AULA4 - Transtorno Do Espectro Autista
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TRANSTORNO DO ESPECTRO
AUTISTA
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nosso país continuam com cadeiras enfileiradas na espera de alunos com
poucos movimentos, atentos ao professor de forma padronizada, sentados por
várias horas. Sem contar que há crianças autistas com alto nível de ansiedade,
comportamento agressivo, crises de birra prolongadas, dentre outras
consequências que podem dificultar ainda mais a aprendizagem escolar.
Preocupa, mas não imobiliza. Ao contrário, impulsiona a busca de
soluções. É importante ressaltar que há tratamento para TEA, portanto, há
evolução e desenvolvimento quando a intervenção acontece. Em alguns casos
extremos, o convívio escolar será adiado, geralmente quando a criança não
controla comportamentos agressivos ou as condições cognitivas são precárias,
mas muitos alunos estarão na escola convencional, com ou sem a presença de
acompanhante.
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2.1 Dicas iniciais
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Naturalmente, as dicas são apenas um ponto de partida para situar o
profissional na escola em seu primeiro contato com estudante TEA. É
importantíssimo ressaltar a impossibilidade de improvisar no atendimento
escolar para esses alunos. Parte de nossa motivação para estudar o TEA no
contexto escolar está no contato com alunos estagiários de Pedagogia, alguns
dos quais buscavam desesperadamente atividades para desenvolver com
crianças autistas, pois na escola em que atuavam lhes coube a tarefa de atender
a alunos com TEA em determinados momentos da aula. Mais do que improviso,
tratava-se de uma ação inaceitável.
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habilidades desenvolvimentais, aquelas que em crianças típicas aparecem
naturalmente com avanço da idade cronológica. Exemplo de habilidade
desenvolvimental é o contato intencional e controlado com objetos, tocá-los,
arremessá-los, recebê-los para deduzir como se comporta (atividade motora).
Ou as funções executivas como “atenção seletiva, flexibilidade cognitiva,
controle inibitório, planejamento, monitoramento e memória de trabalho, dentre
outros, cuja função é regular e controlar comportamentos orientados a metas”
(Dias, 2009, p. vii), que estão por trás da aquisição da linguagem e de outros
aspectos cognitivos.
A imitação, essencial para aprendizagem, também é uma função básica
comprometida nos autistas; o contato visual não acontece, a interação é
reduzida e a imitação comprometida. No entanto, segundo Moreira (2020, p. 37),
a escola pode ser essencial para a criança TEA, “a interação social é
fundamental para o desenvolvimento infantil e algumas habilidades cognitivas e
adaptativas são desenvolvidas mediante a interação e compartilhamento de
experiências com outros alunos.”
Os fatores desenvolvimentais normalmente estão fora do currículo
convencional de escola formal, e as propostas de trabalho para TEA exigem
currículo diferenciado, fato complicado no atual sistema de educação nacional. O
mesmo acontece com a avaliação escolar. Em decorrência das implicações
comunicacionais do TEA, os formatos de verificação usualmente aplicados
podem não traduzir a aprendizagem da criança autista.
Para a pessoa com TEA, será necessária uma atenção especial aos
aspectos que caracterizam o transtorno, como as habilidades
sociocomunicativas. Nas escolas brasileiras, o mais comum é empregar a
psicologia histórico-cultural de Lev Vygotsky (1896-1934) para embasar as
práticas pedagógicas e a análise das habilidades sociocomunicativas; é mais
raro observar emprego de conceitos comportamentais de Skinner, amplamente
utilizados nas intervenções para TEA. Então, na área da educação encontramos
com mais frequência referências para aplicar princípios da psicologia histórico-
cultural na educação de autistas.
Vygotsky estudou a linguagem buscando desvendar sua relação com o
pensamento, a consciência. Entende que há uma base biológica, mas que o
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desenvolvimento das funções psicológicas superiores se estabelece na relação
dialética entre o sujeito e seu meio cultural e material. O pensamento se
estrutura e se molda na mesma medida em que a criança incorpora a linguagem,
aprende lendo, decifrando o mundo, na interação com os outros e demais
mediadores como os artefatos.
Para Vygostsky, o espaço para aprendizagem é a Zona de Desenvolvimento
Proximal (ZDP), distância entre o que o sujeito já domina e aquilo que ainda não
domina, mas pode vir a conhecer. Nas palavras do autor, ZDP é
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processos educativos convencionais, sobretudo para crianças menores, estão
fundados nas trocas vocais, entre professor-aluno e entre os alunos. Muitas
pessoas com TEA precisam da comunicação alternativa, para aqueles que não
usam a vocalização, se tornando mais um fator de impacto para o professor.
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de alta tecnologia, muitas vezes soluções de baixo custo são suficientes, como é
o caso dos cartões de comunicação alternativa. Materiais concretos, comumente
empregados na escola para alunos pequenos, são alternativas para facilitar o
aprendizado de criança com deficiência, transtorno ou dificuldade. Jogos em
geral também são opções bem interessantes,
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assim há prejuízos sociais; nível III – precisa de muito apoio, no entanto, os
prejuízos em seu funcionamento ainda são significativos.
Não podemos esquecer que condições comuns em escolas são
estressantes para muitos autistas, como barulho intenso, ou mesmo moderado,
de vozes e objetos. As mudanças de rotina são muito impactantes para eles, por
isso já alertamos da necessidade de prepará-los para qualquer alteração. Nem
sempre seguir regras é algo fácil para as crianças TEA. Tendo em vista as
diversas características e condições citadas, você consegue indicar o que pode
ser ajustado ou incluído na escola para torná-la atrativa a criança com TEA?
Considera-se também a frequente associação do TEA a comorbidades,
como o alto índice de deficiência intelectual, transtorno de ansiedade e
depressão, TDAH, distúrbios do sono e outros. Análises e investimento didático-
pedagógico nessas áreas também devem ser considerados para elaboração do
plano educacional. Assim como qualquer outra dificuldade, deficiência e
transtorno, há aspectos que chamam a atenção positivamente para o TEA.
Alguns sujeitos se destacam da população típica,
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Um fator importante da escola para com a pessoa com TEA está na sala
de aula como local privilegiado para socialização. Tentar tirar proveito, na
medida do possível, da relação e interação com o grupo de alunos tornando-as
aos poucos familiares ao autista, será uma excelente oportunidade de
aprendizado. Nas palavras de Cunha (2017), “incluir é aprender junto”. Sempre
valorizar os momentos nos quais a criança se concentra na atividade, essa é
outra orientação de Cunha (2017). Com muita paciência e persistência, estimular
sempre à participação tendo em vista que um dos principais propósitos das
ações na escola é levar a pessoa com TEA a conquistar maior autonomia.
Cunha (2017) também destaca a sala de recursos que precisa ser
preparada para aluno com TEA. O excesso de objetos e estímulos não é
proveitoso; a ideia é oferecer um espaço simples, com materiais organizados e
sinalizados para aumentar a concentração e específicos para a atividade a ser
desenvolvida a cada momento. Lembrando da necessidade de preparar as
mudanças, quando houver, que devem acontecer paulatinamente.
O professor terá que se preparar para atender momentos de birra, medo e
raiva, muito comuns em autistas. Cada qual terá sua estratégia e apoiar-se nos
interesses da criança é uma boa opção. Como exemplo, para alguns TEA a
música pode ser uma forma de acalmar; alguns inclusive têm muito interesse por
músicas (Cunha, 2017). O autor relembra que o autista muitas vezes não
direciona o olhar, portanto o professor precisa se habituar a colocar-se no campo
de visão dele, dessa forma atraí-lo para a atividade ou orientação proposta.
As ações cotidianas na escola podem promover desenvolvimento da
concentração e memória, um exemplo está na simples organização do material
de aula. Atender à orientação do professor na execução das atividades pode
auxiliar na organização do pensamento e linguagem, assim como atividades em
grupo levam ao desenvolvimento da socialização e afetividade (Cunha, 2017).
Para planejar as práticas pedagógicas com objetivo de inclusão de alunos com
TEA pode-se incluir
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que utilizem novas tecnologias digitais, atividades com temas do cotidiano
e que estimulem o raciocínio lógico-matemático;
• atividades para o desenvolvimento motor: exercícios que trabalhem as
funções motoras e sensoriais, encaixes diversos, colagem, recorte,
atividades físicas, atividades com música e de vida prática;
• atividades para socialização: atividades esportivas individuais e coletivas;
atividades pedagógicas em que o aluno possa compartilhar com a turma o
seu saber; atividades que possam ser realizadas por todos os alunos;
• atividades para o desenvolvimento do foco de atenção: atividades e
pesquisas áreas distintas do conhecimento sobre temas que o educando
tem interesse; atividades com novas tecnologias digitais, recortes
diversos com tesoura, música, arte, desenho, pintura e vida prática
(Cunha, 2016, p. 95).
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4) Habilidades sensoriais: atividades com materiais diversos para caixa de
sensações; sucata para construir objetos, como rolo interno do papel
higiênico para simular alto-falante; imitar sons de animais; cantar e emitir
sons de vogais; cantar músicas infantis com gestos; massinha de
modelar; atividades com balões; música alta e baixa; atividade com
espelho (contato visual).
5) Habilidades motoras: arrumar e guardar material escolar; alinhavo para
coordenação motora fina; treino com lápis (segurar); recorte e colagem;
tapete de lateralidade; recursos concretos.
6) Habilidades sociais: brincadeiras afetivas (cantar com gestos e
expressões faciais); cartões de sentimentos; em frente ao espelho para
ver expressões; com música, para relaxar.
7) Habilidades adaptativas: escovar os dentes, pentear os cabelos, comer
sozinho.
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Toda oportunidade de aprender precisa ser explorada. O mesmo no que se
refere à rotina, iniciar o dia escolar trazendo o aluno TEA a participar construindo
o cronograma serve tanto para tranquiliza-lo quanto à rotina, quanto ao
aprendizado e desenvolvimento de habilidades diversas (Miranda, 2015).
Para finalizar, precisamos ressaltar novamente que a responsabilidade
sobre os alunos de educação especial é de toda a equipe escolar, além do
professor regente. Temos a figura do acompanhante em sala de aula, o
profissional da AEE, a equipe pedagógica e sempre que possível a participação
de profissionais especializados como fonoaudiólogo, psicólogo, fisioterapeuta e
outros. Assim, Benini e Castanha (2016) sugerem ações como:
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REFERÊNCIAS
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NEUROSABER. Dicas para professores que trabalham com crianças
autistas. 2016. Disponível em: <https://institutoneurosaber.com.br/dicas-para-
professores-que-trabalham-com-criancas-autistas/>. Acesso em: 18 abr. 2021.
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