Resumo Da Aula - A Evolucao Da Linguagem Cinematografica
Resumo Da Aula - A Evolucao Da Linguagem Cinematografica
Resumo Da Aula - A Evolucao Da Linguagem Cinematografica
Para muitos teóricos, a década de 40 marca o início do cinema moderno. É durante esse
período que o cinema se transforma em uma linguagem completa e de novas
possibilidades. Possibilidades que dão ao cinema a capacidade de expressar conceitos
mais abstratos e mais ambíguos. Possibilidades que, antes dos anos 40, eram mais
limitadas até devido a restrições técnicas.
Nos anos 20, durante a fase muda do cinema, os diretores faziam o que podiam para se
expressar de maneira cada vez mais completa. Os russos, por exemplo, se focavam na
montagem, e os alemães na imagem, na plasticidade – o que culminaria na montagem
soviética e no expressionismo alemão
Nos anos 30, temos um grande avanço: a consolidação do som. Esse é começo de uma
maturidade que vai transformar o cinema em uma linguagem completa nos anos 40.
A questão do som foi tão definitiva na história da linguagem que vários teóricos enxergam o
cinema anterior aos anos 40 como o primeiro cinema e depois dos anos 40 como o segundo
cinema (ou cinema moderno).
A CÂMERA STYLO
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Em 1948, Alexandre Astruc escreve um texto chamado Nascimento de uma nova
vanguarda: a Câmera Stylo. O termo “câmera stylo”, traduzido ao pé da letra, significa “câ-
mera caneta”.
Astruc percebeu que, da mesma forma que um escritor consegue expressar conceitos
complexos em um ensaio ou romance, o cineasta, agora no cinema moderno e sonoro,
também consegue.
Ali, nos anos 40, com filmes do Jean Renoir, do Orson Welles, com o primeiro filme do
Robert Bresson, o Astruc enxerga nesses cineastas autores que usam a câmera como uma
caneta – que são capazes de escrever no cinema da mesma forma que se escreve em
literatura. Cineastas capazes de construir cenas complexas e ambíguas.
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Crítico e cineasta francês.
CIDADÃO KANE (1941)
Cidadão Kane (1941), de Orson Welles, é tido como um dos primeiros marcos do cinema
moderno justamente por isso. É um trabalho que, através do seu uso inventivo de uma
profundidade de campo alta2, lida com relações dramáticas mais ambíguas.
Essa é a vanguarda que o Astruc vê nesses filmes: a possibilidade de usar o cinema como
um meio de expressão do que é complexo, do que é ambíguo e não mais impositivo ou
meramente ilustrativo.
O André Bazin, que compartilhava dessas mesmas ideias, afirma que o uso da
profundidade de campo e do plano sequência pelo cineasta moderno não irá, exatamente,
rejeitar a montagem, mas irá integrar a montagem plasticamente no plano. O que torna a
experiência do espectador mais livre e menos impositiva. É um plano que, como certos
críticos gostavam de dizer, escreve diretamente em cinema.
Orson Welles não inventou o uso da profundidade de campo, mas foi dos primeiros
cineastas a lidar com ela de maneira mais inventiva, passando a usar a linguagem de forma
mais complexa.
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Jean Renoir também faz isso com o seu A Regra do Jogo ( 1939) . Ele parte dessa mesma
lógica do plano sequência e da alta profundidade de campo para o filme funcionar não a
partir de uma montagem impositiva, mas orgânica. A câmera de Renoir passeia, com
poucos cortes, pelos ambientes. Registra sutilmente o deslocamento dos atores.
É por isso que Orson Welles e Jean Renoir são tidos como fundadores do cinema moderno.
Porque eles pegam o momento em que o cinema resolveu essas questões técnicas da
reprodução da imagem e do som e o levam para um outro patamar: concebem um cinema
de ambiguidades e de conceitos mais sutis.
OS MOVIMENTOS DO CINEMA
Toda essa nova relação com a linguagem que o cinema passa a ter a partir dos anos 40,
especialmente o seu uso mais realista e menos impositivo, acaba culminando, direta e
indiretamente, em vários movimentos do cinema moderno como o neorrealismo italiano, a
nouvelle vague francesa e até o cinema novo brasileiro.
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Profundidade de campo alta é quando todos os elementos do plano estão focados.
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Perceba que o lançamento do filme aconteceu antes dos anos 40, o que faz de A Regra do Jogo
um dos marcos essenciais da virada moderna na história do cinema.
Roberto Rossellini, na Itália, começa a fazer um cinema que é quase documental, que tem
uma relação muito bruta com a matéria que filma, levando o realismo a um outro extremo.
Na França, os cineastas da nouvelle vague fazem um cinema muito livre – filmam nas ruas,
passando a lidar com a linguagem de maneira mais espontânea.
Tais movimentos modernos vão atingir o seu ápice nos anos 60, quando vários cineastas ao
redor do mundo passam a explorar a linguagem de diversas novas formas.
Depois dessa virada para o moderno, depois da década de 40 e 50, a história do cinema e
da linguagem audiovisual fica nitidamente muito mais não linear, tornando difícil traçar uma
linha evolutiva.
Até essa época era mais fácil perceber tal evolução porque a própria linguagem estava
tecnicamente se aperfeiçoando, logo existe uma linearidade um pouco mais evidente. Mas
depois disso começam a surgir tendências mais variadas, tanto por parte dos cineastas
como dos críticos e teóricos.
O André Bazin, por exemplo, defende uma montagem mínima. Já um cineasta e crítico
como Jean-Luc Godard defende a montagem como parte essencial da construção fílmica,
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ele inclusive assimila isso em suas obras fazendo filmes com jump cuts . Ou seja, cada um
passa a lidar com a linguagem da maneira que considera mais apropriada.
O que se buscou nessa aula foi evidenciar a importância dessa virada para o cinema
moderno. Uma revolução que marcou profundamente a história da linguagem audiovisual.
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Cortes não lineares no mesmo plano.
FILMES CITADOS NA AULA: