Livro Sagah Cromossomos

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GENÉTICA

MOLECULAR E
CLÍNICA

Ana Paula
Aquistapase Dagnino
Bandeamento, mutações
cromossômicas e
nomenclatura
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as diferentes técnicas de coloração dos cromossomos.


 Descrever as mutações cromossômicas numéricas e estruturais.
 Reconhecer as mutações cromossômicas por meio da nomenclatura.

Introdução
As mutações cromossômicas são de grande interesse na área clínica.
Para a identificação das mesmas, diferentes métodos de bandeamento
são utilizados. A partir da obtenção do material genético do tecido a
ser estudado, é possível verificar a ocorrência ou ausência de alterações
numéricas ou estruturais.
Neste capítulo, você vai acompanhar o processo para obtenção de
cromossomos metafásicos, bem como identificar as alterações cromos-
sômicas e compreender a nomenclatura das mesmas.

As diferentes técnicas de coloração


dos cromossomos
Os cromossomos são visualizados melhor na metáfase durante a divisão
mitótica, pois estão altamente condensados. Na fase da metáfase, os cromos-
somos estão organizados em cromátides-irmãs idênticas, que são unidas pelo
centrômero. Em 1956, estudiosos na Inglaterra e na Suécia criaram técnicas
capazes de identificar o conjunto de cromossomos humanos. A partir de então, a
citogenética tem contribuído de maneira significativa para o estudo de doenças
geradas por mutações cromossômicas (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013).
2 Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura

Para a obtenção de cromossomos em divisão celular, são escolhidos tecidos


com uma taxa alta de mitose, como a medula esternal ou da crista ilíaca. Con-
tudo, deve-se levar em consideração que este é um procedimento invasivo e, por
isso, o material de escolha geralmente é o sangue periférico. Além da facilidade
da coleta, este material contém linfócitos que facilmente se dividem. Outros
materiais podem ser utilizados, como células fetais do líquido amniótico e os
fibroblastos da pele e de vilosidades coriônicas (STRACHAN; READ, 2016).
Para que essas células se dividam, necessitam ser tratadas com estimulantes
da mitose, dentre os quais, temos (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013):

 Lectinas, como a fito-hemaglutinina (originada do feijão).


 Soro de coelhos imunizados com uma suspensão de leucócitos humanos.
 Antígenos para os quais o doados dos linfócitos foi previamente
sensibilizado.

As primeiras preparações foram obtidas em 1956, como já citado, e apre-


sentavam uma boa qualidade para análise. A técnica clássica usada para a
identificação de cromossomos na metáfase é a cultura de linfócitos in vitro
com estímulo da fito-hemaglutinina. Nessa técnica, os leucócitos obtidos
do sangue periférico são cultivados em meio de cultura enriquecido com
soro, proteínas, antibióticos e a lectina, durante 48 a 72 horas. O número de
células em divisão mitótica é aumentado quando a cultura for tratada com
colchicina. A colchicina é um agente desagregador, interrompendo a mitose
na metáfase por meio da sua ligação à tubulina dos microtúbulos, evitando
assim a separação dos centrômeros. Dessa maneira, as células permanecem
na fase M (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013; STRACHAN; READ,
2016). Após centrifugação, adiciona-se ao sedimento uma solução de cloreto
de potássio para que ocorra o inchaço das células, levando à dispersão dos
cromossomos. Em um passo posterior, as células são fixadas e distribuídas
em lâminas para análise e produção do cariótipo (Figura 1).
Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura 3

Cultura celular Preparação


Sangue
periférico Fitoemaglutinina Colcemida
(mitógeno) (cerca de 2 horas)

Multiplicação Centrifu-
celular gação
cerca de
72 horas
Meio nutritivo Sedimento
celular
Solução hipotônica de
cloreto de potássio
Centrifugação

Pipetagem Centri-
fugação

Fixação Sedimen
Gotejamento sobre a lâmina
-to celular

Coloração
Aquecimento Colocação da lamínula

Preparado Lâmina
Cuba de coloração
Análise Microscópio

Fotografia e
análise compu-
tadorizada

Cariótipo Metáfase ao microscópio

Figura 1. Análise dos cromossomos humanos após cultura de leucócitos.


Fonte: Borges-Osório e Robinson (2013).
4 Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura

Na atualidade, técnicas para o estudo dos cromossomos em pró-metáfase


(bandeamento de alta resolução) são amplamente utilizadas, pois os cromos-
somos encontram-se mais distendidos, permitindo uma visualização com
mais detalhes das bandas. Somente após 1970 que as técnicas de coloração
e bandeamento foram aperfeiçoadas, permitindo a distinção de aberrações
cromossômicas e a identificação de cada par cromossômico. Anteriormente,
a coloração era feita com orceína e Giemsa, que têm afinidade pela cromatina.
As técnicas são divididas em: produção de bandas ao longo de cromossomos
(bandas Q, G e R) e marcação de regiões específicas dos cromossomos (bandas
C, RON, T, G-11, Cd e DAPI/DA). Além dessas técnicas, a junção da biologia
molecular e da citogenética convencional levou ao desenvolvimento do método
de hibridização in situ por fluorescência, o chamado FISH. (MALUF; RIEGEL,
2011). A seguir, algumas das técnicas serão detalhadas.

Bandas Q
Este foi o primeiro método de marcação longitudinal desenvolvido. O trata-
mento é feito com fluorocromo quinacrina mostarda, com maior afinidade por
regiões ricas em AT (adenina e timina), que ficam fluorescentes. As marcações
específicas ocorrem em:

 Região pericentromérica dos cromossomos 1, 3, 4 e 16.


 Região pericentromérica e satélite dos acrocêntricos.
 Porção distal do braço longo do cromossomo Y, mesmo na interfase.

Dessa maneira, esse bandeamento é útil para detecção de polimorfismos nas


regiões citadas anteriormente e para a presença de material genético no Y. Esse
método é mais caro, pois é necessário um microscópio de fluorescência para a
análise. Outros fluorocromos usados são: Hoechst 33258 e DAPI (regiões ricas
em AT), além de mitramicina e olivomicina (regiões ricas em CG – citosina e
guanina) (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013; MALUF; RIEGEL, 2011).
Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura 5

Bandas G
Este método é o mais usado na rotina laboratorial e o protocolo é baseado
no tratamento com tripsina e coloração com Giemsa. Outros corantes como
Wright e Leishman também pode ser utilizados. Nessa técnica são visuali-
zadas bandas claras e escuras. As bandas claras e escuras se diferenciam por
(MALUF; RIEGEL, 2011):

 Bandas claras: regiões ricas em bases GC, replicação precoce e muitos


genes ativos.
 Bandas escuras: regiões ricas em bases AT, replicação tardia e poucos
genes ativos.

Esse bandeamento tem custo relativamente baixo e as bandas têm alta dura-
bilidade. A seguir podemos verificar essa técnica de bandeamento (Figura 2):

1 2 3 4 5
A B

6 7 8 9 10 11 12
C

13 14 15 16 17 18
D E

ou
19 20 21
G XX = & XY = %

Figura 2. Cariótipo humano com técnica de coloração por bandeamento G.


Fonte: Borges-Osório e Robinson (2013).
6 Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura

Bandas C
Este método é baseado na coloração da heterocromatina constitutiva ao redor
dos centrômeros, regiões com DNA altamente repetitivo (Figura 3). O trata-
mento é feito com hidróxido de sódio e a coloração com Giemsa. A distinção
entre os cromossomos 8 e 9 também pode ser feita pelo bandeamento C, pois
o tamanho, a forma e os padrões nas bandas G nesses dois cromossomos
são muito parecidos. Além disso, a detecção de cromossomos dicêntricos e
pseudodicêntricos pode ser realizada (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013;
MALUF; RIEGEL, 2011).

Figura 3. Técnica de coloração por bandeamento C.


Fonte: Maluf e Riegel (2011).

Acesse o link a seguir para saber mais sobre cromossomos e cariótipo:

https://goo.gl/z5VAuw
Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura 7

Bandas R
As bandas R são caracterizadas por mostrarem um padrão de coloração in-
verso aos bandeamentos Q e G, ou seja, bandas claras e opacas são ricas em
AT e bandas escuras e fluorescentes são ricas em CG, com mais genes ativos.
Nessa técnica, os cromossomos são corados por Acridina laranja ou Giemsa e
são previamente tratados com calor para desnaturação das proteínas. Outros
fluorocromos como cromomicina A3 e olivomicina também podem ser uti-
lizados (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013; MALUF; RIEGEL, 2011).

Bandas T
Neste bandeamento ocorre a marcação dos telômeros, porções finais dos
cromossomos. Essas bandas são um subconjunto das bandas R. Como os
telômeros são termorresistentes, não sofrem a ação do tampão aquecido durante
o tratamento. Tanto Acridina laranja quanto Giemsa podem ser os corantes de
escolha (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013; MALUF; RIEGEL, 2011).

Bandas RON
Neste bandeamento as regiões coradas são as regiões organizadoras de nucléolos
(RON), encontradas na constrição secundária dos cromossomos humanos com
satélites (grupos D e G, exceto o Y). Nessas regiões o DNA é moderadamente
repetitivo. O tratamento pode ser feito com nitrato de prata, pois as proteínas
têm afinidade por prata. Previamente ao tratamento, pode ser realizada a
aplicação de uma solução coloidal. Pode ser necessária ou não a coloração
com Giemsa. Nos dias atuais, esse método tem sido amplamente utilizado para
detecção de rearranjos ou polimorfismos nos cromossomos acrocêntricos e
identificação de cromossomos marcadores (Figura 4) (BORGES-OSÓRIO;
ROBINSON, 2013; MALUF; RIEGEL, 2011).
8 Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura

Figura 4. Técnica de bandeamento RON.


Fonte: Maluf e Riegel (2011).

FISH
O FISH é baseado na ligação de sequências de DNA marcadas com sondas,
aos genes ou cromossomos-alvo complementares. A marcação é visualizada
por pontos fluorescentes de uma ou várias cores. Células na metáfase e na
interfase podem ser marcadas. Essa técnica é muito útil na identificação de
anormalidades cromossômicas relacionadas à malformações congênitas e ao
câncer. As sondas são específicas para determinado gene ou locus, permi-
tindo detectar sua presença ou ausência, além de sua localização (Figura 5)
(BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013; MALUF; RIEGEL, 2011). Várias
sondas são usadas (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013):

 Centroméricas: par ao diagnóstico de síndromes aneuploides (trissomias


13, 18 e 21).
 Sondas de sequência única cromossomo-específicas para um determi-
nado locus único: identificação de deleções e duplicações submicros-
cópicas e síndromes de microdeleções.
 Sondas teloméricas: análise simultânea da região subtelomérica de cada
cromossomo e identificação de pequenas alterações subteloméricas
como deleções e translocações em uma proporção de crianças com
deficiência mental inexplicável.
Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura 9

 Sondas para DNA-satélite: determinação do número de cópias de um


determinado cromossomo.
 Sondas para cromossomo inteiro: coquetel de sondas de diferentes
regiões de um determinado cromossomo. Caracterização de rearranjos
complexos (pequenas translocações) e identificação da origem de ma-
terial cromossômico adicional (pequenos marcadores supernumerários
ou cromossomos em anel).

A B C

13 13
13 21 13
21 21
21 21 13 21
13 21
13

D 18 E F
Y X
X
18 18
18
18
Y 18
Y
X 18 X
X
X
18
18

Figura 5. FISH. (a) Célula normal. (b) Trissomia 13. (c) Trissomia 21. (d) Célula masculina normal
no topo e feminina abaixo. (e) Trissomia 18 em célula masculina. (f) Célula XXY.
Fonte: Borges-Osório e Robinson (2013).
10 Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura

Mutações cromossômicas numéricas e


estruturais
Uma anomalia cromossômica pode ser constitucional ou adquirida (somática).
A constitucional ocorre em todas as células do corpo e provavelmente é resul-
tado de um óvulo ou espermatozoide anormal, de uma fertilização ou de um
evento anormal durante a fase embrionária inicial. Já a anomalia adquirida
está presente em apenas algumas células e é decorrente a do mosaicismo, ou
seja, contém dois diferentes tipos quanto à constituição cromossômica. As
alterações cromossômicas podem ser subdivididas em numéricas e estruturais
(STRACHAN; READ, 2016).

Numéricas
As alterações numéricas podem ainda ser divididas em poliploidias, aneuploi-
dias e mixoploidias, sendo caracterizadas a partir da perda ou do acréscimo
de um ou mais cromossomos. Nas aneuploidias, há o ganho ou a perda de um
ou mais cromossomos. Dentro da aneuploidia temos a chamada monossomia,
com a perda de um único cromossomo de um genoma diploide, e a trissomia,
com a adição de um cromossomo em uma célula diploide. Como exemplos de
monossomia e trissomia, temos a síndrome de Turner (45,X) e a síndrome de
Down (47,XX ou XY + 21), respectivamente. Em contrapartida, as euploidias
envolvem todo o genoma com células com número de cromossomos múltiplo
do número haploide. Já a poliploidia é caracterizada pela presença de mais
de dois conjuntos de cromossomos, podendo ser triploides, tetraploides, etc.
(STRACHAN; READ, 2016; KLUG et al., 2009). Um cariótipo da trissomia
do cromossomo 21 é demonstrado na Figura 6:
Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura 11

1 2 3 4 5

6 7 8 9 10 11 12

13 14 15 16 17 18

19 20 21 22 X

Figura 6. Cariótipo de síndrome de Down, trissomia do cromossomo 21.


Fonte: Klug et al. (2009).

É importante ressaltar que as células aneuploides têm origem pelo meca-


nismo de não disjunção, em que ocorre um erro aleatório durante a formação
dos gametas, sendo que não há a separação dos homólogos pareados. Como
resultado, há a produção de gametas com número anormal de cromossomos
(KLUG et al., 2009). A não disjunção pode ser vista durante a primeira e a
segunda divisões meióticas. Se ocorrer na primeira divisão, o gameta com o
cromossomo a mais terá dois cromossomos de um mesmo par (um de origem
materna e outro de origem paterna). Se ocorrer na segunda divisão, ambos os
cromossomos do mesmo par terão origem idêntica (paterna ou materna) no
gameta com excesso de cromossomo (Figura 7).
12 Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura

Não disjunção na Disjunção


primeira divisão normal
Primeira divisão
meíotica

Disjunção Disjunção Não disjunção da


Segunda divisão
normal normal segunda divisão
meiótica

Gametas

Gameta Trissô- Trissô- Monossô- Monossô- Gameta Dissômico Dissômico Trissômico Monossô-
haploide mico mico mico mico haploide (normal) (normal) mico

Figura 7. Não disjunção na primeira e segunda divisões meióticas.


Fonte: Klug et al. (2009).

A não disjunção também pode ocorrer após a formação do zigoto, nas pri-
meiras divisões mitóticas, resultando no mosaicismo, com diferentes linhagens
celulares no mesmo indivíduo.
As poliploidias são comuns em plantas, importantes para a evolução destas.
Contudo, em humanos são desconhecidos indivíduos triploides e tetraploides,
pois quase todos os casos de poliploidia resultam em abortos espontâneos. Na
Tabela 1 é possível observar a incidência de abortos nas diferentes anomalias
cromossômicas:

Tabela 1. Anormalidades cromossômicas em abortos espontâneos.

Anormalidade Incidência (%)

Trissomia do 13 2

Trissomia do 16 15

Trissomia do 18 3

Trissomia do 21 5

Outras 25

(Continua)
Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura 13

(Continuação)

Tabela 1. Anormalidades cromossômicas em abortos espontâneos.

Anormalidade Incidência (%)

Monossomia do X 20

Triploidia 15

Tetraploidia 5

Outros 10

Fonte: Lewis (1997).

Nos demais casos, o desfecho foi natimortos ou morte neonatal. Assim


como na poliploidia, casos de monossomia geralmente são letais para animais.
Isso ocorre porque, caso apenas um dos genes do único cromossomo for um
alelo letal, estará em hemizigose, levando à morte do indivíduo. É preciso
levar em consideração que deve haver um equilíbrio nas expressão de genes
localizados nos autossomos. Assim, os monossômicos não produzem uma
expressão genética aceitável para a sobrevivência (STRACHAN; READ,
2016; KLUG et al., 2009).

Estruturais
As alterações estruturais são resultantes de uma ou mais quebras em um ou
mais cromossomos, formando rearranjos balanceados ou não balanceados. No
rearranjo balanceado, não há perda ou ganho de material genético, sendo na
maioria das vezes inofensivo clinicamente. Por outro lado, no rearranjo não
balanceado existe uma quantidade inadequada de material genético, levando
a efeitos graves na clínica. As quebras podem ocorrer de forma espontânea ou
em função da ação de agentes como a radiação, drogas ou vírus (BORGES-
-OSÓRIO; ROBINSON, 2013).
As alterações balanceadas são divididas em translocações e inversões,
com mudança na localização do gene. As alterações não balanceadas são
divididas em deleções e duplicações, com alteração no número de genes. A
seguir, as diferentes alterações estruturais serão discutidas separadamente
(BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013).
14 Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura

 Deleções: são perdas de segmentos dos cromossomos. Podem ser termi-


nais como resultado de uma quebra simples sem reunião das extremi-
dades, ou podem ser intersticiais como resultado de uma quebra dupla
com soldadura das extremidades. Como exemplo de deleção temos a
síndrome do Cri-du-Chat.
 Duplicações: ocorre a repetição de um segmento cromossômico, resul-
tante do crossing over desigual de cromátides homólogas. Isso ocorre
na meiose e gera segmentos duplicados e/ou deletados. A falta de genes
nas deleções é mais prejudicial do que o excesso destes nas duplicações.
A duplicação é importante na evolução, pois a partir dessa alteração
estrutural é possível a produção de novos genes por meio de mutações.

De acordo com a tese de Ohno, os produtos de muitos genes, presentes somente


como cópia única no genoma, são indispensáveis à sobrevivência dos membros de
todas as espécies durante a evolução. Essa suposição é sustentada pela descoberta
de grupos de genes que têm sequências de DNA com segmentos idênticos com
produtos gênicos diferentes. A homologia é tão semelhante que se conclui que os
membros de cada par gênico se originaram de um ancestral comum por meio da
duplicação. Como exemplo, temos as proteínas mioglobina e hemoglobina. Os genes
quando duplicados de forma repetitiva, podem levar aos aparecimento das famílias
gênicas. Essas famílias são caracterizadas por grupos de genes ligados, cujos produtos
desempenham a mesma função geral. Exemplo dessas famílias são os vários tipos de
cadeias da globina humana, em que todas as cadeias participam da hemoglobina,
que tem a função de transportar o oxigênio (KLUG et al., 2009). A família de globinas
ilustra a divergência funcional dos genes duplicados. A subfuncionalização poderia
ter resultado na restrição de algumas globinas a tecidos específicos, assim como na
possibilidade de adquirirem funções alternativas, ou adicionais ou divergentes, como
no caso da neuroglobina (STRACHAN; READ, 2016).

 Cromossomo em anel: quando um único cromossomo tem duas de-


leções terminais e suas extremidades se unem dando origem a um
cromossomo em anel. Como exemplo, temos o cariótipo 46,XXr (cro-
mossomo X em anel), com fenótipo semelhante à síndrome de Turner.
Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura 15

 Isocromossomo: quando a divisão do centrômero ocorre transversal-


mente. Nesse caso, os dois cromossomos são anormais (metacêntricos),
com duplicação para um dos braços originais e deficiente para o outro.
Como exemplo temos 46,X,i(Xq), cariótipo com um X que tem dupli-
cação no seu braço longo.
 Inversões: quando há duas quebras com soldadura do segmento que-
brado com os pontos de quebra. Nesse caso, o seguimento gira 180º
e se liga novamente à origem. As inversões muito raramente causam
algum problema sério. Como exemplo, temos a inversão pericêntrica
do cromossomo 9, sendo um polimorfismo, não tendo qualquer im-
portância funcional.
 Translocações: quando há a transferência de segmentos de um cro-
mossomo para outro. Essas alterações decorrem em função da quebra
em dois cromossomos e da posterior troca de seguimentos e podem
ser recíprocas e não recíprocas. Nas recíprocas há a transferência de
seguimentos entre cromossomos, enquanto nas não recíprocas não
ocorre essa troca. Em indivíduos com leucemia mieloide crônica, há
a ocorrência do cromossomo Filadélfia nos seus leucócitos. Esse cro-
mossomo é formado pela translocação de um segmento do braço longo
do cromossomo 22 para o cromossomo 9. O cromossomo 22 agora tem
uma deleção no braço longo, formando o Filadélfia.

Nas translocações robertsonianas, também chamadas de cêntricas, há a


quebra de dois cromossomos acrocêntricos nas regiões centroméricas, com
troca de braços cromossômicos inteiros. Esse tipo de translocação pode ser
visto entre os cromossomos 14 e 21.

Para saber mais sobre mutações cromossômicas, acesse o link:

https://goo.gl/2SYtZT
16 Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura

Identificação das mutações cromossômicas


através da nomenclatura
Com base no bandeamento G, em 1971 foi estabelecida a nomenclatura para os
padrões de bandeamento dos cromossomos humanos. Como exemplo, temos
o cromossomo X na Figura 8. À esquerda, observamos os diferentes níveis
de organização dos braços p e q. Do lado direito do cromossomo, verificamos
a designação resultante para cada uma das regiões específicas. As letras p
e q referem-se aos braços curto (petit) e longo (queue), respectivamente. É
importante salientar que o padrão de bandeamento é exclusivo para cada
cromossomo, podendo realizar a diferenciação até mesmo entre cromossomos
idênticos no tamanho e na localização do centrômero. Além disso, a partir
desse padrão, os homólogos também podem ser diferenciados entre si e as
mutações cromossômicas podem ser identificadas (KLUG et al., 2009).

Banda
3 p22.3
2 2 p22.2
2 1 p22.1
p 1 p21
4 p11.4
1 3 p11.3
1 2 p11.2
1
1 Centrômero
2 q12
1
3 q13

1 q21

2 q22
q
3 q23
2 4 q24
5 q25
6 q26
7 q27
8 q28

Figura 8. Diferenciação das regiões do cromossomo X humano pelo padrão de bandeamento.


Fonte: Klug et al. (2009).
Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura 17

O cariótipo descreve o número total de cromossomos e a constituição


quanto aos cromossomos sexuais. A nomenclatura foi decidida em um encontro
em Paris (Nomenclatura de Paris), em 1971. É importante destacar que cada
cromossomo tem regiões rotuladas, com p1, p2, q1, q2, e assim por diante.
Essa rotulação é contada a partir do centrômero. As bandas são identificadas
como p11 (p um-um) e p12 (p dois-dois) e as sub-bandas são identificadas
como p11.21, p11.22, etc. (STRACHAN; READ, 2016).
Outras designações são:

 Cen: centrômero.
 Ter: telômero.
 Xq proximal: segmento do braço longo do X mais próximo do centrômero.
 2p distal: porção do braço curto do cromossomo 2 mais distante do
centrômero e mais próxima do telômero.

As anomalias cromossômicas podem ser categorizadas em numéricas


e estruturais e também recebem uma nomenclatura específica para cada
alteração, como demonstrado na Tabela 2 a seguir. Podemos notar que, nas
composições cromossômicas, o número expressa o total de cromossomos
presentes e os símbolos após a vírgula são relativos ao desvio do conteúdo
diploide normal (KLUG et al., 2009).

Tabela 2. Nomenclatura das anomalias cromossômicas.

Tipo de anomalia Exemplos Explicações/


observações

Numéricas

Triploidia 69,XXX,69,XXY,69,XYY Um tipo de poliploidia

Trissomia 47,XX, +21 Ganho de um


cromossomo é
indicado por +

Monossomia 45,X Um tipo de


aneuploidia; a perda
de um cromossomo
é indicada por -

Mosaicismo 47,XXX/46,XX Um tipo de mixoploidia

(Continua)
18 Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura

(Continuação)

Tabela 2. Nomenclatura das anomalias cromossômicas.

Tipo de anomalia Exemplos Explicações/


observações

Estruturais

Deleção 46,XX,del(4)(p16.3) Deleção terminal (ponto


de quebra em 4p16.3)
46,XX,del(5)(q13q33) Deleção intersticial
(5q13-q33)

Inversão 46,XX,inv(11)(p11p15) Inversão paracêntrica


(pontos de quebra
no mesmo braço)

Duplicação 46,XX,dup(1)(q22q25 Duplicação de


região abrangendo
de 1q22 a 1q25

Inserção 46,XY,ins(2)(p13q21q31) Um rearranjo de uma


cópia do cromossomo
2 por inserção do
segmento 2q21-q31
em um ponto de
quebra em 2p13

Cromossomo em anel 46,XX,r(7)(p22q36) União de extremidades


quebradas em
7p22 e 7q36

Cromossomo marcador 47,XX, + mar Indica uma célula


que contém um
cromossomo marcador
(um cromossomo extra
não identificado)

Translocação recíproca 46,XX,t(2;6)(q35;p21.3) Uma translocação


recíproca equilibrada
com pontos de quebra
em 2q35 e 6p21.3

(Continua)
Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura 19

(Continuação)

Tabela 2. Nomenclatura das anomalias cromossômicas.

Tipo de anomalia Exemplos Explicações/


observações

Translocação 45,XY,der(14;21)(q10;q10) Um portador


robertsoniana balanceado de
(dá origem a um uma translocação
cromossomo derivado) 46,XX,der(14;21) robertsoniana14;21.
(q10;q10), +21 q10 não é exatamente
uma banda
cromossômica, mas
indica o centrômero
der utilizado quando
um cromossomo de
uma translocação
está presente
Um indivíduo com
síndrome de Down
tendo um cromossomo
14 normal, um
cromossomo com
translocação 14;21 e
duas cópias normais
do cromossomo 21

Fonte: Lewis (1997).

A Tabela 3 demonstra as principais notações usadas para descrever as


anomalias cromossômicas.

Tabela 3. Notações

Notação Significado

ace Acêntrico (sem centrômero)

arr Microarranjo

cen Centrômero

cgh Hibridização genômica comparativa

del Deleção
(Continua)
20 Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura

(Continuação)

Tabela 3. Notações

Notação Significado

der Derivado

dic Dicêntrico (com dois centrômeros)

dup Duplicação

fra Sítio frágil

h Constrição secundária

i ou isso Isocromossomo

ins Inserção

inv Inversão

ish Hibridização in situ (do inglês in


situ hybridization), inserção

mar Cromossomo marcador

mat Origem maternal

p Braço curto de qualquer cromossomo

pat Origem paterna

pter Extremidade do braço curto

q Braço longo de qualquer cromossomo

qter Extremidade do braço longo

r Cromossomo em anel (do inglês ring)

rcp Translocação recíproca

rob Translocação robertsoniana

s Satélite

t Translocação

ter Extremidade, ponta ou terminal

+ Ganho de um cromossomo ou parte dele

- Perda de um cromossomo ou de parte dele

/ Mosaicismo

(Continua)
Bandeamento, mutações cromossômicas e nomenclatura 21

(Continuação)

Tabela 3. Notações

Notação Significado

: Quebra cromossômica

:: Quebra e junção

Fonte: Lewis (1997).

BORGES-OSÓRIO, M. L.; ROBINSON, W. M. Genética humana. 3. ed. Porto Alegre:


Artmed, 2013.
KLUG, W. S. et al. Conceitos de genética. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
MALUF, S. W.; RIEGEL, M. Citogenética humana. Porto Alegre: Artmed, 2011.
STRACHAN, T.; READ, A. Genética molecular humana. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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