Apostila Geral - Capítulo 01 Editada
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O Brasil por sua própria formação católica, herança do período colonial, onde
portugueses e espanhóis impuseram primeiramente ao gentio aqui encontrado e
posteriormente aos escravos importados, seus valores e suas crenças, nunca contou com um
número de seguidores de outras crenças religiosas ou de livres pensadores, por causa da
pressão exercida pela Igreja Católica Romana e pela própria sociedade, e somente nos tempos
contemporâneos é que pode haver realmente uma certa liberdade de crença.
Na verdade, indiretamente, quem abriu ao Brasil as portas do Espiritismo primeiro e
do Espiritualismo depois, foi um fato não religioso, mas sim econômico, ou seja, os vastos
recursos postos à disposição dos senhores do café e, de uma forma mais ampla, de toda a
lavoura brasileira na segunda metade do século passado, fazendo com que o Vale do Paraíba,
no eixo Rio-São Paulo, e posteriormente boa parte do estado do Rio de Janeiro e por todo o
estado de São Paulo, se multiplicassem as fortunas dos pioneiros do plantio da rubiácea
famosa, também importante, foi a indústria açucareira. Assim, com muito dinheiro à sua
disposição, esses novos ricos se deliciavam em visitar, a bordo de confortáveis vapores de
linha, os mais importantes centros culturais e recreativos da Europa e, principalmente Paris, a
Cidade Luz, que após a Revolução Francesa tornara-se o maior centro cultural do mundo.
Por causa de suas idéias liberalizantes e posteriormente da Declaração dos Direitos do
Homem, a França libertando-se dos grilhões da Igreja Tradicional e reconhecendo a
Liberdade de Crença para todo o ser humano, tornou-se a Meca de contestadores e de livres
pensadores, permitindo que idéias que até então, haviam sido caladas pela maioria das vezes
com a repressão e até com a morte, pudessem aflorar livremente, desta forma, sem medo de
ser tachado de bruxo ou de louco, alguns médiuns ou sensitivos, puderam passar a procurar
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Dados extraídos do relatório oficial do Censo Demográfico 2010, disponível no site oficial do IBGE.
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respostas às suas dúvidas, e foi depois de tomar conhecimento das experiências vividas pelas
Irmãs Fox, nos Estados Unidos, e de outros casos similares ocorridos na própria França, que
Leon Hypolite Denizard Rivail, que ficaria famoso sob o nome de Allan Kardec, escreveu o
Livro dos Espíritos e posteriormente outras obras sobre o mesmo tema, ou seja, a existência
de uma vida além da morte, com a possibilidade de nos comunicarmos com os espíritos dos
mortos.
Dos estudos preliminares, passou-se à sessões de efeitos físicos, as chamadas Mesas
Ouijas (que permitem mensagens através de números e letras formando frases) e depois de
curto espaço de tempo as comunicações diretas com os espíritos através dos médiuns.
Nossa sociedade cabocla, embora rica, se deliciava com todas as novidades
estrangeiras, e tudo o que vinha da França tinha naturalmente uma aceitação imediata; assim
acontecia com a moda, os métodos de ensino, a ciência, a tecnologia, os métodos de tática
militar (Missão Militar Francesa), a perfumaria, as próprias francesas e a coqueluche do
momento: Os Fenômenos Espíritas. Desta forma, o Espiritismo ou Kardecismo, a princípio
era conhecido e praticado principalmente pela aristocracia da época, coisa que não acontecia
na Europa, tornou-se muito breve em pedante e preconceituoso, quem em vida não houvesse
sido alguém rico, conhecido ou importante, não deveria manifestar-se nas sessões então
chamadas de “Mesa Branca”, e isto se justificava, pois até bem pouco tempo, as próprias
famílias que defendiam a doutrina Kardecista, haviam se beneficiado do trabalho escravo
(principalmente no Vale do Paraíba) e suas fortunas eram, não raras vezes, conquistadas às
custas desse sangue escravo, de um povo negro que eles haviam aprendido a renegar e
desprezar, por isso, numa “Mesa Branca”, quando um médium incorporava um espírito que
em vida havia sido um escravo, era convidado a retirar-se, e se teimava em dar passagem ao
espírito de um escravo, era então acusado de praticar o Baixo Espiritismo, e desprezado por
todos, impedido de prosseguir na sociedade.
Estávamos no ano de 1908 e esse era o quadro geral do espiritismo até então.
Um Jovem Estudante
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Como acontecia com quase todas as famílias importantes nessa época, também havia
na família um padre católico, sendo também tio do jovem Zélio. Foi realizado um exorcismo
para livrá-lo daqueles incômodos ataques, todavia, nem esse, nem os outros dois exorcismos
realizados posteriormente, inclusive com a participação de outros padres católicos,
conseguiram dar à família Moraes o tão desejado sossego, pois as manifestações prosseguiram
apesar de tudo. Assim, já desesperada de sua melhora, a família começou a correr atrás de
toda e qualquer informação que lhes trouxessem a esperança de uma solução para seu querido
filho.
Um dia, alguém sugeriu que isso era coisa de Espiritismo e que o melhor era
encaminhá-lo à recém fundada Federação Kardecista de Niterói, município vizinho ao de São
Gonçalo das Neves, onde a família Moraes residia.
A Federação era então presidida pelo Sr. José de Souza, chefe de um departamento da
Marinha, o jovem Zélio foi conduzido a 15 de Novembro de 1908, à presença do Sr. José de
Souza. Estava num daqueles chamados ataques, que nada mais eram que incorporações
involuntárias de diferentes espíritos. Lá chegando, o Sr. José de Souza, médium vidente,
interpelou o espírito manifestado no jovem Zélio e foi aproximadamente este o diálogo
havido:
Sr. José de Souza: - “Quem é você”?
O Espírito: - “Sou apenas um caboclo brasileiro”.
Sr. José de Souza: - “Você se identifica como um caboclo, mas vejo em você restos de
vestes clericais”.
O Espírito: - “O que você vê em mim são restos de uma existência anterior. Fui frade,
meu nome era Gabriel Malagrida e fui eu quem previu o terremoto de Lisboa em 1775, mas
em minha última existência física, “DEUS” concedeu-me o privilégio de nascer como
caboclo brasileiro”.
Sr. José de Souza: - “E qual é o seu nome”?
O Espírito: - “se é preciso que eu tenha um nome, digam que eu sou o CABOCLO
DAS SETE ENCRUZILHADAS, pois não haverá caminhos fechados para mim, venho trazer a
Umbanda, religião que harmonizará as famílias e que perdurará até o final dos séculos”.
No desenrolar dessa entrevista, entre muitas outras perguntas, o Sr. José de Souza teria
perguntado se já não bastavam as religiões existentes e fez menção ao Espiritismo então
praticado, e foram estas as palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas:
- “DEUS”, em sua infinita misericórdia, estabeleceu na morte o nivelador universal.
Rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornam iguais na morte. Mas vocês homens
preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar
essas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. POR QUÊ NÃO PODEM
NOS VISITAR ESSES HUMILDES TRABALHADORES DO ESPAÇO, SE APESAR DE NÃO
HAVEREM SIDO PESSOAS IMPORTANTES, TAMBÉM TRAZEM IMPORTANTES
MENSAGENS DO ALÉM? POR QUÊ O NÃO AOS PRETOS VELHOS E CABOCLOS,
ACASO NÃO FORAM ELES FILHOS DO MESMO DEUS?
A seguir, fez uma série de revelações sobre o que estava à espera da humanidade:
- “Este mundo de iniqüidades, mais uma vez será varrido pela dor, pela ambição do
homem e pelo desrespeito às Leis de DEUS. As mulheres perderão a honra e a vergonha; a
vil moeda comprará caráteres e o próprio homem se tornará afeminado; uma onda de sangue
varrerá a Europa e quando todos acharem que o pior dos horrores já foi atingido, uma outra
onda de sangue muito pior que a primeira, voltará a envolver a humanidade e um único
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engenho militar será capaz de matar milhares de pessoas, e o homem será vítima de sua
própria máquina de destruição”.
Não nos esqueçamos que estávamos em 1908 e que nem se imaginavam as armas
atômicas, e que o veículo mais usado ainda era o cavalo.
E, prosseguindo ainda, ante o Sr. José de Souza, disse:
- “Amanhã, na casa onde meu aparelho mora, haverá uma Mesa posta para toda e
qualquer entidade que queira ou precise se manifestar, independentemente daquilo o que
tenha sido em vida; todos serão ouvidos e nós aprenderemos com aqueles espíritos que
souberem mais e ensinaremos os que souberem menos, e a nenhum viraremos as costas e nem
diremos não”.
- “Que nome darão a esta casa?” – pergunta o Sr. José de Souza.
- “Nossa Senhora da Piedade”, responde o Caboclo das Sete Encruzilhadas, “pois da
mesma forma que Maria amparou nos braços o seu filho querido, também serão amparados
os que socorrerem da Umbanda”.
Desta forma, em São Gonçalo das Neves, município vizinho de Niterói, do outro lado
da Baía da Guanabara, na sala de jantar da família Moraes, um grupo de curiosos kardecistas
e outros familiares e amigos, compareceram no dia 15 de Novembro de 1908, para ver como
seriam estas incorporações, para eles, indesejáveis ou injustificáveis, o diálogo do Caboclo
das Sete Encruzilhadas, como passou a ser chamado, havia provocado muita especulação.
Alguns médiuns que haviam sido escorraçados de Mesas Kardecistas por haverem
incorporado caboclos, ou crianças, ou pretos velhos, se solidarizaram com aquele garoto
ainda, que parecia não estar compreendendo bem o que acontecia e que de repente se via
como líder de um grupo religioso. Obra essa que deveria durar toda a sua vida e que só
terminaria com sua morte, mas que suas filhas, Zélia e Zilméia, conduziram com o mesmo
afã. Hoje, Lígia, neta de Pai Zélio e filha única de Zilméia, continua com seu legado. Mãe
Zélia e Mãe Zilméia já foram se encontrar com Pai Zélio no além-vida.
A Tenda de Umbanda “Nossa Senhora da Piedade” existe até hoje, seu patrono segue
sendo do CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS. A história se encarregou de mostrar e
provar a exatidão das previsões de Zélio Fernandino de Moraes: as duas primeiras guerras, as
bombas atômicas que destruíram as cidades de Hiroshima e Nagazaki no Japão, a grande
degeneração moral, o poder do dinheiro e o total desrespeito à vida humana são as provas
incontestáveis do poder e da clarividência de seus mentores espirituais.
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Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
O que é a Umbanda?
Toda vez que precisamos demonstrar o quase total desconhecimento dos próprios
Umbandistas sobre a UMBANDA, costumamos perguntar primeiro, se todos os participantes
são médiuns, e em seguida, se todos labutam na Seara Umbandista. Quando recebemos a
esperada resposta afirmativa:
- “Sim, eu sou médium de Umbanda!”, ou, “Sim, eu sou umbandista!”, perguntamos:
- “Diga-me então, o que é a Umbanda?”
Quase sempre, a reposta é uma aparência de dúvida ou insegurança, quando não, é
uma frase feita, sem muita convicção:
- “Umbanda é Paz e Amor” – então, todo hippie é umbandista?
- “Umbanda é Caridade” – por quê? Não há caridade nas outras formas de religião?,
ou ainda:
- “Umbanda é humildade, Umbanda é saber transmitir calor humano...” e toda uma
série de frases que, embora definam, às vezes, algumas qualidades umbandistas, estão muito
longe de darem ao leigo uma explicação lógica do que seja realmente a Umbanda.
Pôr isso, vamos primeiramente explicar a origem, a etimologia do vocábulo Umbanda.
A palavra Umbanda, segundo o grande pesquisador Cavalcanti Bandeira, autor da obra
“O QUE É A UMBANDA”, é originária da língua Quimbundo e é encontrada em muitos
dialetos Bantus, falados em Angola, Congo e Guiné.
A língua geral do angolano é conhecida também como angolês e bundo, e não
constitui segredo, pois em virtude dos interesses comerciais e do período em que Portugal
manteve suas colônias na África. Foi devidamente estudada, existindo já várias gramáticas de
autores insuspeitos em que são citadas as palavras Umbanda e Quimbanda, nome comum na
África: às vezes, é citada como nação poderosa, outras, como o espírito dessa mesma nação.
No livro “Império Ultramarino Português”, editado em 1941, é citada a localidade de
Mucajé-ia-Quimbanda, sob a jurisdição da Arquidiocese de Luanda.
Não é impossível também que a remota origem repouse no orientalismo iniciático, no
qual o “mantra” AUMBHANDA, representa alto significado esotérico, como foi discutido no
Primeiro Congresso Brasileiro de Espiritualismo de Umbanda, realizado em 1941, onde se
notabilizou o médium Zélio Fernandino de Moraes.
Não nos esqueçamos que em determinados cânticos religiosos do ritual Jêje na Bahia,
é perfeitamente audível a palavra Umbanda.
Finalizando, na Gramática de Kimbundo, do professor L. Quintão, encontramos:
UMBANDA – Arte de Curar (de Kimbanda = curandeiro)
Nota: Por uma deformação lingüística, hoje no Brasil, costuma-se chamar de Quimbandeiro,
o feiticeiro, que no país de origem, a África, é chamado de Muloji. Há uma expressão em
Quimbundo, que define muito bem a diversidade funcional. “O KIMBAND’ EKI MULOJI
Ê”, que se traduz pôr: “Este curandeiro não é feiticeiro”.
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Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
Raízes Umbandistas
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Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
- “Num carece preocupá não... Nego fica nu toco, qui é o lugá di nego”, procurando
assim demonstrar que se contentava em ocupar um lugar mais singelo, para não melindrar
nenhum dos presentes.
Sensibilizados com tanta humildade, alguém perguntou respeitosamente:
- “Vovô, sente falta de alguma coisa? Tem saudade de alguma coisa que deixou aqui
ficar?”
- “Nego qué o pito qui deixou no toco... Manda muréque buscá”.
Espanto, surpresa, nunca, até então, um espírito havia pedido algo de material e, a
surpresa foi logo substituída pela vontade de atender o pedido do velhinho. Mas,
coincidentemente, ninguém tinha um cachimbo para ceder ao ex-escravo, todavia, quando
houve outra reunião e, novamente manifestou-se o espírito do ex-escravo, tão ansiosamente
aguardado, uma surpresa: quase todos os presentes haviam pensado e providenciado a mesma
coisa: uma porção de cachimbos, dos mais diferentes tipos, apareceu como que por milagre
nas mãos dos freqüentadores da casa, incluindo-se alguns médiuns que haviam sido afastados
de Centros Espíritas Kardecistas, justamente porque haviam permitido incorporações de ex-
índios, pobres, ou pretos, como aquele, e que solidários buscavam na Tenda Nossa Senhora da
Piedade, a oportunidade que lhes fora negada em seus centros de origem. A alegria do velho,
em poder novamente pitar tranqüilamente seu cachimbo, logo seria repetida quando outros
médiuns já mencionados, também passaram livremente a permitir a presença de seus
Caboclos, de seus Pretos Velhos e demais entidades, consideradas não doutas pelos
kardecistas de então, pobres tolos preconceituosos que confundiam cultura com bondade.
Foi dessa maneira que se introduziu na “Mesa” espírita, o primeiro rito, outros se lhe
seguiram, alguém informou que os Caboclos também tinham o hábito de fumar, e que foram
eles quem primeiro descobriram as propriedades dessa planta, que eles enrolavam num
enorme charuto, que era usado coletivamente por todos os participantes de seus cultos
religiosos, sendo, dessa forma, uma espécie de planta sagrada (não nos esqueçamos que o
cinema se encarregou de divulgar o hábito existente entre os índios americanos de uso de um
sucedâneo deste charuto, ritual que é conhecido como Cachimbo da Paz).
O fumo é planta originária das Américas, e somente após os grandes descobrimentos é
que os europeus tomaram conhecimento de sua existência. Assim, chegava aos terreiros, o
hábito do charuto.
É preciso também, que não nos esqueçamos que entre os africanos, era hábito fazerem
oferendas a seus Orixás como agradecimento por graças recebidas, e também com o objetivo
de se conseguir um favor especial dos deuses: uma melhor colheita, o sucesso de uma caçada
ou a recuperação da saúde de um ente querido.
Desejo ressaltar que a Federação Umbandista do Grande “ABC”, e seu Conselho de
Culto, nunca foram contra o uso desses produtos utilizados através das entidades
incorporadas, desde que o uso desses produtos seja feito com moderação e cautela. Negar o
pito ao Preto Velho seria hoje, uma grande maldade, todavia deve-se ter sempre em mente que
seu uso deve-se ater somente ao rito e, evitarem-se os abusos e as deturpações que
testemunhamos constantemente, não raras vezes, tocando as raias do absurdo e do escândalo,
para desprestígio desta religião que nasceu sob o signo da Paz e do Amor.
Por extensão destes hábitos incorporados ao terreiro, passou-se a oferecer doces às
crianças e, às vezes, promover verdadeiras festas infantis. Este hábito vem influindo desta ou
daquela maneira as demais formas de incorporação, sempre com o objetivo de tratar os
espíritos incorporantes como velhos e queridos amigos, a quem recebemos com satisfação.
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Aula 03 - O Sincretismo
A história religiosa da etnia negra no Brasil teve início com a perda dos valores
adquiridos em solo africano em função da impossibilidade do culto ao seu Orixá na senzala do
continente.
Os negros que vieram para o Brasil pertenciam a civilizações diferentes e eram
oriundos das mais diversas regiões do continente africano. No entanto, suas religiões,
quaisquer que fossem, estavam ligadas a certas formas familiares ou de organização de clãs, a
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Novo Dicionário da Língua Portuguesa.
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F. Rivas Neto. Umbanda: a Proto-Síntese Cósmica.
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Conforme Aurélio Buarque de Holanda, sincretismo é o método que consiste em reunir teses de sistemas
diversos, ora simplesmente justapondo-as, ora chegando a uni-las em unidade superior, nova e criadora.
Podemos dizer, também, que o Ecletismo é o TODO, e o SINCRETISMO é PARTE DO TODO.
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As Religiões africanas no Brasil.
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Quando a Igreja percebeu que seria impossível fazer desaparecer essa profunda
religiosidade, passou a estimular o sincretismo com o Catolicismo, pois muitos dos costumes
negros podiam ser adaptados aos católicos. Roger Bastide6 diz:
6
As Religiões Africanas no Brasil.
7
Catolicismo (nota do autor).
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Patuás.
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Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
O estado de cultura superior dos mandingas em relação aos demais fez com que
fossem tidos como feiticeiros, passando a expressão mandinga a sinônimo de feitiço.
Persistiram, então, pelo Brasil, os termos mandinga e mandingueiro a expressar feitiço e
feiticeiro.
Um elemento importante que influenciou algumas práticas dos cultos africanos no
Brasil eram os negros de ganho9·. Trabalhavam durante o dia e se encontravam à noite na
casa do senhor trazendo seus salários; eram arrendados como empregados domésticos, ou, em
outras vezes, recebiam um tabuleiro de mercadoria que eram encarregados de vender na rua.
Após a libertação dos escravos, muitos desses negros de ganho passaram a formar grupos
chamados cantos, comandados por um capitão, e que cantavam canções em africano. Quando
um capitão era recém-eleito recebia as saudações dos membros de outros cantos, e, nessa
ocasião, ocorria uma espécie de exorcismo com a garrafa de cachaça, deixando cair algumas
gotas do liquido.
Esse rito continua até hoje em diversos candomblés e tem um significado religioso
bem preciso: nada se deve comer ou beber, sem primeiro oferecer às divindades. Movidos
pelo senso comum, muitos apreciadores de cachaça jogam um pouco da sua bebida para o
santo, antes de cada talagada, nos botequins.
A denominação mais frequente para as religiões de origem africana no Brasil até o
século XVIII era o Calundu, originário dos bantos, que a par de outros termos como o
Batuque ou Batucajé abarcavam toda uma gama de danças coletivas, cantos e músicas
acompanhadas por instrumentos de percussão, louvação aos Orixás, invocação de Entidades
Espirituais, ritos mediúnicos e curas magísticas.
Resistência e Candomblé
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Eram escravos que trabalhavam fora da casa do senhor.
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Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
amigos que os conduziam aos diferentes reinos da Natureza, os “iniciados” davam suas
obrigações aos Orixás.
No dia seguinte à iniciação, para que não houvesse suspeita do ocorrido, o iniciado
devia mostrar-se na igreja. Essa prática ficou muito famosa nos candomblés de Salvador, na
Bahia, onde o iniciado era obrigado a assistir a uma missa na Igreja do Senhor do Bonfim,
prática que ainda hoje é usada.
Nasciam deste modo as raízes de um culto que não seria exatamente aquele que eles
praticavam na terra distante, mas que reunia elementos das várias nações africanas, somados
aos hábitos cristãos que lhes eram impostos pelos senhores brancos. Esta primeira ligação
cultural religiosa recebeu o nome de Candomblé que passou a ser o sucedâneo da aldeia
africana ou dos burgos rurais.
O negro africano, quando cumpria sua obrigação, retirava uma pedra do lugar sagrado,
denominada de otá. Essa pedra era cultuada como objeto sagrado pelo resto de seus dias. As
imagens de Santos Católicos, muito populares no período colonial, eram, na sua maioria,
esculpidas em madeira. Para não trair os seus deuses de origem, o negro habitualmente
escavava a imagem do Santo e introduzia nessa escavação o otá correspondente ao Orixá.
Desta forma, ele poderia voltar-se para uma imagem do Santo Católico e reverenciar o seu
Orixá.
O branco acabou por descobrir que os negros escavavam as imagens e o negro
justificava o fato dizendo que a imagem oca não trincava e que a pedra na base servia para dar
maior estabilidade à imagem. O branco, esperto, passou a utilizar-se destas imagens para
ocultar, no seu interior, fumo, ouro e pedras preciosas. Essa imagem era vedada com uma
massa preparada com cera de abelhas e serragem e enviada à Europa sem pagar os direitos do
Rei, surgindo desta forma de contrabando a expressão santo do pau oco como sinônimo de
coisa maldosa.
O negro passou, assim, a homenagear o seu Orixá diante de uma imagem de um Santo
Católico, resultando daí o início do sincretismo de crenças e divindades de vários aspectos.
Às vezes o dono da fazenda, o senhor das terras, tinha um Santo de devoção pessoal e
obrigava o negro a cultuar esse Santo. Isso justifica o fato de, em Salvador, Ogum ser
sincretizado com Santo Antonio e não com São Jorge, e assim acontecendo com os outros
Santos e Orixás. Vagner Gonçalves da Silva10 faz o seguinte comentário:
Os santos guerreiros, como Santo Antonio, São Sebastião, São Jorge, São
Miguel e outros, que de alguma forma aludiam à condição de
conquistadores dos portugueses em sua luta contra índios, invasores e
contra as duras condições de povoamento da terra, eram muito solicitados.
São Roque, São Lázaro, São Braz e Nossa Senhora das Cabeças – e outros
santos que curavam doenças da pele, respiratórias, hidrocefalia e tantas
outras, facilmente contraíveis nos trópicos – também eram constantemente
invocados nas promessas e ladainhas.
Nos seus sonhos de liberdade, o negro africano via em Ogum, o Orixá da guerra, a
força de que necessitava para conseguir sua liberdade. Um dia o negro empunharia a lança e a
espada de Ogum, mataria os brancos, vingando amigos e parentes mortos por estes e tomaria
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Candomblé e Umbanda: caminhos da devoção brasileira.
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de uma de suas caravelas e voltaria à sua terra natal. Seria Ogum que os ajudaria na batalha e
lhes daria força e coragem de que tanto necessitavam.
A figura de São Jorge nos mostra um homem todo coberto com uma armadura de aço,
ferindo, com uma lança, o dragão, símbolo do mal. O Ogum que o negro conhecia, e que era o
Orixá do ferro, era um Orixá guerreiro. O branco lhe impunha a imagem de São Jorge e o
negro cultuava Ogum, disfarçado na imagem do santo guerreiro.
Impedido de cultuar Yemanjá, a Mãe dos deuses, o negro cultuava Maria, a Mãe de
Deus, como lhe ensinavam os brancos. Externamente e diante dos brancos, ele era um cristão
que adorava Maria, mas, no seu íntimo, era Yemanjá a quem ele se referia.
O sincretismo processou-se nas diferentes regiões do país, segundo a crença ou
devoção das figuras mais importantes e representativas das várias localidades. Daí, para o
negro ou mestiço, a Yemanjá africana passou a confundir-se com Nossa Senhora dos
Navegantes, na Bahia; Nossa Senhora da Glória, no Rio Grande do Sul e Nossa Senhora da
Conceição, no Rio de Janeiro e Vale do Paraíba. Em consequência do sincretismo com Nossa
Senhora da Conceição, posteriormente passou a confundir-se também com Nossa Senhora da
Conceição Aparecida.
Os negros consideravam Xangô como um rei, um sábio. Isto os levou a homenagear
Xangô na presença das imagens de Moisés e São Jerônimo, homens maduros e sábios,
transmissores orais e gráficos dos ensinamentos divinos.
O Orixá Inhaçã é sincretizado com Santa Bárbara pela transferência do poder do Orixá
sobre o fogo, referência ao raio que teria, de maneira justiceira, punido Dióscoro, o pai da
Santa, quando se preparava para decapitá-la com a espada.
Os princípios cristãos passaram a admitir a ideia da Maria virgem, daí dar-lhe,
posteriormente, o nome de Nossa Senhora da Conceição. Ora, por uma questão de lógica, os
africanos reduzidos à condição de escravos em terra cristã só poderiam encontrar similitude,
para efeito de sincretismo, entre a Mãe de Jesus e a doce menina Oxum, um Orixá jovem e de
rara beleza.
Para esconder o otá consagrado a Oxóssi, o negro africano encontrou imagem ideal em
São Sebastião, pois este Santo se apresenta seminu, amarrado a uma árvore (mata) e crivado
de flechas. Oxóssi é o Orixá que conhece cada animal da mata e os caça com auxilio do arco e
da flecha. Esse fato provocou um rápido sincretismo entre São Sebastião e o Orixá da mata e
da caça, Oxóssi.
Sendo considerado o mais velho Orixá feminino do panteão africano, Nanã Buruquê
facilmente encontrou similitude em Sant’ana. Como o negro africano era obrigado a aceitar a
cultura e a religião impostas pelo branco, a avó de Jesus poderia ser comparada à velha Nanã.
Afinal, não cabe a ela a função de zelar pelo final de suas vidas?
Já para Obaluaiê coube o sincretismo com São Lázaro, pois este santo é representado
com o corpo cheio de feridas, enquanto o Orixá Obaluaiê é o deus da varíola e das doenças.
Dentre todos os deuses yorubás, Oxalá é o que ocupa o lugar de maior destaque,
recebendo ainda os nomes de Obatalá e Orixalá. Segundo o Candomblé, Oxalá é o Orixá
supremo, o criador do mundo. O negro ouvia constantemente, nas igrejas, o nome de Jesus e
pouca ou nenhuma referência ao Deus Pai do Velho Testamento. Em função disso, passou a
ver na imagem de Jesus a figura de Oxalá, o Criador.
Várias foram as formas de resistência dos negros africanos às forças de alienação e
extermínio que enfrentavam, porém o sincretismo religioso, além de uma forma de
resistência, constituiu também um modo precioso de preservar a sua cultura religiosa. Apesar
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Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
disso, dos quatrocentos Orixás cultuados pelos africanos de então, apenas dezesseis
conseguiram “sobreviver” às perseguições e aniquilamento dos patrimônios culturais e
religiosos africanos, obedecendo a sábias determinações do Astral Superior.
Os Candomblés
Candomblé de Caboclo
Candomblé de Caboclo é uma denominação dada aos cultos sincréticos africanos, com
influências indígenas e ameríndias. O termo teria surgido na Bahia, entre o Povo de Santo
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Os candomblés da Bahia.
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Século XIX (nota do autor).
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Um abrasileiramento dos cultos africanos.
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Os candomblés da Bahia.
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Candomblés de influência ameríndia.
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Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
Tambor de Mina
Os cultos de nação estão presentes em todo Brasil sob diversas denominações: Toré,
Xangô (Nordeste), Terecô, Xambá, Batuques (Rio Grande do Sul) etc. Uma forma de
manifestação desses cultos é o Tambor de Mina, denominação da religião introduzida no
Maranhão pelos negros africanos jêje e nagô e seus descendentes. É muito popular em São
Luis e, em todo Maranhão e caracteriza-se como um culto onde o toque indica um ritual de
chamada ou louvação às entidades africanas (Voduns e Orixás) e Caboclos de várias
procedências.
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Candomblé e Umbanda: o desafio brasileiro.
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Apostila Geral do Curso de Formação Sacerdotal
Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
A Cabula
O culto da Cabula é um exemplo que aponta para a fusão das práticas dos bantos com
o Espiritismo. Cabula é um termo deturpado originário de Cabala. Este culto, já extinto,
generalizou-se após a Lei Áurea e é o precursor das primitivas macumbas. Em diversos locais
recebeu a influência do Catolicismo formando uma amalgamação sincrética onde se ouviam
muitos termos utilizados nos terreiros de Umbanda.
Conforme Nina Rodrigues18, o Espírito que comanda os trabalhos é chamado de Tatá.
Seus adeptos, chamados de Camanás, devem guardar sigilo absoluto sobre os rituais sob pena
de morte por envenenamento.
Tal qual no Catimbó, as sessões são denominadas mesas e o chefe de cada mesa é
chamado de Embanda, sendo auxiliado pelo Cambone. A reunião dos camanás (cabulistas)
forma uma Engira. Todos devem obedecer cegamente o Embanda sob pena de castigos
severos. Usam calças e camisas brancas e lenços amarrados à cabeça.
O templo é denominado de Camucite, o local é secreto, sempre embaixo de uma
árvore frondosa no meio da mata, em torno da qual é limpa uma extensão circular de
aproximadamente 50 metros. Feita uma fogueira, a mesa é colocada do lado leste, rodeando
pequenas imagens com velas acesas, simetricamente dispostas.
As velas são denominadas estereiras19 e são acesas iniciando-se pelo leste, em honra
do mar (calunga grande), depois para o oeste, norte e sul.
Logo após a abertura do ritual, o Embanda, ao som dos nimbus (pontos cantados) e
palmas compassadas, se contorce, revira os olhos, bate no peito com as mãos fechadas até
soltar um grito estridente.20
17
Mãe Espiritual.
18
Os africanos no Brasil.
19
Durante muito tempo, as velas eram confeccionadas de estearina. Hoje são confeccionadas com parafina.
20
Fato comum nos terreiros de Umbanda quando da incorporação dos Caboclos.
16
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Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
O cambone traz então um copo com vinho e uma raiz. O Embanda mastiga a raiz e
bebe o vinho. Serve o fumo do incenso, queimado neste momento em um vaso e entoa outro
nimbu:
O Embanda, ora dançando ao bater compassado das palmas, ora em êxtase, recebe do
cambone o candaru (brasa em que foi queimado o incenso), trinca nos dentes e começa a
emitir chispas pela boca.
Os pleiteantes (caialos) a camanás (iniciados) são levados pelos seus padrinhos até o
Embanda e tão logo adentram o círculo, passam três vezes por baixo das pernas do Embanda.
Este aspecto do ritual é denominado tríplice viagem, que simboliza a fé, a humildade e a
obediência a seu novo pai. O Embanda recebe a emba (pemba pilada) e com ela fricciona os
pulsos, a testa e o occipital do caialo, que depois mastiga a raiz e bebe o vinho oferecido pelo
Embanda.
Após esse ritual o Embanda toma uma vela acesa, benze-se e começa a passá-la por
entre as pernas, por baixo dos braços e pelas costas do camaná. Se porventura a vela se apagar
diante de um dos camanás, esse deverá ser castigado com várias pancadas na mão com o
kibandan (palmatória), até que a vela não mais se apague. Esses castigos são frequentes e o
Embanda manda aplicá-los sempre que julga conveniente, para o aperfeiçoamento dos
camanás.
Então, avaliada a fé de todos os camanás, prossegue-se com a tomada do santé, que é a
parte principal das reuniões. Entoam um nimbu apropriado e o Embanda dança, com grandes
gestos e trejeitos para que o Espírito se apodere de todos. De tempos em tempos todos lançam
ao ar a emba, para que se afastem os “maus espíritos” e fiquem cegos aos profanos, não
devassando assim os seus segredos. 21
O Espíritos que baixam nos adeptos identificam-se como Tatá Guerreiro, Tatá Flor de
Carunga, Tatá Rompe-Serra, Tatá Rompe-Ponte etc. Este culto praticamente não existe na
atualidade e foi absorvido pelo Catimbó e pelas macumbas.
O Catimbó
de caapi25, similar ao clássico peyotl, cactáceo utilizado pelos mexicanos para o mesmo fim.
Queimavam raízes, folhas ou cascas de árvores resinosas, cujo perfume “adormecia ou
sonambulizava as pessoas”.
Excluindo-se a região do Maranhão onde houve um domínio religioso dos
daomedanos, todo o norte do Brasil, da Amazônia até as fronteiras de Pernambuco, o domínio
foi do índio, que marcou profundamente a religião popular, Pajelança no Pará e na Amazônia,
Encantamento no Piauí, Catimbó 26 nas demais regiões. O Catimbó27 é uma composição dos
rituais Congo-Angola, associados à Pajelança 28 e às práticas de bruxaria e feitiçaria de todos
os tempos. Sofreu influências do Catolicismo e do Kardecismo. Podemos dizer que é um
processo de feitiçaria do branco com cachimbo do negro e o fumo do indígena.
Em determinadas regiões, o Catimbó recebe as denominações de Xangôs, Canjerê,
Toré, Xambá, Babassuê etc. Em alguns locais recebe ainda a denominação de Adjunto29 da
Jurema. É bastante comum nesses rituais a ingestão de uma bebida alucinógena feita com a
raiz da jurema preta,30 de efeito muito parecido com a maconha.
No Catimbó, o ponto forte de seus mistérios de iniciação é denominado juremação, ato
pelo qual o crente se inicia, se prepara, sendo uma espécie de batismo de fogo, durante o qual
é submetido a um transe hipnótico, espécie de desdobramento do corpo astral, (produzido pela
ingestão de bebida alucinógena: infusão de jurema com aguardente). Durante esse transe,
recebe em certa parte de seu corpo um cristal ou pedrinha do mar (semente), com a qual
acredita estar protegido. A incisão é cauterizada, tampada, de modo que durante a cicatrização
o amuleto não saia.
Beber jurema ficou então como sinônimo de feitiçaria e reunião de catimbozeiros.
A força da jurema não é uma força material, a do sumo da planta, e sim uma força de
origem espiritual, a dos espíritos que passaram a habitá-la. A ingestão da jurema possibilita a
viagem ao mundo do sobrenatural.
Um instrumento indispensável aos rituais é o cachimbo de canudo comprido e que é
denominado de marca. O fumo utilizado é misturado com benjoim, incenso, alecrim e plantas
aromáticas. Durante os trabalhos pode-se fumar á vontade. O mestre costuma fumar o
cachimbo às avessas, colocando a boca no fornilho e soprando a fumaça pelo canudo.
Outro instrumento indispensável é a marca mestra que consiste de uma vareta de
madeira comprida que tem na extremidade uma cabacinha com sementes secas 31. Utilizam-se
ainda as princesas32 e as bugias33.
25
O Cipó Mariri (Banisteriopsis caapi) é encontrado na região amazônica e, juntamente com as folhas do
arbusto Psychotria viridis, é utilizado na preparação do chá ritualístico do culto ao Santo Daime. Essa bebida é
conhecida como Ayahuasca (Cipó dos Espíritos), Yagé, Pindi, Natema, Vinho da Alma, Pequena Morte e outras
denominações.
26
Às vezes denominado de Cachimbó.
27
Ao pé da letra, o termo Catimbó tem o seguinte significado: cá-a = surra, pancadaria; timbó = cipó venenoso;
temos então: surra ou pancadaria venenosa.
28
Adaptação dos antigos rituais indígenas
29
Reunião ou agrupamento.
30
Mimosa hostilis Bent.
31
Espécie de maraca.
32
Bacias de louça.
33
Velas.
18
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Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
As Macumbas
34
As religiões africanas no Brasil.
35
Ouroboros.
19
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Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
recente (aproximadamente cem anos), visto que João do Rio 36, em 1904, designa os cultos
africanos aí existentes pelo nome de candomblés e não utiliza o termo macumbas.
Edison Carneiro 37 fornece uma explicação para o termo:
Antes de dançar, os jongueiros executavam movimentos especiais pedindo a
benção dos cumbas velhos, palavra que significa jongueiro experimentado,
de acordo com essa explicação de um preto centenário: “cumba é jongueiro
ruim, que tem parte com o demônio, que faz feitiçaria, que faz macumba,
reunião de cumbas”. O jongo, dança semirreligiosa, precedeu, no Centro-
Sul, o modelo nagô. Como o vocábulo é sem dúvida angolense, a sua silaba
inicial talvez corresponde à partícula ba ou ma que, nas línguas do grupo
banto, se antepõe aos substantivos para a formação do plural, com
provável assimilação do adjetivo feminino má.
Após o evento da libertação dos escravos, uma boa parte dos chamados Cultos de
Nação passou a tomar um caráter mais externo, propiciando rápidas fusões e amalgamações
com outros ritos, como a Cabula, o Catimbó, a Pajelança, começando a proliferação de
terreiros, roças, mesas etc., por este Brasil afora.
Esta fusão trouxe para os catimbós e demais cultos alguns instrumentos ritualísticos
dentre os quais uma espécie de tambor denominado macumba que era tocado nos festejos do
Santo (Orixá). O macumbeiro era o seu tocador.
Estes cultos se expandiram rapidamente principalmente no Rio de Janeiro, e como
geralmente esses tambores eram tocados, começaram a ser chamados de macumbas. Neles
baixavam e baixam uma gama de Espíritos chamados de Mestres de Linha, os Tatás etc.
Os dirigentes e auxiliares desses rituais trabalham com tais Espíritos que estão na
mesma faixa vibratória deles, na maior parte das vezes. Geralmente fazem trabalhos de
bruxedo e feitiçaria de forma empírica, desconhecendo os seus fundamentos, mas conhecendo
os seus efeitos maléficos.
Uma das tarefas mais importantes dos pioneiros do Movimento Umbandista da época
era separar o joio do trigo, elucidando os novos adeptos sobre as diferenças entre Umbanda,
Kardecismo e Macumba. Muitas confusões ocorriam na cabeça dos recém-chegados ao
Movimento Umbandista, principalmente pela generalização desses cultos em torno do termo
Macumba, prática que ainda hoje vigora em algumas cabeças menos esclarecidas e surdas aos
clarins dos novos tempos. É comum ouvirmos alguns dizerem que vão a uma macumba
quando, na verdade estão indo a um Terreiro de Umbanda.
36
As religiões do Rio.
37
Os candomblés da Bahia.
20
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Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
São muitas, e não raras vezes conflitantes, as lendas sobre os Orixás Africanos, fato
justificado pela transmissão oral de fatos reais ou fantasiosas, ocorridos em tempos
imemoriais. Desta forma, é preciso que, ao analisá-los, nos lembremos que a exemplo da
mitologia greco-romana, com a qual aliás, às vezes se confunde e outras se parece, e onde os
personagens divinos se apresentam com hábitos, costumes e necessidades humanas.
Assim conta-nos Nina Rodrigues, em “Os Africanos no Brasil”:
“Do consórcio de Obatalá, o céu, com Odudua, a terra, nasceram dois filhos: Aganju
e Yemanjá (Aganju, a terra firme e Yemanjá, as águas). Desposando a seu irmão, Yemanjá
deu à luz, Orugan, o ar, as alturas, o espaço entre o céu e a terra. Orugan concebe
incestuoso amor por sua mãe e, aproveitando a ausência paterna, raptou-a e a violou. Aflita,
e entregue a violento desespero, Yemanjá desprende-se dos braços do filho e foge alucinada,
desprezando as infames propostas de continuação às escondidos daquele amor criminoso.
Orugan a persegue, mas prestes a deitar-lhe a mão, Yemanjá cai morta. Desmesuradamente
cresce-lhe o corpo e, dos seios monstruosos nascem dois rios, que adiante se reúnem,
constituindo uma lagoa. Do ventre enorme que se rompe nascem:
Dadá, deusa ou Orixá dos vegetais;
Xangô, deus do trovão;
Ogum, deus do ferro e da guerra;
Olokum, deus do mar;
Olochá, deus dos lagos;
Oyá, deusa do rio Niger;
Oxum, deusa do rio Oxum;
Obá, deusa do rio Oba;
Okô, Orixá da agricultura;
Oxosse, deus dos caçadores;
Ajê-Xalagá ou Ajê-Xalungá, deus da saúde;
Xankpannã ou Xapanã, deus da varíola;
Orum, o sol;
Oxú, a lua.
Desta forma, caberia a Orugan, pelo seu relacionamento com Yemanjá, a paternidade
dos demais Orixás”.
Assim, do relacionamento incestuoso de Orugan, nosso Édipo Africano. com sua mãe
Yemanjá, é que nasceram os demais Orixás, cabendo então a Orugan, e não ao seu pai
Aganju, a paternidade dos mencionados Orixás. Veja-se também, que Orugan tenta manter e
continuar este romance, criando assim, o primeiro triângulo amoroso na história africana:
deuses com paixões humanas.
Da mesma opinião já não concorda o não menos importante pesquisador Artur Ramos,
que em sua obra, “O Folclore Negro no Brasil”. explica:
“Pode-se dizer que é com o casamento de Obatalá, o céu, com Odudua, a terra, que se
iniciam as peripécias místicas dos deuses africanos da Costa dos Escravos. Deste consórcio,
21
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Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
nasceram Aganju, a terra firme, e Yemanjá, a água. Como as velhas mitologias, aqui também
a terra e a água se unem. Yemanjá desposa seu irmão Aganju e tem um filho, Orugan.
Orugan, o Édipo Africano. representante de um motivo universal, apaixona-se por sua mãe,
que procura fugir-lhe aos ímpetos arrebatados. Mas Orugan não pode renunciar aquela
paixão e, aproveitando-se, certo dia, da ausência de Aganju, seu pai, decide-se violentar
Yemanjá. Esta foge e põe-se a correr, perseguida por Orugan. Ia este quase alcançá-la
quando Yemanjá cai no chão de costas e morre. Então começa seu corpo a dilatar-se. Dos
enormes seios brotam duas correntes d'água que se reúnem mais adiante. Até formar um
grande lago. Do ventre desmesurado que se rompe, nascem os seguintes deuses:
Dadá, deus dos vegetais;
Xangô, deus do trovão;
Ogum, deus do ferro e da guerra;
Olokun, deus do mar;
Oxalá, deus dos lagos;
Oyá, deusa do rio Niger;
Oxum, deusa do rio Oxum;
Obá, deusa do rio Oba;
Okê, deus da agricultura e dos montes;
Oxosse, deus dos caçadores;
Ajê-Xaluga, deus da riqueza;
Xapanan ou Shankpannã, deus da varíola;
Orun, o sol;
Oxú, a lua.
Desta forma, seria Aganju, e não Orugan, o pai dos demais Orixás”.
Em Câmara Cascudo, “Dicionário Folclórico Brasileiro” também citado por Roger
Bastide, em “O Candomblé da Bahia”, encontramos esta curiosa lenda:
"Um dia, Orumilá (também chamado de Ifá, o adivinho, santo poderoso), saiu do
palácio para dar um passeio. Ia com todo seu acompanhamento, os Exus que são seus
escravos. Chegando em certo lugar deparou-se com outro cortejo, onde a figura principal
era uma mulher linda. Ele parou assim assombrado por tanta beleza. Chamou um de seus
Exus e mandou-o ver quem era aquela mulher. Exu chegou defronte dela, fez “dubalê” e
apresentou-se dizendo ser escravo do senhor poderoso Orumilá, que mandava perguntar
quem era ela. Ela disse que era Yemanjá, rainha e mulher de Oxalá. Exu voltou a presença
de Orumilá e disse-lhe quem era ela. Ele então, mandou-lhe um recado que desejava “Ter
uma conversa com ela” no seu palácio. Yemanjá foi embora e não cedeu logo ao pedido de
Orumilá, mas um dia, foi falar com ele. Não se sabe que conversa foi essa", diz o narrador
com malicia, "mas o certo é que ela ficou grávida dele! (...). Quando a criança nasceu,
Orumilá mandou Exu Babá (o mais velho dos Exus), e seu secretário, verificar se o "omolei"
(criança), tinha um caroço, sinal ou mancha na cabeça, indicio de ser filho dele”.
Vemos aqui, que Orumilá não só trairia Oxalá, como também poria em duvida, a
fidelidade de Yemanjá.
Em "Candomblés da Bahia", o grande Edison Carneiro conta:
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Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
“A gente dos candomblés acredita num ser superior, um deus supremo, que geralmente
chamam de Olorun (nagô) ou Zaniapombo (Angola, Congo, Caboclo).
O deus supremo está totalmente identificado com o deus dos cristãos, e com ele se
parece muito. Ladipô Solankê, estudando os nomes dados a esse ser, na Nigéria, cita entre
outros, os de Olorun, o mais comum de todos (o dono ou senhor do céu), Olodumarê (o
senhor do destino eterno), Obá Orun (rei do céu), Eledá (criador do Universo), Oduduwa (ser
que existe por si mesmo) e Obatalá (rei ou ser imortal). Os dois últimos nomes têm sido
confundidos por vários pesquisadores e especialmente pelo Coronel Ellis, como divindades
distintas, com as suas características de criador do mundo, de pai de todas as criaturas, de
senhor dos destinos da humanidade, de ser eterno e imortal, justo e misericordioso, o deus dos
negros Iorubás facilmente encontrou símile no deus do cristianismo.
Os candomblés de Angola e do Congo, e os candomblés de Caboclo, em geral,
reconhecem como suprema divindade Zaniapombo (Zambi em Angola e Zambi-ampungu no
Congo), um ser que já na África, confundia-se com Jesus Cristo.
Mais raros são os nomes Niçace e Allah, nos candomblés de influência jêje e
muçulmanos, ou nos poucos candomblés em que ainda perduram traços dos negros tapas.
Oxalá, identificado com o Senhor do Bonfim, e mais raramente com o Divino Espírito
Santo, recebe como entre os católicos da Bahia, as homenagens que deveria prestar a Olorun.
Chamam-no Orixá Babá, Santo Pai, e Babá Okê, Pai da Colina, a colina do Bonfim: Kaçuté,
Lembá Lembareganga (Senhor Lembá), Kaçubekà. É considerado pai de todos os Orixás, e
portanto, avô dos mortais, donde se chamar sua morada, a Igreja do Bonfim, Lançaté do
Vovô.
Oxalá se veste totalmente de branco e prata, ou níquel, controla as funções sexuais da
reprodução e inicia os ritos de purificação dos candomblés, com a Água de Oxalá. Come
cabra, pombo, conquém, milho branco e catassol (igbin), apelidado boi de Oxalá. Surge sob
duas modalidades: Oxalufã, velho, arrastando os pés, de corpo caído, apoiando-se a um
cajado, e Oxódinhã ou Oxaguiãn, moço, desempenado, alegre como o Deus-Menino, com um
pilão de metal branco na mão. Na primeira destas modalidades, é chamado familiarmente de
papai.
Abaixo destes deuses, encontram-se “espíritos ancestrais” chamados Orixás (nagô),
Voduns (jêje), Inkices (Angola e Congo), Encantados (caboclos) ou simplesmente, Santos,
devido a influência católica.
Ladipô Solankê esclarece:
“A idéia da grandeza sem par de Deus, parece ser predominante na concepção
Yorubá da divindade. Esta mesma idéia da sublimidade de Deus parece ter criado outra
noção, a de que um ser tão supremamente grande, tão majestoso e tão excelente, não se
humilharia a ponto de intervir diretamente nos negócios dos mortais. Entretanto, o Yorubá
crê que Ele é o ser que controla o Universo, e todas as coisas, todos os negócios dos homens,
e isso por intermédio de vários agentes, coletivamente chamados Orixás, a quem, por
analogia, imaginamos, como os ministros de um rei da terra, ao pé de Deus”.
Esta é a concepção ainda em vigor na Bahia.
Os Orixás nagôs são, em geral, personagens que representam as forças elementares da
natureza, ou as atividades econômicas a que se entregavam os negros, na região do Níger.
Xangô, representação das tempestades e dos raios, dos trovões e das descargas
elétricas. É um Orixá fálico. As lendas correntes na Bahia, o dão como o Rei de Oyó e, às
vezes, de todo o povo nagô. É festejado a 30 de Setembro. Mora na pedra do raio. Suas cores
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são o branco e o vermelho e sua insígnia é um machado com asas. Come carneiro, galo,
cágado (ajapá) e ômalá (um caruru especial). Além de sua manifestação principal, a mais
comum, Xangô pode surgir como Xangô do Ouro, adolescente, forma hoje rara, ou como
Airá, velho e alquebrado. Xangô de Ouro veste-se das mais variadas cores, enquanto Airá,
veste-se de branco com barras vermelhas. Identifica-se ora com São Jerônimo, ora com Santa
Bárbara, e na forma de Airá, com São Pedro; na de Xangô do Ouro com São João Menino. É
ambivalente, macho e fêmea (veste calça por debaixo das saias), mas cada vez mais, se torna
um Orixá masculino.
Oxosse, o deus da caça, encontra símile em São Jorge, e é mesmo representado nos
Candomblés nagôs pela imagem católica do Santo, de armadura e lança em punho,
combatendo o dragão. Traz instrumentos de caça, arco e flecha, aljava, espingarda, capanga e
rabo de boi (eiru) e por vezes, bichos de pena dependurados no cinto. Veste-se
principescamente de manto aos ombros. Algumas vezes tem chapéu de couro, feltro ou
veludo. É festejado no dia de Corpus-Christi. Come porco, bode, boi, galo e conquém. Mora
no mato, escondido por plantas nativas. Suas cores são o verde, o azul e o vermelho vivo.
O deus do ferro, Ogum, representa-se pela sua ferramenta (um feixe de pequenos
instrumentos de lavoura, machado, foice, enxada, pá, picareta etc...) e se identifica com Santo
Antonio, que na Bahia é capitão do Exército Nacional. É dono das estradas, é o Orixá que
abre as encruzilhadas, devido as suas estreitas relações com Exu, considerado seu escravo.
Solteirão, mora no mato, a céu aberto, e sua forja certamente poria fogo a qualquer espécie de
teto. Come bode, galo, azeite de dendê, pipocas (dôburu). Surge sempre com uma espada na
mão e dança como que duelando. Sua cor é o azul profundo. É o patrono das artes marciais.
Omulu, o deus da bexiga, e por extensão, de todas as moléstias. Surge ora como
Omulu, velho decrépito, retorcendo-se de dor, de movimentos exasperadamente tardios, ora
como Obaluayê, moço e forte. Traz sempre um capuz de palha da costa (filá), que lhe cai até
os ombros e lhe oculta a face, e empunha um feixe de palhas cercado de búzios (xaxará).
Quando Omulu, velho, identifica-se com São Lázaro, outras vezes, com São Bento; quando
Obaluayê, moço, com São Roque, outras vezes, com São Sebastião. Come bode, porco, galo,
conquém, pipocas, e as suas cores são o vermelho e o preto. Tem a sua festa a 16 de Agosto.
Veste calça por baixo das saias. É um Orixá muito popular, o médico dos pobres.
Irôko, a gameleira branca, passou a chamar-se Lôko, devido aos jêjes. Era antigamente
a morada de um deus, mas agora serve como árvore sagrada, o pé de Lôko, excelente lugar
para se deixarem oferendas aos Orixás. Os negros identificam a gameleira branca, raramente,
com São Francisco de Assis. Quando surge nos candomblés, coisa muito difícil de acontecer,
dança de joelhos, coberto de palhas da Costa.
Oxunmarê, o arco-íris, esta identificado com São Bartolomeu e é festejado
ruidosamente a 24 de Agosto, numa fonte das vizinhanças de Pirajá. Criado de Xangô, tem
para os negros a forma de uma serpente. Come carneiro, cágado, galo, aberém. Veste-se de
branco, com enfeites na mão.
Os Orixás femininos, as Iabás, são quase todas Orixás das águas e em geral gozam de
larga popularidade entre a gente do Candomblé.
Nanã, a Senhora Sant’Ana, festejada a 26 de Julho, é considerada a mais velha das
mães d'água, mãe de todos os Orixás Daomeanos. Come carneiro, galinha, acaça, axoxó,
pipocas, aberém, e as suas cores são o azul claro e o branco. Dança como pessoa de idade,
como vovó, como se tivesse um menino nos braços.
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Exu, tem sido largamente mal interpretado. Tendo como reino todas as encruzilhadas,
todos os lugares escondidos e perigosos deste mundo, não foi difícil encontrar-lhe um símile
no diabo cristão. O assento de Exu, que é um casinholo de pedra e cal, de portinhola fechada e
cadeada, e a sua representação mais comum, em que está sempre armado com as suas sete
espadas, que correspondem aos sete caminhos dos seus imensos domínios, eram outros tantos
motivos a apoiar o símile. O fato de lhe ser dedicada a Segunda-feira e os momentos iniciais
de qualquer festa, para que não perturbe a marcha das cerimônias, e, mais do que isso, a
invocação dos feiticeiros a Exu, sempre que desejam fazer mais uma das suas vítimas, tudo
isto concorreu para lhe dar o caráter de Orixá malfazejo, contrário ao homem, representante
das forças ocultas do Mal.
Ora, Exu não é um Orixá, é um criado dos Orixás e um intermediário entre os homens
e os deuses. Se desejarmos alguma coisa de Xangô, por exemplo, devemos despachar Exu,
para que, com sua influência, a consiga mais facilmente para nós. Não importa a qualidade do
favor, Exu fará o que lhe pedirem, contanto que lhe demos as coisas de que gosta, azeite de
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dendê, bode, água ou cachaça, fumo. Se o esquecemos, não só não obteremos o favor, como
também Exu desencadeará contra nós, todas as forças do Mal, que, como intermediário, detém
nas suas mãos. Eis porque os primeiros momentos da festa lhe são dedicados: os negros
conquistam, assim, de antemão, os favores que, durante a cerimônia, esperam receber dos
Orixás. Eis porque o primeiro dia da semana lhe é dedicado, os dias subseqüentes correrão
felizes, suavemente, sem perturbações nem intranqüilidade.
Quando os negros dizem despachar Exu, empregam esse verbo no sentido de enviar,
mandar. Exu é como o embaixador dos mortais. Tem por objetivo realizar os desejos dos
homens, sejam bons ou maus, e cumpre a sua missão com uma precisão matemática, com uma
eficácia e uma pontualidade jamais desmentidas. O despacho de Exu é uma garantia previa de
que o favor a pedir será certamente obtido.
Assim como pode interceder junto aos Orixás para o mal, também pode fazê-lo para o
bem. Depende daquele que pede a sua intercessão. Dai a existência de compadre, um Exu
familiar a todos os Candomblés, que por vezes mora dentro da casa, como genius loci, o cão
de guarda fiel e vigilante. O próprio título de compadre implica numa familiaridade que se
não compreenderia, se porventura Exu representasse as forças contrárias ao homem, o espírito
do Mal. No Engenho Velho, por exemplo, além do assento de Exu, nas vizinhanças do
Candomblé, de pedra e cal, a porta fechada e cadeada, como nos demais, há, no recinto do
barracão, a morada do compadre, feita de tela, com armação de madeira, diante da qual se
curvam, reverentemente, mas sem sombra de temor, as filhas da casa e os assistentes das
festas.
É exatamente por causa dessa sua qualidade de criado dos Orixás e de intermediário
entre os homens e os Orixás, que o Candomblé começa por festejá-lo. Toda festa começa com
o despacho de Exu (padé). A tradição africana manda que as cerimônias se iniciem com a
matança de certos animais, como o cão (hoje raro), o galo, o bode, no Pêji do Candomblé,
caindo o sangue dos animais sacrificados sobre Exu, mas atualmente, já se vai descurando
esse cerimonial tradicional e os Candomblés realizam apenas a Segunda parte do despacho de
Exu, no barracão. Duas filhas, especialmente destacadas para essa função, dagã e sidagã.
depositam no centro do barracão um copo com água e a comida de Exu. Depois, dançando em
volta da comida, ante as filhas formadas em circulo, a sustentar o coro, em certo momento
apanham o copo e a comida de Exu e atiram parte da água e da comida muito longe, às vezes
mesmo nos limites da roça. O restante volta para o assento de Exu. Os presentes abrem alas,
ante a passagem da dagã e da sidagã. Só então pode a festa, propriamente, começar.
Ibêjê, ou simplesmente, Bêje, os gêmeos, Orixás-Meninos, coletivamente chamados de
êrês, ou, os meninos, muito populares na Bahia. Surgem sempre depois da manifestação de
qualquer Orixá, como num período de transição para o estado normal, pois os negros
acreditam que todas as pessoas que tem santo, tem também um êrê, um Cosme e Damião, de
Crispim e Crispiniano, de Dôú e Alabá. Possuída pelo êrê, a pessoa fala e se comporta como
criança, para divertimento geral. Durante as festas públicas, são saudadas com a exclamação
Iá-ô.
No Tradicional Candomblé da Flaviana, depois de Maria Eugenia, os êrês tem uma
festa especial, a corda de Ibêje. Numa corda estendida de um lado a outro do barracão,
penduram-se as frutas, pedaços de cana, um pote com dinheiro miúdo etc, e, a certa altura das
cerimônias religiosas, todos os presentes começam a saltar para alcançar as coisas pendentes
na corda, até que esta fique completamente nua. Cada pessoa fica com o que conseguir
apanhar. Depois deste intervalo de risos, de saltos e brincadeiras, os atabaques voltam a tocar
e a festa prossegue.
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Apostila Geral do Curso de Formação Sacerdotal
Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
nagôs e jêjes, como Bôrôcô (Nanã Buruku) e Sereia Mukunã (Yemanjá). Ogum, o deus do
ferro, se multiplica nestes Candomblés em Ogum Marinho, Ogum de Cariri, Ogum de Lê,
Ogum Sete Espadas, Ogum de Ronda, Ogum da Pedra Preta. Ogum Sete Encruzilhadas,
Ogum Menino, Ogum Maiê, Ogum da Pedra Branca etc.
Poucos encantados são autênticos nesses Candomblés, como Tupã, deus oficial dos
indígenas brasileiros, e Tupinambá, representação ideal dessa tribo; como Salavá. identificado
com São Salvador, que suponha simples currutela de salvar (saudar).
Vejam que a expressão Saravá, nasceu desta forma, dos que se referiam a São
Salvador, local de culto a saudar.
Yemanjá, a mãe d’água, mora no Dique e merece as mais ruidosas homenagens da
população de cor da Bahia. Tem os nomes mais variados, Janaina ou Dona Janaina, Princesa
ou Rainha do Mar, Princesa do Aiuká ou Aruká (o mar), Sereia, Sereia do Mar e Sereia
Mukunã, Dandalunda (Angola), Kaiala (Congo), Inaê, Marabô, Dona Maria.
É o Orixá mais poderoso do “fundo da Calunga”, o mar, e é no mar, e em geral nas
águas, que se exerce o seu culto. Os devotos lhe dão presentes, embrulhos, cestos, ou vasos
contendo flores, pó de arroz, pentes, sabonetes, vidros de perfumes, espelhos, laços de fitas
etc, que levam para um lugar bem fundo do mar ou para onde as águas se encontram. Se não
afundar, o presente não será aceito. Destas homenagens, em toda a Baía de Todos os Santos,
participam brancos, mulatos e negros, Pescadores, marinheiros, carregadores dos portos,
artífices, homens do povo. É tão importante o culto popular a mãe d’água, tanto individual
quanto coletivo, que, somente num dia, 02 de Fevereiro, há festas de largo, com presentes
suntuosos, em Itapoã, no Rio Vermelho e nas amoreiras na ilha de Itaparica.
As pessoas que tem obrigações com Yemanjá só se consideram quites com a mãe
d’água, quando lhe levarem presentes, em ruidosas procissões marítimas, a bordo de saveiros
a vela ou a remo, ao som de atabaques e dos cânticos sagrados, em todas as águas na Lagoa
do Abaetê (Itapoã), em Amaralina, no Dique, na Lagoa da Vovó (Fazenda Grande do Retiro),
no Rio Vermelho, nas cabeceiras da Ponte e na Loca da Mãe d’água (Monte Serrate).
Também se dão presentes a mãe d’água nas povoações itapericanas de Amoreira, do Bom
Despacho e da Gameleira.
Partilham destas homenagens, em posição secundária, Nanã e Oxum.
Cosme e Damião, os Ibêje nagôs, são objeto de grande culto essencialmente
domestico, familiar, na Bahia.
Muitas famílias têm duas pequenas velas sempre acessas diante da imagem dos
meninos, os gêmeos são casamenteiros, ajudam a encontrar objetos perdidos, protegem contra
doenças, abrem os caminhos, mudam para melhor a sorte dos devotos. Diante dessa imagem,
nos dias de Quarta-feira e de Sábado, põem-se pequeninos pratos de barro com caruru e
quartinhas de água nova, da torneira. A água, ao ser mudada, não se joga fora, pelo menos em
lugar onde possa ser pisada, servirá para regar plantas ou para beber, pois se acredita que a
água das quartinhas de Ibêje comuniquem saúde.
Oficialmente, os gêmeos têm a sua festa a 27 de Setembro, dia perfeito para
casamentos entre as classes pobres, mas cada família pode festejá-los arbitrariamente, em
qualquer dia, desde que cumpra certas obrigações estabelecidas pela tradição. A festa se
chama de “Caruru dos Meninos”.
Três vezes, em dias diversos, antes do Sábado ou do Domingo, geralmente escolhidos
para a festa, saem os santos de dentro de uma caixa de papelão cheia de pétalas de rosa, a
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Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
pedir esmolas, conduzidas por algumas crianças. Quase sempre pede-se esmola publicamente,
de porta em porta:
- Missa pedida pra São Cosme!
Este processo só é usado pelos devotos mais pobres, mas em qualquer caso, os santos
devem sair, pelo menos até a casa dos amigos, a pedir esmolas, desde um tostão, a vontade. O
dinheiro das esmolas deve ser todo gasto com os meninos, sob pena de se cometer um pecado
imperdoável.
No dia da festa, a família, amigos e aderentes assistem a uma missa para os meninos,
contratada de antemão numa igreja qualquer. Uma criança, em geral do sexo feminino, leva a
imagem particular da família e a deposita no altar, para receber a benção do padre. Esta missa
deve ser mandada celebrar todos os anos, a fim de não atrasar o devoto.
Em casa, desde a véspera, os fogões disponíveis estão ocupados no cozimento dos
petiscos que constituem o caruru dos meninos, caruru. feijão fradinho, atará, acarajé, galinha
de xinxim, acaça, banana da terra em azeite de dendê com camarão, pipocas. De faca em
punho, as mulheres cortam roletes de cana, pedaços de coco. Outras fazem alua, uma garapa
de cascas de abacaxi em fusão, ou de gengibre com rapadura. De tudo isto, porém, só é
indispensável o caruru. De todas estas comidas se deve por um pouco aos pés dos santos,
antes que alguém se tenha servido delas, e mais, os pés e a cabeça da galinha.
A família terá convidado especialmente todas as crianças da redondeza, pois, quanto
maior for o número delas, melhor. Os adultos podem comparecer também, mas só as crianças
são convidadas para a festa.
À tarde, tem lugar a comezaina, que se inicia com o banquete, em comum, da
meninada, em meio a cânticos especiais, que fazem parte de um verdadeiro ritual, que
acompanha, passo a passo a comida dos santos.
Sobre o chão da sala de jantar, estende-se uma esteira de palha, onde se sentarão as
crianças, e sobre a esteira põe-se uma bacia de tamanho regular, onde haverá comida
suficiente para todos.
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Orixás
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Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
negativos, como sepultura e tumulo vazio, e positivo, como as aparições, que são distintas de
visões. Não são apresentados argumentos, mas testemunhas (at.ii,32; iii, 15), que são apenas
os seus seguidores.
A historia de Jesus Cristo, e todas as suas conseqüências, prolongam a questão
persistente no Evangelho “Quem pensam que sou?” (Mc.viii, 27). E ele da a resposta na
perspectiva do problema psicológico e humano da salvação: aceitá-lo ou negá-lo e optar
definitivamente (Mt.x, 33; Jo.xiv, 8-9). Respondendo a pergunta de quem era Jesus, os
Evangelhos apresentam expressões com que ele mesmo se designou: Filho de Deus e Filho do
Homem.
Todos esses termos devem ser entendidos de acordo com o sentido histórico. Messias
não é um termo técnico do Antigo Testamento, aplicando-se ao povo todo como nação
ungida, reino sacerdotal. Mas, na época de Jesus, que o povo vivia sob o jugo romano, o
termo tinha conotação que hoje seria de libertador. O mesmo pode se afirmar dos termos:
“Dileto”, “O Eleito” (Lc.ix, 35; xxiii, 35), o “Filho de David”.
Jesus teve profunda concepção de paternidade divina, entendia a Deus como Pai (17
vezes no Sermão da Montanha, 107 vezes no Evangelho de João). Daí o termo “Filho de
Deus”, revestir-se de particular importância, sobretudo por que ele distingue sua filiação da
dos discípulos (Mt.xi, 27; Mt.vi, 9).
O calendário litúrgico acompanha os principais acontecimentos da vida de Cristo que
o fiel procura reviver: Natal ou Advento (novembro e dezembro), Quaresma, Semana da
Paixão, Páscoa, Ascensão. O Domingo é dedicado a Ressurreição, ao passo que na Quinta-
feira, se comemora a Paixão.
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A historia de Jesus não está registrada em anais, nem em atas oficiais do Estado
Romano, nem tampouco numa obra de história judaica. As fontes não bíblicas que o
mencionam são poucas e lacônicas. A mais importante é uma noticia de Tácito, historiador
romano do início do século II, nos seus Annales.
Referindo à primeira perseguição aos cristãos, sob o Imperador Nero (64 d.C.), Tácito
da a seguinte explicação à palavra “cristãos”: “Este nome lhes vem de Cristo que, sob o
principado de Tibério, o procurador Pôncio Pilatos havia condenado ao suplício” ( Annales
15,44).
Na vida do Imperador Cláudio, o biógrafo imperial Suetônio (século II d.C.), diz que:
“Cláudio expulsou de Roma os judeus, que por instigação de CRESTOS (Cristo?), não
cessavam de provocar tumultos” (Cláudio 25,4).
Plínio, numa carta ao Imperador Trajano (110 d.C), fala dos cristãos como
representantes de grosseira superstição e, conta entre outras coisas, que eles se reuniam num
determinado dia e cantavam um “Hino à glória de Cristo. como em honra de um Deus”.
É curioso notarmos que os seguidores de Zélio de Moraes recebem a mesma
designação usada a quase dois mil anos aos primeiros cristãos, ou seja, REPRESENTANTES
DE GROSSEIRA SUPERSTIÇÃO. Em Flávio Joséfo, cuja extensa obra “Antiguidades
Judaicas”, apareceu por volta do ano 90 d.C., Jesus é mencionado apenas numa nota
ocasional, a propósito, do processo e do apedrejamento de “Tiago, irmão de Jesus, O ASSIM
CHAMADO CRISTO”)XX 9,1). Finalmente, o Talmud babilônico fala de Jesus como um
mago, um sedutor e agitador público, que zombou das palavras dos sábios. Teve cinco
discípulos e foi enforcado na véspera da Páscoa.
Todos esses fatos servem para deixar patente que os documentos redigidos na época
da igreja primitiva, mesmo quando falam de Jesus, não o consideram um acontecimento de
alcance histórico, embora não neguem que ele tenha existido.
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Quanto a Moisés, conta a lenda que fora encontrado ainda bebê em um cesto de vime
impermeabilizado com cera, boiando nas águas de um rio (o Nilo?), por uma princesa
egípcia, que tomando-o por seu protegido o educou como um príncipe egípcio, dando-lhe o
nome de Moshe (Moisés), que significa "aquele que foi salvo das águas".
A história mais uma vez se repete, há inúmeros exemplos de casos que sacerdotisas,
virgens, princesas e outras mais que sofriam a proibição de relacionar-se sexualmente, caso
das sacerdotisas, ou que não poderiam relacionar-se com alguém de posição sócio econômica
cultural diferente, princesas etc, mas que apesar de tudo mantinham como manda a própria e
imutável lei da natureza, esse tipo de relacionamento, naturalmente oculto, em segredo, e que
quando surgiam os frutos dessas uniões condenadas pela sociedade, sempre eram apontados
como de origem divina ou celestial. A mitologia greco-romana é pródiga nestes nascimentos
fantásticos. O mais provável, é haver sido Moisés, filho da princesa egípcia com um soldado
judeu, ou com outro funcionário, pois só assim este poderia saber sua ascendência hebraica.
Em Madian, Moisés reencontrou as tradições patriarcais em sua pureza original, sem
qualquer influencia egípcia, vivendo uma experiência religiosa bastante intensa.
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proclamação. No ano de 1854, o Papa Pio IX, na bula Ineffabilis, Deus definiu solenemente a
doutrina da Imaculada Conceição e a Virgem reconheceu esse titulo em 1858 em Lourdes.
As lendas antigas narram muitos detalhes sobre o nascimento e os primeiros anos da
filha de Joaquim e Ana, nascida em Jerusalém, possivelmente no ano de 20 a.C., durante a
festividade dos Tabernáculos, no outono, sendo extremamente formosa. Chamava-se Maria
(Miriam, Maryam), nome misterioso, de significado incerto. Aos três anos foi levada ao
Templo e consagrada a Deus. Segundo as lendas orientais, ela ali permaneceu sobre a tutela
dos sacerdotes.
As lendas ocidentais, todavia, fazem crer que Maria retornou a sua casa depois da
presença ao Templo e, recebendo sua educação diretamente de Santa Ana.
Quando Maria atingiu a idade para o matrimônio, casou-se com José, que era um
carpinteiro de Nazaré e que, como ela, pertencia a família de Davi. José aceitou Maria como
esposa sabendo que Maria havia dedicado sua virgindade a Deus.
Assistem as bodas os demais pretendentes a mão de Maria, levando cada um uma vara,
pois, segundo a crença, aquele cuja vara florescesse, seria o esposo de Maria. Contrariamente
as expectativas dos demais, a vara que floresceu, e sobre o qual aparece o Espírito Santo, sob
a forma de uma pomba, é a de José. Um dos desapontados pretendentes, Agáb, quebra a vara
em seu joelho.
Maria passou o tempo de seus esponsais em Nazaré, em casa de sua futura cunhada.
Nesta casa o Anjo Gabriel apareceu a Maria, anunciando-lhe que seria mãe do Messias. Maria
respondeu: “Eis aqui a escrava do Senhor”.
Como um exemplo do poder de Deus, Gabriel disse a Maria que sua parenta Isabel,
apesar de sua idade avançada e de ser considerada estéril, teria uma criança. Naturalmente,
Maria resolveu visitar sua prima para ajudar-lhe e lhe contar o sucedido. Não sabemos o que
ela disse a José e a sua irmã para justificar sua visita.
“Maria se levantou e foi apressadamente a Montanha”, e em quatro dias chegou a
aldeia de Judá, onde vivia sua prima.
O encontro das duas mulheres foi ao mesmo tempo solene e de pleno gozo. Isabel, ao
ouvir a voz de Maria, experimentou uma comoção que não era meramente surpresa. A criança
não nascida moveu-se em seu seio e um sopro de profecia tocou sua alma. Jubilosamente ela
proclamou a glória de Maria e a do Menino que sua prima daria a luz. Maria, por sua vez,
proferiu o Magnificat, louvando a Deus por sua misericórdia e sabedoria, e pela maravilha
que havia realizado, escolhendo-a para Mãe do Salvador da Humanidade.
Quando Maria retornou a Nazaré, depois de três meses de visita a Isabel, sua gravidez
já se fazia notar. A principio, José estava confuso e perturbado, mas um anjo o tranqüilizou e
então José levou Maria consigo, cumprindo assim, o último passo para o matrimônio e os
desígnios de Deus.
Pouco tempo depois, tiveram que abandonar sua casa, pois o édito romano chamava a
todos para um censo, sendo necessário que cada um se inscrevesse em seu lugar de origem.
Para Maria e José, esse lugar era Belém, onde havia nascido Davi. Quando lá chegaram, não
encontraram alojamento por que os abrigos estavam repletos. José sentiu-se desesperado, pois
Maria estava quase a dar a luz ao seu Menino. Finalmente, eles encontraram abrigo num
estábulo e, nesse lugar Maria deu a luz o Menino Jesus. Depois de enfaixá-lo, ela o colocou
numa manjedoura.
O nascimento de Jesus, bem como sua concepção, processou-se sem que Maria
perdesse sua virgindade, ou sofresse as dores do parto. Deve-se distinguir o milagre do
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nascimento sem a perda da virgindade da Imaculada Conceição, pela qual Maria veio a
existência, livre do pecado original.
Na mesma noite do nascimento de Cristo, um anjo apareceu a alguns pastores que se
encontravam nos arredores cuidando de seus rebanhos, e lhes disse que procurassem o recém-
nascido Salvador. Anjos apareceram no céu glorificando a Deus e anunciando a paz de Cristo.
Quando a visão desvaneceu-se, os pastores apressaram-se e encontraram o prodígio
anunciado. Entraram no refugio da Sagrada Família e ofereceram presentes ao Menino Rei.
Oito dias depois do nascimento, o Menino foi circuncisado e recebeu o nome de Jesus,
como o Anjo Gabriel havia indicado e, quando quarenta dias mais tarde Maria foi ao Templo
para o rito de purificação, ela e José levaram Jesus para apresentá-lo ao Senhor. No Templo,
um piedoso ancião chamado Simão, a quem Deus havia prometido que não morreria sem
haver visto o Messias, tomou Jesus nos braços e jubilosamente reconheceu o Salvador
prometido. Mas ele previu que uma espada de dor atravessaria o coração de Maria.
Ana, a profetisa, aproximando-se também, louvou Jesus.
Entretanto, os Magos adivinhos do longínquo Oriente, observando as estrelas, haviam
descoberto a vinda de um novo rei judeu e alguns deles, buscaram o novo rei seguindo sua
“estrela” no céu. Depois de atravessar Jerusalém (onde alarmaram Herodes com suas
noticias), chegaram a casa de Belém em que estava a Sagrada Família. Ajoelhando-se diante
do Menino, esses visitantes do Oriente ofereceram como presentes, ouro e aromas.
Quando os Magos perguntaram a Herodes onde podiam encontrar o recém-nascido, rei
dos judeus, ele consultou os sacerdotes e escribas, que lhe responderam que Cristo iria nascer
em Belém. Então, o rei despediu-se dos Magos, rogando-lhes que o avisassem quando
encontrassem o Menino, a fim de que ele pudesse prestar-lhe homenagem.
Herodes estava decidido a destruir essa ameaça a sua segurança, mas os Magos,
avisados em sonho, não passaram novamente por Jerusalém ao regressar ao seu país. Vendo
que eles não voltavam, o rei sentiu-se burlado e, não querendo perder a sua presa, decretou a
morte de todos os meninos com menos de dois anos de idade em Belém, pois calculou que
Cristo não teria então, mais do que dois anos. Uma vez mais, contudo, a intervenção divina
destruiu os planos de Herodes, pois antes que os soldados começassem a carnificina dos
meninos de Belém, José e Maria, avisados em sonho por um anjo, haviam fugido para o
Egito, onde Herodes não tinha poder para prejudicar o Menino.
A Sagrada Família chegou a Gaza depois de cruzar a planície de Sephelah. Voltando-
se então, seguiram a costa até chegar a fronteira. Uma vez cruzado o Rio do Egito, já não
havia perigo e é possível que a família tenha se detido neste lugar para descansar (cena esta
que tem sempre atraído a atenção dos pintores cristãos). É legendário o suposto encontro com
os ladrões, que mais tarde seriam crucificados com Jesus. Segundo versão mais comum dessa
história, o bom ladrão protege os Santos e os defende de seus companheiros.
Herodes morreu na primavera do ano 4 d.C., e José, informado por um anjo, voltou a
Judéia. Provavelmente pensava em instalar-se em Belém, mas vendo que o cruel filho de
Herodes o havia sucedido no trono e, movido por outro conselho angélico, ele continuou o
caminho de Nazaré.
Agora, os perigos e o desterro haviam passado, e a Sagrada Família entrou em um
período de paz e felicidade. O Evangelista nos diz que: “O Menino crescia e se robustecia,
cheio de sabedoria, e que as graças de Deus O amparavam”.
Ele seguia as leis da natureza que havia assumido, e Maria observava amorosamente o
desenvolvimento de suas faculdades.
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Acredita-se que a morte de José tenha sobrevindo durante este período. As mais
antigas lendas divergem em relação ao ano (entre os dezoito e vinte e nove anos de idade de
Jesus Cristo), mas todas concordam que o fato teve lugar antes do começo da vida bíblica de
Jesus. Santa Ana parece ter morrido mais ou menos ao mesmo tempo. Jesus e Maria ficaram
sozinhos, e em breve Ele também deixaria Nazaré para começar sua vida pública e cumprir a
Sua missão.
Jesus saiu de Nazaré para começar sua vida pública, no começo do ano 28
(provavelmente Janeiro). Nos primeiros dias de Março, voltou a Galiléia, encontrando-se com
Maria em uma festa de casamento na cidade de Caná, a poucos quilômetros de Nazaré. O
Evangelho não narra o feliz encontro da mãe e filho, mas São João nos relata como Maria
participou do primeiro milagre de Cristo, o qual teve lugar nessa ocasião. A seu pedido, Jesus
durante o banquete, transformou seis grandes jarras de água em vinho. As palavras com que
Ele respondeu a seu pedido soam aos nossos ouvidos como repulsa, mas sua ação desmente
essa atitude, e como nos faz notar Santo Agostinho, Cristo não foi a Caná para nos ensinar a
desdenhar nossas mães.
Maria foi de Caná a Cafarnaum com Jesus e seus discípulos. Ali encontrou
provavelmente, um alojamento para Ele e permaneceu algumas semanas, pondo ordem na
casa, antes de voltar a Nazaré. Mais tarde voltou a Cafarnaum com um grupo de parentes que
queriam dissuadir Jesus de continuar pregando. Naturalmente estamos seguros de que Maria
não compartilhava das intenções dos parentes. Talvez a ultima vez que ela O viu em Nazaré,
foi quando depois de pregar na Sinagoga, Ele foi atacado e quiseram lançá-lo de um
precipício nas cercanias da cidade. Diz-se que Maria foi testemunha dessa prefiguração da
Paixão de Cristo, e que rezava cheia de aflição e dor quando o observava de uma colina ao sul
de Nazaré.
Ouviremos alguma coisa mais sobre Maria durante a vida pública do Senhor. Jesus
escolheu os que haviam de estar em Sua companhia, e ela viveu sua viuvez sozinha, resignada
ao cumprimento de seu plano.
Tiveram. Jesus e Maria, a alegria de estarem reunidos por alguns momentos antes do
começo de Sua Paixão?
Talvez tenham se encontrado na casa de Lázaro e suas irmãs; ou talvez no Cenáculo, a
sala da Última Ceia foi o cenário desta despedida. Onde quer que Maria tenha andado, seu
intenso amor e excepcional entendimento fê-la compartilhar, mais intensamente que qualquer
outro mortal, da agonia de seu filho. Ela chorou e orou com Ele no Horto de Getsemani,
sofreu os sarcasmos de Herodes e Pilatos e suportou os mais vis insultos na turba. Finalmente,
quando Ele empreendeu o caminho da Cruz, ela se uniu a turba que O seguia ao Gólgota.
Quando se encontraram face a face, diz o livro apócrifo, dos Atos de Pilatos, que desmaiou de
compaixão. Este é o tema da quarta estação da Via Sacra. No lugar do encontro, foi construída
a igreja de Santa Maria do Desfalecimento.
Maria esteve retirada e isolada durante o tempo feliz do mistério de Cristo, mas passou
aos primeiros planos nas horas cruéis e sombrias de seu sofrimento. Com outras mulheres que
haviam aventurado a subir na colina da execução, ela observava heroicamente o terrível
drama. Embora cada detalhe a comovesse tremendamente, ela não se afastou um instante
sequer da brutal cerimônia. Viu as Santas Mulheres aproximarem-se com a mistura de vinho e
mirra, destinada a adormecer seus sentidos, e O viu provavelmente recusá-la. Então, de
repente, os verdugos removeram as suas vestes e estenderam seus membros manchados de
sangue no tosco madeiro e atravessaram com craves aquelas mãos que haviam empunhado o
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martelo com tanta destreza na oficina de Nazaré, e que tanto haviam curado e abençoado
durante a vida pública.
Para concluir, levantaram-no na cruz, puseram-na em posição vertical, na abertura
para isso destinada. Então, aquilo que havia sido anunciado, a espada de pesar e dor
profetizada por Simão no Templo, há muitos anos, penetrou mais profundamente no coração
de Maria. A isso se juntou mais um motivo de tristeza: os verdugos, depois de dividir as
vestes de Jesus, jogaram dados para disputar a túnica inconsútil, aquela que, segundo a lenda,
Maria tecera em Nazaré.
Os que mais odiavam Jesus, começaram a desfilar ante a Cruz, mofando de seu
desamparo e desafiando-o a escapar. Uma misteriosa escuridão desceu sobre a Terra e as
vozes dos perseguidores estavam estranhas na penumbra. O horror da crucificação refletia-se
na natureza, mas os inimigos de Jesus, cheios de ódio, não prestavam atenção.
Gradualmente, a turba foi se dispersando e os que O amavam acercaram-se dele. Em
um gesto final de amor, Jesus confiou Maria aos cuidados de João, e a designou mãe de João
e de todos os fiéis em todas as épocas.
Maria permaneceu junto a Jesus até que O desceram da Cruz. Tomou entre seus braços
o corpo profano e chorou amargamente, recordando sua beleza e inocência, e o amor que ele
havia mostrado pela humanidade que o crucificara.
Nesta mesma tarde, começaram os seguidores de Jesus, preparar sua sepultura.
Nicodemo, que havia pedido permissão para receber o corpo de Jesus, voltou a Jerusalém
trazendo consigo uma grande quantidade de aromas para embalsamá-lo. José de Arimatéia,
outro seguidor, trouxe um lençol de linho para envolver o corpo. Ao chegar ao Gólgota,
tomaram com delicadeza o corpo dos braços de Maria, e o colocaram na mortalha. Então,
provavelmente ajudados por São João, levantaram a preciosa carga e dirigiram-se para a
tumba que o rico José, mandara preparar para si mesmo, que se encontrava em um jardim a
pouca distância do Calvário. Atrás deles, vinham chorando as Santas Mulheres: Maria
Madalena, Salomé, Maria de Cleofas e a Mãe de Jesus.
A tumba de José, recentemente cavada em rocha viva, estava perto, quando a
procissão chegou à entrada, os portadores detiveram-se e prepararam-se para embalsamar o
corpo, mas antes deles começarem, Maria abraçou o filho morto. Começou então, a
preparação do corpo para a sepultura. Limparam-no completamente da poeira, suor e sangue,
e envolveram os membros em largas faixas de pano, derramando profusamente os preciosos
aromas nas dobras do linho.
Finalmente, envolveram o corpo na mortalha e o colocaram na tumba. Uma grande
pedra foi assentada na entrada da mesma. Terminada a triste cerimônia, Nossa Senhora e os
demais voltaram então a Jerusalém, provavelmente ao Cenáculo.
O pranto de Maria na morte de Jesus não estava acompanhado da aflição e angustia
dos que vêem a morte como uma separação completa e final. Ela tinha uma fé inabalável nas
promessas de Cristo e, ao terceiro dia esperou com confiança, Sua Ressurreição.
Os Evangelhos não mencionam nenhuma aparição de Jesus a sua mãe no dia da
Ressurreição. Falam somente das aparições àqueles cuja fé podia ter diminuído, sem uma
prova de Sua divindade.
A fé de Nossa Senhora não necessitava dessa garantia. Contudo, o sentimento cristão
cultivou sempre um especial carinho de que Cristo apareceu primeiro a Maria. Presumindo
isso, a igreja diz, na antífona da Páscoa: “Rainha do Céu. rejubila, aleluia!”.
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Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
Na manhã do terceiro dia, as Santas Mulheres dirigiram-se a tumba, mas Maria não as
acompanhou. Talvez na hora em que as outras mulheres iam buscar Jesus no sepulcro, Ele
apareceu vivo e glorioso a Sua Bendita Mãe. Ela rejubilou-se ao ver Sua Sagrada face
reconstituída em sua beleza original, e as feridas da paixão transformadas em emblemas de
vitórias.
Pouco tempo depois de Sua Ressurreição, Jesus foi de Jerusalém a Galiléia para
encontrar-se com Seus discípulos. Segundo alguns sugerem, Jesus os precedeu para ganhar
tempo e ter a oportunidade de estar com Maria. Esse tempo, apesar de curto, e com certeza,
rápido no passar, deixou gratas recordações para Maria, recordações estas que ela acalentaria
pelo resto da sua vida mortal.
Breve chegou o momento de Jesus reunir-se com Seus discípulos. Não sabemos se
Maria O acompanhou, ou se estava presente ao desjejum na praia (João 21) e a reunião com
os discípulos na montanha (Mateus 28:16). Talvez não, mas é possível que Nossa Senhora
tenha voltado com Ele e Seus seguidores a Jerusalém.
Quarenta dias depois da Ressurreição, Jesus entrou no Cenáculo e ceiou com Seus
discípulos, e a eles falou de Seu reino, e dos batismo do Espírito, que dentro em breve
receberiam. Depois os conduziu ao Monte das Oliveiras e dai ascendeu aos céus,
desaparecendo de suas vistas.
Nessa ocasião Maria estava, sem duvida, presente para receber o ultimo adeus de seu
filho, ao qual ela havia dedicado toda a sua vida.
Quando os discípulos retornaram a cidade, Maria reuniu-se a eles no Cenáculo e orou,
enquanto esperavam a descida do Espírito Santo, que viria em cumprimento ao prometido.
Grande número de pessoas haviam se reunido no “quarto superior”: os Apóstolos, as
Santas Mulheres e mais cento e vinte parentes de Jesus. Naturalmente Maria presidia a
reunião nesse tempo de espera. Ela estivera muito tempo com Jesus e sabia o que o Mestre
desejava deles. Por esse motivo, eles procuravam Maria e a consultavam em todas as
deliberações, tais como o sucessor de Judas (eleição).
No décimo dia, as nove horas da manhã, um ruído semelhante a um ensurdecedor
vento foi ouvido no quarto e o Espírito Santo veio e morou neles, mostrando sua presença por
meio de línguas de fogo que apareceram sobre suas cabeças.
Os artistas cristãos a representam como figura central da cena, pois ela é a Rainha dos
Apóstolos.
Alguns sustentam que Maria recebeu os dons especiais do Espírito Santo, tais como o
Dom das línguas, mas dizem que não o usou em atividade missionária, mas sim ensinando e
aconselhando todos os peregrinos de todas as raças do mundo.
A escritura não nos fala da vida de Maria depois do Pentecostes, mas as lendas são
numerosas.
Diz-se que mesmo São Pedro a consultou sobre a doutrina e que o Credo dos
Apóstolos foi escrito sob sua inspiração. É quase certo que São Lucas recorreu a ela para
obter informações que usou em seu Evangelho sobre a Sagrada Família.
Os padres da igreja Oriental ensinam que Maria também instruiu seu sobrinho São
Tiago, que se tornou bispo de Jerusalém.
Dionísio de Areopagita recebeu de Maria a missão de pregar aos gauleses, e Santo
Inácio de Antióquia, um discípulo de São João Evangelista, foi um grande defensor da divina
maternidade.
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Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
A crença mais comum é que Maria viveu com São João em Jerusalém e que morreu
pouco antes da sua saída para a missão em Efeso, possivelmente no ano 48 ou 49 d.C., o que
nos faz pensar que Maria tinha setenta anos quando faleceu. Desconhecemos o mês e o dia,
contudo, no século sexto, um decreto de Mauricio, Imperador Oriental, consagrou o dia 15 de
Agosto a memória da morte e assunção de Maria.
A crença tradicional é que Maria morreu sem experimentar a dor e foi levada ao céu
em corpo e alma, sem sofrer corrupção alguma. A Assunção de Maria, sustentada pela
tradição, teologia litúrgica e escrita, foi definida como dogma pela Papa Pio XII, em 1950...
“definimos seu dogma divinamente revelado, que a Imaculada Mãe de Deus cumpriu o curso
de sua vida terrestre, ascendendo de corpo e alma a glória celestial”.
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Capítulo 01 – Introdução à Umbanda
do que ocorre durante a incorporação. E isto não se resume apenas aos neófitos. Átila Nunes,
em seu livro “Antologia da Umbanda”, pergunta:
“Haverá Médiuns inconscientes?”.
O não menos famoso W.W. da Mata e Silva, em “Umbanda do Brasil”, afirma que só
é Médium aquele que for inconsciente.
Onde está então, a verdade?
Via de regra, QUASE TODO MÉDIUM passa por diferentes estágios durante seu
desenvolvimento mediúnico. Geralmente, as primeiras manifestações ocorrem em estado de
inconsciência, depois, quando se inicia o desenvolvimento, o Médium passa por um período
de quase total consciência e, posteriormente, à medida que a entidade se adapta e o constante
exercício da incorporação, tornam o Médium melhor adaptado às suas funções. O Médium
passa primeiro por um estado de semiconsciência, isto é, não consegue se lembrar de detalhes,
como se tudo houvesse ocorrido como num sonho, como se estivesse vendo através da névoa,
ou depois de ter abusado do álcool, para depois então, tornar-se totalmente inconsciente.
Embora conheçamos não poucos bons Médiuns que sempre foram totalmente inconscientes,
enquanto outros, não menos eficientes, nunca conheceram em sua plenitude a inconsciência.
Para melhor facilidade de compreensão, vamos ilustrar da seguinte forma:
Faça de conta que o Médium é um automóvel e o seu espírito é o motorista (que o
conduz). Imagine agora, que um outro motorista que não tem mais seu automóvel (o corpo
físico), peça ao primeiro para usar o seu, mas com a condição de que o primeiro participe do
passeio, ou viagem. Então, o motorista (proprietário do automóvel) empresta seu carro para
o outro, e senta-se no local destinado ao passageiro. Como o mesmo não sabe de que forma o
outro dirige, durante algum tempo e até se certificar da habilidade do outro motorista, ele
viajará apreensivo, pois cada erro notado será um arranhão em seu patrimônio. Se o
segundo motorista avança um sinal, será o primeiro quem levará a multa, ou se arriscará a
sofrer danos em seu veículo. Todavia, se após algum tempo de viagem, o primeiro constata
que o segundo motorista é cuidadoso, que não comete imprudências e zela pelo seu veículo,
poderá até se distrair, observar a paisagem e, ao final da viagem, embora naturalmente
cheguem juntos, o primeiro por haver se distraído, não saberá citar com certeza todos os
detalhes do caminho e, quando mais tarde, partirem para outros passeios mais longos,
fatalmente acabará por se abandonar no banco do carro, adormecendo. Naturalmente que no
final dessa viagem, não terá nenhuma recordação do que aconteceu enquanto dormia,
embora não houvesse, em tempo algum, se ausentado do veículo, e tivessem chegado
exatamente juntos ao final da viagem.
O primeiro caso mencionado é o do Médium consciente, que em início de
desenvolvimento não consegue se entregar por inteiro à entidade, trabalhando a maior parte
das vezes, irradiado, sem uma total e completa incorporação;
O segundo caso, aplica-se ao Médium que, depois de alguns anos de trabalhos
constantes, quando mesmo tendo sido considerado sempre como Médium consciente, lembra-
se apenas parcialmente dos fatos ocorridos durante o transe mediúnico, não conseguindo
fixar-se nos detalhes;
O terceiro caso citado, é do Médium que, atingindo uma total identificação vibratória
com a entidade, pode abandonar-se, permitindo então, o mais absoluto controle de seu corpo e
de sua mente pela entidade incorporante. Resultando disto, não conseguir lembrar-se
absolutamente de nada do que lhe aconteceu durante a incorporação.
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OBSERVAÇÃO:
Gostaríamos que todo Médium consciente fizesse uma pequena experiência, que
consiste em pedir auxílio a um cambono de sua mais absoluta confiança quando participasse
de um trabalho de incorporação, ficando este encarregado de prestar atenção a tudo o que
acontecesse, enquanto durar o trabalho. Após terminado o mesmo, compara-se tudo o que o
Médium crê que tenha acontecido, com aquilo que realmente aconteceu. O Médium ficará
surpreso com as diferenças existentes entre aquilo que o cambono testemunhou e aquilo que
ele crê que tivesse acontecido. Naturalmente que os fatos mais importantes não se alteram,
mas somente em casos muitíssimos raros, é que o Médium é capaz de relatar absolutamente
tudo o que ocorreu durante o transe.
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De Efeito Físico:
É a forma de mediunidade pela qual a simples presença do Médium resulta em
fenômenos que atingem objetos, ou provocam efeitos sonoros, odoríficos, etc...
Exemplo:
Janelas que se abrem ou fecham sozinhas, deslocamento de objetos (um pano que cai
sem ser tocado por mãos humanas), uma música de origem ignorada, que invade o recinto,
aroma de flores, ou outros, em local onde nada poderia causar esse mesmo aroma. É também,
de todas as formas de mediunidade, a que mais cria oportunidade de fraude, infelizmente, tão
comuns nos dias de hoje.
De Vidência:
Faculdade que determinados Médiuns possuem, e que lhes permite sob determinadas
circunstâncias, verem as entidades espirituais que já tiveram uma existência física entre nós,
ou a própria aura individual, existindo em algumas pessoas de forma constante e, em outras,
com características transitórias, ora vendo com facilidade, ora não conseguindo ver mais do
que vultos ou contornos indefinidos, e outras, pura e simplesmente não conseguindo ver.
Parece acentuar-se com o maior numero de experiências espirituais, mas não raras vezes,
ocorrem retrocessos com antigos Médiuns videntes, não conseguindo ver determinados
espíritos, ou mesmo, alegando haverem perdido o dom da vidência.
De Transporte:
Forma de mediunidade que permite a um determinado Médium, incorporar uma
entidade espiritual que habitualmente não se serve de seu corpo físico. Não confundir com
mediunidade de desdobramento, que permite ao Médium deslocar-se no tempo e no espaço
sem seu corpo físico, que permanece em repouso. A mediunidade de transporte é utilizada
principalmente nos trabalhos de desobsessão, quando o Médium experiente, que já tenha
plenamente desenvolvido seus dotes mediúnicos, tenta conseguir que o espírito que esteja
obsedando alguém, passe para seu corpo físico afim de mais facilmente ser doutrinado,
infelizmente quase desprezado pelo Kardecismo, pelos inconvenientes que causa, fruto da
passagem de espíritos atrasados que gritam, xingam, ou se manifestam de forma anormal e
desagradável. Não tem encontrado na Umbanda, a acolhida devida, sendo raros os terreiros
que realizam sessões regulares de desobsessão, estimulando desta forma, a mediunidade de
transporte. Exige sempre a presença de Médiuns experientes e de bons cambonos e
doutrinadores.
Psicografia Ou Mecânica:
Faculdade mediúnica que permite ao Médium receber e grafar mensagens espirituais
de forma mecânica, isto é, na quase totalidade das vezes, o Médium escreve sem saber o que
está escrevendo, como se o espírito utiliza-se somente seu cérebro e seu braço. Existem
mesmo, Médiuns capazes de em um dado momento, receberem duas mensagens distintas e
escrevê-las ao mesmo tempo com ambas as mãos. Experimentos neste sentido já foram
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realizados com êxito, embora reconheçamos que deficiências do indivíduo que é Médium,
possam afetar esse tipo de experiência, que somente alguns poucos conseguem realizar.
Psicométrica:
Faculdade mediúnica que permite a determinados Médiuns reconstruir fatos relativos a
objetos e coisas, pelo simples contato com esses objetos e, até mesmo relacionar esses objetos
com seus possuidores, ou outros que tenham tocado nos mesmos objetos.
Olfativa
Faculdade que permite ao Médium a percepção pelo olfato da proximidade de
entidades espirituais. Às vezes, ocorre sentir cheiro de algo relativo a determinado fato,
exemplo, O Médium consegue determinar onde houve um crime, apenas pelo cheiro de
sangue sentido no lugar.
Intuitiva:
Faculdade que determinados Médiuns têm de sentir a presença de entidades e, às
vezes, de realizar aquilo que ele (o Médium), tem a certeza que constitui a vontade da
entidade. Quando relativa a fatos em vias de acontecer, ou acontecidos à distância e, dos quais
o Médium tem a intuição, são chamados de PREMONIÇÃO. Ainda existem Médiuns, que
não conseguem uma perfeita incorporação, e que trabalham sob a irradiação, ou INTUIÇÃO,
que lhes é servida pela entidade, também dizemos do conhecimento que o Médium chega a
ter, sem haver aprendido (Pré Cognição).
De Incorporação:
Faculdade mediúnica que permite ao Médium ceder ou emprestar seu corpo físico a
um espírito, para que este possa através daquele, se manifestar, se comunicar, através de
transe mediúnico. É a posse do corpo físico do Médium, por um espírito que já não tem mais
um corpo físico para se manifestar. É, de todas as formas de mediunidade, a que mais é
utilizada nos terreiros de Umbanda.
Clarividência:
Segundo uns, uma extensão da própria vidência, que permitiria ver fatos passados e
futuros, segundo formas diferentes, a saber:
Intuitiva: Lendo em superfícies polidas (espelhos, bolas de cristal, copos de
água, etc.);
Interpretando Sinais: Búzios, deloguns, alobaça (jogo das cebolas) e outras formas
menos usuais na Umbanda, como cartomancia e etc...
De todas as formas mencionadas de mediunidade, é a que merece menos crédito, pois
o número de fraudes faz com que seja cada vez mais desacreditada. A exploração da boa fé
pública através destas diferentes formas de clarividência, infelizmente é tal, que chegam a
prejudicar o bom nome da Umbanda, quando poderiam e são, nas mãos de Médiuns honestos,
excelentes formas auxiliares de diagnóstico.
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Comentários:
Baseando-se em razões da filosofia hindu, alguns autores defendem a tese que a
incorporação se processa através dos diferentes chacras, distribuídos pelo corpo físico do
Médium, chegando mesmo a relacionar uma direção seguida pelo espírito, a saber: primeiro o
chacra coronário (centro da consciência), e em seguida o chacra básico, passando daí para os
demais. Todavia, é ainda baseado em fatos, principalmente nas descrições de pessoas que
foram consideradas clinicamente mortas, e foram trazidas de volta à vida, que sabemos que,
independentemente do nome que dermos aos detalhes da incorporação, ela se processa por
uma tomada do corpo pelo espírito, iniciando-se pela cabeça e terminando nos pés. Em
entrevista que fizemos com o Sr. Álvaro Gouveia (transmitida inclusive pela TV
Bandeirantes, durante o programa da Xênia) respondendo a pergunta:
"Quando o senhor se deu conta de que já não mais estava morto?” este respondeu:
"Quando senti que toquei nos pés... que bati na sola dos pés!"
Segundo ainda não só esta fonte de informação, mas mais de quarenta casos
catalogados, o instante que precede o ato de incorporação (tomada do corpo pelo espírito, e
tudo indica que o método seja o mesmo), o espírito parece flutuar, e depois vai deslizando
lentamente até que atinja o corpo na altura da cabeça, descendo posteriormente até a tomada
total do corpo, quando o espírito toca o fundo (sola) dos pés do incorporado.
Já está também provado, que nem todos os Médiuns de incorporação reagem
exatamente da mesma forma quando do ato da incorporação, parecendo haver alterações
proporcionais, quer a experiência do Médium (o Médium que exercita constantemente suas
faculdades mediúnicas, sempre encontra mais facilidade), quer com relação às limitações do
Médium incorporante, quer em relação à entidade.
Não devemos estranhar também se o espírito de um homem velho, incorporando-se
num jovem, dá a esse jovem, a postura característica de um velho alquebrado, visto que a
morte não retoca ninguém, mas sim que é como um instantâneo fotográfico, e que o espírito
sempre volta com o conhecimento de sua última existência terrena, se a voz desse velho tem
algo a ver com a voz do jovem, está plenamente justificado, pois é através de seu aparelho
fonador que o velho deve exprimir-se e, embora a voz lembre o elemento jovem incorporado;
a forma de falar, a entonação, serão sempre características do velho incorporante.
Resumindo:
O espírito precisa se adaptar ao corpo em que incorpora, respeitando, todavia, suas
limitações.
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o período que ocorre após a morte física (é a que chamamos de período de auto
julgamento);
e finalmente, o período de preparação para uma nova existência física, como
demonstra a figura abaixo:
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Exemplo:
uma pessoa nasce em 1800
morre em 1850
período de auto julgamento de 1850 a 1900
período de incorporações de 1900 até 1950
depois de 1950, nova existência física, novo karma.
O escravo nascido em 1800 viveu uma vida de servidão e sacrifícios até 1850, quando
veio a falecer. Passando então pelo período de auto julgamento, período de compreensão
quando, liberto do corpo físico, pode de maneira imparcial fazer um balanço de toda a sua
atividade terrena, e saber então, se já tem luz espiritual suficiente para exercer trabalhos mais
importantes em nova existência espiritual, período aproximadamente similar ao que viveu em
sua existência física. Posteriormente, a partir de 1900, inicia seu trabalho de preparação,
podendo manter contato com os encarnados, completando assim, sua triangulação e,
finalmente, em 1950, renascendo em um novo corpo físico, para um trabalho condizente com
o que realizou na sua vida física anterior, cumprindo assim, sua missão Kármica.
Naturalmente, não podemos afirmar que seja exatamente da mesma forma que o
tempo é medido após a morte. Pode, e deve, haver um meio diferente, fora de nosso mundo
físico (provavelmente não limitado ao nosso sistema solar) que define a cronologia do tempo.
Isso também fica claro quando normalmente, incorporamos espíritos que
desencarnaram há mais de cem anos, embora devamos admitir que há exceções.
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habitantes da terra santa, maometanos ou quem quer que fosse que se impusesse em seu
caminho, em busca do lucro e do poder. O pretexto para a declaração das ignominiosas
chamadas guerras santas, as "CRUZADAS", nada mais eram que uma tentativa de conquistar
a posse de territórios árabes que permitiam o acesso à Índia, e as suas riquezas e iguarias.
Era o comércio incentivando a guerra, era Jesus sendo substituído pelo dinheiro.
Foram enfim, os novos Judas traidores da IGREJA DE CRISTO que, mais uma vez em nome
de DEUS, semeou a morte e a dor, sacrificando milhões para benefício de poucos... muito
poucos.
A grande verdade é que a igreja sempre apoiou quem estava "por cima", quem detinha
o mando, por isso, quando os reis substituíram os barões no mando dos homens, a igreja
procurou ficar ao lado destes, fossem quais fossem as idéias e os objetivos da nação, a igreja
estaria ao lado dos reis e, naturalmente, contra o povo, até mesmo, incutindo no povo a idéia
de que o rei era um ser divino, que seu sangue era diferente e que o povo deveria lhe obedecer
cegamente. À vontade do rei era à vontade de Deus, e em troca, estes deveriam dar a igreja
todo o apoio possível.
A ambição dos reis europeus exigia que nas novas terras conquistadas fossem
produzidas riquezas para manter o fastio das cortes, e os padres fechavam os olhos a qualquer
forma de injustiça social, desde que não lhes fosse negado seu quinhão. Assim, a princípio
tentou-se a escravização do gentio, dos índios aqui encontrados. Primeiro era preciso deixar
claro, segundo os jesuítas da famigerada companhia de Jesus, o índio não tinha direito a nada
porque não era católico. Ele apenas acreditava naquilo que Deus fizera: o Sol, a Lua, as
Estrelas. O índio não acreditava naquele símbolo de ladrões e malfeitores, no símbolo
assassino da Cruz. Ele, o índio, não precisava de uma fortuna; bastava-lhe o suficiente para o
dia a dia: uma fruta, um pouco de milho ou mandioca, uma peça de caça para fornecer as
proteínas animais de que precisava; como igreja, ele usava a natureza como Deus a criou: uma
clareira na floresta com as árvores da mata filtrando a luz do Sol, uma cachoeira, a beira de
um lago, qualquer fato da natureza era religião, era coisa sagrada para o índio.
Mas eis que surge o branco do outro lado do mar com idéias novas. Toda a cultura do
índio era bobagem, o índio deveria esquecer Tupã para prostar-se ante a imagem de Cristo.
Deveria negar todos os seus valores culturais, e submeter-se aos valores impostos pelo
elemento branco. Deveria deixar para sempre a selva que lhe dava tudo o que necessitava para
viver bem, e submeter-se a trabalhar de graça para o branco. Ele seria batizado com um nome
católico e renegaria toda a sua origem. Mas nem assim ele seria um branco. Então, ele seria o
que? O índio seria apenas o ESCRAVO do branco. O índio teria todos os deveres, e o branco,
todos os direitos.
Por isso, não é de se estranhar a rebeldia do índio contra o branco. O índio não se
submetia à escravidão. Quando o branco o mandava derrubar a mata para plantação, ao
receber as primeiras chicotadas, o índio desaparecia no mato, que era o seu elemento, e
recapturá-lo era quase impossível.
Constituída principalmente por analfabetos e incultos aventureiros, as tripulações dos
veleiros e o lixo humano varrido das cadeias que a Europa mandava para cá, serviam-se das
índias, como das prostitutas européias, e traziam nesse relacionamento, mercê da falta de
higiene em que viviam, doenças de todos os tipos, que dizimavam os índios por não disporem
de defesas naturais contra essas doenças que, para eles, eram ate então desconhecidas. Eles
que haviam recebido as primeiras embarcações dos brancos como amigos, logo se deram
conta das péssimas intenções dos mesmos, e passaram então a hostilizá-los e a persegui-los.
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Logo ficou patente que o índio nunca seria um bom escravo, e foi a partir desse
conhecimento que a igreja, defendendo os interesses dos ricos e poderosos representantes do
rei e de seus cortesãos, sugeriu a liberdade para os índios, em troca da vergonhosa escravidão
para os negros.
Assim, a partir de 1.517, apos o bispo Don Bartolomeu de Las Casas haver conseguido
convencer D. Carlos V (rei da Espanha e de toda a América Latina de então), e de conseguir
para uma determinada companhia o monopólio do transporte dos negros africanos, bem como
seu comércio nas Américas (tanto a igreja como o rei tinham interesses econômicos neste
trafego abjeto), iniciou-se a escravidão com os primeiros escravos adquiridos aos mercadores
árabes.
Logo após a chegada das primeiras embarcações de escravos, e constatando o alto
preço que os mesmos alcançavam no mercado, essa mesma companhia tratou de estabelecer
bases em todo território africano, procurando negociar diretamente com os chefes de tribos e
reis africanos para a troca de mercadorias européias, tais como: contas, miçangas, artigos de
couro trabalhados, armas, etc... pelos inimigos e escravos do rei local.
Esclareça-se que a escravidão já era conhecida há milênios na África, todavia, a forma
de escravidão era mais branda. Por exemplo, uma pessoa que devesse uma determinada soma
em dinheiro a outra pessoa e não podia pagar, tornava-se escravo de seu credor, sendo que
este tinha o dever de alimentá-lo, vesti-lo e medicá-lo, até que o devedor pudesse, através de
seu trabalho, quitar suas dívidas. Não raro, um escravo chegava até mesmo a fazer parte da
família, se casando com familiares de seu proprietário, ou então, ganhando, em serviços
extraordinários, o suficiente para que um dia pudesse comprar sua liberdade. O escravo
principalmente no Norte da África, tinha deveres, mas a lei lhe reservava direitos. Todavia, a
escravidão do negro nas Américas, não obedecia a esses mesmos critérios, o escravo negro
aqui só tinha deveres. Não lhe concediam nenhum direito, e o pouco cuidado que recebiam
era única e exclusivamente para mantê-lo vivo e pronto para o trabalho.
Como a corte espanhola e a corte portuguesa estavam do outro lado do Oceano
Atlântico, e a estes só interessavam as riquezas que as colônias pudessem lhes enviar,
ninguém se preocupava com o que pudesse acontecer com o negro ou com o índio, que eram
obrigados a trabalhar de sol a sol para o branco, sob o látego do chicote à menor
demonstração de fraqueza ou cansaço. No campo, o negro produzia sua própria alimentação e
o lucro desmedido de seu patrão, o que fazia ainda com que, na Europa, a nobreza vivesse
coberta de ouro, na ociosidade, ocupando-se apenas de amenidades e perdendo-se em intrigas,
sempre tentando obter mais, não importando se isto custasse o sofrimento e o infortúnio de
muitos, e graças a esse escravo infeliz, a Europa ganhava, principalmente no campo religioso,
as maiores obras de arte, as mais suntuosas catedrais. O dinheiro "corria" fácil, e o maior dos
absurdos, a própria Igreja possuía escravos e os explorava, sempre falando em Deus, sempre
impondo ao negro as suas crenças, seus hábitos e costumes.
A insensatez e a ganância eram tanta, que muitos proprietários de escravos, embora
casados com mulheres de sua própria raça, escolhiam entre as escravas mais novas e mais
bonitas, as que seriam suas amantes, o que não queria dizer que essas mesmas escravas teriam
algum direito por isso. Teriam que trabalhar como escravas que eram durante o dia, e a noite,
em vez de descansarem, deveriam submeter-se aos caprichos de seus patrões. Entre esses,
havia aqueles que se gabavam de não permitir que nenhuma de suas escravas passassem dos
dez ou doze anos em estado de virgindade, riam-se e troçavam uns dos outros, todos querendo
provar que haviam conseguido possuir e desvirginar o maior número de negras. Naturalmente
que desses contatos nasciam muitos mestiços, filhos da negra escrava e de seu senhor branco;
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mulatos esses, que, apesar de serem filhos do patrão nada mais eram do que escravos também,
e que, geralmente, eram vendidos a outros escravagistas, mal atingindo a idade de serem
comercializados.
Ao contrário do que contam os romances da época, eram raros, muito raros, os casos
de reconhecimento paterno desses mestiços que tinham um destino pior ainda que o dos
negros, pois não eram pacificamente bem recebidos, nem por brancos e nem por negros, se
bem que mais tarde passavam a ser confundidos com a comunidade negra, tão grande tornou-
se seu número. O fruto desse cruzamento racial haveria de dar mais tarde ao Brasil, alguns de
seus homens mais ilustres e inteligentes. De índole pacífica, o negro adaptou-se relativamente
fácil à escravidão, apesar de tudo, seu desejo de liberdade era inato, e logo seus líderes se
deram conta de que só se unindo conseguiriam vencer o branco, e como o escravo participava
de tudo da vida do branco, logo tomaram conhecimento de seus costumes e da forma de
administrar e fazer submeter (tanto os escravos como os próprios brancos pobres, que também
não tinham muitos direitos, mas tinham mais oportunidades que os negros).
Quando um senhor de engenho precisava aumentar seu contingente de escravos,
procurava sempre comprar um negro que não pertencesse à mesma nação, ou a mesma tribo,
ou ainda, a mesma família daqueles que já possuía. O ideal era ter escravos o mais diferentes
possível, pois isto dificultava uma rebelião. Quanto mais diferentes fossem seus escravos,
maior a possibilidade de que eles não se uniriam, ou ainda, maior seria a possibilidade de que
as rivalidades entre as diferentes raças aparecessem, fazendo com que houvesse denúncias que
impediriam fugas ou rebeliões dos negros. Quando uma família de escravos aumentava, os
filhos eram vendidos para senzalas distantes. Não raro, os casais eram separados após gerarem
um ou dois filhos, para que laços familiares mais profundos não se estabelecessem. Um negro
forte para o trabalho, principalmente os de índole pacífica, poderia ser escolhido para ser o
reprodutor do grupo, tendo que "acasalar" com qualquer escrava que seu senhor lhe indicasse,
independente de haver qualquer sentimento entre eles, mas sim, única e exclusivamente, para
reproduzir escravos valiosos, a exemplo de um zootecnista que procura um animal mais
adequado as suas necessidades.
Uma das poucas atividades em que o índio se adaptou bem no contato com os brancos
foi no pastoreio do gado bovino, pois o gado criado em invernadas se espalhava por onde a
relva fosse mais atraente, e como homem das selvas, o índio acompanhava sem nenhuma
dificuldade, acampando onde o gado parasse para pernoitar, e vivendo dentro de seus padrões
de comportamento natural, junto à natureza. Mas, cedo também, passou a nutrir pelo branco a
natural hostilidade de quem é esbulhado e aviltado, nascendo disso uma amizade natural com
o negro. A presença de estrangeiros brancos, como os ingleses, holandeses e etc, forçando
situações, e buscando apoio hora do negro, prometendo-lhe liberdade; hora de determinados
grupos de índios, explorando-lhes as naturais rivalidades, fizeram com que o negro e o índio
se aproximassem, cada vez mais, pois ambos igualavam-se nas suas misérias e infelicidades.
Mas logo, os negros se dariam conta de que só tinham em comum a cor da pele e o
fato de serem escravos. Logo perceberam que o branco os explorava e se beneficiava de suas
naturais rivalidades, do fato de falarem línguas diferentes, e então suas lideranças passaram a
buscar o único meio de fazer com que houvesse uma ligação mais profunda entre eles, algo
que os impedissem de se perseguirem mutuamente em benefício do branco, e então
constataram que excetuando-se os mandingas (que eram muçulmanos), quase todos os demais
ainda traziam muito fundas suas crenças nos ORIXÁS, que o culto às forças da natureza,
ainda estava profundamente enraizado em seus corações, e que o caminho para a sonhada
liberdade deveria começar por aí. A partir desse momento, quando o Sol se punha e a maioria
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dos negros e de seus senhores dormiam, essas mesmas lideranças procuravam por aqueles que
sabiam serem capazes de aprender o culto aos ORIXÁS e os conduziam aos diferentes reinos
da natureza, onde dariam suas obrigações.
Mais do que uma religião, a crença em DEUS e nos ORIXÁS era, também, uma forma
de garantir o apoio total de todos os negros. Estes sabiam muito bem que nunca haveria
liberdade sem luta e, se os brancos se reuniam em sociedades secretas para se defenderem
deles mesmos, eles também deveriam organizar suas próprias formas de sociedade, em que
valores africanos se destacassem e que todos trabalhassem no mesmo objetivo: a
LIBERDADE e o RETORNO à África, onde seriam homens novamente, e não animais de
carga.
Na calada da noite, o negro deixava a senzala e em sua companhia seguiam os
iniciados. Eram-lhes ensinadas as práticas e os mistérios dos ORIXÁS, e no dia seguinte, para
que não houvesse suspeitas do que ocorrera, o iniciado era obrigado a aparecer na igreja
assistindo a missa, e quando houvesse cumprido com todos os preceitos e fosse raspado
ritualmente, se lhe perguntassem fora do círculo dos negros porque estava raspado, dizia:
"Pioio sinhô!" – para justificar-se.
Nasciam dessa forma, as raízes de um culto que não seria exatamente aquele que eles
praticavam na pátria distante, mas sim que ganharia elementos culturais das diferentes nações
africanas, somando-se com uma pitada dos hábitos cristãos que lhes eram impostos. Ao lado
desse movimento e com infiltrações de elementos brancos que se solidarizavam com os
negros, bem como de determinados sacerdotes católicos que também se solidarizavam com
eles (nem todos os padres católicos eram favoráveis à escravidão), surgiram também as
chamadas confrarias dos homens de cor, que lutaram para comprar a liberdade dos principais
líderes, para que estes pudessem, uma vez livres, melhor defender e preparar a luta pela
liberdade de todos. Às vezes, alguma informação escapava e vários escravos eram mortos
pelo branco, o que, longe de intimidar, só servia para acender ainda mais no coração dos
escravos, a forte chama da tão almejada liberdade. Este primeiro elo cultural religioso tomou
o nome de "CANDOMBLÉ", derivado da expressão africana "KANDOMBE".
Com o advento da Lei Áurea e a libertação dos escravos, como estes não dispunham
de recursos para retornarem a Mãe África, o negro veria que a liberdade ainda não era total e
que o branco, apesar de tudo, ainda os explorava de todas as formas. Assim, tentando
melhores oportunidades, buscaram nas cidades as garantias que lhes faltavam no campo,
principalmente nas grandes cidades de então, como Salvador na Bahia, e São Sebastião no
Rio de Janeiro, onde passaram a se reunir em torno dos candomblés, constituindo-se em
verdadeiras famílias.
Com a incorporação de PAI ANTONIO, no Sr. Zélio, e da popularização do
espiritismo kardecista, iniciou-se um novo culto, que também teve um nome africano,
derivado do dialeto bundo, que se chamou UMBANDA, resultando que nesse novo culto, a
influência primeira do negro se deu, mais pela presença do espírito do preto velho
incorporado, do que pela presença física do negro, embora, posteriormente, esta também se
fizesse notar, principalmente pelas alterações introduzidas no rito e na denominação dada aos
santos católicos, que confundiam-se com os ORIXÁS africanos.
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De tudo aquilo que já foi dito sobre a Umbanda, com certeza o que mais celeuma tem
causado, são as inúmeras linhas, ou mais propriamente, pseudo-linhas de Umbanda, que
normalmente encontramos nos diferentes Terreiros.
Como parte de nosso curso, costumamos pedir a cada aluno que nos cite uma das
chamadas Linhas de Umbanda, e esta experiência já nos proporcionou os mais diferentes
resultados. Como por exemplo: em um grupo de 48 alunos, foram indicadas nada menos que
63 Linhas de Umbanda.
Mas como? Dirão os que lêem. E nós explicamos:
Erroneamente costuma-se chamar de Linha de Umbanda, toda e qualquer manifestação
espiritual. Assim, ha quem entenda por Linha de Umbanda, os espíritos que em vida
pertenceram a determinadas categorias profissionais. Exemplo: Linha de Boiadeiros, Linha de
Pescadores, Linha de Marinheiros, etc... Outros, entendem que aqueles que em vida nasceram
ou viveram em determinadas regiões ou estados do Brasil. Como por exemplo: Linha de
Baianos, Linha de Mineiros. E de regiões africanas: Linha de Congo, Linha de Mina, Linha de
Luanda, Linha de Aruanda, etc...
Existem ainda os que consideram as mil e uma subdivisões existentes numa mesma
linha, como sendo também uma Linha de Umbanda. Exemplo: dentro da chamada Linha de
Oxosse, Orixá das Matas, existiriam entre outras, as seguintes: Linha de Pena Branca, Linha
da Jurema, Linha de Sete Flechas, etc...
ENTÃO, ALGUMA COISA ESTA ERRADA!
Naturalmente que está. Na realidade, as Linhas de Umbanda são apenas "SETE", e não
comportam um universo quadrado com subdivisões exatas de sete em sete, como pretendem
alguns autores, que esquecendo (ou mais própriamente desconhecendo) o papel
importantíssimo desempenhado por Papai Zélio de Moraes, e pelo seu guia espiritual, o
Caboclo das Sete Encruzilhadas, perdem-se em meio a um mundo de desinformação, quando
a verdade esta clara como a água, bastando para tanto, um estudo desapaixonado, um estudo
histórico sobre as raízes da Umbanda. Como culto de Terreiro, veremos então, que existe uma
lógica impressionante, um crescendo notável, que envolvendo os diferentes aspectos da
existência humana, vai do nascimento a morte; do romper da aurora ao por do Sol.
A Tenda de Umbanda Nossa Senhora da Piedade tornou-se muito conhecida como
local de curas milagrosas e fatos excepcionais e, quanto mais esses fatos se repetiam, maior
era o número de adeptos.
Assim, por inspiração do Caboclo das Sete Encruzilhadas, os Médiuns mais capazes
foram sendo preparados para a importante missão de levar adiante o trabalho pioneiro de
Papai Zélio de Moraes, que incentivando os novos Médiuns, chegou mesmo a financiar
contratos de alugueis, e ser ele próprio, fiador em muitos casos, dos imóveis onde seriam
instaladas novas Tendas, até que estes tivessem condições de se manter com a contribuição
dos seus próprios Médiuns. Assim foram surgindo pela ordem:
01º) Tenda do Senhor do Bonfim;
02º) Tenda de Umbanda Santa Bárbara;
03º) Tenda de Umbanda São Cosme e São Damião;
04º) Tenda de Umbanda Nossa Senhora da Conceição;
05º) Tenda de Umbanda Nossa Senhora da Glória;
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06º) Tenda Nossa Senhora dos Navegantes, pois dois de seus Médiuns já
preparados eram filhos de Iemanjá, Orixá cujo culto até então, era praticamente
desconhecido. A expressão era utilizada exclusivamente pelos negros e nem
sempre da mesma forma;
07º) Tenda de Umbanda São Sebastião;
08º) Tenda de Umbanda São Jorge;
09º) Tenda de Umbanda São Gerônimo, esta era dirigida pelo conhecido Capitão
Pessoa, que chegou a ser apontado como iniciador do movimento umbandista,
ou seja, como fundador da Umbanda. Na verdade, o Capitão Pessoa era um
seguidor do Papai Zélio de Moraes, médium preparado pelo Caboclo das Sete
Encruzilhadas.
010º) Tenda de Umbanda Sant’Ana, e finalmente;
011º) Tenda de São Lázaro.
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Iemanjá, a Mãe Peixe. Lembra o período em que a vida é gerada no útero materno, e o próprio
e complexo ato da fecundação seguido do período de desenvolvimento do feto no meio
aquoso salino. Nossa Senhora da Conceição, a Mãe de Jesus, sincretiza-se com Oxum, o
Orixá da água e dos rios; e Iemanjá, sincretiza-se com Nossa Senhora dos Navegantes, o reino
das águas salgadas, chamam-na ainda de Mãe da Vida, o que hoje é cientificamente
comprovado, pois realmente a vida na Terra teve como berço as águas do mar;
a cor VERDE - representando a Tenda de Umbanda São Sebastião. Representa
o elemento verde da natureza: as matas e o povo que nela habita, os chamados índios, e os
caboclos. Altruístas e ecologistas por natureza, a Linha dos Caboclos representa o elemento
jovem, o espírito idealista, são honestos e desinteressados;
a cor VERMELHO - é a linha constituída pelo chamado povo de Ogum, ou
de São Jorge, patrono da Força que garante a execução da lei. É a força aplicada a
manutenção da ordem. É constituída pelos espíritos de militares e soldados;
a cor MARROM - é a linha constituída pela força da justiça. Seu santo
católico é São Jerônimo, e o Orixá africano é Xangô. Significa a força que resolve as
pendências, dando a quem deve o que lhe é de direito. É a representação do homem em seu
pleno desenvolvimento físico e mental. Na Umbanda, Xangô comumente é representado pela
imagem de Moisés de Michelangelo, tendo ao lado o Leão submisso de São Jerônimo, que
significa a vitória da razão sobre a força. Esta imagem religiosa também é exclusiva da
Umbanda;
a cor VIOLETA - corresponde à Tenda de Umbanda de Sant’Ana, que
representa o elemento senil, o velho. Sincretiza-se com a Mãe de Maria, avó de Jesus. É o
período em que, consciente de toda a sua existência, mas já ocupando um corpo gasto, o
espírito está a espera pela libertação que virá com a morte;
a cor PRETA - corresponde a São Lázaro (aquele que biblicamente voltou do
mundo dos mortos), sicretiza-se com Abaluaiê ou Omulu. É a ausência da cor e da luz.
Prosseguindo nosso diálogo com o Papai Zélio de Moraes, estranhando que havia mais
de sete Linhas, ele esclarece que as cores branco e preto, não fazem parte das Sete Linhas,
pois o branco é a presença da luz, existe em todas elas, e o preto é, justamente, a ausência da
luz, está na falta dela.
Em seguida, fizemos alguns gráficos para melhor identificar as SETE LINHAS DA
UMBANDA, e entendê-las.
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AS CORES NA UMBANDA
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Provavelmente, a maior dificuldade que encontramos quando do início deste curso, foi
fazer com que os alunos compreendessem que não há dualidade de espírito, ou seja, uma
entidade espiritual só pode ser ela mesma, e nunca ser ela em determinado momento e, no
instante seguinte ser a mesma entidade sob aspecto ou vibração diferente.
Exemplo:
A figura conhecidíssima do espírito de um Preto Velho, será sempre, e
invariavelmente, a mesma; não pode ser Preto Velho agora e Exu logo em seguida. O espírito
de um Caboclo na Umbanda, ou de uma entidade qualquer na Mesa Branca, Bezerra de
Menezes por exemplo, será sempre o mesmo.
Em outras palavras: "Não existe a dualidade da alma", consequentemente, um espírito
não muda seu estado. Logo, quando uma entidade se apresenta ora como Caboclo, ora como
Preto Velho, ora como Exu, será com toda a certeza, apenas o último mencionado, buscando,
como espírito atrasado, merecer a atenção que não lhe é devida, e que sempre nós dedicamos
aos espíritos de luz.
É muito comum encontrarmos, quer na chamada Mesa Branca, quer nos diferentes
Templos de Umbanda, espíritos atrasados que ganham o nome de obsessores, ou de Exus que
procuram, seja qual for o tipo de trabalho que estivermos desenvolvendo, passar por entidades
mais elevadas, o que não deve causar nenhuma estranheza, pois que no mundo profano e até
no religioso, com frequência enorme, constatamos que aqueles que mais desejam atrair sobre
si a atenção dos demais, quer através de roupas extravagantes, quer através de atitudes, são na
maioria das vezes, os menos capazes, os menos aptos. Os espíritos realmente esclarecidos não
necessitam lançar mão destes meios para serem reconhecidos. Incide sempre em erro de
identificação, aquele que afirma que determinado espírito de Luz "veio na esquerda", ou
"trabalha na esquerda". Ou ainda, "também é de esquerda", resumindo toda e qualquer forma
de dizer que um mesmo espírito possa ser alternadamente “bom” ou “mau”.
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- “Exu”, e é preciso às vezes, muita paciência para que adiantem algo mais, se
forçados, geralmente escolhem um nome pelo qual desejam ser conhecidos pelo grupo, e que
pode ser completamente diferente em outro grupo. Traiçoeiros e ladinos enganam às vezes, as
pessoas de forma tal que passam por verdadeiros deuses. Creio mesmo que não seria nenhum
exagero afirmar que Médiuns e Chefes de Terreiros mal preparados, chegam a transformar
seus Templos em Templos de Diabologia, e a si próprios, em seguidores sectários desses
mesmos pobres diabos.
Os que esperam um mundo de conquistas terrenas e que, para isso chegam a tornar-se
totalmente dependentes desses a quem chamamos Exus. Somente muito tarde perceberão que
longe de terem se aproveitado desses espíritos, foram aproveitados, longe de haverem sido
senhores, foram escravos.
Papai Zélio de Moraes, o eleito por Deus para nos trazer a Sagrada Lei da Umbanda,
ensinava:
- “Com os espíritos de Luz, devemos aprender, àqueles que carecem dessa mesma
Luz, devemos ensinar, e a nenhum devemos negar uma oportunidade de se comunicar”.
Como Médiuns, somos apenas o “cavalo”, o “aparelho” de que eles se servem para as
suas comunicações, nós não somos eles.
Não seria mais lógico então, negarmos a incorporação a esses espíritos sem luz?
Negar a possibilidade de incorporação a qualquer espécie de espírito que tenta se
comunicar, é contrariar a própria razão da existência da Umbanda. Lembremo-nos das
palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas, quando de sua primeira manifestação:
- “Amanhã, na casa em que meu aparelho mora, haverá uma mesa posta a toda e
qualquer entidade que queira manifestar-se, independentemente do que haja sido em vida”.
Qualquer atitude que tomarmos para impedir a presença de qualquer forma de espírito
em nossas reuniões, é sempre uma forma preconceituosa de proceder e, naturalmente
contrária aos ensinamentos do Papai Zélio de Morais. Os espíritos sem luz não devem ser
imitados, ridicularizados, ou idolatrados, eles devem ser compreendidos e esclarecidos. A
doutrinação não é privilégio de uma determinada forma de espiritualismo, mas dever de todas
as doutrinas espiritualistas. O Médium que nega oportunidade a um espírito que deseja se
comunicar por medo de se contaminar, ou por escrúpulos morais, esta procedendo como
aquele policial que se recusa a patrulhar determinadas partes da cidade porque lá existem
bandidos e malfeitores, mas não é justamente para proteger a sociedade que existem esses
policiais?
Não são os trabalhos com os Exus que tornam o Médium melhor ou pior, mas sim a
própria intenção do Médium de promover o Bem ou o Mal, e que se limita a concordar com
tudo o que a entidade diz ou exige, não está, de forma alguma, ajudando o espírito sem Luz, e
muito menos exercendo a chefia honesta de um Templo, mas sim transformando-se em mero
executor das ordens emanadas de um LOUCO, sem capacidade de discernimento, e com
tendências essencialmente malignas. Quantos são os infelizes que cegos pela vaidade da
importância de um momento, não transformam-se de Chefes de Terreiros, em "Garçons de
Exu"?
Nesta etapa do curso, não acrescentaremos mais nada sobre esta matéria, que só
voltará a ser abordada no final deste curso, quando veremos todos os aspectos da magia
branca e negra, e o estudo comparativo da Umbanda e Quimbanda. Como ultima informação,
apenas esclareceremos que a tão decantada Pomba Gira, nada mais é do que a figura de um
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Exu Feminino e, não significa obrigatoriamente a figura de uma decaída, podendo até mesmo
ter sido em vida, uma religiosa de qualquer credo, e até não haver conhecido o sexo, tendo
feito sua passagem ainda virgem (não há maldade no sexo lícito, essa maneira de ver pecado
no relacionamento sexual é uma grande tolice, um pensamento imposto pela igreja tradicional
com raízes medievais), quem teve a oportunidade de trabalhar ao lado de uma irmã de
caridade, em um dos muitos hospitais do Brasil, sabe a que me refiro, ou mesmo, aquele que
ficou da dependência de uma azeda solteirona, chefe ou funcionária pública com um cargo
importante, aparentemente eficiente que prima tornar a vida de seus subordinados um
verdadeiro inferno, implicando por tudo e por nada. Enfim, a personalidade da maldade.
Essas criaturas geralmente não chegam a conhecer a intimidade de um relacionamento
carnal, e provavelmente até por isso, transformam-se em verdadeiros cactos humanos,
cercam-se de espinhos numa verdadeira barreira a qualquer contato ou tentativa de
aproximação a criaturas do sexo oposto, descarregando as frustrações nos que se encontram
mais perto, geralmente humildes servidores, familiares, etc... Muitas são de assistir missas,
cultos evangélicos, e até mesmo sessões espíritas de Umbanda ou não, o que não as
transformam, infelizmente, em seres melhores. A maldade e não apenas a sexualidade, é o que
transforma o Exu Feminino em Pomba Gira.
Nossa sociedade preconceituosa, por achar que toda prostituta é má, costuma rotulá-
las como Pomba Giras, perdidas e mulheres de vida fácil, esquecendo-se que elas nasceram
como quaisquer outras crianças, NÃO NASCERAM PROSTITUTAS, e que na grande
maioria das vezes, foram conduzidas a essa situação por fatores adversos à sua vontade, não
poucas, exploradas pela própria família.
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