Transtorno Mental Decorrente Do Uso Abusivo de Susbtâncias

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LIVRO: MELLO, I.M. Enfermagem psiquiátrica e de saúde mental na prática.

São Paulo: Atheneu,


2008. 288 p.

Capítulo 32 - Transtornos do abuso e dependência de drogas

USO, ABUSO E DEPENDÊNCIA DE DROGAS


Droga (substância química ou psicoativa) pode ser conceituada como qualquer elemento químico que atue no
organismo, produzindo alterações em seu funcionamento.
Qualquer elemento químico que produza sensação prazerosa pode ser usado de modo inadequado, embora se
reconheça os efeitos negativos desse comportamento. As drogas são conhecidas em praticamente todas as
culturas, desde os tempos pré-históricos com objetivos de:
– Melhora do funcionamento pessoal e social;
– Alívio de sentimentos emocionais negativos: tristeza, depressão, medo, ansiedade, tédio e fadiga;
– Uso em práticas e cultos religiosos.
O abuso e a dependência de drogas são importantes problemas de saúde pública, categorizados como doenças,
segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Eles ocorrem por fatores individuais, culturais e sociais
múltiplos em interação.
Sabe-se que quem abusa ou depende de drogas acaba se envolvendo com os sistemas legal e de saúde. Abuso
é o uso contínuo da droga, apesar da ciência que o problema causa. Dependência é a necessidade da droga pelo
organismo, caracterizada por sintomas físicos, psíquicos e comportamentais. Ambas as condições trazem
inúmeros prejuízos.
Existem também os conceitos de tolerância e síndrome de abstinência. Tolerância é a necessidade de aumentar
a quantidade da droga para que o organismo obtenha o mesmo efeito anterior. Abstinência é o quadro resultante
da dependência, que surge quando não há possibilidade de o organismo ter a droga, caracterizada pela presença
de sintomas físicos e psicológicos graves, causadores de grande sofrimento.
As drogas mais conhecidas são: narcóticos (morfina, heroína, codeína), hipnóticos sedativos (álcool,
barbitúricos e agentes ansiolíticos), estimulantes do SNC (cocaína, crack e anfetaminas), alucinógenos (LSD)
e maconha.
Tratamentos de drogas
Biológicos: tratamento com fármacos depende da etiologia da dependência.
Psicoterapias: algumas psicoterapias são indicadas para ajudar no tratamento.
Psicoeducação: É uma abordagem útil para o paciente e a família, objetivando ensinar sobre o transtorno,
tratamento e manejo.
Grupos de ajuda: No Brasil, existem grupos de auto-ajuda para pacientes e familiares de usuários de drogas.
Diretrizes da assistência de enfermagem
a) Em caráter de prevenção e intervenção precoce para qualquer tipo de droga
b) Assistência no abuso e dependência de droga(s)

USO, ABUSO E DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL


O uso de álcool é um desafio para todo profissional que trabalha na saúde. A abordagem multidisciplinar do
problema é a mais adequada. Ajuda a compreender o transtorno e pensar nas possibilidades de prevenção e
tratamento. O trabalho de outros profissionais também ajuda na abordagem e solução do problema.
O álcool é uma droga legal, de consumo aceito em praticamente todo o mundo, com evidentes efeitos de
relaxamento. Seu consumo moderado é associado com a prevenção de algumas doenças, por exemplo, álcool
para prevenir problemas cardíacos.
As consequências provocadas pelo consumo inadequado são evidentes, crescentes e preocupantes. Uma delas
é a dependência do álcool, transtorno que afeta cerca de dez por cento da população adulta do mundo, com
grave repercussão.
No Brasil, o álcool é a droga de maior impacto negativo. A substância age sobre o Sistema Nervoso Central
(SNC), causa alterações no comportamento, como redução da ansiedade e do medo, e provoca sensações
prazerosas de descontração e euforia. Por outro lado, leva aos pensamentos e atos descontrolados e perdas da
memória, concentração e senso crítico.
O alcoolista é a pessoa com perturbação crônica de comportamento por ingerir álcool. Excede no uso, com
prejuízos pessoal, social e econômico, decorrente dessa atitude.
O questionário CAGE pode ser utilizado para detectar alcoolismo. É simples de ser aplicado e eficiente.
É considerado positivo quando há presença de duas respostas afirmativas aos questionamentos:
– Alguma vez sentiu que deveria diminuir (cut down) a quantidade de bebida alcoólica ou parar de beber?
– As pessoas o aborrecem (annoyed) porque criticam seu hábito de beber?
– Sente culpado (guilty) pela maneira como costuma beber?
– Costuma beber pela manhã para diminuir o nervosismo ou a ressaca (eye opener)?
Os principais sinais e sintomas são:
– hálito alcoólico;
– olhos e faces avermelhadas;
– emagrecimento e falta de apetite;
– náuseas, vômitos e outros problemas digestivos;
– fraqueza muscular, tremores e queixas de dor nas pernas;
– hipertensão arterial;
– agressividade;
– nervosismo;
– insônia;
– alterações de memória.
As principais complicações requerem intervenção especializada:
• Intoxicação aguda (ou embriaguez)
Quadro caracterizado pela lentidão no falar, fala pastosa, confusão mental, náusea, vômito, ataxia,
rebaixamento do nível de consciência, coma e óbito.
• Delirium tremens
Quadro caracterizado por confusão mental, desorientação tempoespaço, convulsão, agitação, alucinações
visuais e táteis (ver bichos no corpo ou parede). O delirum tremens, mesmo com tratamento adequado, tem um
índice de óbito de 5% a 15%.
• Síndrome de Wernicke aguda
Quadro agudo causado pela deficiência de tiamina, frequentemente associada ao delirium tremens. Seus
sintomas são: rebaixamento do nível de consciência, nistagmo e ataxia.
• Síndrome de Korsakoff
Quadro crônico causado pela deficiência de tiamina. Caracteriza-se por comprometimento da memória para
dados recentes, confabulação e desorientação no tempo e espaço.
Tratamento do alcoolismo
Biológicos: Os medicamentos usados são:
Tiamina (vitamina B): administrada em usuário crônico, que costuma ter deficiência da vitamina, objetivando
prevenir a síndrome de WernickeKorsakoff.
Dissulfiram: objetiva provocar efeitos indesejáveis quando usada junto com o álcool, o que causa rejeição à
substância. O tratamento costuma surtir efeito apenas quando supervisionado.
Acamprosato: objetiva diminuir recaídas. Benzodiazepínico: objetiva minimizar os sintomas da abstinência
alcoólica.
Ondodansetron: objetiva diminuir efeitos positivos subjetivos do álcool e aumentar sedação sem afetar o
aspecto psicomotor.
Outros psicofármacos podem ser usados na presença de transtornos mentais concomitantes.
Psicoterapias: Algumas psicoterapias mostram-se eficazes em alguns casos de alcoolismo.
Grupos de auto-ajuda: mais conhecido é o dos “Alcoólatras Anônimos” (AA), que dá importante suporte para
o portador. Existem grupos específicos para familiares.
Diretrizes da assistência de enfermagem
a) Fase de Desintoxicação (afastamento da bebida)
Obs: inicia com a chegada na unidade de saúde mental, perdura enquanto há sintomas de abstinência moderada
ou grave e termina ao começar a fase de recuperação ou manutenção da abstinência.

b) Fase de Recuperação (manutenção da abstinência)


Obs: nesta fase o paciente não apresenta sintomas graves ou moderados de abstinência, mas sente muito
desconforto pela falta do álcool.
USO, ABUSO E DEPENDÊNCIA DE TABACO
O tabagismo é um grave problema de saúde pública. Esse fato justifica a cooperação de todos os profissionais
de saúde para ajudar a combatê-lo.
A nicotina presente nas diversas formas de tabaco (inclusive cigarro) é uma droga que causa dependência
devido às sensações gratificantes e efeitos psíquicos. Ela aumenta a energia, estado de alerta, atenção seletiva
e causa diminuição de apetite e alívio do estresse.
Os processos que causam a dependência são semelhantes aos das drogas como heroína e cocaína.
O uso da nicotina, em determinadas concentrações, por determinado tempo, provoca diversas patologias, morte
precoce e tolerância.
A tentativa de parar de usar pode provocar a “síndrome de abstinência” com: alteração de sono, dificuldade de
concentração, vontade intensa de fumar, irritabilidade, inquietação, humor depressivo e aumento de apetite.
As características da dependência são:
– desejo intenso de fumar ou usar por mais tempo do que o planejado;
– dificuldade de controlar uso;
– uso de tempo considerável para obter, consumir ou se recuperar;
– dar prioridade à droga em relação às outras atividades sociais;
– continuar a usar mesmo sabendo dos danos.
Alguns contextos foram identificados como favorecedores do consumo: tomar café, ler jornal ou revista,
trabalhar sob pressão, beber álcool, vivenciar situações estressantes e inesperadas, dirigir, falar ao telefone e
assistir televisão.
Quando se deseja parar de usar tabaco é necessário aprender a identificar e evitar as situações de risco para
recaídas, recorrer aos suportes familiar e social, e utilizar estratégias alternativas ao ato de fumar como rabiscar
papel, dar uma volta, mascar chicletes, realizar consertos e tomar um copo de água.
O tabagismo só é considerado sob controle quando o fumante parou seu uso, sem recaídas, por pelo menos
seis meses.
Tratamento do tabagismo
Biológicos: O tratamento pode ser realizado com medicações que apresentam efeitos comprovados por estudos
científicos como Nortripitilina e Bupropiona. A técnica da reposição de nicotina, na qual a nicotina do cigarro
é substituída pela presente em adesivos e gomas de mascar é outro tratamento utilizado.
Abordagens recomendadas: O aconselhamento e o suporte emocional são as abordagens indicadas para o
tabagista.
Psicoeducação: A Psicoeducação para tabagistas pode ser recurso eficiente, principalmente quando enfoca os
prejuízos que o comportamento de fumar causa à saúde.
Diretrizes da assistência de enfermagem

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