Seminário - III A Política Da Lingua Na Era Vargas

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A POLÍTICA DA LINGUA NA ERA VARGAS

Fernanda Spredemann de Castro


Simone Kampmann
Wallace Rocha Armani¹
Carmen Marcia Geisler Vasel ²

1. INTRODUÇÃO

Nosso estudo tem como objetivo incluir relatos de descendentes de imigrantes que vivenciaram
esse período destrutivo da construção de uma nova cultura onde os conhecimentos trazidos pelos
imigrantes, foram proibidos de se manifestar. Pontualmente nesta pesquisa, abordaremos a cultura
alemã, entrelaçados com a cultura nativa. O abandono forçado das lembranças materiais e imateriais
que ficaram somente na memória durante a política linguística, mas que posteriormente, com o
passar dos anos, foi retomada de certa forma.

FONTE: Disponível em https://www.estantevirtual.com.br/livros/cynthia-machado-campos/a-politica-da-


lingua-na-era-vargas/3075608932
Acesso em: 06. dez.2023

1 Nome dos acadêmicos


2 Nome do Professor tutor externo
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - Curso (Código da Turma) – Prática do Módulo I - dd/mm/aa
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Conforme Ronsani (2015), a chegada dos imigrantes alemães ao Brasil no século


XIX, destaca-se pela fundação de colônias como São Leopoldo no Rio Grande do Sul e São
Pedro de Alcântara em Santa Catarina. A imigração foi impulsionada por políticas do
Primeiro Império, visando a ocupação de territórios de fronteira e o desenvolvimento da
agricultura para abastecer o mercado interno. A colonização tinha como objetivo estabelecer
uma classe média rural de imigrantes europeus como agricultores independentes,
contrapondo-se aos latifundiários. Nas regiões de colonização alemã, associações culturais e
educacionais foram fundadas, mantendo escolas em funcionamento onde o alemão era a
língua predominante. No entanto, a promoção da língua portuguesa nas escolas durante os
anos de 1937 a 1945 resultou na diminuição do uso da língua materna alemã, criando uma
divisão linguística na fala dos imigrantes (Ronsani, 2015, p. 58-61).

O Estado Novo: política linguística

O governo de Getúlio Vargas na década de 1930 é caracterizado como uma ditadura,


marcada por uma política educacional nacionalista que cultuava a Pátria e as tradições.
Durante esse período, houve uma reconfiguração política e ideológica que buscava unir os
interesses da burguesia industrial, da burocracia civil-militar e das massas trabalhadoras
urbanas. O nacionalismo varguista promovia um novo pacto político e desconfiava de
influências estrangeiras.

A política linguística implementada durante o Estado Novo, especialmente pelo


Decreto-Lei nº 406/1938, promovia a língua portuguesa e proibia o ensino de outras línguas,
como o alemão, no processo de alfabetização. Essa proibição era justificada pela
preocupação de que o ensino em outras línguas poderia ameaçar a vinculação da língua com
a nacionalidade. A língua estrangeira era proibida até os 14 anos, correspondendo à fase
inicial da escolarização.

A difusão da língua nacional, segundo o autor, ocorreu principalmente nas escolas


rurais, onde imigrantes de alemães e italianos se alfabetizavam em suas línguas maternas, e
o Estado Novo buscou promover a língua portuguesa, silenciando outras línguas, como o
alemão. A escola, enquanto aparelho ideológico do Estado, desempenhou um papel crucial
na promoção da língua nacional e na supressão de outras línguas, incluindo a alemã.

A interdição da língua alemã na escola tinha implicações práticas, e os professores


eram agentes do Estado encarregados de ensinar em português. A escola, como aparelho
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ideológico, contribuiu para a consolidação de uma unidade nacional, enquanto os aparelhos


repressivos do Estado, como a polícia e a igreja, atuavam para assegurar a conformidade
ideológica.

A política linguística do Estado Novo também se manifestou na queima de livros


publicados em língua alemã, evidenciando a preocupação em prol do nacionalismo pela
língua. Os falantes de língua alemã, impactados pela proibição linguística, evitavam ensinar
a língua alemã a seus filhos, temendo denúncias que poderiam silenciar a língua materna.
Falar a língua alemã na conjuntura do Estado Novo era visto como uma negação da língua
nacional portuguesa, e o governo buscava impor uma nova situação ao defender a relação
entre língua e nação, priorizando a circulação da língua portuguesa (Ronsani, 2015, p. 49-
54).

Campanha de nacionalização

Com a ascensão de Getúlio Vargas à presidência e a instauração do Estado Novo na


década de 1930, o Decreto-lei n. 406/1938 coibiu diretamente as línguas estrangeiras,
especialmente a língua de alfabetização dos imigrantes. Embora o currículo permitisse o
ensino de inglês e francês como línguas estrangeiras, a campanha de nacionalização visava
modificar as práticas linguísticas da população das colônias.

A resistência dos descendentes de imigrantes às pretensões governamentais era


evidente, uma vez que muitos permaneciam ligados social, cultural e emocionalmente ao
país de origem, persistindo no uso da língua materna. A política de nacionalização,
especialmente no ensino primário, visava garantir no futuro as bases econômicas e
ideológicas da consciência nacional.

A difusão da língua nacional, imposta por Vargas, refletiu-se nas escolas, sendo a
escola um aparelho ideológico do Estado usado para reproduzir a língua portuguesa e
silenciar outras, como a alemã. A interdição da língua alemã na escola, tanto como língua de
instrução quanto familiar, resultou na repressão da língua alemã pelos professores, muitos
deles falantes das línguas de imigração, mas forçados a reprimir o alemão.

A resistência dos sujeitos se manifestou em seus próprios enunciados, destacando a


preferência pela língua alemã em situações específicas. A política linguística imposta pelo
Estado Novo visava a homogeneização linguística, silenciando as línguas dos imigrantes em
prol da língua nacional. No entanto, a língua alemã permaneceu viva na memória dos
sujeitos, resistindo à tentativa de apagamento pelo Estado. O silenciamento da língua alemã
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na escola não anulou a língua dos sujeitos, mas sim a constituiu como parte de sua
identidade (Ronsani, 2015, p. 54-8).

Segundo Spinassé (2008),

O fato da obrigatoriedade do uso da língua portuguesa causou abalo no elo


identitário do imigrante alemão, passou a ser visto como “estranho”, “perigoso”.
Certamente no interior os mais velhos não deixarm de falar alemão, nem pudera
sem dominar o protuguês. Palavras foram introduzidas em meio as conversas
alemã, e aos poucos, conforme descreve Spinassé (2008, v.3, p. 125-140) “cada
vez mais distante do Hochdeutsch (o alemão-padrão), ele começava a se
caracterizar como dialeto autônomo, sem uma língua-teto a se subordinar.”

Após o termino da proibição do uso das línguas estrangeiras, o sentimento era de que tudo
voltaria a ser como antes, mas os imigrantes voltaram ao isolamento devido ao medo causado pelo
trauma da guerra e vergonha pela maneira como soava seu português.
Dessa forma Spinassé (2008) ainda relata:

A nova geração aprende assim a sua língua materna: é alemão, mas também tem
características do português. Esses falantes, que são tidos como “alemães” por não
falarem bem o português e terem ascendência e sotaque germânicos, percebem que
também não falam a língua do indivíduo que vem da Alemanha, e que muitas
palavras são empréstimos do português. Tendo identidade híbrida (teuto-brasileira),
mas sendo tratados como “estrangeiros” pelas duas sociedades as quais acham
pertencer, os próprios falantes agem de preconceito linguísticos com sua língua
materna – daí os conceitos “alemão errado” e “língua misturada”.
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FONTE: Excel, dez.2023

Realizamos uma pesquisa com 6 pessoas dentre eles, familiares e/ou conhecidos, para sabermos
mais informações de como era o convívio e a sua comunicação durante o governo de Getúlio
Vargas.

 6 pessoas responderam que de alguma forma seus familiares sofreram algum tipo de
perseguição;
 0 pessoas responderam que não houve nenhuma perseguição;
 0 pessoas optaram por não responder.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Concluímos mediante aos relatos, que a vida não era fácil para os imigrantes, principalmente
para aqueles que não sabiam falar a língua portuguesa, esta que na época, era imposta e ensinada
nas escolas como língua principal. Muitos imigrantes, principalmente os idosos, eram os que tinham
mais dificuldade. Dentre as conversas, os nossos bisavós contavam histórias sobre o dia a dia e as
dificuldades, pois não sabiam falar o português, e naquela época haviam os soldados, um tipo de
polícia, vigiavam as casas da região, alguns faziam vista grossa com idosos, pois eles comiam nas
casas das pessoas que vigiavam, alguns idosos quando vinham as rondas, eram escondidos.

Nesse momento, ficavam na casa somente os que falavam em língua portuguesa. E os que eram
pegos falando alemão ou outra língua estrangeira (italiano ou japonês) era dado óleo de motor para
beber, e diziam que isso era para limpar a língua e aprender a falar o português. Muitos tiveram que
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mudar seus nomes, outros recebiam muitas palavras ofensivas e xingamentos. Livros, literaturas,
documentos foram queimadas, pois não podia circular nada que fosse de outra língua. Ou seja,
muita perseguição aconteceu, e podemos ver que de várias maneiras possíveis. E isso tudo que
aconteceu foi uma perda inestimável para a nossa cultura alemã.

4. REFERÊNCIAS

BOLOGNINI, C. Z.; PAYER, M. O. Línguas de imigrantes. Cienc. Cult. vol.57 no.2 São
Paulo Apr./June 2005.
CAMPOS, C. M. A política da língua na era Vargas: proibição do falar alemão e resistências
no sul do Brasil. Disponível em: https://repositorio.unicamp.br/acervo/detalhe/135324 . Acesso
em: 06 dez. 2023.
SPINASSÉ, K. P. Duas faces do ensino alemão como língua estrangeira no Brasil.
Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/187489 . Acesso em: 06 dez. 2023.
SPINASSÉ, K. P. Os imigrantes alemães e seus descendentes no Brasil: A língua como fator
identitário e inclusivo. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/20697 . Acesso em:
06 dez. 2023.

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