Apostila Neuroanatomia
Apostila Neuroanatomia
Apostila Neuroanatomia
Fundamentos da neuroplasticidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Perspectiva do aprendizado e memória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Desenvolvimento motor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
INTRODUÇÃO
O conceito do funcionamento encefálico é muito diferente daquele de algumas décadas atrás.
Antes, em condições normais ou patológicas, era tido como estático. Não se sabia como o sistema
nervoso se comportava durante a aprendizagem – havia dúvidas sobre sua modificação e, se esta
existisse, sobre como se transformaria durante a aprendizagem. Hoje, graças ao avanço da tecnologia
da neuroimagem funcional – que permite analisar o encéfalo durante a execução de tarefas – e dos
estudos sobre habilitação ou reabilitação física e cognitiva, sabe-se como as estruturas neuronais
se modificam conforme se desenvolvem e pode-se afirmar, com toda certeza, que o sistema nervoso
é extremamente flexível e plástico.
Por volta de 1800, a hipótese da neuroplasticidade começou a ser descrita quando estudos
sugeriram que partes intactas do cérebro alteravam sua atividade funcional tentando compensar
as partes lesadas para contribuir com sua recuperação. Santiago Ramón y Cajal, no início do século
passado, afirmou que o cérebro se modifica constantemente, adquirindo e eliminando informações
de maneira contínua durante toda a vida. Sua teoria se apoiou em Ernest Lugano, que em 1906 definiu
a plasticidade cortical, referindo-se à capacidade do sistema nervoso de se adaptar a alterações.
Só em 1973 foram encontradas evidências para essas teorias por alguns cientistas, inclusive John
Eccles, que ganhou o Prêmio Nobel de Medicina (BAYONA; PRIETO; LEON-SARMIENTO, 2011).
O sistema nervoso é composto por bilhões de células nervosas em todo seu trajeto. Elas se
organizam e reorganizam buscando o equilíbrio entre diversas funções. Os neurônios são as principais
células nervosas. Através da comunicação entre eles e o processamento das informações pelos
receptores sensoriais é possível a obtenção de informações sobre o ambiente, que são transformadas
em percepções no controle do movimento. Eles constituem o sistema de comunicação no sistema
nervoso e são os responsáveis pela transmissão de informações entre as células nervosas, o que
permite perceber, interpretar e interagir com o ambiente. Diferenciam-se das outras células nervosas
pela capacidade de receber e emitir informações através de variações do potencial elétrico das
suas membranas.
No final do século XIX, Santiago Ramón y Cajal estabeleceu a estrutura neuronal. O neurônio
é a unidade estrutural e funcional do sistema nervoso especializada para a comunicação rápida.
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Suas funções básicas são recepção, integração, transmissão e transferência de informações. Ele se
divide em quatro regiões: o corpo celular, os dendritos, o axônio e as terminações pré-sinápticas, que
desempenham um papel fundamental no processamento de aprendizagem e memória (MACHADO
et al., 2008).
Fonte: http://training.seer.cancer.gov/brain/tumors/anatomy/neurons.html
O corpo celular é o centro metabólico do neurônio. Fornece a maior parte dos nutrientes e dele
se originam as outras partes (GUYTON, 1993), que os transportam até a extremidade dos axônios
(transporte axoplasmático). O corpo do neurônio também é um local de recepção de estímulos.
Os dendritos são processos ou projeções que transmitem impulsos para os corpos celulares
dos neurônios ou para os axônios. São considerados os principais locais para a estimulação do
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neurônio. Um único neurônio pode apresentar milhares de dendritos especializados em receber
estímulos. Enquanto os dendritos são receptores de estímulos, portanto, os axônios são transmissores,
especializados em enviar informações a outros neurônios, músculos ou glândulas (LUNDY-EKMAN,
2008).
Para que ocorra a aprendizagem, é necessário integridade motora, emocional e cognitiva, além
das possibilidades oferecidas pelo ambiente. É fundamental, portanto, que entendamos sobre o órgão
que orquestra tudo isso: o encéfalo. Ele é o órgão que controla, coordena, integra e é responsável
pela homeostase dele próprio e entre os sistemas do organismo. Gerencia todos os processos
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voluntários e involuntários; recebe, integra, processa, armazena e recruta as informações sensoriais
e sensitivas e controla o comportamento geral. Abriga as emoções, sentimentos, pensamentos,
consciência, memórias e sonhos. Analisa o passado, compreende o presente e projeta o futuro
(ANNUNCIATO, 2013).
Sabe-se que na maioria das vezes a informação é transmitida no sistema nervoso sob forma
de impulsos nervosos ao longo de vários neurônios, cujas funções são:
São considerados mecanismos plásticos aqueles que aumentam potenciais elétricos dos
neurônios e da transmissão sináptica. A sinapse é a região de transmissão química ou elétrica
entre neurônios – ou entre neurônio e célula muscular – necessária para que o estímulo chegue à
região desejada. É ela quem facilita as funções básicas do neurônio, que são recepção, integração,
transmissão e transferências de informação.
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A sinapse é facilitada ou inibida pelos neurotransmissores. Eles se localizam nas terminações
sinápticas, locais onde ocorre a transmissão das informações. Existem terminações pré-sinápticas
e pós-sinápticas, o que determina a direção a ser tomada pelas informações. Durante a sinapse, há
necessidade de equilíbrio entre facilitação e inibição, o que permite o controle da atividade celular.
Há dois tipos de sinapses: a sinapse química e a sinapse elétrica. No sistema nervoso central,
quase todas as sinapses são químicas, e as sinapses elétricas transmitem o potencial de ação a
células musculares. Nas sinapses químicas, é secretado um composto químico (neurotransmissor)
por um neurônio que atua sobre a proteína receptora da membrana do neurônio seguinte, quando
é liberado na fenda sináptica (GUYTON, 1993).
Fonte: http://www.psiquiatriageral.com.br/cerebro/figuras.htm
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mesmo processo, que também se assemelha aos processos de habilitação e de reabilitação (em
um encéfalo lesado ou não).
Evidências indicam inúmeras situações que interferem no mecanismo molecular deste processo e
influenciam na recuperação funcional após lesões cerebrais. Um dos aspectos da neuroplasticidade
é o fato de que áreas de representação cortical e mapeamentos corticais podem ser modificados
pelo aprendizado e experiência sensorial. Quando são realizadas atividades motoras regulares, por
exemplo, com o membro superior direito, a área de representação cortical dele será ampliada, como
acontece nas pessoas que tocam instrumentos (BARBRO, 2000).
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experiência e, consequentemente, o aprendizado. Ressalta-se aí a “grandeza” e a abrangência da
neuroplasticidade.
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FIGURA 3 - Diferença de potencial elétrico da membrana da célula nervosa
Fonte: http://www.sobiologia.com.br/conteudos/FisiologiaAnimal/nervoso3.php
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FIGURA 4 - Sinapses em um neurônio
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pré-sináptico (antes da sinapse, local do output ou da emissão dos estímulos) e atua na membrana
do neurônio pós-sináptico (após a sinapse, neurônio receptor – input). Esse neurotransmissor atua
sobre a proteína existente na membrana e pode excitá-lo, inibi-lo ou modificá-lo, o que depende do
tipo de neurotransmissor presente (acetilcolina, a norepinefrina, a dopamina, a histamina, o ácido-
gama-aminobutírico ou GABA, o glutamato, a serotonina), cuja função é excitatória ou inibitória
sobre os neurônios (GUYTON, 1993).
A primeira hipótese sobre a transmissão sináptica foi a da sinapse elétrica. Com o uso do
microscópio eletrônico foi localizada a junção comunicante, região de aproximação entre duas
células que possuem uma espécie de poro ou canais circulares formados por proteínas (conexinas).
Eles são ocos, possuem canais iônicos especiais e permitem que substâncias atravessem pela
membrana plasmática sem intermédio de mediadores químicos, em uma transmissão ultrarrápida
(em apenas centésimos de milésimos de segundos). Esse tipo de sinapse é tão rápido que é incapaz
de processar informações, porém é necessário para fazer com que inúmeros neurônios sejam
estimulados sincronizadamente durante o desenvolvimento ontogenético (GUYTON, 1993).
Nas sinapses químicas também há presença de uma corrente elétrica, os potenciais elétricos
das sinapses, que a ativam. Ocorre a seguinte sequência de eventos (LUNDY-EKMAN, 2008):
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FIGURA 5 - Transmissões sinápticas
Os potenciais elétricos são alterações na carga elétrica através da membrana celular, que transmite
a informação com rapidez por toda a extensão do axônio e provoca liberação de neurotransmissores
químicos a outros neurônios ou aos músculos. Os sinais elétricos - potenciais do receptor, potenciais
sinápticos e potenciais de ação - são todos produzidos por variações do fluxo de corrente elétrica
entre o ambiente intra e extracelular, o que ocorre através da membrana celular. O potencial elétrico
é gerado pela diferença nessa carga elétrica dos íons. Existem três tipos de potenciais elétricos
nos neurônios (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 2000, LUNDY-EKMAN, 2008):
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Os potenciais locais são classificados como potenciais do receptor e potenciais sinápticos.
Os primeiros são gerados em um receptor periférico de um neurônio sensorial, representando o
sinal de entrada, e podem variar na amplitude da duração. A maioria dos potenciais do receptor é
excitatória. Nos neurônios motores, esses estímulos partem do neurônio pré-sináptico, que libera
um neurotransmissor. Este interage com as células receptoras (pós-sinápticas), transformando
esse estímulo químico em elétrico, gerando o potencial sináptico (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL,
2000) na membrana pós-sináptica.
Os potenciais locais são gerados quando receptores sensoriais são estimulados por pressão,
temperatura, estiramento muscular etc. Quanto maior e mais duradouro for o estímulo, maior e
mais duradouro será o potencial do receptor. Como o potencial local não se propaga muito, a força
dele pode ser aumentada e múltiplos potenciais podem ser integrados pela somação temporal e
pela somação espacial.
A diferença entre os potenciais locais e os potenciais de ação é que os potenciais locais ocorrem
em uma curta distância e o potencial de ação constitui uma alteração do potencial elétrico que se
dissemina por uma extensão muito maior da membrana.
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as informações e são desencadeados por estímulos ambientais como pressão, toque, odores, luz
etc. A transmissão do potencial de ação não é determinada pela forma do sinal, mas sim pela sua
via de condução, assim cada sinal tem a sua resposta específica. O que garante a velocidade de
condução dos potenciais de ação é a bainha de mielina (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 2000).
Ele é um sinal despolarizante. Isso significa que ela libera neurotransmissores quando a
membrana pré-sináptica é despolarizada. A membrana pós-sináptica é estimulada, facilitando a
propagação/sucessão de estímulos ao longo do trajeto nervoso. O potencial de ação é “tudo ou
nada”, ou seja, ele será gerado todas as vezes que um estímulo mínimo suficiente chegar até ele
– independentemente da intensidade ou da velocidade desse estímulo, a resposta será a mesma
(LUNDY-EKMAN, 2008).
Cada potencial de ação começa por uma variação abrupta da carga elétrica do potencial da
membrana, que é negativo e passa a ser mais positivo, retornando quase que imediatamente à carga
negativa. Isso dura cerca de um milissegundo (GUYTON, 1993; LENT, 2004).
Uma vez gerado o potencial de ação, a alteração do potencial elétrico se dissemina como um
rastro de pólvora: depois de aceso, não há como parar. A despolarização e repolarização vai ocorrendo
por toda a extensão do axônio. Duas estruturas aumentam a velocidade da propagação desses
impulsos elétricos: a mielinização e o aumento do diâmetro do axônio. As informações podem ser
transmitidas através dos neurônios de forma convergente e divergente. Na convergente, múltiplos
estímulos de várias células terminam em um único neurônio. Por sua vez, na divergente, um único
axônio se ramifica e estimula vários outros neurônios (LUNDY-EKMAN, 2008).
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FIGURA 6 - Dinâmica do potencial de ação e repouso da membrana da célula nervosa
A atividade neural possibilita a plasticidade uma vez que o papel dos potenciais de ação é
essencial para a regulação do seu desenvolvimento e ocorre por meio de ativação dos receptores
sensoriais advindos de estímulos físicos e ativação espontânea dos neurônios. Ainda se discute o
papel exato da atividade elétrica, mas sabe-se que entre os seus efeitos ela consolida os circuitos
neurais. O centro dessa discussão é “[...] se a atividade neural tem a função de ajudar a criar as
conexões (construtivismo) ou de selecionar, a partir de um conjunto inicial, conexões estabelecidas
intrinsecamente (selecionismo)” (OLIVA; DIAS; REIS, 2009, p. 132).
Segundo Lent (2004), pode-se questionar se a plasticidade compensa. Ela pode ser benéfica
na relação do sistema nervoso com o meio ambiente, mas pode também ser maléfica, causando
compensações que geram má adaptações danosas ao indivíduo. Essas má adaptações resultam
em comportamentos ou sensações alteradas, como o membro fantasma, cujas vias aferentes das
áreas de representação cortical próximas (no caso da mão, as áreas de representação próximas são
a face, o ombro e o tórax) se expandem ou seja, fazem novas conexões. Tocar uma dessas áreas
produz a sensação de tocar a mão perdida (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 2000).
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Na plasticidade benéfica, a compensação possibilita adaptações funcionais, por exemplo,
tornando maior a área dos dedos no córtex motor e sensitivo de indivíduos cegos que lêem em
braile. Algumas hipóteses podem ser consideradas (LENT, 2004):
ACONTECEU
Nas primeiras décadas do século XX a pesquisa sobre a mediação química da ação do sistema
nervoso vegetativo, como era chamado então o Sistema Nervoso Autônomo, estava se desenvolvendo
a uma velocidade febril em muitos laboratórios do mundo. Saiba mais como isso aconteceu
acessando o site abaixo:
http://www.cerebromente.org.br/n17/history/neurons5_p.htm
FUNDAMENTOS DA NEUROPLASTICIDADE
A modificabilidade neuronal assemelha-se à moldagem do material plástico, que se deforma
conforme a sua própria resistência e sob as forças externas. Assim é o SNC: está suscetível a
mudanças conforme as influências do meio e sua própria resiliência. A definição de neuroplasticidade
pode compreender:
Além disso, as conexões neuronais são constantes e modeladas pela experiência ou por doenças.
A neuroplasticidade também é essa capacidade que o neurônio tem de se alterar com relação a
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sua função, sua química com relação aos neurotransmissores produzidos e sua estrutura a fim
de manter ou melhorar as funções cerebrais e ainda auxiliar na recuperação de lesões (LUNDY-
EKMAN, 2008). Pode-se afirmar então que o sistema nervoso altera sua morfologia e sua função
em resposta às alterações ambientais.
Antes dos três anos de idade, ocorre a maior parte do desenvolvimento do cérebro da criança.
Nesse período elas desenvolvem as habilidades de raciocínio, fala e estabelecem conceitos sociais
e valores morais. Nessa fase, as transformações bioneuropsíquicas e comportamentais ocorrem
em uma velocidade impar, e a maleabilidade do encéfalo em formação o torna apto a receber todo
tipo de estímulo, o que estabelece uma base para o equilíbrio futuro. O desenvolvimento do sistema
nervoso sofre influência de muitas variáveis: o programa genético, os fatores epigenéticos e as
diferenças individuais (ANNUNCIATO, 2013).
Os fatores endógenos ou fatores genéticos incluem o programa genético básico herdado logo
na concepção, que predetermina o desenvolvimento do encéfalo e determina as chances de um
desenvolvimento normal. Sobre o programa genético básico incidem os fatores epigenéticos, ou seja,
todos aqueles que não pertencem ao programa genético básico, mas o influenciam. Dentre os fatores
epigenéticos se tem o microambiente e o entorno (o ambiente em si). O microambiente corresponde,
entre outros, ao ambiente gestacional, ingestão de álcool, drogas, desnutrição materna, radiação e
infecção viral, fatores que podem comprometer a formação do sistema nervoso, a diferenciação e
migração neuronal e a formação dos sulcos e giros. Considera-se também complicações no parto:
prematuridade, traumas, asfixia neonatal, hemorragias intracranianas, hiperbilirrubinemia e o baixo
peso ao nascimento, condições que comprometem a organização e mielinização neuronal, além
de provocar lesões (ANNUNCIATO, 2013).
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As novas conexões neurais podem ser:
A plasticidade axônica, além de regenerativa e não regenerativa, pode ser central e periférica.
A plasticidade axônica periférica regenerativa ocorre no sistema nervoso periférico após lesão,
permitindo a sobrevivência do neurônio mesmo após transecção, se houver sobrevivência do corpo
do neurônio e se o microambiente ao redor da célula estiver propício. Ocorre a degeneração do coto
distal e regeneração do coto proximal à lesão. A degeneração do coto distal é proposital e permite a
proliferação de células de Schwann, de bainha de mielina e a sintetização de moléculas que comporão
a matriz extracelular capaz de estimular o crescimento do coto distal até o coto proximal, que não
se degenera – pelo contrário, se regenera. Esse processo é denominado de regeneração walleriana.
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FIGURA 7 - Plasticidade axônica
Fonte: http://biologiasomosnos.blogspot.com.br/2011/11/degeneracao-walleriana-quando-um.html
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e apoptose neuronal. Os estudos com relação à célula-tronco se concentram nessa fase ou nessas
características. Na figura abaixo vemos dois axônios com seus respectivos dendritos.
(A) e espinas dendríticas de axônios ativados por estímulos externos (B). Fonte: adaptado de
http://www.nature.com/nrn/journal/v9/n3/fig_tab/nrn2286_F2.html.
A plasticidade sináptica é caracterizada por alterações nas sinapses entre as células nervosas.
Teve como precursor Donald Hebb, cuja lei defende que se dois neurônios estão simultaneamente
ativados, suas conexões aumentam. Caso apenas essa ativação seja alternada e apenas um
neurônio esteja ativado, suas conexões são enfraquecidas ou anuladas. Essa teoria surgiu antes
da descoberta das sinapses. O modelo de Hebb embasa a inteligência artificial ou redes neurais
de modelos matemáticos. A plasticidade regenerativa consiste no “recrescimento” de axônios
lesados. Está mais presente no sistema nervoso periférico e é facilitada pelas células não neurais
que compõem o microambiente dos tecidos.
Ele verificou que um grupo de neurônios, chamado por ele como “agrupamento de células”, ativava-
se simultaneamente na camada cortical para representar um fato ou objeto. Se a informação fosse
verbal, ativava a região auditiva; se fosse visual, a área da visão; se fosse através de movimentos, as
áreas motoras e assim ocorria a auto-organização cortical. Por isso, ele imaginava que as células
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estavam interconectadas e no modelo de Hebb esse estímulo se conservava na memória de curto
prazo. Assim, sua repetição reforçaria as conexões entre esses neurônios. Na aprendizagem, a
estimulação de uma só área levaria à ativação da representação completa do objeto (MACHADO
et al., 2008).
Hebb propôs que durante a aprendizagem um neurônio estimula o outro, fortalecendo as sinapses
e produzindo alterações estruturais, já prevendo uma forma de plasticidade sináptica decorrente da
sincronia entre os neurônios pré e pós-sinápticos. Esse mecanismo depende dos seguintes fatores:
• O que um neurônio faz depende do conjunto dos outros neurônios vizinhos no qual o primeiro
se insere.
• O que os sistemas fazem depende de como os conjuntos se influenciam mutuamente em uma
arquitetura de conjunto interligados.
• A contribuição de cada um dos conjuntos para o funcionamento do sistema a que pertence
depende da localização nesse sistema (MOREIRA, 1999).
Santiago Ramon y Cajal, em 1888, descreveu as sinapses. Tido como o pai da neurobiologia
moderna, segundo ele elas são unidades de processamento da informação que se conectam e
formam redes dinâmicas que possibilitam as funções. Estão unidas por conectividade e não por
continuidade. Isso predispôs a lei de polarização dinâmica, que prega que a transmissão do impulso
nervoso é unidirecional e se deve à relação entre os neurônios do início da excitação. A teoria dos
neurônios foi formulada em 1891. Conforme ela, os neurônios são unidades estruturais e funcionais
do sistema nervoso, células individuais que têm três partes: dendritos, axônio e corpo. Cajal também
descobriu que o crescimento axonal é o que permite o desenvolvimento do sistema nervoso e as
espinas dendríticas, que são microestruturas encarregadas de aumentar a comunicação entre os
neurônios (VASQUEZ, 2013). Em 1896, introduziu o conceito de polarização dinâmica, sugerindo
que os neurônios apresentavam-se assimétricos.
A eficácia sináptica pode ser alterada em algumas células nervosas pela atividade intensa, e a
condução sináptica pode ser alterada por descargas e bloqueios em longo prazo. Isso é fundamental
para os processos de aprendizagem. Nessas células, uma sequência de potenciais de ação é seguida
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por um período de potenciais pós-sinápticos maiores e a estimulação com alta frequência do
neurônio pré-sináptico é chamada de estimulação tetânica (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 2000).
A neuroplasticidade consiste ainda na capacidade das células nervosas em lutar contra alterações
químicas ou estruturais; lutar contra lesões ou doenças; modificar suas atividades se o meio
ambiente se modificar e nos processos de armazenamento de informações; formar novas conexões
e tentar refazer conexões perdidas. Os fatores que influenciam esses processos são a idade, a
biografia individual (programa genético básico e os fatores epigenéticos) e os fatores diretamente
relacionados à lesão como a extensão e a localização (ANNUNCIATO, 2013).
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pelo ambiente. Por plasticidade somática entende-se a possibilidade de alterações da capacidade
dos neurônios de se proliferarem ou morrerem de acordo com os estímulos do ambiente.
A biografia individual inclui o programa genético básico e o desenvolvimento pré, peri e pós-natal,
a infância, a adolescência, a fase adulta e a velhice. Ambos – programa genético e desenvolvimento
– interferem simultaneamente, facilitando ou não a plasticidade (OLIVEIRA; SALINA; ANNUNCIATO,
2001).
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que possam ser recrutadas a qualquer momento conforme a necessidade. A aprendizagem e a
prática ou experiência modificam o comportamento (motor, emocional ou social) e as estruturas
e funcionamento das células neurais (OLIVEIRA; SALINA; ANNUNCIATO, 2001). A recuperação de
lesões apresenta mecanismos e situações distintas que serão discutidas a seguir.
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Brain_neuroplasticity_after_practice.png
É necessária a compreensão sobre os fatores neurotróficos (FNT), uma vez que eles fornecem
condições para a reorganização e retomada das funções encefálicas. Os fatores neurotróficos
são proteínas solúveis que regulam a sobrevivência, o crescimento, a plasticidade ou a síntese de
proteínas utilizadas para funções específicas dos neurônios. Permitem a diferenciação de neurônios,
induzem o crescimento de axônios e dendritos e garantem a sobrevida dos neurônios. Eles são
subdivididos por tipos (ANNUNCIATO, 1994; SILVA, 1995):
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O fator de crescimento neural é proveniente da periferia, das células-alvo, sendo transportado
de forma retrógrada. A sobrevivência neuronal, a extensão de prolongamentos e a diferenciação de
neurônios são papéis importantes que têm relação com o NGF. O mecanismo básico de ação do
NGF é simples. Ele é produzido por células-alvo, liga-se a receptores dos terminais axonais, sendo
internalizado e transportado até o corpo da célula, e participa da ativação do metabolismo neuronal.
Essa ação é importante para a sobrevivência celular e para os fenômenos plásticos.
O fator neurotrófico derivado do cérebro é produzido pelas células da glia e por neurônios. O
BDNF parece mediar os principais processos dependentes de estímulos externos e faz a modulação
de diversas funções sinápticas, induzindo estímulo a maturação, nutrição, crescimento e integridade
neuronal.
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FIGURA 10 - Fatores neurotróficos (FNT)
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de curto prazo estão associadas à elevação da eficiência sináptica. Se essas persistem, gradualmente
promovem mudanças estruturais nessas sinapses. Esta é a base da aprendizagem e da memória
a longo prazo (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2003).
Atualmente se sabe que a retenção ocorre em áreas corticais distintas, cada qual com a sua
função (por exemplo, memória visual no córtex occipital, auditiva no temporal, motora no frontal, e
assim por diante). A memória emocional se inicia pela amígdala, a motora pelo cerebelo, a cognitiva
pelo hipocampo. Essas estruturas são “portas de entrada” para o estímulo específico (ANNUNCIATO,
2013). Cada tipo de memória é dependente de diferentes regiões cerebrais.
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dos processos de aprendizagem. O córtex é dividido em camadas e cada uma tem uma função
especifica:
Fonte: http://willcov.com/bio-consciousness/diagrams/Cortical%20Layers%20Diagram.htm
Na figura anterior notam-se as conexões das camadas entre elas e entre outras áreas,
principalmente o tálamo e o tronco encefálico. Pelo sistema tálamo-cortical, todas as informações
sensoriais provenientes da periferia passam pelo tálamo para atingir o córtex, exceto as olfativas
(GUYTON, 1993). A maioria dos núcleos do tálamo se conecta com o córtex de forma recíproca
através de vias talamocorticais e corticotalâmicas. Existem os núcleos talâmicos específicos que
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estimulam áreas corticais somestésicas e auditivas. Os núcleos talâmicos inespecíficos, por sua vez,
excitam grandes áreas corticais e não apenas regiões específicas. As conexões corticotalamicas
apresentam influências sobre a motricidade, o comportamento emocional, o grau de ativação do
córtex e a sensibilidade (MACHADO, 2002).
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pressão, tato e propriocepção. Para essa área há também a representação através do homúnculo de
Penfield sensitivo. A área visual se localiza no sulco calcarino e corresponde à área 17 de Brodmann.
A área situada no giro temporal corresponde a área auditiva e corresponde a área 41 de Brodmann.
A área responsável pela apreciação consciente da orientação espacial é a área vestibular, que fica
próxima a área somestésica e auditiva. Ainda correspondem à área somatossensorial a olfatória,
na parte anterior do Uncus, e a gustativa, área 43 de Broadmann (MACHADO, 2002).
Fonte: fourier.eng.hmc.edu/e180/lectures/visualcortex/node5.html
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17 Córtex visual primário
43 Córtex gustativo
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FIGURA 14 - Homúnculo de Penfield
Fonte: http://tecfa-bio-news.blogspot.com.br/2009/05/cest-lintention-qui-compte.html
As áreas corticais motoras foram descobertas mais “recentemente”. Até então acreditava-se
que o córtex era responsável pelas funções intelectuais e perceptuais. Após os experimentos de
Sherrington no início do século 20 e de Penfield (1930), ficaram definidas as funções específicas
motoras do córtex, responsável pelos movimentos voluntários. Há subdivisões: córtex motor primário,
motor suplementar e pré-motor (GUYTON, 1993).
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Todas as áreas são importantes para a aprendizagem e memória. Em todas elas a plasticidade
influencia e é influenciada pelas modificações celulares ou ambientais, mas o grande envolvimento
é das áreas chamadas áreas de associação. Elas recebem e analisam sinais de múltiplas regiões
do córtex e áreas subcorticais e são divididas conforme sua especialidade (GUYTON, 1993).
A área de Wernicke, além de fundamental para a linguagem, também recebe o nome de área da
interpretação geral, gnosia, conhecimento. Além disso, acredita-se que também haja importância
dela nos padrões de memória que necessitem da interpretação de complicados significados de
diferentes experiências sensoriais (GUYTON, 1993).
A retenção ocorre quando o estímulo é armazenado por alguns segundos ou muitos anos. Esse
tempo de retenção pode ser classificado em memória de curto prazo e memória de longo prazo. A
memória de curto prazo tem capacidade de retenção de segundos, se situa no momento presente
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e garante a sequência lógica. A memória de longa duração se estende por dias e é responsável
pela história do indivíduo. A memória declarativa ou explícita possibilita armazenar números, fatos,
acontecimentos e outras situações conscientes. Essas informações podem ficar retidas por muito
tempo ou se apagarem rapidamente, por isso ela promove poucas alterações sinápticas corticais
(MACHADO et al., 2008).
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O hipocampo e as áreas relacionadas do lobo temporal processam as informações recentes por
períodos relativamente prolongados (semanas ou meses), transferindo-as para o córtex. Assim, o
hipocampo não armazena a longo prazo a informação mas facilita o armazenamento inicial (KANDEL;
SCHWARTZ; JESSELL, 2000). O arquivamento das memórias implícitas e explícitas envolve alterações
sinápticas em regiões diferentes do sistema nervoso, cada qual com a sua especificidade.
Essas alterações proteicas e dos genes que a codificam podem ser mantidas a longo prazo,
provocando alterações morfológicas que não são frequentes na sensitização a curto prazo. Como
consequências da ativação dos genes da sensitização a longo prazo ocorre o crescimento das
conexões sinápticas, dobrando o número de conexões pré-sinápticas, com aumento em 25% de
terminações pré-sinápticas ativas, e o crescimento dos dendritos dos neurônios motores para
acomodar as sinapses adicionais (ANNUNCIATO, 1994).
O LTP induz a mudanças morfológicas nas espinhas dendríticas, sendo as menores locais
preferenciais desses potenciais e as maiores representantes dos traços físicos das memórias já
registradas. Também promove a cooperatividade, a associação e a especificidade nos neurônios
excitatórios e converge a informação para células piramidais do hipocampo e do córtex. Além
dos neurônios excitatórios, as espinhas dendríticas se localizam em diversas regiões do cérebro,
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associadas a memórias explícitas (hipocampo e córtex) e memórias implícitas (amígdala e núcleos
da base) (OLIVA; DIAS; REIS, 2009).
A memória não declarativa ou implícita se encarrega das informações mais subjetivas, como as
sensações de medo que afetam a amígdala e a aprendizagem motora, os hábitos e comportamentos,
chamada também de memória de procedimento. Ela se armazena no córtex, mas como ela é
automática, recupera-se de maneira inconsciente. Os exemplos mais comuns são de atividades
como dirigir um carro ou andar de bicicleta. Porém, a memória de procedimento também está
presente quando a resposta requer uma organização mental estratégica, como por exemplo, contar
as janelas da sua casa. O indivíduo necessita recordar visualmente das janelas, efetuar a conta,
criando uma conduta de procedimentos (MACHADO et al., 2008).
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A memória de longo prazo da sensitização envolve as mesmas células da habituação, porém estão
presentes mudanças estruturais (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2003).
• Associa o estímulo anterior (neutro – som), a • Não necessita de nenhuma resposta anterior
resposta reflexa condicionada (salivação) e outro
estímulo (comida) • O resultado depende das ações do sujeito
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comportamento (recompensa), ou negativo, quando tende a inibir certo comportamento (punição).
A maioria das aprendizagens complexas é de tipo operante.
Por outro lado, as lesões no córtex somatossensorial podem não afetar o desempenho das
capacidades já aprendidas. Isso se explica pela existência de outras conexões além daquelas diretas
entre córtex sensorial e motor que são coativadas durante a aprendizagem. Após a prática repetida
da atividade, essas outras conexões se fortalecem e a partir daí não há necessidade de informações
sensoriais exigidas após a aprendizagem. Observa-se que no momento do aprendizado de uma nova
capacidade motora há necessidade de se ativar vários músculos e, com a prática, as contrações
desnecessárias são eliminadas e apenas se contraem os músculos essenciais (SHUMWAY-COOK;
WOOLLACOTT, 2003).
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CURIOSIDADE
Sendo o termo “neurociência” jovem, acesse o artigo abaixo para se inteirar de que, para compreender
como o sistema nervoso opera, existe a necessidade de se obter conhecimento sobre muitos
aspectos envolvidos, tais como o funcionamento e desenvolvimento das células nervosas e suas
capacidades elétricas e químicas, e a importância de haver um planejamento criterioso para otimizar
a aprendizagem em qualquer etapa.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-69542011000100011
Esse termo significa então a diminuição da resposta com a repetição e isso ocorre naturalmente
em todos os animais. Todos se habituam a estímulos repetitivos e deixam de responder a eles. Os
neurônios motores recebem sinapses dos neurônios sensitivos através dos interneurônios, que se
habituam com a repetição. Isso ocorre em neurônios comuns, não específicos para processamento da
memória. Talvez se possa generalizar e explicar os circuitos sinápticos para armazenar informações
de curtos períodos, o mecanismo celular da memória de curto prazo (LENT, 2004).
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treinamento pode produzir alterações grandes e duradouras da força sináptica. Na habituação ocorre
a depressão monossinática. Com a diminuição do mediador químico glutamato, que é excitatório,
diminui a quantidade de cálcio. Com menos cálcio entrando nas terminações do potencial de ação,
menos neurotransmissores são liberados nas sinapses sensoriais. Além disso, a habituação produz
redução da capacidade de mobilização das vesículas com transmissor para a zona ativa da sinapse,
de forma a ficarem disponíveis para a liberação (ANNUNCIATO, 1994; SILVA, 1995).
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Conceitos de recuperação de lesão
Atualmente a tecnologia tem permitido grandes avanços na neurociência que contribuem para
o conhecimento do cérebro humano a fim de prevenir e tratar doenças ou sequelas. Na reabilitação
de lesões neurológicas, o maior conhecimento dos processos de aprendizagem e reabilitação
possibilitam a implementação de novas, mais abrangentes e mais assertivas técnicas.
Após uma lesão encefálica vascular ou traumática, há morte imediata de neurônios nessa área,
e depois de quatro dias, em média, ocorre a extensão da área primária da lesão e os neurônios
localizados perifericamente (e relacionados à área lesada) também degeneram. No local da lesão, há
intensa produção de células da glia, que protegem contra o crescimento inadequado e desordenado
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das fibras intactas, que iniciam brotamentos compensatórios e acabam ocupando sinapses vagas
(SILVA, 1995).
Embora os neurônios adultos não tenham capacidade para se dividir ou replicar, o sistema
nervoso apresenta alto grau de plasticidade controlada por dois processos (ANNUNCIATO, 1994):
Após lesão encefálica, tanto a intensidade da reabilitação, como o intervalo de tempo entre a
lesão e o início da reabilitação influenciam na recuperação da função nervosa. A falta prolongada
de movimentação ativa após lesão cortical pode levar à perda subsequente de função em regiões
adjacentes, não lesadas no encéfalo (LUNDY-EKMAN, 2000). Isso justifica a necessidade de iniciar
o processo de reaprendizagem motora o mais precoce possível.
Baseado nesses conhecimentos, pode-se assegurar que há a recuperação das funções da área
lesada, o que depende, para potencializá-la, de estimulação adequada e repetitiva, o que ocorre, por
analogia, durante a aquisição da leitura e da escrita de um encéfalo intacto.
Em indivíduos que sofreram lesões encefálicas, como o acidente vascular encefálico, é muito
comum ocorrerem alterações que vão além das motoras. Podem ocorrer as chamadas disfunções
cerebrais superiores, como a afasia, o déficit parietal caracterizado por desatenção sensitiva ou
visual, negligência visuoespacial e perda da noção de posição segmentar (ANDRÉ, 1999 apud
HAYASHI-XAVIER, 2002). Também aparecem alterações da visão, da sensibilidade, mudanças da
atividade mental, personalidade ou conhecimento do esquema corporal.
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FIGURA 16 – Sistema nervoso central
Vários eventos podem ocorrer no SNC após uma lesão. Isso pode contribuir para a limitação
ou recuperação da função. A supersensibilidade de desnervação pode ocorrer quando grande
quantidade de neurônios foi destruída e há perda de informações entre regiões encefálicas e a
regeneração neural: sinaptogênese regenerativa e a germinação colateral, sinaptogênese reativa
(SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2003). Essas serão vistas à frente como brotamento regenerativo
e brotamento colateral.
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g) Brotamento regenerativo
h) Brotamento colateral
i) Morte e sobrevivência após a lesão
j) Potencial regenerativo dos neurônios
Normalmente ocorre logo após a lesão, durante o período agudo, depois da involução do
edema, diminuindo a compressão das áreas vizinhas. Algumas sinapses muito próximas da lesão
se tornam inativas ou hipoativas pelo processo inflamatório, principalmente pelo edema. Quando
ele diminui, ocorre considerável recuperação das funções sensitivomotoras ou cognitivas sob
responsabilidade dos neurônios cujos corpos estavam em sofrimento, mas não haviam morrido
pela lesão. Há necessidade de administração de drogas neuroprotetoras para melhorar a oferta de
oxigênio e glicose, reduzir o edema, hematoma e eventual hemorragia local e proteger os neurônios
sobreviventes.
No início do século 20, foi descrita a diasquisis ou inibição parabiótica, fenômeno no qual ocorriam
perdas funcionais correspondentes a áreas corticais adjacentes preservadas. Esse estado durava
períodos prolongados e comprometia a recuperação funcional, havendo necessidade de retardar
os fenômenos histológicos e neuroquímicos, que constituem o substrato material da plasticidade
cerebral. Atualmente, na fase aguda da lesão, essa área é denominada área ou zona de penumbra.
Potencialização sináptica
Cotransmissor
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Aumento da sensibilidade sináptica
Persistência de hiperinervação
Algumas interferências podem manter vivos e funcionais neurônios que normalmente teriam
morrido durante o desenvolvimento embrionário do sistema nervoso. Quando há lesão de um
neurônio, desencadeia-se o recrutamento dos botões terminais presentes desde a fase embrionária
– os outros neurônios que inervam o lesado.
No sistema nervoso íntegro existem algumas sinapses que estão presentes, mas que funcionalmente
estão inativas. Essas sinapses são ativadas ou recrutadas quando um estímulo importante às
células nervosas é prejudicado. No caso de lesão das fibras principais de uma determinada função,
outras fibras que estavam dormentes poderão ser ativadas. As sinapses que são pouco utilizadas
ou que se manifestam fracamente são a base para o processo plástico. Seu recrutamento induz à
liberação de substâncias neuroativas (ou neurotransmissores), diminuição da fenda sináptica e o
crescimento morfológico do terminal axônico.
Brotamento regenerativo
Acontece quando um axônio é lesado ao longo de seu trajeto ou quando seu alvo de inervação
é destruído. Nesse caso, originam-se da porção proximal do axônio, que mantém comunicação
direta com o corpo celular e brotamentos curtos formam novas sinapses nesta área. Ocorre então
o brotamento regenerativo nos axônios lesados. Forma-se novos brotos provenientes da porção
proximal – o coto distal, geralmente, é rapidamente degenerado, em direção a outros corpos celulares.
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O crescimento desses brotos e a formação de uma nova sinapse constituem a sinaptogênese
regenerativa.
Brotamento colateral
Acontece quando a lesão ocorre em um neurônio aferente. Axônios centrais geram brotos
colaterais e assim formam novas conexões quando sistemas neuronais com os quais eles dividem
um mesmo destino polissináptico tenham sido destruídos. Nesse caso, a célula-alvo que deixou de
receber informações das outras células desenvolve a capacidade de atrair brotamentos de células
nervosas vizinhas para ocupares sítios sinápticos vagos. Isso se chama sinaptogênese reativa.
Existem evidências de que fatores neurotróficos podem salvar neurônios no estágio agudo.
Adicionado à redução do tamanho do infarto, mesmo horas depois da isquemia, o fator de crescimento
dos fibroblastos básicos pode atenuar a degeneração. A presença do fator de crescimento neural
foi observada na melhora da memória e funções motoras e na redução da atrofia dendrítica, nos
neurônios piramidais restantes (BARBRO, 2000).
Após uma lesão e durante a recuperação da função podem ocorrer alterações nos mapas
corticais. Essas alterações dependem da causa, extensão da lesão, período de restabelecimento
hemodinâmico e reabilitação, pois pesquisas mostram que os mapas do córtex somatossensorial
variam entre indivíduos e conforme a experiência. O remapeamento ou a reorganização do SNC após
a lesão é possível. Ocorre a reorganização de áreas corticais amplas, podendo algumas “tomar” o
lugar de outras. Há também a colaboração de vias ipsilaterais, ou seja, as vias descendentes dos
hemisférios cerebrais que não se cruzam podem contribuir com os movimentos (SHUMWAY-COOK;
WOOLLACOTT, 2003).
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Várias pesquisas vêm sendo feitas para desenvolver estratégias de limitação das sequelas
das lesões do SNC e para a ampliação do potencial de regeneração dos neurônios. São duas as
condições básicas para que haja regeneração neuronal após uma lesão do SNC (SILVA, 1995):
Os axônios danificados devem regenerar e estabelecer novas conexões com os alvos originais
(potencial regenerativo dos neurônios do SNC).
No início desse século, acreditava-se que a regeneração do sistema nervoso central fosse
interrompida logo no seu início, enquanto que a capacidade de regeneração do sistema nervoso
periférico era imensa. Nos anos 80, experimentos demonstraram que os neurônios do sistema nervoso
central apresentavam uma capacidade intrínseca de regenerar os seus axônios após uma lesão,
bastando apenas um ambiente propício para que, após iniciado, esse processo pudesse continuar.
O conceito atual indica a possibilidade de regeneração de neurônios do sistema nervoso central
após a lesão de seus axônios, desde que as condições favoráveis sejam oferecidas aos neurônios
traumatizados. Todos os elementos propícios a um processo regenerativo axonal parecem estar
presentes no sistema nervoso central.
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sobrevivência neuronal após uma lesão do SNC e mecanismos de excitotoxidade têm sido implicados
em lesão neuronal secundária ao trauma do parênquima cerebral.
Em 1823, Jean-Pierre-Marie Flourens propôs que o cérebro tinha um papel muito importante
na coordenação motora, sugerindo que a partir daí se desenvolveriam as funções cognitivas, cujas
propriedades neurais globais provinham da atividade integrada de todo cérebro. Porém, no início
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do século 20, Pierre Paul Broca argumentou que a linguagem, que distingue o homem de outras
espécies, se localiza em uma área específica. A partir daí surgiram as ideias principais:
Para compreender melhor o assunto faz-se necessária a relação entre a evolução do homem, sua
filogênese e o desenvolvimento do encéfalo. Nos primatas, houve modificação na estrutura óssea
e postural do homem, o que possibilitou a diferenciação do seu encéfalo. A grande diferença entre
o humano e os primatas não é a quantidade de neurônios ou o volume, mas a organização interna,
as inter-relações entre as várias áreas, a eficiência bioquímica e neuroendócrina e as conexões
entre os vários blocos funcionais.
A evolução da motricidade não se deve à expansão do encéfalo, mas sim à sua reestruturação, e
em função da qual podem-se compreender três aquisições de grande importância: a aprendizagem
(a maioria dos comportamentos dos homens são aprendidos), a fabricação de instrumentos e a
linguagem.
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ser um instrumento de ação (transformação), deve ser um instrumento de preparação (informação-
formação).
O nascimento do pensamento reflexivo traduz a relação entre a mão (aspecto motor) e o encéfalo
(aspecto psíquico) através da exploração e da observação visual. E a reflexão é a consciência da ação
retardada que possibilita ao homem a antecipação da ação, que exige uma imagem que sustenta o
projeto (táticas e estratégias) da ação que se prolongará através da mão (FONSECA; MENDES, 1988).
Um encéfalo que é capaz de gerar linguagem também pode produzir objetos, fabricar instrumentos.
O trabalho gera cultura, razão predominante da expansão cerebral, com todas as suas ilimitadas
capacidades e aptidões biológicas, dependentes de uma organização social cada vez mais complexa.
O comportamento social é o último nível da inteligência humana, resultado de bases biológicas que,
em termos filogenéticos, foram se diferenciando a partir da experiência no meio.
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FIGURA 17 - Evolução da espécie
Um fato muito relevante que deve ser levado em conta é a memória e a aprendizagem motora.
Alguma aprendizagem motora ocorre no córtex sensório-motor. Karni et al. (1995) realizaram um
experimento no qual os participantes praticaram uma sequência específica de movimentos dos
dedos. Conforme o desempenho melhorava, ocorria aumento da área cortical ativada pelo movimento.
A movimentação dos dedos de acordo com padrão não praticado ativava uma área menor. Desta
forma, os neurônios da área sensório-motora parecem ter formado redes que delineiam padrões
motores específicos.
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Em outro estudo de movimentos sequenciais dos dedos, o aprendizado de um padrão sequencial
de movimento dos dedos ativou a área sensório-motora da mão, a área pré-motora, a área associativa
sensório-motora contralateral e o cerebelo ipsilateral. Conforme progrediu o aprendizado, a atividade
na área somato-associativa diminuiu à medida que os participantes relatavam não estarem mais
usando indícios (pistas) verbais internas para dirigir os movimentos e estes movimentos ficavam
menos dependentes da informação somatossensorial. Enquanto declinava a atividade da área
associativa somatossensorial, a atividade do globo pálido e do putâmen aumentava. Concluiu-se
que os gânglios da base eram críticos para o estabelecimento das memórias motoras (LUNDY-
EKMAN, 2008).
A aprendizagem passa pelo corpo em todo seu processo. É o corpo que realiza a ação e sente
prazer por dominar a ação (FERNÁNDEZ, 1991). O corpo é o mediador entre a informação e a
formação, fixando aquela até que se transforme em memória e possa ser requisitada a qualquer
momento. O mundo exterior (os objetos e os outros) deve primeiro ser agido e experimentado para
que possa ser pensado e conhecido (integrado) posteriormente. A inteligência se encarregará de
coordenar a motricidade (FONSECA; MENDES, 1987).
Sara Paín vê diferenças entre corpo e organismo, propondo que o organismo tem uma função já
codificada e o corpo aprende a função, porém um está vinculado ao outro. Acredita também que a
memória do corpo é diferente da memória do organismo, e ambas se conjugam com as memórias
das inteligências e do desejo na aprendizagem (FERNÁNDEZ, 1991).
Não há aprendizagem que não esteja no corpo, assim como não há imagem enquanto o corpo
não começa a inibir o movimento. É o registro desta inibição o que possibilita separar o pensamento
do momento em que esse movimento vai tornar-se ativo – o movimento é entendido como uma
marca interior (FERNÁNDEZ, 1991). Segundo Piaget, todos os mecanismos cognitivos assentam
na motricidade. Esta é o meio (e o instrumento) facilitador de todas as formas de expressão verbal
e não verbal (FONSECA; MENDES, 1987).
A aprendizagem é um processo e uma função que vai além da aprendizagem escolar e não se
limita à criança (FERNÁNDEZ, 1991). Visto que o indivíduo “em aprendizagem” constitui um processo
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em construção, em um eterno ir e vir, deve ser considerado até a sua morte como um indivíduo apto
a aprender e transformar-se.
A aprendizagem é um processo que ocorre por vínculo e de forma lúdica e sua base é a experiência
corporal. Para que os resultados da aprendizagem se concretizem, o processo é mais importante
que os rendimentos. Deve ser levado em conta principalmente as necessidades, desejos, objetivos e
capacidades dos indivíduos para poder estabelecer formas que possam atender suas expectativas
e motivá-las à aprendizagem e, como consequência, suas transformações.
Em todos os movimentos há contração muscular. Para que seja coordenada, essa contração
deve ser sinérgica, ou seja, os músculos agonistas e antagonistas ao movimento devem atuar
sincronicamente. O agonista, conhecido como motor principal, é o músculo que provoca ou controla
o movimento. O antagonista geralmente se localiza no lado oposto ao agonista e participa do
movimento, controlando-o. Por exemplo: quando o antebraço flete, o bíceps braquial é o agonista
e o tríceps é o antagonista. Isso resulta em um movimento harmônico e coordenado.
SAIBA MAIS
http://www.scielo.br/pdf/rbefe/v25nspe/04.pdf
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A PLASTICIDADE CEREBRAL E O APRENDIZADO MOTOR
A aprendizagem motora ocorre com a participação de todos os níveis do sistema nervoso
central e se caracteriza pela necessidade e desejo de interação com o ambiente, de uma forma
adequada e que possibilite maiores explorações e experiências. A plasticidade nos humanos,
como já foi descrito, envolve mecanismos celulares como o desequilíbrio rápido entre excitação
e inibição, o que depende da região de conexões anatômicas neuronais influenciadas pelo treino
das funções. Há intensificação ou diminuição das sinapses existentes pela potencialização a longo
prazo ou depressão a longo prazo. A alteração na excitabilidade da membrana neuronal predispõe o
aparecimento de novos brotamentos e novas sinapses, promovendo inclusive alterações anatômicas
nos neurônios. A plasticidade ocorre no córtex e além dele, no tálamo e tronco cerebral. (BORELLA;
SACCHELLI, 2009).
O aprendizado motor requer ativação de diversas áreas cerebrais, como a região límbica, a
região têmporo-parieto-occipital e a região do lobo frontal. As informações somatossensoriais
que chegam da periferia participam da construção de engramas relacionados à movimentação
(ANNUNCIATO, 2013).
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e especificação das áreas corticais. É o aprendizado, e não a intensidade, que (re) organiza o córtex,
representando a consolidação das novas sinapses.
Fonte: http://www.sistemanervoso.com/pagina.php?secao=2&materia_id=463&materiaver=1
Segundo Kandel, Schwartz e Jessell (2000), a aprendizagem é o processo por meio do qual
adquirimos conhecimento sobre o mundo e memória é a retenção ou armazenamento desse
conhecimento. Para aprender, portanto, é necessário e fundamental experimentar, e a retenção
precisa de inúmeros processos bioquímicos neurais. O armazenamento da memória é distribuído
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e dependente de várias regiões do encéfalo, embora os processos e tipos de memória tenham
localização específica.
Existem pesquisas que comprovam, por imagem, as alterações plásticas no mapa somatotópico
do córtex motor de humanos adultos em decorrência do aprendizado motor. Os indivíduos cegos
leitores de braille têm maior representação cortical motora do dedo “leitor”. Em pianistas profissionais,
a representação cortical motora da mão é maior e provavelmente definitiva, uma vez que estudos
feitos em leigos demonstraram um aumento dessa área durante o período de treinamento e o retorno
ao tamanho original quando o treino era abandonado (BRASIL NETO, 2004).
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O córtex motor é o último a ser ativado na programação de movimento voluntário do giro pré-
central, antes de o estímulo ser retransmitido ao tronco encefálico e à medula para a execução.
O movimento é produzido por contrações musculares precisas e coordenadas, ativadas pelos
motoneurônios através das inervações musculares.
Diferentes circuitos neuronais participam do controle motor, desde movimentos reflexos até
o planejamento e execução de movimentos voluntários. Esses circuitos vão respectivamente dos
mais simples, que ocorrem em apenas um nível (alça curta), até os mais complexos, que demandam
vários níveis (alça longa). As alças curtas, níveis de controle neuronais mais baixos, promovem
respostas simples e rápidas e corrigem pequenas perturbações no movimento. Por sua vez, as
alças longas, níveis de controle neuronais mais altos, respondem de maneira elaborada e lenta e
corrige perturbações maiores no movimento resultantes de mudanças ambientais ou dificuldade
de execução (CRUZ, 2005).
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fusos neuromusculares consistem em fibras musculares, terminações sensoriais e terminações
motoras sensíveis à variação do comprimento da fibra muscular (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL,
2000; COHEN, 2001; LENT, 2004; LUNDY-EKMAN, 2008).
Esses órgãos sensoriais, conforme suas funções específicas, são responsáveis pelo controle
da contração muscular e pela propriocepção, fundamentais para o controle motor involuntário e
voluntário. A palavra propriocepção deriva do latim proprius (“de si mesmo”), percepção do próprio
corpo e refere-se aos processos sensoriais envolvidos na consciência postural estática e dinâmica
e é frequentemente usada como sinônimo de percepção de movimento (COHEN, 2001).
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planejadoras ou programadoras, regiões corticais que programam o movimento e veiculam aos
ordenadores para transmitir aos músculos (LENT, 2004).
A via descendente corticoespinal é a que parte do córtex motor primário direto para controlar os
neurônios motores dos músculos – especificamente os músculos individuais das mãos e dos dedos.
Após inúmeras repetições desses processos e com o aprendizado da tarefa ocorrem alterações
no padrão de conexões dos sistemas sensoriais e motores participantes desse aprendizado, o que
resulta no mapa somatotópico (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 2000) nas áreas corticais, ou seja,
áreas corticais que correspondem a certas partes do corpo.
Somatotopia, do grego soma (corpo) e tópos (lugar), é o mapa do corpo no cérebro. O mapa
somatotópico atualmente é chamado de homúnculo de Penfield sensitivo e motor. A existência
deles pode ser comprovada através da ressonância magnética funcional. O homúnculo sensitivo
se localiza na área sensitiva, no giro pós central e o homúnculo motor, na área motora, no giro pré-
central (LENT, 2004; MACHADO, 2002). O tamanho da área representativa corresponde à maior ou
menor funcionalidade do segmento.
DESENVOLVIMENTO MOTOR
Vários fatores influenciam o processo e o resultado do desenvolvimento motor de forma isolada ou
em conjunto. Fatores genéticos e ambientais interferem na aquisição, desenvolvimento e refinamento
de padrões e habilidades motoras de maneira complexa. A maturação neuromotora obedece a uma
sequência (cefalocaudal, proximodistal) desde a fase intrauterina e se mantém ao longo da vida e,
na velhice, a “involução motora” ocorre a partir das últimas aquisições. A coordenação motora fina
é dificultada antes dos movimentos dos ombros, por exemplo (GALLAHUE; OZMUN, 2003).
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sistemas sensoriais e vários grupos musculares, mesmo que opostos, participem dos mesmos
movimentos de forma coordenada.
Os sinais neuronais constituem o meio através dos quais sistemas sensoriais e motores se
comunicam no sistema nervoso e possibilitam a execução de tarefas. Os neurônios sensoriais
recebem o estímulo externo e os neurônios motores são a via final comum do sistema nervoso para
execução do movimento. Há uma hierarquia morfológica e funcional no sistema nervoso central que
permite a evolução do controle motor, de reflexo a voluntário (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 2000).
Os movimentos reflexos ocorrem na medula, são iniciados na fase intrauterina e são a forma
mais simples (menos elaborada neurologicamente), porém ela é a estrutura fundamental, pois
participa da execução de todos os movimentos, inclusive os voluntários. Superior a ela na hierarquia
motora é o tronco encefálico, responsável pelos movimentos automáticos ou padrões motores
rítmicos associados aos núcleos da base, que auxiliam na modulação do movimento. Já o córtex
cerebral é a estrutura mais elaborada do sistema nervoso central e aí concentram as estruturas
que permitem o movimento voluntário (MACHADO, 2002). Essas três classes de movimento diferem
em sua complexidade e no grau de controle voluntário.
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FIGURA 20 – Ato reflexo
LEGENDA: Ato reflexo é o nome dado ao movimento que é realizado; arco reflexo é a comunicação, o caminho
que o impulso nervoso percorre desde o estímulo no órgão receptor até o movimento no órgão efetor.
Fonte: http://www.museuescola.ibb.unesp.br/images/1.Movimento_Reflexo_patelar_exp_1.jpg
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CURIOSIDADE
Nascemos já sabendo mamar, o que é importante para a alimentação. O reflexo de sucção e procura
do seio passa a ser voluntário por volta do segundo mês!
Também nascemos quase sabendo andar: o reflexo de marcha; esse logo desaparece. Sabemos
nadar: quando os pés estão em contato com a água, ocorre movimento reflexo dos braços, como se
fosse uma tentativa de nado. Seguramos: reflexo de preensão palmar, entre outros.
http://sonosesonhos.blogspot.com.br/2009/08/reflexos-dos-recem-nascidos.html
Além disso, há também as capacidades motoras globais, que não necessitam de precisão do
movimento, mas apenas coordenação – correr, saltar etc. – e as capacidades motoras finas, que
envolvem o controle de grupos musculares específicos e pequenos que garantem a precisão dos
movimentos e requerem coordenação óculo-manual – escrever, digitar, bordar etc.
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FIGURA 21 – Capacidade, habilidade e potencialidade
As habilidades são atos ou tarefas que refletem uma capacidade de alcançar um resultado com
mínimos erros, gasto energético e tempo. Pode ser aprendida e modificada com a prática. As diversas
habilidades dependem de diferentes subconjuntos de capacidades que, agrupados corretamente,
desempenham uma função (por exemplo, nadar). Podem ser subdivididas em fundamentais ou
específicas. As fundamentais são: deslocamento, manipulação, estabilização e combinadas. As
específicas podem ser entendidas como a utilização das habilidades fundamentais em atividades
mais elaboradas e com regras específicas (GALAHUE; OZMUN, 2003).
Pode ainda ser entendida como uma tarefa com uma finalidade específica a ser atingida e que
normalmente exige movimentos voluntários do corpo e/ou dos membros para atingir o objetivo
e, portanto, precisam ser aprendidas (MAGILL, 2000). Representa, ainda, a capacidade adquirida
através da prática de atingir um objetivo com a máxima certeza em mínimo tempo.
Em resumo:
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• Potencialidade: características modificáveis com a prática que representam o potencial da
pessoa para progredir na tarefa.
Quando se recebe uma informação nova, ela precisa ser estabilizada e consolidada. Essas
etapas são fundamentais para a fixação da memória e necessitam de tempo depois do aprendizado.
A maior parte do processo de consolidação se completa nas primeiras horas após o aprendizado,
mas a estabilização da informação armazenada se estende mais e envolve alterações neuronais
contínuas. A lembrança de algo necessita de reconstrução e adição de alguma informação nova
ao arquivo já formado.
Para que haja a retenção duradoura, são necessárias várias etapas (LENT, 2004):
• Aquisição: entrada de qualquer evento memorizável (objeto, som, acontecimento, emoção etc.)
nos sistemas neuronais ligados à memória.
• Seleção: durante a aquisição deve haver a seleção dos eventos, priorizando detalhes e/ou
importância dos fatos.
• Consolidação: os eventos mais significativos permanecem na memória por longo tempo ou
permanentemente.
• Evocação: também denominada lembrança. Acesso e utilização da informação armazenada.
• Retenção: por curto ou longo prazo, os aspectos selecionados ficam disponíveis para serem
lembrados.
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• Esquecimento: importante para a seleção e priorização dos eventos que devem ser retidos.
Depende do tipo e quantidade de utilização de cada evento.
Experimentos demonstram que as conexões neuronais podem ser hipertrofiadas, originar novas
sinapses ou até regredir para dar lugar a sinapses mais novas através de estímulos repetitivos ou
ativação intensiva, que resulta em crescimento dos potenciais pós-sinápticos excitatórios (EPSPs),
facilitando a transmissão das informações entre os neurônios. Se as sinapses se modificam em
resposta à ativação intensiva, elas podem ser responsáveis pelos fenômenos da aprendizagem e
memória (ECCLES, 1979).
O conteúdo emocional das memórias também afeta a maneira como estas são armazenadas e,
portanto, a sua evocação, a facilidade com que são lembradas e a sua retenção. A emoção melhora
a memória declarativa através de circuitos na amígdala. O humor e a motivação também interferem
na retenção e evocação da memória.
FIGURA 22 – Esquecimento
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O esquecimento é um processo fisiológico normal no processo de retenção, prevenindo a
sobrecarga dos sistemas cerebrais e permitindo a filtragem dos aspectos mais relevantes da
informação. Contudo, também há o esquecimento patológico (LENT, 2004). O esquecimento
fisiológico é adaptativo, na medida em que são retidas apenas informações relevantes para agir
sobre o ambiente (PERGHER; STEIN, 2003).
Segundo Pergher e Stein (2003) há várias teorias que explicam o esquecimento, a principal delas
é a teoria da deterioração, que acusa o desaparecimento dos traços da memória. Há também a
teoria da falha na recuperação e a teoria dos esquemas, dificuldade ou impossibilidade de acesso
a informações já armazenadas. Ainda temos a teoria da interferência, que atualmente embasa as
teorias do esquecimento e pode ocorrer em ambos os grupos anteriores, dependendo do período
do seu aparecimento.
A teoria da deterioração, demonstrada por Ebbinghaus, no final do século 19, demonstra que o
esquecimento ocorre em grande parte nos momentos iniciais da aprendizagem. Estudos posteriores
afirmam que há variações discretas nesse período conforme as informações. Conforme essa teoria,
com a passagem do tempo as memórias se enfraquecem até desaparecerem completamente. Esse
processo é diretamente proporcional ao uso, o que reforça e favorece as novas conexões sinápticas,
diminuindo a possibilidade de deterioração. Essa teoria é amplamente aceita, porém alguns estudos
não concordem completamente com ela, principalmente com a evolução dos estudos da memória
e formas de estimulá-la.
A falha na recuperação é outra teoria proposta que considera que as informações não são
“apagadas” da memória, mas pode ocorrer uma falha no acesso a elas. Várias pesquisas foram
empreendidas a fim de comprovar essa teoria e constatou-se que pode sim haver falhas na recuperação
da memória. Os motivos são simples: desde estresse até falta de estratégias no momento da
recuperação (por exemplo, quando se solicita a recordação de uma lista de “coisas”, é interessante
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que se agrupe essas “coisas” conforme suas espécies para facilitar a recuperação). Também sabe-
se que uma informação com mais significância emocional possui maior possibilidade de retenção
e de recuperação quando solicitada.
Ainda segundo Pergher e Stein (2003), a teoria da interferência refere-se à influência de uma
memória sobre a outra, da facilidade de recuperar as informações mais antigas. Essa teoria não
considera o efeito corrosivo do tempo, e sim a sequência dos eventos mais atuais ou mais antigos
e as informações entre esses períodos.
ATIVIDADE REFLEXIVA
https://novaescola.org.br/conteudo/217/neurociencia-aprendizagem
http://www.neuroeducacao.com.br/neuroeducacao.asp
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando se estuda sobre aprendizagem, é imprescindível a curiosidade pelo processo e como
ocorre. A aprendizagem é descrita de várias formas. Os estágios, as aquisições específicas, a
necessidade de maturidade e de controle físico e emocional respondem ao que acontece (como
acontecem os “resultados”), mas a plasticidade neuronal pode ser a explicação do que ocorre
bioquímica e neurofisiologicamente para que o encéfalo se modifique e possa se afirmar que a
aprendizagem foi consolidada.
GLOSSÁRIO
• Denervação: desaparecimento de alguns botões axonais. É uma das alterações patológicas
mais comuns em músculo. Decorre da perda do axônio motor, ou de todo o motoneurônio.
• Desenvolvimento ontogenético: corresponde ao conjunto de transformações que ocorrem em
um organismo, desde que se forma o zigoto, passando por todas as fases embrionárias, até
que se complete a sua formação.
• Disartria: distúrbio da articulação da fala (dificuldade na produção de fonemas) que resulta
de uma lesão cortical ou de uma lesão periférica (paralisia dos órgãos de fonação).
• Epigenéticos: a epigenética é um termo usado na biologia para se referir a características de
organismos unicelulares e multicelulares (como as modificações de cromatina e DNA) que
são estáveis ao longo de diversas divisões celulares mas que não envolvem mudanças na
sequência de DNA do organismo.
• Espinhas (ou espículas) dendríticas: são pequenas saliências (espinhos) que ficam ao longo
dos axônios e dos dendritos.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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aprendizagem. Campinas, 2013. Apostila preparada para o curso “Neuroplasticidade e aprendizagem
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4-6 out. 2013).
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