Governança Corporativa, Um (Possível) Conceito Geral

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GOVERNANÇA CORPORATIVA, UM (POSSÍVEL) CONCEITO GERAL

Corporate Governance, possibility of a general concept

Antônio Carlos Diniz Murta


Doutor em Direito pela UFMG / Coordenador do Programa de Mestrado em Direito da Faculdade de
Ciências Humanas, Sociais e da Saúde/FCH da Universidade FUMEC

Luciana Lima Grandinetti


Mestranda e Professora de Direito pelo Programa de Mestrado em Direito Faculdade de Ciências
Humanas, Sociais e da Saúde/FCH da Universidade FUMEC

RESUMO

A Governança Corporativa, embora seja um instituto já consagrado no ambiente


empresarial, até os dias de hoje não possui um conceito geral, que possa ser admitido em
qualquer parte do globo, em todos os mercados. O que existe atualmente é uma série de
conceitos elaborados individualmente pelas instituições dedicadas à promoção da
Governança, retratando somente condições mercadológicas individuais.
Em um mundo globalizado, em que a realidade empresarial não fica estanque a
apenas uma nacionalidade, é imprescindível a unificação do conceito de Governança
Corporativa para que este instituto não caia em descrédito. A Governança Corporativa
mostrou-se um importante fenômeno da ciência da administração de empresas para regular as
relações no mercado. E, assim, sendo, cumpre agora ao Direito compreender e interpretar este
instituto de gestão a fim de melhor incorporá-lo à Ciência Jurídica.

PALAVRAS CHAVE: Governança Corporativa; gestão eficiente; conceito geral; perenidade


da empresa; globalização.

ABSTRACT
The Corporative Governance, although an institute already established in the
business environment, to this day, does not have a general concept that can be admitted to any
part of the globe, in all markets. What does exists today, are many concepts elaborated by
individual institutions dedicated to the promotion of Corporate Governance, portraying only
individual market conditions.
In a globalized world, where the business reality is not tight in one nationality, it is
essential to unify the concept of Corporate Governance to guarantee the credibility of that
institute. The Corporate Governance already proved himself as an important phenomenon in
science of administration to regulate relations in the business market. And, now it is time to
the legal system understand and interpret this management institute to better incorporate it
into the Juridical Science.

KEY WORDS: Corporate Governance; the efficient management; general concept;


longevity; globalization.

INTRODUÇÃO

“A mundialização da economia e o progresso das tecnologias aumentam a cada dia


a interdependência entre as nações. Caminhamos para um mundo só.” (MONTORO, 2008)
Em tempos de globalização o grande desafio moderno é encontrar conceitos unos,
que atendam às múltiplas realidades, em especial do instituto da Governança Corporativa.
A Governança é um instituto de grande relevância no ambiente empresarial, pois
vem alterando diretamente a estrutura das empresas ao propor não apenas uma nova forma de
organização, mas uma diretriz ética aos gestores. Seus preceitos e efeitos práticos no
mercado1 vêm sendo amplamente estudados tanto na academia quanto por organizações
internacionais e instituições criadas exclusivamente para este fim, como o IBGC – Instituto
Brasileiro de Governança Corporativa2.

1
Neste artigo a expressão “mercado” está se referindo à acepção econômica do termo. Significa, o ambiente
composto por um conjunto de pessoas e/ou empresas oferecendo ou procurando bens, serviços, ou capitais.
Neste sentido: “Um mercado consiste de todos os consumidores potenciais que compartilham de uma
necessidade ou desejo específicos, dispostos e habilitados para fazer uma troca que satisfaça essa
necessidade ou desejo.” (KOTLER, Philip. Administração de Marketing – Análise, Planejamento,
Implementação e Controle.)
2
Disponível em: http://www.ibgc.org.br/Home.aspx
Em que pesem todos os trabalhos doutrinários a respeito do tema, ainda não foi
proposto um conceito uno de Governança Corporativa.
A ausência de um conceito geral de Governança pode gerar um grande prejuízo a
este importante instituto, porquanto a indefinição é o primeiro passo para o descrédito. A
delimitação da abrangência dos seus preceitos, a cuidadosa especificação de sua aplicação é
fundamental para demonstrar que a Governança não é apenas mais um modismo passageiro, e
sim uma forma revolucionária de se encarar a gestão de empresa.
A importância da Governança vai além do discurso vazio, romancista e utópico, ela
representa todos os valores sociais embutidos em um dos ramos mais cruéis: o mercado. A
Governança busca, em certo nível, moralizar o que podemos chamar de a alma do sistema
capitalista, nos revelando como um comportamento ético (de respeito aos acionistas,
observância à lei, entre outros aspectos) pode representar também uma maior eficiência na
gestão.
Por muito tempo a Governança Corporativa foi vista apenas como um conjunto de
recomendações, “bons conselhos”, cuja vinculação era facultativa. Sua adoção era tida apenas
como uma declaração de boas intenções para com seus investidores.
Para conseguir regular o mercado, mais do que simplesmente apresentar-se como
“um bom conselho”, é imprescindível que o empresariado assimile os princípios de
Governança como valores morais cogentes, capazes de potencializar/incrementar a eficiência
da gestão e a organicidade funcional; e, consequentemente o lucro. Ou seja, valores que, por
sua importância para a sociedade, e comprovada capacidade de otimizar o desempenho das
empresas, objetivando a harmonização e a melhor organização do mercado, foram
recepcionados pelo sistema jurídico e transformados em normas. A força coercitiva do Direito
é essencial em um primeiro momento para que o empresariado assuma a Governança como
um compromisso social e com a perenidade da empresa.
E, possuindo tal mister, o estudo da Governança Corporativa não pode se limitar
apenas à disciplina de administração de empresa, mas tem efeitos principalmente no ambiente
jurídico. Repita-se, para impingir às empresas seus preceitos éticos, não há meio mais
eficiente do que o uso do Direito.
Assim, este trabalho busca propor diretrizes para a construção de um conceito
jurídico de Governança Corporativa, pois um mundo globalizado clama por conceitos
universal.

A IMPORTÂNCIA DA DEFINIÇÃO JURÍDICA


“Por convenção existe cor, por convenção existe doçura, por convenção existe
amargor – mas na realidade existem átomos e espaço.” (DEMÓCRITO; apud GAMBOGI,
2005).
O Direito existe como uma das formas de regulação social e, como tal, precisa
conhecer e apreender os fenômenos sociais a fim de regular a conduta humana. A Governança
Corporativa mostrou-se um importante fenômeno da ciência da administração de empresas
para regular as relações no mercado empresarial. E, assim, sendo, cumpre agora ao Direito
compreender e interpretar este instituto de gestão a fim de melhor incorporá-lo à Ciência
Jurídica.
A conceituação mostra-se como primeiro passo para o conhecimento de qualquer
instituto, principalmente de um instituto jurídico, porquanto, para as relações sociais é
imprescindível a utilização de uma mesma linguagem para que haja um entendimento mínimo
dos agentes associados à sua finalidade; buscando-se dar segurança, quando menos, na origem
das ações respectivas à área de atuação.
Segundo Bergson, citado por Gérard Leblun: "decerto é preciso adotar a linguagem
do entendimento, visto que somente o entendimento tem uma linguagem.” (BERGSON, 2006;
apud: LEBLUN, 2006)
Em uma ordem globalizada, em que o ambiente empresarial não fica adstrito a
apenas um Estado, ou seja, a apenas um ambiente normativo, torna-se essencial a elaboração
de conceitos universais, que possam ser recepcionados em qualquer ordenamento. A
inexistência de conceitos universais neste contexto geraria uma série de conflitos,
principalmente entre as empresas denominadas multinacionais e as diversas legislações a que
estão submetidas.
A harmonização das relações no mercado, sob este prisma, depende da
universalização de alguns conceitos. Como dito, a padronização da linguagem é
imprescindível para que haja o entendimento ou apreensão dos seus signos de valor ou
conteúdo etimológico e funcional; ou seja, a conceituação das principais diretrizes
comportamentais das empresas, através do instituto da Governança Corporativa, faz-se
necessário para guiar os diversos ordenamentos para um fim comum.
Porém, é preciso fazer um alerta. A conceituação de qualquer instituto, jurídico ou
não, em nenhuma hipótese significa uma proposição estanque. Quer se demonstrar com esta
afirmação que “conceito”, em sentido amplo, não quer significar a apreensão completa de seu
objeto de estudo. O “conceito”, nos dizeres de Gérard Lebrun (LEBRUN, 2006), ao analisar a
perspectiva hegeliana, não pode ser visto como “um monarca absoluto e bonachão”.
“Conceito”, portanto, nada mais é do que a produção de significações por meio da
qual nós representamos todas as coisas. Mas, a coisa em si não cabe em sua totalidade dentro
de um simples conceito. “Evitemos ao contrário essa recaída na Representação e deixaremos
de exigir que o conceito realize proezas”. (LEBRUN, 2006)
Tanto a Natureza quanto o Direito (tendo por este uma ciência construída pelo
homem) não possuem como característica essencial a imutabilidade, ao contrário, seus
fenômenos se desenvolvem e evoluem constantemente. Desta forma, impossível propor um
conceito que engesse essa mobilidade, ou que preveja todos os desdobramentos desta.
A dinâmica na alteração dos conceitos ou definições, mormente na área jurídica, se
faz presente a luz do contexto sociocultural ao qual nos submetemos e devemos nos adaptar.
Por mais que na área do Direito convivamos com certa lassidão ou mesmo leniência
intelectual em relação ao que foi decidido ou definido - mesmo porque buscar alternativas
conceituais não é uma tarefa das mais tranquilas por exigir ingente esforço dogmático e
reflexão sistêmica - nos vemos periodicamente premidos a confrontar o que foi conceituado
por outrem em contexto temporal e social diferenciado- com os nossos valores e conjuntura
periódica delimitada. A mudança, sem embargo se revelar lentamente e frequentemente de
forma imperceptível, até mesmo por uma questão de segurança e aversão natural a rupturas,
num padrão mínimo de sintonia entre o que se propõe e o que o mundo ou os fatos revelam,
se faz indispensável sob pena de cristalizarmos pensamentos e, consequentemente, ações daí
decorrentes.
Interessante notar que mesmo que não haja, sobretudo na área jurídica, alterações ou
modificações de monta na definição ou conceito gramatical e expresso de institutos, seja na
doutrina, onde é mais comum - onde a divergência e aporia no léxico é mais contumaz - seja
na própria legislação onde a definição de institutos jurídicos é figura pouco frequente; o que
se percebe, mais rotineiramente, é a eleição do método de interpretação de dado conceito ou
definição de instituto jurídico. Isto ocorrerá conforme seja o campo de análise e apreensão do
conceito correlacionado ou contextualizado com o que se pretenda interpretar ou mesmo
firmar juízo de valor. Em suma, os métodos existentes de interpretação permitiriam ao
exegeta dar ao conceito ou definição um colorido ou matiz ao seu alvedrio, conforme o
resultado que pretenda chegar. Isto nos parece sinalizar uma possibilidade, um tanto quanto
temerosa a depender do poder de decisão de quem assim o pratica e o desenrolar originário
desta interpretação.
Portanto, o presente trabalho não tem a pretensão de apresentar qualquer
conceituação estanque e exauriente do instituto da Governança Corporativo, porquanto, como
demonstrado, a proposição de qualquer conceituação definitiva, em verdade, se apresenta
como uma verdadeira falácia.

DIRETRIZES PARA UMA POSSÍVEL CONCEITUAÇÃO

A construção de todo e qualquer conceito deve ser feita com método, através de uma
cuidadosa pesquisa científica. Sem a observância de uma metodologia corre-se o risco de o
conceito proposto não passar de uma mera expressão da intuição, nada mais do que uma
expressão do conhecimento comum, ordinário.
Edson Schroeder, (SCHROEDER, 2007) ao analisar o processo de construção dos
conceitos, através da análise dos conceitos espontâneos e dos conceitos científicos, cita
Vygotsky, para quem a construção conceitual não é um processo passivo ou uma simples
formação por associação: “o conceito não é simplesmente um conjunto de conexões
associativas que se assimila com a ajuda da memória, não é um hábito mental automático,
mas um autêntico e completo ato do pensamento”. (VYGOTSKY, 1993)
Ele reforça ainda que um conceito não se constrói apenas com o estabelecimento
mecânico entre uma palavra e um objeto, mas trata-se de um processo eminentemente
produtivo e não reprodutivo. (SCHROEDER, 2007)
A metodologia, portanto, tem o condão de transformar os conhecimentos intuitivos
em conhecimentos científicos.
Assim, propomos para a conceituação de Governança Corporativa o seguinte
processo de investigação: inicialmente a delimitação do conhecimento comum, da intuição;
em seguida a localização do tema proposto no tempo e no espaço; por fim a delimitação do
objeto estudado. Para tanto, serão verificados os métodos epistemológicos, semânticos e
análogos.
O primeiro passo, portanto, para tentarmos conceituar Governança Corporativa é
delimitar o conhecimento comum acerca do tema, a forma como vem sendo utilizado e os
problemas encontrados nas ulteriores tentativas de conceituação.

O DESAFIO DA CONCEITUAÇÃO
A Governança Corporativa, embora atualmente seja um instituto consagrado, não
possui até a presente data um conceito que possa ser considerado universal.
A dificuldade na delimitação da conceituação da Governança Corporativa deriva de
sua grande abrangência e das inúmeras possibilidades de enfoque e significação. A
abrangência da Governança é um entrave à sua conceituação uma vez que pode remontar a
questões legais, como as que regem o Direito Societário e sucessório, questões financeiras ou
estratégicas, ou mesmo questões de gestão. Ou seja, a Governança Corporativa não se limita a
apenas uma área do conhecimento, pois ela é um instituto que podemos chamar de
multidisciplinar, que apresenta influências no meio jurídico, administrativo e econômico.
Não fosse o bastante, a acepção de Governança Corporativa também pode encontrar
variações em virtude do meio em que está inserida. As diversidades culturais influenciam
diretamente nos modelos de gestão e nas realidades empresarias, porquanto cada país
apresenta uma tipologia de empresa distinta (predominância de empresas familiares,
companhias abertas ou fechadas, dimensão das empresas, entre outros aspectos), afetando,
portanto, a compreensão do que seja Governança Corporativa em cada região do mundo.
Nesse sentido, preleciona José Guimarães Monforte:

A governança corporativa não se apresenta com um desenho único, uniformemente


aplicável, igual em todos os países. Por isso, há várias interpretações disponíveis e
também vários conceitos. Além disso, ela envolve questões legais,
macroeconômicas, financeiras, estratégicas e de gestão, amarradas às diferentes
condições culturais dos países.(MONFORTE; citado por RESSETI, 2012)

É importante ressaltar que a inexistência de um conceito fortemente delimitado não


representa nenhum entrave à consolidação da Governança Corporativa. Ao contrário, na
conjuntura atual é possível afirmar que este instituto venceu àqueles que acreditavam tratar-se
apenas de um simples modismo de gestão. Sua importância é reconhecida mundialmente por
organizações multilaterais de renome e prestígio como a Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Esconômico – OCDE, o Fundo Monetário Internacional – FMI, o Banco
Mundial e a própria Organização das Nações Unidas – ONU. (RESSETI, 2012)
As chamadas boas práticas de Governança Corporativa são reconhecidas como
fundamentais para que as corporações consigam realizar seus objetivos de forma sustentável,
sendo essenciais no controle dos riscos dos investimentos nas empresas abertas. Nesse
sentido:
“a governança corporativa é um dos mais novos e importantes pilares da arquitetura
econômica global”. E, para a OCDE, “a governança corporativa é um dos
instrumentos determinantes do desenvolvimento sustentável, em suas três dimensões
– a econômica, a ambiental e a social.” (RESSETI, 2012)

Ante ao panorama apresentado, tem-se que não existe, como acima ressaltado,
nenhum conceito uno, global e definitivo de Governança Corporativa. Porém, no plano
teórico, diversas foram as tentativas de delimitar o tema de forma abrangente e simplificada,
objetivando ao menos especificar os pontos comuns a todas as realidades empresariais.
Nesse sentido, uma das primeiras vezes que a expressão Governança Corporativa foi
utilizada na acepção atualmente conhecida foi atribuída a Robert Monks, nos Estados Unidos
em 1991. Monks acreditava que “a empresa que conta com o monitoramento eficaz dos
acionistas adiciona mais valor e gera mais riqueza que aquela que não dispõe de tal recurso.”
(MONKS, 1992; RESSETI, 2012)
Monks publicou diversas obras que divulgavam os ideários de governança, como por
exemplo “Power and accountability”, publicada em 1992 e “Corporate Governance”,
publicado em 1995, obra esta que se propõe a ser um manual de governança que apresenta
uma série de exemplos práticos ocorridos em empresas americanas e de outros países. Este foi
o primeiro livro intitulado Governança Corporativa.
Não obstante, a árdua tentativa de conceituar este instituto coube também aos
chamados Códigos de Melhores Práticas de Governança Corporativa. O primeiro código de
melhores práticas foi definido em 1992 na Inglaterra, o chamado Cadbury Report, segundo o
qual:

“Corporate governance is the system by which companies are directed and


controlled.”
Cadbury Report, Report 2.5 (U.K.)

Todavia a primeira vez que uma organização mundial buscou não apenas
conceituar, mas também promover a Governança Corporativa foi em 1999, com a primeira
edição dos Principles of Corporate Governance, pela Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico – OCDE.

Corporate governance is one key element in improving economic efficiency and


growth as well as enhancing investor confidence. Corporate governance involves a
set of relationships between a company’s management, its board, its shareholders
and other stakeholders. Corporate governance also provides the structure through
which the objectives of the company are set, and the mesn of attaining those
objectives and monitoring performance are determined. Good corporate governance
should provide proper incentives for the board and management to pursue objectives
that are in the interests of the company and its shareholders and should facilitate
effective monitoring. (OCDE, 2004)

Em revisão aos princípios, em publicação datada de 2004, a OCDE reconhece a


inexistência de apenas um modelo universal de Governança Corporativa ante as disparidades
culturais e mercadológicas. Em seu trabalho a OCDE busca apontar os elementos comuns que
podem ser encontrados na maior parte dos modelos de governança existentes. Todo o trabalho
do Principles of Corporate Governance baseia-se nesses pontos em comuns, chamados
princípios de boa governança.
No referido trabalho a OCDE ressaltou o fato de que tais normas de boa conduta não
estão necessariamente nas legislações. Seu propósito é apenas servir como ponto de
referência, como um modelo ético a ser seguido, tendo cada nação o livre arbítrio de incluir
estas normas de forma cogente em seu ordenamento ou não, de acordo com a realidade
econômica, social, legal e cultural própria.

There is no single model of good corporate governance. However, work carried out
in both OECD and non-OECD countries and within the Organisation has identified
some common elements that underlie good corporate. The principles build on these
common elements and are formulated to embrace the different models that exist.
(OCDE, 2004).

Um estudo elaborado pela Weil, Gotshal & Manges LLP3, em parceria com a
European Association of Securities Dealers – EASD e a European Corporate Governance
Network – ECGN, relacionou os seguintes principais conceitos de Governança Corporativa de
países membros da União Europeia:

‘Corporate governance’ refers to the set of rules applicable to the direction and
control of a company.
Cardon Report, 2 (Belgium)

[Corporate governance is] the organisation of the administration and management of


companies.
Recommendations of the Federation of Belgian Companies, Foreword

[Corporate governance is] [t]he goals, according to which a company is managed,


and the major principles and frameworks which regulate the interaction between the
company’s managerial bodies, the owners, as well as other parties who are directly

3
Weil, Gotshal & Manges LLP. Comparative Study Of Corporate Governance Codes Relevant to the European
Union And Its Member States. Disponível em: <
http://ec.europa.eu/internal_market/company/docs/corpgov/corp-gov-codes-rpt-part1_en.pdf> Acesso em:
15 de Abril de 2013.
influenced by the company’s dispositions and business (in this context jointly
referred to as the company’s stakeholders). Stakeholders include employees,
creditors, suppliers, customers and the local community.
Nørby Report & Recommendations, Introduction (Denmark)

Corporate governance describes the legal and factual regulatory framework for
managing and supervising a company.
Berlin Initiative Code, Preamble.

Corporate Governance, in the sense of the set of rules according to which firms are
managed and controlled, is the result of norms, traditions and patterns of behaviour
developed by each economic and legal system.
Preda Report, Report § 2 (Italy)

[T]he concept of Corporate Governance has been understood to mean a code of


conduct for those associated with the company consisting of a set of rules for sound
management and proper supervision and for a division of duties and responsibilities
and powers effecting the satisfactory balance of influence of all the stakeholders.
Peters Report, §1.2 (Netherlands)

Corporate Governance is used to describe the system of rules and procedures


employed in the conduct and control of listed
companies.
Securities Market Commission Recommendations, Introduction (Portugal)

O reconhecimento da ausência de definição exata é analisada não apenas pela


doutrina internacional, mas também brasileira. Porém, vários autores buscam, por meio dos
pontos em comum existentes entre os diversos modelos, delimitar o conceito de governança.
Nesse sentido, Paulo César Gonçalves Simões em sua obra “Governança Corporativa e o
exercício do voto nas S.A.” aponta a inexistência de um conceito jurídico definido.

Não existe ainda uma noção jurídica do termo governança corporativa, que designa,
em geral, uma tendência, ainda em plena evolução nos mercados de capitais, de
melhorar as relações entre os agentes de poupança pública, que circula nesses
mercados, e os detentores do poder nas empresas para onde é canalizada esta
poupança.

A evolução desta tendência, entretanto, tem ocorrido de forma acelerada e cada vez
mais abrangente em face do fenômeno da globalização, alterando paradigmas,
criando novos comportamentos e exigências por parte dos agentes, provocando o
surgimento de novos mecanismos e instrumentos de mercado, influenciando
alterações legislativas, suscitando debates acadêmicos no campo das várias ciências
sociais, transformando-se enfim, talvez num dos primeiros fenômenos
socioeconômicos efetivamente característicos do mundo globalizado. (SIMÕES,
2003)

Arnold Wald, por sua vez, tenta delimitar um conceito de governança sob o enfoque
da Administração de empresas,

(...) do ponto de vista técnico podemos dizer que o conjunto de medidas que
assegura o funcionamento eficiente, rentável e equitativo das empresas deve
assegurar a prevalência do interesse social sobre os eventuais interesses particulares
dos acionistas, sejam eles controladores, representantes da maioria ou da minoria.
Trata-se, portanto, da criação do Estado de Direito dentro da sociedade anônima, em
oposição ao regime anterior de onipotência e de poder absoluto e discricionário do
controlador ou do grupo de controle. (WALD)

Em que pese tal indefinição, a maioria das tentativas de conceituação permeiam a


ideia de gestão. As definições existentes, mais ou menos abrangentes geralmente relacionam-
se com a forma de exercício do controle da companhia, a relação entre capital e
administração, enfim, com a gestão da companhia.
O IBGC, na quarta edição do Código das Melhores Práticas de Governança
Corporativa4 apresenta o seguinte conceito de Governança Corporativa:

Governança Corporativa é o sistema pelo qual as organizações são dirigidas,


monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprietários,
Conselho de Administração, Diretoria e órgãos de controle. As boas práticas de
Governança Corporativa convertem princípios em recomendações objetivas,
alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor da organização,
facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para sua longevidade.

Pelo conceito supra, extraem-se as principais características da Governança


Corporativa. O objetivo da governança para o IBGC seria alcançar a maior perenidade da
empresa. Seus princípios e recomendações são os instrumentos para vencer o grande
obstáculo à longevidade das empresas, que são os problemas de relacionamento entre os
proprietários e seus executivos, ou o chamado conflito de agência.
O conceito do IBGC, entretanto, é genérico e não pode ser considerado como um
conceito eminentemente jurídico de Governança Corporativa.
De fato, no âmbito jurídico, para garantir a perenidade do negócio e favorecer o
excelente relacionamento entre os sócios controladores e minoritários, administradores e
demais stakeholders das sociedades empresárias, o conceito de Governança Corporativa
apresenta-se muito mais amplo do que o proposto pelo IBGC.

GOVERNANÇA E TERRITORIALIDADE

A primeira crítica comum feita aos conceitos de Governança Corporativa, citados


ulteriormente, é a de que a realidade empresarial é distinta em cada Estado-nação5. Para estes

4
IBGC, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Código das Melhores Práticas de Governança
Corporativa. Disponível em: < http://www.ibgc.org.br/CodigoMelhoresPraticas.aspx> Acesso em 16 de Abril
de 2013.
críticos é impossível a elaboração de um conceito universal de Governança Corporativa, uma
vez que, embora as relações modernas no mercado sejam cada vez mais globalizadas, os
modelos empresariais e de gestão não estão padronizados, unificados.
Porém, esta premissa não é inteiramente verdadeira. Embora cada mercado possua
suas peculiaridades, alguns dominados por empresas pulverizadas, de grande porte, outras
marcadas pelas empresas familiares, de poder concentrado e por vezes não listada em bolsa,
ainda assim é possível a realização de um conceito de Governança.
O instituto da Governança Corporativa se aplica indistintamente tanto ao mercado
acionário quanto às empresas de capital fechado, como a sociedade anônima não listada em
bolsa, ou mesmo as empresas que adotaram outro formato, como a sociedade limitada.
Então, uma vez que podemos aplicar os preceitos de Governança em diversas
realidades, não é crível que estas diferenças possam engessar a criação de um conceito. Se os
preceitos de Governança são universais, nada mais crível do que a construção de um conceito
igualmente universal.
Os preceitos de Governança são os mesmos em todo o globo, sempre se baseiam na
transparência (disclosure), equidade (fairness), prestação de contas (accountability), e
cumprimento do ordenamento (compliance). Estes princípios apontam as diretrizes que devem
ser seguidas tanto pelas empresas quanto pelo Estado ao editar normas de mercado.
O que varia, em verdade, é o conteúdo destes princípios. Cada Estado deve adequar
estes princípios à sua realidade. Ou seja, cada Estado, cada mercado dá um enfoque maior a
determinados princípios em virtude de sua realidade, mas tal fato de maneira alguma
descaracteriza o instituto.
Um forte indício que demonstra a universalidade dos preceitos de Governança
Corporativa é o relatório da OCDE intitulado Principles of Corporate Governance, revisado
em 2004 e que se propõe a ser um modelo ético a ser seguido por todo o meio empresarial,
podendo ou não ser incluído nos respectivos ordenamentos jurídicos. Este relatório é um
verdadeiro guia dos princípios de governança, apontando inclusive as implicações de sua
adoção. E, ao analisá-lo fica evidente que não há nenhum entrave a adoção de suas diretrizes
por nenhum Estado, qualquer que seja o modelo empresarial dominante. (OCDE, 2004)

5
Neste trabalho entende-se por Estado uma instituição organizada politicamente, socialmente e
juridicamente, ocupando um território definido, normalmente onde a lei máxima é uma Constituição
escrita, e dirigida por um governo que possui soberania reconhecida tanto interna como externamente.
E mais, para a conceituação de Governança Corporativa é dispensável que se esmiúce os
desdobramentos de cada um de seus princípios. Não é necessário definir dentro do conceito de
governança quais os desdobramentos do princípio da transparência, quantos relatórios anuais
serão necessários ou como deverá ser feita a auditoria independente. Este é o papel do Estado
e do ordenamento jurídico e não uma tarefa para o conceito. Esta é a principal razão para que,
a diferença de mercado em cada Estado do globo não afete o conceito universal.
Assim, temos que a Governança Corporativa é um instituto universal, que pode ser
aplicado no mercado indistintamente.

DO SIGNIFICADO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA

Do latim governança, gubernatione, significa ato de governar. No substantivo,


governo. (FERREIRA, 1996)
Porém, contrapondo a ideia epistemológica de que governança seria o sinônimo de
governo, na análise semântica encontramos significado oposto. Como ensina Rosenau

governança não é o mesmo que governo (...) governo sugere atividades sustentadas
por uma autoridade formal, pelo poder de polícia que garante a implementação das
políticas devidamente instituídas, enquanto governança refere-se a atividades
apoiadas em objetivos comuns, que podem ou não derivar de responsabilidades
legais e formalmente prescritas e não dependem, necessariamente, do poder de
polícia para que sejam aceitas e vençam resistências. (ROSENAU, 2000; citado por:
GONÇALVES, 2005)

Semanticamente analisado o termo “governança” parece mais preciso à ideia que o


instituto sob análise pretende passar, porquanto a Governança Corporativa prescinde de
ratificação legal para existir.
Mesmo antes de sua eficácia ser reconhecida pelos Estados e influenciar os
ordenamentos jurídicos a Governança Corporativa já mostrava sua força no ambiente
empresarial. Sua adoção pela empresas em geral decorria exclusivamente das forças da lex
mercatoria. As empresas que optavam por seguir seus preceitos o faziam pelo objetivo
comum de alcançar perenidade e atrair investimentos a baixo custo.
Portanto, ainda que atualmente a Governança Corporativa possa contar com o
aparato do ordenamento jurídico, políticas públicas de incentivo, e seja sustentada por
instituições como o IBGC, a OCDE, a BOVESPA, utilizando-se inclusive do poder de
polícia, ela prescinde destes instrumentos. Sua existência não está subordinada à existência
destes. Portanto, a ideia de “governança” não se confunde com o conceito de “governo”.
O conceito de “governança” é muito mais amplo do que o de “governo”, abrangendo
mecanismos não governamentais e mecanismos informais para modelar a conduta das
empresas no mercado, satisfazendo seus valores morais e atingindo a função social almejada.
Nos dizeres de Alcindo Gonçalves a “governança” seria um meio, um processo capaz
de produzir resultados eficazes, sem necessariamente a utilização expressa da coerção.
(GONÇALVES, 2005)
Em que pesem todas as justificativas ao uso do termo “governança”, no Brasil temos
que este termo pode causar algum distanciamento de seus cidadãos. É que o termo
“governança” não é de uso comum do brasileiro médio, ao contrário, pouco usual, causa
estranheza quando ouvido pela primeira vez e para aqueles que não estão afetos às suas
implicações. Para eles tal termo pode não ter nenhum significado ou então ser confundido
com o significado de “governo”, o que, como demonstrado, seria impreciso.
Mesma crítica feita ao uso do termo “governança”, cabe ao uso do termo
“corporativa”. Este termo induz a um pensamento equivocado de que suas premissas apenas
abrangem às companhias abertas, não tendo nenhuma valia às companhias fechadas, ou às
empresas que adotem outro formato que não o de sociedade anônima. Esta afirmação é
equivocada porque, conforme visto, a Governança Corporativa busca traçar regras de conduta
coadunadas com a ética e com a transparência que podem e devem nortear qualquer tipo
empresarial.
Todavia, em que pesem as inconveniências da nomenclatura supracitadas, este foi o
nome eleito pela mídia, instituições e pelo meio acadêmico brasileiro, já estando devidamente
consolidado no ambiente empresarial.

DO OBJETO DA GOVERNANÇA CORPORATIVA

Ainda que pareça uma questão simples de ser respondida, o objeto da Governança
Corporativa não é colocado na doutrina de forma tão clara e inequívoca. O instituto Brasileiro
de Governança Corporativa, o IBGC, atribui como objeto da Governança a solução do
chamado conflito de agência.
Ao descrever a origem da Governança Corporativa no mundo, o IBGC delimita o seu
objeto afirmando:

Conceitualmente, a Governança Corporativa surgiu para superar o "conflito de


agência", decorrente da separação entre a propriedade e a gestão empresarial. Nesta
situação, o proprietário (acionista) delega a um agente especializado (executivo) o
poder de decisão sobre sua propriedade. No entanto, os interesses do gestor nem
sempre estarão alinhados com os do proprietário, resultando em um conflito de
agência ou conflito agente-principal.

A preocupação da Governança Corporativa é criar um conjunto eficiente de


mecanismos, tanto de incentivos quanto de monitoramento, a fim de assegurar que o
comportamento dos executivos esteja sempre alinhado com o interesse dos
acionistas. (IBGC, 2013)

Em seguida o IBGC finaliza a exposição sobre a origem do instituto afirmando que a


boa Governança proporciona uma gestão estratégica com a finalidade de assegurar o controle
da propriedade, evitar abusos de poder, fraudes e erros estratégicos.
Porém afirmar que o objeto da Governança Corporativa é sanar o chamado “conflito
de agência” trata-se de uma visão muito simplista acerca das eficiências deste instituto. O
objeto da Governança é muito mais amplo a atende a uma gama muito maior de interesses
dentro de uma empresa.
Ao adotar as linhas mestras de Governança o empresariado espera, em linhas gerais,
aperfeiçoar os instrumentos de gestão. Esta otimização busca não apenas melhorar o
relacionamento entre gestores e stakeholders, ou entre a empresa e os shareholders, mas
também busca aumentar a eficiência da empresa. Busca atrair investidores a um custo mais
baixo, conferindo maior credibilidade ao nome da empresa.
A Governança também se presta a organizar a sucessão na gestão empresarial em
empresas familiares, sendo de grande utilidade para empresas fora do mercado de ações.
Ou seja, uma vez que a Governança Corporativa demonstra sua eficiência em
empresas de capital fechado, em grupos familiares ou em sociedades limitadas, seria errado
admitir que seu objeto seja, tão somente, alinhar os interesses de investidores e gestores. Tal
concepção limitaria muito o campo de atuação da Governança Corporativa e não se
coadunaria com o uso que as empresas vêm fazendo deste instituto modernamente.
O próprio IBGC realizou estudos recentes demonstrando a aplicação da Governança
Corporativa em empresas familiares não listadas em bolsa. O estudo6 busca entender as
motivações, dificuldades, experiências e lições aprendidas durante todo o processo de
desenvolvimento da Governança. Foram agrupados relatos de empresas de São Paulo:
Sasazaki, Mazzaferro e Cerradinho.
Porém, em todas estas eficiências buscadas ao se aderir a Boa Governança temos um
denominador em comum: a perenidade.

6
IBGC, instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Casos de empresas familiares não listadas. Disponível
em: http://www.ibgc.org.br/EstudoCasos.aspx?CodEstudo=4. Acesso em: 17 Ago 2013.
Ao buscar maior eficiência na gestão da empresa, o empresariado busca, em verdade,
munir-se de instrumentos capazes de vencer os desafios impostos pelo mercado de modo a
garantir sua sobrevivência. Ao montar um empreendimento o sujeito o faz esperando que ele
obtenha sucesso, ou seja, que ele se mantenha prospero ao longo dos anos.
A Governança, neste sentido apresenta-se como um modelo de gestão aparelhado
para vencer os desafios modernos impostos ás empresas.
Ao propor uma forma de harmonizar os interesses das partes relacionadas (gestores,
shareholders e stakeholders) a Governança Corporativa pretende sanar a principal causa de
fechamento das empresas. É impossível uma empresa ser bem sucedida quando existem
diversas ações judiciais entre investidores e administradores engessando a tomada de
decisões. É impossível a uma empresa obter sucesso quando seus empreendimentos são
embargados por ações públicas.
A grande inovação da Governança Corporativa reside no fato dela demonstrar
através de seus princípios que não há perenidade na empresa, é impossível ela se perpetuar,
sem que seja atendida a função social da empresa. Trata-se de um importante instrumento
moralizador do ambiente empresarial, pois ensina preceitos morais básicos como a lealdade,
através do princípio da transparência e da equidade; adequação às normas em geral;
responsabilidade, através da prestação de contas periódica7.
Neste contexto, o conflito de agência, embora seja um fator muito importante, não
pode ser visto como o objeto da Governança Corporativa. O grande objetivo da Governança,
seu verdadeiro propósito nada mais é do que a perenidade da empresa. Superar o conflito de
agência nada mais é do que uma forma de garantir a perenidade da empresa.

CONCLUSÃO

Para a delimitação de qualquer conceito científico é imperiosa a observância do


método. Ainda que preliminarmente o conceito tenha por base a intuição, a ela deve seguir a
pesquisa científica criteriosa, com a delimitação espacial do conceito, seu objeto e
abrangência.

7
Muitos defendem que a Governança Corporativa se traduz em preceitos de eficiência que não se
confundiriam com o conceito de moral. Todavia, no presente trabalho, entendemos que tais conceitos não se
excluem, ao contrário. É aí que reside a grande inovação do instituto da Governança Corporativa, reunir
eficiência e moral, mostrar ao empresariado como que atuar de maneira correta, respeitando os seus
acionistas, conferindo-lhe direitos iguais, agindo com lealdade ao prestar contas aos investidores, ao coibir
fraudes e responsabilizar os gestores, pode sim traduzir em eficiência e, porque não, em lucro.
Para a elaboração do conceito de Governança Corporativa não é diferente. Ficou
demonstrado que é possível estabelecer uma conceituação una, global ou universal. O fato de
os Estados não caracteriza um entrave à formação de um conceito universal de Governança
Corporativa.
Em que pesem todas as diferenças do setor empresarial em cada Estado, os princípios
gerais de Governança Corporativa, norteadores do comportamento empresarial conforme a
moral e os interesses primeiros da empresa (otimização da gestão, primando pela perenidade
desta), são sempre os mesmos. Tanto é verdade que a OCDE, reconhecendo os pontos comuns
a todos os sistemas publicou o Principles of Corporate Governance. Referida obra apresenta
as principais diretrizes para as empresas que desejam adotar os princípios de boa Governança,
não havendo nenhuma restrição a tipo empresarial ou modelo de mercado.
A Governança diz respeito aos meios e processos que são utilizados para produzir
resultados eficazes. E, sendo assim, cada Estado tem a liberdade de melhor adequar
os preceitos de Governança à sua realidade.
Delimitado o limite territorial de abrangência, foi especificado, ainda o objeto de
Governança Corporativa. Um objeto amplo, que através de vários objetivos subsidiários,
como a solução do conflito de agência, a promoção da função social, busca como finalidade
máxima alcançar a perenidade das empresas.
Governança Corporativa, neste contexto, nada mais é do que uma pluralidade de
preceitos morais, normatizados ou não, de transparência, equidade, prestação de contas e
conformidade com a lei, norteadores da gestão empresarial, voltados para a garantia da
perenidade da empresa. E, em última instância, permitir que cumpra papel fundamental no
desenvolvimento da própria sociedade capitalista, preponderante no mundo contemporâneo,
calcada na existência da excelência dos mecanismos de ações cujo resultado terá repercussão
concreta e direta na vida de todos nós.

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