Livro Sagah Cromossomos
Livro Sagah Cromossomos
Livro Sagah Cromossomos
MOLECULAR E
CLÍNICA
Ana Paula
Aquistapase Dagnino
Bandeamento, mutações
cromossômicas e
nomenclatura
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
As mutações cromossômicas são de grande interesse na área clínica.
Para a identificação das mesmas, diferentes métodos de bandeamento
são utilizados. A partir da obtenção do material genético do tecido a
ser estudado, é possível verificar a ocorrência ou ausência de alterações
numéricas ou estruturais.
Neste capítulo, você vai acompanhar o processo para obtenção de
cromossomos metafásicos, bem como identificar as alterações cromos-
sômicas e compreender a nomenclatura das mesmas.
Multiplicação Centrifu-
celular gação
cerca de
72 horas
Meio nutritivo Sedimento
celular
Solução hipotônica de
cloreto de potássio
Centrifugação
Pipetagem Centri-
fugação
Fixação Sedimen
Gotejamento sobre a lâmina
-to celular
Coloração
Aquecimento Colocação da lamínula
Preparado Lâmina
Cuba de coloração
Análise Microscópio
Fotografia e
análise compu-
tadorizada
Bandas Q
Este foi o primeiro método de marcação longitudinal desenvolvido. O trata-
mento é feito com fluorocromo quinacrina mostarda, com maior afinidade por
regiões ricas em AT (adenina e timina), que ficam fluorescentes. As marcações
específicas ocorrem em:
Bandas G
Este método é o mais usado na rotina laboratorial e o protocolo é baseado
no tratamento com tripsina e coloração com Giemsa. Outros corantes como
Wright e Leishman também pode ser utilizados. Nessa técnica são visuali-
zadas bandas claras e escuras. As bandas claras e escuras se diferenciam por
(MALUF; RIEGEL, 2011):
Esse bandeamento tem custo relativamente baixo e as bandas têm alta dura-
bilidade. A seguir podemos verificar essa técnica de bandeamento (Figura 2):
1 2 3 4 5
A B
6 7 8 9 10 11 12
C
13 14 15 16 17 18
D E
ou
19 20 21
G XX = & XY = %
Bandas C
Este método é baseado na coloração da heterocromatina constitutiva ao redor
dos centrômeros, regiões com DNA altamente repetitivo (Figura 3). O trata-
mento é feito com hidróxido de sódio e a coloração com Giemsa. A distinção
entre os cromossomos 8 e 9 também pode ser feita pelo bandeamento C, pois
o tamanho, a forma e os padrões nas bandas G nesses dois cromossomos
são muito parecidos. Além disso, a detecção de cromossomos dicêntricos e
pseudodicêntricos pode ser realizada (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013;
MALUF; RIEGEL, 2011).
https://goo.gl/z5VAuw
Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura 7
Bandas R
As bandas R são caracterizadas por mostrarem um padrão de coloração in-
verso aos bandeamentos Q e G, ou seja, bandas claras e opacas são ricas em
AT e bandas escuras e fluorescentes são ricas em CG, com mais genes ativos.
Nessa técnica, os cromossomos são corados por Acridina laranja ou Giemsa e
são previamente tratados com calor para desnaturação das proteínas. Outros
fluorocromos como cromomicina A3 e olivomicina também podem ser uti-
lizados (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013; MALUF; RIEGEL, 2011).
Bandas T
Neste bandeamento ocorre a marcação dos telômeros, porções finais dos
cromossomos. Essas bandas são um subconjunto das bandas R. Como os
telômeros são termorresistentes, não sofrem a ação do tampão aquecido durante
o tratamento. Tanto Acridina laranja quanto Giemsa podem ser os corantes de
escolha (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013; MALUF; RIEGEL, 2011).
Bandas RON
Neste bandeamento as regiões coradas são as regiões organizadoras de nucléolos
(RON), encontradas na constrição secundária dos cromossomos humanos com
satélites (grupos D e G, exceto o Y). Nessas regiões o DNA é moderadamente
repetitivo. O tratamento pode ser feito com nitrato de prata, pois as proteínas
têm afinidade por prata. Previamente ao tratamento, pode ser realizada a
aplicação de uma solução coloidal. Pode ser necessária ou não a coloração
com Giemsa. Nos dias atuais, esse método tem sido amplamente utilizado para
detecção de rearranjos ou polimorfismos nos cromossomos acrocêntricos e
identificação de cromossomos marcadores (Figura 4) (BORGES-OSÓRIO;
ROBINSON, 2013; MALUF; RIEGEL, 2011).
8 Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura
FISH
O FISH é baseado na ligação de sequências de DNA marcadas com sondas,
aos genes ou cromossomos-alvo complementares. A marcação é visualizada
por pontos fluorescentes de uma ou várias cores. Células na metáfase e na
interfase podem ser marcadas. Essa técnica é muito útil na identificação de
anormalidades cromossômicas relacionadas à malformações congênitas e ao
câncer. As sondas são específicas para determinado gene ou locus, permi-
tindo detectar sua presença ou ausência, além de sua localização (Figura 5)
(BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013; MALUF; RIEGEL, 2011). Várias
sondas são usadas (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013):
A B C
13 13
13 21 13
21 21
21 21 13 21
13 21
13
D 18 E F
Y X
X
18 18
18
18
Y 18
Y
X 18 X
X
X
18
18
Figura 5. FISH. (a) Célula normal. (b) Trissomia 13. (c) Trissomia 21. (d) Célula masculina normal
no topo e feminina abaixo. (e) Trissomia 18 em célula masculina. (f) Célula XXY.
Fonte: Borges-Osório e Robinson (2013).
10 Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura
Numéricas
As alterações numéricas podem ainda ser divididas em poliploidias, aneuploi-
dias e mixoploidias, sendo caracterizadas a partir da perda ou do acréscimo
de um ou mais cromossomos. Nas aneuploidias, há o ganho ou a perda de um
ou mais cromossomos. Dentro da aneuploidia temos a chamada monossomia,
com a perda de um único cromossomo de um genoma diploide, e a trissomia,
com a adição de um cromossomo em uma célula diploide. Como exemplos de
monossomia e trissomia, temos a síndrome de Turner (45,X) e a síndrome de
Down (47,XX ou XY + 21), respectivamente. Em contrapartida, as euploidias
envolvem todo o genoma com células com número de cromossomos múltiplo
do número haploide. Já a poliploidia é caracterizada pela presença de mais
de dois conjuntos de cromossomos, podendo ser triploides, tetraploides, etc.
(STRACHAN; READ, 2016; KLUG et al., 2009). Um cariótipo da trissomia
do cromossomo 21 é demonstrado na Figura 6:
Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura 11
1 2 3 4 5
6 7 8 9 10 11 12
13 14 15 16 17 18
19 20 21 22 X
Gametas
Gameta Trissô- Trissô- Monossô- Monossô- Gameta Dissômico Dissômico Trissômico Monossô-
haploide mico mico mico mico haploide (normal) (normal) mico
A não disjunção também pode ocorrer após a formação do zigoto, nas pri-
meiras divisões mitóticas, resultando no mosaicismo, com diferentes linhagens
celulares no mesmo indivíduo.
As poliploidias são comuns em plantas, importantes para a evolução destas.
Contudo, em humanos são desconhecidos indivíduos triploides e tetraploides,
pois quase todos os casos de poliploidia resultam em abortos espontâneos. Na
Tabela 1 é possível observar a incidência de abortos nas diferentes anomalias
cromossômicas:
Trissomia do 13 2
Trissomia do 16 15
Trissomia do 18 3
Trissomia do 21 5
Outras 25
(Continua)
Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura 13
(Continuação)
Monossomia do X 20
Triploidia 15
Tetraploidia 5
Outros 10
Estruturais
As alterações estruturais são resultantes de uma ou mais quebras em um ou
mais cromossomos, formando rearranjos balanceados ou não balanceados. No
rearranjo balanceado, não há perda ou ganho de material genético, sendo na
maioria das vezes inofensivo clinicamente. Por outro lado, no rearranjo não
balanceado existe uma quantidade inadequada de material genético, levando
a efeitos graves na clínica. As quebras podem ocorrer de forma espontânea ou
em função da ação de agentes como a radiação, drogas ou vírus (BORGES-
-OSÓRIO; ROBINSON, 2013).
As alterações balanceadas são divididas em translocações e inversões,
com mudança na localização do gene. As alterações não balanceadas são
divididas em deleções e duplicações, com alteração no número de genes. A
seguir, as diferentes alterações estruturais serão discutidas separadamente
(BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013).
14 Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura
https://goo.gl/2SYtZT
16 Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura
Banda
3 p22.3
2 2 p22.2
2 1 p22.1
p 1 p21
4 p11.4
1 3 p11.3
1 2 p11.2
1
1 Centrômero
2 q12
1
3 q13
1 q21
2 q22
q
3 q23
2 4 q24
5 q25
6 q26
7 q27
8 q28
Cen: centrômero.
Ter: telômero.
Xq proximal: segmento do braço longo do X mais próximo do centrômero.
2p distal: porção do braço curto do cromossomo 2 mais distante do
centrômero e mais próxima do telômero.
Numéricas
(Continua)
18 Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura
(Continuação)
Estruturais
(Continua)
Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura 19
(Continuação)
Tabela 3. Notações
Notação Significado
arr Microarranjo
cen Centrômero
del Deleção
(Continua)
20 Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura
(Continuação)
Tabela 3. Notações
Notação Significado
der Derivado
dup Duplicação
h Constrição secundária
i ou isso Isocromossomo
ins Inserção
inv Inversão
s Satélite
t Translocação
/ Mosaicismo
(Continua)
Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura 21
(Continuação)
Tabela 3. Notações
Notação Significado
: Quebra cromossômica
:: Quebra e junção