Racismo No Brasil e Racismo À Brasileira
Racismo No Brasil e Racismo À Brasileira
Racismo No Brasil e Racismo À Brasileira
Resumo
O presente artigo busca traços originários que constroem o chamado racismo à
brasileira, entendendo esse como forma sofisticada que responde à concretude
das relações raciais brasileiras. Tomando-o como um dos elementos estruturais da
sociedade brasileira. Pode-se considerar que há três momentos chave para a con-
10.17771/PUCRio.OSQ.52260
Palavras-chave
Raça; Racismo; Desigualdade;
Abstract
This article looks for original traits that build the so-called racism towards Brazilian
women, understanding this as a sophisticated form that responds to the concrete-
ness of Brazilian race relations. Taking it as one of the structural elements of Brazilian
society. It can be considered that there are three key moments for the conception
of the so-called Brazilian racism, these are: the slave system, scientific racism in its
particular mode of appropriation by the national intelligentsia and miscegenation /
miscegenation in Gilberto Freyre as a premise of whitening. In this way, apparently
surprising expressions of racism today can be better understood, in light of the in-
flections of racism itself as a socio-historical construction.
Keywords
Race; Racism; Inequality.
Introdução
ISSN: 2238-9091 (Online)
A questão que parece ficar fora da discussão tem relação com qual
contribui para explicar por que a discussão racial tomou larga dimen-
são, e o Estado construiu políticas de investimento na imigração como
solução do “problema negro” e ao mesmo tempo do progresso (CAR-
VALHO, 2002; ANDREWS,1998).
E por fim, a democracia racial de muitos modos substituiu a dis-
cussão da democracia política é como se pudesse ocorrer uma trans-
posição, se existisse uma democracia racial existiria uma democracia
política, talvez não seja admirável que a síntese dessa ideia se dê em
meio a um período de suspensão dos diretos políticos no período Var-
gas (HANCHARD, 2001).
A propósito, a concepção de democracia racial esteve balizada pelo
fato de existir miscigenação racial, daí conclui-se que é esse um em-
pecilho natural ao racismo. De certo modo, assim como a democracia
política foi vivida de modo quase esporádico ao longo da história bra-
sileira, a democracia racial não passou de uma possível utopia basea-
da em algumas exceções que mais confirmaram a regra das injustiças
calcadas no racismo.
Mas não podemos deixar de considerar um fato marcante, o poder
material de uma ideologia de tal modo que com a implementação das
Ações Afirmativas e principalmente com o advento das cotas raciais,
faz ressurgir os argumentos calcados na democracia racial e na antiga
tese da inexistência do racismo no Brasil, de modo que temos um livro
O Social em Questão - Ano XXIV - nº 50 - Mai a Ago/2021 pg 63 - 82
Racismo no Brasil e racismo à brasileira: traços originários 77
lançado por um alto executivo das organizações globo, Sr. Ali Kamel
Considerações finais
Esse breve passeio pela construção sócio-histórica dos conceitos/
ideias de raça, racismo, miscigenação, nos mostra a maneira como
raça tem sido acionada como mecanismo de exploração, privilegia-
mento e estabelecimento de poder e aquisição da posse, inclusive so-
bre o outro, infelizmente estamos longe de superarmos do ponto de
vista social, aquilo que a biologia ultrapassou; a separação dos seres
humanos através de critérios fenotípicos.
O racismo é um sistema que ultrapassa as fronteiras nacionais, tan-
to que, entre metade do século XX e início do XXI, ocorreram três
conferencias internacionais para tratar desse tema, contudo o modo
como ele se desenvolveu no Brasil é marcado por alguns aspectos es-
pecíficos, a miscigenação apreendida como valor símbolo da unidade
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78 Joilson Santana Marques Junior
Referências
ALMEIDA, Magali da Silva. Desumanização da população negra: genocídio
como princípio tácito do capitalismo. Revista Em Pauta, v. 12, n. 34, 2015.
Acessado em 15/09/2017, disponível em: http://www.e-publicacoes.uerj.br/
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ALMEIDA, Silvio Luiz de. Estado Direito e Análise materialista do racismo.
Disponível em: https://grupodeestudosracismoecapitalismo.files.wordpress.
com/2017/05/silvio-de-almeida-estado-direito-e-anc3a1lise-materialista-
-do-racismo.pdf. Acesso em: 10/11/2017.
Notas
4 Devemos lembrar que uma das questões mais caras à ciência principalmente
nesse período é o estabelecimento da verdade, portanto o racismo como prática
já existia, mas ganha novo estatuto a partir dos pressupostos científicos, logo os
estereótipos ganham lugar de uma imagem fixa, uma prisão.
5 “O viajante francês François Bernier foi um dos primeiros a adotar critérios como
cor da pele e outras características somáticas para dividir o gênero humano em
quatro ou cinco espécies ou raças humanas (..) Bernier não hesitava em usar ter-
mos depreciativos; segundo ele, os asiáticos tinham - olhinhos de porco-, os
negros, em vez de cabelos tinham – uma espécie de lã parecida com o pelo das
nossas lontras -, e os lapões eram – feios como animais. Evidentemente, os eu-
ropeus eram poupados dessas comparações nada lisonjeiras” (BORGES, MEDEI-
ROS e D’ADESKY, 2002:14). A publicação do artigo desse viajante, em 1684, não
pode ser considerada um trabalho científico, mas demonstra como esse pensa-
mento foi se construindo na história até se tornar uma teoria cientifica.
6 “O Sueco Lineu, por exemplo, em sua obra Systema Naturae, dividia o gênero
homo (...) distribuíam-se em quatro grupos: o homem europeu (europaeus albus)
- engenhoso, inventivo, branco, sanguíneo, governado pelas leis; o homem ameri-
cano (americanus rubescus) - satisfeito com sua condição, gostando da liberdade,
pardo irascível, governado pelos costumes; o homem asiático (asiaticus luridus)
- avarento, amarelo, melancólico, governado pela opinião – e o homem africano
(afer niger) – manhoso, preguiçoso, negligente, negro, fleumático, governado pela
vontade arbitrária de seus amos. (BORGES, MEDEIROS e D’ADESKY, 2002:15).
nente, obra que explicita toda sua concepção eurocêntrica e delineando o con-
torno da superioridade do europeu frente aos outros povos (SCHWARCZ, 1993).