Teologia Pastoral

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TEOLOGIA PASTORAL

Professor Especialista Erison de Moraes Valério


REITORIA Prof. Me. Gilmar de Oliveira
DIREÇÃO ADMINISTRATIVA Prof. Me. Renato Valença
DIREÇÃO DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Me. Daniel de Lima
DIREÇÃO DE ENSINO EAD Profa. Dra. Giani Andrea Linde Colauto
DIREÇÃO FINANCEIRA Eduardo Luiz Campano Santini
DIREÇÃO FINANCEIRA EAD Guilherme Esquivel
COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Profa. Ma. Luciana Moraes
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Profa. Ma. Luciana Moraes
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Me. Jeferson de Souza Sá
COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal
COORDENAÇÃO DE PLANEJAMENTO E PROCESSOS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA EAD Profa. Ma. Sônia Maria Crivelli Mataruco
COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS Luiz Fernando Freitas
REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling
Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante
Caroline da Silva Marques
Eduardo Alves de Oliveira
Jéssica Eugênio Azevedo
Marcelino Fernando Rodrigues Santos
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Bruna de Lima Ramos
Hugo Batalhoti Morangueira
Vitor Amaral Poltronieri
ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz
DE VÍDEO Carlos Firmino de Oliveira
Carlos Henrique Moraes dos Anjos
Kauê Berto
Pedro Vinícius de Lima Machado
Thassiane da Silva Jacinto

FICHA CATALOGRÁFICA

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

V164t Valério, Erison de Moraes


Teologia pastoral / Erison de Moraes Valério. Paranavaí:
EduFatecie, 2023.
82 p.

1. Bíblia - Hermenêutica. 2. Teologia pastoral. 3. Teologia


dogmática I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de
Educação a Distância. III. Título.

CDD:23.ed. 230.06
Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577

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de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
AUTOR
Prof. Esp. Erison de Moraes Valério

● Bacharel em Teologia (UniFil);


● Especialista em Teologia Sistemática Contextualizada (Fabapar);
● Especialista em Teologia e Interpretação Bíblica (Fabapar);
● Especializando em Docência no Ensino Superior (Unicesumar);
● Professor de Apocalipse e Escatologia no Curso de Teologia EAD (UniFatecie);
● Professor de Noções de Grego e hebraico no Curso de Teologia EAD (UniFatecie);
● Professor de Teologia Pastoral no Curso de Teologia EAD (UniFatecie);
● Coordenador e Professor de Estágio do Curso de Bacharel em Teologia EAD (Uni-
Fil);
● Professor de Grego e Exegese do Novo Testamento, Hebraico e Exegese do Anti-
go Testamento, Capelania, Metodologia Prática em Teologia, Geografia e Cultura
Bíblica do Curso de Bacharel em Teologia e Tecnólogo em Ministério Pastoral EAD
(UniFil);
● Professor do Seminário Teológico Rogate (Str), nas disciplinas: Teologia Sistemáti-
ca, Interpretação Bíblica, História do Cristianismo, Homilética, Geografia e Cultura
Bíblica, Caráter e Integridade.

Trabalhou como coordenador do curso de Teologia com Aperfeiçoamento ministerial do


Seminário Teológico Rogate, onde é professor desde 2018. Na área de pesquisa, dedica-se
aos estudos em Interpretação bíblica, Exegese, e Teologia Sistemática. É pastor ordenado
desde 2018 e atua na área pastoral e ensino teológico.

CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/4074326759508240

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APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Olá, Aluno (a)! Bem-vindo (a)!

Estamos iniciando nossos estudos em um disciplina teológico prática essencial para


sua formação acadêmica: a Teologia Pastoral. Durante a história do cristianismo o estudo
da prática teológica pastoral passou por alguns períodos de estudos onde seu entendimento
foi alcançando diversas proporções. Desde a era apostólica a preocupação com o cuidado
com as ovelhas tem sido objeto de estudo, mas principalmente como prática teológica.
Em nossos dias não é diferente, pois nesta realidade hipermoderna é pertinente um
aprofundamento nas pesquisas e estudos acerca da importância e da responsabilidade da
atividade que envolve a Teologia Pastoral.
Nossos estudos, tem o objetivo de abordar a temática nas diversas perspectivas
teórico-práticas que constituem suas ações.
Assim sendo, na Unidade 1, aprenderemos sobre o conceito de teologia pastoral
e sua evolução como disciplina acadêmica ao longo da história. Além disso, para que a
identidade como disciplina teológica seja sólida, estudaremos os fundamentos bíblicos da
teologia pastoral.
Já na Unidade 2, abordaremos sobre a vocação e a qualificação necessária para o
exercício da atividade. Será um estudo com o foco na pessoa do vocacionado, seu processo
de formação e os sofrimentos na vida pastoral.
Na Unidade 3, estudaremos uma primeira etapa nas práticas que envolvem a atuação
pastoral, tanto para o indivíduo que sofre, como para suas ações em sociedade.
Na Unidade 4, trataremos da relação entre a Psicologia e a Teologia Pastoral, com
a finalidade de entender os alinhamentos e as discordâncias nas ações conjuntas. Por fim,
veremos a importância do aconselhamento pastoral como prática terapêutica no cuidado
com aqueles que sofrem.
Desejo a você aluno, um período de crescimento no saber teológico.

Bons Estudos!

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SUMÁRIO

UNIDADE 1
Fundamentos da Teologia Pastoral

UNIDADE 2
Vocação e Qualificação Pastoral

UNIDADE 3
Práticas Pastorais

UNIDADE 4
A Teologia Pastoral, a Psicologia e o
Aconselhamento

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Professor Especialista Erison de Moraes Valério
TEOLOGIA PASTORAL
FUNDAMENTOS DA

● Compreender os tipos de tarifação e fornecimento de energia elétrica.


● Conceituar e contextualizar critérios de instalações elétricas;
● Fundamentos bíblicos da teologia pastoral.
● A teologia pastoral e o estudo acadêmico.

Objetivos da Aprendizagem
UNIDADE

● Conceito e prolegômenos.
Plano de Estudos
1
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INTRODUÇÃO
Olá, tudo bem? Bem-vindo a nossa primeira unidade de estudo!

Vamos estudar a importante disciplina de Teologia Pastoral e suas particularidades.


Ao longo da história do cristianismo, o ofício e a atividade pastoral foram estudados
por diversas frentes que buscavam entender sua atuação no âmbito doutrinário, eclesiológico
e científico. Importantes estudiosos contribuíram para a compreensão do assunto que
estudaremos nesta oportunidade.
As Escrituras demonstram no Antigo Testamento, o Deus dos hebreus conduzindo
seu povo como um pastor que protege e direciona suas ovelhas durante toda a peregrinação
no deserto. Da mesma forma, Jesus Cristo aparece como o Bom Pastor, “que dá a vida
pelas ovelhas”, no Novo Testamento.
No primeiro tópico, aprenderemos sobre o pensamento de alguns autores no que
diz respeito ao conceito de Teologia Pastoral. Além disso, vamos entender suas aplicações
e perspectivas teológicas.
Já o segundo tópico, tem por objetivo a compreensão acerca da Teologia Pastoral
e o estudo acadêmico, cujo desenvolvimento ao longo da história, acontece em períodos
distintos. Os períodos referenciados neste tópico demonstram o desenvolvimento da
Teologia Pastoral e seus pressupostos.
Por último, no terceiro tópico, arrazoaremos a respeito dos fundamentos bíblicos
que norteiam as ações e o ofício pastoral. O assunto despertará seu interesse por tratar do
exemplo de Deus como o perfeito Pastor de Israel em sua história. Estudaremos também
neste tópico, os personagens como profetas e líderes que foram instrumentos de Deus para
o pastoreio, além do Bom pastor Jesus no Novo Testamento. Concluindo o aprendizado
trataremos dos vocábulos que são associados ao ofício e ações pastorais.
Espero que você tenha ótimas expectativas para a nossa jornada do conhecimento
em Teologia Pastoral.

Desejo a todos, ótimos estudos e êxito neste percurso. Vamos lá!

UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA PASTORAL 7


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1
TÓPICO

CONCEITO E
PROLEGÔMENOS

A teologia pastoral é a ciência que trata dos rudimentos bíblicos para o exercício do
labor pastoral, assim como das relações do sacerdócio (seja padre ou pastor) quanto ao
trabalho na igreja, família, sociedade, etc. Em suma, trata-se de uma especificidade na
teologia que se ocupa com as atividades pastorais teóricas e práticas. Deriva-se da palavra
grega poimen, cujo é pastor. Em sua amplitude, a poimenica refere-se ao trabalho pastoral
de modo geral.
Em contrapartida, a outras disciplinas teológicas, o estudo científico da teologia
pastoral foi muito discutido durante a história, e ainda possui atenção especial nos dias
atuais. Para iniciar o tratamento desta disciplina teológica, devemos primeiramente buscar
sua definição, elucidando o que ela pretende, sua finalidade, os meios de atuação, etc.
Conforme Ramos (2011) afirma em sua obra Teologia Pastoral, o estudo da teologia
pastoral é complexo, “[...] tanto pela evolução que esse tema vem sofrendo dentro dos estudos
teológicos desde seus primórdios, há pouco mais de dois séculos, bem como o grande número
de conotações que o termo “pastoral” tem em nossa língua. (RAMOS, 1995, p. 5)
A abordagem sobre teologia pastoral é ampla e demanda um estudo pormenorizado
de suas perspectivas. Como definição pode abranger duas linhas de pensamento; a
teologia pastoral como atividade prática e a teologia pastoral como atividade específica que
busca a compreensão das atividades no âmbito eclesial. Neste segundo ponto de vista,
Szentmártoni (1999) afirma:

“A pastoral pode ser definida como reflexão teológica sobre o conjunto das atividades
com as quais a igreja se realiza, com a finalidade de definir como essas atividades
deveriam ser desenvolvidas, levando em consideração a natureza da igreja e sua
situação atual e a do mundo.” (SZENTMÁRTONI, 1999, p. 11).

UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA PASTORAL 8


Além disso, a teologia pastoral tem por princípio o conhecimento bíblico e teológico
acerca do ministério, impulsionando a prática ministerial na igreja. Ramos (1995) corrobora
com essa perspectiva da teologia pastoral quando afirma:

Podemos fazer uma primeira aproximação do termo e dizer que comumente usamos
para nos referir ao prático na Igreja, ao trabalho que se realiza concretamente
dentro dela. Neste caso, as diferentes ações eclesiais seriam campos diferentes da
pastoral. (RAMOS, 1995, p. 5).

Ainda buscando um conceito e aplicação da teologia Pastoral, ela também é


reconhecida como pastoralia. É um termo científico derivado do latim que alude a um campo
do conhecimento e estudo teológico que se ocupa com as atividades pastorais teóricas e
práticas. Através desse pensamento, Champlim (2006), relata as possíveis variações em
seu conhecimento:

Varia consideravelmente dependendo de cada instituição de ensino teológico,


a prioridade é dada para a vida espiritual pessoal do indivíduo que está sendo
treinado; ao seu treinamento nas Escrituras Sagradas; ao desenvolvimento das
suas sensibilidades às necessidades das pessoas; ao lado prático do ministério para
com os enfermos e outros, em cooperação com agências sociais e governamentais;
a efetivação de cultos normais e especiais como a ministração de ordenanças
casamentos funerais, etc. Além disso, a arte de pregar [...] (CHAMPLIM, 2006, p.
381).

Portanto, não é possível abordar a teologia pastoral com uma perspectiva que adote
a esfera de atuação na igreja, em detrimento de somente um estudo científico teológico.
Além disso, não há prática séria e consistente, que não tenha o estudo como um
dos elementos componentes do seu processo. (RAMOS, 1995). Nossa abordagem nesta
disciplina acontecerá no pensamento do teórico com o prático, do reflexivo para as ações
operacionais da atividade, essenciais em toda atuação da teologia pastoral.

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2
TÓPICO
A TEOLOGIA
PASTORAL E O ESTUDO
ACADÊMICO

A história da teologia pastoral e sua autonomia como disciplina científica possui suas
origens relativamente há pouco tempo. Apesar disso, existem escritos teológicos com a
preocupação Pastoral desde o início do cristianismo. Segundo Balsan (2018):

“ [...] os Evangelhos buscam apresentar a pessoa de Jesus Cristo levando em


consideração a situações concretas das Comunidades para os quais são escritos. As
cartas apostólicas, por sua vez, apresentam-se fundamentalmente como orientações
práticas sobre a vida cristã com base nas dúvidas e nas dificuldades que as primeiras
comunidades cristãs encontravam com relação à vivência do Evangelho. Durante
o período patrístico [...], além de a teologia estar amplamente voltada para a ação
Pastoral, apareceram obras que poderíamos caracterizar como teológicos pastorais
justamente para oferecer respostas às necessidades práticas das comunidades
dando origem a um gênero literário especial.” (BALSAN, 2018, p. 25)

“Para facilitar a compreensão do desenvolvimento da teologia pastoral, sua história


pode ser dividida em diferentes etapas.” (SZENTMÁRTONI, 1999, p. 13).
A primeira etapa se refere a um período de sentido teológico ao invés de prático.
A data de nascimento da teologia pastoral, provavelmente refere-se ao ano de 1777. Na
ocasião, a imperatriz Maria Teresa inicia a reforma do ensino universitário. Até então, a
teologia pastoral era reconhecida como estudo e ensino da profissão dos pastores, seus
deveres e atividades primordiais. A teologia pastoral era entendida como teologia prática.
(SZENTMÁRTONI, 1999).
A segunda etapa compreende a “orientação bíblico-teológica”, onde a teologia
pastoral se faz mais acertadamente teologia pastoral, isto é, o conhecimento que a igreja
constrói sobre si mesma. Segundo Szentmártoni (1999, p. 14), um autor conhecido nessa
época é Sailer, é quem “[...] lança o projeto de teoria e de sistemática do trabalho de cuidar
de almas a partir da Revelação positiva e da ação salvífica de Deus, apresenta-se assim
um novo modo de entender a atividade da Igreja.”

UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA PASTORAL 10


A figura pastoral deixa de ser um simples motivador de uma vida mais pacífica e
equilibrada, mas um agente do Deus vivo no papel da salvação dos homens. Portanto, o
sacerdote assume o papel de sacerdócio vocacionado e não um simples funcionário.
A terceira etapa dá ênfase ao caráter eclesiológico, sendo conhecida como escola
de Tübingen. A. Graf e J. S. Drey representam essa linha de pensamento. Conforme
Szentmártoni (1999, p 14) “[...] o objeto material da teologia pastoral não é o pastor, mas a
igreja, por meio da qual o cristianismo edifica a si mesmo em vista do futuro.”
Alguns termos conhecidos na atualidade remetem a Graf, como “edificação do Reino
de Deus”, “ações eclesiais”, “autodefinição da Igreja”.
A quarta etapa é conhecida como a reforma querigmática. O primeiro professor da
teologia pastoral da escola de Tubingen era J. B. Hirscher que adota o pensamento como
critério principal da pregação do reino de Deus. (SZENTMÁRTONI, 1999).
Além disso, acreditava que a ação primordial do âmbito pastoral seria a anunciação
do Evangelho de Cristo. Conforme ensina Szentmártoni (1999, p. 15), A. Graf. atribui uma
definição para a teologia pastoral: “a ciência das atividades Divino humanas realizadas
pela igreja por intermédio de pessoas e por ela incumbidas de tal tarefa, de preferência
pertencente ao estado eclesiástico, para edificação da mesma igreja.”
A partir desse pressuposto, a teologia pastoral é reconhecida como uma ciência
teológica que possui relevante importância na esfera eclesial.
No último século o conceito da teologia pastoral como instrumento de edificação
da igreja ganha um impulso importante nos anos 50, sobre a ideia de K. Ragner.
(SZENTMÁRTONI, 1999).
Novamente, por meio de uma intervenção, a teologia pastoral ganha uma nova
abordagem da problemática teológico-pastoral.

Uma intuição original de Runner é que a realidade mundana incide essencialmente


na construção da ação eclesial e cristã. O objeto material da teologia prática é posto
na vida e na ação da igreja, fazendo com que a concepção da igreja se revista do
significado decisivo. Objeto formal ao contrário, é o condicionamento da realização
da igreja pela situação atual. Nascem daí as diversas disciplinas auxiliares, entre
as quais a sociologia, a de maior importância para a análise da situação atual, E
também o método da teologia Pastoral: a análise da situação atual. Um dos pres-
supostos fundamentais para esse enfoque é a convicção de que a situação atual é
desejada por Deus e que nela se pode perceber a vontade de Deus. Essa análise
é essencialmente teológica e não é suficiente para fazer referência a concepção
puramente sociológica da igreja. (SZENTMÁRTONI, 1999, p 15).

Com isso, a dimensão pastoral e a espiritual foram fortalecidas como um todo no


pensamento teológico. Essa perspectiva pastoral ganhou forma no “[...] Handbuch der
Pastoraltheologie - ‘manual de teologia pastoral’ - publicado na Alemanha entre 1964 e
1972 com a colaboração dos melhores pastoralistas da época.” (BALSAN, 2018, p. 36).
Esta obra, pela primeira vez, estabeleceu fundamentos para construir a teologia
pastoral como ciência teológica dentro da teologia católica. Desta forma, seu objeto principal
se torna a igreja inteira, e não somente o clero, igreja que tem Cristo como alicerce e
Cabeça, sendo formada na totalidade dos seus membros que atuam na missão através da
vida do Espírito Santo impulsionando a missão no mundo. Conforme Basan afirma:

UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA PASTORAL 11


A contribuição oferecida pelo manual, por mais valiosa que tenha sido, tornou-se
novamente ponto de partida da reflexão dos Teólogos pastoralistas, que buscaram
enriquecer os argumentos e também corrigir algumas posições. Pode-se dizer que
a crítica ao modelo proposto pelo Handbuch der Pastoraltheologie [...] provocou o
surgimento de uma série de teologias práticas. (BALSAN, 2018, p. 38).

O colaborador do manual, H. Schuster, distanciou o pensamento central da teologia


pastoral, que se encontrava na eclesiologia e aproximou-a da pessoa do Salvador Jesus
Cristo (BALSAN, 2018). O fundamento se embasava no ministério de Jesus como parâmetro
do que deveria ser realizado. “Para Schuster, a igreja existiria onde houvesse discípulos
que se comprometessem com a pessoa de Jesus e, com esperança, dessem continuidade
à sua missão.” (BALSAN, 2018 p. 38).
Segundo Brighenti, a teologia pastoral apresenta uma perspectiva de atuação da
igreja:
“A teologia pastoral nasce precisamente quando a igreja descobre e assume que
não é o mundo que está na igreja, mas é a igreja que está ‘no’ mundo. O mundo
é constitutivo da igreja. Embora a igreja não seja ‘deste’ mundo, sua missão se dá
‘neste’ mundo.” (BRINGHENTI, 2021, p. 8).

Os estudos e debates sobre a compreensão da teologia pastoral ainda não se


encerraram. A teologia pastoral constitui uma nova perspectiva dentro da teologia eclesial.
Os estudos variam dependendo do autor, seus pressupostos e a visão adotada. Como
resultado, apresenta-se com uma amplitude de ideias e, com elas, várias problemáticas a
serem debatidas.

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TÓPICO
FUNDAMENTOS
BÍBLICOS DA
TEOLOGIA PASTORAL

A percepção de ‘deus’ (referindo-se às divindades egípcias e mesopotâmicas) como


um pastor, se fazia presente entre os povos da Mesopotâmia há 3.000 antes de Cristo.
Esses povos acreditavam que o êxito das suas atividades na vida presente era resultado
do cuidado de seu deus e não de qualidades pessoais e auxílio familiar. Seu deus garantia
saúde, filhos, bem-estar e tudo o que resultava na bem-sucedida vida. Conforme Balsan
(2018) nos informa:

“[...] breves acenos em relação à concepção de Deus como pastor na Mesopotâmia


e Egito mostram-nos que o título de pastor atribuído a deus está fortemente ligado
ao tema da vida: o deus-pastor manifesta cuidado e proteção para com as suas
criaturas.” (BALSAN, 2018, p. 62)

A ideia de Deus como pastor de seu povo na tradição judaico-cristã é tratada no


Antigo e Novo Testamentos, de forma que toda Bíblia enfatiza o assunto. Porém, o título
literal de Deus sendo chamado de pastor aparece poucas vezes no Antigo Testamento.
Como no Salmo 23.1: “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.” (Bíblia, ARA, 1994).
Em Gênesis 48.15: “E abençoou a José, com as seguintes palavras: ‘Que o Deus, a quem
serviram meus pais Abraão e Isaque, o Deus que tem sido o meu Pastor em toda a minha
peregrinação pela vida, até o dia de hoje’, [...]” (Bíblia, KJVA, 2012).
Com esta afirmação, num primeiro instante pode parecer um assunto de pouca
relevância, mas a frequência do verbo apascentar no Antigo Testamento - indicando a
função pastoral - nos demonstram as ações de Deus como pastor. (BALSAN, 2018).

UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA PASTORAL 13


3.1 A pastoral no Antigo Testamento

O pensamento e a realidade da pastoral estão enraizados na cultura de Israel em


suas origens nômades. A referência continua na época das peregrinações do povo hebreu
e nas problemáticas de sua história. Essa mobilidade era uma característica intrínseca, o
qual a figura do pastor possuía duplo aspecto: de trabalhador e cuidador.
Segundo o relato de Ramos (1995, p. 18), “[...] adquiriu importância como referência
religiosa em sua compreensão de Deus, como também na própria autocompreensão do
povo de Deus e daqueles que atuam em seu Nome.”
Estes representantes do Altíssimo receberam o nome de pastores, ao passo que o
povo era conhecido como “o rebanho” que seguia as suas pegadas na trajetória da aliança.
No Antigo Testamento, percebemos três particularidades com essa dupla referência
na figura pastoral.
Primeiro, mais do que uma nomenclatura dada pelo próprio Deus, o pastor serviu para
demonstrar a Israel dentro de sua história, o amor de Deus pelo seu povo.

FIGURA 1 - A FIGURA PASTORAL NO ANTIGO TESTAMENTO

Em segundo lugar, a constituição do povo hebreu no êxodo já é concebida em Israel


pela ação pastoral. A obra de libertação o povo da escravidão e depois a condução pelo
deserto é associada a figura do rebanho e das ovelhas. O salmista demonstra essa consta-
tação: “Mas fez sair o seu povo como ovelhas, e os guiou pelo deserto como a um rebanho.”
(BÍBLIA, Salmos 78.52, ARA, 1994).
A figura do bom pastor que escuta o clamor e os apelos mediante o sofrimento do
Egito. Vejamos o relato do livro de Êxodo.

“Então disse o Senhor: Com efeito tenho visto a aflição do meu povo, que está no
Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheço
os seus sofrimentos; e desci para o livrar da mão dos egípcios, e para o fazer subir
daquela terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que mana leite e mel;
[...]” (BÍBLIA, Êxodo 3.7-8, ARA, 1994).

UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA PASTORAL 14


Posteriormente, Moisés relata a libertação do povo no livro de Deuteronômio: “Eu
sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.” (BÍBLIA,
Deuteronômio 5.6, ARA, 1994). Após a libertação da escravidão, conduz com bondade e
misericórdia o povo liberto no deserto: “Na tua beneficência guiaste o povo que remiste; na
tua força o conduziste à tua santa habitação.” (BÍBLIA, Êxodo 15.13, ARA, 1994).
A ação típica de um pastor é atribuída a Deus nos versículos que se seguem a
passagem do Salmo 23.1. Vamos analisar: “Deitar-me faz em pastos verdejantes; guia-me
mansamente a águas tranquilas. Refrigera a minha alma; guia-me nas veredas da justiça
por amor do seu nome.” (Bíblia, Salmos 23.2-3, ARA, 1994).
Os verbos conduzir e guiar, são utilizados para demonstrar a ação pastoral de Deus, de
forma semelhante na passagem de Êxodo 15.13: “Na tua beneficência guiaste o povo que
remiste; na tua força o conduziste à tua santa habitação.” (Bíblia, Êxodo 15.13, ARA, 1994).
Nos escritos proféticos, Deus aparece como o bom pastor que conduz e guia, mas o
seu povo resiste aos seus ensinamentos. A passagem de Isaías 40.11, faz uma comparação
do pastor com o próprio Deus como exemplo de cuidado, proteção e condução do rebanho.
Vamos analisar: “Como pastor ele apascentará o seu rebanho; entre os seus braços
recolherá os cordeirinhos, e os levará no seu regaço; as que amamentam, ele as guiará
mansamente.” (Bíblia, Isaías 40.11, ARA, 1994)
A compreensão de Deus como pastor que guia e conduz continua presente nos livros
proféticos, no livro de Oséias. “Porque como novilha obstinada se rebelou Israel; agora o
Senhor os apascentará como a um cordeiro num lugar espaçoso.” (Bíblia, Oséias 4.16,
ARA, 1994). Contudo, a atitude de Israel era de teimosia como o gado obstinado.
Segundo Balsan (2018), no livro de Sofonias, “[...] o pastoreio de Iahweh adquire uma
forte conotação política e social. Ele vai destruir os opressores, e a filisteia devastada será
de tal modo alterada que servirá de local seguro para o rebanho [...] (BALSAN, 2018, p.
67). “E a borda do mar será de pastagens, com cabanas para os pastores, e currais para os
rebanhos.” (BÍBLIA, Sofonias 2.6, ARA, 1994).
Uma característica do Deus de Israel em relação ao deus egípcio é a proximidade
do tratamento. O deus egípcio também reuniria as ovelhas com a diferença da tratativa.
Enquanto o Deus bíblico se aproxima e apascenta suas ovelhas, e o deus egípcio realiza
suas ações à distância.

O povo experimenta a dispersão ao ser exilado para o Egito e para Babilônia, de


onde regressa um pequeno grupo, sem que o conjunto, como um todo, volte a se
reunir. É nessas situações críticas do exílio que esse povo faz uma experiência
única de Deus: a de sua proximidade. (BALSAN, 2018, p. 68).

O povo teve uma experiência pessoal no deserto de um Deus próximo, que entende
seu sofrimento, quando desceu no deserto. “[...] “Certamente tenho observado a opressão
e a miséria sobre meu povo no Egito, tenho ouvido seu clamor, por causa dos seus feitores,
e sei o quanto estão padecendo.” (BÍBLIA, Êxodo 3.7, ARA, 1994).

UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA PASTORAL 15


3.2 O Antigo Testamento e as lideranças pastorais

Apesar de caminhar com seu povo, as pegadas de Deus não eram físicas, portanto,
ninguém via seu rastro. Os seus líderes eram quem pastoreavam o povo, em diversas
situações, sob sua condução divina. Vejamos Salmos 77.21: “Guiaste o teu povo como a
um rebanho pela mão de Moisés e de Arão.”
Durante a Monarquia de Israel, que se encontrava ameaçada pelo exílio babilônico e
a destruição de Jerusalém, o profeta Ezequiel descreve a figura de um pastor e messias:
“Darei às minhas ovelhas um Pastor, um rei que será como o meu servo Davi, para ser o
seu único pastor. Ele cuidará do meu rebanho e será o seu líder.” (BÍBLIA, Ezequiel 34.23
ARA, 1994).
Ele seria a resposta aos maus pastores que enganavam e faziam o povo de Israel se
desviar dos caminhos de Iahweh.
Através do profeta Jeremias, Deus anuncia que virá um rei que atuará com inteligência
e exercerá a justiça sobre a terra: “Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi
um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e procederá sabiamente, executando o juízo e a
justiça na terra.” (BÍBLIA, Jeremias 23.5 ARA, 1994).

3.3 Jesus Cristo como o bom pastor no Novo Testamento

No Novo Testamento, Cristo aparece interpretando sua história e sua missão desde o
ambiente religioso-cultural de sua cidade e compreendendo também a partir da terminologia
pastoral sua própria obra. Em seu ministério, Cristo atuava direcionando o rebanho sem
pastor para conhecer o caminho de volta, conforme o relato dos evangelistas Mateus e
Marcos: “Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque andavam desgarradas e
errantes, como ovelhas que não têm pastor.” (BÍBLIA, Mateus 9.36, ARA, 1994). “E Jesus,
ao desembarcar, viu uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque eram como
ovelhas que não têm pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas.” (BÍBLIA, Marcos
6.34, ARA, 1994).
Segundo o relato de João, Cristo se identifica como o Bom Pastor, que dá sua vida
pelas ovelhas: “Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no aprisco
das ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador. Mas o que entra pela
porta é o pastor das ovelhas.” (BÍBLIA, João 10.1-2, ARA, 1994).
Segundo Balsan (2018):

Os pastores dos rebanhos que usavam o mesmo abrigo eram conhecidos do por-
teiro e, portanto, ele lhes abria a porta assim que precisassem. Porém, enquanto os
pastores entravam pela porta, os ladrões entraram pelos fundos, justamente para
não serem vistos pelo vigia. (BALSAN, 2018, p, 73).

A parábola do Bom Pastor relata a cura de um cego de nascença, que após apresentar-se
na sinagoga curado e professando sua fé em Jesus Cristo, posteriormente é expulso daquele
local. A passagem do Evangelho de João capítulo 9, apresenta um paradoxo na narrativa:

UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA PASTORAL 16


“[...] ao ser expulso pela suposta traição ele perde a condição de membro do
rebanho de Deus. Mas a realidade demonstra uma situação diferente: “Tendo sido
curado da cegueira e iluminado pela luz da fé, o homem encontrou o Bom Pastor.
Pela sua profissão de fé, deixou o aprisco judaico e entrou no rebanho de Cristo,
onde encontrou a verdadeira porta que conduz à salvação.” (BALSAN, 2018, p. 74).

A aplicação dessa interpretação nos conduz à reflexão de que, aqueles que desejam
pastorear as ovelhas de Cristo sem passar pela porta do aprisco, são comparados a pastores
não autênticos, mas ladrões e assaltantes.
Para exercer a função Pastoral, é preciso, antes, processar a fé em Jesus Cristo, o
Filho Unigênito de Deus, e ser iluminado por Ele. (BALSAN, 2018).
Juntamente com a afirmação bíblica de Jesus como bom pastor, percebemos o
universalismo de seu rebanho. “As ovelhas que não são do rebanho judeu, ou seja, os
gentios, também pertencem a Ele e devem ser acrescentados ao rebanho, para que haja
um só rebanho e um só pastor.” (RAMOS, 1995, p. 21).
Em outra passagem do Evangelho de João, no capítulo 10, nos versículos de 2 a
5, Jesus Cristo se intitula como o bom pastor e se apresenta como a porta. Depois disso
ocorre a comparação entre o bom pastor, que dá a vida pelas ovelhas e o ladrão, que
abandonam e deixam o rebanho à própria sorte diante das ameaças.
O relacionamento de Jesus o Bom Pastor com as suas ovelhas é semelhante ao Deus
Pai e o Filho, segundo o relato de João 10.14-15 (Bíblia, ARA, 1994): “Eu sou o bom pastor;
conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu
conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas.”

FIGURA 2 - ILUSTRAÇÃO DE JESUS O BOM PASTOR

3.4 Termos que designam o ofício pastoral no Novo Testamento

Na carta aos Efésios, Paulo registra Jesus Cristo, como o cabeça da igreja, que lidera
e pastoreia. Vejamos a passagem de Efésios 1.22: “E pôs todas as coisas debaixo dos pés
e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja,” (Bíblia, Efésios 1.22, ARA, 1994).

UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA PASTORAL 17


Segundo Schnackenbourg (1961, p. 43 citado por RAMOS, 1995, p. 26), “a partir do
dia de Pentecostes, a pregação apostólica surge da interpretação da história de Jesus
através da sua ressurreição em conformidade com as profecias do Antigo Testamento.”
Desta forma, surge uma comunidade eclesial cujas características são consideradas padrão
para a igreja.
A evangelização e constituição da igreja no Novo Testamento, evidencia sua natureza
através de seus membros e ofícios. As atribuições e as responsabilidades que envolvem
o pastorado no Novo Testamento, são a base para a teologia e a concepção futura do
ministério. Encontramos algumas expressões que indicam a função pastoral:

● Presbítero ou ancião (gr. presbyteros), o termo indica uma pessoa com


mais idade, fazendo referência a ser “mais experiente”. Em algumas situações, os
presbyteroi tinham funções administrativas e judiciárias.

“Em geral, o escolhido para o exercício do presbiterato era um ancião. Entretanto,


no judaísmo, e posteriormente no cristianismo, “presbítero” passou a ter dois sen-
tidos: o de ancião e o de quem exercia determinado ofício, cabendo-lhe a direção
nas reuniões e a representação do povo nos concílios superiores [...]” (LOPES e
LOPES, 2011, p. 54).

MacArthur (1998, p. 58) afirma que o presbítero é “[...] um título que destaca a
direção administrativa e espiritual da igreja.” Vamos verificar algumas passagens bíblicas
que trazem a palavra grega presbyteros:

» 1 Timóteo 5.17: “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários


os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na
palavra e no ensino.” (BÍBLIA, ARA, 1994).
» Atos 15. 16: “Então, se reuniram os apóstolos e os presbíteros para examinar a
questão. (BÍBLIA, ARA, 1994).
» 1 Pedro 5:1,2: “Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero
como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda coparticipante da
glória que há de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós,
não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sór-
dida ganância, mas de boa vontade;” (BÍBLIA, ARA, 1994).

● Pastor (poimen), possui alguns derivados na língua grega, que são poinmê e
poimnion, que significa “rebanho”. Outra expressão grega encontrada é o poimanô
cuja tradução é “pastorear”. Segundo Lopes e Lopes:

No grego clássico, poimên (pastor) era título de honra aplicado a soberanos, líde-
res, governantes e comandantes dos exércitos gregos chegou até o apóstolo Paulo,
que emprega palavras denotando o privilégio e a honra dos que exercem o ministé-
rio pastoral na igreja de Cristo. (LOPES e LOPES, 2011, p. 57).

UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA PASTORAL 18


Algumas passagens do Novo Testamento apontam o ofício pastoral com desígnio
de autoridade, provisão e direção. (MacArthur, 1998) Vejamos:

» Efésios 4:11,12: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para
profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vis-
tas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para
a edificação do corpo de Cristo.” (BíBLIA, ARA, 1994).

» 1 Pedro 5:2,3: “pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por cons-
trangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ga-
nância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram
confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho.” (Bíblia, ARA, 1994).

● Bispo ou supervisor (gr. episkopos). A palavra grega episkopos fazia referência a


homens que atuavam nas funções de supervisão, vigilância e proteção. Por conta disso,
conforme Lopes e Lopes (2011, p. 53), “[...] nos séculos 4 e 5 a.C., os funcionários do
governo também eram chamados de episkopoi.” No Novo Testamento, episkopos tem
relação a liderança da igreja, como vemos em Atos 20.28: “Cuidai, pois, de vós mesmos e
de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes
a igreja de Deus, que ele adquiriu com seu próprio sangue.” (Bíblia, Atos 20.28, ARA,
1994).
De modo semelhante, Paulo fala aos Filipenses: “Paulo e Timóteo, servos de Cristo
Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus, inclusive bispos e diáconos que vivem em
Filipos.” (Bíblia, Filipenses 1:1, ARA, 1994). Além dessas referências bíblicas, a expressão
é encontrada em outras cartas do Novo Testamento, como: Tito 1.7; 1 Timóteo 3.2-5.

● Pregador (gr. kerux), conforme afirma MacArthur (1998, p. 58), “[...] indica a
proclamação pública do Evangelho e ensino do rebanho.” Paulo quando escreve a segunda
carta a Timóteo deixa claro esta função: “[...] do qual fui constituído pregador, apóstolo e
mestre.” (BÍBLIA, 2 Timóteo 1.11, ARA, 1994). Semelhantemente com a primeira carta
ao discípulo: “Para isto fui designado pregador e apóstolo (afirmo a verdade, não minto),
mestre dos gentios na fé e na verdade.” (BÍBLIA, 1 Timóteo 2:7, ARA, 1994).

● Mestre (didaskalos), tinha a responsabilidade de instruir e expor as Escrituras. Seu


ensino poderia ter caráter instrutivo como em 1 Timóteo 2.7, ou ainda, aplicar a correção
para que não haja desvios doutrinários com base na correta interpretação das Escrituras.
Um exemplo importante acontece na carta de Paulo aos Gálatas, mais especificamente
no capítulo 5. O conteúdo traz claramente a interpretação e o ensino de Paulo acerca dos
preceitos do Evangelho de Cristo, em relação à tentativa de alguns que desejavam incluir
no cristianismo, práticas da religião judaica.

UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA PASTORAL 19


A Bíblia Sagrada, em muitas passagens do Novo Testamento, relaciona esses
títulos ao mesmo ofício pastoral. O escritor John MacAthur, em sua obra Redescobrindo o
Ministério Pastoral, afirma:

Os termos ancião e bispo são sinônimos em Atos 20.17 e Tito 15-7. Os títulos de
presbítero, bispo e pastor são também sinônimos em 1 Pedro 5.1-2. A função de li-
derança dos presbíteros é também evidente na atividade pastoral de Tiago 5.14. [...]
Em 1 Timóteo 5 17 e Hebreus 13.7, os termos mestre e pregador estão associados.
Efésios 4.1 relaciona pastores com professores, como ocorre em 1 Timóteo 5:17 e
Hebreus 13:7. (MACARTHUR, 1998, p. 59)

QUADRO 1 - ALGUNS TERMOS BÍBLICOS APLICADOS AOS PASTORES


Termos Textos bíblicos
Governante 1Ts 5:12; 1 Tm 3:4-5; 5:17
Embaixador 2 Co 5.20
Defensor Fp 1.7
Ministro 1 Co 4.1
Exemplo 1 Tm 4:12; 1 Pe 5:3
Fonte: Adaptado de: Lopes e Lopes (2011, p. 57)

UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA PASTORAL 20


O conceito de sacerdote nas religiões pagãs e no próprio judaísmo do Antigo Testamento se refere sempre
a uma realidade dividida entre sagrado e profano. O sagrado alude à plenitude do ser, ou seja, diz respeito
a uma totalidade perfeita na sua imortalidade e perene equilíbrio. O profano, por sua vez, se caracteriza
como realidade marcada pelo caos, carente de ser e necessitada do complemento que emana do sagrado.
Nesse contexto, o sacerdote emerge como pessoa sagrada, cuja tarefa é levar o sagrado ao profano.

Fonte: CARRARA, P. S. Presbítero: discípulo do Senhor e pastor do rebanho. Petrópolis, Vozes, 2019.

O pastoreio de Jesus revela, uma dimensão social que os evangelistas transcreveram com a figura do
rebanho, em um plano mais restrito, mas de forma mais ampla, na figura do Reino de Deus. Esta expressão
é fundamental para o entendimento da missão de Jesus enquanto pastor na leitura dos Evangelhos, uma
vez que, ocorrem sessenta e oito vezes em dez livros do Novo Testamento.

Fonte: SILVA, S. A. Jesus, o bom pastor, enquanto fundamento e modelo da ação pastoral em vista da
formação do Reino de Deus. Revista Eletrônica Espaço Teológico. Vol. 8, n. 14, jul/dez, 2014, p. 242-261.
Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/reveleteo/article/view/21564/15813. Acesso em: 15
maio de 2023.

UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA PASTORAL 21


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalizamos nossa primeira unidade de estudo em Teologia Pastoral!
Como foi o aprendizado até o momento? Espero que você esteja motivado em buscar
ainda mais sobre a Teologia Pastoral. Neste momento, enquanto finalizo esta unidade,
percebo o quão importante se torna o estudo acadêmico de um tema importantíssimo
na atualidade. Afinal, somente o conhecimento teológico fundamentado nas Escrituras e
com uma abordagem epistemológica pautada na pesquisa acadêmica, os equívocos que
possam se apresentar na atualidade serão enfraquecidos.
Vimos que, a construção de ideias que envolvem a teologia pastoral ao longo da
história acrescentou novas perspectivas que não devem ser entendidas como conteúdo
isolado, mas uma unidade que corrobora para o desenvolvimento da temática. Porém,
todos os pressupostos necessitam de uma base Escriturística, tanto as contribuições de
estudos e pesquisas até o momento, quanto às perspectivas que possam surgir. No Antigo
e Novo Testamentos vimos o alicerce construído por Iahweh e seus líderes e profetas,
concluindo com Jesus, o Bom Pastor como parâmetro para as atividades pastorais.
Finalizando, aprendemos que as diversas expressões das línguas bíblicas contidas
no Novo Testamento apontam para a atividade pastoral em múltiplas funcionalidades: ensinar,
liderar, presidir, cuidar, conduzir e corrigir o rebanho frente às investidas pecaminosas.
Nosso material apresenta um suporte para pesquisas e aprofundamento no assunto,
além de servir como base as próximas unidades que estão por vir. As peculiaridades sobre o
assunto precisam formar uma crescente evolução a cada unidade que segue. Fique atento
e não perca de vista o que você conquistou.
Nos encontramos nas próximas unidades
Até lá!

UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA PASTORAL 22


LEITURA COMPLEMENTAR
OS DESAFIOS DA PASTORALIDADE: TENSÃO E DIALÉTICA ENTRE
TEOLOGIA E PASTORAL

Este artigo tem como objetivo discorrer sobre os desafios da articulação entre
pastoral enquanto práxis em diálogo com a teologia pastoral na sua forma acadêmica. Essa
articulação que se chama dialética torna-se mais desafiadora devido às polarizações pelas
quais passa a sociedade hodierna.

Fonte: MAMENDE, J. F. Os desafios da pastoralidade: tensão e dialética entre teologia e pastoral. Belo
Horizonte: Annales FAJE, v. 4, n. 2, 2019. https://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/annales/article/
view/4302/4336. Acesso em 12 maio. 2023.

UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA PASTORAL 23


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Introdução à teologia pastoral
Autor: Mihály Szentmártoni
Editora: Edições Loyola
Sinopse: A teologia pastoral pode ser definida como reflexão
teológica sobre o conjunto das atividades com as quais a Igreja
se realiza, como a ciência teológica da ação, da cooperação
ministerial da Igreja com o plano da salvação. O propósito
deste livro é oferecer aos professores e estudantes de teologia
uma introdução aos que se encontram pela primeira vez com a
teologia pastoral e mostrar os principais temas desse ramo da
teologia.

FILME/VÍDEO
Título: Teologia e Ministério Pastoral | Jonas Madureira, Hélder
Cardin e Sandro Baggio
Ano: 2016
Sinopse: Neste bate-papo, Jonas Madureira, Hélder Cardin e
Sandro Baggio discutem a relação da teologia com o ministério
pastoral, bem como a responsabilidade do pastor perante a
cultura.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=d_lejVY-
Son0

UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA PASTORAL 24


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UNIDADE

VOCAÇÃO E
QUALIFICAÇÃO
PASTORAL
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Professor Especialista Erison de Moraes Valério

Plano de Estudos
• A Vocação Pastoral
• O caráter do vocacionado ao ofício pastoral.
• A Ética pastoral
• O cuidado com o cuidador

Objetivos da Aprendizagem
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• Conceituar biblicamente a vocação pastoral.


• Estudar o padrão desejável de caráter no exercício da
função pastoral.
• Entender a importância da ética na teologia pastoral.
• Compreender as dificuldades específicas da vocação
pastoral.
INTRODUÇÃO
Olá, tudo bem? Seja bem-vindo! Estamos iniciando nossa segunda unidade de
estudo na teologia pastoral.
O conteúdo das Escrituras revela importantes diretrizes para o indivíduo separado
ao exercício da pastoralidade. Suas ações, sua vida, o caráter, a conduta na sociedade, o
relacionamento com o próximo e com Deus são destacados ao longo do Novo Testamento.
Os escritos do Apóstolo Paulo nos enriquecem com o ensino aos seus discípulos,
onde seu conteúdo contém valiosos princípios que se formam, e assim é esperado, naquele
que é separado para o ofício pastoral. Suas bases emanam, reconhecidamente, do ensino do
mestre Jesus Cristo e fluem ao longo da história do cristianismo com a expansão da igreja.
Desta maneira, neste primeiro tópico de nosso aprendizado, estudaremos sobre
a vocação pastoral e suas implicações. As ações e o ministério do Salvador Encarnado
fornecem a base escriturística que irá nortear os estudos. A cristologia é inseparável da
eclesiologia. Logo, veremos que a vocação é um chamamento divino e não uma disposição
humana.
No segundo tópico, aprenderemos acerca da formação do caráter daquele que é
separado ao exercício do pastoreio. Os personagens bíblicos que atuaram como pastores
e líderes na condução do povo, passaram por um período de processo onde o caráter é
formado.
Já no terceiro tópico, abordaremos sobre o conceito de ética e a teologia pastoral,
os padrões éticos do reino de Deus e suas bases para a atuação na pastoral.
No último tópico, trataremos das dores e do sofrimento durante a jornada pastoral,
através de um estudo de caso que fornece um panorama atual da problemática.
Caro aluno, será um período valioso para o entendimento desse importante disciplina.

Vamos lá! Bons estudos!

UNIDADE 2 VOCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PASTORAL 26


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1
TÓPICO

VOCAÇÃO PASTORAL

Para entendermos o paradigma da vocação pastoral é necessário analisarmos uma


série de disposições, práticas e princípios bíblicos. Não se trata de técnicas de liderança ou
formas pragmáticas, criadas para atender uma demanda, que possam orientar as ações e
o ofício pastoral. Assim sendo, faremos uma análise das perspectivas bíblicas que visam
entender as ações de Jesus Cristo, o Bom Pastor, como exemplo pastoral. Sathler-Rosa
(2004, p. 29) “[...] toda a vida de Jesus é uma atividade pastoral modelo, pauta e critério
para todas as circunstâncias.”
Qual seria o sentido do ministério do Messias Encarnado? Suas ações na história estão,
seguramente, na base e na essência do atuar da vocação pastoral perante a igreja e o mundo.
Tais ações são inseparáveis de Sua pessoa, pois a igreja é Seu corpo e age na história. Portanto,
não se trata de uma teologia própria, se trata da Eclesiologia dependente da Cristologia.
Paulo escreve aos Filipenses demonstrando o exemplo de um paradigma nobre e
elevado quando se trata de Cristo. “Tende em vós aquele sentimento que houve também
em Cristo Jesus” (BÍBLIA, Filipenses, 2,5, ARA, 1994). É um convite a seguir o modelo de
suas obras oriundas de um propósito. Desde o “se esvaziar” (gr. kenosis), cujo significado é
“fazer de si mesmo nada”, caminhando em obediência, culminando em sua morte sacrificial,
ressurreição e entronização. Desta forma, a comunhão perdida é restabelecida.
“A base da liderança pastoral é a realidade de que Jesus, mediante o holocausto
de si mesmo, estabeleceu o reino de Deus na terra. Pertencer à igreja implica ter sido
“transferido” para “o reino do Filho amado de Deus”. (VANHOOZER, 2016, p. 89).
No Novo Testamento, toda eficácia das ações de estabelecimento da igreja, a partir
do Dia de Pentecostes, aconteceu pela descida do Espírito Santo, através, primeiramente,
da obra do Salvador. Somente pelo chamamento e capacitação por parte divina é que ações
ministeriais dos apóstolos tiveram êxito. De acordo com Hernandes Dias Lopes, “a vocação
para o ministério é um chamado específico de Deus, conjugado por uma necessidade
urgente e uma capacitação especial.” (LOPES, 2008, p. 15)

UNIDADE 2 VOCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PASTORAL 27


Segundo as Escrituras, a vocação pastoral é um chamamento pessoal e com um
desígnio especial dado pelo Altíssimo. Desde o Antigo até o Novo Testamento, pessoas
diferentes formam chamadas, em momentos distintos e para finalidades diversas em seu
contexto. O sacerdócio era privativo aos filhos de Arão e os profetas eram designados pelo
próprio Yahweh. No livro de Jeremias o profeta afirma que é Deus quem chama para a
função pastoral: “e vos darei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão
com ciência e com inteligência.” (BÍBLIA, Jeremias 3.5, ARA, 1994).
Durante o período do Novo Testamento, o filho de Deus chamou doze homens que
ele mesmo comissionou para o ministério. “Jesus subiu a um monte e convocou para si
aqueles a quem Ele queria. E eles foram para junto dele. E escolheu doze, qualificando-os
como apóstolos, para que convivessem com Ele e os pudesse enviar a proclamar.” (BÍBLIA,
Marcos 3.13-14, ARA, 1994).
Portanto, segundo afirma Sathler-Rosa (2004), a ação pastoral deve ser entendida
como “ação de Deus, como Pastor, no mundo, por meio de agentes pastorais e de estrutu-
ras fundamentais de ação pastoral”. (SATHLER-ROSA, 2004, p. 32).
Paulo relata aos Efésios, a clareza da vocação para o ministério apostólico pela
vontade de Deus: “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, aos santos que
estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus.” (BÍBLIA, Efésios 1.1, ARA, 1994).
O ministério neotestamentário é um dom e uma vocação de Deus. "E Ele mesmo
concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para
pastores e mestres" (Ef 4.11).
A chamada é acompanhada da missão. Ninguém que é chamado pelo Senhor vive
de um lado para outro, de um trabalho para outro, sem nunca ter certeza da vontade de
Deus. Deus, quando chama, comissiona seu servo para uma missão específica.

1.1 A Natureza da vocação

Em relação à natureza e essência da vocação ao ministério pastoral neotestamentário,


percebem-se algumas características.
Primeiro a vocação é divina, proveniente do próprio Deus. Como abordamos
anteriormente, "e Ele mesmo concedeu uns para… (Ef 4.11). Apesar da incumbência
institucional dos homens dada por convenção, concílio ou igreja, sendo eles instrumentos
de Deus, a vocação é espiritual e atribuição divina.
Em segundo lugar, a vocação é pessoal. As atribuições diferem, por conta disso,
Ele chama o vocacionado e estabelece o lugar e a forma de sua missão. Um exemplo disso
foi a tentativa do apóstolo Paulo de pregar aos judeus, sendo comissionado ao ministério
aos gentios e Pedro aos judeus. “Porquanto Deus, que operou por meio de Pedro como
apóstolo aos judeus; da mesma forma, operou por meu intermédio para o apostolado aos
gentios.” (BÍBLIA, Gálatas 2.8, ARA, 1994).
Em terceiro lugar, a vocação pastoral remete ao discipulado. O caráter e a vida dos
escolhidos foram trabalhados durante o tempo do ministério de Cristo na terra. Desta forma,
na vida do vocacionado à função e o ofício pastoral, o discipulado é parte de sua carreira,

UNIDADE 2 VOCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PASTORAL 28


tanto para si, quanto para o rebanho. Vejamos o que Paulo diz a Timóteo: “Tem cuidado de ti
mesmo e do teu ensino; persevera nesses deveres, pois agindo assim, salvarás tanto a tua
própria vida quanto a todos que te derem ouvidos.” (BÍBLIA, 1 Timóteo 4.16, ARA, 1994).
Por fim, a vocação pastoral não depende de conveniências humanas, glamour ou
ascensão profissional para autopromoção. Por conta disso, o propósito principal da vocação
neotestamentária pode perder seu âmago. Segundo Lopes (2008) diz:

Eles são voluntários, mas não vocacionados. Entraram pelos portais do ministério
por influências externas, e não por um chamado interno e eficaz do Espírito Santo.
Foram motivados pela sedução do status ministerial ou foram movidos pelo glamour
da liderança pastoral, mas jamais foram separados por Deus para esse mister.
(LOPES, 2008, p. 15).

No próximo tópico, trataremos com detalhes dos preceitos a respeito do caráter do


vocacionado.

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2
TÓPICO
O CARÁTER DO
VOCACIONADO AO
OFÍCIO PASTORAL

Os parâmetros que envolvem o caráter do vocacionado à atividade pastoral, são


declarados em várias passagens do Novo Testamento. O apóstolo Paulo escreve em várias
de suas cartas os traços de caráter necessários para essa formação. Em Tito 1.6-8, trata de
como ele deve ser: um ser humano de mais alta pureza e moral, com um relacionamento
sadio no casamento e capaz de liderar sua própria família, ser nobre em atitudes, livre de
ganância e agressividade.

É necessário, portanto, que o presbítero seja irrepreensível, marido de uma só


mulher e tenha filhos cristãos que não sejam acusados de libertinagem ou de
insubmissão. Por ser encarregado da obra de Deus, é indispensável que o bispo seja
irrepreensível: não arrogante, não briguento, não apegado ao vinho, não violento,
nem dominado pela ganância. Ao contrário, é preciso que ele seja hospitaleiro, amigo
do bem, sensato, justo, piedoso, tenha domínio próprio e apegue-se firmemente à
fiel Palavra, da forma como foi ministrada, a fim de que seja capaz tanto de encorajar
os crentes na sã doutrina quanto de convencer os que se opõem a ela. (BÍBLIA, Tito
1.6-9, KJA, 2012).

A primeira característica destacada é irrepreensível (gr. anengklêtos), que tem o


sentido de “inculpável”, ou “aquele que não possui restrições”, portanto não será reprovado.
“[...] Não se refere a perfeição Impecável, pois, nesse caso, nenhum ser humano estaria
qualificado para o Ofício, mas é um padrão elevado e maduro que implica em um exemplo
coerente” (MACARTHUR, 1998, p. 110). A maneira santa do seu estilo de vida diária, deve
não demonstrar uma contradição com o conteúdo de sua pregação. Em outras palavras, ele
é irrepreensível naquilo que prega e vive.
As qualidades restantes apresentadas na passagem bíblica se referem a um exame
pormenorizado da primeira condição. São três as categorias descritas na passagem:
Primeiro, ele deve ter moralidade sexual: “marido de uma só mulher”. Segundo ter uma
família exemplar: “tenha filhos cristãos que não sejam acusados de libertinagem ou de
insubmissão.” E por último, atitude e conduta aprovadas: “não arrogante, não briguento,
não apegado ao vinho, não violento, nem dominado pela ganância.”

UNIDADE 2 VOCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PASTORAL 30


Porém, ao falarmos do caráter ideal ao modelo bíblico, temos que entender que, sua
formação passa por um processo e seus alicerces devem ser firmes. Por isso Paulo adverte
em sua primeira carta a Timóteo que o bispo não seja neófito: “não neófito, para que não se
ensoberbeça e venha a cair na condenação do Diabo.” (BÍBLIA, 1 Timóteo 3.6, ARA, 1994).
O neófito (gr. neophutos) “que literalmente significa “recém-plantado”, palavra essa
que normalmente alude à “convertidos recentes” (CHAMPLIM, 2002, p. 310).
No contexto da passagem da carta a Timóteo, muitas pessoas novas foram
acrescentadas ao cristianismo devido ao ministério apostólico. Eram pessoas zelosas e
piedosas, que tinham verdadeiro testemunho de transformação. As igrejas locais em algum
momento sentiram-se inclinadas a nomear os neófitos a posições de responsabilidade.
Segundo diz Champlim (2002, p. 310): “é preciso mais do que zelo para que alguém seja bem-
sucedido no ministério. É mister de conhecimento e desenvolvimento espiritual, experiência e
erro, agonia e luta, sem falarmos na imprescindível e toda-importante unção divina.”
Tendo como base a vida e ministério de alguns personagens bíblicos, é notável um
período de formação para amadurecimento. Alguns estudiosos nomeiam essa transição
como “deserto” por conta das lutas e provações sofridas. Lopes (2008) compara o deserto
como “escola superior do Espírito Santo, onde Deus treina os seus líderes [...], trabalha em
nós, antes de trabalhar através de nós. Na verdade, Deus está mais interessado em quem
nós somos do que naquilo que nós fazemos.” (LOPES, 2008, p. 52)

FIGURA 1 - O APÓSTOLO PAULO EM ATENAS NA GRÉCIA

O apóstolo Paulo é um exemplo quando se trata de tempo de amadurecimento


espiritual. Esteve em Jerusalém anunciando o Evangelho aos judeus, porém sem sucesso.
Rumou para Tarso, onde ficou quase 10 anos em anonimato. “Em seguida, fui para as re-
giões da Síria e da Cilícia. E, até então, não era conhecido pessoalmente pelas igrejas de
Cristo na Judéia.” (BÍBLIA, Gálatas 1. 21-22, ARA, 1994) “Passados catorze anos, subi uma
vez mais a Jerusalém, e, nessa ocasião, em companhia de Barnabé e levando também Tito
comigo. Rumei para lá por causa de uma revelação, e apresentei diante deles o Evangelho
que ensino entre os gentios, [...]” (BÍBLIA, Gálatas 2.1-2, ARA, 1994).
O amadurecimento envolve também o aperfeiçoamento no âmbito intelectual, onde
o vocacionado é capacitado para as relações que envolvem as ações ministeriais.

UNIDADE 2 VOCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PASTORAL 31


Os ensinos na época do Novo Testamento em relação a capacitação dos
vocacionados aconteceu num contexto onde os desvios doutrinários se faziam presentes. Na
atualidade podemos identificar desvios parecidos com o que ocorria no Novo Testamento?
É perceptível em nossa realidade atropelos em relação às condições bíblicas apresentadas
por Paulo na sua primeira carta a Timóteo em relação ao que deveria ser irrepreensível?
Caro aluno, em sua caminhada como estudante acadêmico de Teologia, que o co-
nhecimento adquirido produza os frutos desejáveis com capacidade de mudar realidades.

UNIDADE 2 VOCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PASTORAL 32


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3
TÓPICO

A ÉTICA PASTORAL

Com certeza você já deve ter ouvido a expressão: “aquela pessoa não agiu de forma
ética”, ou “esse não é o padrão ético esperado por alguém com essa responsabilidade”.
Pois bem, esses são exemplos cotidianos de como o conceito de ética é aplicado. A partir
disso, estudaremos a ética como conceito e como ela se aplica à prática pastoral.
A palavra ética origina-se da palavra grega ethos, que remete a costume, hábito de agir
ou índole. O significado aproxima-se da palavra da moral, de origem no latim mos e moris, ou
seja, que se refere às normas que apresentam o comportamento esperado (PEB, 2017).
A ética, em seu uso popular, pode ser entendida “[...] como princípios de conduta
que orientam a ação de uma pessoa ou grupo” (PEB, 2017, p. 36).
Quando nos referimos a ética e moral, é necessária uma contextualização de
valores, lugares e origens, para entender os padrões de certo e errado. Neste caso, estamos
tratando de valores bíblico-teológicos no que diz respeito a conduta e atividade pastoral.
Pelo caráter e o amadurecimento do indivíduo, espera-se que suas ações sejam
condizentes com o padrão ético estabelecido pelas Escrituras. Ele produzirá pelo que ele
mesmo se tornou. Portanto, no tópico anterior tratamos dos valores e princípios condizen-
tes à pessoa e sua integridade, agora, veremos como consequência, suas ações com base
na ética produzidas por ele.
Em diversos momentos da história do Cristianismo, os modelos éticos bíblicos
sofreram abruptamente relativizações, inclusive na atualidade. Em alguns momentos
ocorre até o esmigalhamento da verdade bíblica, fragilizando doutrinas e tradições e em
detrimento a outros costumes.
A derrocada abrupta de modelos éticos e morais, elaborados ao longo do
Cristianismo, levanta dúvidas profundas em relação aos rumos da atualidade. O desafio
é reconhecer os valores éticos e morais das Escrituras em relação a pastoralidade, que
possam preencher essa lacuna.

UNIDADE 2 VOCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PASTORAL 33


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Os padrões éticos do reino de Deus recebem atenção especial nos ensinos de Je-
sus Cristo. Em sua grande maioria, as parábolas ensinam como é a conduta no Reino de
Deus. Da mesma forma, no Sermão da Montanha, descrito em Mateus 5, 6 e 7, apresenta
importantes diretrizes relativas ao caráter e ao comportamento do discípulo do Salvador.
Mais especificamente em Tito 1, Paulo relata duas categorias com atitudes espera-
das e atitudes reprováveis por parte do bispo: “[...] não soberbo, nem iracundo, nem dado
ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso, de torpe ganância; Mas dado à hospitalidade,
amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante” (BÍBLIA, Tito 1:7,8, ARA, 1994).
A soberba, no grego tem o significado de ter arrogância repleta de amor próprio,
“[...] de ser consumido por si mesmo, de buscar o próprio caminho, a satisfação ao ponto
de desconsiderar os outros” (MACARTHUR, 1998, p. 118).
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O iracundo (gr. orgilon), se refere a raiva ou ira. Faz referência a uma pessoa que
possui um frequente desequilíbrio de humor.
Não dado ao vinho (gr. paroinon) significa literalmente “estar ao lado do vinho”. Essa
expressão repete-se em 1 Timóteo 3.3 e novamente Tito 2.3, dando a ideia de sobriedade
e alerta ao exercer suas funções. A análise de MacArthur (1998, p. 119) nos acrescenta:
“as pessoas dos tempos bíblicos tomavam sérias precauções para não produzir um vinho
embriagante. Hoje é diferente. O vinho é retirado diretamente da fruta e fermentado de
propósito.” O sentido ético do texto é que o vocacionado a pastoralidade, não deveria ser
um beberrão ou ter qualquer associação a dissolução da bebida alcoólica.
Não espancador, se refere a pessoas que se valem “das mãos” para resolverem
suas questões. No contexto da passagem isso era comum, talvez em nossos dias isso seja
uma exceção. Porém, não é incomum a utilização de meios sutis, inclusive de vingança.
(MACARTHUR, 1998). Cabe ao líder a resolução pacífica de conflitos em qualquer instância.
Por fim, a última característica é “não cobiçoso de torpe ganância”. Na língua grega
a expressão tem a composição de duas palavras: aischros, que significa vergonhoso e,
kerdos que aponta para o lucro pessoal. Não se refere ao salário destinado ao ofício, “[...]
mas descreve alguém que não se importa com a maneira pela qual junta dinheiro. Falta-lhe
integridade e honestidade” (MACARTHUR, 1998, p. 122).
No que diz respeito à ética na teologia pastoral, existem diversos assuntos que
se estendem a questões que são tratadas na sociologia, na medicina, na psicologia,
antropologia, entre outros. A questão a ser analisada é: “como esses assuntos devem ser
tratados na dinâmica da ética pastoral? Como lidar biblicamente com assuntos que possam
divergir do princípio bíblico? Como me posicionar em relação ao aborto? Além da dissolução
da família, as drogas, política, etc.?
O líder vocacionado ao ministério pastoral procura a base escriturística para seus
pressupostos, detendo os princípios de um verdadeiro seguidor de Cristo. Porém, necessita
entender que vive numa sociedade, onde muitas vezes a tolerância é ignorada. Desta forma,
o pastor deve analisar as diversas perspectivas existentes, mantendo firmes seus alicerces
e princípios, tendo em mente que, esta posição não lhe concede ser juiz e executor. “Cabe
a nós nos manter bem informados a respeito desses assuntos para sabermos orientar,
conversar, debater e ajudar ao próximo” (MARTINS, 2019, p. 95).

UNIDADE 2 VOCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PASTORAL 34


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4
TÓPICO

O CUIDADO COM O
CUIDADOR

Como foi abordado anteriormente, o Bom Pastor Jesus Cristo é o exemplo para o
exercício do ministério pastoral. Ele cuidava porque se importava com o ser humano e suas
mazelas oriundas do pecado. Em sua trajetória aqui na terra Ele esteve junto com os mais
improváveis, na via contrária daquilo que a sociedade judaica e romana tinha como para-
digma moral. Seu olhar era para as ovelhas que andavam desgarradas sem pastor, onde
o Evangelho de Mateus registra precisamente essa condição: “E, vendo as multidões, teve
grande compaixão delas, porque andavam cansadas e desgarradas, como ovelhas que
não têm pastor” (BÍBLIA, Mateus 9:36, ARA, 1993). Foi um ministério de sofrimento, dores,
privação, perseguição, repúdio e por fim, o sacrifício expiatório.
O Salvador garantiu que aqueles que seguissem seus passos não teriam uma vida
de glamour:
“Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como
as serpentes e simples como as pombas. Acautelai-vos dos homens; porque eles
vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas; e por minha
causa sereis levados à presença dos governadores e dos reis, para lhes servir de
testemunho, a eles e aos gentios. [...] ‘e sereis odiados de todos por causa do meu
nome, mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo’.” (BÍBLIA, Mateus 10.
16-18; 22, ARA, 1994).

O apóstolo Paulo é um exemplo de sofrimento por conta do avanço do Evangelho.


Em Atos 9.16, Deus diz a Ananias acerca de Paulo: “revelarei a ele tudo quanto lhe será ne-
cessário sofrer por causa do meu Nome.” (BÍBLIA, Atos 9.16, KJA, 2012). Já em Damasco
Paulo é perseguido, quando foi pregar em Jerusalém foi rejeitado, na cidade de Listra foi
apedrejado, em Filipos preso e apedrejado, foi expulso de Tessalônica e Beréia, chamado
de impostor em Filipos, foi preso de onde escreveu muitas cartas que compõem o cânon do
Novo Testamento. Dentre muitos outros flagelos que Paulo sofreu e não relatamos, perce-
bemos o sofrimento em meio a vida e exercícios das atividades pastorais.

UNIDADE 2 VOCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PASTORAL 35


De acordo com Hernandes Dias Lopes, pastor e escritor, o “[...] sofrimento não é
sinal de que estamos longe de Deus nem de que estamos fora da sua vontade” (LOPES,
2008, p. 110). Pelo contrário, as pessoas que andaram com Deus também sofreram. Os
sofrimentos da vida (não somente da atividade pastoral) precisam ser analisados pela ótica
da recompensa futura. O apóstolo Paulo diz: “Pois tenho para mim que as aflições deste
tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (BÍ-
BLIA, Romanos 8.18, ARA, 2012).
Não é pertinente comparar o sofrimento dos apóstolos e muitos outros que morreram
em nome de Cristo, com nossa realidade brasileira. Isso seria descabido! Porém, não se
pode negar que a pastoralidade traz consigo lutas e sofrimentos em diversas áreas na
vida do vocacionado. Nossa época está sendo marcada pelo crescimento exponencial de
adoecimento de pastores, em muitos tristes casos o desfecho é o suicídio.
Antes de buscar os apontamentos sobre o adoecimento daqueles que exercem na
função pastoral (pastores ou padres), é preciso entender como eles exercem suas funções.
Para isso, citamos um trabalho acadêmico de singular importância: “Anjos Cansados”
de Jimmy Barbosa Pessoa. No seu trabalho, o autor realiza uma análise na formação e
nos aspectos sociológicos que envolvem o ambiente em que vivem os pastores de uma
importante instituição religiosa brasileira que apresentaram sintomas da síndrome de
burnout. O estudo utilizou o método de pesquisa de campo por meio de entrevista com seis
pastores (PESSOA, 2020, p. 11).

FIGURA 2 - ESGOTAMENTO MENTAL (IMAGEM ILUSTRATIVA)

Nossa abordagem será breve, apresentando alguns pontos importantes e sua


conclusão apontando propostas de cuidado.
Antes de tudo, vamos entender um pouco sobre a Síndrome de Burnout. De acordo
com Jimmy B. Pessoa (2020, p. 79) “[...] é uma palavra de origem inglesa e quer dizer:
aquilo que parou de funcionar por total falta de energia. Também conhecida como Síndrome
do Esgotamento Profissional.” É uma doença relacionada ao stress e depressão.
O esgotamento acontece por pessoas que se dedicam sem limites e sem cuidado
às suas obrigações e representam um perigo para o âmbito físico, mental, psicológico e
espiritual. A pesquisa também apontou que:

UNIDADE 2 VOCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PASTORAL 36


“[...] a síndrome do esgotamento tem avançado em meio a esta classe de
trabalhadores, por não haver um cuidado de instrução e orientação sobre como
deve ser o regime e rotina de trabalho deste líder religioso e ainda por terem
grande demanda relacionada às questões emocionais e psicológicas, os ministros
religiosos se submetem a difíceis atividades diárias, que exigem de seu emocional e
de esforço contínuo com pouco apoio da liderança e de compreensão dos liderados
sobre a necessidade de descanso e cuidado com o pastor. (PESSOA, 2020, p. 82-
83).

Outra questão, que contribuiu para a amplitude do problema, é o desconhecimento


que prejudicou os líderes entrevistados que, sem compreenderem a necessidade de
cuidado com sua saúde ou a protelação de buscar ajuda, prejudicaram questões em sua
vida psíquica, física, social (PESSOA, 2020).
Em relação à alta jornada de trabalho, na busca de ser um bom pastor, dedicando
bastante tempo as ovelhas, as pesquisas apontam um fardo maior para si e para sua família:

Podemos então apontar que o pastor detém o poder, mas a igreja determina o tem-
po de trabalho e dedicação do pastor à congregação, e com base em depoimentos,
experiência e observação, o tempo que o pastor deve oferecer, é toda sua vida. E,
ao não cuidar de sua saúde física, mental e emocional, ele é sensível para adquirir
em um momento de sua vida no exercício do ministério, a síndrome de burnout e
outras doenças psicossomáticas, como stress e depressão. (PESSOA, 2020, p. 76-
77).

O trabalho acadêmico desenvolveu uma importante contribuição acadêmica para


futuras abordagens em um tema tão atual. Perceba que o trabalho acontece em somente
uma instituição religiosa do país, dentre inúmeras outras.
Mesmo sendo um assunto mais recente, o adoecimento e o suicídio de pessoas
vocacionadas ao exercício pastoral, sua importância e sem igual. Pois se trata de uma pro-
blemática que envolve a academia, a medicina, a sociedade e principalmente a igreja. De
acordo com psicóloga e escritora Clarice Ebert:

Numa mobilização coletiva as relações ministeriais são construídas em torno da


escuta de uns aos outros numa manifestação de um organismo empenhado em
cuidar de pessoas e não apenas de uma corporação empenhada em arrebanhar
pessoas. Uma igreja mais ocupada em amar, perdoar, exercer a compaixão, a mi-
sericórdia, em carregar o fraco e salvar o “perdido”, ao invés de descartar pessoas.
Isso inclui também o pastor, o líder que sofre e que se encontra fragilizado muitas
vezes. (EBERT, 2016, s/p).

Para um aprofundamento na temática, indico:

A pesquisa de Jimmy B. Pessoa, “Anjos Cansados” (2020), disponível em: https://repositorio.pucsp.br/jspui/bitstream/


handle/23445/4/Jimmy%20Barbosa%20Pessoa.pdf

O artigo “Sofrimento Pastoral” de Clarice Ebert (2016). Disponível em: https://www.clariceebert.com.br/single-pos-


t/2017/08/05/o-sofrimento-pastoral

O vídeo do “Simpósio Suicídio de Pastores”, do médico psiquiatra Ismael sobrinho. Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=pwJDPe5ShL4&t=2449s

UNIDADE 2 VOCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PASTORAL 37


O livro de João Rainer Buhr, “O sofrimento do pastor: Um mal silencioso enfrentado por
Paulo e por pastores ainda hoje”, da Editora Esperança.

O sermão do Monte é a grande abertura daquilo que Jesus quer comunicar, ponto a ponto, sobre a lei régia,
a perfeita lei da liberdade, sobre a palavra que está plantada em nós. A palavra bem-aventurança pode ser
interpretada como as alegrias do céu ou uma declaração de felicidade. Havia dois públicos para quem Jesus
estava falando: para os discípulos (seus seguidores) e para o povo.

Fonte: ROHREGGER, R. Ética aplicada à prática pastoral. Curitiba: Contentus, 2020.

“O que a igreja precisa hoje não é de mais ou melhores mecanismos, nem de nova organização ou mais e
novos métodos. A igreja precisa de homens a quem o Espírito Santo possa usar, homens de oração, homens
poderosos em oração. O Espírito Santo não flui através de métodos, mas através de homens. Ele não vem
sobre mecanismos, mas sobre homens. Ele não unge planos, mas homens, e homens de oração!” (E. M
Bounds, citado por LOPES, 2008, p. 74).

Fonte: Lopes (2008, p.74)

UNIDADE 2 VOCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PASTORAL 38


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos mais esta unidade de estudo! Estamos avançando em nosso aprendizado
de teologia pastoral.
Meu desejo é que cada experiência compartilhada promova ainda mais o crescimento
e contribua para sua formação teológica. Considero o conteúdo desta unidade de importância
ímpar, pois aborda os aspectos pertinentes a pessoa separada para a nobre função pastoral.
Em meio às dificuldades encontradas ao longo da história do cristianismo, percebemos que
os princípios permanecem imutáveis que confrontam suas realidades.
Vimos que o conteúdo das Escrituras, no que diz respeito a atividade de pastorear
pessoas, se preocupa com a formação dos indivíduos, através do processo de amadure-
cimento. Não existe fórmula instantânea para que tais princípios sejam fundidos em nosso
ser. Indubitavelmente, os princípios éticos e morais do Reino de Deus são transmitidos em
nós através de um relacionamento espiritual com o Salvador Jesus Cristo. Desta forma, o
desafio para os futuros teólogos é a aproximação desta realidade, no caso de uma vocação
em particular.
Além disso, de uma forma prática e na contramão da cultura da hipermodernidade,
que associa a vocação pastoral como símbolo de status imbuído de um pragmatismo que
visa o sucesso pelos seus métodos, percebemos que a vida cristã e o ministério pastoral
passam pelas lutas existenciais. Não podemos fechar os olhos para esta realidade, pois cabe
a nós pesquisadores e estudantes, buscar através de uma abordagem científica responsável,
soluções multidisciplinares para a triste realidade de adoecimento na função pastoral.
Tenho a esperança que os conteúdos abordados nesta unidade sejam apenas o
início de uma carreira teológica repleta de aprendizado e crescimento.
Até a próxima!

UNIDADE 2 VOCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PASTORAL 39


LEITURA COMPLEMENTAR
O SOFRIMENTO PASTORAL

Suicídios, descompensações ou sofrimento de pastores facilmente são explicados


por problemas pessoais, ou familiares ocorridos em pessoas já fragilizadas, até mesmo
depressivas. Raramente se coloca em questão a organização do ministério (incluindo as
tarefas e as relações interpessoais) ou o funcionamento da instituição (igreja/denomina-
ção). Essa tendência já foi resultado de pesquisas em outros ambientes organizacionais do
trabalho. Parece que além da ideologia produtiva do mundo empresarial, os meios eclesiás-
ticos também importam, cada vez mais, a sua forma de cuidar e amparar os seus pastores.

Fonte: EBERT, C. O Sofrimento Pastoral. Revista Psicoteologia. Canoas: Edição n.º 58, 2.º semestre de
2016. Disponibilizado pela autora no link: https://www.clariceebert.com.br/single-post/2017/08/05/o-sofrimen-
to-pastoral. Acesso em 03 Jul 2023.

UNIDADE 2 VOCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PASTORAL 40


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: O sofrimento do pastor: Um mal silencioso enfrentado
por Paulo e por pastores ainda hoje
Autor: João Rainer Buhr
Editora: Editora Esperança
Sinopse: Aquele sorriso sempre aberto, o olhar de empatia
pronto a atender a todos, escondia algo terrível, com o que o
pastor não conseguiu lidar. Este livro corajosamente aborda
este mal que aflige hoje os pastores, da mesma maneira que
afligia o apóstolo Paulo em seu tempo. Paulo sofreu, mas deixou
registradas as atitudes que o protegiam em meio às tribulações
da vida, e que ainda hoje podem servir de exemplo e motivação
a todos os cristãos.

VÍDEO
Título: O Ministério Pastoral - Efésios 4.11-13 - Luiz Sayão
Ano: 2019.
Sinopse: A abordagem trata do servir no Reino de Deus através
da vocação pastoral. O professor, linguista e teólogo Luiz Sayão
proporciona uma reflexão com vistas a entender de acordo com
os princípios bíblicos o ministério pastoral.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=ImsnqXbA4Fk

UNIDADE 2 VOCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PASTORAL 41


PRÁTICAS PASTORAIS

• Compreender a importância da atividade teológico-pastoral


• Estudar as questões que envolvem o pecado e o sofrimento
Professor Especialista Erison de Moraes Valério

• Aprender as concepções que envolvem o cuidado pastoral.


Objetivos da Aprendizagem
• A atividade pastoral e a sociedade.
• O pecado e o sofrimento humano.
UNIDADE

• A Teologia do cuidado
Plano de Estudos

junto a sociedade.
3
humano.
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INTRODUÇÃO
Olá, tudo bem? Seja bem-vindo à nossa terceira unidade de estudo! A cada passo
que estudamos nos aprofundamos neste importante estudo teológico.
Na unidade anterior, estudamos os aspectos referentes à teologia pastoral sob a
perspectiva do vocacionado e seu exercício do ofício. Nesta unidade, aprenderemos acerca
do sofrimento por conta do pecado, além das dores e aflições do ser humano. Vivemos
uma realidade onde as aflições, doenças e as moléstias da alma têm se acentuado. Desta
maneira, o cuidado com os que sofrem requer mais atenção por parte da pastoralidade.
No tópico 1, veremos essa questão do sofrimento, suas origens e as concepções
do pecado nas mais diversas culturas e religiões. Essa questão importante traz à luz
uma realidade que necessita ser abordada pela comunidade acadêmica e eclesial. Como
lidamos com o sofrimento? Aliás, como o sofrimento tem alcançado proporções, no que se
refere às doenças da alma.
Em seguida, no tópico 2, seguimos com o estudo acerca das ações necessárias
por parte do vocacionado ao ofício pastoral, a saber a teologia do cuidado. Neste ponto,
aprenderemos sobre os parâmetros bíblicos que norteiam esse conceito de cuidado. Desde
os profetas até o Salvador, percebemos o cuidado do Altíssimo com a humanidade que
sofre por conta do pecado.
Por último, no tópico 3, abordaremos a questão das ações pastorais na sociedade.
Essa vertente teológica recente vem ganhando evidência há algumas décadas. A teologia
pública busca entender a atividade pastoral e da igreja mediante o contexto público. Deste
modo, como podemos avaliar a atuação do ministério e vocação pastoral mediante a esfera
pública? Veremos quais são as problemáticas e as soluções propostas pelos estudiosos.
Caro aluno, espero que esta unidade lhe proporcione um aprendizado de qualidade
em Teologia Pastoral.
Bons Estudos!

UNIDADE 3 PRÁTICAS PASTORAIS 43


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1
TÓPICO
O PECADO E O
SOFRIMENTO DO SER
HUMANO

A mais importante conexão foi interrompida. Tudo aquilo que ligava o homem a
Deus foi perdido no Jardim do Éden por conta do pecado de Adão e Eva. “[...] assim como
por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a
morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram.” (BÍBLIA, Romanos 5.12,
ARA, 1994). Desta forma, tudo aquilo que foi criado com perfeição, os animais terrestres,
as aves, os peixes, o ser humano e toda a criação, foi atingido pelo pecado original.
O livro de Gênesis descreve o homem criado de forma direta pelo Criador, ou seja,
a mais bela obra da criação. “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-
lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente.” (Bíblia, Gênesis 2.7,
ARA, 1994).
O Imago Dei, termo utilizado durante a história da teologia para expressar a cria-
ção do homem a imagem e semelhança de Deus, representa a capacidade do homem ao
raciocínio, comunicação, autoconsciência, inteligência, emoções, perfeita espiritualidade e,
tudo mais que o difere dos animais. Era possuidor de perfeita comunhão com Deus pela
sua incorruptibilidade.
Com a desobediência no Éden o homem perdeu a condição perfeita de sua criação,
estando sujeito a morte. “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não
comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Bíblia, Gênesis 2.17,
ARA, 1994) Concomitante, a essa nova realidade de finitude por conta da morte, outras
consequências recaíram ao homem:
A terra foi amaldiçoada: “[...] maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás
dela todos os dias da tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos; e comerás das ervas
do campo. Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela
foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás.” Gênesis 3.17-19.

UNIDADE 3 PRÁTICAS PASTORAIS 44


O homem experimenta a corrupção em todo seu ser: “[...] porque a imaginação do
coração do homem é má desde a sua meninice” (Bíblia, Gênesis 8.21, ARA, 1994).
O profeta Isaías deixa clara a condição de corrupção humana:

“[...] de fato, toda a cabeça está em chagas, o coração tomado pelo sofrimento. Des-
de a planta dos pés até o alto da cabeça não existe nada são; somente machucadu-
ras, vergões e ferimentos sangrando que não foram limpos nem atados, tampouco
tratados com azeite.” (Bíblia, Isaías 1.5-6, KJA, 2012).

A hereditariedade do Pecado: A partir de Adão todas as gerações futuras


experimentariam as consequências do pecado. “Portanto, como por um homem entrou
o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os
homens, por isso que todos pecaram” (Romanos 5:12).
A questão do sofrimento humano ultrapassa o entendimento teológico, sendo objeto
de estudo de diversas religiões e culturas. Porém, fica evidente a questão do sofrimento
humano, exponencialmente durante toda história da humanidade. Conforme afirma Alves
(2020, p. 42), “a questão teológica e filosófica do sofrimento é uma questão sem respostas
nacionais. O fenômeno do sofrimento é um dado existencial que trouxemos com nossa
herança de vida.”
No judaísmo a questão do sofrimento estava associada à desobediência do Torá,
inclusive às doenças (ALVES, 2020). Percebemos essa realidade na época de Jesus, que
ensinou aos judeus que acreditavam inclusive que algumas tragédias e doenças eram
ocasionadas pela maldição da quebra da lei.

E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos lhe


perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse
cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi assim para que se
manifestem nele as obras de Deus. (Bíblia, João 9:1-3, ARA, 1994).

A declaração de fé do Calvinismo, conhecida como a confissão de Fé de Westminster


relata o sofrimento como consequência do pecado: “Este pecado eles decaíram da
sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortas em pecado
e inteiramente corrompido em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma’’
(Capítulo VI, seção 2). (ALVES, 2020, p. 41).
A posição da Igreja Católica Romana no seu Catecismo apresenta uma questão
importante a respeito do sofrimento:

A harmonia em que viviam, graças à justiça original, ficou destruída; o domínio das
faculdades espirituais da alma sobre o corpo foi quebrado (280); a união do homem
e da mulher ficou sujeita a tensões (281); as suas relações serão marcadas pela
avidez e pelo domínio (282). A harmonia com a criação desfez-se: a criação visível
tornou-se, para o homem, estranha e hostil (283). Por causa do homem, a criação
ficou sujeita ‘à servidão da corrupção’. (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, s/p).

Já o Islamismo relaciona o sofrimento humano como prova imposta por Deus


àqueles que são fiéis a ele. O Alcorão 2:214, citado por Alves (2020, p. 43), reforça esse
credo: “Pretendeis, acaso, entrar no Paraíso, sem antes terdes de passar pelo que passaram
os vossos antecessores?”

UNIDADE 3 PRÁTICAS PASTORAIS 45


São muitas as declarações que buscam entender o sofrimento do ser humano. O
que fica evidente é que, “a questão teológica e filosófica do sofrimento é uma questão sem
respostas racionais. O fenômeno do sofrimento é um dado existencial que trouxemos com
nossa herança de vida” (ALVES, 2020, p. 42).
A queda do homem no Éden e a nova realidade de morte e pecado, é responsável
pela constante busca de um sentido existencial. O adoecimento por conta do pecado causa
no homem o vazio e, isso gera na alma humana uma eterna insatisfação. Atualmente temos
os maiores índices históricos de doenças como ansiedade e depressão. Novas moléstias
surgem ano após ano. “[...] todos, sem exceção, temos uma alma, um sentimento de
incompletude. Carregamos na alma um vazio em forma do Eterno. Todos nós, os mortais”
(ALVES, 2020, p. 46).
Enfim, o ser humano sofre nas mais diversas esferas da existência.

IMAGEM 1 - FIGURA REPRESENTATIVA DO SOFRIMENTO HUMANO

1.1 O sofrimento da humanidade e o Bom Pastor Jesus Cristo.

A encarnação do Salvador é a prova que Deus não abandonou sua criação. O


Criador conhece as dores e o sofrimento da humanidade. O ministério de Jesus Cristo con-
firma essa afirmação, afinal ele padeceu dos sofrimentos durante a vida e no seu martírio
na cruz. Mas também, ensina como bom pastor, a como lidar com o sofrimento e, ainda
mais, suas ações tiveram com os que padeciam o sofrimento. Partindo desse pressuposto,
aprendemos com o Mestre Encarnado as diretrizes para a vocação pastoral, no que se re-
fere ao cuidado com aqueles que sofrem.
A tentativa hipermoderna de cessar o sofrimento a qualquer custo, mais se parece
como uma anestesia superficial. Uma simples comparação: seria como um médico aplicar
uma anestesia, propícia a um corte com sutura de pontos, para realizar uma cirurgia cardía-
ca com cortes profundos. Além de mascarar um problema, pode intensificá-lo ainda mais.
Para o escritor Carlos Alberto R. Alves, existe uma fuga aparente do sofrimento:

UNIDADE 3 PRÁTICAS PASTORAIS 46


Há uma indústria a produzir “felicidades”. Elas são vendidas em pílulas, em pacotes
de presentes, em viagens internacionais, em promessas de conforto e tudo mais.
Há quem não se conforma com a realidade dos fatos e querem viver num Nirvana.
Há famílias que querem proteger seus filhos numa redoma para que estes não
sofram. Há um escapismo para jovens, adultos e crianças através do consumismo.
(ALVES, 2020, p. 53)

A questão que cabe a nossa atenção é: qual a visão da teologia pastoral e o seu
foco no sofrimento humano e sua complexidade? Qual a responsabilidade do vocacionado
ao ofício pastoral com o sofrimento humano?

UNIDADE 3 PRÁTICAS PASTORAIS 47


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2
TÓPICO

A TEOLOGIA DO
CUIDADO

A teologia do cuidado, ou ainda o termo ‘cuidado pastoral’, não é uma expressão


literal encontrada nas Escrituras. Ao longo da história da tradição cristã, o entendimento
sobre o “cuidado pastoral” está alicerçado na tradição religiosa e cultural do oriente.
Para os gregos antigos, “[...] o cuidar da psiquê, ou da alma, tinha uma conotação
mais cognitiva; tratava-se de desenvolver ideias para influenciar as atitudes das pessoas
a fim de capacitá-las a lidar melhor com as diversas situações existenciais” (SATHLER-
ROSA, 2004, p. 37).
No contexto ortodoxo da tradição, o cuidado pastoral era visto como uma maneira
do processo de aprendizado, com a finalidade de conhecer melhor as doutrinas da igreja.
Para os historiadores William Clebsch e Charles Jaekle (1964, p. 4, citado por Sathler-
Rosa, 2004, p. 37) "o cuidado pastoral consiste em atos de ajuda realizados por representantes
cristãos, voltados para curar, suster, guiar e reconciliar as pessoas em dificuldades, cujos
problemas emergem no contexto de preocupações e significados últimos". Os autores relatam
quatro atribuições pertinentes aos cuidados pastorais ao longo da história.
Primeiro, curar significa tornar íntegro. “Objetiva superar desarmonias pessoais
e nas relações interpessoais, recuperando sua integralidade e levando as pessoas a
desenvolver-se na direção de seu estado prévio” (SATHLER-ROSA, 2004, p. 40).
Em segundo lugar, suster, que corresponde ao auxílio à pessoa em sofrimento.
Na terceira atribuição vem o guiar: “é a assistência pastoral face à iminência de
decisões e opções em relação a alternativas de pensamento e ação, em particular quando
essas escolhas podem alterar, profundamente, sua vida presente e futura” (SATHLER-
ROSA, 2004, p. 40).
A quarta atribuição é o reconciliar, que, na prática, consiste em “facilitar o
restabelecimento de relacionamentos rompidos entre o indivíduo e Deus, pessoas e a
natureza, pessoas, grupos e sociedade” (SATHLER-ROSA, 2004, p. 40).

UNIDADE 3 PRÁTICAS PASTORAIS 48


Os pressupostos que buscam definir os termos que compreendem a teologia do
cuidado encontram seus fundamentos claramente ao longo dos livros da Bíblia.
O profeta Isaías escreve a respeito do cuidado do povo: “[...] enviou-me a restaurar
os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos
presos; [...] a consolar todos os tristes” (Bíblia, Isaías 61.1-2, ARA, 1994).

FIGURA 2 - O CUIDADO PASTORAL

Diante da corrupção de Israel, o profeta Jeremias direciona a mensagem divina aos


pastores: “e vos darei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com
ciência e com inteligência” (Bíblia, Jeremias 3.15, ARA, 1994).
No Novo Testamento, descreve o clímax com a pessoa de Cristo fornecendo os
parâmetros em relação ao cuidado pastoral. Os Evangelhos relatam a obra do Mestre,
seus ensinamentos e as parábolas demonstram a realidade do reino de Deus mediante as
diversas situações da vida humana. Seus atos de misericórdia remetem o exemplo perfeito:
a cura de leprosos (Mt 8:2-3; Mc 1:39-40), a compaixão com as necessidades humanas (Mc
8:2; 6:34; Mt 15:22), cura de cegos (Mt 20:30-34), além de seus ensinos como o Sermão
do Monte (Mt 5, 6 e 7) trazem consigo a correta interpretação das Escrituras, outrora
negligenciada pelos religiosos.
Os ensinos de Jesus relatam a importância de uma espiritualidade em torno das
ações e práticas pastorais, bem como ao homem em sua totalidade. “Uma espiritualidade que
se conecta com a prática, uma espiritualidade que se nutre do dia a dia, uma espiritualidade
que se solidifica no meio às crises; uma espiritualidade que celebra a vida em meio a morte”
(ALVES, 2020, p. 71).

2.1 Disposições acerca do cuidado

Existem atitudes pessoais daqueles que são vocacionados à função pastoral


das quais dependem, o sucesso e a eficácia de suas práticas de cuidado. Essas atitudes
confirmam a autenticidade do trabalho pastoral.

UNIDADE 3 PRÁTICAS PASTORAIS 49


O conhecimento de conteúdos e métodos, o compromisso pessoal e a dedicação
são ingredientes importantes e necessários. Mas, tornam-se áridos, artificiais, se
não se acoplarem com o caráter das pessoas a cargo do cuidado pastoral. O ser e
o saber cuidar tornam-se indissociáveis. (SATHLER-ROSA, 2004, p. 42).

Em primeiro lugar é perceptível em nossa realidade, o esmigalhamento e até


desintegração de princípios e valores remetidos de tradições cristãs e religiosas. Com
isso, aumenta a necessidade e o número de pessoas que buscam manter harmonia e
um relacionamento espiritual com o Senhor. A partir da procura da significância interior,
ocorre uma internalização de processos de reflexão. É uma espécie de diálogo interior e
introspectivo de ressignificação de seu ser.
É uma procura do paraíso perdido e do que se perdeu no paraíso, ou seja, o
preenchimento do vazio, da identidade e da comunhão com Deus. É uma busca de Deus
que se encontra diluído nas mais diversas instituições e sistemas, para o Deus que habita
no ser humano. “A experiência pessoal de Deus pode ser fonte de uma vida nova, de
equilíbrio e adequada compreensão, ou de caos e confusão se a orientação religiosa for
rígida e autopunitiva” (SATHLER-ROSA, 2004, p. 44).
Como atividade dos vocacionados ao ofício pastoral é imbuída a responsabilidade
de cuidado às pessoas que se encontram nesse processo, ensinando e esclarecendo os
valores e significado de sua busca. Além disso, esse esforço de ressignificação existencial
passa por confusões e questionamentos. Desta forma, as dificuldades podem ser facilitadas
através do pastoreio que esteja alinhado com os ensinos do Bom Pastor Jesus.
A tentação que se apresenta na atualidade para líderes eclesiásticos, principalmente
aos que exercem a atividade pastoral, é se consumir com ações de grande abrangência,
dentre elas atividades pragmáticas ligadas ao sucesso ministerial em meio a uma sociedade
materialista. As atividades de gestão e administração fazem parte das atribuições do pastor,
porém, não ao ponto de esquecer as questões relacionadas à fé e ao cuidado de pessoas.
A atenção ao cuidado pastoral é imprescindível para consolidar os princípios teológico-
espirituais para alguém no processo de ressignificação do ser.
Em segundo lugar, o exercício pastoral requer compaixão. Por intermédio de uma
compaixão ativa, reconhece a ação espiritual de Cristo por intermédio do vocacionado e
como ele atua em seu coração. Afinal, a compaixão era presente nas ações pastorais de
Jesus Cristo.
De acordo com Alves (2020, p. 75), “a palavra misericórdia vem dos termos latinos
misere e cordia e tem como significado compaixão. Vem dessa composição seu sentido
mais completo: ter compaixão com o coração aos que são vítimas da miséria.”
No Evangelho de Mateus 20.22-24, percebemos a atuação de Cristo com dois
cegos que estavam sentados no caminho de Jericó e clamavam por misericórdia. Jesus
pergunta: “Que quereis que vos faça? Disseram-lhe eles: Senhor, que se nos abram os
olhos. E Jesus, movido de compaixão, tocou-lhes os olhos, e imediatamente recuperaram
a vista, e o seguiram” (Bíblia, Mateus 20.32-34, ARA, 1994). Jesus compreendia a desgraça
e o sofrimento humano. Para Champlim, “Jesus possuía o verdadeiro espírito humanitário,
e essa compaixão se estendia para muito além do círculo de seus próprios discípulos”
(CHAMPLIM, 2002, p. 507).

UNIDADE 3 PRÁTICAS PASTORAIS 50


Em outra passagem do Evangelho de Mateus percebemos essa misericórdia:
“Quando Jesus deixou o barco, viu numerosa multidão; sentiu-se movido de grande
compaixão pelo povo, e curou os seus doentes” (Bíblia, Mateus 14.14, KJA, 2012). A
palavra grega, que se origina na tradução de “compadecer”, significa “intestinos”. Segundo
os antigos, os intestinos eram a base das emoções, em comparação ao pensamento que
se refere ao “coração” (CHAMPLIM, 2002)

Como substantivo, essa palavra, quando usada como símbolo, pode indicar
compaixão, amor, simpatia, afeição e misericórdia. Provavelmente esse uso do
termo desenvolveu-se através - da observação - que as emoções afetam os sentidos
físicos e o estado geral dos intestinos. Talvez a principal característica de Jesus
fosse a sua participação simpática nos sofrimentos da humanidade. (CHAMPLIM,
2002, p. 421).

Jesus curava, ensinava, exortava movido pela compaixão mediante o sofrimento


humano. Em nenhum momento de suas ações pastorais, Ele foi movido por desejos egoístas
e de autopromoção.
Entendemos que as funções tradicionais do pastoreio devem ser revistas e
debatidas ao ponto de analisar seu alinhamento com os ensinamentos do Evangelho de
Cristo. A crítica não envolve exclusão, mas uma reflexão sobre as atividades primárias que
envolvem o pastoreio na forma bíblica.

UNIDADE 3 PRÁTICAS PASTORAIS 51


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3
TÓPICO

A ATIVIDADE PASTORAL E A
SOCIEDADE

No conteúdo dos tópicos anteriores, concluímos que Deus estabeleceu um


compromisso com a humanidade, no sentido de cuidado e pastoreio com a expiação feita
pelo seu Filho Jesus Cristo. A partir desse pressuposto, ele destinou os vocacionados ao
ministério pastoral a serem agentes não passivos nesta nova aliança.
Infelizmente vivemos um contexto líquido da hipermodernidade onde a conduta
pastoral e suas atividades perante a sociedade sinalizam um alerta. Alguns modismos,
baseados em filosofias, têm trazido novas frentes que preocupam, em relação ao ofício
pastoral e suas bases escriturísticas.
De acordo com Mildenberg, (2022, p. 224) “com o advento da tecnologia e sua
velocidade intensa, a ‘necessidade’ de modernizar para não ‘perder campo’ muitas vezes
acaba evidenciando uma confusão em torno do pastor e da igreja.”
Atualmente é atribuído muitos encargos aos pastores, e esse sufocamento de
atividades pode asfixiar as responsabilidades essenciais teológicas do pastoreio. “[...] talvez
nenhuma outra ocupação no mundo tenha tantas facetas: líder, gestor de organização,
administrador, coach, motivador, solucionador de problemas intermináveis, pragmático,
espiritual e muito mais” (VANHOOZER, 2016, p. 111).
Em contrapartida, alguns buscam centralizar em si mesmo um foco desproporcional:

“[...] o pastor é uma figura pública que não deve fazer nada para o próprio bene-
fício, que não deve falar com o objetivo de atrair atenção para si, mas para longe
de si — ao contrário da maioria das celebridades contemporâneas. O pastor deve
apresentar alegações de verdade com o objetivo de ganhar as pessoas não para
sua maneira de pensar, mas para a maneira de pensar de Deus. O pastor tem de
se realizar não pelo crescimento de sua posição social, mas, se for necessário, pela
diminuição dela. (VANHOOZER, 2016, p. 38).

UNIDADE 3 PRÁTICAS PASTORAIS 52


Diante dos desafios que se apresentam em relação ao ofício pastoral e sua
atividade na sociedade, muitos estudos e pesquisas têm avançado buscando entender
essa complexidade. A prática pastoral na esfera pública se refere a uma especialidade
nos estudos teológicos conhecida como “Teologia Pública”. Seu enfoque visa entender a
atuação pastoral e da igreja na sociedade.
O conceito de teologia pública é demasiadamente recente. No ano de 1974, o
teólogo norte-americano Marvin E. Marty forjou o termo, dando ênfase a contribuições
teológicas no espaço público (BEZERRA, 2020).
Para Vanhoozer (2016) a teologia pública possui um significado comum,
[...] é “teologia na praça pública e para ela”. O público específico em vista é a
sociedade: a polis mais ampla. Portanto, a teologia pública é aquela que aborda
preocupações comuns em um fórum aberto, em que nenhum credo ou confissão em
particular ocupa posição de maior destaque. De modo específico, a teologia pública
diz respeito às formas e aos meios pelos quais indivíduos cristãos (e igrejas) devem
testemunhar de sua fé na praça pública (i.e., na sociedade em geral). (VANHOOZER,
2016, p. 42-43).

Conforme o pensamento de Rudolf von Sinner, “a religião cristã é uma religião


pública, no sentido de transmitir sua mensagem ao público mais amplo, interessar-se pelo
bem-estar não apenas dos seus membros, mas também daqueles que não fazem parte de
uma igreja ou comunidade.” (SINNER, 2012, p. 15).
Ao longo da história do Cristianismo vários teólogos contribuíram de forma eficiente
com estudos e práticas teológicas que alcançaram a sociedade. Agostinho de Hipona
contribui em seu contexto com uma importante obra política chamada Cidade de Deus.
Entre os assuntos tratados por ele, estão: as invasões bárbaras, a violência na sociedade,
o estupro, e a questão do suicídio. Vejamos a citação que diz,

Exaltam, porém, a castidade de Lucrécia, nobre dama da velha Roma. Profanada,


quanto ao corpo, pela nefanda paixão do filho de Tarquínio, revela o crime do infame
jovem a Colatino, seu marido, e a Bruto, seu parente, ambos nobres de nascimento
e coração, liga-os por juramento de vingança e depois, não resistindo à dor, não
podendo suportar semelhante ultraje, mata-se. (AGOSTINHO, 2012, p. 48).

No século XVI A.D, mesmo sendo estrangeiro, Calvino desempenhou uma enorme
influência pública em Genebra. Na Alemanha, Dietrich Bonhoeffer “[...] foi um dos principais
líderes da Igreja Confessante, que se opunha ao nazismo e que, sob a orientação de Barth,
elaborou a Declaração de Barmen, de 1934, cujos signatários se recusavam a submeter a
Palavra de Deus ao controle nazista” (AL TRUESDALE ORG. 2021, p. 136).
Com base nesses testemunhos, a teologia deve cumprir seu diálogo entre a Palavra
de Deus contida nas Escrituras e o mundo alvo do amor de Deus. Desta forma, através da
iluminação do Espírito Santo acontece a comunicação da mensagem às pessoas nos mais
diversos ambientes (seja cristão ou não).
Portanto, uma das tarefas de incumbência ao vocacionado ao pastoreio no âmbito
público, é expor a Palavra de Deus, nas mais diversas situações. Pode ser no altar da
igreja, no hospital, atuando como capelão e levando consolo aos enfermos, em grupos
domiciliares, nas empresas, como educador social, na política e em qualquer outra ocasião.
De acordo com Kevin J. Vanhoozer (2016, p. 97) “à medida que o mundo das Escrituras
é esclarecido, o mundo do ouvinte também é esclarecido [...].” O apóstolo Paulo instrui
Timóteo a expor a Palavra de Deus quando diz: “prega a Palavra, insiste a tempo e fora

UNIDADE 3 PRÁTICAS PASTORAIS 53


de tempo, aconselha, repreende e encoraja com toda paciência e sã doutrina.” (Bíblia, 2
Timóteo 4.2, KJA, 2012).
Paulo é um exemplo eficaz aos vocacionados ao pastoreio para se aplicarem a fala-
rem nos mais diversos temas em público. Não apenas no âmbito eclesial, mas ser relevante
e atuante na sociedade.
A atividade pastoral tem o desafio de transcender as paredes dos templos e alcançar
o contexto onde está inserido, sem deixar de lado o cuidado com o rebanho. É uma espécie
de extensão daquilo que é necessário para a igreja, buscando atingir o mundo.
Não seria possível descrever os vários momentos da história em que pastores piedosos,
através da obra do Espírito Santo, impactaram a sociedade nas mais diversas esferas.
Esses períodos históricos podem ser denominados como avivamentos, ou reavivamentos.
No início e meados do século XVIII, O Grande Despertamento é um exemplo claro
na história dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, no que diz respeito a da mensagem
teológica impactando à cultura.
Em relação aos avivamentos históricos e a figura pastoral como agente ativo na
sociedade, vemos Charles Finney e outros avivalistas do século XIX, onde “[...] estiveram
mais interessados em conduzir a vontade ao arrependimento e à fé por meio de discursos
públicos repletos de entusiasmo, e não por meio da doutrina correta, o que na prática
degradou a teologia em favor de “resultados”(VANHOOZER, 2016, p. 256).
Stackhouse (1988, p.111, citado Vanhoozer, 2016) invoca os pastores a assumirem
“também a responsabilidade de recuperar e reformular as noções fundamentais de verdade
e justiça na esfera mais ampla do discurso público”. Afinal, levando em consideração essa
perspectiva, a teologia pública é uma prática pastoral com conteúdo teológico direcionada
ao público em geral.
Dentre as possibilidades de atuação, seja no campo acadêmico, eclesiástico e da
sociedade, o estudo teológico das práticas pastorais ocupa lugar importante nas pesquisas
acadêmicas. Por isso, incentivo você estudioso em teologia a se aprofundar nessa temática,
com vistas a contribuir no crescimento e na mudança das realidades contextuais onde vive.
Para isso, indico algumas obras de importantes estudiosos:

CUNHA, Carlos Alberto Motta. Teologia Pública e o conceito de “fronteira” no pensamento de Paul Tilli-
ch. Atualidade Teológica. PUC/Rio, Ano XVI nº 40, janeiro a abril/2012. Disponível em: https://www.maxwell.
vrac.puc-rio.br/21638/21638.PDF

SINNER, Rudolf von. Teologia pública no Brasil: um primeiro balanço. Perspectiva Teológica, Belo Horizon-
te, Ano 44, Número 122, p. 11-28, Jan/Abr 2012. Disponível em: https://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/
perspectiva/article/view/1589/1939

VANHOOZER, Kevin J. O pastor como teólogo público: recuperando uma visão perdida. Tradução de Már-
cio L. Redondo. São Paulo: Vida Nova, 2016.

VOLF, Miroslav. Uma fé pública: como o cristão pode contribuir para o bem comum. São Paulo: Mundo
Cristão, 2018.

UNIDADE 3 PRÁTICAS PASTORAIS 54


A fim de proteger a ovelha dos ataques de insetos e mosquitos que entravam nos ouvidos causando in-
fecção no cérebro, o pastor de ovelhas em Israel utilizava o azeite e ungia a cabeça do animal. O processo
consistia em espalhar o óleo em sua lã, dando atenção especial em volta do nariz, olhos e ouvidos. Esse
cuidado proporciona uma reflexão espiritual quando Salomão escreveu em Eclesiastes 9.8: “Em todo o
tempo sejam alvas as tuas roupas, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça.” (O Autor, 2023).

“O primeiro compromisso do pastor não é com a obra de Deus, mas com o Deus da obra. Relacionamento
com Deus precede trabalho para Deus. O primeiro chamado do pastor é para andar com Deus e, como
resultado dessa caminhada, ele deve fazer a obra de Deus.”

Fonte: LOPES, H. D. De pastor a pastor. São Paulo: Hagnos, p. 119-120, 2008.

UNIDADE 3 PRÁTICAS PASTORAIS 55


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Encerramos nossa terceira unidade de estudo em Teologia Pastoral.

Enquanto este material é preparado percebo a importância desse aprendizado, visto


que, vivemos numa época de hipermodernidade onde os princípios aparentam estar se
diluindo com os modismos e as tendências seculares para a realização do ofício pastoral
perante a igreja e sociedade.
A necessidade de buscarmos parâmetros bíblico-teológicos para esta temática, com
estudos e debates sóbrios, é pertinente à época. A urgência de sucesso segundo os padrões
exigidos pela sociedade, as ocupações diversas que o pastor tem em seu cotidiano, nos
encaminham a uma reflexão de onde estamos e para onde devemos seguir.
É um caminho longo, mas, com a proposta exegética levando em consideração a
autoridade das Escrituras, caminhamos para um alinhamento dessas questões. A Bíblia
nos presenteia com lições preciosas a respeito de pessoas separadas desde o Antigo
Testamento para atividade pastoral. Desde Noé, que construiu a arca sob as ordens
divinas, Moisés, que recebeu a incumbência de libertar o povo do Egito, aos profetas que
buscavam trazer o povo afastado do aprisco de Deus, culminando com a Encarnação do
Messias, percebemos uma clara demonstração o cuidado de Deus com a humanidade.
Esse exemplo de pastoralidade serve para nortear as atividades dos teólogos-pastores.
Portanto, vimos nesta unidade o sofrimento da humanidade por conta do pecado,
quais são as concepções sobre o cuidado pastoral com os que sofrem e por fim, o papel do
pastoreio em suas atividades em relação ao público e eclesial.
Nossos estudos não param por aqui! Incentivo que você estudante de teologia se
aprofunde nesta temática com responsabilidade, pois somente tal aprofundamento pode
mudar as realidades.
Agradeço o tempo de atenção até o momento. Espero você na próxima unidade!
Até lá!

UNIDADE 3 PRÁTICAS PASTORAIS 56


LEITURA COMPLEMENTAR
O SOFRIMENTO PASTORAL

Resenha: No Brasil, especialmente na última década, o cuidado espiritual emergiu


como tópico relevante no campo da saúde, sobretudo em relação à questão ser ou não
possível integrá-lo nas práticas de cuidado. Contudo, os estudos carecem de uma noção
clara do que vem a ser cuidado espiritual. Este artigo tem como objetivo contribuir
no aspecto teórico do debate, trazendo para o contexto dessas discussões a perspectiva
teológica. Para tanto, a noção de cuidado espiritual é aqui apresentada com base na refle-
xão de Dietrich Bonhoeffer,

Fonte: RUTHES, Vanessa R.M.; ESPERANDIO, Mary R. G. O cuidado espiritual e a busca da integrali-
dade do ser humano: reflexões a partir da teologia de Dietrich Bonhoeffer. Estudos Teológicos, [S. l.],
v. 59, n. 1, p. 241–255, 2021. Disponível em: http://revistas.est.edu.br/index.php/ET/article/view/640. Acesso
em: 13 jul. 2023.

UNIDADE 3 PRÁTICAS PASTORAIS 57


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: O Pastor aprovado
Autor: Richard Baxter
Editora: PES
Sinopse: Richard Baxter escreveu esse livro no século XVII, mas
o seu alcance e repercussão foi tão grande que é relevante na
atualidade. Seu conteúdo é um clássico da teologia pastoral,
como James M. Houston diz no prefácio da obra: “A influência
de O pastor aprovado tem sido realmente duradoura e podero-
sa na vida da Igreja, desde os dias de Baxter”. Isso é perceptível
por Baxter ter sido um homem marcado por sua piedade e
serviço pastoral.

VÍDEO
Título: Teologia Pública
Ano: 2019
Sinopse: O vídeo apresenta um debate acerca da relevância
da teologia na sociedade e os conceitos da teologia no
âmbito público. O vídeo apresenta o ponto de vista de vários
profissionais que tratam do assunto.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=4Ost1oFw-
DeI

UNIDADE 3 PRÁTICAS PASTORAIS 58


ACONSELHAMENTO

• Estudar acerca da compatibilidade Psicologia e a

• Aprender sobre o aconselhamento e seus conceitos,


Professor Especialista Erison de Moraes Valério

• A relação entre a Psicologia e a Teologia Pastoral.


PSICOLOGIA E O
PASTORAL, A

Objetivos da Aprendizagem
A TEOLOGIA

• O Aconselhamento pastoral.
Plano de Estudos
UNIDADE

na prática, pastoral.
Teologia Pastoral.
4
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INTRODUÇÃO
Olá! Seja bem-vinda à quarta unidade de estudos em Teologia Pastoral. Que
bom que você chegou até aqui! Esta é a última unidade neste assunto essencial para sua
formação teológica.
A Teologia abrange um estudo que se divide em diversas possibilidades
acadêmicas e práticas. A preparação é fundamental para o exercício prático em qualquer
esfera profissional, quanto mais na vocação pastoral. Por isso, estudaremos dois assuntos
importantes para uma atuação pastoral eficaz.
No tópico inicial, vamos compreender as relações da Psicologia com a Teologia
Pastoral e a possibilidade de aliar seus princípios, na prática do aconselhamento de
pessoas que precisam de auxílio emocional. É um assunto que apresenta divergências
entre os estudiosos. Percebemos uma linha de pensamento que não vê problema nessa
associação, mas existem aqueles que motivam o aconselhamento exclusivamente bíblico.
Além disso, veremos um pouco da história da Psicologia e evolução nos seus estu-
dos e preceitos até se consolidar como uma ciência.
No segundo e último tópico, aprenderemos sobre o aconselhamento pastoral. Esta
abordagem trará luz às concepções que envolvem a prática, bem como, os fundamentos
bíblicos para seu exercício, a importância do aconselhamento no tratamento individual
dos problemas enfrentados nos mais diversos contextos e individualidades, o papel do
conselheiro e o que envolve sua atuação. Afinal, o aconselhamento pastoral compreende
uma importante prática da igreja desde a era apostólica até a atualidade.
É de extremo valor nos debruçarmos nesta temática. As maiores dificuldades
encontradas no ministério e no ofício pastoral se devem a esse fator: o despreparo. Portanto,
o conteúdo desta unidade se torna indispensável e vai além desta disciplina.

Desejo que você tenha uma excelente experiência de estudo nesta unidade.
Vamos lá!

UNIDADE 4 A TEOLOGIA PASTORAL, A PSICOLOGIA E O ACONSELHAMENTO 60


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1
TÓPICO
A RELAÇÃO ENTRE
A PSICOLOGIA E A
TEOLOGIA PASTORAL

Entre os séculos VI e V, quando a Grécia era o berço da civilização, Platão e Aris-


tóteles e outros pensadores foram reconhecidos como os precursores da psicologia. Nesta
época inicia-se a conhecida psicologia pré-filosófica ou psicologia científica. Sob os mitos
que envolviam a alma, os gregos acreditavam que ela era oriunda dos elementos água,
fogo e ar, ou seja, os responsáveis pela vida. “Os estudiosos daquele tempo tinham a ideia
de que o cosmo era composto pela junção de elementos simples, [...] se esses elementos
fossem descobertos o mundo seria compreendido” (PEZZINI, 2017, p. 16)
A palavra psicologia vem da junção das palavras gregas psyche, cujo significado é
“alma”, e logos que significa “estudo”, “razão”. Etimologicamente, entende-se por psicologia
o “estudo da alma”.
Segundo o pensamento grego, a alma “[...] era concebida como a parte imaterial do
ser humano e abarcaria o pensamento, os sentimentos de amor e ódio, a irracionalidade, o
desejo, a sensação e a percepção” (BOCK, et al., 1999, p. 33).
Antes de Sócrates, os filósofos cuidavam em conceituar a relação do ser humano
com o mundo por meio da percepção. Seus debates eram se a existência do mundo acon-
tece porque o homem o visualiza ou, o homem vê um mundo já existente.
As duas visões eram conhecidas pelos idealistas, que acreditavam que as ideias
formavam o mundo e, os materialistas, acreditavam que “[...] a matéria que forma o mundo
já é dada para a percepção” (BOCK, et al., 1999, p. 33).
A psicologia na antiguidade se fortalece com Sócrates, que acreditava que o principal
atributo do homem é a razão. Esta é a fronteira que separava o homem dos animais, afinal
ela lavaria o homem a controlar seus instintos. A ideia da razão como essência do ser
humano, inicia uma trajetória que foi muito explorada pela psicologia.

UNIDADE 4 A TEOLOGIA PASTORAL, A PSICOLOGIA E O ACONSELHAMENTO 61


Platão, discípulo de Sócrates, buscou a definição para a razão no corpo humano. A
sua conclusão foi que a alma se encontra na cabeça do corpo do homem, sendo a medula
a parte responsável em unir a alma com o restante do corpo. De acordo com Bock, et al.
(1999, p. 42), Platão acreditava que este elemento era necessário porque acreditava na
“[...] alma separada do corpo. Quando alguém morria, a matéria (o corpo) desaparecia, mas
a alma ficava livre para ocupar outro corpo.”

FIGURA 1 - REPRESENTAÇÃO DO PENSAMENTO DE PLATÃO “ALMA NA CABEÇA”

Já o discípulo de Platão, Aristóteles, contribuiu de forma significativa com sua


tese de que a alma e o corpo não podem ser desagregados. Para ele, o princípio ativo da
vida é a alma. Toda a criação, que se reproduz, cresce, se alimenta, possui uma psyché,
consequentemente, os animais, o ser humano e até os vegetais teriam alma.

Os vegetais teriam a alma vegetativa, que se define pela função de alimentação e


reprodução. Os animais teriam essa alma e a alma sensitiva, que tem a função de
percepção e movimento. E o homem teria os dois níveis anteriores e a alma racio-
nal, que tem a função pensante.” (BOCK, et al., 1999, p. 34).

Seus estudos incluem os contrastes entre a percepção, as sensações e a razão.


Conhecido como Da anima, foi um estudo sistematizado de Aristóteles que foi considerado
o primeiro tratado em Psicologia (BOCK, et al., 1999).
Em resumo, aproximadamente dois mil anos antes da concepção da Psicologia
Científica, foram concebidas duas teorias, a platônica, que acreditava na alma imortal e
separada do corpo, e a aristotélica, que cria na imortalidade da alma como parte integrante
do corpo.

1.1 A psicologia como ciência

Os antigos estudos especulativos dos pensadores gregos sobre a alma e sua


habilidade intelectual e racional do ser humano, tiveram um preenchimento significativo no
século XIX pelo estudo de uma nova ciência, a psicologia. Nesse tempo de capitalismo e
industrialização o homem passou a ter uma mudança na compreensão que tinha de si mesmo.

UNIDADE 4 A TEOLOGIA PASTORAL, A PSICOLOGIA E O ACONSELHAMENTO 62


A ciência passa a ser o novo parâmetro de veracidade do conhecimento, que outrora
a igreja era detentora. De acordo com Tatiane P. Isleb (2020, p. 13), “o rigor científico
passa a ser exigido como prova de veracidade das postulações. [...] a partir de então, a
psicologia começa a contar com o estudo de filosofia e neurofisiologia para a compreensão
dos processos mentais.”
Então, nessa época, nascem os primeiros laboratórios de psicologia, que busca-
vam o reconhecimento da ciência.
Wilhelm Wundt foi considerado o pai da Psicologia moderna, “[...] ele fundou o
primeiro laboratório na universidade de Leipzig na Alemanha em 1879. [...] Depois de
Wundt muitos psicólogos construíram e questionaram diversas outras formas de estudar e
compreender a psique e o comportamento humano” (ISLEB, 2020, p. 13).
Já no século XX, surge o funcionalismo que buscava entender as funções da mente
através do comportamento, que possibilitam a adaptação ao meio em que vivem. Além
disso, surgem novas teorias que formaram a psicologia científica: o associacionismo e o
estruturalismo. Porém, no mesmo século surgem três importantes escolas, cujos autores
se tornaram referenciais teóricos e para pesquisas e novas perspectivas até os nossos dias
(ISLEB, 2020). São elas: o behaviorismo, a gestalt e a psicanálise.
O Behaviorismo surge através do americano John B Watson, com um método
científico exigente do estudo do fato psicológico em busca de entender o comportamento.
Segundo Isleb (2020, p. 15) “na visão comportamentalista, todo comportamento é resposta
ao ambiente e tem uma função: a adaptação”.
A Gestalt surge na Europa com uma teoria mais voltada à Filosofia. Ela nasce
como “[...] uma negação da fragmentação das ações e processos humanos, realizada
pelas tendências da Psicologia científica do século XIX, postulando a necessidade de se
compreender o homem como uma totalidade” (BOCK, et al., 1999, p. 46).
Sigmund Freud foi um médico vienense que mudou por completo a maneira de
entender a vida psíquica. A psicanálise, através de Freud, “[...] ousou colocar os “processos
misteriosos” do psiquismo, suas “regiões obscuras”, isto é, as fantasias, os sonhos, os
esquecimentos, a interioridade do homem, como problemas científicos” (BOCK, et al.,
1999, p. 83).
De acordo com a afirmação de Isleb (2020, p. 14) “Freud defendeu que através da
fala e do vínculo com o terapeuta, o paciente poderia acessar as informações do incons-
ciente, encontrá-la e aliviar seus sintomas.”
Nas últimas décadas a relação da psicologia com outras ciências tem aumentado,
especialmente com a linguística, a biologia e a neurologia. Assim, originaram-se novas
perspectivas de aplicação da psicologia com outras vertentes como a psicobiologia, a
psicofarmacologia e a psiconeurolinguística.
A psicologia desde sua formação se encontra em contínuo progresso. Para o teólo-
go é importante se abster de conceitos pré-concebidos, ou ainda, de paradigmas que nos
impeçam a compreensão de como a psicologia pode cooperar na atuação e realização do
pastoreio. No próximo tópico vamos abordar essa questão.

UNIDADE 4 A TEOLOGIA PASTORAL, A PSICOLOGIA E O ACONSELHAMENTO 63


1.2 Psicologia e religião: alinhamento e discordância

O diálogo entre a teologia e as ciências que buscam entender a saúde mental,


como a psicologia, tem encontrado dificuldades de alinhamento por parte de ambos os la-
dos. Como estudamos, a psicologia com seus pressupostos são anteriores ao cristianismo
e remetem a períodos dos filósofos gregos. O cristianismo nasce e se expande inclusive
no ocidente, com a mensagem do Messias. Durante muito tempo não houve conciliação
entre psicologia e religião, principalmente durante o período renascentista, que acentuou o
avanço da ciência.

“Alguns autores das áreas de saúde mental defenderam que a religião seria causa-
dora de patologias e neuroses. Por outro lado, as religiões, em particular o cristianis-
mo, se distanciaram dos profissionais das pesquisas sobre saúde mental.” (ISLEB,
2020, p. 57).

Em toda a história do cristianismo muitas correntes de pensamento formularam


percepções diferentes a respeito das doenças mentais e até mesmo físicas. Para alguns
o sofrimento deve ser encarado com louvor a Deus. Em contrapartida, tem aqueles que
acreditam que todo sofrimento vem de Satanás. O pensamento que converge em ambos
os lados é que os cristãos não podem ter problemas depressivos ou qualquer outro de
saúde mental, porque seria uma evidência de descordo com os princípios das Escrituras
Sagradas (ISLEB, 2020).
Apesar desse tipo de posicionamento, com a metodologia exegética adequada per-
cebemos personagens que possuíam um relacionamento com Deus notável e que tiveram
momentos depressivos. Um exemplo é Elias, que enfrentou um número considerável de
profetas de Baal e obteve êxito, porém após a ameaça da rainha Jezabel, se enclausurou
em uma caverna, chegando a desejar a própria morte, dizendo: “[...] Já basta, ó Senhor;
toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais” (Bíblia, 1 Reis 19.4, ARA,
1994). Além deles destacamos Jó e Jeremias.
A questão que desejo destacar: é possível um alinhamento da teologia pastoral
com os preceitos da psicologia, na prática de ações como aconselhamento e cuidado? Para
entender essa questão devemos levar em consideração duas posições. Os que aceitam
esse alinhamento e os que discordam.
Alguns teólogos e estudiosos com experiência em aconselhamento bíblico se
opõem às reivindicações da Psicologia como uma ciência que cuida da alma.
O escritor e pastor John MacArthur Jr acredita que a psicoterapia não pode solucionar
os problemas espirituais. As enfermidades antigamente eram vistas como as dores do
egoísmo. Em sua visão, “a psicologia moderna e a Bíblia não podem ser misturadas sem
um sério prejuízo, ou abandono da suficiência das Escrituras” (MACARTHUR, 2016, p. 30).
Outra posição de resistência à psicologia se deu por parte de Jay E. Adams, que
começou a estudar, discutir e praticar o aconselhamento sob uma nova perspectiva bíblica.

UNIDADE 4 A TEOLOGIA PASTORAL, A PSICOLOGIA E O ACONSELHAMENTO 64


A própria Bíblia nos oferece princípios para o entendimento e engajamento no
aconselhamento noutético e orienta os ministros cristãos a tornarem esse tipo de
aconselhamento uma parte vida de seu chamado para o ministério da Palavra [...],
portanto, aqueles que desenvolvem outros sistemas, baseados em outras fontes
de informação, pelos quais buscam atingir os mesmos fins, pela própria natureza
do caso tornam-se competitivos. É perigoso competir com a Bíblia, [...]”. (ADAMS,
2016, p. 8).

Adams (1972) ainda afirma que “[...] é possível adquirir toda a informação e
experiência de que precisa para tornar-se um conselheiro cristão competente e confiante
sem estudar psicologia” (ADAMS, 1972, p. 23-24).
Admitir os conceitos das ciências sociais sem antes analisar biblicamente seu
conteúdo, pode ocasionar problemas. Alguns aspectos podem apontar em direções
diferentes, inclusive fazendo oposição um ao outro.
De uma outra ótica, existem os estudiosos que defendem essa relação, dando
importância ao alinhamento com os princípios das Escrituras.
Para o Dr. Gary Collins, presidente da American Association of Christian Counselor,
Deus revelou a verdade sobre a criação do homem através da Bíblia, a Palavra revelada
ao homem,

“[...] mas também permitiu-nos descobrir a verdade mediante a experiência e os


métodos de investigação científica. A verdade descoberta deve estar sempre de
acordo e ser confrontada com padrão da verdade bíblica revelada. Limitamos, no
entanto, nossa eficácia no aconselhamento quando assumimos que a descoberta
da Psicologia nada tem a contribuir para a compreensão e solução dos problemas.”
(COLLINS, 1984, p. 16).

Colllins (1984, p. 16) deixa uma pergunta interessante para quem aceita a Psicologia
como um grande auxílio para os conselheiros cristãos. “Como então atravessar o pântano de
técnicas, teorias, e termos técnicos para descobrir os pontos realmente úteis?” A resposta
é simples, e se refere a pessoas que sejam dedicadas em seguir a Cristo, habituadas
à literatura da psicologia e aconselhamento, treinadas neste campo e nos métodos de
pesquisa, e por fim, competentes como conselheiros (COLLINS, 1984).
Para Jamiel O. Lopes, pastor e mestre em Psicologia, “[...] não precisamos subs-
tituir o evangelho pelas teorias psicológicas. A Bíblia por si só é autossuficiente; porém,
demonizar a Psicologia, [...], é negar o valor da ciência” (LOPES, 2017, p. 12).
Para ele, não há necessidade de um processo de cristianização da Psicologia, nem
tão pouco considerá-la como algo “diabólico”, mas aprendermos o seu papel como ciência.
Os preceitos bíblicos são absolutos e eternos, pois é considerada a Palavra de Deus, o
Eterno. A Psicologia pode ser uma ferramenta de auxílio quando oferece ferramentas para
a compreensão de muitas situações (LOPES, 2017).
“Por meio da Psicologia, podemos compreender a nós mesmos e as pessoas com
quem nos relacionamos, pois ela faz com que enxerguemos nosso interior, fazendo-nos
compreender por que reagimos a uma determinada situação” (LOPES, 2017, p. 16).

UNIDADE 4 A TEOLOGIA PASTORAL, A PSICOLOGIA E O ACONSELHAMENTO 65


A Psicologia tem valor pertinente ao cuidado das questões emocionais. Entretanto,
para as dificuldades que se relacionam com o âmbito espiritual, isto é, quando florescem
por meio de um estilo pecaminoso do indivíduo, especificamente neste caso, a Psicologia
sai de sua competência.
É importante enfatizar que a Psicologia é ciência reconhecida e faz parte do sistema
público de saúde. Para Pezzini, “é indispensável ao líder pastoral lançar mão dela em
busca do apoio assertivo para muitos casos a que atende no cotidiano em encaminhar
a especialistas, com cautela, aqueles que necessitarem com urgência de cuidados
profissionais, além dos pastorais.
Finalizando, que nossos estudos teológicos encontrem o equilíbrio sem a negação
da espiritualidade saudável, do relacionamento com o Salvador e a pesquisa bíblico-
teológica adequada, porém, sem anular as ciências sociais como ferramenta científica.

UNIDADE 4 A TEOLOGIA PASTORAL, A PSICOLOGIA E O ACONSELHAMENTO 66


....................
........................
........................
........................

2
TÓPICO

O ACONSELHAMENTO
PASTORAL

O ser humano sofre aflições. Alguns desenvolvem problemas emocionais, existem


aqueles que têm problemas de relacionamento conjugal, com a educação de filhos e as
dores pertencentes a cada período da vida. Idosos têm problemas em sua faixa etária,
adolescentes, jovens e crianças. Na época que vivemos, percebe-se o aumento da
ansiedade, depressão, síndrome do pânico, além de pessoas dependentes das drogas e
alcoolismo.
A vida cristã não é privilegiada com a ausência das dificuldades da vida. A promessa
bíblica é de uma vida celestial plena, porém, na vida temos lutas e dificuldades. Sabendo
disso, o Messias Jesus Cristo desempenhou seu ministério amplamente. Ele curava
doenças físicas, ensinava acerca do Reino, e inúmeras vezes, os escritores dos Evangelhos
demonstraram o cuidado do Redentor com pessoas com problemas de ordem emocional.
Vemos a atuação pastoral de Jesus na rejeição da samaritana no poço de Jacó (João 4.1-
31), o luto da viúva de Naim pelo seu filho (Lucas 7:11-17).
Partindo desse pressuposto, a Bíblia não manifesta como uma possibilidade ajudar
as pessoas, mas como uma responsabilidade, principalmente aos que exercem o ofício
pastoral. Desde a igreja primitiva, o aconselhamento é uma prática natural que faz parte da
vida espiritual. Na Primeira carta aos Tessalonicenses, Paulo pede: “pelo que vos exortai
uns aos outros e edificai-vos uns aos outros, [...]” (Bíblia, 1 Tessalonicenses 5.11, ARA,
1994). Na Carta aos Romanos 15.14 (KJA, 2012), ele diz: “[...] sendo, vós mesmos, capa-
zes de orientar-vos uns aos outros.”

UNIDADE 4 A TEOLOGIA PASTORAL, A PSICOLOGIA E O ACONSELHAMENTO 67


2.1 A relevância do aconselhamento como prática pastoral

A abordagem de algumas diretrizes pode ser importante para entender a importân-


cia do aconselhamento como parte da prática pastoral. Para esta tarefa, vamos entender o
que importantes estudiosos (como Albert Friesen, Gary Collins, Carl Rogers, entre outros)
têm a transmitir.
Primeiro, o aconselhamento retém o foco nas dificuldades pessoais do indivíduo.
Concomitante ao cuidado, a igreja apostólica alcançou inúmeras pessoas através da
pregação pública, do ensino e do combate às heresias. Tudo isso é atribuição da igreja,
porém não é possível atender todas as pessoas na individualidade dos seus problemas,
através da pregação do púlpito. De acordo com Friesen (2012, p. 45), “angústias pessoais
e muito especiais dificilmente poderão ser tratadas a partir de um palco ou de um púlpito,
por melhor que seja a mensagem.”
Com esta finalidade, o aconselhamento busca auxiliar pessoas nas mais diversas
dificuldades da vida. De acordo com Gary Collins,

[...] o aconselhamento busca estimular o desenvolvimento da personalidade; aju-


dar os indivíduos a enfrentarem mais eficazmente os problemas da vida, os con-
flitos íntimos e as emoções prejudiciais; prover encorajamento e orientação para
aqueles que tenham perdido alguém querido ou estejam sofrendo uma decepção;
e para assistir às pessoas cujo padrão de vida lhes cause frustração e infelicidade.
(COLLINS, 1984, p. 12).

Jesus agiu desta forma com Nicodemos (Jo 3.1-21) com Zaqueu (Lc 19.1-10) com
o endemoniado gadareno (Mc 5.1-20), e a Pedro, que após sua tripla negação foi visitado
por Ele depois da ressurreição ordenou que “apascentasse suas ovelhas” (Jo 21.15-17).

FIGURA 2 - IMAGEM ILUSTRATIVA DE JESUS E A SAMARITANA

UNIDADE 4 A TEOLOGIA PASTORAL, A PSICOLOGIA E O ACONSELHAMENTO 68


Em segundo lugar, no aconselhamento pastoral é possível tratar de problemas mui-
to particulares e com profundidade. Pensamentos e sentimentos nunca expressados e que
nunca foram tratados, podem ser abordados conforme caminha o aconselhamento. Para
Rogers, (2000, p. 21) o aconselhado “[...] deixa de ter medo de se examinar a si mesmo,
de explorar sua personalidade, para além disso, como a autocompreensão e uma autoacei-
tação crescentes vem aperfeiçoamento do ajustamento.”
O indivíduo consegue se expressar livremente quando se sente aceito e acolhido.
Desta forma, os medos da condenação e da crítica são deixados de lado. O sigilo e a ética
são basilares em qualquer tipo de aconselhamento.
Segundo Albert Friesen aponta, “[...] pastores e líderes perdem valiosas
oportunidades de aconselhamento pastoral somente porque não conhecem e não utilizam
posturas que facilitam aos membros de sua igreja o desenvolvimento da confiança no sigilo”
(FRIESEN, 2012, p. 49).
Conflitos conjugais, dificuldades diversas com os filhos, abuso sexual, são
assuntos dolorosos e bem particulares que podem ser tratados com eficiência através do
aconselhamento pastoral. Os pormenores precisam ser vistos e analisados pelos olhos
clínicos do conselheiro bem preparado. De acordo com Friesen (2012),

[...] é preciso que o aconselhando entenda mais profunda e amplamente os motivos


básicos de seus problemas para então poder orar e elaborar especificamente. E
para possibilitar esse aprofundamento é preciso criar um contexto de aconselha-
mento pastoral onde a comunicação seja de mão dupla, onde se possa falar de
coisas muito pessoais e íntimas e onde haja um clima de aceitação incondicional.
(FRIESEN, 2012, p. 50)

O aconselhamento deve ter a livre aceitação da pessoa, quando ela procura pela
ajuda ou quando ela é procurada pelo conselheiro (pastor, padre ou líder na igreja). Porém,
no decorrer do aconselhamento, o tempo é estabelecido pela vontade e a livre escolha do
aconselhado. Conforme Cobianchi e Gomes (2018, p. 20), “sua duração é determinada
pela necessidade de chegar-se às fontes da angústia e pela resposta do aconselhado ao
processo.”

2.2 O aconselhamento pastoral como processo terapêutico

Para entender o aconselhamento pastoral como um processo terapêutico, precisa-


mos fazer distinção de algumas concepções.
O aconselhamento não é, mesmo que seja necessário em algumas situações, uma
visita casual para uma conversa entre amigos. O foco do aconselhamento está em “[...] uma
conversa centralizada num problema, dirigida para um alvo, que focaliza principalmente as
necessidades de uma pessoa, o aconselhado” (COLLINS, 1984, p. 30). O aconselhamento
envolve uma periodicidade nas reuniões e foco no ponto principal a ser tratado. Este
processo, por vezes, é demorado e deve ser conduzido de maneira tranquila e atenciosa.
O aconselhamento possui características como de um processo terapêutico,
com bases no amor e no respeito ao próximo. Para Cobianchi e Gomes (2018, p.18) “o

UNIDADE 4 A TEOLOGIA PASTORAL, A PSICOLOGIA E O ACONSELHAMENTO 69


aconselhamento cristão é uma iniciativa que decorre da real compreensão dos aspectos
psicológicos, emocionais, afetivos, culturais e espirituais do ser humano, bem como suas
implicações biológicas, éticas, sociais e religiosas.”
O aconselhamento como terapia não é somente pautado em técnicas para o
resultado esperado. O conselheiro pastoral precisa de ajuda do Espírito Santo para
perscrutar as diversas situações. Segundo MacArthur (2016):

Apenas o Espírito Santo pode operar as mudanças fundamentais no coração


humano, por isso, ele é um agente indispensável em todo o aconselhamento
bíblico eficaz.[...] É o Espírito Santo, que aplica a verdade objetiva das escrituras no
processo da santificação. (MACARTHUR, 2016, p. 103).

Vários autores e estudiosos tratam das atribuições do conselheiro como um agen-


te que auxilia pessoas nas mais diversas situações. Afinal, o que se espera da pessoa do
conselheiro? Quais técnicas básicas tem um conselheiro eficaz?
Muitos preceitos precisam ser abordados, porém, vamos nos concentrar nos prin-
cipais. Primeiro estudar a pessoa do conselheiro e suas atitudes. Depois, abordaremos
alguns passos técnicos e saudáveis para um aconselhamento eficaz. Vamos lá!

2.2.1 O Conselheiro Pastoral

Quando nos referimos a pessoas, nos deparamos com diversos tipos de


personalidades e temperamentos, seja do conselheiro quanto do aconselhado. Neste
tópico, não trataremos disso, mas de disposições de caráter e conduta que são aprendidos
ao longo da carreira cristã e fazem diferença quando se propusemos a ajudar através do
aconselhamento. Entre elas destacamos:

1. Possuir princípios cristãos firmes. Quem busca aconselhamento, por vários


motivos, encontra-se desesperançoso quanto a suas mazelas. A transformação não ocorre
se não houver esperança. Segundo Macarthur (2016, 134), “esperança verdadeira é
resultado da salvação verdadeira. Nas escrituras a esperança está sempre vinculada ao
novo nascimento por meio do Espírito Santo e a fé pessoal em Cristo.”
No aconselhamento a influência que podemos ter na vida dos aconselhados
costumam ser associados a compreensão que ela tem de nós. Portanto, é importante que
o conselheiro reflita uma vida com princípios, demonstrando que ele próprio pratica o que
aconselha.

2. Ter compaixão. Enquanto a empatia nos proporciona enxergar com a perspectiva


dos outros, a compaixão ativa o interesse em ajudar os outros.
Mateus 9.36 relata a compaixão de Jesus Cristo com as pessoas: “Vendo ele as
multidões, compadeceu-se delas, porque andavam desgarradas e errantes, como ovelhas
que não têm pastor” (Bíblia, Mateus 9.36, ARA, 1994).

UNIDADE 4 A TEOLOGIA PASTORAL, A PSICOLOGIA E O ACONSELHAMENTO 70


“Uma das chaves para o sucesso de Jesus como conselheiro foi sua compaixão
intensa pelos homens e mulheres que é evidente em todos os relatos do Evangelho sobre
sua vida e seu ministério” (MACARTHUR, 2016, p. 119).

3. Ser cordial. A cordialidade tem relação com o respeito e a sincera preocupação


do aconselhado, sem o julgamento prévio de suas atitudes. Jesus demonstrou cordialidade
com a mulher do poço de Jacó (João 4).

4. Ter empatia. A empatia significa: “capacidade de se colocar no lugar de outra


pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria” (DICIO, 2023, não
paginado). O bom conselheiro leva em conta os sentimentos do aconselhado, buscando
entender sua forma de pensar. “É possível ajudar pessoas, mesmo quando não entende-
mos completamente, mas o conselheiro que consegue empatizar (especialmente no início
do aconselhamento) tem mais probabilidade de tornar-se um ajudador eficaz de pessoas”
(COLLINS, 1984, p. 21).

5. Ser um estudioso em aconselhamento. Não me refiro que o aconselhamento é


uma atividade exclusivamente dos doutores e mestres nas áreas de Teologia, Psicologia,
ou outras ciências sociais. Absolutamente, isso faz menção a um preparo indispensável
que deve ser buscado por parte daquele que tem o ofício pastoral. Seja com capacitações
que deem um mínimo de destreza para essa atividade.
Em nosso caso, estudantes de Teologia, significa nos aprofundar ainda mais em
cursos técnicos, leitura para ampliar os conhecimentos, estudos e pesquisas, pós-gradua-
ções, MBA’s, Mestrados e até Doutorados.

2.2.2 O conselheiro e o aconselhamento

Auxiliar pessoas pode levar tempo e ser um processo complicado, e requer várias
técnicas para obter sucesso. Desse modo, iremos resumir algumas técnicas importantes
para o procedimento.

1. Ser um bom ouvinte. Diante de várias técnicas no aconselhamento, uma das


atitudes mais eficazes é conhecer quem está sendo aconselhado de forma ampla e profunda.
Somente depois é que o conselheiro atua com orientações e intervenções. Albert Friesen faz
uma comparação: “[...] no início do aconselhamento pastoral, o conselheiro precisa rodear
a ilha até conhecê-la, para só então definir com e em que intervir” (FRIESEN, 2012, p. 117).
Ouvir é essencial na conduta do conselheiro. Mas isso não significa ser um receptor
de palavras do aconselhado. O bom conselheiro adota uma postura corporal, com expressões
faciais que não representem juízo em relação à história que está sendo contada, demonstra
interesse, aguarda paciente nos momentos difíceis (silêncio ou lágrimas). Os conselheiros
que falam muito podem transmitir até bons conselhos, porém, não são ouvidos, pois
transmitem a sensação que o aconselhado não foi compreendido (COLLINS, 1984).

UNIDADE 4 A TEOLOGIA PASTORAL, A PSICOLOGIA E O ACONSELHAMENTO 71


Se caso o motivo do aconselhamento for por conta de graves pecados, o conselhei-
ro precisa manter a serenidade.

[...] uma eminente terapeuta Cristã, dizia a respeito do seu trabalho com essa téc-
nica: ‘Peço que o Espírito Santo controle cada músculo da minha face e cada uma
das minhas sensações’. De fato, metacomunicação é o método mais usado nesta
técnica. (FRIESEN, 2012, p. 147).

Assim, ocorre naturalmente a aceitação do conselheiro pelo aconselhado em todo


o processo.

3. Demonstrar empatia levando o aconselhado à reflexão. Durante o processo o


conselheiro ouve proporcionando a aceitação do aconselhado. Desta forma, o conselheiro
levará o aconselhado a refletir a partir do que ouviu. Isso não acontece através de inter-
venções ou perguntas, mas sim com expressões que demonstrem que o conselheiro está
com ele (empatia). Gary Collins, indica alguns exemplos de expressões que refletem o que
está acontecendo no aconselhamento: “‘Você deve sentir-se…’, ‘Tenho certeza que isso o
frustrou…’ [...]. Um breve resumo da entrevista pode ser também um meio de refletir e esti-
mular maior exploração por parte do aconselhado. [...] resumir sentimentos ‘isso realmente
magoa’[...]” (COLLINS, 1984, p. 23).

FIGURA 3 - O CONSELHEIRO E O ACONSELHAMENTO

Isso implica em ser um conselheiro pastoral paciente, que não julga pelos seus
paradigmas de cultura e religião, mas conduz buscando o alinhamento com as Escrituras
no momento correto.

4. Perguntar e esclarecer. Neste ponto, o conselheiro faz perguntas (mantendo a


mesma disposição em ouvir) que objetivam esclarecer ainda mais a situação. De acordo
com Collins (1984, p. 23) as perguntas ideais são aqueles que farão o aconselhado falar
mais dele, “‘Fale-me sobre o seu casamento’, em lugar das que podem ser respondidas em
uma palavra (‘Você é casado?’ ‘Qual a sua idade?’)”.

UNIDADE 4 A TEOLOGIA PASTORAL, A PSICOLOGIA E O ACONSELHAMENTO 72


Para um aprofundamento neste tópico indico o livro “Cuidando do Ser” de Albert
Friesen. No tópico 1 do Apêndice do livro o autor disponibiliza um questionário biográfico.

5. Resuma os pontos importantes. Quem nunca se perdeu em uma conversa e de-


pois não sabia mais qual era o assunto inicial? Pois bem, além de evitar isso, o resumo
auxilia a destacar pontos importantes da conversa para a interpretação. A ordem lógica
proporcionada pelo resumo, também facilita o trabalho do conselheiro, que facilita o acon-
selhado “se desvie” da direção.

6. A interpretação. O conselheiro pode explanar ao aconselhando o entendimento


que teve em relação ao que foi dito até o momento. De acordo com Collins (1984, p. 24) este
ponto compreende “[...] a ideia de explicar ao aconselhado o que seu comportamento ou
outros eventos significam. Esta é uma habilidade altamente técnica com grande potencial
para capacitar os aconselhados a verem a si mesmos e a suas circunstâncias claramente.”
Porém, podem ser prejudiciais, no caso do aconselhado não ter tido tempo para tratar suas
emoções, ou se as interpretações forem equivocadas. (COLLINS, 1984).
7. Orientar, encorajar além das condutas gerais. Quando o conselheiro chega neste
ponto passa a ser mais ativo no processo. Já sabemos o “porto que devemos atracar”, ago-
ra o conselheiro se concentra nos planos e procedimentos para que a mudança aconteça.
Para alcançar esta finalidade é primordial “[...] que as orientações não se baseiem
apenas na autoridade e experiência do conselheiro: elas devem apoiar-se na própria pala-
vra de Deus. [...] Nesta altura do processo do aconselhamento nasce a crise do “como”. “O
que” já foi analisado. (FRIESEN, 2012, p. 149)
O apoio e a orientação consiste no encorajamento para as tomadas de decisões que
visam alcançar o objetivo traçado. O medo do desconhecido e a dificuldade de enfrentamento
da realidade pode levar o aconselhando a desistir.
A duração pode variar de um processo longo ou mais rápido, dependendo da vontade
do aconselhado. Conforme Cobianchi e Gomes (2018) afirmam,

“Sua duração é determinada pela necessidade de chegar-se às Fontes da angús-


tia e pela resposta do aconselhado ao processo. No entanto, quando o conselhei-
ro percebe que chegou ao seu limite de suas possibilidades de aconselhamento,
deverá recorrer a ajuda de profissionais qualificados nesse mister”. (COBIANCHI;
GOMES, 2018, p. 20).

Finalizando, precisamos lembrar que o aconselhamento pastoral é um assunto


amplo, com diversas dinâmicas de abordagens. Nosso estudo não tem o propósito de
estabelecer princípios finais para o aconselhamento. Pelo contrário, nossa abordagem
pretende mostrar a “ponta do iceberg”, de uma disciplina que demanda muito estudo e
especialização.

UNIDADE 4 A TEOLOGIA PASTORAL, A PSICOLOGIA E O ACONSELHAMENTO 73


“[...] é possível encontrar pessoas que estão sofrendo de problemas psicossomáticos – transtornos men-
tais –, às vezes, decorrentes de depressão pela perda de um cônjuge, um filho ou estresse pós-traumá-
tico. Mas, também, no aconselhamento vão aparecer pessoas com questões orgânicas ou desequilíbrio
químico. Isso traz à tona a pergunta: como o conselheiro ou a conselheira identifica e encaminha para
o tratamento especializado uma pessoa com transtorno mental? Posto isso, o objetivo geral deste artigo
reside em problematizar as dificuldades enfrentadas no contexto pentecostal concernente à identificação
dos transtornos mentais, perpassando por uma breve análise da depressão.

Fonte: HERBES, N. E; BORGES, D. S. Anjos, Demônios e Transtornos Mentais: os desafios do aconselhamento


pastoral no contexto Pentecostal. São Bernardo do Campo. Revista Caminhando. v. 25, n. 3, p. 65-81, set./
dez. 2020, p. 67. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/Cami-
nhando/article/view/10781/7590 Acesso em 26 Jul 23.

“Em nossa ação terapêutica e pastoral devemos ser sensíveis a todas as necessidades da pessoa, tanto
físicas, psicológicas, materiais e culturais e especialmente as necessidades espirituais. Essa sensibilidade
especial para a espiritualidade, contudo, não nos autoriza a querer impor as questões de fé sobre as
pessoas e, muito menos, a nossa forma particular de crer.”

Fonte: https://www.luteranos.com.br/conteudo/aconselhamento-pastoral-psicologia-e-espiritualidade-i

UNIDADE 4 A TEOLOGIA PASTORAL, A PSICOLOGIA E O ACONSELHAMENTO 74


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Olá! Esta foi nossa última unidade de estudo em Teologia Pastoral. Concluímos uma
etapa importante para entendermos melhor a complexidade que envolve o ofício pastoral.
No primeiro tópico, estudamos a origem histórica e a formação da Psicologia como
ciência. Abordamos os embates a respeito da relevância da Psicologia e suas diretrizes na
atividade pastoral, com vistas a aconselhar e tratar dos problemas emocionais que surgem
no cotidiano pastoral. Temos opiniões favoráveis a essa junção, bem como, os estudiosos
que defendem um aconselhamento exclusivamente bíblico.
No segundo tópico, aprendemos sobre o aconselhamento pastoral e suas
perspectivas de cuidado. O aconselhamento tem grande importância na igreja e na
sociedade, pois com sua prática é possível tratar de problemas com mais profundidade
e assertividade. Visto que, o ensino no âmbito público não consegue atender todos os
traumas emocionais nos mais diversos contextos e individualidades.
Além da natureza espiritual que envolve a prática do aconselhamento, estudamos
quão importante se torna a preparação do conselheiro para suprir as mais diversas neces-
sidades que surgem. Desta forma, precisamos continuar nos capacitando para buscar a
excelência neste aprendizado.
A pesquisa acadêmica e os cursos de formação teológica têm dado importância ao
assunto Teologia Pastoral em toda abrangência que envolve seu estudo. Provavelmente,
isso esteja relacionado à hipermodernidade que vivemos, onde o ser humano tem sofrido,
tanto pelo aumento significativo dos distúrbios emocionais que resultam em ansiedade e
depressão, como pela descentralização do cuidado e respeito ao ser humano. Dentre as
diversas áreas de pesquisa encontramos a Teologia Pública, o Aconselhamento Pastoral,
Teologia Prática, a Capelania, Psicologia pastoral, dentre outros.
Espero que esta disciplina tenha acrescentado valorosos conceitos para sua vida
acadêmica. Meu sincero incentivo a você aluno para continuar em busca pelo conhecimento.
Nos vemos em outra oportunidade. Até lá!

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LEITURA COMPLEMENTAR
As Transformações do Aconselhamento Pastoral até hoje

Resenha: O objetivo deste artigo é dar uma visão geral de transformações


importantes na área de aconselhamento pastoral. São colocados os argumentos em favor
de um conceito aberto e contextualizado de aconselhamento. Mencionam-se aspectos
centrais dos fundamentos bíblicos. Eles identificam o aconselhamento pastoral como modo
da comunicação do Evangelho. As transformações do aconselhamento são analisadas sob
a perspectiva da teologia a partir de modelos dogmáticos de compreensão da dimensão
divina e da humana na comunicação. Essa perspectiva permite identificar tradições
teológicas e práticas de aconselhamento que transformaram o aconselhamento pastoral e
têm efeitos até hoje. Permite também uma visão geral dos modelos de pensamento e da
diversidade dos contextos e da prática.

Fonte: SCHNEIDER-HARPPRECHT, C. As Transformações do Aconselhamento Pastoral até hoje. Es-


tudos Teológicos, [S. l.], v. 56, n. 2, p. 306–320, 2021. Disponível em: http://revistas.est.edu.br/index.php/ET/
article/view/725. Acesso em: 24 jul. 2023.

UNIDADE 4 A TEOLOGIA PASTORAL, A PSICOLOGIA E O ACONSELHAMENTO 76


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Aconselhamento cristão
Autor: Gary R. Collins
Editora: Vida Nova
Sinopse: Discute temas recentes de grande impacto no contex-
to de hoje, como distúrbios alimentares, maus tratos de idosos,
aborto, infertilidade, amargura e aconselhamento de pessoas
com AIDS; inclui histórias de casos concretos que ilustram os
problemas discutidos; tem novos capítulos sobre aconselha-
mento em grupo, início da idade adulta, violência (inclusive
doméstica), temas relacionados à gravidez, distúrbios mentais,
vícios e aconselhamento do próprio conselheiro.

VÍDEO
Título: Programa Vejam Só - Psicologia X Aconselhamento Pas-
toral
Ano: 2019.
Sinopse: Programa de entrevistas e debates apresentado pelo
Pastor Eber Cocareli, que utiliza a Bíblia como base da discus-
são teológica. Os temas são relevantes, atuais e polêmicos,
abordados de maneira coerente e séria, buscando respostas
para a pergunta do dia com a ajuda do repórter Eliezer Pereira.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=U8MVZoD-
J6kE

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CONCLUSÃO GERAL
Nesta disciplina, examinamos os pontos essenciais que norteiam o conhecimento da
Teologia Pastoral. Diferenciamos as etapas do conhecimento da disciplina de uma forma prática.
Primeiro, tratamos na Unidade 1, os conceitos e qual foco destina a teologia pastoral
na perspectiva de vários autores. Assim, na Unidade 2, podemos perceber como as etapas
históricas foram importantes para a evolução da temática como disciplina acadêmica. Dentro
desta realidade, entendemos como a ação pastoral acontece no Antigo Testamento. A obra
libertadora de Deus como pastor supremo, demonstra o cuidado pastoral em conduzir o
seu povo. Tudo isso culmina na obra do Bom Pastor Jesus Cristo, cujas bases contidas nos
Evangelhos norteiam a atividade da vocação pastoral no Novo Testamento.
A partir daí, podemos traçar em nossos estudos assuntos importantes como: a
vocação, as qualidades apresentadas nas Escrituras para aquele que exerce a ação de
pastorear e a ética requerida na prática. Tais abordagens nos levaram a compreender os
deveres, mas também em retermos nossa atenção a uma necessidade na atualidade: o
sofrimento pastoral. Tal assunto é atual e carece de atenção acadêmica e eclesial.
Por fim, nas duas últimas unidades avançamos ainda mais nas questões que
envolvem a prática pastoral. A atuação pastoral sucede em diversas frentes: pode ser em
relação à igreja, ao indivíduo e a sociedade, porém não deve perder o sentido bíblico-
teológico. Enfatizamos a questão do sofrimento humano e a teologia do cuidado como uma
abordagem pertinente para a atualidade, onde o crescente adoecimento e a desintegração
de valores são perceptíveis na sociedade.
Questões como o estudo da Teologia Pública, a relação da Psicologia e da Teologia;
e o Aconselhamento pastoral, são indispensáveis para futuros trabalhos que envolvem
nossa pesquisa e estudos.
Incentivo você a dar continuidade a esta importante jornada de conhecimento na
teologia pastoral. Adquira livros, leia artigos e busque especializações. Afinal, podemos
aprender ainda mais.
Desejo a você sucesso! Nos vemos numa próxima oportunidade.

82
ENDEREÇO MEGAPOLO SEDE
Praça Brasil , 250 - Centro
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Paranavaí - PR - Brasil
TELEFONE (44) 3045 - 9898

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