Rejub Ano2 Eletronica
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Revisão Bibliográfica
Gabriela Breder Lopes
Karoline dos Santos Rodrigues
Revisão Ortográfica
Luciana Silva Cantanhede Lobo
Mariana Ribeiro Reino da Silva
Projeto Gráfico
Wanderson Oliveira dos Reis
Diagramação
Wanderson Oliveira dos Reis
Créditos Institucionais
Biblioteca Ministro Oscar Saraiva - SED/STJ
Seção de Serviços Gráficos - SAD/CJF
Tiragem
150 exemplares
Distribuição gratuita
Impressa em 2022
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Semestral.
Disponível em: https://revistadaenfam.emnuvens.com.br/renfam/index
ISSN 2764-2704. eISSN 2764-3484.
CDU 340(81)(05)
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Roberta Penha e Silva Marins CRB
1/2436
APRESENTAÇÃO
A Comissão de Seleção
RESUMO
ABSTRACT
Recebido: 14-3-2022
Aprovado: 28-4-2022
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
1
Sigla em língua inglesa para United Nations Office on Drugs and Crime.
2
Tradução livre. Texto original: “Only interventions at the scale of the problem –
global – are likely to have a sustained effect” (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS
AND CRIME, c2010, p. v).
3
Sigla em língua inglesa para International Consortium of Investigative Journalists.
4
Tradução livre. Texto original: Corporate Transparency Act.
5
“Art. 37. Liberdade de expressão e informação
1. Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra,
pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se
informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações.
2. O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou
forma de censura.
3. As infrações cometidas no exercício destes direitos ficam submetidas aos princípios
gerais de Direito Criminal ou do ilícito de mera ordenação social, sendo a sua
apreciação respetivamente da competência dos tribunais judiciais ou de entidade
administrativa independente, nos termos da lei.
4. A todas as pessoas, singulares ou coletivas, é assegurado, em condições de igualdade
e eficácia, o direito de resposta e de retificação, bem como o direito a indemnização
pelos danos sofridos.
Art. 38. Liberdade de imprensa e meios de comunicação social
1. É garantida a liberdade de imprensa.
2. A liberdade de imprensa implica:
a) A liberdade de expressão e criação dos jornalistas e colaboradores, bem como
a intervenção dos primeiros na orientação editorial dos respetivos órgãos de
comunicação social, salvo quando tiverem natureza doutrinária ou confessional;
b) O direito dos jornalistas, nos termos da lei, ao acesso às fontes de informação e à
proteção da independência e do sigilo profissionais, bem como o direito de elegerem
conselhos de redação;
c) O direito de fundação de jornais e de quaisquer outras publicações,
independentemente de autorização administrativa, caução ou habilitação prévias.
3. A lei assegura, com carácter genérico, a divulgação da titularidade e dos meios de
financiamento dos órgãos de comunicação social.
4. O Estado assegura a liberdade e a independência dos órgãos de comunicação social
perante o poder político e o poder econômico, impondo o princípio da especialidade
das empresas titulares de órgãos de informação geral, tratando-as e apoiando-as de
forma não discriminatória e impedindo a sua concentração, designadamente através
de participações múltiplas ou cruzadas.
5. O Estado assegura a existência e o funcionamento de um serviço público de rádio
e de televisão.
6. A estrutura e o funcionamento dos meios de comunicação social do setor público
devem salvaguardar a sua independência perante o governo, a administração e
os demais poderes públicos, bem como assegurar a possibilidade de expressão e
confronto das diversas correntes de opinião.
7. As estações emissoras de radiodifusão e de radiotelevisão só podem funcionar
mediante licença, a conferir por concurso público, nos termos da lei.” (PORTUGAL,
2005).
6
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
[...]
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte,
quando necessário ao exercício profissional;
[...]
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei,
sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado;” (BRASIL, 1988).
7
“Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, só
poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas:
[...]
III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações,
à prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na
forma da lei;” (BRASIL, 1988).
8
“Art. 10. 1. Qualquer pessoa tem direito à liberdade de expressão. Este direito compreende
a liberdade de opinião e a liberdade de receber ou de transmitir informações ou ideias
sem que possa haver ingerência de quaisquer autoridades públicas e sem considerações
de fronteiras. O presente artigo não impede que os estados submetam as empresas de
radiodifusão, de cinematografia ou de televisão a um regime de autorização prévia.
2. O exercício desta liberdade, porquanto implica deveres e responsabilidades, pode
ser submetido a certas formalidades, condições, restrições ou sanções, previstas pela
lei, que constituam providências necessárias, numa sociedade democrática, para a
segurança nacional, a integridade territorial ou a segurança pública, a defesa da ordem
e a prevenção do crime, a proteção da saúde ou da moral, a proteção da honra ou dos
direitos de outrem, para impedir a divulgação de informações confidenciais, ou para
garantir a autoridade e a imparcialidade do poder judicial.” (CONVENÇÃO EUROPEIA
DOS DIREITOS DO HOMEM, 2020).
9
Por exemplo, nos Estados Unidos, o relatório pertinente à aplicação da Lei de
Conformidade Tributária de Contas Estrangeiras – Fatca de 2016, na perspectiva dos
efeitos do caso Panama Papers, aponta: (i) a formulação de acordo de não persecução
penal com 80 bancos suíços, como contrapartida do pagamento de U$250 milhões
em penalidades, da abertura de informações, do engajamento na cooperação na
requisição de informações e do compromisso de fechamento de contas dos que não
se adequarem às regras americanas de compliance financeiro; (ii) o número recorde de
americanos regularizando suas obrigações de transparência financeira e fiscal; e (iii) o
número recorde de americanos renunciando sua cidadania com o propósito de escapar
ao controle fiscal dos Estados Unidos, dentre outras medidas (BURTON, 2016, p. 21-26).
Na Nova Zelândia, as modificações legislativas editadas em 21 de fevereiro de 2017,
baseadas no relatório do especialista John Shewan, reverteram a condição de paraíso
fiscal atribuída ao país desde a reforma legislativa liberalizante de 1988, conduzindo a
padrões mais rígidos de transparência e controle financeiros, mesmo ao custo previsto
de evasão de capitais (LITTLEWOOD, 2017, p. 59-90).
10
Como exemplos, Trautman (2017, p. 859) menciona a atuação do ativista anticorrupção
russo Alexey Navalny, ao postar suas suspeitas de superfaturamento na compra de gás
pela estatal russa de petróleo, posteriormente confirmada por investigação oficial; ou o
site indiano IPaidABribe.com, que, nos primeiros seis meses de operação, recebeu mais
de cinco mil relatos de pagamento de propina.
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BURTON, Brian D. FATCA 2016 update: the Panama papers and beyond.
Taxes The Tax Magazine, Chicago, v. 94, n. 7, p. 21-26, July 2016.
RESUMO
ABSTRACT
Recebido: 14-3-2022
Aprovado: 28-4-2022
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
1
O artigo não tem por objeto o delito de corrupção ativa (CP, art. 333) (BRASIL, 1940),
na medida em que se concorda com a assertiva de Brandão (2021a, p. 902), para quem
“a corrupção ativa é, por definição, insuscetível de gerar vantagens aptas a serem
lavadas. Nesta modalidade de corrupção, o corruptor abre mão do bem que forma
o suborno, pelo que, como é óbvio, deixa essa vantagem de poder ser lavada em seu
benefício”.
2
A Convenção contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas,
de 1988 (CONVENTION DES NATIONS UNIES CONTRE LE TRAFIC ILLICITE DE
STUPÉFIANTS ET DE SUBSTANCES PSYCHOTROPES, [20--]), previu que os estados-
partes deveriam adotar as medidas necessárias para caracterizar como delitos penais
em seu Direito interno, quando cometidos internacionalmente, atos de conversão,
transferência, ocultação ou encobrimento da origem ilícita de bens oriundos do tráfico
de drogas (art. 3°, § 1°, b, incisos I e II).
3
Art. 6°, § 1°, a, incisos I e II. No Brasil, a Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Organizado Transnacional foi aprovada por meio do Decreto Legislativo n. 231/2003
(BRASIL, 2003) e promulgada pelo Decreto n. 5.015/2004 (BRASIL, 2004).
4
Art. 211 do CP. “Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele: Pena – reclusão, de
um a três anos, e multa” (BRASIL, 1940).
5
Art. 2º da Lei n. 12.850/2013. [...] “§ 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de
qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização
criminosa.” (BRASIL, 2013a).
6
Art. 1º da Lei n. 9.613/1998. “Ocultar ou dissimular natureza, origem, localização,
disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes,
direta ou indiretamente, de infração penal.” (BRASIL, 1998).
7
Na Alemanha, por exemplo, a autolavagem, embora tenha passado a ser punível mais
recentemente, restringe-se aos casos em que o autor ou partícipe da infração penal
antecedente que “inserir o objeto em circulação no mercado e, assim, ocultar a sua
origem ilícita” (§ 261, 7, do Código Penal). (DEUTSCHLAND, [20--]). Na Itália, desde 2015
o Código Penal pune a autolavagem, com sanções mais brandas do que para a lavagem
em geral, somente de quem emprega o produto do ilícito em atividades econômicas,
financeiras, empresariais ou especulativas, “de modo a dificultar concretamente a
identificação da sua origem criminosa” (art. 648-ter.1, do Código Penal). (DEI DELITTI...,
2022).
8
Nesse sentido, a Diretiva (UE) n. 2018/1673 (UNIÃO EUROPEIA, 2018) impõe aos
estados europeus que criminalizem a autolavagem (art. 3°, 5).
9
Sobre as teorias acerca do bem jurídico tutelado na Lei n. 9.613/1998, posicionando-se
pelo reconhecimento da administração da Justiça como objeto de proteção do tipo
penal da lavagem de dinheiro, cf. (BADARÓ; BOTTINI, 2016, p. 79-95).
10
Novamente, vale citar a ementa do acórdão prolatado na Ação Penal n. 470: “A Lei de
Lavagem de Dinheiro (Lei n. 9.613/1998), ao prever a conduta delituosa descrita no
seu art. 1º, teve entre suas finalidades o objetivo de impedir que se obtivesse proveito
a partir de recursos oriundos de crimes, como, no caso concreto, os crimes contra a
administração pública e o sistema financeiro nacional.” (BRASIL, 2013b).
11
Conforme Horta e Teixeira (2019, p. 18), “nota-se na política de repressão à lavagem
de capitais uma orientação cada vez mais acentuada para coibi-la por seu desvalor
intrínseco: pela dificuldade que a lavagem opõe à apreensão, ao sequestro, ao arresto,
ao perdimento e à recuperação de ativos criminalmente obtidos, bem como pela
disponibilidade que ela confere, dos ativos provenientes de crimes, aos seus autores ou
partícipes, consolidando suas vantagens econômicas ilícitas”.
(art. 260, CPP) (BRASIL, 1941) e confisco (art. 91, inciso II, b, do CPP)
(BRASIL, 1940) do produto, direto ou indireto, da infração penal
antecedente12.
12
Em sentido semelhante, sustenta Caeiro (2018, p. 287) que “o branqueamento é um
crime de média gravidade contra a administração da Justiça, na medida em que pode
impedir ou dificultar significativamente (crime de perigo abstrato) a detecção e o
confisco das vantagens provenientes de crimes graves e a perseguição/punição dos
respectivos agentes”.
13
No mesmo sentido, cf. o Acordo Plenário n. 7-2011/CJ-116, da Corte Suprema de Justiça
do Peru (PERU, 2012), em que se exemplifica essa possibilidade com o recebimento
de valores pela futura venda de armas que, antes de sua efetivação, é utilizado para a
aquisição de aeronaves, barcos e veículos registrados como de uso recreativo.
14
Em sentido próximo, García Cavero (2015, p. 109) defende que “activos procedentes
de un delito pueden ser también aquellos beneficios o ganancias que se reciben por
un delito que aún no se ejecuta (como adelantos o pagos parciales). Pese a la falta de
execución del delito previo, la generación de los activos maculados ya tuvo lugar y, por
lo tanto, dichos activos son desde ya pasibles de ser lavados”.
15
Sem referir ao início da execução, outros autores tratam a infração penal subjacente
(rectius, um fato ilícito típico, posto que não necessariamente culpável ou punível)
como condição objetiva de punibilidade da lavagem – nesse sentido, cf. (MENDES;
REIS; MIRANDA, 2008, p. 801).
16
A partir da Lei n. 13.968/2019 o delito deixa de exigir que haja lesão à vítima,
havendo punibilidade desde a indução, instigação ou auxílio material ao suicídio ou à
automutilação – embora a ocorrência de lesão corporal de natureza grave ou gravíssima
e morte configurem qualificadoras (art. 122, §§ 1° e 2°, do CP) (BRASIL, 1940).
17
Art. 317 do CP. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,
ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida,
ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e
multa (BRASIL, 1940).
18
Art. 69. “Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de
liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão
e de detenção, executa-se primeiro aquela.” (BRASIL, 1940).
19
Art. 70. “Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais,
somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As
penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os
crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo
anterior.” (BRASIL, 1940).
20
Esse é o fundamento do Enunciado n. 17 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça:
“Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este
absorvido” (BRASIL, 1990).
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
RESUMO
ReJuB
68 - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 69-107, jan./jul. 2022.
UTILIZAÇÃO DE DADOS PESSOAIS NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO:
LIMITES E POSSIBILIDADES DE TÉCNICAS ESPECIAIS DE INVESTIGAÇÃO EM MEIO DIGITAL
ABSTRACT
Recebido: 7-3-2022
Aprovado: 28-4-2022
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
1
Nesse sentido, Shaw e Kemp (2015, p. 345-348) propõem a reestruturação do sistema
multilateral de resposta ao crime organizado, em cinco etapas principais: a criação de
um escritório das Nações Unidas para a Justiça, incrementando a liderança e não apenas
a coordenação entre os países; o redirecionamento de algumas abordagens atuais que
mesclam questões de saúde e justiça como uma coisa só; uma nova implementação da
Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional; o investimento
em performance analítica no combate ao crime organizado e sua vinculação com os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS; além do aprimoramento do sistema
global pelo fortalecimento dos sistemas regionais.
2
É o que ocorre com a ascensão de modelos de tipificação de crimes de perigo abstrato
e delitos de acumulação, por exemplo, decorrentes de uma sociedade do risco descrita
por Beck (2002) com reflexos penais e processuais penais de relevo (BOTTINI, 2011,
p. 119). Nesse contexto, o “perigo deixa o campo do subjetivo e passa a ostentar uma
realidade objetiva, preenchida probabilidade fática da ocorrência da lesão ou do dano
que se quer evitar” (BOTTINI, 2019, p. 23). Ainda, Hassemer (1999, p. 22) descreve
algumas novidades do que chama de “moderno Direito Penal”.
3
Empoli (2020, p. 84) também indica como a irrupção de novas mídias e suas ferramentas
de personalização contribuem para a construção de um caos político e social. O autor
analisa o contexto de diferentes países europeus, como a Itália, no âmbito da qual cita
o exemplo do Movimento 5 Estrelas (MoVimento 5 Stelle).
4
No cenário brasileiro, um retrato exemplificativo da utilização dessas ferramentas, seus
reflexos diretos no processo eleitoral e suas ameaças potenciais para a democracia
pode ser encontrado em Mello (2020).
5
Cita-se com destaque a decisão do Tribunal Europeu por sua relevância internacional
e pela consolidação que representa na afirmação do direito fundamental à proteção
dos dados pessoais. Não se tratou, porém, da primeira vez que uma corte se dedicou
ao tema. Pode-se citar, por exemplo, paradigmático caso julgado em 1983 pelo Tribunal
Constitucional Federal Alemão, no qual se falava em uma “autodeterminação sobre a
informação”. O caso (BVerfGE 65, 1 – Volkszählung) dizia respeito à lei de 1982 que
determinava a realização de recenseamento da população, a partir da coleta de dados
como a profissão, o domicílio e o local de trabalho. Na ocasião, o tribunal assentou
a constitucionalidade da lei, mas reconheceu a invalidade de alguns dispositivos,
estabelecendo restrições sobre a comparação, a troca e a transmissão de dados em
algumas situações. Ali, falava-se na necessidade de “uma proteção especialmente
intensa” sobre o processamento de dados pessoais. Em suas razões, a corte assentou que
“O livre desenvolvimento da personalidade pressupõe, sob as modernas condições do
processamento de dados, a proteção do indivíduo contra levantamento, armazenagem,
uso e transmissão irrestritos de seus dados pessoais. [...] O direito fundamental garante
o poder do cidadão de determinar em princípio ele mesmo sobre a exibição e o uso de
seus dados pessoais.” (MARTINS, 2005, p. 238).
6
O ato normativo não foi o primeiro, no âmbito do Direito Comunitário europeu,
a tratar do tema, colocando-se em uma sequência de outras disposições sobre a
proteção de dados e informações pessoais nas ações de coleta, tratamento, tráfego e
armazenamento, como as Diretivas n. 1995/46/CE e n. 2002/58/CE.
7
Na legislação brasileira, também se destaca o Marco Civil da Internet, Lei n. 12.965/2014,
que estabelece a internet como ambiente essencial ao exercício da cidadania, garantindo
a seus usuários a “inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”; “a inviolabilidade
e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma
da lei”; e “a inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas, salvo
por ordem judicial” (art. 7º, I, II e III) (BRASIL, 2014a).
8
RMS 60.698 (BRASIL, 2020a), RMS 61.302 (BRASIL, 2020b) e RMS 62.143 (BRASIL,
2020c), todos de relatoria do Ministro Rogerio Schietti, julgados pela Terceira Seção do
STJ em 26 de agosto de 2020.
9
Os parâmetros adotados foram os seguintes: “Marielle Franco”, “Vereadora Marielle”,
“Agenda Vereadora Marielle”, “Casa das Pretas”, “Rua dos Inválidos, 122” ou “Rua dos
Inválidos”.
10
Cita-se o caso de Robert Kelly e Michael Williams, este último identificado como suspeito
pela possível prática de um incêndio criminoso a um carro, a partir de protocolos de
internet utilizados para buscas do endereço da vítima no dia do crime e na véspera
(ARAS, 2020a).
11
Com efeito, o Direito brasileiro comporta diferentes níveis protetivos conforme a maior ou
menor intromissão nos dados pessoais, relativamente ao próprio conteúdo da comunicação
em si, seus dados de armazenamento ou mesmo dados cadastrais propriamente ditos
(MOURA; BARBOSA, 2020, p. 478). Nesse sentido, destaca-se recente decisão do STJ
de que o mero requerimento, para que a guarda dos registros de acesso a aplicações
de internet ou registros de conexão se dê por prazo superior ao legal, pode ser feito
diretamente pela autoridade policial ou pelo Ministério Público, sem autorização judicial
prévia, visto que a medida não traduz acesso aos dados armazenados (BRASIL, 2022).
12
Vladimir Aras lembra o caso de Nicky Verstappen, garoto holandês de 11 anos morto
em 1988 durante um acampamento de verão (ARAS, 2020b). A solução do caso só
foi possível em 2008, após a realização de mais de 16 mil testes de DNA dentre os
homens da região, que atenderam voluntariamente ao chamado da polícia. A busca
permitiu restringir, mediante os traços genéticos que indicavam parentesco, o foco
da investigação, até que se encontrasse, mediante busca e apreensão judicialmente
autorizada na casa de um investigado, uma amostra 100% compatível com o material
genético que havia sido encontrado nas roupas da vítima.
13
Nesse ponto, destaca-se trecho do voto proferido pelo ministro relator: “Quanto à
proporcionalidade da quebra de dados informáticos, ela é adequada, na medida em
que serve como mais um instrumento que pode auxiliar na elucidação dos delitos, cuja
investigação se arrasta por mais de dois anos, sem que haja uma conclusão definitiva;
é necessária, diante da complexidade do caso e da não evidência de outros meios não
gravosos para se alcançarem os legítimos fins investigativos; e, por fim, é proporcional
em sentido estrito, porque a restrição a direitos fundamentais que dela redundam –
tendo como finalidade a apuração de crimes dolosos contra a vida, de repercussão
internacional – não enseja gravame às pessoas eventualmente afetadas, as quais não
terão seu sigilo de dados registrais publicizados, os quais, se não constatada sua
conexão com o fato investigado, serão descartados.” (BRASIL, 2020c).
14
Sobre o ponto, destacam-se os arts. 22 e 23 da Lei n. 12.965/2014.
15
Os crimes indicados pelo art. 13-A do Código de Processo Penal são: sequestro e
cárcere privado; redução à condição análoga à de escravo; tráfico de pessoas; extorsão
mediante restrição de liberdade da vítima; extorsão mediante sequestro e tráfico
internacional de crianças.
similares nas leis que tratam do crime de lavagem de capitais (art. 17-B
da Lei n. 9.613/1998) e das organizações criminosas (art. 15 da Lei
n. 12.850/2013).
16
Podem ser citados, nesse sentido, a Convenção de Palermo (Convenção das Nações
Unidas contra o Crime Organizado Transnacional), como principal documento
internacional destinado ao tema, promulgado internamente no Brasil pelo Decreto
n. 5.015/2004. Seus protocolos adicionais versam sobre o Combate ao Tráfico de
Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea; a Prevenção, Repressão e Punição
do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças; e a Fabricação e o Tráfico
Ilícito de Armas de Fogo, suas Peças, Componentes e Munições; os quais foram
também promulgados no Brasil (Decretos n. 5.016/2004, 5.017/2004 e 5.941/2006,
respectivamente). Ainda, surgem como documentos internacionais relevantes
sobre o tema a Convenção de Viena de 1988 (Convenção contra o Tráfico Ilícito de
Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas), promulgada pelo Decreto n. 154/1991 e a
Convenção de Mérida (Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção), promulgada
pelo Decreto n. 5.687/2006. Por fim, a Convenção de Budapeste (Convenção sobre o
Crime Cibernético), cuja adesão pelo Brasil se deu em dezembro de 2021, pelo Decreto
Legislativo n. 37 daquele ano.
17
ADC n. 51, rel. Min. Gilmar Mendes. Na ação, requer-se a confirmação da constitucionalidade
do Decreto n. 3.810/2001, além do artigo 237, II, do Código de Processo Civil, e dos
arts. 780 e 783 do Código de Processo Penal (que versam sobre o cumprimento de cartas
rogatórias e a cooperação jurídica internacional). Discute-se, na ação, se a mencionada
requisição direta de dados de comunicação contrariaria esses dispositivos. A entidade
autora (Federação das Associações das Empresas de Tecnologia da Informação)
argumenta que apenas por meio da expedição de carta rogatória ou pelo cumprimento
estrito dos instrumentos previstos pelo MLAT (solicitação pelo Ministério da Justiça
brasileiro ao Department of Justice – DOJ norte-americano) é que esses dados poderiam
ser acessados por autoridades judiciais brasileiras. A discussão ainda envolve reflexos da
legislação interna estadunidense (Stored Communications Act e Cloud Act), relativamente
à necessidade ou não de prévia decisão judicial interna para o envio dos dados pessoais
solicitados. A corte realizou audiência pública para discussão do tema em 10 de fevereiro
de 2020 e o julgamento do caso está agendado para 11 de maio de 2022.
18
O escândalo deriva do vazamento de milhões de documentos do escritório Mossak
Fonseca (sediado no Panamá), enviados anonimamente a um jornal alemão e
compartilhados com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos – Icij.
Os arquivos relevavam um amplo esquema organizado de remessa oculta de valores
bilionários a empresas de fachada sediadas em paraísos fiscais e relacionadas a diversos
políticos de relevo e celebridades internacionais. A divulgação, iniciada em abril de 2016,
despertou interesse em autoridades investigativas de diversos países, que passaram a
buscar acesso a esses documentos.
19
De forma semelhante, o caso deriva de investigações jornalísticas que partiram
do vazamento de dados apropriados por um ex-funcionário de um relevante banco
europeu, os quais revelariam um organizado esquema de evasão fiscal e alocação de
recursos financeiros no exterior. O caso eclodiu em fevereiro de 2015, provocando
também amplo interesse penal em sua investigação.
20
Nesse sentido, cite-se a conhecida Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa,
promovida pela organização Repórteres Sem Fronteiras. No ranking de 2022, o Brasil
ocupa a 110ª posição, dentre os 180 países integrantes do estudo (REPÓRTERES SEM
FRONTEIRAS, 2022).
21
Registra-se que, na ocasião, o Ministro Edson Fachin proferiu voto divergente no sentido
de que a possível alteração mencionada não representaria impactos à confiabilidade ou
à autenticidade dos meios de prova, tendo em vista que todo o seu conteúdo havia sido
disponibilizado à defesa dos investigados tal como colhidos na interceptação. Segundo
a distinção que ali se fez, se havia dúvidas quanto à transcrição realizada, inexistiam
suspeitas sobre o conteúdo propriamente dito.
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
100 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 69-107, jan./jul. 2022.
UTILIZAÇÃO DE DADOS PESSOAIS NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO:
LIMITES E POSSIBILIDADES DE TÉCNICAS ESPECIAIS DE INVESTIGAÇÃO EM MEIO DIGITAL
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 69-107, jan./jul. 2022. 101
ABHNER YOUSSIF MOTA ARABI
102 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 69-107, jan./jul. 2022.
UTILIZAÇÃO DE DADOS PESSOAIS NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO:
LIMITES E POSSIBILIDADES DE TÉCNICAS ESPECIAIS DE INVESTIGAÇÃO EM MEIO DIGITAL
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 69-107, jan./jul. 2022. 103
ABHNER YOUSSIF MOTA ARABI
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 5. ed. rev. atual.
Salvador: Juspodivm, 2017.
104 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 69-107, jan./jul. 2022.
UTILIZAÇÃO DE DADOS PESSOAIS NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO:
LIMITES E POSSIBILIDADES DE TÉCNICAS ESPECIAIS DE INVESTIGAÇÃO EM MEIO DIGITAL
TARUFFO, Michele. ldee per una teoria della decisione giusta. Rivista
Trimestrale di Diritto e Procedura Civile, v. 51, n. 2, p. 315-328, 1997.
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 69-107, jan./jul. 2022. 105
ABHNER YOUSSIF MOTA ARABI
106 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 69-107, jan./jul. 2022.
https://doi.org/10.54795/rejub.n.1.181
RESUMO
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 109-143, jan./jul. 2022. 107
CARLOS HENRIQUE BORLIDO HADDAD
ABSTRACT
Recebido: 14-3-2022
Aprovado: 28-4-2022
108 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 109-143, jan./jul. 2022
TRÁFICO DE MULHERES DO BRASIL À ITÁLIA PARA EXPLORAÇÃO SEXUAL
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
Tier 21.
1
Nível 2
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CARLOS HENRIQUE BORLIDO HADDAD
2
Há também a preocupação de que os relatórios estejam sendo politizados pelos
Estados Unidos, classificando os países com base no fato de serem ou não aliados, pelo
menos até certo ponto. Por exemplo, o relatório TIP de 2004 promoveu a Indonésia,
que é um aliado na guerra contra o terrorismo, do Nível 3 para o Nível 2, e rebaixou a
Venezuela, com quem os Estados Unidos têm relações tensas, do Nível 2 para o Nível
3, apesar de nenhuma mudança ter ocorrido nas práticas dos dois países. Vide Chuang
(2006, p. 482).
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TRÁFICO DE MULHERES DO BRASIL À ITÁLIA PARA EXPLORAÇÃO SEXUAL
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CARLOS HENRIQUE BORLIDO HADDAD
2 MARCO LEGAL
Uma razão pela qual tem sido difícil medir o tráfico de pessoas
é porque, até o início do século, havia pouca concordância sobre
como defini-lo. No começo da década de 1990, o tráfico era visto
principalmente como forma de contrabando de pessoas e tipo de
migração ilegal (LACZKO; GRAMEGNA, 2003, p. 180). O Protocolo de
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TRÁFICO DE MULHERES DO BRASIL À ITÁLIA PARA EXPLORAÇÃO SEXUAL
3
O Protocolo de Palermo, como a Convenção sobre Crimes Transnacionais da qual faz
parte, foi inegavelmente bem-sucedido em obter acordos entre países do Norte e
do Sul, do Primeiro ao Terceiro Mundo, da demanda, oferta e países de trânsito. Vide
Nelken (2010, p. 481).
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CARLOS HENRIQUE BORLIDO HADDAD
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CARLOS HENRIQUE BORLIDO HADDAD
4
A implementação do programa de assistência foi dada pelo D.P.R. 19 de setembro de
2005, n. 237 (ITALIA, 2005).
116 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 109-143, jan./jul. 2022
TRÁFICO DE MULHERES DO BRASIL À ITÁLIA PARA EXPLORAÇÃO SEXUAL
A Itália foi um dos países que levou mais tempo na Europa antes
de se adequar às diretrizes da União Europeia ou internacionais em
matéria de tráfico de pessoas (NELKEN, 2008, p. 299). Da mesma
forma, segundo Nelken (2008), chegando mais especificamente ao
tipo de proteção legal prevista pelo Protocolo de Palermo (UNITED
NATIONS CONVENTION AGAINST TRANSNATIONAL ORGANIZED
CRIME, 2004), o sistema de justiça criminal da Itália não é muito
vitimista-orientado, e seu movimento de apoio às vítimas não é tão
bem desenvolvido quanto o de outros países ocidentais. Em parte,
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TRÁFICO DE MULHERES DO BRASIL À ITÁLIA PARA EXPLORAÇÃO SEXUAL
5
A lista foi elaborada para produção do Relatório da Pesquisa de Avaliação de
Necessidades sobre o tráfico internacional de pessoas e crimes correlatos: mapeamento
de processos criminais, ainda não publicado. O relatório está inserido no Projeto
Fortalecimento das capacidades do sistema de Justiça para prevenir e julgar casos de
tráfico de pessoas e crimes relacionados no Brasil - executado pela OIM, em parceria
com CNJ, TRF3, Emag TRF3 e Ajufe.
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6
Do total de 144 ações penais, Espanha e Portugal estão na frente da Itália entre os três
países de destino preferencial das vítimas de tráfico sexual.
7
Fazem parte da base de dados as seguintes ações penais – AP: AP 010938-
84.2006.4.02.5001/ES; AP 0000743-68.2008.4.03.6124/SP; AP 0000754-98.2008.4.02.5001/
ES; AP 0004344-98.2001.4.01.3500/GO; AP 0001703-58.2007.4.03.6124/SP; AP 0016184-
56.2009.4.02.5001/ES; AP 0008164-81.2006.4.02.5001/ES; AP 0000063-10.2016.4.05.8400/RN;
AP 201050010005676/ES; AP 0022654-68.2004.4.01.3300/BA; AP 0018120-29.2005.4.01.3500/
GO; AP 0001749-77.2009.4.02.5001/ES; e AP 0015311-15.2000.4.01.3800/MG.
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PROCESSOS
ANO CONDENAÇÕES VÍTIMAS
CRIMINAIS
2013 9.460 5.776 44.758
2014 10.051 4.443 44.462
2015 19.127 6.615 77.823
2016 14.939 9.072 68.453
2017 17.471 7.135 96.960
2018 11.096 7.481 85.613
2019 11.841 9.548 118.932
2020 9.876 5.271 109.216
Fonte: Trafficking in Persons Report (2021)
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Média Mediana
Art. 231 do 47,42 meses 48 meses
CP
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CARLOS HENRIQUE BORLIDO HADDAD
8
A média da duração total das ações penais não equivale à soma das médias dos prazos
parciais, porque diferentes processos compuseram o cálculo de cada um dos lapsos
temporais. Mas o valor total encontrado, baseado em dados de nove processos, não
difere muito do apurado para os 144 processos do Relatório da Pesquisa de Avaliação
de Necessidades sobre o tráfico internacional de pessoas e crimes correlatos:
mapeamento de processos criminais, ainda não publicado. Neste caso, o prazo médio
foi de 3.966 dias.
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5 CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
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CARLOS HENRIQUE BORLIDO HADDAD
138 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 109-143, jan./jul. 2022
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https://doi.org/10.54795/rejub.n.1.182
O “HOMEM DE CONFIANÇA” NO
ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO
TRUSTED MAN IN OPERATIONS AGAINST
ORGANIZED CRIME
RESUMO
ReJuB
142 - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 145-176, jan./jul. 2022.
O HOMEM DE CONFIANÇA NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO
ABSTRACT
Recebido: 14-3-2022
Aprovado: 28-4-2022
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 145-176, jan./jul. 2022. 143
DANIEL MARCHIONATTI BARBOSA
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
144 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 145-176, jan./jul. 2022.
O HOMEM DE CONFIANÇA NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO
2 AUTOINCRIMINAÇÃO E ENGANO
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DANIEL MARCHIONATTI BARBOSA
148 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 145-176, jan./jul. 2022.
O HOMEM DE CONFIANÇA NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO
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DANIEL MARCHIONATTI BARBOSA
150 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 145-176, jan./jul. 2022.
O HOMEM DE CONFIANÇA NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO
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DANIEL MARCHIONATTI BARBOSA
152 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 145-176, jan./jul. 2022.
O HOMEM DE CONFIANÇA NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO
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DANIEL MARCHIONATTI BARBOSA
4 VALIDADE DA PROVA
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O HOMEM DE CONFIANÇA NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO
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O HOMEM DE CONFIANÇA NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO
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O HOMEM DE CONFIANÇA NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO
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5 INVESTIGAÇÕES PREVENTIVAS
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O HOMEM DE CONFIANÇA NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO
1
Para uma análise crítica, ver Aras (2012).
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DANIEL MARCHIONATTI BARBOSA
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O HOMEM DE CONFIANÇA NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO
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O HOMEM DE CONFIANÇA NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO
6 CONCLUSÃO
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168 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 145-176, jan./jul. 2022.
O HOMEM DE CONFIANÇA NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO
REFERÊNCIAS
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 145-176, jan./jul. 2022. 169
DANIEL MARCHIONATTI BARBOSA
170 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 145-176, jan./jul. 2022.
O HOMEM DE CONFIANÇA NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO
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DANIEL MARCHIONATTI BARBOSA
172 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 145-176, jan./jul. 2022.
O HOMEM DE CONFIANÇA NO ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO
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https://doi.org/10.54795/rejub.n.1.183
ABSTRACT
ReJuB
174 - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 177-217, jan./jul. 2022.
LA CONDIVISIONE DELLA FUNZIONE INTERPRETATIVO-CREATIVA
DELGIUDICE COSTITUZIONALE CON IL GIUDICE COMUNE IN ITALIA
E IN BRASILE, E LA SUA INFLUENZA SUL SISTEMA PENALE ANTICORRUZIONE
ABSTRACT
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 177-217, jan./jul. 2022. 175
HUGO LEONARDO ABAS FRAZÃO
limited by the legislative sources of law. The present work considers its
implications for theories of constitutional justice.
Recebido: 14-3-2022
Aprovado: 28-4-2022
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
176 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 177-217, jan./jul. 2022.
LA CONDIVISIONE DELLA FUNZIONE INTERPRETATIVO-CREATIVA
DELGIUDICE COSTITUZIONALE CON IL GIUDICE COMUNE IN ITALIA
E IN BRASILE, E LA SUA INFLUENZA SUL SISTEMA PENALE ANTICORRUZIONE
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 177-217, jan./jul. 2022. 177
HUGO LEONARDO ABAS FRAZÃO
178 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 177-217, jan./jul. 2022.
LA CONDIVISIONE DELLA FUNZIONE INTERPRETATIVO-CREATIVA
DELGIUDICE COSTITUZIONALE CON IL GIUDICE COMUNE IN ITALIA
E IN BRASILE, E LA SUA INFLUENZA SUL SISTEMA PENALE ANTICORRUZIONE
1
Sulle tracce di una dottrina giurisprudenziale che guidi le Corti supreme nelle nuove
sfide democratiche, cf. Barak (2002, p. 160-161): « I hope that in the future we will have
a better understanding of the tools with which the court fulfills its role. Jurisprudence
and case law must provide the courts with an acceptable doctrine for the interpretation
of constitutions and statutes. It is a badge of shame for us all that such a doctrine has
not yet been established. I also hope that jurisprudence will provide us with a better
understanding of the tool of ‘balancing’ and aid us in determining the ‘weight’ of
competing values. I am convinced that with globalization, comparative law will play an
increasingly prominent role. »
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 177-217, jan./jul. 2022. 179
HUGO LEONARDO ABAS FRAZÃO
2
Como sottolinea Romboli (2020, p. 3): « [n]ella prima occasione, infatti, il tema era
giustificato da quella giurisprudenza, inaugurata nel 1996, che invitava i giudici a
risolvere loro stessi le questioni di costituzionalità attraverso l’utilizzo dei propri poteri
interpretativi e nei limiti da questi consentiti, senza passare dal Giudici costituzionale, »
Quindi, questo avviene nel sistema italiano soprattutto quando, secondo Romboli (2015,
p. 50): « Il giudice comune usa i suoi poteri di interpretazione per valutare se è possibile
superare i dubbi di incostituzionalità attraverso un’interpretazione adeguata.»
180 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 177-217, jan./jul. 2022.
LA CONDIVISIONE DELLA FUNZIONE INTERPRETATIVO-CREATIVA
DELGIUDICE COSTITUZIONALE CON IL GIUDICE COMUNE IN ITALIA
E IN BRASILE, E LA SUA INFLUENZA SUL SISTEMA PENALE ANTICORRUZIONE
3
Xavier Philippe, nel Corso di « justice constitutionnelle comparée », tenuto al Master
2 Droit comparé dell’Università Sorbonne-Pantheon, 1 semestre, 2 anno 2021-2022,
classifica come contenzioso costituzionale specifico le ipotesi di contenzioso elettorale,
contenzioso di partiti e raggruppamenti politici, altri contenziosi specifici (ineleggibilità
o destituzione del capo dello Stato). Invece il professore classifica come veri e propri
contenziosi costituzionali quelli riguardanti la gestione dei conflitti tra enti pubblici
(negli Stati composti - federali: centro/periferia; negli Stati unitari - conflitti tra organi
dello Stato) e la tutela dei diritti fondamentali.
4
Per esempio, in Italia (1947) - Cost. 1947, art. 134. La Corte costituzionale giudica: [...]
sulle accuse promosse contro il Presidente della Repubblica, a norma della Costituzione.
In Brasile, a sua volta - art. 102, I, b, Cost. 1988 (BRASIL, 2016). Compete ao Supremo
Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: processar e
julgar, originariamente: nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-
Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-
Geral da República.
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 177-217, jan./jul. 2022. 181
HUGO LEONARDO ABAS FRAZÃO
5
In Brasile, la Azione Penale n° 470 (BRASIL, 2013) è stato il più grande caso penale
giudicato direttamente dal STF. Concluse le investigazioni la Procura generale ha
presentato denuncia contro quaranta accusati su crimini commessi contro la pubblica
amministrazione. Uno dei punti più interessanti del caso ordinario riguarda il fatto secondo
cui, durante la deliberazione sul ricevimento della denuncia, la Corte ha definito se la
Corte processerebbe tutti gli accusati oppure soltanto quelli con foro per prerogativa di
funzione fissato nel STF, secondo regole di competenza predefinita dalla Costituzione. Il
relatore, giudice Joaquim Barbosa, ha proposto il dismembramento del caso tra il STF e
il giudice comune, ripartendo con questo il processamento degli accusati senza funzione
pubblica gli garantisse il giudizio diretto dal giudice costituzionale. Tuttavia, il collegio
ha rigettato la proposta, nella misura in cui il criterio del dismembramento (previsto
dal art. 80 del Codice di procedura penale, il quale disciplinava la competenza penale
costituzionalmente fissata) era inconveniente data la complessità del caso. La Corte
ha quindi adottato un altro criterio, cambiando la sua stessa giurisprudenza: il criterio
della connessione (ai sensi del art. 76 del Codice di procedura penale) tra i supposti
crimini commessi da tutti gli accusati prevale sul dismembramento in base al foro per
prerogativa di funzione. Cf. BRASIL, 2006. L’unico riferimento all’aspetto costituzionale,
anche se indiretto, è stato fatto dal giudice Gilmar Mendes durante tutta la deliberazione.
Secondo lui, come indicato dalla giurisprudenza della STF, il criterio di connessione
(art. 76 del Cpp) non è mai stato dichiarato illegittimo nel corso degli anni. Tuttavia, nel
caso in esame, l’uso di questo criterio implicava l’assorbimento di competenze di altre
istanze da parte della Corte Suprema, a titolo di corresponsabilità penale tra gli imputati
(BRASIL, 2006, p. 61-62). Anche così, il giudice Mendes e lo stesso STF non hanno
affrontato la questione costituzionale più delicata: se una norma infra-costituzionale
possa modificare o estendere la competenza del STF stabilita direttamente dalla
Costituzione. In questo senso, qualche espansione o modifica ha finito per avvenire
attraverso la deliberazione del plenum, ma implicitamente.
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In opposizione al significato dato dalla scuola esegetica, v. Dauchy (2014, p. 256), che
sostiene che è improbabile che Montesquieu intendesse dare alla sua metafora ‘il giudice
è la bocca che pronuncia le parole della legge’ una portata così ampia e radicale come
quella che le concederà l’Assemblea costituente. L’obiettivo di Montesquieu, a dire
il vero, è solo quello di sollevare il problema della relazione tra il giudice, principale
maestro nell’applicazione della legge e il legislatore, responsabile della redazione di
questa legge. È vero che un tale autore propone, usando la terminologia dell’Esprit
des lois, l’attuazione di un meccanismo necessario di contrappeso reciproco tra il
potere giudiziario e quello legislativo, meccanismo che conduce necessariamente e
inevitabilmente a un rapporto di subordinazione della giustizia alla legge e, quindi, del
giudice al legislatore (distinto a sua volta dal potere esecutivo) ma non ha mai inteso
negare al giudice ciò che costituisce la sua missione essenziale, cioè l’interpretazione
della legge generale. In questo senso, se il giudice è “la bocca della legge”, è proprio
perché spetta a lui, attraverso un ragionamento basato sulla legge, determinare il
significato che si deve dare alla legge o, più precisamente, e attraverso un approccio
teleologico, determinare il significato che il legislatore ha voluto dare alle parole della
legge.
7
A proposito: « La constitution [française] actuelle hérite incontestablement de cette
culturale politique, puisqu’elle consacre, en son titre VIII, non un ‘pouvoir’ mais une
‘autorité’ judiciaire. » (DUHAMEL; TUSSEAU, 2020, p. 1294).
8
Vale la pena rafforzare che, negli Stati Uniti, il controllo di costituzionalità è già
riconosciuto dalla prassi giudiziaria di Marbury contro Madison nel 1803 come un carattere
fondamentale della Cost. 1787. Anche se tale proposizione non fu espressamente dichiarata
nel testo costituzionale è certo che la maggior parte dei costituenti americani sembrava
riconoscere come ovvio il potere dei tribunali di dichiarare una legge incostituzionale.
A questo proposito, secondo un notevole studio di Charles Beard, per esempio, dei
cinquantacinque membri della Convenzione federale, non meno di venticinque erano
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importante destacar que não há um magistrado que em sua prática jurisdicional seja
sempre minimalista ou perfeccionista. Nos casos da fidelidade partidária, da cláusula de
barreira e da inelegibilidade, por exemplo, o Min° Eros Grau assumiu um posicionamento
nitidamente minimalista e formalista, ao passo que no caso do amianto aproximou-se,
conforme foi visto, do modelo perfeccionista. » (SILVA, 2008, p. 139)
12
In Brasile vale la pena di leggere in Pereira e Gonçalves (2015, p. 133): « Superado
esse panorama histórico e pacificada a ideia de supremacia constitucional, opera-se
um alargamento do conceito e das finalidades da Constituição. Ela não se resume ao
ápice de uma pirâmide normativa autossuficiente, mas passa a ser entendida como
um documento com múltiplos campos de irradiação, conformando o agir dos agentes
públicos e da sociedade como um todo. Essa assunção de novas tarefas impõe uma
revisão do conceito de inconstitucionalidade, reconhecendo-se que essa categoria nem
sempre se resume ao exame de validade de atos estatais e da eficácia jurídica das
normas constitucionais, passando a abarcar a noção de efetividade da Constituição. »
13
È un’espressione usata dal professor Romboli (2016, p. 517-519) da cui merita di essere
estratta la seguente citazione, contenuta alle?: « Il modello di giustizia costituzionale
seguito in Italia viene inserito, come noto, nei modelli misti, in quanto via di mezzo
tra accentrato e diffuso, a seguito della previsione della via di accesso del giudizio
incidentale (un modello accentrato ma a iniziativa diffusa). Se questo è comune a molte
altre esperienze dell’Europa continentale, la particolarità del caso italiano consiste nel
fatto che, mentre le altre esperienze sono caratterizzate dalla presenza di ulteriori vie di
accesso al Giudice costituzionale, oltre quella incidentale, in Italia invece la nostra Corte
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inizia a funzionare ed eserciterà le sue funzioni per più di venti anni basandosi solamente
sulla via incidentale. La via principale, infatti, stante la inattuazione per molti anni delle
regioni ordinarie sarà praticata in pochi casi (con riguardo alle regioni speciali), così
come pure la via dei conflitti tra enti e tra poteri. Se il modello diffuso si caratterizza
anche per il fatto di valorizzare e porre fiducia nell’attività del giudice, possiamo dire
che, limitando di fatto l’accesso alla sola via incidentale, il nostro modello di giustizia
costituzionale, sia stato in Europa quello ‘più diffuso’ fra tutti i modelli accentrati. »
14
« Il necessario dialogo e rapporto diretto con i giudici, unici [o predominanti] ‘portieri’
della Corte, ha inevitabilmente determinato una prevalente coloritura giurisdizionale
dell’attività del nostro Giudice costituzionale, dando un decisivo apporto allo sviluppo
dell’’anima’ giurisdizionale rispetto a quella politica » (ROMBOLI, 2016, p. 519). Nel
giudizio in via incidentale il giudice ordinario (a quo) esercita inevitabilmente un controllo
di costituzionalità, nella misura in cui rimette la questione al giudice costituzionale (ad
quem) solo se ha un fondato dubbio sulla costituzionalità della norma in questione, o se
è convinto della sua incostituzionalità, a seconda dell’inquadramento fatico-giuridico.
In questo senso, il controllo è diffuso, giacché questa operazione intellettuale spetta ai
giudici comuni, soltanto il potere di annullamento è centralizzato, e monopolizzato dalla
Corte costituzionale (‘Verwerfungsmonopol’), il che rende difficile inquadrare il sistema
nella teoria dell’opposizione di modelli (SEGADO, 2004, p. 1086-1091; JOUANJAN,
2006, p. 83; TUSSEAU, 2009, p. 33-34).
15
Espressione usata da Favoreu e Mastor (2011).
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16
Per esempio, oltre agli tipologie di azione che hanno ampliato la via di accesso
del controllo accentrato (azione diretta di incostituzionalità, azione diretta di
incostituzionalità per omissione, azione per incupimento di precetto fondamentale
e, posteriormente, azione dichiaratoria di costituzionalità), furono create azioni per
assicurare i diritti e libertà fondamentali per mezzo della via diffusa (mandato di
ingiunzione e habeas data, oltre ad altre che già esistevano, come l’habeas corpus,
azione popolare e mandato di sicurezza). Come risultato sia il giudice del STF che il
giudice comune brasiliano diventano attori rilevanti della Costituzione, ognuno nella
sua sfera di competenza e, ovviamente, al di là delle sfere di competenze delle altre
istituzioni democratiche, specie il poter legislativo.
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17
Sulla possibilità che questo ri-accentramento consista in una mera manifestazione di
attivismo giudiziario, cf. Groppi (2021, p. 98): « Se è di per sé difficile bollare di “audacia”
il “ri-accentramento” in un sistema accentrato di giustizia costituzionale neppure la ‘ri-
centralizzazione’ vuol dire necessariamente ‘attivismo’. Come è stato ben messo in
evidenza, il fatto che la Corte torni a decidere questioni precedentemente “delegate”
ai giudici comuni, o dichiari incostituzionali norme delle quali in passato si limitava ad
accertare l’incostituzionalità senza pronunciarla, non tocca tutta un’altra serie di aspetti
del ‘minimalismo’ della giustizia costituzionale italiana, nel senso che la Corte resta
strettamente limitata dal principio della domanda, ha fatto utilizzo dell’autorimessione
soltanto in rarissimi casi nella sua storia passata e recente, procede nelle decisioni di
accoglimento secondo il metodo del ‘one case at a time’ (ovvero con accoglimenti
parziali), preferisce pronunciarsi su un unico parametro, considerando gli altri assorbiti,
non si dilunga in obiter dicta o disquisizioni dottrinali. »
18
Il “convitato di pietra” in tale dibattito è il principio di collegialità che caratterizza il
momento della decisione costituzionale, come stabilito dagli artt. 16 e 18 della legge
n° 87 del 1953 e dall’art. 17 delle N°I. (nel testo approvato il 7 ottobre 2008), insieme
190 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 177-217, jan./jul. 2022.
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che esisteva già dall’avvento della legge n° 87 del 195 nella primissima
stagione della Corte costituzionale (anteriore all’attuale stagione
di ri-accentramento e quell’anteriore di delega), cioè che il giudice
costituzionale vedesse diminuire gradualmente la propria autonomia e
il proprio prestigio a causa della forza esterna di altre istituzioni.19
alla segretezza (messa in discussione, secondo molta dottrina, dalla sentenza n° 18 del
1989) della discussione e del voto in camera di consiglio.
19
Il Gruppo di Pisa ha affrontato il recente caso di dissociazione tra giudice relatore e giudice
relatore presso la Corte costituzionale italiana a partire dalla sentenza n° 278/2020,
attraverso la quale la dottrina ha ravvivato il dibattito sulla necessità/opportunità di
introdurre l’istituto dell’opinione dissenziente nei procedimenti costituzionali. A quel
punto, riguardo alla questione dell’istituzione dell’opinione dissenziente, Tega (2021) ha
sottolineato che: « La domanda che ci viene posta oggi è pressoché la medesima che
ci si fece in occasione dell’adozione della l- n° 87 del 1953: in quel momento l’ipotesi di
introduzione venne scartata proprio per timore che i giudici fossero soggetti a influenze
politiche e che l’autonomia e il prestigio del nuovo organo ne uscisse diminuito: in
particolare si decise in tal modo perché tale istituto «avrebbe potuto condurre, in un
paese come il nostro in cui la vita politica è dominata da organizzazioni di partito,
in maggioranza di massa, a una forma di controllo dell’attività dei giudici da parte di
forze politiche organizzate, controllo che fatalmente avrebbe potuto incidere sulla
indipendenza e sul prestigio della Corte», così si legge nella Relazione della Commissione
speciale sul disegno di legge approvato dal Senato e trasmesso alla Camera il 2 aprile
1949, Atto C. n° 469-A, presentata alla Presidenza della Camera il 17 aprile 1950, 34
(reperibile anche attraverso il sito www.normattiva.it).» (TEGA, 2021, p. 410). Quindi,
l’esternazione di un’unica e coesa argomentazione del Collegio, cioè senza rivelare chi
fosse il giudice interno che non coesisteva con la stessa opinione vittoriosa, rappresentò
fin dalla primissima stagione della Corte italiana un’immunità contro ogni tentativo di
indebolimento politico del giudice costituzionale. Visto il contesto politico del 2021, le
paure espresse nel 1953 possono essere considerate ancora valide? Secondo Il forum
sull’introduzione dell’opinione dissenziente nel giudizio di costituzionalità, promosso
dal Gruppo di Pisa, Fascicolo n° 1/2021, parte della dottrina si è manifestata d’accordo
con l’inclusione dell’opinione dissenziente (a favore dell’iniziativa: Beniamino Caravita
Di Toritto, Alessandra di Martino, Saulle Panizza, Giorgio Repetto, Diletta Tega, Lorenza
Violini; contrari: Valeria Marcenò, Antonio Ruggeri, Marco Ruotolo). Tuttavia, la Corte
costituzionale non ha ancora interiorizzato questo istituto, né per auto-normazione né
per etero-normazione.
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Cioè, con lo scopo di ridurre la possibilità che l’accentramento giurisdizionale della CC
possa portare a sentenze sgradite. L’ultima iniziativa su questo tema è una proposta di
legge costituzionale (A.C. 2953), presentata da Andrea Colletti e altri membri del gruppo
misto, ex-deputati del Movimento 5 Stelle, intesa a modificare la legge costituzionale
n° 1/1948 mediante l’introduzione di un ricorso alla Corte italiana da parte di una
minoranza parlamentare e di un’opinione dissenziente (DI MARTINO, 2021, p. 422)
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21
In altre parole, il giudice-membro della Corte potrebbe « reclamare la possibilità di
dissentire rispetto al superamento di dottrine classiche come quella delle cd. rime
obbligate in materia penale o quella Granital in tema di inversione della cd. doppia
pregiudiziale, entrambe notevolmente aggiornate dall’attuale stagione giurisprudenziale
» (TEGA, 2021, p. 431).
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HUGO LEONARDO ABAS FRAZÃO
rivelandosi come una delle cause della cd. disfunzionalità della giustizia
costituzionale nazionale (GODOY, 2021, p. 10134-1069). In particolare,
per rispondere all’altissimo carico di casi che gli arrivano davanti,
il STF, invece di distribuire veramente il suo potere a favore di altri
organi giudiziari, ha determinato prevalentemente conuna peculiare
diffusione al suo interno: una delega al giudice relatore del caso di
un ampio giudizio monocratico (per quanto riguarda l’attribuzione per
decidere le tutele cautelari in qualsiasi azione o ricorso, sia di controllo
astratto che di controllo diffuso, ad referendum dell’organo Plenario o
della Turma competente).22 Ciò fa sì che la Corte Suprema brasiliana,
intorno al suo stesso centro, abbia forse lo status di “Corte più diffusa
del mondo” nella misura in cui ognuno dei suoi undici membri diventa
un’isola di giudizio23.
22
Rispetto all’art. 21, IV e V, del regimento interno del STF, sono attribuzioni del giudice
supremo relatore: iv - sottoporre al Plenario o alle Turme, nei casi di loro rispettiva
competenza, le misure precauzionali necessarie per la protezione dei diritti suscettibili
di riparazione incerta, o anche per garantire l’efficacia di una successiva decisione sul
caso; v - in casi urgenti, per determinare le misure ai sensi del paragrafo precedente,
ad referendum del Plenum o della Turma (BRASIL, 2020); (...). Come evidenziano il III
Relatório do Supremo em números - O Supremo e o tempo (FALCÃO; HARTMANN;
CHAVES, 2014); l’indagine condotta da Pública - agenzia di giornalismo investigativo,
del 2018 (BELISÁRIO, 2018) e i dati trovati dal portale Jota, del 2018 (TEIXEIRA,
2019), il numero di decisioni monocratiche e con esse il numero di decisioni cautelari
monocratiche in Azioni dirette di incostituzionalità (ADI), è cresciuto esponenzialmente
dal 1989 al 2018. Al contrario, vi è un palpabile calo delle decisioni collegiali. Con riguardo
alle azioni di controllo accentrato in generale il numero di decisioni monocratiche è
cresciuto da 227 nel 2014 a 650 nel 2018. Inoltre, dal 10/09/2014 al 20/12/2018 ci sono
state novantaquattro decisioni cautelari monocratiche in ADI contro solo dieci concesse
dal plenario del STF nello stesso periodo. Cf. (GODOY, 2021, p. 1039-1940).
23
Cf. Falcão; Arguelhes; Recondo, 2016; Mendes, 2010; Mendes, 2014; Mendes, 2017.
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Questo perché l’ordine del giorno della plenaria del STF è fissato
in modo occasionale, cioè, non si è richiesto di votare una decisione
monocratica pronunciata da molto tempo purché il giudice-relatore
e il giudice-presidente decidano di includerla per referendum del
plenario. L’accettazione da parte di ogni giudice-membro della
responsabilità personale nel promuovere queste decisioni allarga il
margine di apprezzamento dei giudici costituzionali, nella misura in cui
si relativizza la collegialità, un principio che costituisce un filtro contro
il controllo di legittimità abusivo, accanto ad altri filtri come la dottrina
della Corte (suprema o costituzionale), i vincoli agli argomenti, l’auto-
contenzione, ecc… (TERRÉ, 2007, p. 167-191).
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24
Paradossalmente, la decisione monocratica è inizialmente motivata dall’argomento
che la concessione di misure cautelari in azioni di tipo accentrato è eccezionale
perché relativizza il principio di presunzione di costituzionalità degli atti legislativi.
Successivamente, però, il giudice è auto-investito di un potere sufficiente per congelare
il prodotto legislativo. Il dispositivo segue in questo senso: « Diante do exposto, com
fundamento no art. 10, § 3º, da Lei 9.868/1999, e no art. 21, V, do RISTF, DEFIRO
PARCIALMENTE A CAUTELAR, ad referendum do Plenário desta SUPREMA CORTE,
para, até julgamento final de mérito: (A) CONCEDER INTERPRETAÇÃO CONFORME
A CONSTITUIÇÃO FEDERAL ao caput e §§ 6º-A, 10-C e 14, do artigo 17 da Lei
nº 8.429/92, com a redação dada pela Lei nº 14.230/2021, no sentido da EXISTÊNCIA
DE LEGITIMIDADE ATIVA CONCORRENTE ENTRE O MINISTÉRIO PÚBLICO E AS
PESSOAS JURÍDICAS INTERESSADAS PARA A PROPOSITURA DA AÇÃO POR ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA; (B) SUSPENDER OS EFEITOS do § 20, do artigo 17
da Lei nº 8.429/92, com a redação dada pela Lei nº 14.230/2021, em relação a ambas as
Ações Diretas de Inconstitucionalidade (7042 e 7043); (C) SUSPENDER OS EFEITOS
do artigo 3º da Lei nº 14.230/2021» (BRASIL, 2022c, p. 13).
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25
Sull’uso delle decisioni monocratiche come precedenti, Arguelhes e Ribeiro (2015,
p. 127): « Nos termos das regras oficiais vigentes, deveria haver reduzidas oportunidades
para que a ação de um(a) Ministro(a) seja suficiente para produzir efeitos no mundo
externo ao tribunal. Formalmente, o poder individual mais explícito que o desenho
do STF reconhece a seus Ministros talvez seja o de decidir monocraticamente pela
concessão de liminares. Mesmo assim, essa é uma decisão precária, que pode ser
revista a qualquer tempo pelo Plenário. Mas essas regras formais são insuficientes
para explicar o comportamento do STF e a atuação dos seus ministros no Brasil de
hoje. O comportamento estratégico de um determinado ator relevante – no caso, o
Congresso ou o Presidente – pode se orientar, também, por ações que, embora não
necessariamente formalizadas em termos de regras escritas, podem servir como
sinalizações de futuras decisões e fornecer inputs para antecipações estratégicas por
parte de atores políticos externos ao STF. »
26
Arguelhes e Ribeiro (2015, p. 139, tradotto da noi): « Ciò si verifica […] in casi in cui
nulla è oggettivamente deciso, il giudice relatore fa uso della sua libertà di costruire
la motivazione della decisione come vuole per (i) annunciare tesi giuridiche
potenzialmente controverse e (ii) trattare come “giurisprudenza” o “precedente” del
STF tesi già annunciate in passate decisioni monocratiche. Tutto questo senza alcun
tipo di mediazione da parte del processo decisionale collegiale, nel quale, nonostante
la libertà di redigere il suo voto come vuole, il giudice potrebbe almeno essere criticato
direttamente dai suoi colleghi al momento di presentare i suoi argomenti e le sue ragioni
in seduta. »
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5 CONCLUSIONE
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REFERÊNCIAS
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 177-217, jan./jul. 2022. 207
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208 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 177-217, jan./jul. 2022.
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210 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 177-217, jan./jul. 2022.
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jota.info/opiniao-e-analise/artigos/materias19-a-ingovernabilidade-do-
stf-17092014. Acesso em: 22 mar. 2022.
MENDES, Conrado Hübner. Onze Ilhas. Jornal Folha de São Paulo, São
Paulo, 1 fev. 2010. (Caderno Opinião).
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LA CONDIVISIONE DELLA FUNZIONE INTERPRETATIVO-CREATIVA
DELGIUDICE COSTITUZIONALE CON IL GIUDICE COMUNE IN ITALIA
E IN BRASILE, E LA SUA INFLUENZA SUL SISTEMA PENALE ANTICORRUZIONE
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 177-217, jan./jul. 2022. 213
HUGO LEONARDO ABAS FRAZÃO
https://www.jota.info/stf/do-supremo/stf-recorde-monocraticas-acoes-
constitucionais-2018-15012019. Acesso em: 3 mar. 2022.
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https://doi.org/10.54795/rejub.n.1.184
RESUMO
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GEORGE MARMELSTEIN LIMA
ABSTRACT
Recebido: 4-2-2022
Aprovado: 28-4-2022
SUMÁRIO
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USO DA “SECONDARY CONFESSION EVIDENCE” NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO
1 INTRODUÇÃO
1
Tradução livre: “Os efeitos do depoimento de testemunhas cúmplices e informantes de
cela na tomada de decisão do júri”.
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USO DA “SECONDARY CONFESSION EVIDENCE” NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO
Para além dessa hipótese, com o uso cada vez mais frequente
de informantes, agentes infiltrados e colaboradores, o sistema
brasileiro tem lidado com vários casos de confissões secundárias. De
fato, sobretudo no contexto das colaborações premiadas, é comum o
colaborador informar que o suspeito-alvo lhe disse que praticou um
crime, fornecendo aos órgãos estatais munição para investigar2. Além
disso, há casos em que a polícia usa informantes, agentes infiltrados
ou disfarçados, que dialogam com o suspeito e extraem informações
comprometedoras passíveis de serem usadas na investigação ou
2
Por exemplo, na colaboração de Sérgio Cabral, muitas conversas mantidas com outros
réus no período em que estavam presos foram levadas a juízo. Cito, em particular, um
trecho extraído da sentença proferida no Proc. 0196181-09.2017.4.02.5101/RJ (BRASIL,
2021a, p. 28): “Que ficou preso junto a CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER em
Benfica; Que chegaram a conversar formalmente sobre o assunto da ação penal; Que
era uma conversa de quem quer fugir da verdade; Que NUZMAN dizia que ia negar tudo
e LEO GRYNER dizia para o interrogado, como já disse aqui, que era um patrocínio; Que
LEO GRYNER veio com essa história de que era um patrocínio, que foi solicitado e tudo
mais; Que essa versão ficou combinada lá em Benfica a pedido do LEO GRYNER para
ele, que disse que ia falar”.
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3
Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal – STF anulou as provas obtidas por um
policial de inteligência, que atuou, de fato, como agente infiltrado, sem autorização
judicial, em grupos Black Blocks. Várias informações eram confissões secundárias,
como se pode extrair desse trecho do depoimento: “Que o declarante acredita que por
apenas ouvir e não perguntar e por inclusive sentar-se à mesa em bares para beber
cerveja com os integrantes, ganhou a confiança de alguns que passaram a confidenciar
atos diversos e inclusive contar fatos sobre terceiros”. A decisão do STF foi no sentido
de que houve verdadeira “infiltração de agente em grupo determinado, por meio de
atos disfarçados para obtenção da confiança dos investigados” (BRASIL, 2019a, p. 7).
Sendo assim, a prova foi considerada ilícita, dada a necessidade de prévia autorização
judicial, conforme o art. 10 da Lei n. 12.850/2013 (BRASIL, 2013).
4
Um exemplo famoso ocorreu no caso Eliza Samudio. Um presidiário, que era companheiro
de cela do acusado Bola, foi arrolado como testemunha de acusação após tê-lo ouvido
afirmar, dentro da cela, que teria queimado Eliza em pneus e jogado suas cinzas em uma
lagoa. Não há, contudo, informação de que houve incentivo à testemunha. Além disso,
no julgamento, o promotor dispensou a ouvida da referida testemunha (MARTINS,
2013).
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que vale mais do que a palavra do réu e com força suficiente para
produzir, até isoladamente, um decreto condenatório5.
5
Nesse sentido: “Depoimentos com confissão extrajudicial corroborados por outros meios
de prova, notadamente depoimento dos policiais, com provas produzidas sob o crivo
do contraditório e ampla defesa, são aptos a sustentar condenação” (BRASIL, 2018b).
“Os depoimentos dos policiais têm valor probante, já que seus atos são revestidos de fé
pública, sobretudo quando se mostram coerentes e compatíveis com as demais provas
dos autos” (BRASIL, 2020a).
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USO DA “SECONDARY CONFESSION EVIDENCE” NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO
6
Há precedente do STJ de 2002 no mesmo sentido: “A eventual confissão extrajudicial
obtida por meio de depoimento informal, sem a observância do disposto no inciso LXIII,
do art. 5º, da Constituição Federal, constitui prova obtida por meio ilícito, cuja produção
é inadmissível nos termos do inciso LVI, do mencionado preceito” (BRASIL, 2002).
7
Por exemplo: “A confissão informal, isoladamente, não pode servir de arrimo à
condenação, pois, inclusive, por ser tomada ‘sem a observância do disposto no inciso
LXIII, do art. 5º, da Constituição Federal, constitui prova obtida por meio ilícito, cuja
produção é inadmissível nos termos do inciso LVI, do mencionado preceito’” (BRASIL,
2020b).
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8
A título ilustrativo: “A confissão extrajudicial, aliada ao local da apreensão, conhecido
como ponto de venda, à posse de rádio transmissor, às inscrições referentes à facção
Comando Vermelho nas embalagens das drogas apreendidas, além do depoimento
de policiais, confirmados em juízo, podem respaldar a condenação pelo delito de
associação para o tráfico” (BRASIL, 2020c).
9
No mesmo sentido: “Confissão feita na fase policial e retratada em juízo. Aplica-se a dita
atenuante, pois, in casu, o magistrado a quo utilizou-se dos elementos nela declinados
para pautar a sentença condenatória” (BRASIL, 2009); “A atenuante da confissão
espontânea não tem incidência nas hipóteses em que a confissão não concorreu para a
condenação do réu” (BRASIL, 2012).
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10
A fórmula Massiah aplica-se apenas quando o papel do governo muda de investigação
para acusação. Assim, na fase de investigação, em que ainda não há um juízo de
suspeita sobre um indivíduo, a polícia pode fazer sondagens preliminares para obter
informações, sem necessariamente mencionar o direito ao advogado (UNITED STATES,
1972b). Além disso, em Texas v. Cobb, a Suprema Corte esclareceu que o direito a um
advogado se aplicava apenas ao crime acusado e não se aplicava a tentativas de coletar
informações sobre “outros crimes ‘intimamente relacionados factualmente’ ao crime
acusado” (UNITED STATES, 2001, tradução nossa).
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11
Na parte relevante, a Quinta Emenda estabelece que “nenhuma pessoa será obrigada
em qualquer processo criminal a ser testemunha contra si mesmo, nem ser privada da
vida, da liberdade ou da propriedade, sem o devido processo legal”.
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12
Por exemplo, é possível que um suspeito diga: “De fato, eu conversei com o Fulano
e falei que pratiquei o delito. Mas só falei de brincadeira. Eu nem estava no local do
crime”. Ou então: “Quando fui preso, fiquei com medo e disse o que os policiais queriam
ouvir. Mas, na verdade, sou inocente”. Nesses casos, o depoimento do suspeito (evento
3) está confirmando a existência de declarações (evento 2), mas negando a autoria do
crime (evento 1).
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13
Como explica Damasceno, a investigação tem por objetivo buscar “vestígios” do fato
criminoso, que são marcas do passado que podem possibilitar a reconstrução do crime
no presente. Quando o vestígio é baseado na percepção de uma pessoa, as declarações
que ela prestar acerca do fato, em um interrogatório, serão documentadas e se tornarão
uma prova documental de suas memórias. O autor defende a transmissibilidade para o
processo judicial dessas provas documentais, formalizadas na investigação a partir da
coleta de depoimentos pela polícia (em texto, áudio ou vídeo), desde que observadas
algumas condições, como a impossibilidade de comparecimento da testemunha em
juízo ou como “prova de confronto”, caso haja indícios de que a testemunha esteja
mentindo em juízo (DAMASCENO, 2021).
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14
Como disse Lord Macaulay: “Palavras podem facilmente ser mal interpretadas por um
homem honesto. E podem ser facilmente distorcidas por um patife. O que foi falado
metaforicamente pode ser compreendido literalmente. O que foi falado de pilhéria
pode ser compreendido com seriedade. Um particípio, um tempo verbal, uma ironia,
uma ênfase podem fazer toda a diferença entre culpa e inocência” (MACAULAY, 1979,
p. 366, tradução nossa).
15
Não se quer dizer, com isso, que a confissão secundária, caso admitida, não possa ser
usada como atenuante. Afinal, se ela é incorporada ao acervo probatório para reforçar o
juízo condenatório, sendo tratada como uma “confissão informal” pelos órgãos estatais,
então é mais do que razoável aceitar o seu efeito mitigador.
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Nesse ponto, há várias perguntas que devem ser feitas para aferir
a licitude da prova: (a) houve a participação de agentes estatais?;
(b) as declarações foram espontâneas?; (c) havia necessidade do aviso
Miranda? Em caso afirmativo, foram respeitados esses requisitos?
16
Nesse sentido, em um processo de homicídio qualificado tentado, cuja prova principal
era o depoimento do irmão do réu que “teria presenciado a confissão”, o STJ validou
sentença de pronúncia, assinalando: “Em relação ao depoimento judicial, na espécie,
não se trata de alguém que repete a vox publica, isto é, não se trata de testemunha
que sabe através de alguém, por ter ouvido alguém narrando ou contando o fato. Do
contrário, conforme consignado pelo Juiz Sumariante, a ‘versão do irmão do réu, que
teria presenciado a confissão, gera indício de autoria que deverá ser melhor analisada em
Plenário’. Não há como considerar imprestável em termos de valoração o depoimento
de testemunha, corroborado pela confissão extrajudicial, afirmando que ‘o réu (que é
seu irmão) lhe confessou que ‘foi lá e fez’, ou seja, que desferiu as facadas [na vítima]”.
(BRASIL, 2021b).
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17
Por exemplo: “Muito embora a análise aprofundada dos elementos probatórios seja
feita somente pelo Tribunal Popular, não se pode admitir, em um Estado Democrático
de Direito, a pronúncia baseada, exclusivamente, em testemunho indireto (por ouvir
dizer) como prova idônea, de per si, para submeter alguém a julgamento pelo Tribunal
Popular” (BRASIL, 2017a).
18
Nos EUA, essa exceção é conhecida como “party-opponent exception” e está prevista
na Regra 801, d, 2, a, da Federal Rules of Evidence, de 1975 (UNITED STATES, 1975), que,
explicitamente, estabelece que não se aplica a proibição da evidência por ouvir dizer
em relação a “uma declaração de uma parte opositora”.
19
“O risco de ser ouvido por um bisbilhoteiro ou traído por um informante ou enganado
quanto à identidade de alguém com quem se lida é provavelmente inerente às condições
da sociedade humana. É o tipo de risco que assumimos sempre que falamos” (UNITED
STATES, 1963, tradução nossa).
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Todas as circunstâncias que cercam o ato devem ser levadas em conta para avaliar se
uma pessoa razoável se sentiria livre para interromper o interrogatório, por exemplo: 1.
O local do encontro, se era familiar ao suspeito, ou pelo menos neutro ou público, sendo
de se pressupor, em linha de princípio, que os interrogatórios em órgãos policiais, em
viaturas ou em salas isoladas são custodiados; 2. O número de policiais formulando
questões ao suspeito, sendo de se presumir que qualquer interrogatório com mais de
três policiais tem uma alta probabilidade de ser sob custódia, dado o maior poder de
controle e de intimidação; 3. O grau de constrangimento ou de força usada para deter
fisicamente o suspeito; 4. A duração e o estilo do interrogatório, incluindo o grau de
coação psicológica usado e o tipo de pergunta formulada; 5. Os termos usados para
intimar ou chamar o suspeito; 6. A ocorrência de confrontação, em que o sujeito é
informado de forma direta que a polícia o considera como suspeito; 7. Se o suspeito
teve a iniciativa de entrar em contato com a polícia ou se a iniciativa foi da própria
polícia (FERDICO; FRADELLA; TOTTEN, c2009).
21
No mesmo sentido: “Há a violação do direito ao silêncio e à não autoincriminação, [...],
com a realização de interrogatório forçado, travestido de ‘entrevista’, formalmente
documentado durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão, no qual não
se oportunizou ao sujeito da diligência o direito à prévia consulta a seu advogado e
nem se certificou, no referido auto, o direito ao silêncio e a não produzir provas contra
si mesmo, nos termos da legislação e dos precedentes transcritos 4. A realização de
interrogatório em ambiente intimidatório representa uma diminuição da garantia contra
a autoincriminação. O fato de o interrogado responder a determinadas perguntas
não significa que ele abriu mão do seu direito [...]. Precedentes dos casos Miranda v.
Arizona e Mapp v. Ohio, julgados pela Suprema Corte dos Estados Unidos. Necessidade
de consolidação de uma jurisprudência brasileira em favor das pessoas investigadas”
(BRASIL, 2019b).
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Por outro lado, a mera presença de promessas de redução de pena, de encorajamento
para cooperar ou de apelo a crenças religiosas não são consideradas táticas coercitivas
ao ponto de desnaturar a voluntariedade da confissão (FERDICO; FRADELLA; TOTTEN,
2009).
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Eis o argumento completo: “Um policial disfarçado que se apresenta como um
companheiro de prisão não precisa dar Aviso de Miranda a um suspeito encarcerado
antes de fazer perguntas que possam provocar uma resposta incriminadora. A doutrina
Miranda deve ser aplicada de forma estrita, mas apenas em situações em que as
preocupações subjacentes a essa decisão estejam presentes. Essas preocupações
não estão implicadas aqui, pois faltam os ingredientes essenciais de uma ‘atmosfera
dominada pela polícia’ e um contexto que leve a uma confissão compulsória. É premissa
de Miranda que o perigo de coação decorre da interação da custódia e do interrogatório
oficial, pelo qual o suspeito pode se sentir compelido a falar pelo medo de represálias
por permanecer calado ou na esperança de um tratamento mais brando caso confesse.
Essa atmosfera coercitiva não está presente quando uma pessoa encarcerada fala
livremente com alguém que acredita ser um colega de prisão e que supõe não ser um
oficial com poder oficial sobre ele. Em tais circunstâncias, Miranda não proíbe mero
engano estratégico, aproveitando-se de uma confiança equivocada de um suspeito”
(UNITED STATES, 1990, tradução nossa).
24
“Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação, representada
pelo delegado de polícia ou requerida pelo Ministério Público, após manifestação
técnica do delegado de polícia quando solicitada no curso de inquérito policial, será
precedida de circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial, que estabelecerá
seus limites” (BRASIL, 2013).
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25
De acordo com um relatório do The Marshall Project, “o incentivo mais comum oferecido
aos informantes da cadeia por informações ou testemunhos são anos cortados de uma
sentença potencial. Os réus federais que cooperam durante o curso de seus casos
têm seu tempo de prisão reduzido, em média, em mais da metade, de acordo com um
relatório de 2016 da Comissão de Sentenças dos EUA. Mas esse não é o único incentivo
para informar ou desinformar. Na década de 1990, em Detroit, os detidos nas celas
do departamento de polícia recebiam comida quente, drogas e quartos para entreter
os visitantes em troca de examinar os documentos judiciais de outros réus para que
pudessem dar testemunhos que correspondiam à versão dos eventos dos promotores,
de acordo com duas reportagens investigativas. Entre os informantes mais prolíficos do
Departamento do Xerife do Condado de Orange, estava um par de membros da máfia
mexicana que foram recompensados com sofás em suas celas, caixas de cigarros, ‘quase
ilimitadas corridas de Taco Bell’ e um total de US$ 335 mil por seu trabalho em dezenas
de casos, de acordo com as notícias locais” (SCHWARTZAPFEL, 2018, tradução nossa).
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“Art. 4º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no âmbito de suas
competências, poderão estabelecer formas de recompensa pelo oferecimento de
informações que sejam úteis para a prevenção, a repressão ou a apuração de crimes ou
ilícitos administrativos. Parágrafo único. Entre as recompensas a serem estabelecidas,
poderá ser instituído o pagamento de valores em espécie” (BRASIL, 2018a).
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27
Nos EUA, um informante chamado Leslie Vernon White costumava ligar para vários
policiais, passando-se por agente de polícia, pedindo detalhes sobre um crime que
apenas um insider saberia. Depois, oferecia-se para testemunhar em troca de sursis,
abatimento da pena ou dinheiro. Os relatos eram confissões secundárias contra o
acusado. Ele testemunhou em pelo menos uma dúzia de casos usando esse esquema
(SCHWARTZAPFEL, 2018).
28
“Art. 3º-A O acordo de colaboração premiada é negócio jurídico processual e meio de
obtenção de prova, que pressupõe utilidade e interesse públicos” (BRASIL, 2013).
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29
Essa tem sido a orientação do STF: “7. Se os depoimentos do réu colaborador, sem outras
provas minimamente consistentes de corroboração, não podem conduzir à condenação,
também não podem autorizar a instauração da ação penal, por padecerem da presunção
relativa de falta de fidedignidade. 8. A colaboração premiada, como meio de obtenção
de prova, tem aptidão para autorizar a deflagração da investigação preliminar, visando
adquirir coisas materiais, traços ou declarações dotadas de força probatória. Essa, em
verdade, constitui sua verdadeira vocação probatória. 9. Todavia, os depoimentos do
colaborador premiado, sem outras provas idôneas de corroboração, não se revestem de
densidade suficiente para lastrear um juízo positivo de admissibilidade da acusação, o
qual exige a presença do fumus commissi delicti” (BRASIL, 2017b).
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REFERÊNCIAS
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264 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 219-269, jan./jul. 2022.
USO DA “SECONDARY CONFESSION EVIDENCE” NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 219-269, jan./jul. 2022. 265
https://doi.org/10.54795/rejub.n.1.185
A TRANSFERÊNCIA DE PROCESSOS E O
COMPARTILHAMENTO DE PROVAS COMO
TÉCNICAS PARA A OTIMIZAÇÃO DO COMBATE
AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL
THE TRANSFER OF CRIMINAL PROCEEDINGS AND
SHARING OF EVIDENCE AS TECHNIQUES FOR THE
OPTIMIZATION OF THE COMBAT TO TRANSNATIONAL
ORGANIZED CRIME
RESUMO
ReJuB
266 - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 271-300, jan./jul. 2022.
A TRANSFERÊNCIA DE PROCESSOS E O COMPARTILHAMENTO DE PROVAS COMO
TÉCNICAS PARA A OTIMIZAÇÃO DO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL
ABSTRACT
Recebido: 14-3-2022
Aprovado: 28-4-2022
SUMÁRIO
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 271-300, jan./jul. 2022. 267
CARLA TERESA BONFADINI DE SÁ
1 INTRODUÇÃO
1
Acerca das equipes conjuntas de investigação, assevera Souza (2020, p. 146): “Nesse
contexto, as Equipes Conjuntas de Investigação – ECIs foram desenvolvidas como
modernos e promissores instrumentos de cooperação jurídica internacional para o
enfrentamento do crime transnacional, especialmente naquelas suas modalidades
mais graves (v.g., tráfico de drogas, crime organizado e corrupção). Estruturadas com
um modelo de atuação inovador, as ECls reúnem autoridades de vários países para a
realização integrada de uma mesma investigação criminal determinada, assegurando
aos membros da equipe a realização de atuações transnacionais e contatos diretos para
troca de elementos de informações (pedidos de diligências e resultados investigativos)”.
268 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 271-300, jan./jul. 2022.
A TRANSFERÊNCIA DE PROCESSOS E O COMPARTILHAMENTO DE PROVAS COMO
TÉCNICAS PARA A OTIMIZAÇÃO DO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL
2
Os Objetivos da Agenda 2030 da ONU são um plano de ação cujo objetivo é o
desenvolvimento sustentável em suas múltiplas formas por meio de metas a serem
alcançadas até 2030. A Meta 16 busca promover sociedades pacíficas e inclusivas para
o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir
instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis. A Meta 16.4 da Agenda
2030 da ONU é a seguinte: “Até 2030, reduzir significativamente os fluxos financeiros e de
armas ilegais, reforçar a recuperação e devolução de recursos roubados e combater todas
as formas de crime organizado”. Conforme o site do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada – Ipea, há os seguintes indicadores: 16.4.1 – Valor total de entradas e saídas
de fluxos financeiros ilícitos (em dólares americanos correntes); 16.4.2 – Proporção de
armas apreendidas, encontradas ou entregues, cuja origem ou contexto ilícito tenha sido
detectado ou estabelecido por uma autoridade competente, em linha com instrumentos
internacionais (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2019).
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CARLA TERESA BONFADINI DE SÁ
270 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 271-300, jan./jul. 2022.
A TRANSFERÊNCIA DE PROCESSOS E O COMPARTILHAMENTO DE PROVAS COMO
TÉCNICAS PARA A OTIMIZAÇÃO DO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL
3
Oportuna é a noção de soberania compartilhada exposta por Slaughter (2004).
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CARLA TERESA BONFADINI DE SÁ
4
Explica o autor “[...] procuramos identificar o seu núcleo essencial em torno de
outros vetores – objetividade, impessoalidade, invariância das regras e decisões
sobre competência – e ainda a previsibilidade e controlabilidade do procedimento de
atribuição e modificação de competência” (CABRAL, 2021, p. 306).
272 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 271-300, jan./jul. 2022.
A TRANSFERÊNCIA DE PROCESSOS E O COMPARTILHAMENTO DE PROVAS COMO
TÉCNICAS PARA A OTIMIZAÇÃO DO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL
5
Nesse aspecto, conferir a concepção da transferência como ato de delegação em
Ludwiczak (2013, p. 95).
6
A transferência encerraria uma função de representação, tal como defende Alt-Maes
(1992, p. 376-377).
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CARLA TERESA BONFADINI DE SÁ
274 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 271-300, jan./jul. 2022.
A TRANSFERÊNCIA DE PROCESSOS E O COMPARTILHAMENTO DE PROVAS COMO
TÉCNICAS PARA A OTIMIZAÇÃO DO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL
7
Perfilhando essa orientação, vide Mendonça (2021, p. 395).
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CARLA TERESA BONFADINI DE SÁ
8
Ação Penal n. 863, relator Ministro Ricardo Lewandovski, proferida em 14 de maio de 2014
(BRASIL, 2017). Na decisão, foi deferida a pretensão formulada na petição apresentada
pelo Ministério Público Federal autorizando a adoção para: (i) promover, através do
Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, do
Ministério de Estado da Justiça, este na condição de Autoridade Central, a confirmação
sobre a existência de procedimentos criminais em nome do investigado, bem como
a realização da transferência dos procedimentos penais em trâmite na França, nas
Ilhas Jersey, em Luxemburgo e na Suíça, instaurados contra o investigado e eventuais
coautores ou partícipes, “a fim de que tais feitos tenham seguimento perante a Justiça
brasileira”; e (ii) providenciar a repatriação, para o Brasil, “dos ativos bloqueados
naqueles países, para que aqui fiquem bloqueados” até ulterior decisão judicial.
276 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 271-300, jan./jul. 2022.
A TRANSFERÊNCIA DE PROCESSOS E O COMPARTILHAMENTO DE PROVAS COMO
TÉCNICAS PARA A OTIMIZAÇÃO DO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL
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CARLA TERESA BONFADINI DE SÁ
9
O referido autor apresentou, na tese de doutorado defendida na Universidade de São
Paulo – USP, o resultado de pesquisa empírica realizada no âmbito do Ministério Público
Federal. Segundo essa pesquisa, a maioria dos membros da carreira desconhecia o
funcionamento da transferência de processo penal e os procedimentos investigatórios
como instrumento de cooperação jurídica internacional.
278 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 271-300, jan./jul. 2022.
A TRANSFERÊNCIA DE PROCESSOS E O COMPARTILHAMENTO DE PROVAS COMO
TÉCNICAS PARA A OTIMIZAÇÃO DO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL
10
Além dos tratados, o Código de Processo Civil de 2015 (BRASIL, 2015), inovando em
relação ao anterior, apresenta a previsão do auxílio direto, em seus arts. 28 a 34, para
pedido de medidas que não derivem de decisão judicial e, portanto, sem submissão ao
juízo de delibação.
11
Por meio de tratado, também pode ser prevista a dispensa do juízo de delibação para a
eficácia de sentenças, como a regra do art. 20 do Protocolo de Las Leñas internalizado
por meio do Decreto n. 6.891/2009, de eficácia extraterritorial de sentenças e laudos
arbitrais nos estados signatários. Portanto, pode haver a previsão dessa dispensa em
sede de decisões judiciais de produção de provas, por exemplo. Com isso, a diferença
entre carta rogatória e auxílio direto torna-se ainda mais tênue (BRASIL, 2009).
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CARLA TERESA BONFADINI DE SÁ
12
A problemática é bem exposta por Ramos (2015, p. 685-703).
280 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 271-300, jan./jul. 2022.
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CARLA TERESA BONFADINI DE SÁ
13
Adotando esse entendimento de aplicação da lex diligentiae, conferir os arestos
proferidos no julgamento do Agravo em Recurso Especial – AREsp n. 701.833/SP,
Relator Ministro Ribeiro Dantas, 5ª Turma, julgado em 4 de maio de 2021, publicado
no Diário da Justiça Eletrônico – DJe em 10 de maio de 2021, Habeas Corpus – HC
n. 231.633, 5ª turma do STJ, Relator Ministro Jorge Mussi, publicado no DJe em 25
de novembro de 2014, Ação Penal – APn n. 856/DF, Corte Especial, Relatora Ministra
Nancy Andrighi, julgado em 18 de outubro de 2017, Recurso Especial – REsp n. 1.610.124/
PR, Agravo Regimental – AgRg no AgRg nos Embargos de Declaração – EDcl no AREsp
n. 1243890/RS, Rel. Min. Felix Fischer, 5ª turma do STJ, publicado do DJe em 17 de
setembro de 2018.
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CARLA TERESA BONFADINI DE SÁ
14
Consoante asseverado, poderá haver a previsão, por meio de tratado, dessa dispensa
em sede de decisões judiciais de produção de provas, por exemplo.
284 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 271-300, jan./jul. 2022.
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TÉCNICAS PARA A OTIMIZAÇÃO DO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL
15
O referido autor descartou o uso da fórmula “primazia de norma probatória mais
favorável ao indivíduo”, dada a inviabilidade em um cenário de conflito. Ressalta a
superioridade do modelo universalista pela coerência e consistência com a concepção
internacionalista dos Direitos Humanos e pela existência de decisões internacionais que
densificam os direitos envolvidos na produção probatória no exterior (RAMOS, 2015,
p. 700).
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CARLA TERESA BONFADINI DE SÁ
4 CONCLUSÃO
16
A este propósito, confira-se o Habeas Corpus n. 147.375/RJ42, no qual a concessão
do writ foi negada sob o fundamento de que, não obstante a falta de previsão da
produção probatória em favor da defesa no MLAT celebrado entre o Brasil e os EUA,
o impetrante poderia solicitar ao juízo a produção da prova, e que este a solicitaria
ao Estado requerido. Segue excerto do referido julgado: “2. Mesmo que os Estados
Unidos da América não aceitem pedidos de prova requeridos pela defesa em face das
peculiaridades do sistema da common law adotado, não há dúvidas de que inexistem
impedimentos no direito pátrio a que o juiz solicite, por meio do acordo, as providências
desejadas pelo acusado” (BRASIL, 2011b).
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CARLA TERESA BONFADINI DE SÁ
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CARLA TERESA BONFADINI DE SÁ
REFERÊNCIAS
290 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 271-300, jan./jul. 2022.
A TRANSFERÊNCIA DE PROCESSOS E O COMPARTILHAMENTO DE PROVAS COMO
TÉCNICAS PARA A OTIMIZAÇÃO DO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 271-300, jan./jul. 2022. 291
CARLA TERESA BONFADINI DE SÁ
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (1. Turma). Ação Penal n. 863 São
Paulo. Penal e processual penal. Ação penal originária. Ex-prefeito
municipal. Atual deputado federal [...]. Relator: Min. Edson Fachin, 23
de maio de 2017. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/
paginador.jsp?docTP=TP&docID=13466369. Acesso em: 1º mar. 2022.
292 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 271-300, jan./jul. 2022.
A TRANSFERÊNCIA DE PROCESSOS E O COMPARTILHAMENTO DE PROVAS COMO
TÉCNICAS PARA A OTIMIZAÇÃO DO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL
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CARLA TERESA BONFADINI DE SÁ
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TÉCNICAS PARA A OTIMIZAÇÃO DO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 271-300, jan./jul. 2022. 295
https://doi.org/10.54795/rejub.n.1.186
RESUMO
ReJuB
296 - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 301-343, jan./jul. 2022.
A UTILIZAÇÃO DO RECONHECIMENTO FACIAL COMO INSTRUMENTO DE COMBATE
AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
ABSTRACT
Recebido: 13-3-2022
Aprovado: 28-4-2022
SUMÁRIO
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FABIO NUNES DE MARTINO
1 INTRODUÇÃO
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A UTILIZAÇÃO DO RECONHECIMENTO FACIAL COMO INSTRUMENTO DE COMBATE
AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
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FABIO NUNES DE MARTINO
seu uso com limites estritos. Serão ainda delimitados caminhos para
o melhor uso dessa relevante ferramenta para investigações criminais,
incluindo a necessidade de aprimoramento técnico dos programas, a
fixação de limites legais que possibilitem o controle na utilização da
tecnologia e, também, a necessidade de aperfeiçoamento da legislação
brasileira de proteção e transferência de dados na seara penal, de forma
que eleve os standards de proteção de dados e, assim, compatibilize-
se com legislações estrangeiras mais evoluídas sobre o assunto.
300 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 301-343, jan./jul. 2022.
A UTILIZAÇÃO DO RECONHECIMENTO FACIAL COMO INSTRUMENTO DE COMBATE
AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
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FABIO NUNES DE MARTINO
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A UTILIZAÇÃO DO RECONHECIMENTO FACIAL COMO INSTRUMENTO DE COMBATE
AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
1
Por exemplo, através da Interpol ou das adidâncias existentes em diversos países.
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FABIO NUNES DE MARTINO
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AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
2
Seguindo a mesma linha, Cervini (2013, p. 70), ao analisar o protocolo de assistência
penal no âmbito do Mercosul, defende que o acordo sempre seja interpretado com a
necessidade de integral respeito aos direitos fundamentais do homem.
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A UTILIZAÇÃO DO RECONHECIMENTO FACIAL COMO INSTRUMENTO DE COMBATE
AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
3
Atualmente, existem diversas tecnologias voltadas à identificação biométrica, sendo que
os principais métodos foram classificados pela Agência Brasileira de Desenvolvimento
Industrial em três grupos: 1) sistemas de impressão digital; 2) sistemas de identificação
de íris, DNA e face; e 3) sistemas de reconhecimento de voz (AGÊNCIA BRASILEIRA DE
DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL, 2010, p. 61).
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A UTILIZAÇÃO DO RECONHECIMENTO FACIAL COMO INSTRUMENTO DE COMBATE
AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
Essa tecnologia pode ser usada tanto para a verificação como para
a identificação das pessoas. Os sistemas que objetivam a verificação
basicamente comparam os dados capturados com os dados daquele
mesmo indivíduo que estejam armazenados em um banco de dados.
Os sistemas de identificação são um pouco mais elaborados, pois
não partem de um indivíduo específico para comparar com os dados
captados de uma face. Nesse sistema, são comparadas as informações
extraídas do rosto de um indivíduo com informações de diversos
indivíduos existentes em um banco de dados (AGÊNCIA BRASILEIRA
DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL, 2010, p. 61).
4
Tanto a evolução da tecnologia de captação de imagens por máquinas digitais como a
evolução da internet possibilitaram a formação de imensos bancos de dados de imagens
que foram fundamentais para o treinamento dos algoritmos de reconhecimento facial e,
consequentemente, para o desenvolvimento dessa tecnologia (LESLIE, 2020, p. 12).
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FABIO NUNES DE MARTINO
5
Diferente, por exemplo, da utilização de impressão digital, que exige que a colheita
se dê de forma física e com a anuência do indivíduo (AGÊNCIA BRASILEIRA DE
DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL, 2010, p. 61).
6
Nesse sentido, pode ser citado estudo elaborado pelo Instituto Nacional de Padrões
e Tecnologia dos Estados Unidos – Nist, que realizou uma simulação para verificar a
utilização do reconhecimento facial no controle de passageiros de 567 voos simulados,
tendo obtido uma eficácia de 99,5% no reconhecimento facial positivo, em que se
compara se uma determinada pessoa está presente em um banco de dados (GROTHER
et al, 2021, p. 3-5).
310 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 301-343, jan./jul. 2022.
A UTILIZAÇÃO DO RECONHECIMENTO FACIAL COMO INSTRUMENTO DE COMBATE
AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
7
Por exemplo, se a imagem captada tiver um sorriso ou estiver com os olhos fechados,
isso gerará dificuldades na atuação dos sistemas de reconhecimento facial (MATA,
2020, p. 131).
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A UTILIZAÇÃO DO RECONHECIMENTO FACIAL COMO INSTRUMENTO DE COMBATE
AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
8
Caso que se tornou rumoroso nos Estados Unidos ocorreu após a prisão de Robert
Julian Borchak Williams em Detroit, em janeiro de 2020. A prisão de Williams, que
é negro, decorreu de um alerta equivocado do sistema de reconhecimento facial da
polícia (ANDERSON, 2020). No Brasil, também foi verificado problema similar com uma
prisão sendo realizada em razão de falha no sistema de reconhecimento facial conforme
noticiado pela imprensa (WERNECK, 2019).
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FABIO NUNES DE MARTINO
314 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 301-343, jan./jul. 2022.
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AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
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A UTILIZAÇÃO DO RECONHECIMENTO FACIAL COMO INSTRUMENTO DE COMBATE
AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
9
Cabe referir que nem todo processamento de imagens envolve o de dados sensíveis,
o que apenas ocorre naqueles casos em que o processamento se dá por um meio
técnico que permita a identificação ou a autenticação individualizada de uma pessoa
(CONSELHO DA EUROPA, 2021, p. 3).
10
Em data recente, a Emenda Constitucional n. 115, de 2022, incluiu expressamente no
art. 5º, LXXIX, a proteção de dados pessoais como um direito fundamental nos seguintes
termos: “É assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos dados pessoais,
inclusive nos meios digitais”. (BRASIL, 2022).
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FABIO NUNES DE MARTINO
11
Sobre o capitalismo de vigilância e a força dessas empresas na atualidade cabe a leitura
da obra de Zuboff (2020).
318 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 301-343, jan./jul. 2022.
A UTILIZAÇÃO DO RECONHECIMENTO FACIAL COMO INSTRUMENTO DE COMBATE
AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
12
Nesse sentido, observa-se que, em alguns países, o sistema de controle que utiliza o
reconhecimento facial como uma das suas ferramentas chegou ao ponto de possibilitar
o controle das pessoas por scores (ZYLBERMAN, 2020).
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FABIO NUNES DE MARTINO
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A UTILIZAÇÃO DO RECONHECIMENTO FACIAL COMO INSTRUMENTO DE COMBATE
AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
13
Mapa demonstra que a tecnologia está sendo aplicada em grande parte dos países do
globo (THE FACIAL..., 2020).
14
Nesse sentido, o art. 4º, § 1º, III, b, da Portaria n. 793/2019 dispõe sobre o “fomento
à implantação de sistemas de videomonitoramento com soluções de reconhecimento
facial, por Optical Character Recognition – OCR, uso de inteligência artificial ou outros”
(BRASIL, 2019b).
15
Atualmente, a Polícia Federal brasileira implementou um sistema de identificação
biométrica denominado Solução Automatizada de Identificação Biométrica – Abis, que
abrange tanto a impressão digital como o reconhecimento facial (BRASIL, 2021).
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FABIO NUNES DE MARTINO
16
Não se pode esquecer que esse apoio é fortalecido pelas grandes empresas de
tecnologia, que são as principais desenvolvedoras e fornecedoras dos programas de
reconhecimento facial.
17
O caso se originou de três diferentes pedidos que decorreram das revelações feitas por
Edward Snowden sobre programas de vigilância eletrônica realizados pelos serviços de
informações dos Estados Unidos e do Reino Unido.
18
Caso em que a Corte Europeia censurou a prática de interceptações genéricas em uma
área em que ocorra um crime.
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AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
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A UTILIZAÇÃO DO RECONHECIMENTO FACIAL COMO INSTRUMENTO DE COMBATE
AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
No Brasil, ainda não existe uma lei geral que trate sobre o
reconhecimento facial19, assim como não existe uma lei que trate da
proteção pessoal de dados para fins específicos de uso na segurança
pública, o que gera um vácuo legislativo que, por um lado, cria um
ambiente de insegurança jurídica para os investigadores e, também,
deixa um perigoso espaço para a ocorrência de violações de direitos
fundamentais dos indivíduos.
19
O Distrito Federal foi a primeira unidade da Federação a dispor sobre uma legislação
específica a respeito do reconhecimento facial (DISTRITO FEDERAL, 2020).
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FABIO NUNES DE MARTINO
20
Nesse sentido, deve ser citado o teor de parte da exposição de motivos do anteprojeto
da Lei Geral de Proteção de Dados na esfera da segurança pública que bem sintetiza
essa ideia: “Nesse contexto, a elaboração de uma legislação específica fundamenta-se
na necessidade prática de que os órgãos responsáveis por atividades de segurança
pública e de investigação/repressão criminais detenham segurança jurídica para exercer
suas funções com maior eficiência e eficácia – como pela participação em mecanismos
de cooperação internacional –, porém sempre de forma compatível com as garantias
processuais e os direitos fundamentais dos titulares de dados envolvidos. Trata-se,
portanto, de projeto que oferece balizas e parâmetros para operações de tratamento de
dados pessoais no âmbito de atividades de segurança pública e de persecução criminal,
equilibrando tanto a proteção do titular contra mau uso e abusos como acesso de
autoridades a todo potencial de ferramentas e plataformas modernas para segurança
pública e investigações.” (BRASIL, 2019a).
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A UTILIZAÇÃO DO RECONHECIMENTO FACIAL COMO INSTRUMENTO DE COMBATE
AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
8 CONCLUSÃO
Ocorre que a busca pela eficiência a qualquer custo não pode ser
justificativa para o uso descontrolado dessa ferramenta investigativa.
Existem limites que devem ser respeitados sob pena de frontal violação
de direitos fundamentais dos cidadãos.
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A UTILIZAÇÃO DO RECONHECIMENTO FACIAL COMO INSTRUMENTO DE COMBATE
AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
REFERÊNCIAS
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FABIO NUNES DE MARTINO
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AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
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FABIO NUNES DE MARTINO
Federal: Brasília, DF, ano 49, n. 213, 11 nov. 2020. Disponível em: https://
www.tjdft.jus.br/institucional/relacoes-institucionais/arquivos/lei-no-6-
712-de-10-de-novembro-de-2020.pdf. Acesso em: 12 mar. 2022.
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A UTILIZAÇÃO DO RECONHECIMENTO FACIAL COMO INSTRUMENTO DE COMBATE
AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL E AO TERRORISMO: LIMITES E PERSPECTIVAS
THE FACIAL recognition world map: smile, you’re on camera. [S. l.]:
Surfshark, mar. 2020. Disponível em: https://surfshark.com/facial-
recognition-map. Acesso em: 5 mar. 2022.
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338 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 301-343, jan./jul. 2022.
https://doi.org/10.54795/rejub.n.1.187
RESUMO
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 345-379, jan./jul. 2022. 339
MATHEUS LOLLI PAZETO
ABSTRACT
Recebido: 14-3-2022
Aprovado: 28-4-2022
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LAVAGEM DE DINHEIRO NO ÂMBITO DAS FINANÇAS DESCENTRALIZADAS –
DEFI E SUA PREVENÇÃO À LUZ DAS RECOMENDAÇÕES DO GRUPO DE AÇÃO
FINANCEIRA CONTRA A LAVAGEM DE DINHEIRO E O FINANCIAMENTO DO TERRORISMO – GAFI
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
1
Nesse sentido, veja-se notícia veiculada no portal digital IstoÉ Dinheiro, em 8 de
novembro de 2021 (MERCADO..., 2021).
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DEFI E SUA PREVENÇÃO À LUZ DAS RECOMENDAÇÕES DO GRUPO DE AÇÃO
FINANCEIRA CONTRA A LAVAGEM DE DINHEIRO E O FINANCIAMENTO DO TERRORISMO – GAFI
2
A verdadeira identidade de Satoshi Nakamoto é ainda desconhecida, podendo ser
atribuída a um indivíduo ou, até mesmo, a um grupo – com diversas especulações.
Nesse sentido, ver matéria do portal digital InfoMoney (QUEM É..., c2022).
3
Sobre a convenção em torno da utilização da palavra bitcoin, Uhdre (2021, p. 32) alerta
que “podemos estar diante de uma ‘moeda’ digital e virtual – bitcoin, grafado com letra
minúscula –, e/ou diante de um protocolo tecnológico desenvolvido sobre a camada da
internet – Bitcoin, gravado em letra maiúscula”.
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DEFI E SUA PREVENÇÃO À LUZ DAS RECOMENDAÇÕES DO GRUPO DE AÇÃO
FINANCEIRA CONTRA A LAVAGEM DE DINHEIRO E O FINANCIAMENTO DO TERRORISMO – GAFI
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DEFI E SUA PREVENÇÃO À LUZ DAS RECOMENDAÇÕES DO GRUPO DE AÇÃO
FINANCEIRA CONTRA A LAVAGEM DE DINHEIRO E O FINANCIAMENTO DO TERRORISMO – GAFI
4
A esse respeito, destaca-se como exemplo a matéria do portal de notícias Exame, que
discorre sobre o funcionamento da plataforma Ethereum e destaca sua classificação
como a segunda maior rede blockchain (ENTENDA..., 2021).
5
Outros exemplos de plataformas de contratos inteligentes, ou redes blockchain, são
a Solana (SOLANA, [20--]), a Terra (TERRA, [20--]) e a Avalanche (AVALANCHE
MULTIVERSE, [20--]).
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DEFI E SUA PREVENÇÃO À LUZ DAS RECOMENDAÇÕES DO GRUPO DE AÇÃO
FINANCEIRA CONTRA A LAVAGEM DE DINHEIRO E O FINANCIAMENTO DO TERRORISMO – GAFI
6
Exemplos de DEX são a Uniswap (UNISWAP PROTOCOL, [20--]), a TerraSwap
(TERRASWAP, c2022) e a TraderJoe (TRADER JOE, c2022), que estão estabelecidas,
respectivamente, nas plataformas de contratos inteligentes Ethereum, Terra e Avalanche.
7
Exemplos bem conhecidos são os protocolos Aave (AAVE LIQUIDITY PROTOCOL,
[20--]) e Yearn (YEARN, [20--]), ambos na plataforma Ethereum.
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MATHEUS LOLLI PAZETO
8
Levantamento de website DeFi Llama, especializado no tema, aponta para mais de
194 bilhões de dólares investidos em DeFi na data de 8 de março de 2022 (DEFI
LLAMA, 2022).
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9
Segundo matéria escrita por Khatri (2021) no portal The Block, corretoras
centralizadas de criptoativos reportaram um volume de negociação superior a
14 trilhões de dólares em 2021.
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MATHEUS LOLLI PAZETO
fora de seu domínio técnico, uma vez que lhe é oferecida experiência
similar à de muitos bancos ou corretoras de ativos mobiliários.
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DEFI E SUA PREVENÇÃO À LUZ DAS RECOMENDAÇÕES DO GRUPO DE AÇÃO
FINANCEIRA CONTRA A LAVAGEM DE DINHEIRO E O FINANCIAMENTO DO TERRORISMO – GAFI
Dessa forma, um agente que pretenda movimentar, em uma
CEX, criptoativo adquirido com dinheiro decorrente de crime, com o
objetivo de lavagem do capital, não o fará de forma anônima, uma vez
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5 CONCLUSÃO
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MATHEUS LOLLI PAZETO
REFERÊNCIAS
DEFI LLAMA. [S. l.]: DeFi Llama, 2022. Disponível em: https://defillama.
com/. Acesso em: 8 mar. 2022.
370 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 345-379, jan./jul. 2022.
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FINANCEIRA CONTRA A LAVAGEM DE DINHEIRO E O FINANCIAMENTO DO TERRORISMO – GAFI
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DEFI E SUA PREVENÇÃO À LUZ DAS RECOMENDAÇÕES DO GRUPO DE AÇÃO
FINANCEIRA CONTRA A LAVAGEM DE DINHEIRO E O FINANCIAMENTO DO TERRORISMO – GAFI
TRADER JOE. [S. l.]: Trader Joe XYZ, c2022. Disponível em: https://
traderjoexyz.com/home#/. Acesso em: 8 mar. 2022.
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https://doi.org/10.54795/rejub.n.1.188
CRIPTOATIVOS: CRIPTOGRAFIA DO
ANONIMATO E TENTATIVAS DE REGULAÇÃO
CRYPTOASSETS: ANONYMITY CRYPTOGRAPHY AND
REGULATION ATTEMPTS
RESUMO
ReJuB
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CRIPTOATIVOS: CRIPTOGRAFIA DO ANONIMATO E TENTATIVAS DE REGULAÇÃO
ABSTRACT
Recebido: 10-3-2022
Aprovado: 28-4-2022
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
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CRIPTOATIVOS: CRIPTOGRAFIA DO ANONIMATO E TENTATIVAS DE REGULAÇÃO
1
Sobre Proof of Work: “A ideia toda surgiu em 1993, quando Cynthia Dwork e Moni Naor
publicaram um artigo científico sobre funções vinculadas à memória para combater o
spam. No artigo, eles estavam tentando introduzir um novo método de combate aos
e-mails de spam, que são enviados usando a energia do computador para cada e-mail
(ou transação). O Proof of Work é uma função difícil de calcular, mas fácil de verificar. A
função possui uma mensagem, um endereço de destinatário e alguns outros parâmetros.
Neste trabalho, Dwork e Naor chamavam de função de precificação. Os computadores
de hoje podem enviar milhões de mensagens de spam todos os dias, o que cria um
grande problema. No entanto, se os computadores precisarem gastar 10 segundos
em cada mensagem, eles poderão enviar apenas 8 mil spams por dia. Em 1999, no
artigo Proofs of work and bread pudding protocols (Provas de trabalho e protocolos de
pudim de pão) publicado por Markus Jakobsson e Ari Juels, o termo ‘Proof of work’ foi
introduzido e a notação é criada. Seu objetivo era caracterizar a notação de uma prova
de trabalho (PoW), um protocolo no qual um provador demonstra a um verificador
que ele gastou um certo nível de esforço computacional em um intervalo de tempo
específico.” (BASTIANI, 2019).
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CRIPTOATIVOS: CRIPTOGRAFIA DO ANONIMATO E TENTATIVAS DE REGULAÇÃO
2
Curiosamente, o artigo citado trata da utilização de ring signaures em aplicativos de
comunicação remota entre médicos e pacientes, de forma a apresentar uma solução
de segurança para os dados médicos do usuário do sistema, o que demonstra um dos
possíveis empregos benéficos da tecnologia de sigilo apresentada. Bem por isso, o
combate aos crimes não pode impedir radicalmente o avanço do estado da arte para
não impedir o progresso tecnológico em prol dos cidadãos.
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MARCOS VINICIUS LIPIENSKI
3
“Suponha que Maria queira transferir 1 BTC do endereço A para o endereço B. Enquanto
Juan deseja transferir 1 BTC do endereço C para o endereço D. Para tornar esta transação
privada, os dois decidem usar CoinJoin para fins de combinação de suas transferências
em uma única transação que tem duas entradas (A e C) e duas saídas (B e D). O que o
CoinJoin faz é pegar as entradas de Maria e João, combiná-las na mesma transação e, a
partir delas, misturar essas moedas para gerar as transações que irão para o seu destino.
Se a operação exigir o reembolso de uma troca, a transação CoinJoin também irá criar
essa transação e a enviará para um endereço de troca sob o controle da pessoa a quem
essas moedas pertencem. A operação de pagamento CoinJoin somente será realizada
quando Maria e João assinarem criptograficamente as suas respectivas transações.
No entanto, o truque que o CoinJoin mostra todo o seu poder na blockchain.
Normalmente, as transações de Maria e João mostravam um padrão claro de envio de
moedas. Ou seja, as moedas vão do seu endereço para o endereço de destino. Porém,
no CoinJoin, podemos ver uma única transação na qual várias entradas são unidas e há
várias saídas.
Isto torna mais difícil para terceiros determinar qual destinatário recebeu qual saída.
Mesmo o destinatário da transação não pode determinar de qual endereço os fundos
recebidos são provenientes, porque os UTXOs não estão diretamente relacionados a
um endereço em si, mas a uma transação de várias entradas, todas elas independentes”
(O QUE..., c2022).
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CRIPTOATIVOS: CRIPTOGRAFIA DO ANONIMATO E TENTATIVAS DE REGULAÇÃO
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CRIPTOATIVOS: CRIPTOGRAFIA DO ANONIMATO E TENTATIVAS DE REGULAÇÃO
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CRIPTOATIVOS: CRIPTOGRAFIA DO ANONIMATO E TENTATIVAS DE REGULAÇÃO
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MARCOS VINICIUS LIPIENSKI
4
Para uma visão mais completa a respeito da implementação de medidas de prevenção
à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo por parte de diversos países,
recomenda-se a do segundo acompanhamento anual da padronização de ativos
virtuais e provedores de serviço de ativos virtuais, realizada em 2021. Lá, existe um
diagnóstico detalhado sobre o número de países que deram início à implementação
das medidas sugeridas pelo organismo, notadamente a Recomendação n. 15, que
trata da fiscalização e instituição de obrigações de prevenção para aquelas atividades
econômicas. Reportou-se que 58 jurisdições haviam a legislação necessária para
implementar a Recomendação n. 15, com 35 delas com regime operacional. Para uma
abordagem panorâmica das medidas de fato tomadas por diversos países sobre ativos
virtuais, que ultrapassa o objetivo desse trabalho, o leitor interessado deve procurar
a diretriz Gafi atualizada sobre abordagem baseada em risco de ativos virtuais e de
provedores de serviços de ativos virtuais, também de 2021, na qual constam relatadas
tais experiências.
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CRIPTOATIVOS: CRIPTOGRAFIA DO ANONIMATO E TENTATIVAS DE REGULAÇÃO
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MARCOS VINICIUS LIPIENSKI
392 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 381-410, jan./jul. 2022.
CRIPTOATIVOS: CRIPTOGRAFIA DO ANONIMATO E TENTATIVAS DE REGULAÇÃO
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MARCOS VINICIUS LIPIENSKI
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CRIPTOATIVOS: CRIPTOGRAFIA DO ANONIMATO E TENTATIVAS DE REGULAÇÃO
6 CONCLUSÃO
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MARCOS VINICIUS LIPIENSKI
396 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 381-410, jan./jul. 2022.
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REFERÊNCIAS
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MARCOS VINICIUS LIPIENSKI
398 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 381-410, jan./jul. 2022.
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MARCOS VINICIUS LIPIENSKI
other/en_con_2022_5_f_sign~28d246a36e..pdf?0747dd114f0107799ad
0b6fcb202233f. Acesso em: 23 fev. 2022.
400 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 381-410, jan./jul. 2022.
CRIPTOATIVOS: CRIPTOGRAFIA DO ANONIMATO E TENTATIVAS DE REGULAÇÃO
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402 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 381-410, jan./jul. 2022.
CRIPTOATIVOS: CRIPTOGRAFIA DO ANONIMATO E TENTATIVAS DE REGULAÇÃO
WHAT ARE zk-SNARKs? [S. l.]: ZCash, c2021. Disponível em: https://z.
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https://doi.org/10.54795/rejub.n.1.189
RESUMO
ReJuB
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O RECONHECIMENTO DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS COMO ESTRUTURA
COMPLEXA E ÚNICA DA SOCIEDADE – COMPARATIVO À LEGISLAÇÃO ITALIANA QUE
TIPIFICA NOMINALMENTE O PERTENCIMENTO A UMA ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (ART. 416-BIS)
ABSTRACT
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 411-440, jan./jul. 2022. 405
MARIANA PARMEZAN ANNIBAL
Recebido: 11-3-2022
Aprovado: 28-4-2022
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
406 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 411-440, jan./jul. 2022.
O RECONHECIMENTO DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS COMO ESTRUTURA
COMPLEXA E ÚNICA DA SOCIEDADE – COMPARATIVO À LEGISLAÇÃO ITALIANA QUE
TIPIFICA NOMINALMENTE O PERTENCIMENTO A UMA ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (ART. 416-BIS)
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Fica claro, assim, que o ângulo ainda hoje defendido por certa
ala política, principalmente de que estaríamos lidando com bárbaros
a serem combatidos apenas com violência, não encontra guarida na
realidade, o que é possível observar não só nas ruas paulistas como
também se pode depreender dos anos de lida da segurança pública
frente à máfia na Itália.
408 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 411-440, jan./jul. 2022.
O RECONHECIMENTO DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS COMO ESTRUTURA
COMPLEXA E ÚNICA DA SOCIEDADE – COMPARATIVO À LEGISLAÇÃO ITALIANA QUE
TIPIFICA NOMINALMENTE O PERTENCIMENTO A UMA ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (ART. 416-BIS)
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COMPLEXA E ÚNICA DA SOCIEDADE – COMPARATIVO À LEGISLAÇÃO ITALIANA QUE
TIPIFICA NOMINALMENTE O PERTENCIMENTO A UMA ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (ART. 416-BIS)
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COMPLEXA E ÚNICA DA SOCIEDADE – COMPARATIVO À LEGISLAÇÃO ITALIANA QUE
TIPIFICA NOMINALMENTE O PERTENCIMENTO A UMA ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (ART. 416-BIS)
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COMPLEXA E ÚNICA DA SOCIEDADE – COMPARATIVO À LEGISLAÇÃO ITALIANA QUE
TIPIFICA NOMINALMENTE O PERTENCIMENTO A UMA ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (ART. 416-BIS)
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COMPLEXA E ÚNICA DA SOCIEDADE – COMPARATIVO À LEGISLAÇÃO ITALIANA QUE
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COMPLEXA E ÚNICA DA SOCIEDADE – COMPARATIVO À LEGISLAÇÃO ITALIANA QUE
TIPIFICA NOMINALMENTE O PERTENCIMENTO A UMA ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (ART. 416-BIS)
A luta contra a máfia não deve ser reduzida apenas a uma obra
de repressão policial e estatal, como perceberam as autoridades
e a sociedade italianas em algum tempo, mas deve, antes de tudo,
manifestar-se sob a forma de um verdadeiro “movimento cultural”,
gerando uma consciência coletiva da capacidade do Estado em
combater o crime organizado.
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MARIANA PARMEZAN ANNIBAL
424 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 411-440, jan./jul. 2022.
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1
“Art. 416-bis, codice penale – L’associazione è di tipo mafioso quando coloro che ne
fanno parte si avvalgono della forza di intimidazione del vincolo associativo e della
condizione di assoggettamento e di omertà che ne deriva per commettere delitti, per
acquisire in modo diretto o indiretto la gestione o comunque il controllo di attività
economiche, di concessioni, di autorizzazioni, appalti e servizi pubblici o per realizzare
profitti o vantaggi ingiusti per sé o per altri.” (ITÁLIA, 1930).
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TIPIFICA NOMINALMENTE O PERTENCIMENTO A UMA ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (ART. 416-BIS)
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REFERÊNCIAS
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O RECONHECIMENTO DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS COMO ESTRUTURA
COMPLEXA E ÚNICA DA SOCIEDADE – COMPARATIVO À LEGISLAÇÃO ITALIANA QUE
TIPIFICA NOMINALMENTE O PERTENCIMENTO A UMA ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (ART. 416-BIS)
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 411-440, jan./jul. 2022. 429
MARIANA PARMEZAN ANNIBAL
JESUS, Maria Gorete Marques de. ‘O que está no mundo não está nos
autos’: a construção da verdade jurídica nos processos criminais de
tráfico de drogas. 2016. Tese (Doutorado em Sociologia) - Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2016.
430 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 411-440, jan./jul. 2022.
O RECONHECIMENTO DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS COMO ESTRUTURA
COMPLEXA E ÚNICA DA SOCIEDADE – COMPARATIVO À LEGISLAÇÃO ITALIANA QUE
TIPIFICA NOMINALMENTE O PERTENCIMENTO A UMA ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (ART. 416-BIS)
LUPO, Salvatore. História da Máfia: das origens aos nossos dias. São
Paulo: Editora Unesp, 2002.
MOV. PCC, Primeiro Cartel da Capital. [S. l.]: UOL Play, 2019.
(Reportagens Especiais). Disponível em: https://www.uol.com.br/mov/
reportagens-especiais/pcc.htm. Acesso em: 15 out. 2020.
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 411-440, jan./jul. 2022. 431
MARIANA PARMEZAN ANNIBAL
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O RECONHECIMENTO DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS COMO ESTRUTURA
COMPLEXA E ÚNICA DA SOCIEDADE – COMPARATIVO À LEGISLAÇÃO ITALIANA QUE
TIPIFICA NOMINALMENTE O PERTENCIMENTO A UMA ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (ART. 416-BIS)
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https://doi.org/10.54795/rejub.n.1.190
RESUMO
ReJuB
434 - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022.
NOVAS PERSPECTIVAS DE COMBATE AO CRIME
ORGANIZADO: INTERAMERICANIZAÇÃO DO DIREITO PENAL
ABSTRACT
Recebido: 14-3-2022
Aprovado: 28-4-2022
SUMÁRIO
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FREDERICO VALDEZ PEREIRA
1 INTRODUÇÃO
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ORGANIZADO: INTERAMERICANIZAÇÃO DO DIREITO PENAL
1
A doutrina fala de “interamericanização” do sistema europeu e “europeização” do
sistema interamericano (GARCÍA ROCA, 2016, p. 533).
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FREDERICO VALDEZ PEREIRA
2
A guarida constitucional de direitos e liberdades fundamentais e a garantia jurisdicional
são pressupostos da tutela multinível dos direitos fundamentais (CARDONE, 2011,
p. 335).
438 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022.
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ORGANIZADO: INTERAMERICANIZAÇÃO DO DIREITO PENAL
3
Há ainda o sistema africano de Direitos Humanos, assentado na Carta Africana dos
Direitos Humanos no bojo da União Africana, e que conta com comissão e corte.
4
Lavrysen (2014, p. 95) refere que desde a decisão no caso Velásquez-Rodríguez, a
Corte IDH contempla o sistema penal como aliado na proteção efetiva dos direitos
fundamentais.
5
Exigências de efetivação decorrentes dos Direitos Humanos não se reduzem à seara
penal, incidem também em outras searas. Para aprofundamento, consultar Lavrysen
(2014).
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FREDERICO VALDEZ PEREIRA
6
Um panorama dos principais precedentes consta no escrito de Zapatero (2013).
440 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022.
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7
O parâmetro amplo do controle de convencionalidade é indicado como corpus juris
convencional, ou bloco de convencionalidade (MAZZUOLI, 2013, p. 105-107).
8
Consoante Ramos (2005, p. 54), a tradicional postura de ratificar os tratados e
descumpri-los na prática não terá mais lugar. A apreciação do cumprimento se dará
pelos órgãos dos respectivos sistemas supranacionais, e não mais, unilateralmente,
pelos próprios estados.
9
O monitoramento constante e os mecanismos de enforcement são também
características do sistema europeu no âmbito da UE, que atua, sobretudo, pela Corte
de Justiça, pela comissão e pelo parlamento europeu, cf. infra, item 4.
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022. 441
FREDERICO VALDEZ PEREIRA
10
Rol das principais convenções ratificadas pelo Brasil em Piovesan e Cruz (2021, p. 13).
11
Cf. refere Zilli (2022, p. 54), são estabelecidas agendas internacionais de repressão
penal, com vista à maior eficiência no enfrentamento de delitos que ultrapassam as
fronteiras.
442 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022.
NOVAS PERSPECTIVAS DE COMBATE AO CRIME
ORGANIZADO: INTERAMERICANIZAÇÃO DO DIREITO PENAL
12
Explicitação das diversas linhas de atuação do DDOT junto aos países no tema do
combate à criminalidade organizada está na página eletrônica do Departamento
Contra la Delincuencia Organizada Transnacional (ORGANIZACIÓN DE LOS ESTADOS
AMERICANOS, c2022).
13
A característica ipertestuale da Convenção Europeia é referida por Manes (2011,
p. 7), que decorre da ricchissima giurisprudenza della Corte di Strasburgo. Em sentido
análogo, no espaço interamericano (SAGÜÉS, 2010, p. 125).
14
A expressão aparece, por exemplo, na obra de Kostoris (2015a, p. 70).
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022. 443
FREDERICO VALDEZ PEREIRA
Esse novo contexto jurídico pode ser condensado nas duas ideias
essenciais que impulsionam este estudo: i) a matéria penal é aliada
na preservação dos valores mais relevantes dos Estados de Direito;
ii) a melhor estratégia para qualificar o enfrentamento das graves
manifestações da criminalidade é a abertura do sistema nacional aos
influxos dos níveis normativos supranacional e internacional. A par os
avanços verificados, trata-se de um labor em curso, uma construção
que teve frutos, mas precisa ser qualificada.
444 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022.
NOVAS PERSPECTIVAS DE COMBATE AO CRIME
ORGANIZADO: INTERAMERICANIZAÇÃO DO DIREITO PENAL
15
A Recomendação n. 123 explicita a importância de os órgãos do Poder Judiciário
observarem os tratados e as convenções internacionais de Direitos Humanos, e
recomenda aos juízes a utilização da jurisprudência da Corte IDH (CONSELHO
NACIONAL DE JUSTIÇA, 2022).
16
Está consolidada na CIDH a afirmação da incompatibilidade da anistia com crimes
graves; sobre o tema, e referências à jurisprudência da CIDH, ver as obras de Andrade
(2019, p. 165 et seq.); Fischer; Pereira (2022, p. 170 et seq.).
17
A CIDH admite julgamento por tribunais militares apenas quando se tratar de situações
envolvendo funções típicas das forças militares. Jamais por crimes praticados contra
civis. Para exemplificar, o caso Radilla Pacheco c. México (CORTE INTERAMERICANA
DE DIREITOS HUMANOS, 2009). A Lei n. 13.491 traz nítida desconsideração desse
standard supranacional de tutela dos Direitos Humanos (BRASIL, 2017).
18
O Brasil vem sendo cobrado por uma melhoria geral nos estabelecimentos prisionais.
Recentemente, o relatório da Comissão IDH sobre o contexto da “situação dos Direitos
Humanos no Brasil” (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 2021).
19
Desde 1988, a CIDH passou a indicar a importância da efetividade do sistema penal
na tutela dos Direitos Humanos, no caso Velásquez Rodríguez c. Honduras (CORTE
INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS, 1988).
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022. 445
FREDERICO VALDEZ PEREIRA
20
Ver Relatório Anual n. 54/2001 da comissão sobre o caso Maria da Penha Maia Fernandes
c. Brasil (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 2001).
21
Houve recomendação para: “Intensificar o processo de reforma que evite a tolerância
estatal e o tratamento discriminatório com respeito à violência doméstica contra
mulheres no Brasil”.
22
Harmonização em sentido geral, cf. Calderoni (2010, p. 3): “The concept of harmonization
of criminal law is used in its more appropriate interpretation [...] “The process of
modifying different criminal law legislations in order to improve their consistency and
eliminate frictions among them”.
446 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022.
NOVAS PERSPECTIVAS DE COMBATE AO CRIME
ORGANIZADO: INTERAMERICANIZAÇÃO DO DIREITO PENAL
Mas foi a própria Corte EDH que funcionou como principal motor
de transformação na direção da conformidade nacional. Superado um
período inicial de maior comedimento, em que a corte apenas aplicava
aos estados-partes indenizações monetárias, os julgamentos passaram
a ir além, indicando medidas concretas para a efetiva realização do
direito. O Tribunal de Estrasburgo passou a impulsionar a efetiva
correção jurídica do caso concreto submetido a julgamento. Em poucas
palavras, a corte passou a impor uma obrigação jurídica de resultado
ao Estado-Membro, inclusive com indicação dos meios necessários à
reintegração jurídica completa no caso específico (KOSTORIS, 2015a,
p. 62).
23
Os dois órgãos para efetivação da CEDH são a Corte EDH e o Comitê de Ministros do
Conselho da Europa. A Comissão EDH foi extinta em 1998, com o Protocolo n. 11.
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022. 447
FREDERICO VALDEZ PEREIRA
24
Com procedimento primeiramente indicado no Protocolo Adicional n. 14 da CEDH, e, na
sequência, integrado no art. 61 do Regulamento da Corte EDH (EUROPEAN COURT OF
HUMAN RIGHTS, 2022).
25
Para um apanhado do processo histórico recente de internacionalização do Direito
Penal, o texto de Zapatero (2013).
448 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022.
NOVAS PERSPECTIVAS DE COMBATE AO CRIME
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ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022. 449
FREDERICO VALDEZ PEREIRA
26
Não são recentes os diagnósticos do aspecto transnacional da criminalidade organizada.
Ver relatório da United Nations Office on Drugs and Crime – UNODC (UNITED NATIONS,
2010).
450 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022.
NOVAS PERSPECTIVAS DE COMBATE AO CRIME
ORGANIZADO: INTERAMERICANIZAÇÃO DO DIREITO PENAL
27
A Decisão-Quadro n. 2008/841/JAI, relativa à luta contra a criminalidade organizada,
pode ser considerada o ato jurídico marcante na construção de um regime europeu
contra a criminalidade organizada (UNIÃO EUROPEIA, 2008b).
28
Na base, a ideia de que a harmonização aumenta a confiança recíproca entre os estados-
membros e, por consequência, a eficácia do princípio do reconhecimento recíproco:
“Nella prospettiva di un ‘circolo virtuoso’ che lega i tre fenomeni” (AMALFITANO, 2014,
p. 19).
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FREDERICO VALDEZ PEREIRA
29
Foi criado como unidade da UE em 2002, pela decisão do Conselho n. 2002/187/
JHA, para reforçar o combate à grave criminalidade. Em 2018, foi constituído como
agência para a cooperação judiciária penal pelo Regulamento UE n. 2018/1727 (UNIÃO
EUROPEIA, 2018). Para consulta na doutrina recente, o escrito de Salazar (2019, p. 43).
452 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022.
NOVAS PERSPECTIVAS DE COMBATE AO CRIME
ORGANIZADO: INTERAMERICANIZAÇÃO DO DIREITO PENAL
30
A European Police Office – Europol foi instituída por decisão do conselho de 2009. A
última alteração se deu pelo Regulamento n. 2016/794, do parlamento europeu e do
conselho, que criou a Agência da União Europeia para a Cooperação Policial – Europol
(UNIÃO EUROPEIA, 2016).
31
Segundo a doutrina (FIDELBO, 2016, p. 93), a inspiração direta da European Public
Prosecution Office – EPPO é o Corpus Juris Civilis, modelo normativo de iniciativa
do Parlamento Europeu, elaborado por grupo internacional coordenado por Mireille
Delmas-Marty. A EPPO foi efetivamente instituída pelo Regulamento do Conselho
n. 2.017/1939 (UNIÃO EUROPEIA, 2017).
32
Cf. § 4º do art. 86 do TFUE. Sobre a articulação entre Eurojust e Procuradoria Europeia,
ver o escrito de Spiezia (2018).
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022. 453
FREDERICO VALDEZ PEREIRA
33
Regulada pela Diretiva n. 2014/41/UE do Parlamento Europeu e do Conselho (UNIÃO
EUROPEIA, 2014). DEI corresponde a uma decisão judicial proferida ou validada por
autoridades judiciais de um país para execução de medidas investigativas em outro
país. Na doutrina, Daniele (2016).
34
Originado na Decisão-Quadro do Conselho n. 2002/584/JHI, de 13 de junho de 2002
(UNIÃO EUROPEIA, 2002). Seria a primeira concretização na seara penal do princípio
do reconhecimento mútuo. É uma espécie de extradição simplificada e despolitizada,
para entrega da pessoa procurada ou condenada.
35
Nessa linha, Sotis (2013, p. 3) refere que a relação entre Direito Penal e integração
europeia é marcada pela contradição.
454 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022.
NOVAS PERSPECTIVAS DE COMBATE AO CRIME
ORGANIZADO: INTERAMERICANIZAÇÃO DO DIREITO PENAL
36
Trata-se da Convenção da ONU contra o Crime Organizado Transnacional, considerado
o principal instrumento global de combate ao crime organizado (BRASIL, 2004).
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FREDERICO VALDEZ PEREIRA
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NOVAS PERSPECTIVAS DE COMBATE AO CRIME
ORGANIZADO: INTERAMERICANIZAÇÃO DO DIREITO PENAL
37
Exemplo da previsão de rede de cooperação é o art. 35 da Convenção do Conselho da
Europa sobre a criminalidade informática (CONVENÇÃO SOBRE O CIBERCRIME, 2001).
38
Coordenação entre os estados que pode ser impulsionada por pontos de contato
especialmente designados pelas autoridades centrais de cooperação. Finalidade
é facilitar a cooperação em matéria penal. Auxiliam nos contatos diretos entre as
autoridades competentes, e prestam informações jurídicas e práticas para impulsionar
a cooperação. A Decisão n. 2008/976/JHA do Conselho especifica as funções da Rede
Judiciária Europeia (UNIÃO EUROPEIA, 2008a).
39
A Resolução n. 10/2004 contém no § 11 a exortação aos estados para aderirem a
mecanismos de cooperação internacional, entre eles: “Joint investigation bodies that
make use of modern technologies” (UNITED NATIONS, [2020]).
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40
Ver o relatório elaborado pelo secretariado para reunião do grupo de trabalho sobre
cooperação internacional, em Viena, 2020, sobre o tema: “The use and role of joint
investigative bodies in combating transnational organized crime” (UNITED NATIONS,
2020).
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NOVAS PERSPECTIVAS DE COMBATE AO CRIME
ORGANIZADO: INTERAMERICANIZAÇÃO DO DIREITO PENAL
6 CONCLUSÃO
41
Interessante as linhas de atuação do Conselho da Europa no contraste à criminalidade
organizada transnacional, não obstante todo trabalho no seio da UE. Para visão
panorâmica, consultar ”White Paper on transnational organised crime“ (COUNCIL OF
EUROPE, 2014).
42
No documento referido na nota anterior, entre as principais conclusões está a de
que: “The involvement of the Council of Europe in developing a general strategy in
the fight against transnational organised crime – TOC, as well as undertaking political
and practical action in precise areas, would definitely contribute to the increased
effectiveness of the fight against TOC”.
43
Segundo o White Paper on transnational organised crime (COUNCIL OF EUROPE, 2014):
“The drafting of new conventions or legal instruments on TOC should no longer be seen
as a priority. Actions should focus on ratification, implementation and effectiveness of
existing legal instruments”.
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REFERÊNCIAS
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462 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022.
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FREDERICO VALDEZ PEREIRA
MAZZA, Oliviero. Cedu e diritto interno. In: GAITO, Alfredo (a cura di).
I princìpi europei del processo penale. Roma: Dike, 2016. p. 3-20.
464 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022.
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468 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 441-475, jan./jul. 2022.
https://doi.org/10.54795/rejub.n.1.191
RESUMO
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MARA LINA SILVA DO CARMO
ABSTRACT
This article aims to verify if the due process of law takes place in the
rewarded collaboration procedure, a legal institute of paramount
importance in the Brazilian experience of combating organized crime,
and that contributes to the expansion of spaces of consensus in the
criminal sphere. Having drawn a historical-legislative overview of
rewarded collaboration in Brazil, a study is made of the respective
procedure, defined by the Organized Crime Law - Law 12.850/2013,
modified by Law 13.964/2019, seeking to identify legal provisions
relevant to the due process of law, both from the perspective of de
collaborate and in relation to the one denounced by him in the rewarded
collaboration. In the end, it can be seen that the Law to combat organized
crime contains several provisions aimed at protecting the due process
of law in the rewarded collaboration procedure; the realization of this
and other fundamental guarantees, however, depends on the effective
observance of the respective legal procedure, preponderantly, by the
Judiciary. The problem and the perspective of analysis were based on
qualitative literature review and documentary research.
Recebido: 14-3-2022
Aprovado: 28-4-2022
SUMÁRIO
470 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 477-506, jan./jul. 2022.
LEI DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E O
DIREITO À AMPLA DEFESA NA COLABORAÇÃO PREMIADA
1 INTRODUÇÃO
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MARA LINA SILVA DO CARMO
1
Nessa linha de compreensão, Costa (2017, f. 173) assevera que: “São diversos os
mecanismos de blindagem existentes em grupos criminosos organizados, principalmente
de sua liderança, os quais dificultam sobremaneira a atuação dos órgãos responsáveis
pela persecução criminal. Dessa maneira, as investigações convencionais somente
levariam à possível responsabilização criminal de atores de baixa relevância no âmbito
da organização criminosa”.
2
Art. 3º “Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de outros
previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova: I - colaboração premiada”
(BRASIL, 2013).
3
Art. 3º-A “O acordo de colaboração premiada é negócio jurídico processual e meio de
obtenção de prova, que pressupõe utilidade e interesse públicos” (BRASIL, 2013).
4
Essa linha de entendimento foi adotada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento
pertinente à Questão de Ordem levantada nos autos da PET 7074/DF, apresentada,
inicialmente, nos autos da Petição 7003, pertinente à homologação de acordos de
colaboração premiada no âmbito da denominada Operação Lava-Jato. No julgamento
da citada QO 7074, restou assentado que o acordo de colaboração premiada possui
natureza jurídica de negócio jurídico condicionado à eficácia da colaboração (BRASIL,
2017).
472 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 477-506, jan./jul. 2022.
LEI DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E O
DIREITO À AMPLA DEFESA NA COLABORAÇÃO PREMIADA
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MARA LINA SILVA DO CARMO
5
Foi com base nas Ordenações Filipinas que houve a condenação de Joaquim José da
Silva Xavier, o Tiradentes, delatado por Joaquim Silvério dos Reis, como se extrai do
seguinte trecho do julgado prolatado nos autos de Devassa da Inconfidência Mineira:
“[…] mas prevalecendo no dito Joaquim Silvério a fidelidade e lealdade que devia ter
como vassalo da dita Senhora, delatou tudo ao governador da Capitania de Minas em
15 de março de 1789, como consta da atestação do mesmo governador, a folhas 177 da
continuação da Devassa de Minas, e depois por escrito, como se vê a folhas 5 da dita
Devassa, com a data de 19 de abril do mesmo ano” (CLETO, 1978).
6
Assim se encontrava redigido o item 12: “E quanto ao que fizer conselho e confederação
contra o Rey, se logo sem algum spaço, e antes que per outrem seja descoberto, elle
o descobrir, merece perdão. E ainda por isso lhe deve ser feita mercê, segundo o caso
merecer, se elle não foi o principal tratador desse conselho e confederação. E não o
descobrindo logo, se o descobrir depois per spaço de tempo, antes que o Rey seja
disso sabedor, nem feita obra por isso, ainda deve ser perdoado, sem outra mercê. E em
todo o caso que descobrir o tal conselho, sendo já per outrem descoberto, ou posto em
ordem para se descobrir, será havido por commettedor do crime de Lesa Magestade,
sem ser relevado da pena, que por isso merecer, pois o revelou em tempo, que o Rey já
sabia, ou stava de maneira para o não poder deixar saber” (LIVRO..., [20--]).
474 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 477-506, jan./jul. 2022.
LEI DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E O
DIREITO À AMPLA DEFESA NA COLABORAÇÃO PREMIADA
7
Lei n. 12.850/2013, art. 4º, § 4º: “Nas mesmas hipóteses do caput deste artigo, o Ministério
Público poderá deixar de oferecer denúncia se a proposta de acordo de colaboração
referir-se à infração de cuja existência não tenha prévio conhecimento e o colaborador
(Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019): I – não for o líder da organização criminosa;
II – for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo” (BRASIL, 2013).
8
Art. 8º, parágrafo único: “O participante e o associado que denunciar à autoridade o
bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a
dois terços” (BRASIL, 1990a).
9
Art.159, § 4º: “Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à
autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois
terços” (BRASIL, 1940).
10
Art. 25, § 2º: “Nos crimes previstos nesta lei, cometidos em quadrilha ou coautoria, o
coautor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial
ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços” (Incluído
pela Lei n. 9.080, de 19 de julho de 1995) (BRASIL, 1986).
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MARA LINA SILVA DO CARMO
11
Art. 16, parágrafo único: “Nos crimes previstos nesta lei, cometidos em quadrilha ou
coautoria, o coautor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade
policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços”
(Parágrafo incluído pela Lei n. 9.080, de 19 de julho de 1995) (BRASIL, 1990b).
12
Art. 1º, § 5º: “A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em
regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-
la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe
colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que
conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos autores, coautores e
partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime” (Redação
dada pela Lei n. 12.683, de 2012) (BRASIL, 1998).
13
Art. 13: “Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão
judicial e a consequente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha
colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que
dessa colaboração tenha resultado: I – a identificação dos demais coautores ou partícipes
da ação criminosa; II – a localização da vítima com a sua integridade física preservada;
III – a recuperação total ou parcial do produto do crime.
Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do
beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso.
Art. 14: O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial
e o processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do crime, na
localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no
caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terços. Art. 15: Serão aplicadas em
benefício do colaborador, na prisão ou fora dela, medidas especiais de segurança e proteção
a sua integridade física, considerando ameaça ou coação eventual ou efetiva” (BRASIL, 1999).
14
Art. 41: “O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação
policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do
crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação,
terá pena reduzida de um terço a dois terços” (BRASIL, 2006b).
15
Art. 87: “Nos crimes contra a ordem econômica, tipificados na Lei n. 8.137, de 27 de
dezembro de 1990, e nos demais crimes diretamente relacionados à prática de cartel, tais
como os tipificados na Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993, e os tipificados no art. 288 do
Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, a celebração de acordo
de leniência, nos termos desta lei, determina a suspensão do curso do prazo prescricional
e impede o oferecimento da denúncia com relação ao agente beneficiário da leniência.
Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-se
automaticamente a punibilidade dos crimes a que se refere o caput deste artigo”
(BRASIL, 2011).
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LEI DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E O
DIREITO À AMPLA DEFESA NA COLABORAÇÃO PREMIADA
16
“[…] A constitucionalidade da colaboração premiada, instituída no Brasil por norma
infraconstitucional na linha das Convenções de Palermo (art. 26) e Mérida (art. 37),
ambas submetidas a procedimento de internalização (Decretos n. 5.015/2004 e
5.687/2006, respectivamente), encontra-se reconhecida por esta Corte (HC 90.688,
Relator(a): Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, julgado em 12/02/2008, DJe-
074 divulg 24-04-2008 public 25-04-2008 ement vol-02316-04 PP-00756 RTJ VOL-
00205-01PP-00263 LEXSTF v. 30, n. 358, 2008, p. 389-414) desde antes da entrada
em vigor da Lei n. 12.850/2013, que exige como condição de validade do acordo de
colaboração a sua homologação judicial, que é deferida quando atendidos os requisitos
de regularidade, legalidade e voluntariedade” (BRASIL, 2015).
17
“Artigo 26. Medidas para intensificar a cooperação com as autoridades competentes
para a aplicação da lei:
1. Cada Estado-Parte tomará as medidas adequadas para encorajar as pessoas que
participem ou tenham participado em grupos criminosos organizados:
a) A fornecerem informações úteis às autoridades competentes para efeitos de
investigação e produção de provas, nomeadamente.
i) A identidade, natureza, composição, estrutura, localização ou atividades dos grupos
criminosos organizados;
ii) As conexões, inclusive conexões internacionais, com outros grupos criminosos
organizados;
iii) As infrações que os grupos criminosos organizados praticaram ou poderão vir a
praticar;
b) A prestarem ajuda efetiva e concreta às autoridades competentes, susceptível de
contribuir para privar os grupos criminosos organizados dos seus recursos ou do
produto do crime.
2. Cada Estado-Parte poderá considerar a possibilidade, nos casos pertinentes, de
reduzir a pena de que é passível um arguido que coopere de forma substancial na
investigação ou no julgamento dos autores de uma infração prevista na presente
convenção.
3. Cada Estado-Parte poderá considerar a possibilidade, em conformidade com
os princípios fundamentais do seu ordenamento jurídico interno, de conceder
imunidade a uma pessoa que coopere de forma substancial na investigação ou no
julgamento dos autores de uma infração prevista na presente convenção.
4. A proteção destas pessoas será assegurada nos termos do art. 24 da presente
convenção.
5. Quando uma das pessoas referidas no parágrafo 1º do presente artigo se encontre
num Estado-Parte e possa prestar uma cooperação substancial às autoridades
competentes de outro Estado-Parte, os estados-partes em questão poderão
considerar a celebração de acordos, em conformidade com o seu Direito Interno,
relativos à eventual concessão, pelo outro Estado-Parte, do tratamento descrito nos
parágrafos 2º e 3º do presente artigo” (BRASIL, 2004).
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18
“Artigo 37. Cooperação com as autoridades encarregadas de fazer cumprir a lei:
1. Cada Estado-Parte adotará as medidas apropriadas para restabelecer as pessoas que
participem ou que tenham participado na prática dos delitos qualificados de acordo
com a presente convenção que proporcionem às autoridades competentes informação
útil com fins investigativos e probatórios e as que lhes prestem ajuda efetiva e concreta
que possa contribuir a privar os criminosos do produto do delito, assim como recuperar
esse produto.
2. Cada Estado-Parte considerará a possibilidade de prever, em casos apropriados,
a mitigação de pena de toda pessoa acusada que preste cooperação substancial à
investigação ou ao indiciamento dos delitos qualificados de acordo com a presente
convenção.
3. Cada Estado-Parte considerará a possibilidade de prever, em conformidade com os
princípios fundamentais de sua legislação interna, a concessão de imunidade judicial
a toda pessoa que preste cooperação substancial na investigação ou no indiciamento
dos delitos qualificados de acordo com a presente convenção.
4. A proteção dessas pessoas será, mutatis mutandis, a prevista no artigo 32 da presente
convenção.
5. Quando as pessoas mencionadas no parágrafo 1º do presente artigo se encontrem
em um Estado-Parte e possam prestar cooperação substancial às autoridades
competentes de outro Estado-Parte, os estados-partes interessados poderão
considerar a possibilidade de celebrar acordos ou tratados, em conformidade com sua
legislação interna, a respeito da eventual concessão, por esse Estado-Parte, do trato
previsto nos parágrafos 2º e 3º do presente artigo” (BRASIL, 2006a).
19
“A inspiração do instituto reside, pois, na busca da efetividade da persecução
penal mediante um acordo entre as partes – acusador e acusado ou investigador e
investigado –, no intuito de aprimorar a proteção aos bens jurídicos tutelados pelo
Direito Penal. Para fazer frente à criminalidade moderna, que se vale de técnicas cada
vez mais sofisticadas, fez-se necessário recorrer a instrumentos de investigação mais
eficazes, diferentes dos meios tradicionais” (SALOMI, 2017, p. 151-184).
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20
Art. 4º, § 6º: “O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para
a formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia,
o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público ou, conforme o
caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor” (BRASIL,
2013).
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MARA LINA SILVA DO CARMO
21
Art. 4º, § 7º: “Realizado o acordo na forma do § 6º deste artigo, serão remetidos
ao juiz, para análise, o respectivo termo, as declarações do colaborador e cópia da
investigação, devendo o juiz ouvir sigilosamente o colaborador, acompanhado de seu
defensor, oportunidade em que analisará os seguintes aspectos na homologação”.
(Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019) (BRASIL, 2013).
22
Art. 4º, § 13: “O registro das tratativas e dos atos de colaboração deverá ser feito
pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar,
inclusive audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das informações, garantindo-
se a disponibilização de cópia do material ao colaborador”. (Redação dada pela Lei
n. 13.964, de 2019) (BRASIL, 2013).
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23
Lei n. 12.850/2013, art. 4º, § 16: “Nenhuma das seguintes medidas será decretada ou
proferida com fundamento apenas nas declarações do colaborador”. (Redação dada
pela Lei n. 13.964, de 2019) (BRASIL, 2013).
24
Lei n. 12.850/2013, art. 4º, § 15: “Em todos os atos de negociação, confirmação e
execução da colaboração, o colaborador deverá estar assistido por defensor” (BRASIL,
2013).
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25
Discorrendo sobre a forma e o conteúdo do termo de colaboração premiada, Mendonça
(2013, p. 16) faz interessante o apontamento: “Adotou-se a prática, desenvolvida
inicialmente na força-tarefa do caso Banestado e inspirada no Direito norte-americano,
de se realizar um verdadeiro “contrato”, com cláusulas contratuais entre as partes.
Há basicamente quatro vantagens do acordo escrito: (i) traz maior segurança para
os envolvidos; (ii) estabelece com maior clareza os limites do acordo; (iii) permite o
consentimento informado do imputado, assegurando a voluntariedade; (iv) dá maior
transparência e permite o controle não apenas pelos acusados atingidos, mas do
magistrado, dos órgãos superiores e pela própria população em geral. Assim, o acordo
escrito traz maior eficiência para a investigação, ao tempo que melhor assegura os
interesses do colaborador e dos imputados”.
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“Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor,
ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade” (BRASIL,
2013).
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27
“Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou
de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros,
justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar,
civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual
a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado” (BRASIL, 2008).
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28
Cavali (2017, p. 255-274) ressalta, ainda, que: “A previsão legal do dever de dizer a
verdade não transmuta o colaborador em testemunha, dado o seu evidente interesse no
caso, mas apenas torna legítima a aplicação das consequências mencionadas, afastando
a possibilidade de que o colaborador se escude no direito à não autoincriminação para
mentir”.
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29
Sobre a necessidade de corroboração das informações trazidas pelo colaborador por
meio de outros elementos de prova, Badaró (2017, p. 127-149) ressalta que “o legislador
não estabeleceu, abstratamente, o que é necessário para condenar, mas apenas, em
reforço à presunção de inocência, o que é insuficiente para superar a dúvida razoável”.
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REFERÊNCIAS
492 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 477-506, jan./jul. 2022.
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MARA LINA SILVA DO CARMO
494 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 477-506, jan./jul. 2022.
LEI DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E O
DIREITO À AMPLA DEFESA NA COLABORAÇÃO PREMIADA
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MARA LINA SILVA DO CARMO
496 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 477-506, jan./jul. 2022.
LEI DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E O
DIREITO À AMPLA DEFESA NA COLABORAÇÃO PREMIADA
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MARA LINA SILVA DO CARMO
498 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 477-506, jan./jul. 2022.
https://doi.org/10.54795/rejub.n.1.192
CRIMINALIDADE ORGANIZADA NA
EXPLORAÇÃO DA MADEIRA NO BRASIL: UM
MODUS OPERANDI VOLTADO À ILICITUDE DE
ÍNDOLE TRANSNACIONAL
ORGANIZED CRIMINALITY IN THE EXPLORATION OF
WOOD IN BRAZIL: A MODUS OPERANDI AIMED AT
TRANSNATIONAL ILLEGALITY
RESUMO
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MARCELO GUERRA MARTINS
ABSTRACT
This paper deals with the role of organized crime in the exploitation
of wood in Brazil, which, in addition to being growing, has been
presenting a modus operandi focused on transnationality, with serious
environmental and other damages. In addition to the legislation
applicable to the correct exploitation of wood (extraction, transport,
trade and industrialization), the various crimes perpetrated by “timber”
organized crime are addressed, such as: environmental crimes, criminal
organization, corruption and money laundering, in networks whose
tentacles usually extrapolate national boundaries. Relevant facts and
data are presented, such as, for example, the estimate that at least 50%
of the wood extracted from Brazilian forests does not comply with the
law. The legal tools to combat this type of “criminal enterprise” are also
described, with emphasis on international legal cooperation actions, as
well as the recommendations of National Strategy to Combat Corruption
and Money Laundering - Enccla’s action n. 10/2021, whose scope is
the improvement of policies aimed at combating environmental crime.
500 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 507-551, jan./jul. 2022.
CRIMINALIDADE ORGANIZADA NA EXPLORAÇÃO DA MADEIRA NO
BRASIL: UM MODUS OPERANDI VOLTADO À ILICITUDE DE ÍNDOLE TRASNACIONAL
Recebido: 13-3-2022
Aprovado: 28-4-2022
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
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MARCELO GUERRA MARTINS
1
Tradução livre. Texto original: “Environmental crime is estimated to be among the most
profitable proceeds-generating crimes in the world, generating around USD 110 to 281
billion in criminal gains each year”.
502 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 507-551, jan./jul. 2022.
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BRASIL: UM MODUS OPERANDI VOLTADO À ILICITUDE DE ÍNDOLE TRASNACIONAL
2
Tradução livre. Texto original: “Anti-money laundering is often not part of the public
policy dialog]ue on environmental protection. Despite the significant proceeds involved
in many cases, jurisdictions are mostly addressing environmental crime as a conservation
issue rather than a serious financial crime”.
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MARCELO GUERRA MARTINS
3
A doutrina extrai dos preceitos constitucionais e da legislação ordinária diversos
princípios que, em seu todo, compõem a complexa normatização jurídica do meio
ambiente no Brasil. Assim, merecem destaque: a) princípio do desenvolvimento
sustentável (FIORILLO, 2012, p. 87; LIMA, 2012, p. 131; PRADO, 2011, p. 120);
b) princípio da precaução (DERANI, 1997, p. 166; ABI-EÇAB, 2011, p. 927); c) princípios
da participação e da ubiquidade (FIORILLO, 2012, p. 132, 137); d) princípio do poluidor
pagador (DERANI, 1997, p. 158); e) princípio do acesso à informação (THOMÉ, 2018,
p. 80); e f) princípio do preservador recebedor (THOMÉ, 2018, p. 86).
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4
Segundo o Serviço Florestal Brasileiro: “O Brasil é um país florestal, com 498 milhões
de hectares de florestas, composto de florestas naturais (98%) e plantadas (2%), sendo
aproximadamente 55% em áreas públicas e 45% em áreas privadas” (BRASIL, 2019, p. 3).
Aliás, a exploração excessiva de florestas vem gerando “profundo impacto no sistema
de produção de alimentos no mundo, com repercussões negativas para a soja sul-
americana e outros cultivos, além de potencial inflação e, em alguns locais do planeta, o
incremento da fome” (CHADE, 2022).
5
O Ministério do Meio Ambiente assevera: “Além de contribuir para o efeito estufa,
o desmatamento gera outros impactos negativos para a sociedade e o meio ambiente.
Ameaçando espécies da fauna e da flora com a destruição de habitats, afetando
diretamente o meio de vida de milhões de pessoas, comprometendo a oferta hídrica
de outros tantos milhões e contribuindo para a perda de solos férteis e a erosão. O
desmatamento e as queimadas afetam também o clima local reduzindo a umidade nas
áreas atingidas e podendo afetar o fluxo das chuvas no território.” (BRASIL, 2016).
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MARCELO GUERRA MARTINS
6
Acerca do Sisnama: “Criado pela Lei n. 6.938/1981, regulamentada pelo Decreto
n. 9.9274/1990, o Sisnama é a estrutura adotada para a gestão ambiental no Brasil, e
é formado pelos órgãos e entidades da União, dos estados, do Distrito Federal e dos
municípios responsáveis pela proteção, melhoria e recuperação da qualidade ambiental
no Brasil” (BRASIL, 2017).
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MARCELO GUERRA MARTINS
7
Segundo o art. 3º, inciso I, do CFB, a Amazônia Legal compreende “os Estados do Acre,
Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso e as regiões situadas ao
norte do paralelo 13º S, dos Estados de Tocantins e Goiás, e ao oeste do meridiano de
44º W, do Estado do Maranhão” (BRASIL, 2012a).
8
Ainda dentro da Amazônia Legal, o percentual de preservação é de 35% para os imóveis
situados em áreas de cerrado; 20% para os localizados em áreas de campos gerais e, por
fim, igualmente 20% para os imóveis das demais regiões do país (art. 3º, inciso I e II do
CFB) (BRASIL, 2012a).
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MARCELO GUERRA MARTINS
9
Trata-se do Decreto n. 5.015, de 2004 (BRASIL, 2004).
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Tradução livre. Texto original: “Corruption is an ‘insidious menace’ and obstacle to
economic and social development around the world, and has prompted the United
Nations to strengthen its own mechanism to ensure that integrity and ethics guide all
its undertakings”.
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11
Apenas como exemplo: “O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que foi
exonerado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), nesta quarta-feira (23), foi um
dos alvos da operação Akuanduba da Polícia Federal, realizada no dia 19 de maio de
2021. As investigações apuram suspeita de facilitação à exportação ilegal de madeira do
Brasil para os Estados Unidos e Europa” (ALVES, 2021).
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MARCELO GUERRA MARTINS
12
Com efeito: “A partir das empresas offshore, com a lavagem das quantias ilícitas, os
criminosos podem facilmente financiar suas operações internacionalmente [...]. Por
não serem submetidas a inúmeros regulamentos como ocorre com as empresas em
território nacional, são utilizadas na primeira fase da lavagem de dinheiro, ou seja, na
colocação, também conhecida por placement, viabilizando assim operações financeiras
extraterritoriais. Com a transferência do dinheiro para uma offshore (consequentemente
para outro país), tentam afastar o dinheiro de sua origem ilícita”. (CÂNDIDO, 2019,
p. 165).
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13
O art. 1º em tela ainda descreve outras condutas em seus parágrafos que não serão aqui
reproduzidas de maneira a não estender demasiadamente o presente texto.
14
Aliás, segundo o Gafi: “Anti-money laundering is often not part of the public policy
dialogue on environmental protection. Despite the significant proceeds involved in
many cases, jurisdictions are mostly addressing environmental crime as a conservation
issue rather than a serious financial crime.” (FINANCIAL ACTION TASK FORCE, 2021,
p. 51).
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15
Tradução livre. Texto original: “Transnational crime is heavily associated with organized
crime”.
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16
Outra notícia, igualmente preocupante, dá conta de que a “Embaixada dos Estados
Unidos informou nesta sexta-feira (21) à Polícia Federal sobre a apreensão de três
carregamentos de madeira nobre brasileira exportada ilegalmente para o país.”
(VLADIMIR NETTO, 2021).
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MARCELO GUERRA MARTINS
17
Segundo o Índice de Progresso Social – IPS 2021, publicado pelo instituto Imazon:
“Entre os 15 municípios com os piores IPSs, estão alguns fortemente associados com
desmatamento, degradação florestal e conflitos sociais, como é o caso dos municípios
paraenses de Pacajá, Pau D’Arco, Nova Ipixuna e Nova Conceição do Piriá. Há também
municípios com forte presença de garimpo ilegal, como é o caso de Jacareacanga
(PA). Por fim, o município de São Félix das Balsas (MA) tem o pior IPS Amazônia 2021”
(SANTOS et al., 2021, p. 9).
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18
Apenas como exemplo, citamos algumas operações bastante conhecidas e divulgadas
pela mídia, dada a magnitude dos delitos e a expressividade social das pessoas
envolvidas: Operação Ouro Verde II, Operação Arquimedes, Operação Akuanduba,
Operação Floresta S/A, Operação Onda Verde, dentre outras tantas.
19
Em inglês utiliza-se a sigla Financial Action Task Force – FAFT. O Gafi foi criado em
1989, no âmbito da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico –
OCDE, constitui-se num foro de alta relevância nas discussões internacionais referentes
ao combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo.
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MARCELO GUERRA MARTINS
20
A Enccla é uma rede de órgãos dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário das
esferas federal e estadual e, em alguns casos, municipal, bem como do Ministério
Público de diferentes esferas, cujo objetivo é a discussão conjunta para a formulação
de políticas públicas e soluções voltadas ao combate a crimes como lavagem de
dinheiro e corrupção. A Ação n. 10/2021 foi proposta pelo Instituto Ethos de Empresas
e Responsabilidade Social. A coordenação coube ao MPF. Teve os seguintes órgãos
colaboradores: Abin, Aeal-MJSP, AGU, Ajufe, AMPCON, ANPR, BCB, BNDES, Caixa, CJF,
CNJ, CASA CIVIL/PR, Coaf, Conaci, CONCPC, CVM, DRCI, Febraban, MD, MP/GO, MP/
MG, MP/MS, MP/SP, MPF, PF, PG/DF, RFB e os seguintes órgãos convidados: Abema,
Anoreg, Correios, Ethos, Ibama, ICMBio, Incra, TI BR.
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5 CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
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MARCELO GUERRA MARTINS
538 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 507-551, jan./jul. 2022.
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https://doi.org/10.54795/rejub.n.1.193
RESUMO
ReJuB
544 - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 553-580, jan./jul. 2022.
A UTILIZAÇÃO DO MALWARE COMO FERRAMENTA DA INFILTRAÇÃO VIRTUAL NA
INVESTIGAÇÃO DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA: UMA REALIDADE NORMATIVA POSSÍVEL?
ABSTRACT
Recebido: 14-3-2022
Aprovado: 28-4-2022
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 553-580, jan./jul. 2022. 545
ULISSES AUGUSTO PASCOLATI JUNIOR
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
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A UTILIZAÇÃO DO MALWARE COMO FERRAMENTA DA INFILTRAÇÃO VIRTUAL NA
INVESTIGAÇÃO DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA: UMA REALIDADE NORMATIVA POSSÍVEL?
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A UTILIZAÇÃO DO MALWARE COMO FERRAMENTA DA INFILTRAÇÃO VIRTUAL NA
INVESTIGAÇÃO DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA: UMA REALIDADE NORMATIVA POSSÍVEL?
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INVESTIGAÇÃO DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA: UMA REALIDADE NORMATIVA POSSÍVEL?
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552 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 553-580, jan./jul. 2022.
A UTILIZAÇÃO DO MALWARE COMO FERRAMENTA DA INFILTRAÇÃO VIRTUAL NA
INVESTIGAÇÃO DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA: UMA REALIDADE NORMATIVA POSSÍVEL?
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INVESTIGAÇÃO DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA: UMA REALIDADE NORMATIVA POSSÍVEL?
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A UTILIZAÇÃO DO MALWARE COMO FERRAMENTA DA INFILTRAÇÃO VIRTUAL NA
INVESTIGAÇÃO DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA: UMA REALIDADE NORMATIVA POSSÍVEL?
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A UTILIZAÇÃO DO MALWARE COMO FERRAMENTA DA INFILTRAÇÃO VIRTUAL NA
INVESTIGAÇÃO DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA: UMA REALIDADE NORMATIVA POSSÍVEL?
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ULISSES AUGUSTO PASCOLATI JUNIOR
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INVESTIGAÇÃO DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA: UMA REALIDADE NORMATIVA POSSÍVEL?
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ULISSES AUGUSTO PASCOLATI JUNIOR
1
A Alemanha também permite referida técnica. Remetemos o leitor para as lições de Salt
(2021, p. 166-169); Aboso (2018, p. 489-508) e Campos (2021, p. 105-142). Em relação
à professora Juliana Campos, frise-se que há importantes considerações também
referentes a Itália, Estados Unidos e Espanha.
562 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 553-580, jan./jul. 2022.
A UTILIZAÇÃO DO MALWARE COMO FERRAMENTA DA INFILTRAÇÃO VIRTUAL NA
INVESTIGAÇÃO DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA: UMA REALIDADE NORMATIVA POSSÍVEL?
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ULISSES AUGUSTO PASCOLATI JUNIOR
organização, aos crimes por ela praticados ou, ainda, sobre o destino
do produto dos crimes ou bens adquiridos com o dinheiro oriundo
do ilícito. A persecução penal deve ser feita de maneira legal, sem
secretismos, inteligente, organizada e contando com os instrumentos
adequados. A sorte – como evento incerto – é deveras importante,
entretanto, não pode ser o centro de qualquer investigação.
564 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 553-580, jan./jul. 2022.
A UTILIZAÇÃO DO MALWARE COMO FERRAMENTA DA INFILTRAÇÃO VIRTUAL NA
INVESTIGAÇÃO DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA: UMA REALIDADE NORMATIVA POSSÍVEL?
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 553-580, jan./jul. 2022. 565
ULISSES AUGUSTO PASCOLATI JUNIOR
566 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 553-580, jan./jul. 2022.
A UTILIZAÇÃO DO MALWARE COMO FERRAMENTA DA INFILTRAÇÃO VIRTUAL NA
INVESTIGAÇÃO DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA: UMA REALIDADE NORMATIVA POSSÍVEL?
7 CONCLUSÃO
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 553-580, jan./jul. 2022. 567
ULISSES AUGUSTO PASCOLATI JUNIOR
568 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 553-580, jan./jul. 2022.
A UTILIZAÇÃO DO MALWARE COMO FERRAMENTA DA INFILTRAÇÃO VIRTUAL NA
INVESTIGAÇÃO DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA: UMA REALIDADE NORMATIVA POSSÍVEL?
REFERÊNCIAS
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 553-580, jan./jul. 2022. 569
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570 ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 553-580, jan./jul. 2022.
A UTILIZAÇÃO DO MALWARE COMO FERRAMENTA DA INFILTRAÇÃO VIRTUAL NA
INVESTIGAÇÃO DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA: UMA REALIDADE NORMATIVA POSSÍVEL?
ReJuB - Rev. Jud. Bras., Brasília, Ano 2, n. 1, p. 553-580, jan./jul. 2022. 571