Identificar e Fertilizar Solos

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INSTITUTO POLITÉCNICO MAKHETELE

ENSINO TÉCNICO MÉDIO PROFISSIONAL


CV3 EM AGROPECUÁRIA
CAIA

Identificar e Fertilizar
os Solos
Manual do Formando

João Conde Jossefa


Caia, 2023
FICHA TÉCNICA

AUTOR

João Conde Jossefa

_______________________________
(Engenheiro Agrónomo)
[email protected] ou [email protected]

REVISÃO GRÁFICA

Instituto Politécnico Makhetele-Caia; 1ª Edição, 2023

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APROVAÇÃO

Orácio Pedro Chaúque (Director Geral)

_________________________________________
(Engenheiro Agrónomo)
[email protected]
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ..................................................................................... 7
RESULTADO DE APRENDIZAGEM-1 ................................................... 8
DEMONSTRAR COMPREENSÃO SOBRE PROCESSOS DE FORMAÇÃO
E COMPOSIÇÃO, PERFIL E MORFOLOGIA DO SOLO .......................... 8
1.1. Conceitos do solo ....................................................................... 9
1.2. Funções do solo ......................................................................... 9
1.2.1. Funções de natureza ecológica ............................................. 9
1.2.2. Funções de natureza sócio-económica ................................ 10
1.2.3. Funções de natureza Agro-pecuária.................................... 10
1.3. Factores e Processos de formação do solo ................................. 11
1.3.1. Origem do solo ................................................................... 11
1.3.2. Formação do solo ............................................................... 11
1.3.3. Factores de formação do solo ............................................. 12
1.3.4. Processos de formação do solo............................................ 13
1.4. Perfil e morfologia do solo ........................................................ 14
1.5. Composição do solo ................................................................. 18
1.5.1. Humidade gravimétrica ...................................................... 19
1.5.2. Humidade volumétrica ....................................................... 19
1.6. Recolha e preparação de amostras do solo para análise ............ 22
1.6.1. Amostras não perturbadas ................................................. 22
1.6.2. Amostras perturbadas ........................................................ 23
1.6.3. Identificação das amostras ................................................. 24
1.6.4. Apresentação dos resultados analíticos .............................. 24
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO .................................................... 26
RESULTADO DE APRENDIZAGEM-2 ................................................. 27
DEMONSTRAR CONHECIMENTOS SOBRE AS PROPRIEDADES
FÍSICAS DO SOLO E SUA CLASSIFICAÇÃO ....................................... 27
2.1. Propriedades físicas do solo ..................................................... 28
2.1.1. Textura do solo .................................................................. 28
2.1.2. Estrutura do solo ............................................................... 29
2.1.3. Densidade do solo .............................................................. 31
2.1.4. Porosidade do solo ............................................................. 32
2.1.5. A consistência do solo ........................................................ 34
2.2. Propriedades físicas e suas influências no maneio dos solos ..... 35
2.3. Determinação da textura do solo .............................................. 39
2.3.1. Métodos directos ................................................................ 39
2.3.2. Métodos indirectos ............................................................. 41
2.4. Disponibilidade de água no solo ............................................... 43
2.4.1. Retenção da água no solo ................................................... 43
2.5. Agrupamentos de solos ............................................................ 48
2.5.1. Tipos de solos em Moçambique segundo FAO ..................... 49
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO .................................................... 50
RESULTADO DE APRENDIZAGEM-3 ................................................. 51
DEMONSTRAR COMPREENSÃO SOBRE AS PRINCIPAIS FONTES DE
FERTILIDADE DO SOLO, A IMPORTÂNCIA E PAPEL DA APLICAÇÃO DE
NUTRIENTES NO SOLO NA PRODUÇÃO DAS CULTURAS E MÉTODOS
PARA MELHORAR A FERTILIDADE DO SOLO ................................... 51
3.1. Origem dos nutrientes e composição química do solo ............... 52
3.1.1. Principais minerais das fracções de Silte e Areia ................. 52
3.1.2. Principais Óxidos da fracção de argila ................................ 53
3.1.3. Composição química do solo .............................................. 53
3.1.4. Matéria orgânica do solo .................................................... 57
3.1.5. Funções da matéria orgânica do solo .................................. 57
3.2. Elementos essenciais para o crescimento das plantas .............. 58
3.2.1. Factores que influenciam na retenção dos nutrientes no solo
.................................................................................................... 59
3.3. Principais funções de nutrientes nas plantas ........................... 61
3.4. Interpretação dos resultados de análises químicas do solo ...... 61
3.4.1. Teores de argila, matéria orgânica, macro e micronutrientes
.................................................................................................... 61
3.5. Sintomas de defifiência de nurientes nas plantas ..................... 65
3.5.1. Classificação dos nutrientes quanto a mobilidade ................. 65
3.5.2. Deficiência de Nitrogênio (N) nas plantas ............................ 66
3.5.3. Deficiência de Fósforo (P) nas plantas ................................. 67
3.5.4. Deficiência de Potássio (K) nas plantas ............................... 67
3.5.5. Deficiência de Enxofre (S) nas plantas ................................ 68
3.5.6. Deficiência de Cálcio (Ca) nas plantas ................................ 69
3.5.7. Deficiência de Magnésio (Mg) nas plantas ........................... 69
3.5.8. Deficiência de micronutrientes ........................................... 70
3.6. Aplicação de fertilizantes no solo .............................................. 71
3.6.1. Classificação dos fertilizantes ............................................. 71
3.6.2. Características dos fertilizantes .......................................... 73
3.6.3. Compatibilidade dos fertilizantes ........................................ 74
3.7. Aplicação dos fertilizantes no solo ............................................ 75
3.7.1. Métodos de aplicação ......................................................... 75
3.7.2. Factores que influenciam na aplicação de fertilizantes ........ 81
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO .................................................... 82
RESULTADO DE APRENDIZAGEM-4 ................................................. 83
APLICAR OS NUTRIENTES APROPRIADOS AOS SOLOS OU CULTURAS
......................................................................................................... 83
4.1. Ferramentas para aplicação manual de fertilizantes ................. 84
4.2. Fontes de Nutrientes ................................................................ 84
4.2.1. Fração mineral do solo ....................................................... 85
4.2.2. Microrganismos em simbiose (fixação simbiótica) ............... 85
4.2.3. Microrganismos em vida livre (fixação não simbiótica) ........ 85
4.2.4. Fixação atmosférica ........................................................... 86
4.2.5. Fixação industrial .............................................................. 86
4.2.6. Fixação por combustíveis fósseis ........................................ 86
4.2.7. Matéria orgânica fresca ...................................................... 86
4.2.8. Matéria orgânica do solo (húmus) ....................................... 87
4.2.8. Adubos ou fertilizantes ....................................................... 87
4.3. Cálculos da dosagem de nutrientes a aplicar ............................ 88
4.3.1. Formulação dos fertilizantes............................................... 88
4.3.2. Determinação da quantidade do fertilizante ........................ 88
4.3.3. Formulação de misturas de fertilizantes ............................. 89
4.4. Técnicas de aplicação de fertilizantes ....................................... 92
4.4.1. Adubação do fundo ............................................................ 92
4.4.2. Adubação de cobertura ...................................................... 92
4.5. Factores que influenciam a eficácia de aplicação do fertilizante 93
4.5.1. Época agrícola, Humidade do solo e Precipitação. ............... 93
4.5.2. Estágio de desenvolvimento da cultura ............................... 94
4.5.3. Forma de aplicação ou localização ...................................... 94
4.5.4. Uniformidade da distribuição ............................................. 94
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO .................................................... 95
RESULTADO DE APRENDIZAGEM-5 ................................................. 96
FAZER E UTILIZAR COMPOSTO E ESTRUMES .................................. 96
5.1. Compostagem de resíduos orgânicos ........................................ 97
5.1.1. Conceito de compostagem .................................................. 97
5.1.2. Condições necessárias do local da compostagem ................ 97
5.1.3. Material adequado para o processo de compostagem .......... 98
5.2. Tipos de composteiras .............................................................. 98
5.2.1. Compostagem em pilhas .................................................... 98
5.2.2. Compostagem em leiras ..................................................... 98
5.2.3. Composteira de Cubo ou de Caixa ...................................... 99
5.3. Procedimentos para compostagem ........................................... 99
5.3.1. Monitoramento da temperatura ........................................ 100
5.4. Duração do processo da compostagem ................................... 100
5.5. Factores que influenciam no processo da compostagem ......... 101
5.5.1. Humidade ........................................................................ 101
5.5.2. Aeração ............................................................................ 101
5.5.3. Temperatura .................................................................... 101
5.5.4. Relação C/N..................................................................... 102
5.5.5. Tamanho das partículas ................................................... 102
5.5.6. Sementes, patógenos e metais pesados na compostagem .. 102
5.6. Problemas, causas e solução durante a compostagem ............ 102
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO .................................................. 103
BIBLIOGRAFIA ................................................................................ 104
INTRODUÇÃO
O solo é um recurso muito importante para a vida na terra, pois,
mesmo com os grandes avanços da ciência nos mais diversos campos
de conhecimento, o grau de dependência nos seres vivos com relação ao
solo irá sempre aumentar.
O solo continuará a fornecer e suprir tudo o que comemos e vestimos,
além de uma grande percentagem de medicamentos que podem ser
derivados de plantas cultivadas ou que crescem naturalmente sob
determinados tipos de solos e clima, bem como derivados de alguns
organismos vivos que nele habitam.
O uso dos solos de maneira inadequada pode causar danos ao meio
ambiente e a vida na terra, pois, se mal utilizados, perdem
progressivamente a capacidade de produzirem alimentos, fibras e
energia, necessitando cada vez mais de investimentos em adubos e/ou
correctivos a fim de manter a produtividade antes obtida. Com isso, os
custos para produzir alimentos tornam-se cada vez mais elevados, que
no final de tudo, refletem-se no aumento dos preços dos produtos
alimentícios.
Entretanto, o mau uso dos solos pode levar à contaminação dos
nascentes de rios e lagos e, o próprio solo, reduzindo deste modo a
qualidade de vida do homem na terra.
Desta forma, para se utilizar o solo e os diferentes agroquímicos de
maneira adequada, é necessário conhecê-los, para tal, este manual do
módulo Identificar e Fertilizar os Solos, irá oferecer noções sobre as
características dos diferentes tipos de solos, sua importância para a
vida das pessoas, sua interferência no crescimento das plantas, assim
como o uso dos fertilizantes e correctivos agrícolas de forma
sustentável.

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1
RESULTADO DE APRENDIZAGEM
Demonstrar compreensão sobre
processos de formação e composição,
perfil e morfologia do solo

Neste resultado de aprendizagem, os formandos terão oportunidade


de aprender sobre:
a) Conceito e Funções do solo.
b) Os factores e Processos de formação do solo:
• Factores: Material de origem, clima, relevo, organismo vivo e o
tempo;
• Processos Eólico e Hídrico: Remoção, Transporte ou
Translocação e Adição do material;
• Processo biológico: Transformação ou decomposição do
material;
c) Perfil e Morfologia do solo
• Os horizontes presentes num solo bem desenvolvido;
• A descrição da cor do solo por meio das Cartas de Munsell e
sua importância para a produção agrícola;
d) A Composição do solo:
• Fracção sólida (matéria orgânica e mineral)
• Fracção líquida (solução do solo);
• Fracção gasosa (ar do solo).
e) Recolha e Preparação amostras do solo:
• Amostras perturbadas e não perturbadas;
• Determinação das características físicas e químicas das
amostras do solo.
1.1. Conceitos do solo
Numa perspectiva geológica, ao falar de solo, pode-se pensar no
conceito de rególito, o manto de alteração existente à superfície da terra
resultante do processo de meteorização das rochas. De facto, no
máximo, o solo pode corresponder à totalidade do rególito, mas em
muitos locais é apenas a parte superficial dele.
Muitas vezes o termo “solo” é usado em sentidos diversos do usado nas
Ciências do Solo. Num sentido mais estrito, o solo pode ser entendido
como “material não consolidado, mineral ou orgânico, existente à
superfície da terra e que serve de meio natural para o crescimento das
plantas”.
No entanto, há também que considerar um novo aspecto com relação ao
conceito do solo, que é a sua interacção com a biosfera. Assim sendo,
pode-se dizer que o solo é o resultado da interacção da biosfera com o
rególito.
No geral, o solo é a camada superficial da crosta terrestre, constituída por
partículas minerais, matéria orgânica, água, ar e organismos vivos, que
proporciona meio natural para o crescimento e desenvolvimento de
plantas.
1.2. Funções do solo
É habitual atribuir funções aos solos, sob ponto de vista de natureza
ecológica, sócio-económica e agropecuária.
1.2.1. Funções de natureza ecológica
Sob ponto de vista ecológica, o solo serve como:
a) Meio de Suporte para a produção de biomassa: Está na base da
vida humana e animal uma vez que é ela que assegura o
aprovisionamento em alimentos, bioenergia e produção de fibras.
Assim, o solo é um substrato físico para o sistema radicular das
plantas e, simultaneamente, é um substrato nutritivo que assegura
a utilização de água e outras substâncias necessárias ao crescimento
vegetal.
b) Regulador ambiental: Funciona como filtro, acumulador,
amortecedor e transformador de diversos compostos que circulam
entre a atmosfera, a hidrosfera e os organismos vivos, fazendo parte
integrante do ciclo hidrológico e de outros ciclos biogeoquímicos.
Funciona com um complexo reactor bio-físico-químico onde ocorrem
fenómenos de filtração mecânica, adsorção e precipitação à
superfície de constituintes inorgânicos e orgânicos do solo e
transformações bioquímicas, nomeadamente a mineralização

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(decomposição) de resíduos da actividade biológica até à libertação
dos elementos minerais constituintes e à sua reintegração nos ciclos
biogeoquímicos.
c) Reserva de biodiversidade: Por exemplo, o banco de sementes do
solo, mas também o meio de crescimento e habitat de uma miríade
de organismos, macro e microscópicos, muitos de espécies ainda
desconhecidas, que têm no solo o seu habitat, e que são enorme
manancial genético.
1.2.2. Funções de natureza sócio-económica
Os solos também são necessários para construção de habitações,
desenvolvimento industrial, circulação e transportes, equipamentos de
tempos livres e desportos, recepção de resíduos, etc. Nesta função o
solo é, geralmente, decapado ou impermeabilizado (betonado). Entre as
principais funções sócio-económica temos:
a) Suporte de infra-estruturas (Principalmente vias de comunicação,
mas também edifícios);
b) Fonte de matérias primas (Fornecimento de água, argila, areia,
cascalho, carvão, minerais, turfa, etc, para a produção técnica e
industrial ou para fins sócio-económicos);
c) Suporte de património natural e cultural (Paisagens protegidas,
espaços de lazer, tesouros arqueológicos e paleontológicos, vestígios
paleoambientais).
1.2.3. Funções de natureza Agropecuária
Do ponto de vista agrícola e pecuária, o solo desempenha várias funções
dentro das propriedades químicas, físicas e biológicas, das quais
incluem e não somente:
a) Suportar o crescimento vegetal, proporcionando o meio para o
desenvolvimento das raízes;
b) Fornecer e/ou armazenar nutrientes e água as plantas;
c) Reciclar os resíduos, tecidos vegetais e animais tornando os nutrientes
neles contidos, novamente disponíveis para as plantas.

Dessa forma, considera-se efectivamente que a principal importância


dos solos para a agricultura é o armazenamento de nutrientes e água
para as plantas, protecção, substrato, habitat de organismos e
microrganismos.

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1.3. Factores e Processos de formação do solo
1.3.1. Origem do solo
Os solos têm por origem as rochas, que com o passar do tempo
(séculos) e actuação dos diversos factores, foram-se decompondo até
formar-se solo.
Quanto à origem, os solos são classificados em:
a) Solos residuais: Aqueles que permanecem no local de origem (rocha
mãe) após a sua formação;
b) Solos sedimentares ou transportados: Aqueles que sofrem a acção
dos agentes transportadores, e podem ser aluvionares (quanto o
agente transportador for a água), eólicos (vento) e coluvionares (a
força de gravidade);
c) Solos orgânicos: Aqueles originados a partir da decomposição da
matéria orgânica, que podem ser de natureza animal ou vegetal.
1.3.2. Formação do solo
A formação do solo é o produto de intemperismo, sendo que os seus
agentes estão continuamente em actividade, alterando os solos e
transformando as partículas em outras cada vez menores.
O intemperismo é o conjunto de processos que levam a degradação e
decomposição das rochas, podendo ser de natureza física ou química:

a) O Intemperismo físico: É
composto por processos que
levam à fragmentação da
rocha, sem a modificação
significativa em sua
estrutura química ou
mineralógica e, este, pode
ocorrer em vários processos
como na variação das
temperaturas, crescimento
das raízes, congelamento Figura 1: Intemperismo das Rochas
entre outros. em função do tempo

b) O Intemperismo químico: É o conjunto de reacções que levam à


modificação da estrutura molecular dos minerais que compõe a
rocha. As transformações e as reacções que ocorrem são no sentido
do equilíbrio com o ambiente, sendo as principais reacções químicas
são:

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• Reacção de hidrólise: Transformação dos minerais primários
em minerais secundários pela adição de água de chuva e dos
lençóis freáticos;
• Reacção de oxidação ou redução: Refere-se ao processo de
transferência de electrões, onde o ião receptor do electrão é
reduzido (porque tem o número de oxidação reduzido) e o que
doa electrão é oxidado.
Em solos, a oxi-redução do ferro e do manganês têm maior importância
na origem do solo, enquanto que, a oxi-redução do nitrogénio na
formação do solo.
1.3.3. Factores de formação do solo
Os factores de formação do solo são elementos que estabelecem
condições ou estado do sistema litosfera, atmosfera e biosfera,
existentes na gênese de determinado solo. Os principais factores de
formação do solo são: Material de origem, o Relevo, o Clima, os
Organismos vivos e o Tempo.
a) O Material de origem: Está relacionado principalmente com o grau
de consolidação, granulometria e a composição do material.
Portanto, os solos podem ser originados de:
• Material orgânico: Que dá origem aos solos orgânicos;
• Material mineral (rocha): Que dá origem aos solos minerais.
b) O Relevo: Influencia na redistribuição de água e radiação solar. Por
exemplo: as áreas declivosas são mais susceptíveis a erosão em
relação às planícies. Isso explica-se pela maior taxa de erosão do solo
nas áreas declivosas, enquanto as planícies, geralmente, recebem o
material erodido.
c) O Clima: O clima influencia na humidade e temperatura, sendo
directamente ligado a formação do solo. Regiões com maior
humidade e temperatura tendem a formar solos mais profundos,
devido a acção directa da água e da temperatura no intemperismo do
material de origem e, indirectamente, por promover uma maior
actividade biológica, que também vai actuar neste intemperismo. Já
solos das regiões frias e húmidas, como o caso da maior parte das
zonas de grande altitude em Moçambique, tendem a formar solos
pouco profundos e com alto teor de matéria orgânica.
d) Os Organismos vivos: Apresentam papel fundamental na formação
do solo, pois, estes participam na decomposicao do material de
origem. A ação dos organismos começa tão logo a rocha exposta a
superficie. Assim, inicialmente, colônias de microorganismos se

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estabelecem, à procura de substrato que lhes forneça suporte e
elementos químicos para o seu desenvolvimento.
e) O Tempo: É o que vai condicionar a acção dos demais factores de
formação. Em solos, geralmente, o tempo cronológico não é utilizado
para se falar na “idade” do solo. É observado o grau de
desenvolvimento.
1.3.4. Processos de formação do solo
Os processos de formação do solo são os que produzem as modificações
que ocorrem no solo devido a actuação dos factores de formação do
solo. Dentre os vários processos, os principais são: a adição, a remoção
ou perda, translocação ou transporte e transformação.
a) A adição de materiais: Corresponde a qualquer contribuição
externa ao perfil do solo. Por exemplo, a adição de matéria orgânica
(restos vegetais e animais), poeiras e cinzas trazidas pelo vento,
gases que entram por difusão nos poros dos solos (CO2, O2, N2, etc),
adubos, correctivos, agrotóxicos, adição de solutos pela chuva
(erosão), etc.
b) A remoção ou perdas do material: Corresponde as perdas do
material sofrida por uma determinada porção, tais perdas podem ser
em superfície ou em profundidade. As perdas em superfície,
correspondem a exportação de nutrientes pelas colheitas, perdas por
erosão hídrica ou eólica, etc. As perdas sofridas em profundidade
correspondem a lixiviação de solutos pelo lençol freático, perdas
laterais de soluções ou iões reduzidos (Fe, Mn, entre outros).
c) Translocação ou transporte do material: É caracterizado pelo
movimento de minerais de um ponto para outro dentro do perfil do
solo. Por exemplo, o movimento de argilas e/ou solutos de um
horizonte para outro no perfil, preenchimento de espaços deixados
por raízes decompostas, cupins, minhocas, etc.
d) Transformação do material: Constitui a transformação física e
química (intemperismo) dos constituintes do solo, envolvendo síntese
e decomposição. As transformações físicas incluem quebras de
minerais e rochas, humedecimento ou secagem do solo com quebra
de agregados, compressão provocada pelo crescimento de raízes, etc.
As transformações químicas consistem no processo de intemperismo
(transformação dos minerais em matéria orgânica).

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1.4. Perfil e Morfologia do solo
A palavra Morfologia é originária do grego “morphe” que significa
“forma ou estrutura” e “logia” que significa “estudo”. No entanto,
Morfologia do solo significa estudo da forma ou estrutura do solo.
As características morfológicas do solo são o reflexo dos factores e
processos de formação que acturam durante determinado período de
tempo, sendo o seu conhecimento e a identificação, fundamentais para
a descrição e classificação dos solos.
O Perfil do solo corresponde à secção vertical da superfície do solo até a
rocha. Quando essas secções são individualizadas por atributos das
acções dos processos de formação do solo, denominam-se horizontes ou
camadas (figura-2).
Dos horizontes pedogenéticos, são os principais:
a) Horizonte O: É também
chamado de camada fértil por
ser o mais rico em húmus
(matéria orgânica em
decomposição). Este horizonte
ocorre em condições de boa
drenagem e é constituído de
restos orgânicos e os nutrientes
que as plantas necessitam;
b) Horizonte H: É formado
geralmente em condições de má
Figura-2: Horizontes do perfil solo
drenagem;
c) Horizonte A: Constituído de material encontrado na superfície ou
em sequência a horizontes O ou H, de coloração escurecida. Difere-
se dos horizontes subsequentes pelo maior acúmulo de matéria
orgânica e translocação de componentes minerais. Apresenta intensa
actividade biológica e propriedades químicas, físicas e biológicas
influenciadas pela matéria orgânica;
d) Horizonte E: Caracteriza-se pela perda de argilas, óxidos de ferro e
alumínio ou matéria orgânica, com predomínio de partículas de areia
e silte, devido a translocação de argila, ferro, alumínio ou matéria
orgânica para horizontes subsequentes;

e) Horizonte B: Caracterizado pelo acúmulo de argilas e óxidos de


ferro, o que confere a coloração avermelhada do horizonte. Este
horizonte, contém rochas parcialmente decompostas;

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f) Horizonte C: Horizonte pouco afectado pelos processos
pedogenéticos, ou seja, é composto pela rocha mãe que está
começando se decompor (o rególito);

g) Horizonte R: Constituído de material mineral consolidado, como a


rocha. Não pode ser cortado com uma pá, mesmo quando húmido.

No perfil do solo, faz-se a


descrição das características
internas do solo, como a
espessura, cor, textura, estrutura,
consistência, porosidade, presença
de matéria orgânica, raízes e
demais características, além das
características ambientais do local
onde ocorre o perfil.
Para a caracterização da cor do
solo a campo é conveniente
quebrar os agregados ou torrões
para determinar se a cor é a
mesma por fora e por dentro dos
elementos da estrutura. Depois a
caracterização é feita (pela
comparação com os padrões de
cores constantes na caderneta de
Munsell) em amostras secas, seca
triturada, húmida, e húmida
amassada. Figura-3: Estudo do perfil do solo

Matiz: Cor do espectro da luz


relacionado ao comprimento de
onda de luz.
Valor: Refere-se à luminosidade
relativa da cor.
Croma: É a pureza da cor em
relação à cinza.
Figura 4: Caderneta de Munsell

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Para a selecção correcta da matiz no qual a cor da amostra está
inserida, aconselha-se posicionar a amostra do solo do lado direito da
caderneta de cores aberta. Após seleccionada a matiz, obtém-se as
anotações de valor e croma por comparação directa da amostra de solo
com cada um dos padrões de cores constantes na mesma.
Em poucos casos, a cor da amostra será exactamente igual à da carta,
deve-se então anotar a cor mais próxima. Os nomes das cores dentro
das cartas de Munsell estão em inglês (figura-5), no entanto, a sua
correspondência e português pode ser consultada na Tabela-1 adiante.

Figura-5: Correspondência de nomes da cor na caderneta de Munsell.

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Tabela-1: Correspondência de nomes da cor do solo em português
Correspondência em
Nome da cor Nome da cor Correspondência em português
português
Black Preto Ligth reddish brown Bruno-avermelhado-claro
Bluish gray Cinzento-azulado Ligth reddish gray Cinzento-avermelhado-claro
Bluish black Preto-azulado Light yellowish brown Bruno-amarelado-claro
Brown Bruno Olive Oliva
Brownish yellow Amarelo-brunado Olive brown Bruno-oliváceo
Dark bluish gray Cinzento-azulado-escuro Olive gray Cinzento-oliváceo
Dark brown Bruno-escuro Olive yellow Amarelo-oliváceo
Dark gray Cinzento-escuro Pale brown Bruno-claro-acinzentado
Dark grayish brown Bruno-acinzentado-escuro Pale green Verde-claro-acinzentado
Dark grayish green Verde-acinzentado-escuro Pale olive Oliva-claro-acinzentado
Dark greenish gray Cinzento-esverdeado-escuro Pale red Vermelho-claro-acinzentado
Dark olive Oliva-escuro Pale yellow Amarelo-claro-acinzentado
Dark olive gray Cinzento-oliváceo-escuro Pink Rosado
Dark red Vermelho-escuro Pinkish gray Cinzento-rosado
Dark reddish brown Bruno-avermelhado-escuro Pinkish white Branco-rosado
Dark reddish gray Cinzento-avermelhado-escuro Red Vermelho
Dark yellowish brown Bruno-amarelado-escuro Reddish black Preto-avermelhado
Dusky red Vermelho-escuro-acinzentado Reddish brown Bruno-avermelhado
Gray Cinzento Reddish gray Cinzento-avermelhado
Grayish brown Bruno-acinzentado Reddish yellow Amarelo-avermelhado
Grayish green Verde-acinzentado Strong brown Bruno-forte
Greenish black Preto-esverdeado Very dark brown Bruno muito escuro
Greenish gray Cinzento esverdeado Very dark gray Cinzento muito escuro
Light bluish gray Cinzento-azulado-claro Very dark grayish brown Bruno-acinzentado muito escuro
Light brown Bruno-claro Very dusky red Vermelho muito escuro-acinzentado
Light brownish gray Cinzento-brunado-claro Very pale brown Bruno muito claro-acinzentado
Light gray Cinzento-claro Weak red Vermelho-acinzentado
Light greenish gray Cinzento-esverdeado-claro White Branco
Light olive brown Bruno-oliváceo-claro Yellow Amarelo
Light olive gray Cinzento-oliváceo-claro Yellowish brown Bruno-amarelado
Ligth red Vermelho-claro Yellowish red Vermelho-amarelado
Fonte: Lemos, R. C. de; Santos, R. D. Manual de descrição e coleta no campo. 3 ed. Campinas: Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo; Rio de Janeiro: Embrapa, Centro Nacional de Pesquisa de Solos, 1996.

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1.5. Composição do solo
O solo é constituído por
componentes sólidos, que
representam aproximadamente 50
% do volume total, com espaços
porosos entre estes componentes,
que representam
aproximadamente os 50 %
restantes. Da composição sólida,
entorno de 45 % são de origem
mineral e 5 % de matéria orgânica
(Figura-6).
Portanto, o solo deve ser
considerado um sistema trifásico,
pois é composto pela fase sólida,
fase líquida e fase gasosa. Figura-6: Composição do solo

a) A fase sólida: É constituída por partículas sólidas, que dão


características e propriedades ao solo conforme sua forma, tamanho
e textura;
b) A fase líquida: É chamada de solução do solo e é constituída de
água, e sais minerais em dissolução (K+, Ca2+, N+, Fe2+, etc.);
c) A fase gasosa: É chamada de ar do solo, e caracteriza-se pela
aeração deste, a qual contém gases como o O2, CO2, NH3, vapor de
água, etc.
As proporções das três fases do solo variam continuamente e dependem
dos factores do clima (temperatura e precipitação), a vegetação, o
maneio do solo, entre outros. Temperaturas altas fazem com que haja
maior taxa de evaporação de água no solo, reduzindo desta forma a sua
percentagem em relação ao ar.
No entanto, com altas taxas de precipitação, os solos ficam encharcados
e, consequentemente, a maior parte dos poros, (espaços vazios que se
encontram no solo) ficam preenchidos por água. Quanto a vegetação,
solos com cobertura vegetal conservam mais água em relação aos solos
sem cobertura vegetal.
A forma como o solo é trabalhado, também pode afectar na conservação
da água. Por exemplo, o preparo do solo sem remover os restos de
culturas anteriores, as técnicas de “Zero Tillage” e “Minimum Tillage”,
permitem maior conservação da água em relação a lavoura
convencional.

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Com isso, pode-se dizer que as condições ideais de um solo dependem
do equilíbrio entre as fases líquida e gasosa, pois, a deficiência e o
excesso de água ou ar no solo causam problemas para o crescimento e
desenvolvimento das plantas.
A água contida em um solo pode ser medida, sendo o resultado
denominado humidade do solo, expressa geralmente em percentuais à
base do peso (humidade gravimétrica) ou à base do volume (humidade
volumétrica).
1.5.1. Humidade gravimétrica
É a relação entre a massa de água e a massa do solo, ou seja:
𝐦𝐚
𝑾= 𝐱 𝟏𝟎𝟎%
𝐦𝐭
𝐦𝐚 = 𝐦𝐰 − 𝐦𝐬
Onde: mt= massa total (g)
W= humidade gravimétrica (%) mw= massa do solo húmido (g)
ma= massa de água (g) ms= massa do solo seco (g)
1.5.2. Humidade volumétrica
É a relação entre o volume de água e o volume total, ou seja:
𝐕𝐚 𝐦𝐚
Ɵ= 𝐱 𝟏𝟎𝟎% ; 𝑽𝐚 = ;
𝐕𝐭 𝐝𝐚
𝐦𝐭 𝐦𝐭
𝑽𝒕 = ; 𝒅𝒔 =
𝐝𝐬 𝐕𝐭
Onde:
Ɵ=humidade volumétrica (%) Vt= volume total (cm3)
ds= densidade do solo (g/cm3) Va= volume de água (cm3)
da=densidade de água=1g/cm3 ou 1000kg/m3
Os espaços porosos são preenchidos por água e ar, sendo que a
percentagem ocupada por eles varia conforme a humidade do solo. Em
solos encharcados, a maior parte dos espaços porosos é preenchida com
água, enquanto num solo seco, é preenchida por ar.
Desta forma, a porosidade do solo é determinada pela relação entre o
volume dos vazios e o volume total:
𝐕𝐯
𝜼= 𝐱 𝟏𝟎𝟎% 𝒔𝒆𝒏𝒅𝒐; 𝐕𝐭 = 𝐕𝐬 + 𝐕𝐚 + 𝐕𝐚𝐫 𝐞 𝐕𝐯 = 𝐕𝐚 + 𝐕𝐚𝐫
𝐕𝐭
Onde: Vt= volume total(cm3)
𝜂 = porosidade do solo (%) Vs= Volume dos sólidos (cm3)
Vv= volume dos vazios (%) Var = Volume do ar (%)

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A figura 6 apresenta o esquema detalhado sobre a relação massa/volume
nas três fases do solo.
Por exemplo:
Considere uma
amostra de solo
num cilindro de
200cm3 de volume e
100g de massa. O
solo húmido com o
cilindro pesou 350g
e, quando seco, esse
peso reduziu para
250g. Calcule:
Figura 7: Relação massa/volume das três fases do
solo.
a) Humidade gravimétrica
Dados:
Resolução
mt = mw = 350g – 100g = 250g
ma
ms = 250g – 100g = 150g 𝑊= x 100%
mt
vt = 200 cm3 100g
𝑊 = 250g x 100% = 40%
ma = mw - ms
ma = 250g – 150g =100g
da = 1g/cm3 b) Densidade do solo
mt 250g
ds = = = 1.25g/cm3
Vt 200cm3
c) Humidade volumétrica
ma 100g
Va = = = 100cm3
da 1g/cm3

Va 100cm3
Ɵ= x 100% = x 100% = 50%
Vt 200cm3

d) A porosidade, tendo em conta que o volume do ar é de 50cm3.


Vv = Va + Var = 100cm3 + 50cm3 = 150cm3

Vv 150cm3
𝜂= x 100% = x 100% = 75%
Vt 200cm3

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EXERCÍCIOS
1. Pede-se para calcular numa amostra do solo com 0.272Kg do peso
seco e 118g de massa de água. (considere o volume da amostra
269cm3.
a) A porosidade, tendo em conta que o volume do ar é de 62cm3
b) Humidade volumétrica
c) Densidade do solo
d) Humidade gravimétrica
e) O volume dos sólidos

_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________

2. Considere uma amostra de solo num cilindro de 3.5m3 de volume e


120g de massa. O solo húmido com o cilindro pesou 450g e,
quando seco esse peso reduziu para 0.34Kg. Calcule:
a) A porosidade, tendo em conta que o volume do ar é de 92cm3
b) Humidade gravimétrica
c) Densidade do solo
d) Humidade volumétrica
e) O volume dos sólidos
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________

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1.6. Recolha e preparação de amostras do solo para análise
Como aprendido nas secções anteriores, o solo é uma colecção de corpos
naturais constituído por partes sólidas, líquidas e gasosas. Quando
examinado a partir da superfície, consiste em secções aproximadamente
paralelas, organizadas em camadas e/ou horizontes, que se distinguem do
material de origem, como o resultado de processos de adições, perdas,
translocações e transformações, que ocorrem ao longo do tempo sob a
influência do clima, relevo e organismos vivos.
Para o estudo das características físicas, químicas e biológicas do solo, é
necessária, a realização de uma amostragem, que é o processo de obtenção
de amostra para ser analisada como sendo a representação de uma
determinada área de produção.
As amostras do solo podem ser não perturbadas e perturbadas, sendo as
perturbadas, por sua vez, simples ou compostas.
1.6.1. Amostras não perturbadas
São usadas para representar o estado natural do solo, mantendo tanto
quanto possível a estrutura e a porosidade do deste. As amostras no
estado natural são colhidas geralmente em patamares ou nas paredes
correspondentes aos horizontes ou camadas do perfil do solo, com covas
abertas para o efeito, permitindo efectuar várias determinações
laboratoriais, como a humidade volumétrica, humidade gravimétrica,
densidade do solo, porosidade, entre outros.
Para a colheita de amostras do solo
não perturbado, usa-se
comummente os cilindros colectores
(figura-8), estes podem ser de aço
inoxidável ou em PVC.
Para facilitar a colheita destas
amostras, o solo deverá apresentar
um teor de água próximo do
correspondente à capacidade de
campo e os cilindros devem ser
humedecidos antes de serem
Figura 8: Colheita de amostras não
enterrados no solo.
perturbadas

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Sempre que possível, a colheita de amostras não perturbadas é efectuada
em covas cuja dimensão vertical depende do perfil do solo. O comprimento
da cova deverá ser compreendido entre 1.5 a 2.0m, a largura entre 1.0 a
1.5m e profundidade de 1.5m.
1.6.2. Amostras perturbadas
São usados para o estudo da composição química e física do solo (cor,
textura, consistência, fertilidade e capacidade de retenção de água). As
amostras perturbadas podem ser colhidas geralmente na superfície ou em
patamares ou nas paredes correspondentes aos horizontes ou camadas do
perfil do solo.
Uma amostra representativa de uma determinada área homogénea deve
resultar da mistura de 10 a 20 subamostras (amostras simples) de igual
volume ou quantidade. Os pontos de amostragem devem ser tomados
aleatoriamente, mediante o caminhamento em ziguezague.
Após a mistura de amostras simples, colocar 700g de cada amostra
composta em sacos plásticos limpos e transparentes de preferência.
A profundidade de colecta de amostras simples deve variar de acordo com
o tipo de cultivo, tomando como referência a profundidade do sistema
radicular, mas no geral, a profundidade deve variar dos 0 à 40cm.
Para colectar as amostras
perturbadas de solo, utiliza-
se basicamente 3
instrumentos: a pá de corte
para a colecta do solo, um
balde para homogeneizar as
subamostras e uma
embalagem para enviar as
amostras para o laboratório.
A pá de corte pode ser
substituída por um trado
(sonda manual) ou outros
tipos de equipamentos, Figura-9: Equippamentos de colecta de
como demonstrado na amostras perturbadas
Figura-9.

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O balde ou qualquer outro tipo de recipiente é utilizado para homogeneizar
as subamostras. É de fundamental importância que este seja devidamente
limpo, evitando contaminações que possam alterar o resultado da análise
do solo.
A embalagem, geralmente de plástico, serve para proteger o solo até que
chegue ao laboratório. Existem algumas embalagens padrão utilizadas
pelos laboratórios, onde já é possível colocar todas as identificações
necessárias.
A amostragem do solo pode ser realizada em qualquer época do ano, mas
devemos nos atentar para o facto de que a correcção de acidez do solo
precisa ser realizada de 3 a 6 meses antes da implantação de qualquer
cultura no campo e deve-se evitar a amostragem logo após uma aplicação
de fertilizantes.
A amostragem é a etapa que mais precisa de cuidado e atenção, pois
qualquer erro irá comprometer as decisões futuras. Por isso, deve-se tomar
muito cuidado com a limpeza dos materiais utilizados, com a profundidade
correcta de amostragem e atenção para evitar contaminações.
1.6.3. Identificação das amostras
Antes de fechar os sacos de amostras, deve-se proceder a identificação das
mesmas, usando marcadores, canetas e/ou etiquetas de papelão ou
cartolina, sendo uma depositada no saco e outra na parte externa. As
etiquetas devem apresentar seguintes informações:
• Projecto ou instituição;
• Número da amostra ou perfil;
• Horizonte;
• Intervalo de profundidade;
• Local;
• Data;
• Nome do colector.
1.6.4. Apresentação dos resultados analíticos
Após o recebimento dos resultados analíticos provenientes do laboratório
escolhido para este fim, para efeito de apresentação, os mesmos deverão
acompanhar a descrição morfológica dos perfis em formulários
apropriados, conforme modelo da Tabela-2 adiante. Outros resultados não
contemplados neste formulário, deverão ser apresentados em sequência ao
mesmo.

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Tabela-2: Ficha de anotações de amostras e características morfológicas do solo

Instituição:________________________________________________________________________________________________
Data:_______________________________________________________________________________________________________
Localização:_______________________________________________________________________________________________
Relevo:____________________________________________________________________________________________________
Erosão:____________________________________________________________________________________________________
Drenagem:________________________________________________________________________________________________
Vegetação ou Uso actual:________________________________________________________________________________
Colectado por:____________________________________________________________________________________________

HORIZONTE CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS


Presença
Consistência
Profund. de raízes
Símbolo Cor Textura Porosidade
(cm) Muito
Seco Húmido
húmido

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EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO
1. Do ponto de vista agrícola, o solo desempenha várias funções
dentro das propriedades químicas, físicas e biológicas.
a) Dê o conceito do solo.
b) Mencione as principais funções do solo para as plantas.

2. Os solos têm por origem as rochas, que com o passar do tempo


(Séculos) e actuação dos diversos factores, foram-se decompondo
até formar-se solo.
a) Classifique e descreva os solos quanto a origem.
b) Mencione e descreva os factores que actuam no processo de
formação do solo.
c) Explique a Importância dos organismos vivos para a formação do
solo.
d) Descreva os processos de formação do solo.
3. O Perfil do solo corresponde à secção vertical da superfície do solo
até a rocha. Quando essas secções são individualizadas por
atributos das acções dos processos de formação do solo,
denominam-se horizontes ou camadas.
a) Explique a importância do estudo do perfil do solo para um técnico
agropecuário.
b) Mencione as características observáveis no solo que nos facilitam
distinguir um horizonte adjacente do outro.
c) Explique como é feita a identificação da cor do solo.

4. Dada a figura abaixo, faça legenda e descreva cada camada.


1
2
3
4

5. Dentro da sua composição, o solo é considerado um sistema


trifásico.
a) Explique porquê.
b) Explique a importância da água para o solo e para as práticas de
agricultura.

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2
RESULTADO DE APRENDIZAGEM
Demonstrar conhecimentos
sobre as propriedades físicas do
solo e sua classificação
Demonstrar conhecimentos sobre as propriedades físicas do solo e sua classificação
Neste resultado de aprendizagem, os formandos terão oportunidade de
aprender sobre:
a) Descrição das propriedades físicas do solo:
• Textura, estrutura, consistência, porosidade, densidade do solo;
• As características e proporção do tamanho das partículas do solo;
b) Implicações das propriedades físicas na preparação, maneio do
solo e produção agrícola:
• Compactação do solo (drenagem interna, risco de erosão,
encharcamento);
• Facilidade de lavoura (manual, tracção animal e mecânica);
• Selecção de culturas de acordo com as características físicas do
solo.
c) Identificação da textura do solo:
• Métodos directos;
• Métodos indirectos.
d) A Disponibilidade de água no solo:
• Capacidade de retenção de água no solo;
• Capacidade de Campo (CC);
• Ponto de Murcha Permanente (PMP);
e) Descrição dos principais tipos de solos:
• Solos arenosos, siltosos/limosos e argilosos.
f) A Classificação dos solos de acordo com a sua textura:
• Tipo de solos de maior potencial para a produção agrícola;
• Solos aluvionares, orgânicos e turfosos.

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2.1. Propriedades físicas do solo
Os solos minerais são constituídos por uma mistura de partículas sólidas
de natureza mineral e orgânica, ar e água, formando um sistema trifásico
(sólido, gasoso e líquido).
As partículas da fase sólida variam grandemente em tamanho, forma e
composição química e a sua combinação nas várias configurações
possíveis forma a chamada matriz do solo.
Considerando o solo como um corpo natural organizado, portanto
ocupando dado espaço, a recíproca da matriz do solo forma a porosidade
dos solos. Outro factor que interfere directamente na porosidade dos solos
refere-se à maneira com que as partículas sólidas se arranjam na
formação dos solos.
Um solo é considerado fisicamente ideal para o crescimento de plantas
quando apresenta:
• Boa retenção de água;
• Boa aeração;
• Bom suprimento de calor
• Pouca resistência mecânica ao crescimento radicular
• Boa estabilidade dos agregados
• Boa infiltração de água no solo.
Dentre as propriedades físicas que um solo pode apresentar destacam-se
as principais: a textura, a estrutura, a densidade, porosidade e
consistência.
2.1.1. Textura do solo
É a proporção relativa às classes de tamanho de partículas de um solo.
Referem-se especialmente à proporções de argila, limo e areia na fracção
da terra fina (fracção de partículas com diâmetro menor que 2mm).
Quanto a textura, os solos classificam-se em quatro (4) principais classes
que são:
a) Solos arenosos: Aqueles com mais de 70% de areia e geralmente o
tamanho de suas partículas varia de 2 à 0,05mm;
b) Solos argilosos: Apresentam a fracção de argila entre 35 à 60% e, o
tamanho de suas partículas são menores que 0,002mm;

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c) Solos siltosos (limosos): Possuem menos de 35% de argila e mais de
15% de areia e que não sejam de textura arenosa, sendo o tamanho de
suas partículas variando de 0,05 à 0,002mm;
d) Solos de textura média ou franca: Possuem menos de 35% de argila e
mais de 15% de areia, que não sejam de textura argilosa nem arenosa.
O tamanho de suas partículas é menor que 2mm.
As quatro classes texturais descritas anteriormente podem variar,
dependendo das proporções de areia, silte e argila como mostra a tabela-3
seguinte:
Tabela-3: Principais classes texturais.
Textura do solo Areia (%) Argila (%) Silte ou Limo (%)
Muito argilosa 10 80 10
Argilosa 20 50 30
Argila siltosa 10 45 45
Argila arenosa 50 42 8
Franca-argilosa 35 35 30
Franca-argilo-arenosa 60 25 15
Franca-argilo-siltosa 10 35 55
Franca 40 20 40
Franca-siltosa 25 10 65
Franca-arenosa 65 10 25
Silte 10 5 85
Areia franca 80 5 15
Areia 90 5 5
2.1.2. Estrutura do solo
A estrutura do solo é a combinação entre as partículas unitárias do solo
(agregados) e a porosidade do mesmo, ou seja, a estrututura do solo é
definida pelo arranjo das partículas em agregados.
As partículas unitárias do solo (silte, areia e argila) unem-se através das
forças de adesão e coesão formando os agregados do solo. Estes agregados
podem ser descritos como sendo pequenos torrões do solo que apresentam
a estabilidade.
A estruturação do solo é promovida principalmente pela argila e matéria
orgânica do solo. Quanto mais estruturado o solo, maior é o volume total
dos poros que ele possui e menor capacidade de armazenamento de água.

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A estrutura do solo está
relacionada à densidade e
porosidade do mesmo, à
aeração, resistência
mecânica à penetração de
raízes, infiltração de água
entre outros processos.
Os solos bem
estruturados suportam
melhor a acção das
máquinas e implementos
agrícolas e também
permitem uma maior
produção de culturas. Figura-10: Estruturação do solo
O aumento da cobertura do solo, da actividade microbiana, da matéria
orgânica e a menor exposição da matéria orgânica à decomposição pelos
microrganismos, aumentam a estabilidade estrutural do solo, a qual tem
uma relação directa com a habilidade de um solo resistir a erosão.
O formato, o tamanho e a resistência dos agregados variam em função do
tipo de solo. As práticas de maneio também podem alterar essas
características da estrutura do solo, principalmente na camada superficial.
Os tipos de estrutura normalmente encontrados no solo são classificados
de acordo com a forma e ao tamanho das unidades estruturais como
mostra a tabela-4 a seguir:
Tabela-4: Classificação de acordo com o tamanho e forma dos agregados

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Quanto ao grau de desenvolvimento, a estrutura pode ser classificada
como:
a) Fraca: Unidades estruturais pouco frequentes em relação ao solo solto.
b) Moderada: Unidades estruturais bem definidas e pouco material solto.
c) Forte: Unidades estruturais são separadas com facilidade e quase não
se observa material solto.
2.1.3. Densidade do solo
Expressa a relação entre a quantidade de massa de solo seco por unidade
de volume do solo.
𝐦𝐭 ds= densidade do solo (g/cm3);
𝐝𝐬 = 𝑂𝑛𝑑𝑒: mt= massa do solo (g);
𝐕𝐭
Vt= volume do solo (cm3).

A densidade do solo permite avaliar as condições ideais para o


desenvolvimento das plantas, pois, ela está relacionada com a
compactação do solo.
Quanto maior for a densidade do solo, maior será a compactação do
mesmo, ou seja, no volume do solo é incluído o volume de sólidos e o de
poros do solo. Entretanto, havendo modificação do espaço poroso haverá
alteração da densidade.
O uso principal da densidade do solo é como indicador da compactação,
assim como medir alterações da estrutura e porosidade do solo. Os valores
normais para solos arenosos variam de 1,2 a 1,9 g/cm3, enquanto solos
argilosos apresentam valores mais baixos, de 0,9 a 1.7 g/cm3.
Valores de desnsidade do solo associados ao estado de compactação com
alta probabilidade de oferecer riscos de restrição ao crescimento radicular
situam-se em torno de 1,65 g/cm3 para solos arenosos e 1,45 g/cm3 para
solos argilosos.
A determinação da desnsidade do solo é relativamente simples e baseia-se
na colecta de uma amostra de solos de volume conhecido e com estrutura
preservada com técnicas diversas, incluindo colecta de solo em cilindros,
torrão ou feito directamente no campo por escavação.
A compactação do solo, ou seja, o aumento da densidade do solo pode
provocar problemas como:
• Limitação do crescimento radicular da cultura;
• Diminuição da infiltração de água;

Página | 31
• Redução da capacidade de armazenamento de água e ar;
• Dificultar a germinação de sementes e as trocas gasosas.
Entre as situações que provocam o aumento da densidade do solo, as
principais são:
• Solos com pouca matéria orgânica;
• A textura do solo;
• O tráfego intensivo de maquinarias agropecuárias sobre o solo.
Algumas medidas para prevenir o aumento da densidade do solo, passam
por:
• Evitar a passagem frequente das maquinarias no campo
principalmente quando o solo está muito húmido;
• Promover a cobertura vegetal do solo;
• Não remover ou queimar os restos culturais no campo de produção.
2.1.4. Porosidade do solo
O espaço do solo não ocupado por sólidos e ocupado pela água e ar
compõem o espaço poroso, definido como sendo a proporção entre o
volume de poros e o volume total de um solo.
A porosidade é inversamente proporcional à densidade do solo e de grande
importância para o crescimento de raízes, movimento de ar, água e solutos
no solo. A textura e a estrutura do solo explicam em grande parte o tipo,
tamanho, quantidade e continuidade dos poros.
Os tipos de poros estão associados à sua forma, que por sua vez tem
relação directa com sua origem. O tipo de poros mais característico são os
de origem biológica, que são arredondados e formados por morte e
decomposição de raízes ou como resultado da actividade de animais ou
insectos do solo, como minhocas, térmites, etc.
Outro tipo de poros apresenta forma irregular e de fenda formados por
vários processos, tipo humedecimento e secagem, pressão, etc. Poros
arredondados tendem a ser mais contínuos e de direcção predominante
normal à superfície, ao contrário das fendas no solo.
A classificação da porosidade refere-se à sua distribuição de tamanho. A
mais usual é a classificação da porosidade em duas classes:
• Os microporos (diâmetro menor que 0,06mm): É uma classe de
tamanho de poros que, após ser saturada em água, a retém contra a
gravidade;

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• Os macroporos (maior ou igual a 0,06mm): Ao contrário, após
serem saturados em água não a retém, ou são esvaziados pela
acção da gravidade.
A funcionalidade desses poros fica evidente quando se considera que os
microporos são os responsáveis pela retenção e armazenamento da água
no solo e os macroporos responsáveis pela aeração e pela maior
contribuição na infiltração de água no solo.
A separação da porosidade total em micro e macroporos é feita em
laboratório, drenando-se a água dos macroporos usando uma sucção leve
(-6kPa) em mesa de tensão ou coluna de areia e medindo-se o volume de
água que permanece na amostra, que é igual ao volume de microporos.
Conhecendo-se a potencial matricial, calcula-se a macroporosidade por
diferença. Usando-se equação fundamental da capilaridade, o tamanho
equivalente de poro à sucção de 6 kPa é de 50 m, sendo então o tamanho
aproximado ao limite entre micro e macroporos.
Em solos arenosos há predominância de macroporos, enquanto em solos
argilosos a tendência é predominar microporos. Nesse aspecto, a origem do
tamanho de poros relaciona-se ao tamanho de partículas e são
considerados de natureza textural ou porosidade textural.
Quando as partículas se organizam em agregados, há a criação de poros
no solo, geralmente poros grandes entre agregados, sendo considerados
porosidade estrutural, que é especialmente importante em solos argilosos
onde os macroporos são formados como consequência da estruturação.
A aeração dos solos refere-se à habilidade de um solo atender a demanda
respiratório da vida biológica do solo. Para isso, há necessidade de
contínua troca de oxigênio e CO2 entre a atmosfera e o solo e, para que
isso ocorra, é de grande importância a presença de macroporos.
Normalmente, considera-se que o espaço aéreo de 10 % de macroporos é
suficiente para arejar o solo e satisfazer a demanda respiratório no solo.

Dentre os factores que influenciam na porosidade do solo, estão:


• A textura do solo;
• A estrutura do solo;
• A densidade do solo;
• A quantidade de matéria orgânica no solo.

Página | 33
2.1.5. A consistência do solo
Descreve a resistência do solo em diferentes humidades contra pressão ou
forças de manipulação, ou refere-se à sensação de dureza, à facilidade de
quebra ou à plasticidade e pegajosidade de um solo em diferentes
humidades ao ser manipulado pelas mãos.
Sua descrição morfológica é feita em três classes de humidade, seco,
húmido e muito húmido, manifestando, respectivamente, dureza,
friabilidade e, plasticidade e pegajosidade.
A variação da consistência com a humidade do solo é devido à influência
da humidade nas forças de adesão e coesão, como é demonstrado na
figura 11.
O preparo e o tráfego do solo têm
relação estreita com a consistência,
pois afecta a resistência do solo e,
por sua compressibilidade,
compactabilidade, e especialmente
orientar maneio de solo em
humidades óptimas de uso,
exigindo menor esforço para tracção
ou compactando menos por
Figura 11: Variação de forças
unidade de carga aplicada.
associadas à consistência com a
humidade do solo.
A consistência varia muito de solo para solo e depende, especialmente, dos
seguintes factores: textura, mineralogia, teor de matéria orgânica e da
agregação do solo.
A resistência do solo tem estreita relação também com o estado de
compactação do solo e é frequentemente usada para avaliar maneio de
solos, visto que as raízes ao crescerem, o fazem em espaços já existentes
no solo ou têm que vencer a resistência para abrir espaço ao seu
crescimento.
Quando a resistência do solo é maior que a pressão celular, as raízes
crescem na direcção de menor resistência e mudam sua distribuição,
apresentando deformação do sistema radicular.

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2.2. Propriedades físicas e suas influências no maneio dos solos
As considerações sobre as propriedades físicas do solo dizem respeito às
relações ponderais e volumétricas observadas na sua estrutura. A textura
do solo influencia na quantidade de ar e água que as plantas em
crescimento podem obter.
De uma forma geral, a textura arenosa apresenta menor capacidade de
reter água e sais minerais, sendo assim consideradas pobres em
nutrientes em relação à textura argilosa.
Quanto à aeração, os solos de textura arenosa apresentam maior
circulação de ar devido a presença de macro poros em relação à textura
argilosa.
A tabela abaixo mostra o comportamento do solo em função da sua
textura.
Tabela-5: Efeito da textura no comportamento do solo
Classe textural
Comportamento do dolo
Areia Silte/Limo Argila
Capacidade de retenção de água Baixa Média a alta Alta

Aeração Boa Média Pobre

Taxa de drenagem Alta Lenta a média Muito lenta

Teor de matéria orgânica no solo Baixo Médio a alto Alto

Decomposição da matéria orgânica Rápida Média Lenta

Susceptibilidade de compactação Baixa Média Alta

Susceptibilidade de erosão Alta Moderada Baixa

Adequabilidade para a construção Baixa Baixa Alta


de represas ou aterros
Capacidade de cultivo após chuva Boa Média Baixa

Capacidade de lixiviação Alto Médio Baixo

Capacidade de armazenamento de Baixa Média a alta Alta


nutrientes
Resistência de mudança de pH Baixa Média Alta

Muitas vezes há restrições ao uso intenso dos solos arenosos,


principalmente devido à elevada susceptibilidade a erosão, baixa
capacidade de retenção de água e limitada reserva de nutrientes.

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A limitação o uso dos solos arenosos, relacionada à erosão pode ser
aliviada com as práticas de maneio adequado dos solos como:
• Realizar o plantio/sementeira directa (zero tillage);
• Fazer a lavoura mínima (minimum tillage);
• Promover a cobertura do solo (viva ou morta);
• Incorporar a matéria orgânica no solo.
Estas práticas de maneio do solo adequam-se melhor em solos arenosos
pois:
• Melhoram a infiltração e retenção da água no solo;
• Reduzem a evaporação, por existir uma maior cobertura do solo;
• Reduzem o run-off, permitindo deste modo, o controlo da erosão;
• Permitem a manutenção do nível de matéria orgânica no solo, devido
à sua adição continua;
• Reduzem a compactação do solo;
• Permitem um aumento na eficiência no uso da água de rega;
• Melhoram a eficiência de absorção dos nutrientes contidos nos
adubos químicos;
• Estimulam o desenvolvimento dos organismos do solo.
A baixa capacidade de retenção de água nos solos arenosos pode ser
compensada pela adição da matéria orgânica no solo.
A consistência do solo ajuda na tomada de decisão sobre quando deve-se
trabalhar o solo, dependendo do tipo e objectivo do trabalho, pois, muitas
das operações de preparo do solo devem ser feitas quando o solo está no
ponto de friabilidade (não seco nem muito húmido).
A Tabela-6 abaixo, mostra como o solo se comporta em seus diferentes
estados de consistência e a sua influência no preparo do solo.
Tabela-6: Efeito da consistência no maneio dos solos
Consistência Seca Húmida Muito húmida
Forma Duro e áspero Friável e macio Plástico e viscoso
Condições para o
Muito difícil Fácil Difícil
preparo do solo
Resultados na O solo forma
Solo destorroado Poças de solo
lavoura torrões e poeira

A consistência depende de factores como:


a) O conteúdo de argila: A plasticidade é uma função das fracções
mais finas do solo, assim, o aumento no teor de argila no solo eleva
o índice de plasticidade;

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b) O teor de matéria orgânica: A matéria orgânica aumenta o índice
de plasticidade até certo ponto;
c) A natureza dos catiões trocáveis: A capacidade troca catiónica tem
influências consideradas no grau de plasticidade do solo. Assim, por
exemplo, em solos saturados com catiões de magnésio tem a
tendência de ter índices de plasticidade ligeiramente mais altos que
os saturados com os catiões de Cálcio.
A estruturação do solo é promovida principalmente pela argila e matéria
orgânica do solo. Quanto mais estruturado o solo, maior é o volume total
dos poros que ele possui e boa capacidade de armazenamento de água.
O aumento da cobertura do solo, da actividade microbiana, da matéria
orgânica e a menor exposição da matéria orgânica à decomposição pelos
microrganismos, aumentam a estabilidade estrutural do solo, a qual tem
uma relação directa com a habilidade de um solo resistir à erosão.
A densidade geralmente aumenta com a profundidade do perfil, pois, as
pressões exercidas pelas camadas superiores sobre as subjacentes,
provocam o fenômeno da compactação, reduzindo a porosidade.
A movimentação de material fino (principalmente argila) dos horizontes
superiores para os inferiores, por eluviação, também contribui para a
redução do espaço poroso e aumento da densidade dessas camadas.
Em condições de lavoura os
valores da densidade do solo
são alterados pelas
condições de maneio
impostas ao solo. O tráfego
de máquinas agrícolas e o
pisoteio animal em
condições de alta humidade
aumentam a densidade do Figura 12: Compactação do solo pelo
solo pelo processo de pisoteio animal e tráfego de máquinas
compactação (Figura-12). agrícolas.
A compactação do solo em áreas agrícolas pode ocorrer em diferentes
posições do perfil do solo, dependendo da humidade em que o solo se
encontra e das pressões exercida sobre ele.
Em áreas sob cultivo convencional (Lavoura e gradagem) a camada
compactada normalmente se localiza próxima aos 25 cm de profundidade,

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enquanto que em lavouras sob plantio directo fica próxima aos 10 cm e em
áreas sob pastagem na camada superficial (Figura-13).
Com o aumento da densidade do solo, devido à compactação, ocorre a
redução na quantidade e continuidade dos poros, o que reduz a infiltração
de água no solo, a aeração e dificulta o crescimento das raízes das plantas
(Figura-14) comprometendo o crescimento e a produtividade das culturas
agrícolas.

Figura-13: Camadas compactadas em função do uso do solo.


a) Solo bem estruturado;
b) Solo com compactação a 25 cm de profundidade (Pé-de-grade);
c) Solo com compactação a 10 cm de profundidade (Pé-de-plantio
directo);
d) Solo com compactação superficial (Pé-de-vaca).

Figura-14: Crescimento do sistema radicular de feijoeiro em área sob


plantio directo com solo bem estruturado (a) e em solo compactado (b).

Em suma, a densidade do solo permite avaliar as condições ideais para o


desenvolvimento das plantas, pois, ela está relacionada com a
compactação do solo. Quanto maior for a densidade do solo, maior será a
compactação do mesmo.
Actualmente a pesquisa tem definido alguns valores de densidade do solo
que são considerados restritivos ao crescimento das raízes das culturas
agrícolas. Os valores de densidade considerados críticos variam conforme a
classe textural do solo, e são apresentados na tabela-7 a seguir:

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Tabela-7: Valores de densidade do solo considerados restritivos ao
crescimento radicular das culturas agrícolas.
Classe textural Densidade do solo (g/cm3)
Argiloso 1,30 – 1,40
Franco argiloso 1,40 – 1,50
Franco arenoso 1,70 – 1,80
Franco siltoso 1,56

2.3. Determinação da textura do solo


A textura do solo é definida pela proporção relativa das classes de
tamanho de partículas de um solo. A avaliação da textura pode ser feita
directamente no campo (métodos directos) ou em laboratório (métodos
indirectos).
2.3.1. Métodos directos
Consistem em determinar a textura do solo através da aproximação,
utilização de tacto e sensação que cada partícula passa conforme o
descrito abaixo:
a) Textura arenosa (partículas entre 2 à 0,05mm)
• Ao tacto apresenta sensação áspera e não é pegajosa nem plástica
quando humedecida;
• Maior porosidade (macroporos);
• Maior aeração;
• Menor capacidade de reter água e nutrientes.
b) Textura limosa ou siltosa (partículas entre 0,05 à 0,002mm)
• Apresenta a sensação de sedosidade ao tacto quando humedecida;
• Capacidade de retenção de água e nutriente média.
c) Textura argilosa (partículas menores que 0,002mm)
• Ao tacto é plástica e pegajosa quando humedecida;
• Promove a saturação do solo devido a baixa capacidade de infiltração
de água;
• Presença de microporos;
• Maior capacidade de reter água e nutrientes.
A determinação da textura do solo por métodos directos requer habilidade
e prática. Sempre que possível, pegue um punhado de solo e humedeça-o,
após, esfregue uma porção do solo humedecido para perceber as distintas
sensações que as partículas nos dão.

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A figura-15 abaixo, permite estimar a textura do solo, no campo, através
de sua manipulação e da observação do comportamento do material
obtido.

Figura-15: Determinação da textura do solo por métodos directos.

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2.3.2. Métodos indirectos
Consistem em separar a fracção de cada constituinte sólido do solo (areia,
silte e argila) de acordo com o seu diâmetro através de crivos metálicos. A
amostra de solo é dispersa numa suspensão e, por peneiramento e
sedimentação, se determina exactamente a proporção de areia, argila e por
diferença a de silte sendo, posteriormente, determinada a percentagem de
cada fracção.
Neste método, a relação das
fracções de areia, limo e argila é
dada pela seguinte equação:
mt = Ar + Li + Ag, onde:
mt = massa total da amostra (g)
Ar, Li e Ag = massas de areia, limo e
argila respectivamente (g).
Após uma análise ou separação
dessas fracções, as suas
percentagens são interceptadas no
triângulo textural (figura-16) para a
identificar o tipo do solo
correspondente. Figura-16: Triângulo textural

Por exemplo
Uma amostra do solo pesou 0.5 Kg e, após uma análise laboratorial
constatou-se que ela é constituída de 150g de limo e 50g de argila. Com
ajuda do triangulo textural determine tipo do solo corespondente.
Dados Ar 300g
Ar (%) = ∗ 100% = ∗ 100% = 60%
mt = 0,5kg = 500g mt 500g
Li = 150g
Ag 50g
Ag =50g Ag (%) = ∗ 100% = ∗ 100% = 10%
Ar=? mt 500g
Textura do solo =? Li 150g
Li (%) = ∗ 100% = ∗ 100% = 30%
Resolução mt 500g
mt=Ag + Ar + Li
Ar = mt - (Ag + Li) R/: A textura do solo correspondente a
Ar = 500g – (50g + 150g) amosta é Franco-arenosa
Ar= 300g

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EXERCÍCIOS
1. Uma amostra do solo pesou 250g e após uma análise laboratorial,
constatou-se que a amostra é constituída de 80g de areia e 120g de
argila. Determine a tipo do solo correspondente usando o triângulo
textural.
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2. Uma amostra do solo pesou 0.6Kg e após uma análise laboratorial,


constatou-se que a amostra é constituída de 0,25Kg de areia e 180g de
argila. Determine a tipo do solo correspondente usando o triângulo
textural.
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2.4. Disponibilidade de água no solo
A água do solo tem a importância na dissolução dos nutrientes que
posteriormente são assimilados pelas plantas, regula as temperaturas do
solo e facilita as actividades microbianas na decomposição da matéria
orgânica.
A água é necessária para cada ser vivo e, influencia, de maneira directa ou
indirecta nos fenômenos e mecanismos que ocorrem nos solos. O
intemperismo, os processos de formação, actividade biológica, crescimento
de plantas, assim como, poluição do lençol freático recebem impacto
directo do regime hídrico dos solos.
A água chega no solo através da chuva, infiltra, preenche a capacidade de
armazenamento no solo, é conduzida pelo solo para camadas mais
profundas e alimenta o lençol freático e aquíferos. A fracção que não
penetra no solo, escoa alimentando directamente lagos, rios e oceano.
A fração armazenada é em parte disponível para as plantas, sendo
absorvida e transpirada ao mesmo tempo e evapora directamente do solo
para a atmosfera.
2.4.1. Retenção da água no solo
A água na forma líquida apresenta uma série de propriedades de
fundamental importância em seu comportamento no solo.
Se considerarmos o sistema poroso do solo como um sistema capilar e com
determinada área superficial entenderemos que a água é retida no solo
devido aos dois mecanismos:
a) Capilaridade: A força capilar explica a ascensão da água em vasos ou
no campo, de baixo para cima contra a gravidade e lateralmente
quando a água é adicionada num ponto e aumenta à medida que o
tamanho de poro diminui.
b) Adsorção: À medida que o solo seca, diminui o volume de água retido
até que a lâmina de água fica restrita a superfície das partículas, retida
por efeito eletrostático ou por adesão.
Nestes dois processos de retenção, o maior volume de água e o mais
disponível é retido por efeito capilar e o volume menor no solo é retido por
adsroção.
A textura e a estrutura do solo que definem a área superficial e a
arquitetura do sistema poroso, são os principais factores associados ao
armazenamento e disponibilidade da água nos solos.

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Para medir a quantidade de água a deslocar-se de um dado estado ao
estado de referência, três forças devem ser tomadas em consideração para
definir o total da energia livre da água:
a) Força osmótica: No solo as concentrações de sais tendem a se igualar
por difusão, sendo a diferença de energia devido a forças osmóticas,
predominantes no domínio solo-raiz, influindo pouco no movimento e
retenção da água.
b) Força gravitacional: Na gravidade a energia potencial toma conotação
de energia de posição dentro do campo gravitacional, importante na
definição do movimento de água e deve ser computado para
equacionamento de fluxo de água no solo.
c) As forças originadas pela matriz do solo: Através dos fenômenos de
adsorção e capilaridade, são as responsáveis pelo potencial matricial,
antigamente chamado de potencial capilar.
O total de energia por unidade de volume de água é definido como sendo o
potencial total expresso em termos de pressão (kPa, bar, cm de coluna de
Hg ou água).
O potencial total
em solos não
saturados é o
potencial matricial,
responsável pela
retenção de água
contra a acção da
gravidade e por
isso ter sinal
negativo e
chamado de
tensão da água no Figura-17: Modelo conceitual de uma curva de
solo (figura-17). retenção de água no solo
Um solo saturado apresenta toda sua porosidade cheia de água, que após
drenado em condições naturais, os macroporos são drenados e os
microporos ficam preenchidos com água.
Neste estado o movimento descendente é pequeno e tradicionalmente
considera-se que o solo apresenta a sua máxima capacidade de
armazenamento de água contra a gravidade e considera-se a humidade
deste estado como sendo a capacidade de campo (CC).

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O potencial matricial
da água no solo
encontra-se na faixa
de -10 a -33 kPa,
dependendo da
textura e
estruturação do
solo. Ao contrário, a
humidade onde as
plantas murcham
permanentemente é
chamada de ponto
de murcha
permanente (PMP) e
apresenta potencial
matricial em torno Figura 18: Disponibilidade de água em função da
de –1500 kPa. textura do solo

A diferença de humidade entre a CC e PMP nos indica a faixa de água


disponível de um solo, que pode ser dada em termos percentuais ou
em lâmina de água. Esta última é uma excelente indicadora da habilidade
de um solo reter água a ser utilizada pelas plantas. A textura, matéria
orgânica e a agregação são os principais factores que afectam a
disponibilidade de água para as plantas.
Num solo, no qual o PMP tenha sido atingido, ainda contém certa
percentagem de humidade, a qual não pode ser utilizada pelas plantas, por
estar fortemente retida pelas partículas do solo.

A água disponível no solo é calculada pela seguinte equação:


𝐂𝐂 − 𝐏𝐌𝐏
𝑨𝑫 = ∗ 𝐝𝐬 ∗ 𝐙
𝟏𝟎𝟎
Onde:
AD= Água disponível (mm)
CC= Capacidade do campo (%)
PMP = Ponto de murcha permanente (%)
ds = Densidade do solo (g/cm3)
Z = Profundidade do sistema radicular da cultura (cm).

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Por exemplo:
Considerando a cultura de feijão em desenvolvimento numa época do ano,
em um solo cuja CC= 32%, PMP=20% ds=1.35g/cm3, Z=30cm, determine
a água disponível neste solo.
Resolução
Dados:
AD=? CC − PMP
𝐴𝐷 = ∗ ds ∗ Z
CC= 32% 100
PMP = 20% 32 − 20
ds = 1,35g/cm3 𝐴𝐷 = ∗ 1,35 ∗ 30
100
Z = 30cm 12
𝐴𝐷 = ∗ 1,35 ∗ 30
100
𝐴𝐷 = 0,12 ∗ 1,35 ∗ 30
𝐴𝐷 = 4,86mm
O conteúdo de água pode ser avaliado utilizando-se equipamentos
electrônicos que fornecem directamente a humidade volumétrica que o
solo apresenta em determinado momento. Os equipamentos mais
eficientes para a medida do conteúdo de água no solo são os TDR (Time
Domain Reflectometry) (Figura-19).

Figura-19: Equipamento TDR (a) e sondas instaladas no perfil do solo (b).

Valores médios, máximos e mínimos do teor de água do solo


correspondente à capacidade de campo (CC) e ponto de murcha
permanente (PMP), por classe textural podem ser consultados com base na
tabela-8 adiante.

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Tabela-8: Valores médios, máximos e mínimos do teor de água do solo
correspondente à capacidade de campo (CC) e ponto de murcha
permanente (PMP), por classe textural.
Teor de água (cm3/cm3)
Classe textural CC PMP
Média Máximo Mínimo Média Máximo Mínimo
Argilosa 0,368 0,417 0,320 0,268 0,316 0,219
Argilo-Arenosa 0,256 0,347 0,166 0,170 0,260 0,079
Argilo-Limosa 0,443 0,490 0,397 0,290 0,336 0,244
Arenosa 0,127 0,179 0,075 0,021 0,073 0,001
Areno-Franca 0,236 0,290 0,181 0,055 0,110 0,001
Franca 0,269 0,310 0,227 0,128 0,169 0,086
Franco-Argilosa 0,314 0,362 0,266 0,219 0,267 0,172
Franco-Argilo-Arenosa 0,279 0,323 0,234 0,187 0,231 0,142
Franco-Argilo-Limosa 0,392 0,458 0,326 0,218 0,284 0,152
Franco-Arenosa 0,278 0,331 0,226 0,104 0,156 0,051
Franco-Limosa 0,313 0,376 0,250 0,142 0,205 0,078

EXERCÍCIOS
1. Considerando a cultura de mandioca em desenvolvimento numa época
do ano, em um solo cuja CC= 42%, PMP=22% ds=1250 Kg/m3, Z=0.6m,
determine a água disponível em “L” (litros), sabendo que 1mm=1L/m2.
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2. Considerando a cultura de milho em desenvolvimento numa época do
ano, em um solo cuja CC= 34%, PMP=15% ds=1.15g/cm3, Z=200mm,
determine a água disponível em m3, sabendo que 1m3=1000L.
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3. Considerando a cultura de couve em desenvolvimento numa época do


ano, em um solo cuja CC= 0.37, PMP=0.21, ds=1.15g/cm3, Z=35cm,
determine a água disponível em m3, sabendo que 1m3=1000L.
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2.5. Agrupamentos de solos
O agrupamento dos
solos em Moçambique é
baseado na metodologia
da FAO, na qual os
solos são classificados
segundo as categorias
taxonómicas que
incluem a Ordem, a
Sub-Ordem, o Grupo, o
Sub-Grupo, a Família e
Série, conforme a
figura-20. Figura-20: Taxonomia dos solos segundo FAO
a) Ordens: Corresponde a grandes agrupamentos do solo baseados em:
• Grau de evolução do perfil;
• Natureza físico – química da alteração dos minerais;
• Tipo de matéria orgânica e a sua distribuição;
• Presença de água (hidromorfismo) ou de sais (halomorfismo).
b) Sub–Ordens: Corresponde a divisões das ordens com base em
características do solo, importantes em termos genéticos como:
• O clima;
• O hidromorfismo;
• O Processo de formação.
c) Grupos: Corresponde a divisões das sub-ordens com base em
características indicadoras de processos genéticos menos importantes ou
condições climáticas significativas para a evolução:
• Intensidade de alteração;
• Diferenciação de certos horizontes;
• Teor em matéria orgânica.
d) Sub–Grupos: Corresponde a subdivisões que indicam o conceito central
do grupo e as transições para outros grupos:
• Intensidade do processo de evolução;
• Processos secundários, hidromorfismo.
e) Família: Corresponde a rocha mãe igual ou agrupamento de séries com
características e qualidades bastante próximas.
f) Série: Corresponde ao Perfil igual (em número de horizontes e
espessura), material originário igual e vegetação igual.

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2.5.1. Tipos de solos em Moçambique segundo FAO
a) Acrissolos: Solos de regiões tropicais e subtropicais, ácidos, com
horizonte B enriquecidos em argila com baixo teor em bases;
normalmente avermelhados;
b) Arenossolos: Solos arenosos, de cor clara, formados a partir de
material rico em quartzo, ou de areias em dunas e praias;
c) Calcissolos: Solos de regiões áridas e semi-áridas, com elevado teor de
carbonato de cálcio;
d) Cambissolos: Solos recentes, derivados de materiais transportados de
outros locais pela água, vento ou gravidade, caracterizados por terem
sofrido pouca eluviação.
e) Faeozemes: Solos de estepe com superfície escura, ricos em matéria
orgânica, derivados de material basáltico;
f) Ferralsolos: Solos amarelados ou avermelhados de regiões tropicais e
subtropicais húmidas, muito meteorizados e ricos em hidróxidos de
alumínio e óxidos e hidróxidos de ferro. Designados por solos
ferraliticos.
g) Fluvissolos: Solos recentes de aluvião.
h) Gleissolos: Solos com horizontes reduzidos (glei) devido ao alagamento;
i) Histossolos: Solos orgânicos formados sob condições de alagamento
prolongado;
j) Leptossolos: Solos delgados sobre rocha, materiais altamente calcários,
ou impermes;
k) Lixissolos: Solos de regiões tropicais e subtropicais húmidas, sujeitos a
intensa eluviação e acumulação de argila em horizontes profundos
l) Luvissolos: Solos de florestas húmidas e prados, com eluviação de
argila com teor de bases médio ou alto para horizontes B, mas sem um
horizonte E;
m) Nitissolos: Solos de regiões tropicais e subtropicais húmidas,
vermelhos escuros, com argila de baixa capacidade de troca catiónica
nos horizontes B, que são muito espessos;
n) Solonchaques: Solos de regiões áridas e semi-áridas, com acumulação
de sais solúveis;
o) Solonetz: Solos de regiões áridas e semi-áridas, com muito Sódio no
horizonte B;
p) Vertissolos: Solos escuros, ricos em esmectites, com tendência para
abrir fendas nas épocas secas.

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EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO
1. Dentre as propriedades Físicas do solo destacam-se a densidade,
textura, estrutura, porosidade e consistência
a) Explique quando é que um solo é considerado fisicamente ideal para
a produção agrícola.
b) Explique a relação que existe entre a porosidade e a densidade.
c) O que entendes por consistência do solo e qual é a sua relação com
as actividades de preparo do solo?
d) Mencione três (3) problemas da compactação do solo para a
produção agrícola e indique três (3) medidas para evitar a
compactação.
2. Quanto a textura, os solos são classificados em arenosos, argilosos,
siltosos e entre outras texturas intermediarias.
a) Explique como é que se determina a textura do solo por métodos
directos e dê exemplos.
b) Desenhe e preencha na sua folha de teste a tabela abaixo:
No. de lote Textura Tamanho das partículas
B1 Argilosa
B2 2-0,05mm
B3 Siltosa/limosa
3. De entre os tipos de solos, os de maior percentagem de argila são
de difícil preparação quer no tempo seco, assim como nos tempos
de chuvas excessivas.
a) Explique porquê?
b) Em que condições devem apresentar-se os solos argilosos para uma
melhor preparação?
4. Os solos arenosos são os que no geral tem tido baixos rendimentos
em comparação com os francos e outros.
a) Explique porquê?
b) Descreva as técnicas que possam melhorar a produtividade desses
solos.
5. Os solos com elevados teores de argila também podem apresentar
baixos rendimentos em comparação com os francos.
a) Qual será o fundamento deste problema?

6. No solo vivem diversos organismos animais e vegetais que


contribuem para o melhoramento das propriedades do solo.
a) Explique como isto acontece.
7. Uma amostra do solo pesou 300g e, após uma análise laboratorial
constatou-se que ela é constituída de 90g argila e 60g de areia.
a) Com ajuda do triangulo textural, determine o tipo do solo
correspondente.

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RESULTADO DE APRENDIZAGEM
Demonstrar compreensão sobre as

3
principais fontes de fertilidade do
solo, a importância e papel da
aplicação de nutrientes no solo na
produção das culturas e métodos
para melhorar a fertilidade do solo
Demonstrar compreensão sobre as principais fontes de fertilidade do solo, a importância e papel da aplicação de nutrientes no solo na produção das culturas e métodos para melhorar a fertilidade do solo

Neste resultado de aprendizagem, os formandos terão oportunidade de


aprender sobre:
a) A origem dos nutrientes e a composição química do solo
• Macro e micronutrientes;
• Salinidade e acidez;
• Matéria orgânica e húmus.
b) Os principais nutrientes do solo para o crescimento das plantas
• Macro (N, P, K, Ca, Mg);
• Micro (Zn, Mn, B, Cl, Cu, Mo).
c) A relação entre os principais nutrientes e o crescimento das plantas
• Formação das raízes, das folhas e da flor e frutos;
• Enchimento dos grãos.
d) Interpretação dos resultados de análises químicas do solo
• Teores de argila e de matéria orgânica no solo;
• Macro e Micronutrientes.
e) Identificação dos sintomas de deficiência de nutrientes
• Deficiências de macro e micronutrientes nas culturas;
• Sintomas de deficiências de macro e micronutrientes nas culturas.
f) Os métodos de aplicação e melhoramento da fertilidade do solo
• Fertilização com produtos naturais e químicos
• Cobertura morta, Sideração (adubação verde), consociação, rotação
de culturas e pousio.

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3.1. Origem dos nutrientes e composição química do solo
Os minerais contidos no solo são formados a partir da fragmentação das
rochas por acção do intemperismo, produzindo desta forma os chamados
minerais primários.
A rocha mãe é a fonte primária de nutrientes. À medida que a rocha mãe
se transforma, vai libertando nutrientes que são armazenados no solo e
depois utilizados para o crescimento das plantas. As principais rochas
mães (materiais de origem do solo) são:
a) O Basalto: A intemperização do Basalto, origina solos ricos em
partículas finas (argila). Na fracção de argila desses solos encontram-se
altos teores de ferro (características dos solos avermelhados e
amarelados).
b) O Granito: A intemperização do Granito, origina solos pobres em argila,
sendo a fracção predominante a areia (características dos solos claros e
acinzentados).
c) Os minerais Arenoquartzos: Os minerais Arenoquartzos originam
solos de textura arenosa, com pequena capacidade de armazenamento
de água.
3.1.1. Principais minerais das fracções de Silte e Areia
Os minerais das fracções de silte e areia desempenham um papel
fundamental na produção agrícola, pois, eles são fontes de nutrientes para
as plantas e os microrganismos do solo. Os principais minerais são:
a) O quartzo: A sua importância está associada à parte física do solo,
influenciando na textura, ou seja, quanto mais quartzo, mais arenoso é
o solo;

b) Os feldspatos: São divididos em feldspatos potássicos (aqueles que


possuem o elemento potássio na sua estrutura) e feldspatos calco-
sódicos (aqueles que possuem o cálcio e sódio na sua estrutura);

c) Piroxénios e Anfibólios: Esses minerais são ricos em Magnésio, Cálcio


e Ferro na sua estrutura, sendo também os seus elementos muito
importantes na nutrição vegetal.

d) Micas: Os micas são divididos em duas classes nomeadamente as


Muscovitas (fonte de potássio no solo) as Biotitas (fonte de potássio e
magnésio no solo), estes últimos de decompõem mais rápido que as
muscovitas.

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3.1.2. Principais Óxidos da fracção de argila
a) Goethita: Óxido de Ferro responsável pela coloração amarelada dos
solos;
b) Hematita: Óxido de Ferro responsável pela coloração avermelhada dos
solos;
c) Gipsite: Um tipo de Óxido de alumínio.
As fontes de nutrientes mais comuns são: calcário, cal, gesso,
fertilizantes químicos sólidos e líquidos (simples e misturas), compostos e
estrumes.

3.1.3. Composição química do solo


O solo como um sistema trifásico, com diferentes constituintes na fase
sólida, apresenta grande número de propriedades químicas próprias. A
sede dos fenômenos químicos e físico-químicos do solo é a fracção de
argila, pois trata-se de um sistema coloidal. A fracção coloidal é bastante
heterogênia, constituindo-se de partículas de diferentes espécies:
• Partículas minerais (argilominerais e óxidos);
• Partículas orgânicas (húmus, turfa, etc.);
• Compostos organo-minerais (associação de compostos minerais e
orgânicos).
As partículas do solo com grande área superficial em relação à sua massa
são chamadas de colóides e, estes podem ser orgânicos ou inorgânicos,
dependendo do material de origem para a sua formação. Nos colóides
existem dois tipos de cargas elétricas:
• Cargas permanentes: Aquelas oriundas da substituição isomórfica
no momento da formação do mineral;
• Cargas variáveis: Aquelas que se localizam nas arestas quebradas
dos minerais e, estas podem ser carregadas, positiva, neutra ou
negativamente, dependendo da constituição da solução que os
circundam.
Em função da presença das cargas elétricas, o solo é considerado um
verdadeiro armazém de iões e moléculas. Esses iões ou moléculas podem
ou não serem libertados para a solução do solo e, consequentemente
serem absorvidos pelas raízes e microrganismos ou migrarem para o lençol
freático.

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As cargas elétricas do solo
desempenham um papel
fundamental no ecossistema,
pois, são responsáveis pela
adsorção (retenção) nutrientes
que são utilizados pelas plantas
para o seu crescimento e
desenvolvimento.
A Adsorção de iões no solo ocorre
principalmente pela interação
entre as fases sólida e a fase Figura-21: Esquema da adsorção e
líquida do solo (figura-21). troca de íões no solo
A medida das cargas eléctricas negativas do solo é chamada de capacidade
troca aniónica (CTA) e a medida das cargas eléctricas positivas do solo
denominada de capacidade troca catiónicas (CTC). CTC varia com o pH do
solo em decorrência a existência de cargas eléctricas negativas
dependentes do pH, sendo assim classificado em:
• CTC efectiva ou real: Quando é determinada ao pH do solo;
• CTC potencial: Quando é determinada com uma solução a pH =7.
De maneira geral, os solos irão apresentar CTC efectiva menor que a
potencial, visto que na sua maioria são ácidos. A CTC potencial é estimada
através dos seguintes elementos adsorvidos:
CTCp = T = Ca+2 + Mg+2 + K+ +Na+ + H+ + Al+3
A CTCef será a soma dos mesmos elementos na ausência do ião hidrogênio,
ou seja:
CTCef = Ca+2 + Mg+2 + K+ +Na+ + Al+3
Os elementos Ca+2, Mg+2,+ K+ e Na+ são chamados de bases trocáveis e a
sua soma édada por:
S = Ca+2 + Mg+2 + K+ +Na+
A percentagem de bases trocáveis na CTC potencial é denominada de
saturacao de bases e, é dada por:
𝐒
𝑽 (%) = ∗ 𝟏𝟎𝟎%
𝐂𝐓𝐂𝐩
Quando a saturação de bases trocáveis for menor que 50%, o solo é
considerado distrófico, ou seja, muito acido e com baixa fertilidade e,
quando for igual ou maior que 50%, o solo é considerado eutrófico, ou
seja, alcalino e com alta fertilidade.

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Por exemplo
1. Com base nos dados da tabela abaixo, calcule:
Solo Ca+2 Mg+2 K+ Na+ Al+3 H+ Unidade
A (Franco-Arenoso) 3,3 1,8 0,15 0,05 4,7 4,0
Cmmol/kg
B (Franco Argilo-Siltoso) 37,7 5,8 0,17 0,16 1,7 1,2
a) Capacidade troca catiónica efectiva
b) Capacidade troca catiónica potencial
c) Soma de bases trocáveis
d) Saturação por bases
e) Interprete os resultados da alínea “d” comparando os dois tipos de
solo.

Resolução

Solo A (Franco Arenoso) B (Franco Argilo-Siltoso)


CTCef = Ca+2 + Mg+2 + K+ + Na+ + CTCef = Ca+2 + Mg+2 + K+ + Na+
Al+3 + Al+3
1.a)
= 3.3 +1.8 + 0.15 +0.05 + 4.7 = 37.7 + 5.8 + 0.17 + 0.16 + 1.7
=10 cmmol/kg 45.53 cmmol/kg
CTCp = Ca+2 + Mg+2 + K+ + Na+
CTCp = Ca+2 + Mg+2 + K+ + Na+ +
+ Al+3 + H+
Al+3 + H+
1.b) = 37.7 + 5.8 + 0.17 + 0.16 + 1.7
= 3.3 +1.8 + 0.15 +0.05 + 4.7 + 4.0
+ 1.2
= 14.0 cmmol/kg
= 46.73 cmmol/kg
S = Ca + Mg + K + Na
+2 +2 + + S = Ca+2 + Mg+2 + K+ + Na+
1.c) = 3.3 +1.8 + 0.15 +0.05 = 37.7 + 5.8 + 0.17 + 0.16
5.3 cmmol/kg = 43.83 cmmol/kg
S S
V(%) = ∗ 100% V(%) = ∗ 100%
CTCp CTCp
5.3 cmmol/kg 43.83 cmmol/kg
1.d) V(%) = ∗ 100% V(%) = ∗ 100%
14.0 cmmol/kg 46.73 cmmol/kg
V(%) = 37.857 % V(%) = 93.794 %

Solo eutrófico, ou seja, menos


Solo distrófico, ou seja, muito
1.e) ácido (alcalino) com alta
ácido com baixa fertilidade.
fertilidade.

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EXERCÍCIO
Com base nos dados da tabela abaixo, calcule:
Solo Ca+2 Mg+2 K+ Na+ Al+3 H+ Unidade
A 33,3 6,8 1,15 0,35 2,7 1,0
Cmmol/kg
B 7,7 1,8 0,17 0,16 3,7 4,2
a) Capacidade troca catiónica efectiva
b) Capacidade troca catiónica potencial
c) Soma de bases trocáveis
d) Saturação por bases
e) Interprete os resultados da alínea “d” comparando os dois tipos de solo.
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_________________________________________________________________________
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3.1.4. Matéria orgânica do solo
É todo composto que contém o carbono orgânico no solo, incluindo os
microrganismos vivos ou mortos, resíduos de plantas e animais
parcialmente decompostos. A matéria orgânica no solo é composta por
material orgânico fresco e húmus.
O material orgânico fresco é constituído por restos de plantas e de animais
que ainda não se encontram decompostos, tais como raízes, resíduos de
plantas, excrementos de animais e cadáveres. O material fresco é
transformado pelos organismos do solo em húmus, também denominado
matéria orgânica do solo. Durante este processo, são libertados nutrientes
e, desta maneira, a matéria orgânica disponibiliza nutrientes para as
plantas.
O húmus, isto é a matéria orgânica do solo, é o material que foi
decomposto de tal maneira que não se pode mais distinguir o material
fresco original. Confere uma cor escura ao solo.
3.1.5. Funções da matéria orgânica do solo
Na maioria dos solos, o teor da matéria orgânica varia de 0.5 a 5% nos
horizontes minerais superficiais, podendo apresentar valores mais
elevados em solos orgânicos.
A matéria orgânica é decomposta pelos microrganismos em húmus. A
decomposição adicional de húmus pelos microrganismos resulta na
libertação de nutrientes, principalmente N, P e S.
Mesmo em pequenas quantidades, a matéria orgânica do solo é muito
importante para os sistemas de produção agrícola, devido aos efeitos
benéficos que promovem nas propriedades químicas, físicas e biológicas do
solo.
a) Dentro das propriedades químicas
• A matéria orgânica tem forte efeito sobre a fertilidade do solo por
servir de fonte de nutrientes para as plantas, principalmente o N2, S
e P2O5;
• A matéria orgânica apresenta cargas elécticas que contribuem para a
capacidade troca catiônica do solo.
b) Dentro das propriedades físicas
• Os compostos orgânicos participam nas ligações entre as partículas
individuais do solo (areia, silte e argila), actuando como agentes
cimentantes dos agregados;

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• A maior estabilidade que a matéria orgânica promove aos agregados
também aumenta a resistência do solo à erosão;
• A cobertura do solo por resíduos orgânicos evita grandes variações
de temperaturas e humidade nas camadas superficiais do solo
durante o dia.
c) Dentro das propriedades biológicas
• Os compostos de carbono presentes na matéria orgânica servem
como fonte de nutriente e energia para os microrganismos do solo,
pois, sua actividade está directamente relacionada à disponibilidade
deste elemento.
3.2. Elementos essenciais para o crescimento das plantas
As plantas necessitam de luz solar, água, oxigénio e nutrientes em
quantidades variadas para crescer bem e produzir. Para cultivar uma
cultura é necessário conhecer quais os nutrientes que são requeridos,
quando e como os aplicar.
Um elemento sem o qual a planta não vive é chamado nutriente e, de
acordo com seu teor, o estado nutricional de uma planta varia da
deficiência à toxidez, passando pelo nível óptimo ou adequado.
As plantas necessitam de nutrientes em quantidades balanceadas, a fim
de suprir as suas necessidades de crescimento e desenvolvimento.
Na agricultura, sem considerar outros factores, a produtividade é também
proporcional, até certo limite, à quantidade de nutrientes fornecida pelo
solo e na forma de fertilizantes.
De acordo com a definição de Arnon & Stout (1939), um elemento é
considerado essencial quando atende aos três critérios seguintes:
a) O elemento deve estar directamente envolvido no metabolismo da planta
(como constituinte de moléculac, participar de uma reação, etc.);
b) A planta não é capaz de completar o seu ciclo de vida na ausência do
elemento;
c) A função do elemento é específica, ou seja, nenhum outro elemento
poderá substituí-lo naquela função.
Os elementos essenciais podem ser agrupados em:
a) Macronutrientes: Aqueles que são necessários em grandes
quantidades. Estes por sua vez são divididos em:
• Macronutrientes primários: Nitrogénio (N), Fósforo (P) e Potássio (K)

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• Macronutrientes secundários: Cálcio (Ca), Enxofre (S) e Magnésio
(Mg);
b) Micronutrientes: Aqueles que são necessários em menores
quantidades como, por exemplo, o Cloro (Cl), Manganês (Mn), Ferro
(Fe), Boro (B), Cobre (Cu), Níquel (Ni), Zinco (Zn) e Molibdénio (Mo).
3.2.1. Factores que influenciam na retenção dos nutrientes no solo
A retenção dos nutrientes no solo é influenciada por certo número de
factores, tais como:
a) A profundidade: As camadas mais profundas apresentam menor
quantidade de nutrientes disponíveis para as plantas do que as
camadas superficiais do solo. Camadas superficiais são caracterizadas
pelo maior acumulo de matéria orgânica, maior taxa de actividade
microbiana e consequentemente maior quantidade de nutrientes
disponíveis para o crescimento e desenvolvimento dos vegetais;
b) A estrutura: Os solos bem estruturados apresentam maior taxa de
aeração do solo, alta taxa reprodução e actividade de microrganismos
aeróbicos e consequentemente maior capacidade de retenção dos
nutrientes devido à estabilidade dos agregados do solo;
c) A textura do solo: Os solos de textura argilosa apresentam maior
capacidade de reter os nutrientes e sais minerais devido a presença de
microposos na sua estrutura, no entanto pelo contrário, os solos
arenosos (presença de macroporos), apresentam maior taxa de
infiltração de água no solo e consequentemente maior taxa de
lixiviação, o que faz que que estes tenham menor capacidade retenção
de nutrientre;
d) A drenagem interna e Porosidade: A drenagem interna dos solos está
relacionada à porosidade do mesmo, ou seja; os solos com maior
porosidade apresentam maior capacidade de drenar água e
consequentemente menor taxa de reter nutrientes e assim vice-versa;

e) O pH do solo: É um dos factores muito importante sobretudo na


disponibilidade de nutrientes do solo. Os solos com pH baixo (menor
que 4) são geralmente ácidos, e a acidez do solo faz com que a maior
parte dos nutrientes contidos no solo sejam difíceis de dissolver-se em
água e consequentemente indisponíveis para serem absorvidos pelas
plantas, mas, na medida que o pH do solo aumenta (com tentencia para
7), os nutrientes nele contidos facilmente dissolvem-se em água,
tornando estes disponíveis para serem absorvidos.

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No geral, os macronutrientes, o molibdénio e boro têm maior
disponibilidade na faixa de pH de 5 a 7. Por sua vez os micronutrientes,
com excepção de Mo e B, estão disponíveis em quantidades máximas na
faixa de pH que varia de 4 a 5. A tabela-9, apresenta as prováveis
características do solo em função do pH em água.
O pH do solo é um indicativo da sua fertilidade actual, isto é, da forma
química em que o alumínio encontra-se, se tóxica (Al3+) ou precipitada
Al(OH)3, do nível de solubilidade dos macro e micronutrientes e da
actividade de microrganismos no solo (Tabela-9).
Tabela-9: Prováveis características do solo em função do pH em água

pH Prováveis características do solo

Elevados teores de Al3+ (tóxico)


Baixos teores de Ca2+ e Mg2+
Baixa saturação por bases (V)
Boa disponibilidade de Zn, Cu, Fe, Mn
< 5,5 Baixa disponibilidade de B, Mo e Cl
Deficiência de P (formação de precipitados P-Al, P-Fe, P-Mn
e elevada adsorção nos colóides)
Menor perda de N por volatilização de NH3
Baixa atividade de microrganismos

Ausência de Al3+ (tóxico)


Boa disponibilidade de B
5,5 a 6,5
Disponibilidade intermediária dos demais micronutrientes
pH ideal para a maioria das culturas

Ausência de Al3+ (tóxico)


Elevados teores de Ca e Mg
Elevada saturação por bases (V)
Baixa disponibilidade de Zn, Cu, Fe, Mn
> 6,5
Boa disponibilidade de B até pH 7,5
Alta disponibilidade de Mo e Cl
Aumento das perdas de N por volatilização de NH3
Alta actividade de microrganismos

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3.3. Principais funções de nutrientes nas plantas
Os nutrientes são necessários para diferentes funções nas plantas, tais
como:
• A formação das raízes (elementos P, K, Ca, B);
• A formação das folhas (N, P, Ca);
• A formação das flores (N, B);
• O enchimento dos grãos e/ou frutificação (N, P, K, B);
• A formação dos grãos de pólen (B);
• Resistência das plantas as doenças (P, K);
3.4. Interpretação dos resultados de análises químicas do solo
Os resultados das análises do solo devem servir para a avaliação da
fertilidade do solo e a recomendação da adubação. Os métodos utilizados
nos laboratórios passam a ser úteis para avaliar a disponibilidade dos
elementos depois de convenientemente correlacionado com a resposta da
planta à aplicação dos fertilizantes ou aos nutrientes existentes no solo.
3.4.1. Teores de argila, matéria orgânica, macro e micronutrientes
A interpretação dos teores de argila e de matéria orgânica, macro e
micronutrientes é apresentada nas tabelas adiantes. O teor de matéria
orgânica do solo é utilizado como indicador da disponibilidade de
nitrogênio.

O conhecimento da CTC é importante para a caracterização do solo, a


interpretação dos teores de K e para orientar o maneio da adubação.

Tabela-10: interpretação dos teores de argila, de matéria orgânica e da


capacidade troca catiônica a pH=7.

No entanto, o agrupamento dos solos de acordo com o teor de argila é


necessário para a interpretação dos teores de fósforo extraído pela solução
de Mehlich-1 (Tabela-11).

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Tabela-11: Interpretação do teor de fosforo no solo extraído pelo método
Mehlich-1, conforme o teor de argila e para solos alagados.

(1) Teores de argila: classe1≥60%; classe 2 = 60 a 41%; classe 3 =40 a 21%; classe 4≤20%
Tabela-12: Interpretação do teor de fósforo extraído por resina de troca
aniônica em lâminas.

Tabela-13: Interpretação do teor de potássio conforme as classes de CTC


do solo a pH=7.

Tabela-14: Interpretação dos teores de cálcio, magnésio e de enxofre


extraível do solo.

(1) Para leguminosas, brássicas e liliáceas, o teor deve ser maior que 10 mg/dm3. A camada
de 10 a 20 cm de profundidade geralmente apresenta teor maior de enxofre que a
camada de zero a 10 cm.

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Tabela-15: Interpretação dos teores de micronutrientes no solo

(1)
Para a cultura de videira, o teor adequado de boro no solo varia de 0,6 a 1,0 mg/dm3.
(2) Este valor (5g/dm3) pode estar relacionado com a ocorencia de toxidez por ferro (bronzeamento), que
pode ocorrer em algumas variedades de arroz irrigado .

Tabela-16: Interpretação da acidez activa (Ph), acidez potencial (H+Al),


alumínio trocável (Al3+), CTC potencial (T), CTC efectiva (t), Soma de bases
trocáveis (SB), saturação por bases (V) e saturação por alumínio (m)

Exemplo
Dada a seguinte carta de análise química do solo:

a) Interprete os seus resultados

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Resolução

EXERCÍCIO
1. Interprete a seguinte carta de análise química do solo:

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_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
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3.5. Sintomas de defifiência de nurientes nas plantas
Para cultivar uma cultura é necessário conhecer quais os nutrientes que
são requeridos, quando e como os aplicar. Os nutrientes desempenham
um papel importante na fisiologia das plantas e quando não ocorrem nas
quantidades requeridas às plantas não crescem bem e apresentam
sintomas de deficiências.
As Deficiências nutricionais podem ser visualmente identificadas por
sintomas tais como descoloração ou mudança de cor, redução no
crescimento, ananismo.
3.5.1. Classificação dos nutrientes quanto a mobilidade
Os nutrientes apresentam diferenças nas suas funções como constituintes
metabólicos e estruturais nos órgãos vegetais. Isto determina uma variação
no grau de transporte e redistribuição dos nutrientes, que ocorre
predominantemente pelo floema.
Quanto a mobilidade, os nutrientes são classificados em:
a) Móveis: Causam sintomas nas folhas mais velhas com gradiente de
aumento dos teores das folhas velhas para as folhas novas (sintomas de
deficiencia de N, P, K, Mg e Cl);
b) Mobilidade intermediária: Causam sintomas nas folhas velhas, mas,
com maior predominancia nas folhas novas (sintomas de deficiencia de
S, Co, Cu, Fe, Mn, Mo e Zn);
c) Poucos móveis: Causam sintomas em folhas mais novas com gradiente
de aumento dos teores das folhas novas para as folhas velhas (Ca e B).
A maior ou menor mobilidade dos nutrientes no floema tem profunda
importância prática na identificação visual dos sintomas característicos de
alguma anormalidade (deficiência ou toxicidade). A localização da
sintomatologia nas folhas ocorrerá em função da redistribuição dos
nutrientes para os pontos de crescimento, dependentes de diversos
factores como o estágio de desenvolvimento das plantas, velocidade de
movimentação, entre outros.
Assim, a localização das folhas com sintomas (folhas de baixo ou de cima),
favorece a separação dos nutrientes pelos grupos de mobilidade e, dessa
maneira, aumenta as chances de predição do nutriente causador do
sintoma. Em todos os casos, é possível identificar um gradiente de
intensidade dos sintomas típicos.

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Como aplicação prática da avaliação da diagnose visual tem-se a
possibilidade de identificação da necessidade de aplicação de determinado
nutriente que estaria limitando a produção ou, mais amplamente, o ajuste
no programa de adubação.
Contudo, a decisão final só será eficientemente tomada, a partir da
diagnose foliar, através da análise química das folhas das plantas com
algum sintoma visual, comparando-as com as análises das folhas das
plantas consideradas sadias.
Finalmente, uma prática de maneio eficiente, juntamente com a análise do
solo, é o diagnóstico do estado nutricional das plantas que deve ser
adotado pelos agricultores, independentemente do aparecimento de
sintomas.
3.5.2. Deficiência de Nitrogênio (N) nas plantas
A absorção de N pela planta ocorre na forma de iões nitrato (NO3-) ou iões
amônio (NH4+) da solução do solo ou como amônia (NH3) ou N gasoso (N2)
da atmosfera. A fixação do N2 molecular atmosférico é dependente da
presença de microrganismos específicos de fixação do N em associação
simbiótica com plantas superiores.
Na deficiência de N ocorre uma clorose total das folhas mais velhas,
seguida de necrose e a falta de molibdênio (Mo) também ocorre à
deficiência de N.
Se a deficiência ocorre durante a fase inicial de desenvolvimento da
cultura, toda a planta aparece uniformemente verde pálido para amarelo.
Se a deficiência persistir ou
ocorrer em um estádio de
cultura mais maduro, uma
clorose amarela pálida se
desenvolve na ponta das folhas
velhas e avança em direção à
base da folha ao longo da
nervura central em um padrão
em forma de “V” (o sintoma
específico da deficiência de ni-
Figura-22: Sintomas de deficiência de
trogênio em milho) (Figura-22).
Nitrogênio.
Em plantas maduras, folhas verdes pálidas, folhas amarelas pálidas a
castanhas claras e folhas secas velhas podem aparecer simultaneamente.

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3.5.3. Deficiência de Fósforo (P) nas plantas
As raízes das plantas absorvem o P da solução do solo, mesmo com
concentrações muito baixas. A absorção de P pela planta ocorre na forma
de iões HPO42- e H2PO4- da solução do solo. O íão HPO42- domina em solos
calcários enquanto o íão H2PO4- domina em solos ácidos.

O P é móvel nas plantas e, em condições de remobilização, é facilmente


mobilizado de folhas mais velhas para folhas mais jovens. Os sintomas de
deficiência aparecem primeiro e tornam-se mais severos em folhas mais
velhas, enquanto as folhas jovens normalmente permanecem normais.
Na deficiência de P, ocorrem
plantas com crescimento
reduzido, ou seja, as plantas
parecem atrofiadas, finas e
esgrouvinhadas. O número e
o tamanho dos estômatos
nas folhas são diminuídos, o
crescimento da raiz é drasti-
camente reduzido e folhas
mais velhas com coloração
verde escuro ou verde-
azulada. Nos feijões ocorrem
Figura-23: Sintomas de deficiência de
baixa inserção de vagens
fósforo no milho.
(figura-23).
Sob condições severas de deficiência, as cores violeta ou violeta-vermelhas
se desenvolvem em folhas mais velhas. Na fase mais avançada, as folhas
afectadas queimam e morrem.
3.5.4. Deficiência de Potássio (K) nas plantas
O potássio sob a forma do íão K+ pode ser facilmente absorvido pelas raízes
das plantas a partir da solução do solo. A concentração de K+ na solução
do solo controla a taxa de difusão de K+ para as raízes das plantas e
também a absorção de K+.
O potássio aumenta a área foliar e o teor de clorofila, retarda a
senescência foliar e, portanto, contribui para maior fotossíntese e
crescimento da cultura. O potássio controla a perda de água das plantas,
já que o íão K+ desempenha um papel crucial na abertura e fechamento
dos estômatos.

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Os sintomas começam como uma clorose amarela pálida na ponta das
folhas velhas que cobrem o tecido marginal. A clorose é seguida de necrose
castanho pálido e tanto a clorose como a necrose avançam para a margem
em direção à base.
A clorose marginal e a necrose das folhas mais velhas são os sintomas
específicos da deficiência de K. Em condições de deficiência grave,
proeminentes faixas vermelhas se desenvolvem no tronco inferior e nas
bainhas foliares.
A deficiência de K provoca o
encurtamento dos entrenós e as
plantas com uma perda geral da
cor verde-escura da folha,
causando clorose internerval,
seguida de necrose nos bordos e
ápice das folhas velhas, a planta
mostra aspecto de queimada por
fogo e/ou herbicidas. Em solos
arenosos, se for aplicado todo na
semeadura, pode ocorrer
deficiência devido à lixiviação.
Por isso, 2/3 da dose deve ser Figura-24: Sintomas de deficiência de
aplicada em cobertua. Potássio.
3.5.5. Deficiência de Enxofre (S) nas plantas
O teor total de enxofre varia de 0,2 a 0,5% na matéria seca da planta. As
plantas absorvem o enxofre principalmente na forma de iões SO42- da
solução do solo. As plantas também podem absorver SO2 da atmosfera
através dos estômatos.
Os sintomas de deficiência do S são
semelhante à deficiência de N, porém
ocorre nas folhas novas, enquanto
que a clorose devido à deficiência de N
inicia nas folhas mais velhas, isto é,
as folhas mais velhas são mais verde
escuro e as mais jovens mais pálidas
(caso de deficiência de S) e as folhas
mais jovens são mais verdes escuras e
as mais velhas mais pálidas (caso de Figura-25: Sintomas de
deficiência de N). deficiência de enxofre no milho.

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A aplicação de N não funciona se o S for deficiente em uma cultura de
milho, no entanto, uma parte de S é necessária para cerca de 15 partes de
N. Em deficiências de S leves durante o estágio jovem da colheita, toda a
planta fica de verde pálido a amarelo-verde.
3.5.6. Deficiência de Cálcio (Ca) nas plantas
O teor de cálcio em plantas varia geralmente entre 0,5 e 3,0 % na matéria
seca da planta. A absorção de cálcio ocorre na forma de iões Ca2+ da
solução do solo. O cálcio pode ser absorvido apenas na região da coifa de
raízes jovens. O cálcio desempenha um papel muito importante no alon-
gamento das células e na divisão celular.
O Ca é imobilizado em plantas e, em condições de suprimento curto, não é
facilmente mobilizado de folhas mais velhas para folhas mais jovens. Na
deficiência de cálcio, são afectados os pontos de crescimento, tanto da raiz
como da parte aérea.
Os sintomas aparecem nas partes mais novas da planta, atrofiando o
sistema radicular, matando a gema apical. Há o retardamento da
emergência das folhas primárias que, quando emergem, adquirem forma
de taça, chamado de encarquilhamento.
Os sintomas de
deficiência de Ca
começam com lesões
internervais amarelas a
brancas em folhas
jovens. Se a deficiência
persistir e se tornar
mais severa, as novas
folhas emergentes
deixam de se
desenrolar.
Figura-26: Sintomas de deficiência de Cálcio
3.5.7. Deficiência de Magnésio (Mg) nas plantas
O Magnésio (Mg) na forma do íon Mg2+ pode ser absorvido pelas raízes das
plantas a partir da solução do solo. A absorção de Mg2+ pode ser
largamente reduzida por um excesso de outros catiões, especialmente de
K+ e NH4+. A translocação do Mg2+ das raízes para as partes superiores da
planta também pode ser restringida pelos iões K+ e Ca2+.

Página | 69
O Mg é móvel em plantas e, em
condições de suprimento
baixo, é facilmente mobilizado
de folhas mais velhas para
folhas mais jovens. Os
sintomas de deficiência
aparecem primeiro e mais
severamente em folhas mais
velhas. Na deficiência de
magnésio, as folhas mais
velhas mostram clorose
internerval (amarelo-claro) e Figura-27: Sintomas de deficiência de
nervuras cor verde-pálida. Magnésio.

3.5.8. Deficiência de micronutrientes


As plantas de milho com deficiência de Ferro (Fe) são atrofiadas com
folhagem amarela. Sendo o Fe imóvel nas plantas, os sintomas de
deficiência aparecem primeiro e mais severamente em folhas mais jovens.
As folhas mais velhas permanecem normais e aparentemente saudáveis. A
clorose internerval das folhas superiores é o sintoma específico da
deficiência de Fe.
O Manganês (Mn) é parcialmente móvel e não é facilmente mobilizado de
folhas mais velhas para folhas mais jovens. Na deficiência de Mn, ocorre
uma descoloração temporária dos tecidos internervais nas folhas do meio.
Se a deficiência tornar-se mais grave, desenvolvem clorose internerval que
se estende por todo o comprimento da folha.
A deficiência do Zinco (Zn) evita o alongamento dos entrenós, resultando
em folhas aglomeradas no topo da planta e fazendo uma aparência em
forma de leque. Como o Zn imóvel, os sintomas se desenvolvem primeiro e
mais severamente em folhas jovens. Faixas brancas a amarelas ou estrias
de tecidos branqueados aparecem em cada lado da nervura central,
começando na base da folha.
O Boro (B) é responsável pela divisão celular, o alongamento celular, a
translocação do açúcar e o funcionamento das hormonas das plantas. A
deficiência de B afecta a polinização ao impedir o crescimento do tubo
polínico. O B é imóvel, os sintomas de sua deficiência aparecem, portanto,
primeiro e mais severamente nas folhas mais jovens, tornando-as verde
pálido, curtas e erguidas e em condições aguda, listras aquosas e
transparentes.

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Figura-27: Sintomas de deficiência de ferro (A), Manganês (B), Zinco (C) e
Boro (D) no milho.
3.6. Aplicação de fertilizantes no solo
À medida que a produtividade das culturas aumenta, as quantidades de
nutrientes do solo diminuem, fazendo com que os solos fiquem pobres
(esgotados) em nutrientes. O esgotamento de nutrientes do solo ao longo
do tempo implica na má produção das culturas.
Assim, a alta produtividade das culturas torna-se dependente de uma
fonte externa de disponibilizar estes nutrientes às plantas e restaurar a
fertilidade do solo. A fertilidade regula o suprimento de nutrientes
herdados naturalmente nos solos ou aplicados como estercos ou outros
fertilizantes orgânicos ou organominerais.
O fertilizante é qualquer substância mineral ou orgânica, natural ou
sintética, capaz de fornecer um ou mais nutrientes essenciais às plantas,
com vista a aumentar a sua produtividade e qualidade.
Em alguns casos, os solos podem conter nutrientes e estes por sua vez não
estarem disponíveis para as plantas. Isto acontece quando o valor do pH
do solo for baixo, ou seja, quando o solo for muito ácido.
Para tornar esses nutrientes do solo disponíveis às plantas, deve-se fazer a
correcção através de substâncias denominadas correctivos de solo.
Correctivo de solo é toda substância adicionada ao solo para melhorar o
seu pH ou propriedades físicas, como o calcário, gesso e turfa por exemplo.
3.6.1. Classificação dos fertilizantes
Antes de aplicar quaisquer fertilizantes no campo de produção agrícola, é
importante conhecê-los, para obter uma boa produção, e estes podem ser
classificados tento em conta três critérios: Critério químico, Natureza do
nutriente e Critério físico.
Quanto ao critério químico, os fertilizantes são classificafos da seguinte
maneira:

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a) Fertilizantes minerais ou inorgânicos: São aqueles produzidos
industrialmente a partir de compostos inorgânicos ou minerais, (por
exemplo: Fosfato monoamónico (MAP), Fosfato diamónico (DAP), NPK,
Ureia, etc;) e, estes, por sua vez, são divididos em três grupos que são:
• Fertilizantes minerais simples: Aqueles formados por um
composto químico que contem um só nutriente (por exemplo: Ureia,
Superfosfato simples, etc.);
• Fertilizantes minerais complexos: Aqueles que contém dois ou
mais nutrientes na sua composição (por exemplo: MAP, DAP, NPK,
Superfosfato duplo e triplo, etc);
• Fertilizantes minerais mistos: Resultantes da mistura de dois ou
mais fertilizantes complexos ou simples.
b) Fertilizantes orgânicos: são aqueles produzidos a partir da
decomposição de vários materiais orgânicos que podem ser de origem
animal ou vegetal (por exemplo: estéricos das aves, dos bovinos, restos
vegetais, etc.)
c) Fertilizantes organominerais: são produzidos industrialmente a partir
e misturas de fertilizantes orgânicos e minerais.
Quanto à natureza do nutriente contido, os fertilizantes podem ser:
a) Macronutrientes primários: Aqueles compostos por macronutrientes
primários, e podem ser:
• Fertilizantes fosfatados: Aqueles que contém fósforo na sua
composição (Superfosfato simples, Superfosfato duplo, Superfosfato
triplo, MAP, DAP, NPK, etc)
• Fertilizantes nitrogenados: Aqueles que contém nitrogênio na sua
composição (Ureia, MAP, DAP, NPK, Nitrato de potássio, etc)
• Fertilizantes potássicos: Aqueles que contém potássio na sua
composição (cloretos de potássio, NPK, Nitrato de potássio, etc.)
b) Macronutrientes secundários: Aqueles compostos por
macronutrientes secundários, e podem ser:
• Fertilizantes cálcicos: Aqueles que contém cálcio na sua
composição (Nitrato de cálcio, carbonato de cálcio, etc);
• Fertilizantes magnesianos: Aqueles que contém Magnésio na sua
composição (Carbonato de Magnésio, etc)

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• Fertilizantes sulfurados: Aqueles que contém enxofre na sua
composição (Sulfato de potássio, Sulfato de Amônio, etc).
c) Micronutrientes: Aqueles compostos por micronutrientes (ferro, zinco,
cloro, manganês, boro, etc.)
Quanto ao critério físico, os fertilizantes são classificados da seguinte
maneira:
a) Fertilizantes sólidos (aplicados à lanço ou de forma localizada):
• Fertilizantes sólidos em pó ou farelados;
• Fertilizantes sólidos granulados ou compostos granulados.
b) Fertilizantes líquidos (aplicados por fertirrigação ou pulverização)
c) Fertilizantes gasosos (aplicados por injeção, ou fumigação)

Figura-28: Ferlilizantes sólidos (granulados e pó) e líquidos


3.6.2. Características dos fertilizantes
Quantos a natureza física e química, os fertilizantes apresentam certas
características, das quais incluem:
a) A solubilidade do fertilizante: É a característica de o fertilizante
dissolver-se em água, ácido e em meio alcalino. Por exemplo, os
fertilizantes nitrogenados e potássicos dissolvem-se facilmente em água
e, os fosfatados em água e ácidos.
b) Higroscopicidade: É a capacidade de o fertilizante absorver água da
atmosfera e, tem implicação directa sobre a compatibilidade entre os
fertilizantes na produção de misturas.
c) Salinidade dos fertilizantes: É caracterizada pelo índice salino do
fertilizante, ou seja, a pressão osmótica causada pelo fertilizante. Por
exemplo, o Nitrato de sódio (NaNO3) apresenta o índice salino =100 e
Ureia=75 de índice salino.
d) Reacção do fertilizante: É a capacidade que os fertilizantes tem de
alterar a reacção do meio no qual são solubilizados. A reacção pode ser
acida ou alcalina.

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• Reacção ácida: Expressa a quantidade de CaCO3 necessária para
corrigir a acidez gerada pelo fertilizante;
• Reacção alcalina: Expressa a quantidade de CaCO3 que gera
alcalinidade equivalente à gerada pelo fertilizante.
3.6.3. Compatibilidade dos fertilizantes
O conhecimento sobre a compatibilidade entre os fertilizantes é de
fundamental importância para a produção de novas formulações a partir
de formulações já existentes. Neste caso, antes de misturar quaisquer
fertilizantes, deve-se avaliar a compatibilidade destes para evitar a
segregação dos nutrientes contidos, formação dos agregados maiores e a
volatilização acentuada em caso de fertilizantes nitrogenados.
A compatibilidade dos fertilizantes é dividida em dois tipos a saber:
a) Compatibilidade química: Antes de misturar quaisquer fertilizantes é
necessário saber a higroscopicidade das matérias primas que serão
utilizadas, como também saber se são ou não compatíveis por forma a
evitar a formação de agregados maiores (empedramento) ou
volatilização acentuada dos elementos químicos;
b) Compatibilidade física: Não se podem misturar materiais granulares
com farelados ou em pó, por forma a evitar a segregação de nutrientes
contidos no fertilizante.
A compatibilidade dos diferentes fertilizantes pode ser identificada com
ajuda de a figura-29 a seguir:

Figura-29: Compatibilidade entre os fertilizantes e correctivos para a obtencao de


formulas comerciais destinadas à aplicacao no solo.

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3.7. Aplicação dos fertilizantes no solo
A adição de fertilizantes ao solo visa concentrá-los onde as plantas possam
aproveitá-los mais fàcilmente, bem como reduzir ao mínimo a fixação de
certos nutrientes, como o fósforo. Para as culturas de curta duração, é
essencial que as plantas adiantem-se em seu crescimento, o que náo é tão
importante para as plantas de longa duração, que podem recuperar-se de
um atraso inicial de desenvolvimento.
3.7.1. Métodos de aplicação
A escolha do método mais adequado depende de vários factores como a
textura do solo, seu teor de humidade, sua capacidade de fixação dos
nutrientes, o desenvolvimento do sistema radicular de cada cultura e sua
capacidade de extrair nutrientes, assim como o tipo e a quantidade do
fertilizante a ser aplicado.
O agricultor, ao escolher o método de aplicação, deve também levar em
conta o custo pela mão-de-obra exigida para cada método e o equipamento
necessário.
Não é muito fácil responder à pergunta: Como e quando aplicar os
fertilizantes? Há casos em que obtêm-se melhores resultados quando de
sua aplicação antes da sementeira, complementando-a com as chamadas
aplicações "parceladas" nas primeiras fases de desenvolvimento das
plantas. Noutras circunstâncias, é melhor a aplicação localizada em faixas,
do que a lanço. Em outros casos, tanto a lanço, como localizada em faixas,
dão bons resultados. Em certas condições, os efeitos são bons, quer se
apliquem todos os fertilizantes antes da sementeira, quer ao mesmo
tempo, com a semente, na sementeira, etc.
Portanto são múltiplas as condições e as circunstâncias a serem
consideradas na recomendação da época e dos métodos de aplicação de
fertilizantes. Em geral, esses métodos são divididos em dois grupos,
designados por métodos directos e métodos indirectos.
Os métodos directos consistem na aplicação de fertilizantes e/ou adubos
directamente no solo, que pode ser por estrumação e aplicação de
compostos orgânicos ou químicos na forma líquida ou sólida em misturas
ou simples, por calagem, gessagem, etc, ou por pulverização (adubação
foliar).
Dentre os metodos directos para a aplicação de fertilizantes, são citados os
seguintes:

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a) Distribuição a lanço
A distribuição a lanço compreende todos os processos utilizados para
aplicar o fertilizante na superfície do solo, mesmo que depois tenha que ser
misturado ao solo por meio de aração ou gradagem. Os objectivos
principais da aplicação "a lanço" são:
• Distribuir o adubo de modo uniforme e incorporá-lo parcial ou
totalmente ao solo;
• Aplicar grandes quantidades de fertilizantes sem correr o risco de
causar injuria às sementes ou plantas.
Esse método geralmente é usado nos seguintes casos:
• Na aplicação de calcários e de matéria orgânica;
• Nas adubações em que se empreguem grandes quantidades de
fertilizantes (adubação pesada), parte dele é distribuida a lanço;
A distribuição a lanço é menos eficiente que a aplicação em faixa porque
determina:
• Menor concentração de fertilizantes na zona das raizes;
• Aumento na quantidade de fósforo e de potássio fixados e portanto,
não aproveitáveis.
Não é correcto proceder primeiro a lavoura e depois aplicar o fertilizante a
lanço", gradeando-se a seguir, porque a gradagem incorpora o fertilizante
apenas nos 5 a 8 cm da superfície do solo. O correto é aplicar "a lanço" e, a
seguir lavrar, pois assim o fertilizante é incorporado a maior profundidade.
Isso é particularmente importante para nutrientes que se movimentam
pouco no solo, como o fósforo é geralmente o potássio.
A distribuição a lanço pode ser manual ou através de distribuidores de
vários tipos, sendo o mais utilizado é o distribuidor centrífugo acoplado a
um tractor.

Figura-30: Distribuidores a lanço (A) fertilizantes químicos (B) orgânicos

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c) Aplicação localizada
Aplicação localizada significa colocar o fertilizante em "faixas" ou zonas
iróximas às raízes ou ao longo das "linhas" de cultivo. Êsse método, que
leva em consideração as posições relativas da semente e do fertilizanie,
geralmente é utilizado quando se deseja aplicar quantidades relativamente
pequenas de fertilizante.
A aplicação localizada em faixas ou em linhas é efectuada no momento da
sementeira, utilizando uma máquina semeadeira-adubadeira. Adubos
aplicados fora da região de desenvolvimento das raízes não serão
aproveitados. Quando eles são dispostos em faixas ou em linhas próximas
às sementes ou às plantas, as raízes das plantas jovens têm garantido um
suprimento de nutrientes maior do que na aplicação a lanço.
Com isso, logo após a gertninação, passam a ter o crescimento acelerado,
tornando-se mais vigorosas e mais resistentes a doenças e pragas, o que se
traduz em vantagem econômica. Outra vantagem da aplicação em "faixa"
ou em "linha" é o maior aproveitamento dos nutrientes, como o fósforo e o
potássio, que podem se perder devido ao fenômeno de "fixação" no solo,
não sendo aproveitados pelas culturas.
A aplicação localizada torna pequeno o contacto entre tais elementos e as
partículas de solo, havendo muito menor fixação e maior disponibilidade
às plantas. Na aplicação localizada em "faixa", o fertilizante é colocado em
faixas em um ou em ambos os lados da semente ou planta.
Equipamento especial coloca as faixas de fertilizantes 5 a 8 cm ao lado e
2,5 a 5 cm abaixo da semente ou da planta transplantada. As máquinas de
aplicação devem ser cuidadosamente ajustadas, para evitar consequências
desastrosas.

Figura-31: Aplicação localizada de fertilizantes químicos (equipamento de


tracção animal e mecanizada)

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Em plantas que possuem um sistema radicular fasciculado, como o milho,
a maneira mais satisfatória de aplicar adubo é a 5 cm ao lado e um pouco
abaixo da semente. Naquelas com sistema radicular bem pivotante ou
profundo, como o tomateiro, pode-se colocá-lo abaixo da semente.
O maior risco da aplicação do fertilizante próximo às sementes é dificultar
a germinação ou danificar a planta jovem, pela excessiva concentração de
sais solúveis. Em solos secos e arenosos, o prejuízo é maior quando o
fertilizante é de elevada concentração em sais solúveis.
Os fertilizantes nitrogenados e potássicos, mais que os fosfatados,
determinam maior aumento na concentração salina da solução do solo.
Quando há necessidade de aplicar elevadas quantidades de nitrogênio,
fósforo e potássio em misturas, as vantagens advindas da colocação do
fósforo próximo à semente ou à planta são anuladas pela presença do
nitrogênio e do potássio, que, por estarem na mistura em elevada
concentração, poderá causar danos à semente ou à planta.
A concentração salina elevada, em contacto directo com a semente ou com
a planta jovem, ocasiona prejuízos porque impede que a semente retire a
água necessária à germinação ou provoca a chamada queima na planta.
Os métodos indirectos consistem na melhoria de conteúdo de material
orgânico no solo (cobertura morta, sideração, adubação verde,
consociação de culturas, rotação de culturas e pousio verde).
a) A Cobertura morta (Mulching)
A cobertura morta consiste em cobrir o solo com material orgânico, como
por exemplos resíduos de plantas, palha ou folhas ou de outros materiais,
como sejam o plástico ou cascalho.
E, quando a cobertura morta é efectuada com material orgânico, se
objectiva a:
• Aumentar ou preservar o conteúdo de matéria orgânica no solo;
• Utilizar melhor os nutrientes contidos nos adubos químicos;
• Estimular o desenvolvimento dos organismos do solo.
É preciso aplicar a cobertura morta antes do início da estação das chuvas
pois nessa altura o solo encontra-se menos vulnerável. Após se proceder à
deposição da semente, os orifícios devem ser fechados, pois de contrário os
pássaros podem aperceber-se da existência dessas sementes. A camada de
cobertura morta não deve ser muito espessa, apenas sendo suficiente que
não se possa ver o solo.

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Caso a camada seja muito espessa, os rebentos terão dificuldade em
brotar à superfície.

Figura-32: Cobertura morta


b) Adubação verde (sideração)
Este método consiste em incorporar no solo, por meio da lavoura, plantas
verdes, não-lenhosas (ou partes dessas plantas). Pode tratar-se de plantas
que cresceram depois ou ao mesmo tempo que a cultura principal, de uma
erva daninha que se desenvolveu durante o período de pousio, ou também
de folhas de uma árvore ou de uma planta de sombra que caíram no solo.

Figura-33: Adubação verde (sideração)


São os seguintes os objectivos da adubação verde:
• Pôr os nutrientes à disposição da cultura principal;
• Melhorar a estrutura do solo;
• Aumentar ou preservar o conteúdo da matéria orgânica no solo;
• Aumentar a capacidade do solo de reter humidade;
• Proteger o solo contra a erosão hídrica e eólica;
• Caso sejam utilizadas plantas leguminosas como adubo verde, este
tem objectivo de fixar mais azoto (nitrogênio) do ar atmosférico que
em seguida ficará disponível para a cultura principal;

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c) Consociação de culturas
Consociação (associação) de culturas é um método que consiste em
produzir duas ou mais culturas simultaneamente, na mesma parcela. Se
se combinarem culturas que têm diferentes padrões de crescimento,
obtém-se um melhor aproveitamento do ar, água e nutrientes disponíveis.
A associação de culturas tem por objectivo:
• Um aumento imediato da produção que se compara com a
monocultura (caso se possa obter água suficiente),
• Uma repartição dos riscos de má produção sobre várias culturas.

Figura-34: Consociação de culturas


d) Rotação de culturas
Este método consiste em produzir culturas, de forma alternada, no mesmo
campo época-após-época. Ao se escolherem culturas que têm sistemas
radiculares diferentes e que não contraem as mesmas doenças, beneficia-
se de algumas das vantagens do sistema de consociação de culturas.
e) Pousio verde
Durante um período de pousio verde, semeiam-se ou estimulam-se as
espécies que possuem melhores qualidades em vez das espécies que
normalmente cresceriam espontaneamente no período de pousio.
O objectivo do pousio verde é de restabelecer rapidamente a fertilidade do
solo. Tradicionalmente os períodos de pousio são utilizados para restaurar
a fertilidade do solo depois do mesmo ter sido cultivado por um certo
tempo e de parar o crescimento das ervas daninhas que brotam entre as
culturas.

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3.7.2. Factores que influenciam na época de aplicação de fertilizantes
A época de aplicação de fertilizantes deve coincidir com aquela que
antecede a maior demanda da cultura, desde que estes fertilizantes sejam
de alta solubilidade. Esse é o caso, principalmente, dos fertilizantes
nitrogenados e potássicos, que, em geral são solúveis em água.
O parcelamento adequado de adubação nitrogenada e, em certos casos, da
adubação potássica, é essencial para aumentar a eficiência destes
fertilizantes na maioria dos casos. Fertilizantes e/ou correctivos pouco
solúveis, como é o caso de fosfatos naturais de baixa reatividade e calcário,
devem ser aplicados com a necessária antecedência, para que ocorra o
processo de dissolução e haja elevação dos níveis dos nutrientes na
solução do solo.
Os principais factores que influenciam na época de aplicação de
fertilizantes são:
• O estágio de desenvolvimento da cultura;
• O clima (precipitação e temperaturas);
• O tipo do solo e fertilizantes (solúveis ou pouco solúveis);
• O tipo de sistemas agrícolas (sistemas de produção no sequeiro ou
não, consociação ou não).

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EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO
1. Os nutrientes são elementos muito importantes para as plantas no
solo, que podem ser de diferentes origens.
a) Descreva a sua proveniência.
b) Apresente os conceitos de deficiência, excesso e toxicidade de
nutrientes no solo.
2. Dos elementos de nutrição seguintes: S; P; Mn; N; Mo; K; Mg; Ca;
Zn e Fe.
a) Agrupe-os em macronutrientes primários e secundários e
micronutrientes.
b) Classifique-os quanto à mobilidade e faça uma relação com os
sintomas de deficiência.
3. Explique como é que a compatibilidade das matérias primas influencia
na mistura dos fertilizantes.
4. Indique a compatibilidade das seguintes fertilidades:
a) Nitrato de sódio e MAP
b) Sulfato de potássio e ureia
c) Nitrato de amônio e ureia
d) Superfosfato triplo e termofosfato
e) Ureia e superfosfato.
5. O fertilizante é definido como seno qualquer substância mineral ou
orgânica, natural ou sintética, capaz de fornecer nutrientes
essenciais às plantas.
a) Explique pelo menos três (3) vantagens e três (3) desvantagens dos
fertilizantes orgânicos e inorgânicos.
b) Classifique e descreva uma classificação de fertilizantes.
c) Mencione dois (2) fertilizantes fosfatados, dois (2) nitrogenados e dois
(2) potássicos.
6. A aplicação de fertilizantes no solo visa concentrá-los onde as
plantas possam aproveitá-los mais facilmente.
a) Descreva os principais métodos de aplicação de fertilizantes;
b) Explique os factores a ter em conta na escolha do método de
aplicação de fertilizantes;
c) Descreva os facotres que interferem na época de aplicação de
fertilizantes.

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RESULTADO DE APRENDIZAGEM
Aplicar

culturas
os
apropriados aos
Aplicar os nutrientes apropriados aos solos ou culturas
nutrientes
solos ou

Neste resultado de aprendizagem, os formandos terão oportunidade de


aprender sobre:
4
a) Ferramentas de aplicação manual de fertilizantes
b) Fontes de nutrientes do solo
• Químicos (calcário, cal, gesso e misturas);
• Compostos (estrumes).

c) Cálculos da dosagem de nutrientes a aplicar


• Formulações;
• Quantidade de fertilizante a ser aplicado com base nas
recomendações da análise do solo.

d) Técnicas de aplicação de Fertilizantes


• Adubação de fundo;
• Adubação de cobertura.
e) Factores que afectam a eficácia da aplicação de fertilizantes
• Época agrícola, precipitação, humidade no solo;
• Estágio de desenvolvimento da cultura, forma de aplicação e
uniformidade de distribuição.

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4.1. Ferramentas para aplicação manual de fertilizantes
Os adubos orgânicos, químicos e os organominerais são aplicados nas
covas, nos sulcos ou nos canteiros e incorporados para evitar que as
sementes ou as raízes das mudas entrem em contato direto com maior
concentração do fertilizante.
A aplicação pode ser feita de forma manual ou mecânica. Ao utilizar a
distribuidora mecânica, deve-se sempre regular o equipamento para que a
linha de aplicação do fertilizante esteja afastada à linha de sementeira ou à
linha de distribuição das mudas.
Para aplicar manualmente os adubos, utiliza-se ferramentas manuais
como medidores, baldes plásticos, garrafas PET, balanças, fita métrica,
enxada, etc. Para assegurar que a dosagem seja uniformemente
distribuída, os medidores devem ser bem calibrados.

Figura-35: Aplicação de fertilizantes usando ferramentas manuais.


4.2. Fontes de Nutrientes
Para que as culturas expressem seu potencial produtivo, é necessário que
apresentem a melhor condição nutricional possível, alcançada quando o
solo apresenta-se equilibrado com relação aos teores dos nutrientes
disponíveis para as plantas.
A melhoria das características químicas do solo, com vistas à busca desse
equilíbrio, pode ser realizada por meio do maneio da adubação. São
exemplos a realização da calagem e a gessagem, que possibilitam ajuste do
pH, diminuição da actividade do Alumínio tóxico no solo e fornecimento de
Ca, Mg e S para as plantas.

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4.2.1. Fração mineral do solo
O solo fornece diversos macro e micronutrientes, dependendo da rocha a
partir da qual esse solo se formou. O fósforo mineral no solo está
relacionado com rochas eruptivas e rochas sedimentares e o potássio é um
elemento também, muito abundante nas rochas e no solo, podendo em
solos bem nutridos, o seu teor total superar 1%. Grande parte desse
potássio encontra-se em minerais, que contêm o elemento nas suas
estruturas cristalinas. Os minerais primários portadores de potássio mais
importantes encontrados em rochas ígneas, são os feldspatos e dois tipos
de micas (moscovite e biotite).
O cálcio encontra-se no solo na forma de carbonatos, sulfatos e silicatos.
Os solos calcários das regiões áridas, são os que possuem o cálcio em
maior quantidade.
A fração mineral, como areia e rochas, constitui a maioria dos solos, a qual
se divide para dar origem a outras frações minerais, chamadas de limo e
argila. O reservatório principal de nutrientes do solo para as plantas são a
argila e o húmus.
As partículas de argila são muito pequenas e possuem carga negativa. Os
solos arenosos são deficientes em argila e húmus e as partículas de areia
não possuem carga, o que facilita a perda dos nutrientes por lixiviação
(perda através do perfil do solo).
4.2.2. Microrganismos em simbiose (fixação simbiótica)
Fixação é o nome que se dá ao processo de transformação do nitrogênio
(N2) em compostos azotados. As bactérias do género Rhizobium fazem uma
simbiose com as raízes das leguminosas formando nódulos, transformando
o azoto atmosférico (N2) em formas assimiláveis pelas plantas, ou seja,
retiram o azoto da atmosfera e transformam-no em Nitratos (NO3), Nitritos
(NO2) e amónia solúvel (NH3), que são formas directamente assimiláveis
pelas plantas. Só as plantas leguminosas, têm acapacidade de criar uma
simbiose entre as suas raízes e o Rhizobium.
4.2.3. Microrganismos em vida livre (fixação não simbiótica)
As bactérias fixadoras de azoto não simbióticas mais importantes para a
agricultura são a Azotobacter e a Beijerinckia, largamente disseminadas na
água e no solo. São aeróbias e desempenham um importante papel no ciclo
do azoto na natureza, captando azoto atmosférico (N2), que é inacessível às
plantas, libertando-o em forma de iões amónio no solo. Estas bactérias,
obtêm a energia a partir da decomposição de resíduos vegetais.

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4.2.4. Fixação atmosférica
A fixação atmosférica ocorre através dos relâmpagos, cuja elevada energia
separa as moléculas do azoto atmosférico N2 e permite, que os seus
átomos se liguem com moléculas de oxigênio existentes no ar, formando
óxidos de azoto, que ao serem hidratados pelo vapor de água, transforma-
se em nitratos, os quais são levados para a terra pelas chuvas,
denominando-se estas, de chuvas ácidas. A fixação atmosférica contribui
com 3 a 4 % de todo o azoto fixado.
4.2.5. Fixação industrial
Através de processos industriais (o processo de Haber-Bosch) é possível
produzir amoníaco (NH3) a partir de azoto (N2) e hidrogénio (H2). A fixação
industrial é de grande importância agronómica, pela necessidade do uso
de fertilizantes azotados para atender à necessidade deste macronutriente,
pelas culturas. a partir do processo de Haber-Bosch, 75 % da amónia
produzida é utilizada como fertilizante.
4.2.6. Fixação por combustíveis fósseis
A poluição atmosférica é muito preocupante, por afectar grandemente a
população mundial. Um desses poluentes é o dióxido de azoto (NO2), gás
muito comum, tóxico, com cheiro forte e coloração castanha em algumas
situações. O azoto atmosférico (N2) e o oxigênio molecular (O2) reagem,
formando o monóxido de azoto (NO), proveniente da queima de
combustível no motor de carros ou em fornos industriais onde a
temperatura é muito elevada. O NO oxidado na atmosfera pelo O2 forma o
dióxido de azoto (NO2). O monóxido de azoto e o dióxido de azoto são
dissolvidos na água das chuvas e depositados no solo.
4.2.7. Matéria orgânica fresca
Designa-se por matéria orgânica fresca, o restolho das culturas, os restos
de plantas que ficam no solo, as carcaças de animais, os dejetos dos
animais, etc., em diferentes fases de decomposição realizada por fungos,
bactérias, minhocas, etc. Esta matéria orgânica sofre dois processos:
A humificação, que irá originar o húmus
A mineralização, que é um processo essencialmente biológico e o qual é
responsável pelo fornecimento de nutrientes essenciais para o crescimento
das plantas, como são os macronutrientes primários (nitrogênio, fósforo e
potássio), macronutrientes secundários (cálcio, magnésio e enxofre) e
micronutrientes (cobre, zinco, manganês, etc.).

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A maior ou menor mineralização e humificação da matéria orgânica fresca,
está relacionada com a sua relação C/N. Quanto maior for esta relação nos
resíduos, mais mineralização haverá e inversamente, quanto menor esta
relação, mais os resíduos são humificados.
Designa-se por coeficiente isohúmico, a percentagem de matéria orgânica
fresca, que se transforma em húmus e coeficiente de mineralização, a
percentagem de matéria orgânica fresca que se mineraliza, sendo:
• Coeficiente isohúmico + coeficiente de mineralização = 1= 100%.
4.2.8. Matéria orgânica do solo (húmus)
A matéria orgânica é de importância vital para o solo e como está em
constante decomposição, será necessário repô-la, com alguma frequência.
Tal como referido anteriormente, ao decompor-se, a matéria orgânica
fresca liberta nutrientes e formam-se outras substâncias orgânicas, entre
as quais o húmus também, designado por matéria orgânica estável.
O húmus é de fundamental importância para a estrutura do solo, ao
funcionar como agente cimentante na formação de agregados,
principalmente agregados argilo-húmicos, que são os mais estáveis. O
húmus tem também, uma grande capacidade de reter água, a qual será
fornecida às plantas, sendo igualmente importante para a vida da fauna e
flora do solo.
4.2.8. Adubos ou fertilizantes
Os adubos ou fertilizantes são produtos químicos ou orgânicos, que visam
fornecer nutrientes necessários às plantas, de modo a aumentar a sua
produção. Apresentam elevados teores de nutrientes, sobretudo
macronutrientes principais (nitrogênio, fósforo e potássio) e actuam sobre
as culturas de forma essencialmente directa, permitindo uma maior
absorção.
Podem também, fornecer macronutrientes secundários (cálcio, magnésio e
enxofre) e micronutrientes, tais como: ferro, manganês, zinco, cobre, boro,
molibdénio, cloro ou outros elementos benéficos. Podem ser aplicados à
parte aérea das plantas (adubação foliar) ou ao solo.
O fornecimento dos demais nutrientes é realizado por meio de adubações
que podem ser divididas em orgânica, organomineral e mineral.

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4.3. Cálculos da dosagem de nutrientes a aplicar
4.3.1. Formulação dos fertilizantes
O conhecimento e o significado da formulação do fertilizante são
importantes para determinar a quantidade dos diferentes nutrientes a
serem aplicado numa determinada cultura. A formulação é obtida pela
mistura de fertilizantes simples, granulados ou compostos granulados,
resultando em diferentes concentrações dos fertilizantes NPK, NP, NK ou
PK. As formulações são expressas em percentuais, por exemplo:
• NPK (12-24-10) corresponde à: 12% de Nitrogênio (N), 24% de
fosforo (P2O5) e 10% de potássio (K2O) respectivamente.
4.3.2. Determinação da quantidade do fertilizante
A aplicação adequada dos fertilizantes num campo de produção é sempre
antecedida de uma análise do solo (a quantidade e tipos de nutrientes que
o solo dispõe) e das necessidades da cultura (a quantidade de nutrientes
que uma determinada cultura precisa, durante o seu crescimento e
desenvolvimento).
Feitas estas análises, é dada uma recomendação referente ao tipo e a
quantidade de cada elemento a ser aplicado naquela área de produção
agrícola.
Para calcular a quantidade do fertilizante a ser aplicado por uma unidade
de área e segundo as recomendações dada, é sempre necessário
determinar a relação do fertilizante. A relação do fertilizante é a proporção
relativa dos elementos nutritivos entre si num determinado fertilizante.
No entanto, para calcular a relação dos nutrientes necessários, dividem-se
as quantidades recomendadas pelo máximo divisor comum (mdc) das
mesmas. O resultado e cada divisão, irá indicar a proporção (relação) entre
os nutrientes necessários.
Sabida a relação existente entre os nutrientes necessários, determina-se a
formulação correspondente. Para o cálculo da formulação, multiplica-se a
relação encontrada por um número inteiro qualquer, desde que as somas
dos seus percentuais não sejam inferiores que 24% e nem superiores que
54% (segundo a legislação internacional para produção de formulações de
fertilizantes).

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4.3.3. Formulação de misturas de fertilizantes
No preparo de mistura de fertilizantes, após a escolha da matéria prima,
tem que determinar-se as quantidades dos diversos materiais para
fornecer os teores adequados de nutrientes.
Na mistura de fertilizantes, há usualmente uma diferença entre o peso dos
materiais necessários para fornecer os nutrientes e o poso final de uma
tonelada. Essa diferença é habitualmente completada com materiais
conhecidos como “inertes”. Conforme a mistura a ser preparada, há
necessidade de juntar os chamados "materiais inertes", adicionados aos
fertilizantes em pó ou granulacios para melhorar sua condição física ou
evitar sua tendência ao empedramento.
Os "materiais inertes" não contêm nutrientes ou contêm-nos em pequena
quantidade. Os mais usados para fertilizantes granulados são areia e
calcário e, para os fertilizantes em pó são a Turfa, húmus, palha de arcoz,
cascas de amendoim, cascas de coco, espiga de milho moído. Considera-se
que, em média, cerca de 20% do peso dos fertilizantes vendidos é
constituído por materiais inertes".
Por exemplo
Após uma análise do solo e das necessidades da cultura de milho,
recomenda-se aplicar por adubação de fundo 10kg/ha de N, 60kg/ha de
P2O5 e 30kg/ha de K2O.
a) Calcule a relação entre os nutrientes necessários
Primeiro é achar o maior divisor comum (mdc) entre as quatidades
recomendadas, e para o este exemplo, o mdc entre 10, 60 e 30 é 10, sendo
assim, teremos: 10/10=1, 60/10=6 e 30/10=3.
R/: A relação entre os nutrientes necessários NPK (1:6:3)
b) Calcule a formulação do fertilizante NPK, com base nas
recomendações dadas.
Neste caso, escolheu-se o número 5 para multiplicar-se com cada elemento
da relação, ou seja: NPK (1x5, 6x5 e 3x5), na qual teremos:
R/: Formulação NPK (5-30-15)
c) Qual é a percentagem de cada elemento na formulação
encontrada?
R/: Na Formulação NPK (5-30-15), temos 5% de N, 30% de P2O5 e 15% de
K2O.

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d) Qual é a quantidade de cada elemento num saco de 50kg?
Considerando que um saco de 50kg corresponde a 100% do fertilizante
NPK, teremos:
50kg-----100%NPK 50kg-----100%NPK
50kg-----100%NPK
X-------30% de P2O5 X--------5% de K2O
X---------5% de N
X= (50Kg* 30%)/100% X= (50Kg* 15%)/100%
X= (50Kg* 5%)/100%
X=15kg de P2O5 X=7,5kg de K2O
X=2,5kg de N

R/: Na Formulação NPK (5-30-15), temos 2,5Kg de N, 15Kg de P2O5 e 7,5Kg


de K2O.
e) Qual é a quantidade de materiais inertes neste saco?
Materiais inertes correspondem as substâncias além do conteúdo mineral
presentes no saco de fertilizante.
R/: 50Kg de NPK - 2,5Kg de N -15Kg de P2O5 - 7,5Kg de K2O = 25 Kg de
materiais inertes.
f) Determine a quantidade do fertilizante a ser aplicado numa área
de 3,5 ha.
O cálculo da dose certa do fertilizante a ser aplicado pode ser feito, usando
uma das quantidades dos elementos essenciais (NPK). Primeiramente, é
calculada para área de 1ha e depois multiplica-se o resultado pela área
total a ser aplicada. Para o exemplo concreto, teremos:
50kg--------------2,5kg de N
X-------------------10kg de N
X= (50Kg* 10kg)/2,5kg
X=200kg/ha de NPK (5-30-15)
Tendo em conta a área a ser aplicada igual a 3,5ha, teremos:
X= 200Kg* 3,5kha = 700kg = 14 sacos de 50kg de NPK (5-30-15)
g) Imagine que na fazenda estão disponíveis apenas os seguintes
fertilizantes: Sulfato de amônio (SA) 40% N; Superfosfato triplo (ST) 48%
P2O5; Cloreto de potássio (KCl) 60% de K2O, determine a quantidade de
cada fertilizante a ser misturada para ter 200kg de NPK (5-30-15), por
forma a aplicar as quantidades recomendadas.
Lembre-se sempre: Antes de misturar quaisquer fertilizantes deve-se
verificar a compactibilidade existente entre eles. Para os fertilizanes
indicados nesse exercício, verificou-se a compactibilidade entre eles, ou seja,
podem ser misturados.

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Quantidade a ser aplicada Quantidades recomendadas
N P2O5 K2O
200kg/ha 10Kg/ha 60kg/ha 30kg/ha

50kg ---100% de SA 50kg -----100% de ST 50kg ----100% de KCl


X------------40% de N X----------48% de P2O5 X-----------60% de K2O
X=(50Kg*40%)/100% X= (50Kg* 48%)/100% X= (50Kg* 60%)/100%
X=20kg de N X=24kg de P2O5 X=30kg de K2O

50kgSA----20kg de N 50kg ST---24kg P2O5 50kgKCl-----30kg K2O


X----------10kg de N X----------60kg de P2O5 X----------30kg de K2O
X= (50Kg* 10kg)/20kg X= (50Kg* 60kg)/24kg X=(50Kg* 30kg) /30kg
X=25kg de SA X=125kg de ST X=50Kg de KCl

R/: Para misturar os fertilizantes acima e manter as quantidades


recomendadas, são necessário 25kg de SA, 125kg de ST e 50Kg de KCl.

EXERCÍCIOS
1. Dos fertilizantes NPK a seguir, indique as perceptuais dos seus
elementos.
a) NPK (15-9-0) ______________________________________________________
b) NPK (10-10-8) ______________________________________________________
c) NPK (12-10-12) ______________________________________________________
d) NPK (15-30-5) ______________________________________________________
e) NPK (18-9-6) ______________________________________________________
f) NPK (12-24-12) ______________________________________________________
2. Após uma análise do solo para a produção de soja, recomendou-se
aplicar por adubação de fundo 15 kg/ha de N2, 45Kg/ha de P2O5 e 30
Kg/ha de K2O.
a) Calcule a relação entre os nutrientes necessários.
b) Calcule a formulação do fertilizante NPK com base nas necessidades
recomendadas.
c) Indique a percentagem de cada elemento na formulação encontrada.
d) Determine a quantidade (Kg) de cada elemento num saco de 50Kg.
e) Calcule a quantidade de materiais inertes neste saco.
f) Determine a quantidade do fertilizante a ser aplicado numa área de
9ha.
g) Imagine que na fazenda estão disponíveis apenas os seguintes
fertilizantes: Sulfato de amônio (SA) 40% N; Superfosfato triplo (ST)
48% P2O5; Cloreto de potássio (KCl) 60% de K2O, determine a
quantidade de cada fertilizante a ser misturada, por forma a aplicar as
quantidades recomendadas.

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4.4. Técnicas de aplicação de fertilizantes
A adubação é a pratica agrícola que consiste no fornecimento de
nutrientes às plantas de modo a suprir a carência destes e proporcionar o
pleno desenvolvimento das plantas.
A deficiência nutricional nas plantas pode ser suprida pela aplicação dos
micros e/ou macronutrientes na forma granular, pó ou liquida, usando
uma das seguintes técnicas:
4.4.1. Adubação do fundo
Consiste na aplicação de adubos ou fertilizantes antes da implantação da
cultura no campo ou em simultâneo com a sementeira através das
semeadoras-adubadoras. Na adubação do fundo, normalmente os
fertilizantes são incorporados no solo, pode ser aplicado a lanço (para
depois serem incorporados) ou de forma localizada (no momento da
sementeira).
4.4.2. Adubação de cobertura
Consiste na aplicação de adubos ou fertilizantes após a implantação da
cultura no campo. Normalmente os adubos são aplicados a lanço e raras
vezes são incorporados no solo. A adubação de cobertura tem como
objetivo manter o nível de nutrientes no solo durante as fases de
desenvolvimento da cultura e pode ser feita via foliar ou mesmo via água
de irrigação (fertirrigação).
a) Adubação foliar
Consiste na aplicação de nutrientes em solução ou suspensão na parte
aérea das plantas (folhas, caules, etc) na forma de pulverização, visando
suplementar ou complementar a nutrição da planta. Esta técnica se
objectiva no fornecimento de micros e macronutrientes secundários,
evitando-se desta forma os problemas que limitam o fornecimento via solo.
Por outro lado, a adubação foliar pode ser entendida como a correção
imediata das deficiências nutricionais da planta.

b) Fertirrigação
A fertirrigação é a técnica que consiste em distribuir nutrientes no solo
cultivado através da água empregada na irrigação, ou seja, consiste em
introduzir uma solução com fertilizante via água de irrigação, e tem como
objectivo, aplicar os nutrientes no volume de solo explorado pelo sistema
radicular da cultura conforme a curva de absorção de nutrientes pela
planta.

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A fertirrigação pode ser mineral ou orgânica, conforme se trate de
aplicação de fertilizantes químicos ou resíduos orgânicos como vinhaça,
biofertilizantes, chorumes e águas residuais provenientes de esgotos
domésticos.
Os sistemas de irrigação pressurizados são os mais indicados para
fertirrigação, destacando-se a irrigação localizada (por gotejamento) e
irrigação por aspersão (aspersores convencionais ou pivôs centrais) e dada
a sua característica de aplicação de água pontual junto à zona de
concentração das raízes das plantas, obedecendo às exigências da cultura,
conforme as fases de seu ciclo.
4.5. Factores que influenciam a eficácia de aplicação do fertilizante
O uso eficiente de fertilizantes depende de uma série de factores que, de
forma directa ou indirecta, afectam o processo, como um todo. Dentre
esses factores, os principais são: Época agrícola, precipitação, humidade
do solo, estágio de desenvolvimento da cultura, Forma de aplicação,
uniformidade da distribuição.
4.5.1. Época agrícola, Humidade do solo e Precipitação.
Época Agrícola é o período da campanha agrícola, durante o qual são
cultivadas determinadas culturas em função da sua adaptação às
respectivas condições climáticas.
Em Moçambique, a campanha agrícola é dividida em duas épocas:
• Primeira época: É a época quente ou chuvosa e decorre de
Setembro a Abril.
• Segunda época: É a época fresca ou seca e decorre de Março a
Agosto.
A aplicação dos fertilizantes na época quente (chuvosa) terá maior
eficiência da sua absorção pelas raízes do que na época seca, pois, maior
humidade no solo permite maior dissolução dos nutrientes e assim
favorecer a sua absorção pelas plantas.
As plantas só absorvem os nutrientes que estão na solução do solo.
Portanto, a presença de água é fundamental, quer seja proveniente das
precipitações ou fornecida através da irrigação. Condições de seca ou de
excesso de água levam à baixa eficiência dos fertilizantes. O excesso de
água pode se constituir em factor de baixa eficiência dos fertilizantes, por
acentuar as perdas por lixiviação, problemas estes muito mais acentuados
em solos arenosos, com baixo teor de matéria orgânica e baixa CTC, em

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que as flutuações nos níveis de água disponível no solo ocorrem em curto
espaço de tempo.
4.5.2. Estágio de desenvolvimento da cultura
Fertilizantes corretivos pouco solúveis, como é o caso de fosfatos naturais
de baixa reatividade e calcário, devem ser aplicatdos com a necessária
antecedência (antes da implantação da cultura no campo), para que ocorra
o processo de dissolução e haja elevação dos níveis dos nutrientes na
solução do solo.
Portanto, os altamente solúveis, deverem ser aplicados nas fases de sua
maior exigência pela cultura, uma vez que, no solo, podem ficar sujeitos a
perdas por lixiviação ou volatilização. Esse é o caso, principalmente, dos
fertilizantes nitrogenados e potássicos, que, em geral são solúveis em
água. O parcelamento adequado de adubação nitrogenada e, em certos
casos, da adubação potássica, é essencial para aumentar a eficiência
destes fertilizantes na maioria dos casos.
4.5.3. Forma de aplicação ou localização
Os adubos de baixa solubilidade devem ser aplicados em área total e bem
incorporados ao solo, a fim de que os factores solubilizantes possam
melhor agir. Os adubos solúveis devem ser aplicados mais localizados,
próximos às raízes, para diminuir as perdas.
4.5.4. Uniformidade da distribuição
A dose de adubo recomendada deve ser distribuída uniformemente por
toda a área, observada a forma de aplicação indicada. Isso depende da
qualidade dos equipamentos aplicadores, da sua regulagem e
operacionalidade corretas, mas depende também de alguns aspectos de
qualidade do fertilizante, como segregação, higroscopicidade,
empedramento e fluidez.

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EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO
1. Os nutrientes são elementos muito importantes para as plantas no
solo, que podem ser de diferentes origens.
a) Mencione e descreva as principais fontes de nutrientes
3. Os adubos químicos assim como orgânicos têm as suas vantagens e
desvantagens:
a) Mencione as vantagens e as desvantagens de adubos orgânicos.
b) Mencione as vantagens e as desvantagens de adubos inorgânicos.
4. Para elevar o pH do solo para valores desejáveis usam-se
geralmente correctivos tais como: MgSO4, CaCO3, MgCO3 e CaSO4.
a) Dos correctivos mencionados indique os elementos responsáveis pela
mudança.
b) Dos elementos da mudança indicados em “a”, explique uma
vantagem que desempenha no solo e uma nas plantas.
5. O Fósforo (P), Nitrogênio (N) e Potássio (K) desempenham várias
funções na nutrição de plantas.
a) Mencione três funções para cada elemento acima indicado.
b) Quais são os sintomas de suas deficiências?
6. As culturas siderantes são incorporadas na meia-idade ou momento
da floração.
a) Porquê é que este é considerado o momento ideal da incorporação de
plantas siderantes? (10%)
7. Num saco de 50 kg de NPK (20-10-10), a necessidades da cultura de
milho em Nitrogênio é de 75kg/ha.
a) Determine o nº de sacos de 50 kg a comprar para satisfazer a
cultura em nitrogênio numa área de 2.5 ha.

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RESULTADO DE APRENDIZAGEM

Fazer e utilizar composto


e estrumes
Fazer e utilizar composto e estrumes
5
Neste resultado de aprendizagem, os formandos terão oportunidade de
aprender sobre:
a) Compostagem de resíduos orgânicos
• Conceito;
• Condições necessárias do local da compostagem;
• Material a ser compostado;
• Duração do processo da compostagem.
b) Tipos de composteiras
• Compostagem em pilhas;
• Compostagem em leiras;
• Composteira de Cubo ou de Caixa.

c) Procedimentos para compostagem


• Forma e tamanho da pilha de compostagem
d) Fatores que influenciam no processo da compostagem
• Humidade;
• Aeração;
• Temperatura;
• Relação C/N;
• Tamanho das partículas;
• Sementes, patógenos e metais pesados na compostagem.
e) Problemas, causas e solução na elaboração de uma leira de
compostagem

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5.1. Compostagem de resíduos orgânicos
5.1.1. Conceito de compostagem
As actividades agrícolas e a agropecuárias geram grande quantidade de
resíduos, como restos de culturas, palhas e resíduos agroindustriais,
dejetos de animais, os quais, em alguns casos, provocam sérios problemas
de poluição. Entretanto, quando manipulados adequadamente, podem
suprir, com vantagens, boa parte da demanda de insumos industrializados
sem afectar adversamente os recursos do solo e do ambiente.
O aproveitamento desses resíduos pode ser realizado através de um
processamento simples denominado compostagem, em pequena, média e
grande escala desde que não causem distúrbios ao meio ambiente e a
saúde pública.
A compostagem é um processo natural de decomposição da matéria
orgânica de origem animal ou vegetal, ou seja, é um processo de produção
de adubos orgânicos por meio da decomposição acelerada de resíduos
vegetais e/ou animais.
A compostagem é realizada por microorganismos decompositores que
transformam o resíduo orgânico em um produto denominado composto. O
composto ou húmus, é um fertilizante orgânico rico em matéria orgânica
estabilizada, completamente natural.
O processo de adicionar minhocas na compostagem recebe o nome de
vermicompostagem. Qualquer minhoca pode ser utilizada na
compostagem. As espécies mais adaptadas à vermicompostagem são as
epigeicas. As espécies Eisenia foetida, Eisenia andrei e Eudrilus eugeniae,
por alimentarem-se de resíduos orgânicos semi-crus, terem alta
capacidade de proliferação e crescimento muito rápido têm sido as mais
utilizadas. As duas primeiras espécies são conhecidas como vermelha-da-
california e noturna africana.
5.1.2. Condições necessárias do local da compostagem
O local escolhido para fazer a compostagem deve:
• Ser de fácil acesso e estar próximo de onde está armazenado o
material palhoso, que será usado em grande quantidade;
• Estar próximo a uma fonte de água;
• Estar em local com baixa declividade, até 2%, para facilitar o
preparo e o manejo da pilha de composto, mas que permita
drenagem da água da chuva.

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Locais suscetíveis a encharcamentos, devem ser evitados. O composto
pode ser feito em campo aberto, em chão batido, sendo desnecessário piso
cimentado.
5.1.3. Material adequado para o processo de compostagem
Todos os restos de lavouras e capineiras, estercos de animais, aparas de
grama, folhas, galhos, resíduos agroindústrias, como: restos de
abatedouros, cama de aviário, tortas e farinha de ossos podem ser usados.
Quase todo material de origem animal ou vegetal pode entrar na produção
do composto. Os materiais que não devem ser usados para fazer
compostagem são os seguintes:
• Madeira tratada com pesticidas contra cupins ou envernizadas,
pois, se utilizados podem trazer efeitos negativos aos
microrganismos decompositores e assim retardar o processo de
decomposição;
• Vidros, metais, tintas, cabelos e plásticos, por serem de difícil
decomposição;
• Óleos e gorduras, podem promover o desenvolvimento de
microrganismos anaeróbicos (aqueles que desenvolvem-se na
ausência de oxigênio), pois, na sua maioria são causadores de
doenças nas plantas.
5.2. Tipos de composteiras
5.2.1. Compostagem em pilhas
Normalmente
utilizada para
compostagem
de pequenos
volumes com
medidas
inferiores a
três metros de
diâmetro.
Figura-36: Pilhas de compostagem
5.2.2. Compostagem em leiras
Utilizada para grandes volumes de materiais a serem compostados,
formato trapezoidal, com dois metros na base inferior, um metro na base
superior e comprimento indeterminado.

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Figura-37: Leiras de compostagem
5.2.3. Composteira de Cubo ou de Caixa
Utilizada para pequenos volumes. Pode ser construída em madeira ou
alvenaria e em tamanhos variados.

Figura-38: Composteiras de cubo


5.3. Procedimentos para compostagem
A montagem das pilhas de compostagem deve obedecer à seguinte
sequência:
• Escolher um lugar, nem muito quente nem muito frio, para fazer o
composto;
• Marcar no chão uma área de 1,50 m x 1,50 m;
• Afofar o solo, no lugar marcado (Somente afofar a terra, sem revirá-
la);
• Colocar uma camada de 10 a 15 cm de material seco (folhas)
cobrindo toda a área marcada;
• Molhar com um pouco de água fresca a camada de material seco;
• Coloar uma camada de esterco de mais ou menos 5 cm (se houver
na propriedade ou nas proximidades);
• Colocar uma camada de 10 a 15 cm de material verde;
• Se tiver, colocar uma camada fina (1 a 2 cm) de terra fértil ou cinza;
• Colocar uma camada de 15 cm de material verde;

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• Se tiver serradura, colocar uma camada de 10 cm;
• Seguir a sequência colocando uma camada de material seco, uma
camada de esterco, uma camada de terra e uma camada de material
verde;
• Colocar as camadas até a altura de 80 cm a 120 cm.
• Finalizar cobrindo a pilha com uma fina camada de terra e uma
camada de palha ou capim para protegê-la do excesso de sol ou
chuva.
Sempre deve humedecer a camada, antes de começar a seguinte. Ao final,
a pilha, leira ou composteira deve ser irrigada de maneira uniforme para
atingir a humidade ideal e deve ter no máximo 1,5 metros de altura para
evitar a compactação.
Em épocas muito chuvosas deve-se cobrir o composto para evitar excesso
de humidade e garantir a qualidade do composto. A pilha deve ter de 80
cm a 1,20 metros de altura, largura de 1,0 metro e com comprimento a
critério do produtor para compostos revirados manualmente em prazos
longos.
5.3.1. Monitoramento da temperatura
O monitoramento da temperatura faz-se com termômetro de haste longa
ou sensores apropriados para esta finalidade. Caso não tenha os
equipamentos acima, utilize uma barra de ferro de construção de 3/8 de
espessura ou um pau de 1,5 metros de comprimento:
• Introduza a barra de ferro ou o pau no meio da pilha;
• Retire a barra depois de uma hora e segure-a na ponta que foi
introduzida no meio da pilha de composto.
Caso não suporte segurar a barra por muito tempo a temperatura está
acima de 55oC e indica a necessidade de revirar o composto. Com a barra
quente e sendo possível segurar, indica que o composto está fermentando
normalmente. Se conseguir segurar a barra por estar fria indica que o
processo fermentativo não está ocorrendo adequadamente, sendo
necessário verificar o motivo e corrigi-lo.
5.4. Duração do processo da compostagem
O tempo para decomposição da matéria orgânica depende de vários
factores. Quanto maior for o controle das condições da temperatura e
humidade mais rápido será o processo. Se as necessidades nutricionais da
pilha ou leira forem satisfatórias, o composto será estabilizado dentro de
30 a 60 dias, e curado entre 90 a 120 dias.

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Após este período estará pronto para ser utilizado. Percebe-se que o
composto está pronto quando não ocorre perda de água, é de cor escura,
solto e com cheiro de terra. Quando esfregar o composto entre as mãos
elas não se sujam.
5.5. Factores que influenciam no processo da compostagem
A compostagem é um processo de decomposição aeróbia onde a ação e a
interação dos microorganismos dependem da ocorrência de condições
favoráveis tais como: temperatura, humidade, aeração, PH (potencial de
hidrogênio), tipo de composto orgânico existente e tipos de nutrientes
disponíveis, sendo que esses factores ocorrem simultaneamente.
5.5.1. Humidade
No processo de decomposição da matéria orgânica, a humidade garante a
actividade microbiana. Isso porque, toda a actividade metabólica e de
reprodução dos microrganismos e dos outros organismos que actuam no
processo de compostagem dependem da água.
Uma das maneiras de verificar o teor de humidade é apertar o composto
com as mãos: se o mesmo tiver uma concentração de água adequada,
poderemos sentir a humidade e a agregação do material e agregado na
palma da mão.
5.5.2. Aeração
O oxigênio é de vital importância para os microrganismos que realizam a
decomposição dos resíduos orgânicos, pois a decomposição é um processo
de oxidação biológica das moléculas ricas em carbono, com liberação de
energia. Essa energia então é consumida pelos organismos, e os nutrientes
liberados são consumidos pelas plantas.
5.5.3. Temperatura
Um dos factores de grande relevância no processo de transformação da
matéria orgânica é a temperatura do ambiente onde se realiza o processo.
Na compostagem de resíduos orgânicos, em montes, ou em condições
controladas, o calor desenvolvido se acumula, e a temperatura pode chegar
até 80ºC. É desejável que varie de 60 a 70oC nos primeiros 25 dias de
compostagem e depois naturalmente a tempetura diminui. A temperatura
e a humidade podem ser controladas com uma barra de ferro de
construção ou um pau introduzido na pilha.

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5.5.4. Relação C/N
A compostagem consiste em criar condições e dispor, em local adequado,
as matérias primas ricas em nutrientes orgânicos e minerais, que
contenham especialmente, relação C/N favorável. A relação carbono e
nitrogênio (C/N) deve ser em torno de 30/1, isso quer dizer que, para cada
parte de nitrogênio, na forma de esterco, devem estar presentes 30 partes
de carbono na forma de palha, para que a compostagem realize-se com
eficiência.
5.5.5. Tamanho das partículas
As partículas dos materiais não devem ser muito pequenas, para evitar a
compactação durante o processo, comprometendo a aeração. Por outro
lado, resíduos como colmos inteiros retardam a decomposição por reterem
pouca humidade e apresentarem menor superfície de contacto com os
microrganismos (exemplo, colmos de milho). Restos de culturas de soja e
feijão, gramas, folhas, por exemplo, podem ser compostados inteiros.
5.5.6. Sementes, patógenos e metais pesados na compostagem
A presença de sementes, pragas, patógenos e metais pesados, que
interferem na produção agrícola, são considerados agentes indesejáveis.
Esses agentes podem ser eliminados no início do processo de
compostagem mediante cuidados específicos a cada um deles, obtendo-se
um produto final com qualidade, ou seja, livre desses agentes indesejáveis.
5.6. Problemas, causas e solução durante a compostagem
Os principais problemas possíveis, suas causas e respectivas soluções que
podem surgir durante o processo da compostagem estão apresentados
tabela-17 seguinte:
Tabela-17: Possiveis Problemas durante a compostagem

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EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO
1. Quais são os factores a ter em conta na escolha do local de
compostagem?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________

2. Será que todo o material pode ser usado para a compostagem?


Justifique a sua resposta.
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________

3. Um dos factores que interfere no processo da compostage é a relacao


C/N. Explique como é possível garantir uma boa relação de C/N na
pilha de compostagem?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________

4. Explique resumidamente os procedimentos para montar a pilha de


compostagem.
_________________________________________________________________________
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5. Explique a consequência do excesso e défice de humidade e


temperatura numa pilha de compostagem e como solucionar cada
problema?
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6. Apresente as características de um bom composto?


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