Welsch
Welsch
Welsch
237
WOLFGANG WELSCH**
–––––––––––––––––––––––––––– ––––––––––––––––––––––––––––
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
238 Wolfgang Welsch
Geisteswissenschaften should face the different forms of modern plurality, what means,
epistemologically, to develop a clear relativism. They still should free themselves from
the old fiction of homogenic cultures and turn to the current and future transcultural
aspects.
Key words – Human sciences; transdisciplinarity; enlightened relativism.
––––––––––––––––––––– –––––––––––––––––––––
I. A SITUAÇÃO
1 Geisteswissenschaften: Ciências – “do espírito”?
Hoje ninguém sabe dizer com segurança se ainda existem
“Geisteswissenschaften”. Isso, porém, é menos grave do que pode
parecer. Em primeiro lugar, porque tais ciências continuam exis-
tindo, mesmo que não sejam mais denominadas “Geisteswissenschaften”.
“Geisteswissenschaften” é, primordialmente, uma expressão classificatória
e não uma expressão definitória. Em segundo lugar, a renúncia ao termo
não seria grave, uma vez que a exigência que estava ligada a essa
denominação – isto é, de que essas ciências deveriam tratar do “espírito”,
ou pelo menos representá-lo – tornou-se, há muito tempo, duvidosa. Tais
dúvidas levariam, por exemplo, a uma alegação em favor da “expulsão do
espírito das Geisteswissenschaften”.1 Porém, mesmo essa alegação não
exige, naturalmente, – já que seria ilusório – uma eliminação, mas propõe
criticamente uma mudança de paradigma dessas ciências. Para onde isso
poderia se encaminhar hoje? Para onde isso se encaminhou – clan-
destinamente – há muito tempo?
Aquilo que se denomina na Alemanha “Geisteswissenschaften” tinha,
na França, desde o início, um outro nome: “Sciences humaines”. Mas
também essa denominação era uma hipoteca. Foucault exortou a sua
demolição, propondo libertar as ciências humanas do homem e substituí-
las pelas “contraciências”, a Psicanálise, a Etnologia e a Lingüística, que
se caracterizam justamente por não recorrer ao homem como princípio e
fim.2
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
Mudança estrutural nas ciências... 239
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
240 Wolfgang Welsch
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
Mudança estrutural nas ciências... 241
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
242 Wolfgang Welsch
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
Mudança estrutural nas ciências... 243
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
244 Wolfgang Welsch
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
Mudança estrutural nas ciências... 245
1 “Pluralidade”
“Pluralidade” designa, conforme sua definição, uma situação de
diferenças radicais. “Radical” significa que se tratam de diferenças
fundamentais, ou seja, não de diferenças sobre uma base comum, mas de
diferenças que afetam a base, que vão até as raízes. Com isso não se afirma
que as configurações que são caraterizadas por essa pluralidade seriam
heterogêneas em cada um de seus elementos – pelo contrário, existem
também pontos em comum entre elas –, mas que no seu núcleo elas são
heterogêneas. Elas têm diferentes pressupostos básicos.
Tal pluralidade – diferentemente do pluralismo morno, que se refere
apenas a uma diversidade sobre uma base única – se esboça hoje nos di-
ferentes níveis: tanto no interior como no exterior das ciências. Analisarei,
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
246 Wolfgang Welsch
b. Pluralidade de paradigmas
Mais fundamental do que a pluralidade de métodos é a pluralidade de
paradigmas.27 O que isso quer dizer? A grosso modo, pode-se caracterizar
o desenvolvimento da racionalidade moderna através de dois passos:
Primeiro: houve, recentemente, o surgimento – no sentido da “dife-
renciação” – de uma gama de formas singulares de racionalidade, as quais
procedem a uma definição autônoma de seu tipo de objeto e de seu âmbito
de validade e definem um conjunto específico de métodos a serem
seguidos, bem como critérios e objetivos a serem alcançados. Geralmente
se tem em vista três tipos de racionalidade com relação a essa diferencia-
ção: racionalidade cognitiva, racionalidade prático-moral e racionalidade
estética.
Segundo: ocorreu, então, o surgimento de diferentes paradigmas no
interior dos tipos de racionalidade assim diferenciados. Esses paradigmas
representam potencialmente – analogamente ao que faziam os tipos de
racionalidade – mais uma vez, conforme suas respectivas definições, todas
as dimensões da racionalidade. Eles definem de modo autônomo seus
objetos, suas áreas, seus métodos, seus critérios e seus objetivos. Em
conseqüência disso, confrontamo-nos, em cada uma das três áreas da
racionalidade distintas, com uma variedade de versões em conflito, cada
uma almejando dar conta da área da melhor forma. Isso implica, em
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
Mudança estrutural nas ciências... 247
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
248 Wolfgang Welsch
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
Mudança estrutural nas ciências... 249
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
250 Wolfgang Welsch
3 Pluralidade e transculturalidade
Encontramos uma pluralidade radical não apenas no interior, mas
também fora das ciências: em questões da cultura no sentido mais amplo.
As Geisteswissenschaften se deparam também com essa pluralidade extra-
científica – especialmente quando se compreendem como “ciências da
cultura”, conforme se tornou comum já há alguns anos. A pluralidade de
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
Mudança estrutural nas ciências... 251
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
252 Wolfgang Welsch
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
Mudança estrutural nas ciências... 253
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
254 Wolfgang Welsch
***
As análises e sugestões aqui apresentadas são fragmentárias. Quando
a análise é razoavelmente acertada, isso não pode ser diferente. – De modo
geral, as sugestões pretendem motivar no sentido de uma prática mo-
dificada nas Geisteswissenschaften. Supõe-se que, em meio aos problemas
do mundo de hoje, apenas se corresponderem aos novos padrões inter-
nos da ciência, as Geisteswissenschaften conseguirão cumprir sua tarefa
extracientífica, sua tarefa social.
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
Mudança estrutural nas ciências... 255
lugar-comum estético, mas poder usar imagens de uma estética mais complexa como modelos
de busca.
12 Especialmente nas ciências “duras”, nas ciências naturais, pode-se registrar no século XX
um interesse crescente pelo significado de momentos estéticos no processo de conhecimento e
da construção teórica. Para cientistas como Bohr, Einstein ou Heisenberg, isso nunca chegou a
ser novidade. Dirac afirmou que, em equações, a beleza seria mais importante do que a
concordância com as experiências e Poincaré esclarecera que a competência estética e não a
competência lógica se constitui na capacidade essencial de um bom matemático (v. sob o título
Truth and Beauty. Aesthetics and Motivations in Science versammelten Arbeiten von
Subrahmanyan Chandrasekhar [Chicago: Chicago University Press, 1987]). Em uma época mais
recente, teve um efeito revolucionário o relato de Watson de que a decodificação da estrutura do
DNA só lhe foi possível porque ele partiu da idéia de que a solução teria de ser de extrema
elegância – somente sob essa premissa estética ele conseguiu encontrar em um período
compatível o caminho acertado entre um grande número de caminhos abertos. (v. James D.
Watson, Die Doppel-Helix. Ein persönlicher Bericht über die Entdeckung der DNS-Struktur,
Reinbek bei Hamburg: Rowohlt 1969). A Estética parece não oferecer apenas intuições, mas
também estabelecer critérios.
13 Parece-me exagerado dizer que operar completamente sem método seja típico das
Geisteswissenschaften. Também nas Geisteswissenschaften se usam métodos – mas distintos e
alternantes, sendo que metodologia aí não é absolutamente tudo.
14 v. Richard Rorty, Consequences of Pragmatism, Minneapolis: University of Minnesota
Press, 1982, S. 226.
15 v. Ludwig Wittgenstein, Philosophische Untersuchungen, in: ders., Werkausgabe, Frankfurt
a.M.: Suhrkamp, 1984, Bd. 1, 225-580, especialmente 278 [67]. Com isso Wittgenstein refuta a
antiga concepção “essencialista”, conforme a qual unidade só pode ser devida sempre ao caráter
universal de um elemento idêntico. Muito mais, as semelhanças de família são plenamente
suficientes para a coerência e produtividade de um conceito. Wittgenstein explicou isso em
analogia com o exemplo de um fio. “[…] a robustez do fio não está no fato de que uma fibra
percorre toda a sua extensão, mas de que muitas fibras são trançadas umas com as outras.”
(ibid.)
16 Ibid., S. 277 [65]. Semelhantemente: “[…] se as observares, não verás algo que seria comum
a todas, mas verás uma longa série de semelhanças e parentescos.” Ibid., S. 277 [66]) “Nós
vemos uma rede complexa de semelhanças que se sobrepõem e entrecruzam. Grandes e pequenas
semelhanças.” Ibid., S. 278 [66].
17 Não por acaso Ovídio, o poeta das Metamorfoses, é um dos autores mais lidos.
18 A tríade corresponde ao caráter tríplice das críticas kantianas.
19 Eu apresentei isso de forma mais detalhada em Vernunft. Die zeitgenössische
Vernunftkritik und das Konzept der transversalen Vernunft, Frankfurt a.M.: Suhrkamp,
1995, stw 1996.
20 “Mas entendamos apenas o que significa ‘inexato’! Pois não significa ‘inaproveitável’”.
(Wittgenstein, Philosophische Untersuchungen, a.a.O., S. 290 [88]).
21 Ibid., S. 346 [203].
22 Ele tinha consciência de sua posição especial e refletiu sobre ela. Por exemplo, quando disse:
“O filósofo não é cidadão de uma comunidade de idéias. Isso é o que faz dele um filosófo.”
(Ludwig Wittgenstein, Zettel, in: ders., Werkausgabe, a.a.O., Bd. 8, S. 380 [455]).
23 De resto, hoje nos encontramos realmente cada vez mais confrontados com problemas que
resultam de entrelaçamentos. Mesmo que os problemas surjam regionalmente, seus efeitos
ultrapassam as fronteiras, tornando-se globais. Nossas formas de pensamento antigas,
separatistas, porém, são incapazes de reagir a isso. Para elas, tais transposições de fronteiras são
apenas “efeitos colaterais indesejados” – que se aceita com um dar de ombros e os quais se
encara com desamparo. Tais efeitos da interconexão só aparecem como “efeitos colaterais”
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
256 Wolfgang Welsch
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
Mudança estrutural nas ciências... 257
31 v. Wittgenstein: “Nada do que se faça pode ser definitivamente defendido. Apenas em relação
a alguma outra coisa definida.” (WITTGENSTEIN, Vermischte Bemerkungen, in: ders.,
Werkausgabe, a.a.O., Bd. 8, S. 445-573,aqui S. 472) E: Isso apenas seria diferente se existisse
“uma metafilosofia”. “Mas tal não existe. Tudo aquilo que temos a dizer poderia ser apresentado
de modo a parecer uma idéia condutora.” (WITTGENSTEIN, Philosophische Grammatik, in:
ders., Werkausgabe, a.a.O., Bd. 4, S. 5-485, S. 116 [Teil I, 72].
32 Assim, por exemplo, Goodman apontou para o fato de que o relativismo é caracterizado por
“rígidas restrições”, “estando igualmente distante do absolutismo inflexível e do laissez faire
sem restrições.” (GOODMAN, Weisen der Welterzeugung, a.a.O., S. 117 bzw. ders., Vom
Denken und anderen Dingen, Frankfurt a.M.: Suhrkamp 1987, S. 66).
33 Nessa medida, meu discurso se distingue da pluralidade e minha definição da tarefa das
Geisteswissenschaften se distingue fundamentalmente daquela possivelmente de aparência
semelhante de Odo Marquard. Este fala de um pluralismo que representa um colorido
superficial, o qual não atinge a base e ele atribui às Geisteswissenschaften afeitas ao pluralismo
a tarefa de compensar danos de modernização através de diversas narrativas. Odo Marquard,
“Über die Unvermeidlichkeit der Geisteswissenschaften”, in: Anspruch und Herausforderung
der Geisteswissenschaften. Jahresversammlung 1985, Bonn: Dokumentationsabteilung der
Westdeutschen Rektorenkonferenz 1985, S. 47-67). Em oposição a isso, no teorema da
pluralidade e no relativismo que defendo, os conflitos não são coloridos diferentes sobre uma
base inquestionavelmente válida, mas derivam de interpretações divergentes da base.
34 Justamente para isso aponta o conceito de Wittgenstein de “jogos de linguagem” e seu
discurso sobre “formas de vida”. “A palavra ‘Sprachspiel’ (linguagem+jogo) deve ressaltar aqui
que falar uma língua é parte de uma atividade, ou de uma forma de vida.” (WITTGENSTEIN,
Philosophische Untersuchungen, a.a.O., S. 250 [23])
35 É questionável se essas suposições tradicionais já foram historicamente acertadas. A esse
respeito, uma citação de Zuckmayer: “[…] imagine a sua linha genealógica – desde o
nascimento de Cristo. Lá havia um capitão, um tipo moreno, pele da cor de uma azeitona
madura, que ensinou latim para uma moça aloirada. Depois entrou um mercador de especiarias
judeu na família, homem sério, converteu-se em cristão já antes do casamento e estabeleceu a
tradição católica da casa. – E, então, vêm um médico grego, ou um legionário celta, um servo
de Graubünden, um cavaleiro sueco, um soldado de Napoleão, um cossaco desertor, um Flözer
da Floresta Negra, um aprendiz de moleiro itinerante vindo da Alsácia, um marinheiro holandês,
um magyar, um pandur, um militar de Viena, um artista francês, um músico da Boêmia – todos
viveram no vale do Reno, lá brigaram, se embebedaram, cantaram e tiveram filhos – e – e o
Goethe, ele veio do mesmo caldeirão e também o Beethoven, e o Gutenberg, e o Matthias
Grünewald, e – sei lá, olhe na enciclopédia! Os melhores, meu caro. Os melhores do mundo! E
por quê? Porque os povos lá se miscigenaram. Miscigenação – como as águas de fontes e riachos
e rios que se unem para formarem uma torrente grande, viva. (ZUCKMAYER, Des Teufels
General, in: ders., Werkausgabe in zehn Bänden, Bd. 8, Frankfurt a.M. 1978, S. 93-231, aqui
S. 149)
36 Herder usou de forma esclarecedora a imagem da esfera: “Cada nação”, disse ele, “tem seu
centro de felicidade em si, assim como cada esfera tem seu centro de gravidade!” (HERDER,
Auch eine Philosophie der Geschichte zur Bildung der Menschheit [1774], Frankfurt a.M.:
Suhrkamp 1967, 44 f.) Os problemas de um tal conceito podem ser diretamente deduzidos da
continuação. “Tudo o que ainda é idêntico a minha natureza, o que pode ser assimilado nela, eu
invejo, ambiciono, faço meu, para além disso a natureza benévola me armou com
insensibilidade, frieza e cegueira, ela ainda pode se transformar em desprezo e repugnância
[…] vê como o egípcio odeia o pastor, o andarilho! Como ele despreza o frívolo grego! Assim,
duas nações cujas inclinações e círculos de felicidade se chocam – isso se chama preconceito!
Vulgaridade! Nacionalismo limitado!” Contra esse protesto iluminista, Herder esclarece: “O
preconceito é bom […] pois deixa feliz. Ele impele os povos para os seus centros, os fixa em seu
tronco, mais florescentes em sua maneira, mais voluptuosos e, portanto, mais felizes em suas
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007
258 Wolfgang Welsch
inclinações e desígnios.” (ibid., 45 f.). Herder diz adiante: “A nação mais ignorante, mais cheia
de preconceitos é, nessa visão, freqüentemente a primeira: a era de andanças ansiadas rumo ao
desconhecido e viagens esperançosas para o estrangeiro já é moléstia, flatulência, excesso
insalubre, punição de morte!” (ibid., 46) – Veja-se: Herder defende a duplicidade de acentuação
do próprio e exclusão do desconhecido. Hoje, porém, quando a recorrência à identidade cultural
e étnica produz quase no mundo inteiro separatismos e guerras, os perigos de um regresso ao
antigo conceito de cultura estão à vista de todos.
37 Apresentei uma primeira versão desse conceito em 1991 sob o título de “Transculturalidade
– formas de vida após a dissolução das culturas” (impresso em: Information Philosophie, Heft
2, 1992, S. 5-20). Versões estendidas foram publicadas sob o mesmo título em: Dialog der
Kulturen. Die multikulturelle Gesellschaft und die Medien, hrsg. von Kurt Luger und Rudi
Renger, Wien: Österreichischer Kunst- und Kulturverlag 1994, S. 147-169); sob o título
“Transculturalità. Forme di vita dopo la dissoluzione delle culture” in: Paradigmi. Rivista di
Critica Filosofica, Sondernummer “Dialogo interculturale ed eurocentrismo” X/30, 1992,
S. 665-689; bem como com o título “Transkulturalität – die veränderte Verfassung heutiger
Kulturen” in: Sichtweisen. Die Vielheit in der Einheit, Weimar: Stiftung Weimarer Klassik, 1994,
S. 83-122; versão inglesa: “Transculturality – The Form of Cultures Today”, in: Le Shuttle:
Tunnelrealitäten Paris-London-Berlin, Berlin: Künstlerhaus Bethanien, 1996. S. 15-30.
38 O conceito de transculturalidade arrisca – em relação às culturas e seus entrelaçamentos –
um passo análogo ao do conceito de transdisciplinaridade em relação às ciências e aos
entrelaçamentos das racionalidades.
39 Por exemplo, tornou-se óbvio para os filósofos dominar como ferramentas não apenas a
filosofia alemã e a grega, mas também igualmente a francesa e a anglo-saxônica e, ao desen-
volver qualquer idéia, alinhá-la com essas tradições. Para espíritos abertos, também a filosofia
japonesa, a africana e a indiana fazem parte do programa – e isso em relação à arquitetura do
programa, não apenas com respeito a uma desejável diversidade de dados do pensamento.
40 Psicanaliticamente é sabido que o ódio em relação ao desconhecido é, no fundo, um ódio a si
mesmo projetado no outro. Rejeita-se no desconhecido algo que se têm em si mesmo, mas não
se gosta de reconhecer, algo que internamente se reprime e externamente se combate.
Inversamente, o reconhecimento de que se tem internamente uma parcela desconhecida é o
pressuposto para a aceitação do desconhecido no exterior. Aqui se divisa como a educação
transcultural poderia contribuir para um tratamento diferente e mais adequado do socialmente
desconhecido. Justamente quando nós não rejeitarmos nossa transculturalidade interior, mas a
aceitarmos, é que nos tornaremos capazes de reconhecer e lidar no coletivo com a
transculturalidade externa. A expressão ciências humanas traduz o termo alemão
Geisteswissenschaften, que significa, literalmente, ciências do espírito, correspondendo àquilo
que se designa em português como ciências humanas. Optamos por manter no texto o termo
original para deixar clara sua inserção na tradição alemã (NT).
Educação
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 2 (62), p. 237-258, maio/ago. 2007