilizados. Contudo, para venda, maiores informações devem ser fornecidas
além dos dados citados anteriormente, como lista dos ingredientes na ordem decrescente do
respectivo peso, marca do produto, nome do fabricante, local de produção, peso ou volume,
indicações quanto a temperatura ou armazenamento e condições de estocagem, número de
registro do alimento no órgão competente (se for registrado) (KROLOW, 2006; PAZINATO
et al., 2012) e, segundo a Resolução RDC nº 360/2003 (BRASIL, 2003), a informação nu-
tricional (valor energético e nutrientes).
Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs) das etapas de higienização, tra-
tamento térmico e de acidificação, quando necessária, e o Manual de Boas Práticas de
Fabricação devem ser elaborados pelos estabelecimentos produtores/industrializadores de
frutas e hortaliças em conserva e mantidos acessíveis para consulta. Além disso, o produto
final deve ser submetido à análise laboratorial para o controle de qualidade (BRASIL, 2002).
Outros fatores também são importantes para as BPF das conservas, como as condi-
ções de higiene dos manipuladores, dos equipamentos, dos materiais utilizados durante o
processo, do local de produção e das embalagens (PAZINATO et al., 2012).
Picles misto
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recipientes de vidro; acrescentar pequenas quantidades dos temperos; adicionar a salmoura
quente ou fria de modo a cobrir todos os vegetais acondicionados no recipiente; fechar os
frascos com tampas metálicas de rosca; submeter ao tratamento térmico em banho-maria
por 40 min contados a partir da ebulição da água; resfriar e realizar o teste de vedação,
conforme descritos anteriormente; etiquetar com as informações de rotulagem; armazenar
por pelo menos 15 dias antes de consumir (PAZINATO et al., 2012).
Chutney de araticum
Chutney de araticum
Chucrute
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temperatura ambiente e com o teor de açúcar); levar o produto a uma panela para ferver,
mexendo sempre; adicionar o chucrute quente em recipientes de vidro; fechar os frascos com
tampas metálicas de rosca; realizar o teste de vedação, conforme descrito anteriormente;
se for embalar em vidros pequenos, fazer um reforço em banho-maria por 5 minutos; res-
friar até atingir 40 °C; etiquetar com as informações de rotulagem. O produto tem prazo de
validade de 6 meses. Armazenar em local escuro, fresco e seco (PAZINATO et al., 2012).
Conserva de Pequi
Conserva de Pimenta
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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equipamentos e materiais. A produção das conservas artesanais de frutos e hortaliças tem
o intuito de evitar o desperdício de alimentos ao prolongar a vida útil, aumentar as opções de
produtos para consumo ou venda, proporcionar renda a agricultores familiares e pequenos
empreendedores e poder disponibilizar frutos e hortaliças sazonais durante todo o ano. Além
disso, as conservas artesanais trazem características culturais, tradicionais ou regionais,
o que é relevante para o fomento da produção artesanal e agroecológica numa proposta
de preservar costumes, hábitos e conhecimentos tradicionais de uma população. Portanto,
são numerosas as vantagens que o processamento e a conservação de vegetais podem
trazer a todos aqueles que se empenham em aplicar os métodos corretos, indispensáveis
ao sucesso dos produtos finais.
Agradecimentos
REFERÊNCIAS
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