Biologia Celular I - Vol 1
Biologia Celular I - Vol 1
Biologia Celular I - Vol 1
Apoio:
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Rua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001
Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725
Presidente
Masako Oya Masuda
Vice-presidente
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Material Didático
ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO Departamento de Produção
Márcia Attias
Narcisa Cunha e Silva EDITORA COORDENAÇÃO DE
Tereza Queiroz ILUSTRAÇÃO
COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO Eduardo Bordoni
INSTRUCIONAL COORDENAÇÃO EDITORIAL
Cristine Costa Barreto Jane Castellani ILUSTRAÇÃO
Equipe CEDERJ
DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL E REVISÃO TIPOGRÁFICA
REVISÃO Carmen Irene Correia de CAPA
Alexandre Rodrigues Alves Oliveira David Amiel
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REVISÃO TÉCNICA Andréa Dias Fiães
Ana Tereza de Andrade Vera Lopes
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eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Fundação.
A885b
Attias, Márcia
Biologia Celular I. v.1. 4.ed / Márcia Attias.-
Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010.
166p.; 19 x 26,5 cm.
ISBN: 85-7648-148-0
1. Membrana celular. 2. Microscopia óptica. 3.
Criofratura.
4. Cultura celular. I. Silva, Narcisa Cunha e. II. Título.
Governador
Sérgio Cabral Filho
Universidades Consorciadas
UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO
NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO RIO DE JANEIRO
Reitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho Reitor: Aloísio Teixeira
SUMÁRIO Módulo 1
Aula 1 – Microscopia óptica ___________________________________ 7
Márcia Attias / Narcisa Cunha e Silva
Módulo 2
Aula 7 – Estrutura da membrana plasmática ____________________ 87
Márcia Attias / Narcisa Cunha e Silva
a b
Figura 1.1: (a) Insetos como o mosquito Aedes são visíveis a olho nu, mas para vermos
detalhes como o olho composto (b), necessitamos utilizar equipamentos especiais
(Fotos: Márcia Attias).
HISTÓRICO
8 CEDERJ
1 MÓDULO 1
AULA
Figura 1.2: (a) Microscópio seme-
lhante ao usado por Hooke.
As partes componentes são análo-
gas às dos microscópios usados
hoje em dia. (b) Reprodução de
um desenho feito por Hooke a
partir da observação de lâminas de
cortiça ao microscópio construído
por ele. Cada um dos espaços
foi por ele chamado de célula.
a b
O inglês Robert Hooke foi, em pleno século XVII, o que hoje chamamos de “homem
dos sete instrumentos”, atuando com contribuições relevantes nos campos da
Física, Astronomia, Química, Biologia, Geologia, Arquitetura e Tecnologia Naval.
Foi colaborador de cientistas como Isaac Newton, seu grande rival da época, e
Robert Boyle, a quem auxiliou na determinação das leis dos gases. Correspondeu-
se com Antony van Leeuwenhoek confirmando suas observações ao microscópio.
Entre outras criações, inventou ou melhorou instrumentos como o barômetro
e o anemômetro e um mecanismo que tornou os relógios mais precisos.
A Lei de Hooke, equação que descreve a elasticidade, é empregada até hoje. Suas
contribuições nos campos da Biologia e Paleontologia não foram menos importantes.
A reputação de Hooke na história da Biologia se deve em grande parte a sua obra
Micrographia, publicada em 1665. Hooke desenvolveu o microscópio composto
e o sistema de iluminação mostrados na Figura 1.2.a, utilizando-o para descrever
detalhadamente uma grande variedade de organismos como insetos, esponjas, penas
e aquela que parece ser sua maior contribuição, finas lâminas de cortiça (Figura 1.2.b).
Em desenhos detalhados, Hooke descreveu a estrutura como pequenos poros, semelhantes a
favos de mel, dando-lhes o nome de células (= pequenas celas, alojamentos dos monges nos
conventos). Embora as estruturas observadas correspondessem apenas às paredes celulares
de células vegetais já mortas, o nome prevaleceu e dele derivaram os termos Citologia e,
mais modernamente, a Biologia Celular. Sua obra permanece até hoje, embora não exista
nenhum registro de sua própria aparência.
Lente
Figura 1.3: Um dos microscópios
montados por Leeuwenhoek.
CEDERJ 9
Biologia Celular I | Microscopia óptica
Lente ocular
Foco macrométrico
Foco micrométrico
Figura 1.4: Principais compo-
nentes de um microscópio Objetiva
óptico simples. Platina
Lente condensadora
Fonte de iluminação
10 CEDERJ
MÓDULO 1
1
AULA
Figura 1.5: Esquema da formação da imagem em um microscópio óptico simples.
O LIMITE DE RESOLUÇÃO
CEDERJ 11
Biologia Celular I | Microscopia óptica
O limite de resolução
O ponto-chave da Microscopia, seja ela óptica ou eletrônica, é o limite de resolução de
um microscópio. Este conceito é bastante simples: trata-se da menor distância entre dois
pontos em que eles podem ser vistos como objetos distintos.
Os objetos A e B estão a uma distância que nos permite separá-los como distintos, mas se
eles estiverem muito próximos, não podem ser nitidamente separados, ou seja, o poder de
resolução dos nossos olhos não é suficiente para determinar os limites de cada objeto.
A B
Esse conceito é universalmente expresso na seguinte fórmula: d = 0,61λ
α
em que:
d= limite de resolução.
λ = comprimento de onda da radiação utilizada; no caso do feixe luminoso do microscópio
óptico, 550nm.
α= n.sen θ, onde n é o índice de refração do meio (ar/água) e q é metade do ângulo
formado pelo cone de luz que entra na objetiva (Figura 1.6).
Lente objetiva
Cone de luz
Figura 1.6
Feitas as contas, d= 0,2µm no microscópio óptico e, como você deve saber, 1µm = 10-6m.
12 CEDERJ
MÓDULO 1
Na próxima aula, você verá que esse limite foi novamente
1
As células e as
AULA
ultrapassado com a construção de microscópios eletrônicos, capazes estruturas que
as compõem são
de resolver (distinguir) objetos de até 0,2nm. Caso você não esteja muito pequenas
familiarizado com estas UNIDADES DE MEDIDA, consulte a Figura 1.7. para serem medidas
em centímetros ou
A Figura 1.7 é uma escala relativa das dimensões de células milímetros, como
os objetos do nosso
e estruturas subcelulares, assim como do alcance dos instrumentos cotidiano. Portanto,
(microscópios) utilizados na sua descrição e estudo. para elas usamos as
UNIDADES DE MEDIDA
dos micrômetros
(símbolo µm)
e nanômetros
(símbolo nm).
O micrômetro vale 1
milésimo do milímetro
e o nanômetro
vale 1 milésimo do
micrômetro.
1m= 103mm
ou 106mm
ou 109nm
Observação: 103 é a
maneira simplificada
com que os
Figura 1.7: Escala comparada do limite de resolução da microscopia óptica matemáticos escrevem
e da eletrônica e os objetos que cada uma pode discriminar. as potências de 10,
isto é, igual a 1.000;
da mesma forma 106 é
1.000.000, e assim
por diante.
Se você ainda não está convencido de que a resolução não depende
só das lentes, fique sabendo que Antony van Leeuwenhoek já observara
bactérias no século XVII, quando a tecnologia para construção de lentes
e microscópios era muito inferior à de nossos dias, mas as propriedades
físicas da propagação da luz eram as mesmas.
Caso você esteja considerando ampliar indefinidamente uma
imagem observada ao microscópio óptico até conseguir enxergar a
estrutura da membrana celular, por exemplo, podemos adiantar que
isso será tão eficaz quanto ampliar uma foto 3x4 para contar quantos
cílios há na pálpebra superior esquerda da pessoa.
Concluindo: aumento e resolução são coisas distintas, e o
aumento que não traz informações adicionais sobre a amostra
é chamado aumento vazio.
Por que será que isso acontece? Tudo é conseqüência da luz.
CEDERJ 13
Biologia Celular I | Microscopia óptica
!
Dê uma paradinha!
Imagine-se andando de bicicleta numa ciclovia. Você segue em linha reta à velocidade da
luz. Você é um raio de luz! Pedrinhas, formigas e outros pequenos objetos não impedem
que você continue deslizando suavemente, sem interferências.
Já uma chapinha de refrigerante ou um pedregulho podem fazer sua bicicleta se desviar
do trajeto e, no caso de obstáculos maiores, podem impedir sua passagem. Assim se
comporta a luz ao atravessar as amostras observadas ao microscópio óptico. Agora,
chega de passear: de volta ao estudo!
Por conta disso, foram sendo desenvolvidas ao longo dos anos tanto
novas técnicas de preparo das amostras (vide boxe), que lhes conferissem
maior resistência e contraste, quanto novas tecnologias na construção de
microscópios que permitissem a observação de células vivas.
14 CEDERJ
MÓDULO 1
1
O preparo de amostras para o microscópio óptico de campo claro
AULA
Para que possam ser guardadas por muito tempo, as amostras de células e tecidos precisam em
geral de um tratamento químico que garanta sua preservação. Esse tratamento inclui várias
etapas.
1. Fixação: é o tratamento da amostra com substâncias químicas, como o formol, que preservam
sua forma original.
2. Desidratação: é a substituição da água presente dentro e fora das células por um solvente
orgânico, como o etanol ou metanol. Esse solvente tanto pode ser removido deixando a lâmina
secar quanto pode ser substituído por parafina ou outra resina que torne o tecido rígido,
permitindo que seja fatiado.
3. Microtomia: tecidos como fígado ou músculo são muito espessos e precisam ser cortados em
fatias mais finas, que permitam a passagem parcial da luz. Uma vez embebidos em parafina,
deixa-se solidificar, e o tecido pode ser cortado (fatiado).
4. Coloração: como a maioria das células e seus componentes não são naturalmente coloridos, uma
série de corantes foi testada e, devido a sua afinidade química por determinados componentes
celulares, são empregados, ajudando na identificação dos diferentes compartimentos celulares.
O azul de metileno é um desses corantes.
Mais detalhes sobre as técnicas de preparo de amostras para microscopia óptica, você terá em
outra disciplina.
Lente ocular
Foco macrométrico
Foco micrométrico
Objetiva c
Platina
Condensador
Fonte de iluminação Figura 1.9: Em (a), microscópio óptico de campo claro. Em (b),
hemócito (célula do sangue) de um molusco corado. Em (c), células
a que revestem a mucosa bucal observadas sem nenhum tipo de
corante. Que estruturas você reconhece? (Fotos b: Marco Antonio
V. Santos, c: Raul D. Machado).
CEDERJ 15
Biologia Celular I | Microscopia óptica
a b
Figura 1.10: A luz, ao interagir com um sólido (= célula), tem sua trajetória atrasada, criando um contraste em
relação à luz que não encontrou nenhum obstáculo (a) (esquema à esquerda). Esse é o princípio do microscópio
de contraste de fase. À direita (b), você vê as mesmas células epiteliais (retiradas da mucosa bucal) já observadas
em campo claro tal como aparecem nesse microscópio. Há um halo em torno da célula e de algumas de suas
estruturas internas.
16 CEDERJ
MÓDULO 1
4. Microscópio de fluorescência: utiliza uma fonte de luz ultravioleta
1
AULA
e requer o uso de corantes fluorescentes (você verá mais detalhes na Aula
6) que se ligam a componentes específicos das células. Esses corantes
são capazes de absorver luz de um determinado comprimento de onda
(ultravioleta, por exemplo) e emitir num outro, dentro do espectro visível
(Figura 1.12). Em algumas situações, as células podem ser observadas
vivas; em outras, não.
O mais comum é que um modelo possa ter seus jogos de lentes
e fontes de luz alternados (intercambiados) para que se possa observar
amostras pelos três métodos.
5. Microscópio confocal de varredura a laser: a conjugação da
ciência da computação aos microscópios de fluorescência trouxe uma
nova dimensão à microscopia óptica.
O microscópio confocal possui, além de uma fonte de luz visível,
uma fonte de luz ultravioleta e uma fonte de raio laser. O feixe de laser
incide sobre a amostra; um sistema de filtros e aberturas especiais captura
sucessivamente a fluorescência emitida de vários planos focais.
Este conjunto de imagens é capturado digitalmente, e imagens como
as da Figura 1.13.b em que você pode ver a distribuição de microtúbulos
em uma célula são geradas em programas específicos de computador.
a b
CEDERJ 17
Biologia Celular I | Microscopia óptica
18 CEDERJ
MÓDULO 1
1
RESUMO
AULA
Os microscópios ópticos começaram a ser construídos no século XVII, e com
eles foram observadas e batizadas as primeiras células. O aperfeiçoamento na
construção de lentes, filtros e sistemas de iluminação deu origem a uma grande
variedade de microscópios ópticos. Além dos de campo claro, que requerem que
o material seja corado, existem microscópios de contraste de fase e de contraste
interferencial, onde as células podem ser observadas vivas e sem coloração
especial. Os microscópios de fluorescência permitem ver estruturas normalmente
muito finas para serem observadas com os comprimentos de onda da luz visível.
O microscópio confocal a laser inaugurou uma nova era na microscopia óptica,
mas a observação da maior parte das estruturas que compõem a célula só é
possível com um instrumento de maior poder de resolução: o microscópio
eletrônico, tema da próxima aula.
EXERCÍCIOS
3. Compare o microscópio de Hooke (Figura 1.2) com o modelo atual (Figura 1.4),
identificando as partes análogas.
• fonte de luz;
• lente condensadora;
• espessura da amostra;
• contraste da amostra.
CEDERJ 19
Biologia Celular I | Microscopia óptica
5. Em que tipo(s) de sistema óptico podemos observar células vivas e sem a adição
de corantes?
5µm =………...nm
0,5mm= …….. µm
100µm = ……..nm
1000µm= …….mm
60nm=……..….µm
11. Uma célula foi fotografada com 2000x de aumento no microscópio óptico. Uma
estrutura que tenha na realidade 2µm aparecerá com que comprimento na foto?
12. Procure determinar em que tipo de microscópio óptico foram obtidas as imagens
que estão na última página deste livro. Se conseguir identificar as amostras, melhor
ainda; caso contrário, consulte o gabarito desta aula no final do livro.
20 CEDERJ
2
AULA
Princípios de funcionamento
dos microscópios eletrônicos
HISTÓRICO
O século XX conheceu uma verdadeira "febre" a partir da
descoberta dos elétrons, feita por Thompson, em 1897. Tanto os cálculos
feitos pelos físicos teóricos, quanto os experimentos feitos nos "tubos de
raios catódicos" vieram a provar a natureza ondulatória dos elétrons.
Esses pioneiros provavelmente não faziam a menor idéia aonde aquelas
observações iriam levar, mas o estudo do comportamento ondulatório dos
elétrons resultou tanto na invenção dos aparelhos de televisão quanto na
monitor
feixe de elétrons
espécime
22 CEDERJ
MÓDULO 1
Três séculos de microscopia óptica serviram para acelerar os
progressos na interpretação das imagens da microscopia eletrônica. Ao
2
!
microscópio óptico não é difícil determinar o formato geral da célula e a
AULA
Resposta:
localização do núcleo, mas não é muito fácil identificar estruturas dentro Porque são pequenas,
transparentes, de
da célula. Por quê? Veja a resposta ao lado.
forma e tamanho
Mesmo assim, grande parte das estruturas intracelulares, as organelas, variável
d= 0,61λ
α
lente condensadora
Figura 2.2: C o m p a r a ç ã o e n t r e
o m i c r o s c ó p i o óptico (1) e o espécime
microscópio eltrônico de transmissão
(2) mostrando a posição relativa e a
equivalência de seus componentes. lente objetiva
lente lente
ocular projetora
24 CEDERJ
MÓDULO 1
filamento
2
AULA
posição das
lentes magnéticas
local onde é
colocada a
amostra
Lupa
para observação
da imagem na tela
fluorescente
CEDERJ 25
Biologia Celular I | Princípios de funcionamento dos microscópios eletrônicos
espécime
elétrons barrados
abertura da objetiva
elétrons transmitidos
tela
fluorescente
26 CEDERJ
MÓDULO 1
No início era assim:
2
A micrografia ao lado foi obtida em 1945 com microscópio
AULA
de transmissão utilizando espécime biológico (um fibroblasto de
embrião de pinto). Repare que é uma célula inteira e que a imagem
lembra muito o que observamos em microscopia óptica.
Cortesia de www.rockfeller.edu/rucal/journey/journey.html
CEDERJ 27
Biologia Celular I | Princípios de funcionamento dos microscópios eletrônicos
28 CEDERJ
MÓDULO 1
2
AULA
planta animal
fragmento
de amostra
1ª fixação: pós-fixação: 25% 50% 75% 95% 100% 25% 50% 75% 95% 100%
glutaraldeído OsO4 desidratação: resina
acetona
centrifugação
células isoladas,
bactérias, etc.
polimerização ultramicrotomia
inclusão (a 60°C a resina endurece) (O tecido é cortado
em fatias ultrafinas)
CEDERJ 29
Biologia Celular I | Princípios de funcionamento dos microscópios eletrônicos
30 CEDERJ
MÓDULO 1
Como acabamos de comentar, o feixe de elétrons passeia sobre a
amostra, como o feixe de laser sobre o CD que você ouve. Assim
2
como de cada ponto do CD é extraído um sinal sonoro diferente (a
AULA
música!), cada ponto da amostra interage de modo diferente com
o feixe de elétrons e dessas diferenças são gerados pontos mais ou
menos brilhantes que formarão a imagem. Essa imagem é observada
num monitor de TV e pode ser registrada em fotografia ou num
computador. Veja também um modelo de microscópio eletrônico de
varredura na Figura 2.10.
Figura 2.8: Filamento aquecido (fonte de elétrons) do MET, apontar a lente objetiva do MEV.
foto: Márcia Attias
a b
Figura 2.9: Imagens de microscopia de varredura: A: Células na fase final da divisão. B: Detalhe da
região anterior do inseto Oncopeltus fasciatus. A sensação de profundidade e relevo são as
principais características dessa modalidade de microscopia eletrônica.
CEDERJ 31
Biologia Celular I | Princípios de funcionamento dos microscópios eletrônicos
32 CEDERJ
MÓDULO 1
2
AULA
4
CEDERJ 33
Biologia Celular I | Princípios de funcionamento dos microscópios eletrônicos
2
De acordo com a natureza dos átomos presentes na amostra, a
AULA
colisão com os elétrons do feixe gera raios-X e outras radiações que
podem ser captadas por detectores especiais, dando informações sobre
a composição química da amostra. Esses detectores são acessórios que
podem ser adaptados ao microscópio eletrônico de transmissão ou ao
microscópio eletrônico de varredura.
CEDERJ 35
Biologia Celular I | Princípios de funcionamento dos microscópios eletrônicos
RESUMO
Links de interesse:
http://www.mos.org/sln/SEM/works/slideshow/semmov.html
- animação sobre o funcionamento do MEV.
http://www.denniskunkel.com/ - imagens de microscopia óptica
e eletrônica artificialmente coloridas. Muito bonito!
http://www.molbio.princeton.edu/confocal/510image2/
Zeisslist2.html - Maravilhosas imagens de fluorescência obtidas em
microscópio de fluorescência confocal.
http://mgasun.bch.umontreal.ca/protists/gallery.html - imagens de
protistas em microscopia óptica de contraste interferencial e de fase. Links
para imagens desses mesmos organismos em microscopia eletrônica,
mostrando como vários métodos de observação deve ser conjugados na
análise de um organismo.
http://www.msa.microscopy.com/ProjectMicro/Books4.html
- coleção de CD-roms selecionados com comentários.
36 CEDERJ
MÓDULO 1
EXERCÍCIOS
2
AULA
1. Defina, em suas próprias palavras, o que é o poder de resolução.
CEDERJ 37
3
AULA
Criofratura
Figura 3.2: Cortes em série podem dar uma noção da forma tridimensional
de uma estrutura.
40 CEDERJ
MÓDULO 1
Figura 3.3: O “modelo do sanduíche”
da membrana era rígido e não expli-
3
cava os movimentos celulares e o
transporte através da membrana,
AULA
embora correspondesse à imagem
de microscopia eletrônica de trans-
missão de cortes ultrafinos.
Obs.: este “modelo do sanduíche” é
errado e você verá o modelo correto
na Aula 7 deste curso.
FUNDAMENTOS DA TÉCNICA
CEDERJ 41
Biologia Celular I | Criofratura
42 CEDERJ
MÓDULO 1
AS PARTÍCULAS INTRAMEMBRANOSAS CORRESPONDEM A
PROTEÍNAS DA MEMBRANA
3
AULA
Em 1966, foi possível demonstrar que quando a fratura expõe
a membrana plasmática, em geral são separados os dois folhetos que
compõem a bicamada lipídica, isto é, a fratura ocorre, preferencialmente,
no plano médio da membrana (Figura 3.6). Também ficou provado que
as partículas que apareciam nas réplicas correspondiam às proteínas
integrais da membrana. Como? Muito simples: foram feitas réplicas
de lipossomas (vesículas formadas apenas por bicamadas lipídicas) e
de membranas extraídas de hemácias, observou-se então que apenas as
últimas possuíam partículas, o que equivale a dizer que quando não havia
proteínas nas membranas, também não havia partículas nas réplicas. Essa
foi uma das evidências mais importantes para a sustentação do modelo
do mosaico fluido, proposto por Singer e Nicolson em 1972.
CEDERJ 43
Biologia Celular I | Criofratura
Figura 3.7: Esquema de uma hemácia sendo fraturada. Conforme o plano de fratura
pode ser exposta a face P, côncava, ou a face E, convexa.
Como não se pode prever onde a lâmina vai clivar a célula, por vezes
é exposto o citoplasma e as organelas (Figura 3.9), enquanto outras vezes
a clivagem ocorre ao longo da membrana, resultando em áreas recobertas
por partículas que podem ou não seguir um padrão (Figura 3.10).
44 CEDERJ
MÓDULO 1
3
AULA
Figura 3.10: Quando a fratura expõe
a superfície da célula, observamos
várias partículas intramembranosas,
que correspondem às proteínas da
membrana.
Nesta foto, as partículas intramembra-
nosas formam linhas paralelas entre
si (setas), mas isso não é comum nas
membranas celulares.
foto: Márcia Attias.
CONCLUSÃO
RESUMO
CEDERJ 45
Biologia Celular I | Criofratura
EXERCÍCIOS
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
46 CEDERJ
4
AULA
Cultura de células
objetivos
4
Se algumas células dessa cultura
AULA
primária forem transferidas
para novo meio de cultura e nele
crescerem, constituirão culturas
secundárias que poderão tornar-se
"imortais".
CEDERJ 49
Biologia Celular I | Cultura de células
50 CEDERJ
MÓDULO 1
Além das linhagens naturalmente transformadas, a transformação
pode ser induzida por métodos químicos ou infecções virais. Algumas
4
linhagens transformadas, se reintroduzidas em animais, podem induzir
AULA
tumores, assim como algumas linhagens estabelecidas tiveram origem
em tumores malignos.
As linhagens celulares tornaram possível obter uma grande
quantidade de células homogêneas para experimentos. Também podem
ser armazenadas por longos períodos em baixa temperatura, em nitrogênio
líquido, sendo descongeladas e recolocadas em cultivo quando necessário.
Existem verdadeiros “bancos” de células em diversos laboratórios.
A seguir, algumas das linhagens celulares mais usadas.
Linhagem Origem
CEDERJ 51
Biologia Celular I | Cultura de células
!
O que são linfócitos B?
São um tipo de glóbulo branco do sangue que
produz e secreta anticorpos que aderem aos
organismos invasores (bactérias, vírus etc.) .
Qualquer molécula ou organismo estranho é
denominado antígeno. Veja o esquema ao lado.
52 CEDERJ
MÓDULO 1
O QUE SÃO CÉLULAS-TRONCO?
4
Por definição, célula-tronco é uma célula capaz de se multiplicar
AULA
e se diferenciar em qualquer tipo celular. Por isso mesmo é chamada
pluripotente. Ao se dividir, uma célula pluripotente pode dar origem a
duas células iguais a ela ou, então, a uma célula ainda pluripotente e a
outra mais diferenciada, que é chamada multipotente, pois pode dividir-
se e diferenciar-se em vários tipos celulares dentro de uma categoria.
O que induz ou não essa diferenciação é a própria programação genética
da célula, além de fatores químicos presentes no meio extracelular.
Já é sabido que todas as células sangüíneas se diferenciam a partir de
um único tipo celular primordial (Figura 4.6).
Empregando as técnicas de cultura de células, os pesquisadores
estão procurando obter células-tronco e induzir in vitro sua diferenciação.
O domínio dessa tecnologia pode representar a cura para diversos tipos
de leucemia, pois as células que se tornam cancerosas são de um tipo
mais diferenciado. Além disso, será possível a fabricação de sangue a
partir de células-tronco do próprio paciente para utilização em cirurgias,
sem a necessidade de doadores.
Em projetos ainda mais ambiciosos, existe a perspectiva de
regenerar órgãos inteiros, como o fígado e o coração, que poderiam ser
utilizados em implantes, e até mesmo a possibilidade de recompor nervos
lesados e recuperar pessoas paraplégicas ou tetraplégicas. Como podemos
notar, embora as pesquisas ainda estejam começando, as possibilidades
são imensas.
!
A cultura de células já está entre nós.
Ao contrário do que você possa pensar, a cultura de células já faz parte do
nosso dia-a-dia. Quer ver?
1- Os chamados bebês de proveta resultam da fecundação in vitro de um
óvulo por um espermatozóide. Essa célula-ovo é mantida em condições
controladas de cultivo durante as primeiras divisões, quando então é
implantada no útero materno para prosseguir seu desenvolvimento.
2- No tratamento de queimados têm sido utilizados fibroblastos que, em
meio de cultura definido, são estimulados a se multiplicar e diferenciar-se
em células epiteliais. Essa pele artificial é usada em implantes na superfície
destruída pela queimadura.
CEDERJ 53
Biologia Celular I | Cultura de células
RESUMO
54 CEDERJ
MÓDULO 1
EXERCÍCIOS
4
AULA
1. Quais os requisitos básicos para manutenção de células em cultura?
5. O que é um hibridoma?
6. Da fusão de uma célula tumoral com uma célula secretora foram obtidos
heterocárions com as seguintes características:
CEDERJ 55
5
AULA
Métodos bioquímicos
para o estudo da célula
objetivos
I) FRACIONAMENTO CELULAR
HISTÓRICO
Nas primeiras décadas do século XX, já havia muita informação
sobre as reações químicas ligadas ao metabolismo celular. Nessa época
também os primeiros microscópios ópticos já tinham sido criados,
levando ao conhecimento de que uma célula não parecia ter só um núcleo
em seu interior, mas também outros componentes menores, cujo tamanho
estava quase fora da capacidade de observação daqueles microscópios.
A questão era como correlacionar esses conhecimentos anteriormente
acumulados usando diferentes abordagens.
Um bioquímico não era capaz de responder em que local da
célula se passava determinada reação enzimática que ele conseguia
medir no espectrofotômetro. Algumas vezes, era mesmo necessário
romper as células da preparação, fazendo um extrato para que certas
reações pudessem ocorrer in vitro e serem medidas. Isso mostrava que as
enzimas que se queriam medir nesse ensaio estavam confinadas em algum
compartimento intracelular, a que os reagentes adicionados externamente
não tinham acesso.
De modo recíproco, um morfologista não era capaz de responder
que etapas do metabolismo celular ocorriam nas várias partes da célula
que ele podia ver, especialmente ao se aproximar a metade do século, em
que os microscópios eletrônicos começavam a ser usados para observar
material biológico.
Nessa época, dois grupos trabalhavam intensamente para conhecer
melhor o conteúdo das células: o do Dr. Keith Porter, no Instituto
Rockefeller, em Nova York, Estados Unidos, e o grupo da Universidade
de Louvain, Bélgica, formado por Albert Claude, George Hogeboom e,
pouco depois, Christian De Duve.
O grupo do Dr. Porter estava criando, com sucesso, métodos
adequados ao preparo de material biológico para observação de
amostras biológicas ao microscópio eletrônico, métodos que, aliás, são
usados até hoje (veja Aula 2). A nova metodologia mostrou, no interior
de células eucarióticas, muitos compartimentos internos envolvidos por
membrana, muitos grânulos e muitos filamentos. O grupo da Bélgica
estava, desde meados da década de 30, realizando experimentos em que
células de fígado de rato eram rompidas e seu conteúdo assim liberado
era separado por centrifugação em várias frações, ditas subcelulares.
58 CEDERJ
MÓDULO 1
Depois de separada, cada fração era observada ao microscópio óptico
e ensaiada em várias características bioquímicas. Assim, em 1940, o
5
grupo belga publicou um trabalho muito importante em que descrevia
AULA
os primeiros resultados de fracionamento celular: as células do fígado
de rato rompidas podiam ser divididas em quatro frações. A fração
mais densa continha os núcleos; a próxima, em ordem decrescente de
densidade, era formada por grandes grânulos e consumia oxigênio
produzindo CO2; a seguinte era formada por pequenos grânulos e
hidrolisava proteínas em pH ácido; a menos densa continha proteínas
solúveis, sendo provavelmente o citoplasma.
Como correlacionar as frações descritas por Claude e colaboradores
com as observações de Porter ao microscópio eletrônico? A saída foi a
colaboração direta entre os dois grupos, dando um novo impulso ao
conhecimento do conteúdo celular e levando à descrição de várias organelas.
É importante destacar que o avanço espetacular da Biologia Celular nesse
período não foi só resultado do esforço de médicos, biólogos, químicos
e físicos. Houve importante colaboração de engenheiros e técnicos que
trabalhavam nas oficinas das universidades e dos institutos de pesquisa. A
ultracentrífuga e o ultramicrótomo, por exemplo, foram criados nas oficinas
do Instituto Rockefeller nesse período.
Preparando a amostra
CEDERJ 59
Biologia Celular I | Métodos bioquímicos para o estudo da célula
!
Atenção! Não confunda com o processo de coagulação! Faz parte do plasma
sangüíneo uma série de proteínas da coagulação: quando retiramos sangue
de um vaso, ou lesamos um vaso, forma-se uma rede protéica cujo principal
componente é a fibrina, que retém todas as células e deixa escapar o líquido. A
rede protéica contendo as células é chamada de coágulo e o líquido é chamado
de soro. Assim, a diferença entre plasma e soro é que o primeiro ainda contém
as proteínas da coagulação e o segundo não. Esse processo é fisiológico e pode
ser inibido in vitro por algumas substâncias como heparina e citrato de sódio,
entre outras. Quando retiramos sangue para exame, por exemplo, o processo
de coagulação é inibido para que, além do plasma, as células também possam
ser examinadas.
60 CEDERJ
MÓDULO 1
Se o tubo com sangue heparinizado for centrifugado, essa deposição
ocorrerá em poucos minutos, colocando as hemácias no fundo porque são
5
mais densas; sobre elas se forma uma fina camada esbranquiçada (buffy coat)
AULA
que contém os leucócitos e, no sobrenadante, o plasma sem células.
Que fique clara então a definição dos termos: precipitado é o
material que se depositou no fundo no tubo que foi centrifugado e
sobrenadante é o material que não se depositou. Na linguagem de
laboratório, nós nos referimos ao precipitado de uma centrifugação pelo
nome em inglês, pellet, talvez para não confundir com o precipitado
resultante de uma reação química. Esse método é bom para separar
as hemácias das outras células do sangue, porque a densidade dela é
muito diferente. Mas como fazer para separar células de densidade
muito próxima?
Exemplo 3 – Nos últimos anos, tem sido necessário separar as
diferentes classes de linfócito para realizar estudos de interação com o
vírus HIV ou mesmo procedimentos clínicos em que apenas a classe de
linfócito que o vírus infecta é tratada e depois devolvida à circulação
sangüínea do paciente.
Apesar de exercerem funções bastante diversas na defesa de um
organismo (você vai aprender mais adiante no curso), as diferenças entre
as classes de linfócitos que nos permitem separá-los são principalmente
moléculas de sua membrana plasmática expostas ao meio extracelular.
Quando essas moléculas foram descritas e foram produzidos anticorpos
contra elas, uma importante ferramenta ficou disponível. Assim, podemos
incubar a mistura de linfócitos com anticorpos que só reconhecem uma
das classes. Se esses anticorpos estiverem conjugados com fluorocromos,
podemos separar os linfócitos em um aparelho que reconheça moléculas
fluorescentes. Veja na Figura 5.1 um esquema deste aparelho, o citômetro
de fluxo, ou FACS (fluorescence activated cell sorter).
Colocamos a mistura de linfócitos que já foram incubados com
anticorpos fluorescentes numa entrada do aparelho que parece um funil.
A ponta do funil é muito fina e está submetida a uma vibração que faz
com que pinguem gotículas regulares e de tamanho tão pequeno que
só comportam uma célula (ou nenhuma). As gotículas passam em fila
indiana entre um laser (que vai excitar o fluorocromo) e um detector
(que vai ler se aquela gota tem célula, de que volume, se ela é fluorescente
ou não, e qual a intensidade da fluorescência). Associado ao detector há
um sistema que coloca carga negativa nas gotas que contêm uma célula
CEDERJ 61
Biologia Celular I | Métodos bioquímicos para o estudo da célula
62 CEDERJ
MÓDULO 1
Rompimento celular
5
No fracionamento celular, o que se deseja fazer é romper a
AULA
membrana plasmática sem romper as membranas das organelas. É difícil
conseguir isso, e para cada tipo celular existem métodos de rompimento
mais adequados que outros. Além disso, as células de uma preparação
não se rompem todas simultaneamente; o processo é progressivo e
precisa ser acompanhado ao microscópio óptico. Dentre os métodos
mais usados estão:
a) choque osmótico: as células são colocadas em meio hiposmótico,
aumentando de volume até arrebentar. É o método de escolha para
romper hemácias, por exemplo. Em outras células, temos de nos
preocupar em restaurar a osmolaridade ideal rapidamente para
que as membranas das organelas não se rompam também.
b) choque térmico: as células devem ser congeladas e descongeladas
rapidamente, alternando-se, por exemplo, imersão em nitrogênio
líquido (-196oC) e banho de 37oC.
c) maceração: pode ser realizada com homogeneizadores parecidos
com um liquidificador, ou de modo mais delicado com homoge-
neizadores de vidro, que se parecem com um copo onde um êmbolo
entra justo, forçando as células a sofrer o atrito entre os vidros.
Seguindo o mesmo princípio, alguns pesquisadores usam pequenas
pérolas de vidro misturadas à preparação. Agitando a preparação,
as pérolas se chocam, rompendo as células.
d) sonicação: todas as estruturas, biológicas ou não, possuem uma
freqüência de ressonância característica. Uma vibração nessa
freqüência que tenha grande intensidade pode romper a estrutura.
É a mesma história da ponte que vibra com a marcha dos soldados
ou do estádio lotado que vibra com os gritos e pulos da torcida.
Teoricamente, é possível usar ultra-som com uma freqüência de
vibração e intensidade adequadas para romper apenas a membrana
plasmática e deixar as estruturas intracelulares intactas. Na prática
porém, os sonicadores (aparelhos que emitem ultra-som) não têm
um controle de intensidade, freqüência e amplitude tão bom que
permita esse ajuste. Mesmo assim, a sonicação é um dos melhores
métodos para o rompimento de células.
CEDERJ 63
Biologia Celular I | Métodos bioquímicos para o estudo da célula
vesículas inside-in
vesículas inside-out
Figura 5.2: Esquema da produção de vesículas de membrana.
Centrifugação diferencial
64 CEDERJ
MÓDULO 1
ainda maior (cerca de 20.000g, 30 min), poderemos “peletar” a chamada
fração microssomal, formada por vesículas de origem variada, como a
5
membrana plasmática, o retículo endoplasmático, o complexo de Golgi e
AULA
os endossomos. Desta vez, o sobrenadante contém ribossomos, partículas
virais (se houver), e macromoléculas, como DNA e grandes complexos
enzimáticos. Esses componentes também são centrifugáveis, mas para “peletá-
los” são necessárias altíssimas velocidades (200.000g) por muitas horas.
O sobrenadante final, ou fração sobrenadante, é uma solução verdadeira,
que contém os componentes solúveis do citoplasma (Figura 5.3).
!
Uma centrífuga é um aparelho em que um motor faz um eixo girar em grande velocidade (como numa máquina de
furar). Essa velocidade é medida em rpm (rotações por minuto). Ao eixo que gira se adapta uma peça, o rotor, onde
colocaremos tubos com o material a ser centrifugado. Durante a centrifugação, forma-se um campo gravitacional
cuja intensidade (medida em gravidades - g) é proporcional à velocidade da centrifugação. Assim, a força centrífuga
empurra o material para o fundo do tubo numa velocidade que depende da centrifugação, da densidade do
material e do meio em que ele se encontra.
Veja se você entendeu: a medida rpm se refere
à velocidade com que o rotor gira. A medida g
se refere à intensidade do campo gravitacional Material em
Câmara blindada Sedimentação
formado durante a centrifugação.
Dentre os diferentes componentes de uma
amostra submetidos às mesmas condições
de centrifugação, os mais densos vão para o
fundo primeiro, os de densidade intermediária
depois, e por fim os de menor densidade.
Claro que a própria densidade do líquido em
que os componentes celulares estão suspensos
também influencia. As primeiras centrífugas
tinham eixo horizontal e foi um grande
avanço quando foram construídas centrífugas
cujo eixo girava na vertical.
As mais simples são ditas centrífugas clínicas, por
serem muito usadas em laboratórios de análises
clínicas (existe uma no laboratório de aulas
práticas no pólo; observe-a melhor) para separar
os componentes do sangue (veja exemplo 2,
anteriormente). Essas centrífugas atingem
velocidades de até 3.000 rpm. No entanto,
para separar componentes de densidade
menor, como organelas, é necessário um campo
gravitacional mais intenso, que só é conseguido Vácuo
em centrifugações de velocidade muito maior.
Isso só foi possível quando se construíram as Refrigeração
primeiras ultracentrífugas, na década de 30.
Nesses equipamentos, o rotor gira numa câmara
blindada, refrigerada e sem ar (no vácuo),
diminuindo assim as forças de atrito.
CEDERJ 65
Biologia Celular I | Métodos bioquímicos para o estudo da célula
Figura 5.4
66 CEDERJ
MÓDULO 1
Neste tipo de centrifugação, o material que está a caminho do
fundo do tubo encontra densidades cada vez maiores do líquido, tendo
5
cada vez mais dificuldade de prosseguir. Quando um componente da
AULA
mistura de organelas encontrar uma região do gradiente que tenha
densidade igual à sua, entrará em equilíbrio, formando uma “banda”.
Essa banda poderá ser recolhida cuidadosamente com uma pipeta ou
uma seringa e, assim, finalmente, temos uma organela purificada.
O sucesso de um protocolo de fracionamento celular pode ser
avaliado de duas maneiras:
a) por microscopia eletrônica, processando cada etapa e
observando no microscópio que componentes da célula estão presentes
naquela fração e se esses componentes estão bem conservados ou se o
fracionamento os danificou;
b) pela dosagem de enzimas marcadoras em todas as frações;
para uma enzima ser considerada marcadora de uma organela, é preciso
que ela esteja presente apenas nessa organela e em nenhum outro lugar
da célula e que seja encontrada nessa organela em todos os tipos
celulares. Essas enzimas foram estabelecidas nos primeiros trabalhos
de fracionamento celular e depois confirmadas por citoquímica (veja
na próxima aula).
A partir de frações subcelulares contendo organelas purificadas, ou
até mesmo de células inteiras, podemos purificar as macromoléculas que
desejamos estudar. Existem várias metodologias, cada uma mais apropriada
para proteínas ou lipídeos ou ácidos nucléicos ou açúcares. Para exemplificar,
vamos ver a seguir os princípios das metodologias bioquímicas mais usadas
em Biologia Celular: cromatografias e eletroforese.
CEDERJ 67
Biologia Celular I | Métodos bioquímicos para o estudo da célula
II) CROMATOGRAFIA
a) Cromatografia de partição
papel direção do
solvente
componentes
aplicação da
separados
amostra
!
Você pode fazer essa cromatografia em casa: use um pedaço de papel daqueles de coar café
e pingue tinta de caneta-tinteiro azul ou preta perto de uma das bordas do papel. Mergulhe
essa borda em um pouco de acetona e veja que, à medida que a acetona sobe pelo papel,
ela arrasta os componentes da tinta, uns mais e outros menos, separando uma mancha
vermelha, uma amarela e outra esverdeada.
68 CEDERJ
MÓDULO 1
b) Cromatografias em coluna
5
Nestes tipos de cromatografia, usamos uma coluna de vidro (ou
AULA
plástico, ou metal) que foi preenchida com uma resina que exercerá
um efeito de separação na amostra que a percorrer. Veja na Figura
5.6 como funciona.
CEDERJ 69
Biologia Celular I | Métodos bioquímicos para o estudo da célula
direção de eluição
componentes menor da
amostra
componentes maior da
amostra
componentes negativos
da amostra ficam presos
componentes positivos
da amostra passam direto
resina acoplada
ao anticorpo
5
bem é preciso que haja um ligante específico para acoplar à resina e
AULA
que a amostra não esteja muito sobrecarregada de contaminantes. Por
isso, geralmente usam-se as outras duas cromatografias para dar uma
“limpada” na amostra e só então se usa a cromatografia de afinidade
para purificar a proteína que queremos.
III) ELETROFORESE
CEDERJ 71
Biologia Celular I | Métodos bioquímicos para o estudo da célula
!
Reveja, em Bioquímica I:
uma proteína des-
Para desnaturar uma proteína, podemos fervê-la e, além disso, são naturada é aquela que
usados dois reagentes: a) o dodecil sulfato de sódio (SDS), um detergente perdeu suas estruturas
terciária e secundária,
iônico que, além de desnaturar, adiciona cargas negativas às ligações ficando só com a primária,
ou seja, os aminoácidos
peptídicas, tornando a carga da proteína sempre negativa e proporcional ligados covalentemente
ao seu tamanho (claro, porque quanto maior a proteína, mais ligações e enovelados ao acaso, o
que faz com que todas as
peptídicas ela tem!); b) o 2-mercaptoetanol, poderoso agente redutor que proteínas desnaturadas
sejam aproximadamente
adiciona hidrogênios às pontes dissulfeto, desfazendo-as (Figura 5.11). globulares.
SH
SH
C
A B
ELETROFORESE
B
sentido da corrida
C
72 CEDERJ
MÓDULO 1
A eletroforese em condições desnaturantes e redutoras (conhecida
pela sigla SDS-PAGE, de sodium dodecyl sulfate polyacrylamide gel
5
electrophoresis) é, portanto, uma técnica que separa proteínas de acordo
AULA
com seu tamanho, ou massa molecular. Depois que a corrida eletroforética
terminou, o gel é descolado dos vidros da cuba e corado com o corante
desejado. O mais comum, o azul de Comassie, só cora proteínas. Uma
das aplicações de SDS-PAGE pode ser procurar quantas proteínas fazem
parte de uma amostra. Veja na Figura 5.12 a foto de um gel em que
foram aplicadas como amostras as etapas de purificação de uma proteína.
Da esquerda para a direita, a amostra está cada vez mais purificada.
Às vezes necessitamos testar se uma proteína que foi 1 2 3 4 5
molecular
separada num gel é reconhecida por um anticorpo específico,
weight
seja produzido no laboratório ou mesmo presente no soro de 100,000
paciente (veja na próxima aula). Nesse caso, é preciso retirar as
proteínas do gel, já que o anticorpo não desnaturado (para poder
funcionar não podemos desnaturá-lo!) é uma molécula grande
demais para entrar no gel. Ao mesmo tempo, não queremos 40,000
misturar de novo as proteínas. A técnica de eletrotransferência
(ou Western blot.) veio resolver esse problema. Depois de
correr o gel como descrito anteriormente, colocamos o gel
em contato com um papel especial, a nitrocelulose, que tem
a capacidade de ligar proteínas (chamamos de membrana,
mas é um papel), e fazemos passar a corrente elétrica desta
vez no sentido perpendicular ao gel (veja na Figura 5.13).
As proteínas vão sair do gel ainda do jeito que estavam separadas 15,000
sentido da corrente
elétrica
nitrocelulose nitrocelulose
gel gel
Figura 5.13: Eletrotransferência.
CEDERJ 73
Biologia Celular I | Métodos bioquímicos para o estudo da célula
QUESTIONÁRIO
74 CEDERJ
6
AULA
O uso de anticorpos na
pesquisa
• Em microscopia eletrônica.
Biologia Celular I | O uso de anticorpos na pesquisa
Peroxissomos Peroxidase
Peroxissomos Catalase
76 CEDERJ
MÓDULO 1
6
Como você pode notar, algumas enzimas estão presentes em
AULA
mais de um compartimento, como a fosfatase ácida, enquanto algumas
organelas possuem mais de uma enzima marcadora para sua localização.
A quantidade de enzima e sua susceptibilidade ao processamento em
laboratório tornam difícil a aplicação de alguns métodos citoquímicos em
várias situações. Essas dificuldades foram em grande parte contornadas
com o desenvolvimento de métodos que utilizam anticorpos para a
marcação de moléculas e estruturas celulares.
braço
5nm
Sistema imune
Todos os animais, mesmo os mais simples, possuem
células especializadas na defesa do organismo contra vírus,
bactérias ou mesmo moléculas estranhas. No caso dos
mamíferos o sistema imune é constituído pelos chamados
glóbulos brancos que, na verdade, incluem vários tipos
celulares. Destes, os linfócitos B são responsáveis pela
produção de anticorpos. Os linfócitos podem ser do tipo anticorpos
T ou do tipo B, de acordo com sua origem. Os do tipo T secretados
passam pelo timo, uma glândula localizada sobre o osso esterno.
Nas aves os linfócitos B se originam da bursa de Fabricius, daí
seu nome. Nos mamíferos, eles se formam e amadurecem na
medula óssea. Os linfócitos B sintetizam anticorpos que tanto
são expostos em sua superfície, quanto secretados para o meio anticorpos expostos
extracelular (no caso, o sangue). Os anticorpos utilizados como na superfície
marcadores celulares são provenientes de linfócitos B.
CEDERJ 77
Biologia Celular I | O uso de anticorpos na pesquisa
Fagocitose
78 CEDERJ
MÓDULO 1
6
Nesse ponto, surgem duas questões:
AULA
1. Na extração do soro, muitas vezes o animal é sacrificado e,
naqueles que sobrevivem, a concentração daquele anticorpo diminui
bastante depois de algum tempo; portanto, por maior que seja a
quantidade de soro imune obtida contra uma molécula de interesse, o
que fazer quando ele acaba?
2. Um antígeno, ainda que seja uma molécula e não uma bactéria
ou vírus inteiro, será reconhecido por vários linfócitos B. A partir daí,
todos esses linfócitos vão começar a se dividir e secretar anticorpos
capazes de reconhecer aquele antígeno. Como cada um desses linfócitos
estimulados a se dividir está gerando um clone (veja aula de cultura de
células), os anticorpos produzidos por esse animal são chamados de
policlonais (Figura 6.4)
OS ANTICORPOS MONOCLONAIS
CEDERJ 79
Biologia Celular I | O uso de anticorpos na pesquisa
Células Células
Linfócitos que se multiplicam
que produzem anticorpo
anti-X (vivem poucos dias) indefinidamente
Secreção de anti-X
80 CEDERJ
MÓDULO 1
6
AULA
A utilização de anticorpos pré-fabricados não chega a ser uma
novidade. Todos sabemos que em caso de mordida de cobra é utilizado o
soro antiofídico, assim como o soro antitetânico é aplicado para reverter,
ainda no início, um quadro de tétano. Esses soros são produzidos pela
contínua injeção de toxinas ofídicas e tetânicas, respectivamente, em
animais, geralmente cavalos. Periodicamente esses animais são sangrados
e o soro rico em anticorpos, purificado. Dessa forma, numa situação em
que o sistema imune do indivíduo não teria tempo de desenvolver uma
resposta que neutralizasse essas toxinas, ele recebe uma dose concentrada
de anticorpos pré-produzidos.
CEDERJ 81
Biologia Celular I | O uso de anticorpos na pesquisa
MARCADORES FLUORESCENTES
82 CEDERJ
MÓDULO 1
6
Os anticorpos também podem ser utilizados para purificar uma
AULA
determinada molécula, como no método de imunoprecipitação, que é muito
parecido com a cromatografia de afinidade, só que, ao invés de montar uma
coluna, os anticorpos acoplados à resina são misturados com a amostra.
A molécula que se deseja purificar pode ser, por exemplo, uma proteína do
soro. Depois de algum tempo de incubação, a mistura é centrifugada em
velocidade baixa, sufuciente apenas para colocar no pellet a resina acoplada
com anticorpo que “pescou” a proteína do soro, separando-a das outras.
Num método chamado Western blot, proteínas separadas por
eletroforese podem ser transferidas para um papel de nitrocelulose
(eletrotransferência, veja aula anterior) e a presença de uma determinada
proteína é revelada pela ligação de anticorpos conjugados a uma enzima
que depois será revelada por incubação com seu substrato, formando um
produto corado onde está a banda protéica específica que se desejava
detectar (Figura 6.11).
CEDERJ 83
Biologia Celular I | O uso de anticorpos na pesquisa
É fácil saber se uma pessoa teve contato com algum agente causador
de doença incubando uma nitrocelulose contendo as proteínas do provável
parasito, separadas por eletroforese, com o soro da pessoa. Se houver
anticorpos no soro, eles se ligarão às bandas do parasito. Em seguida,
incubamos a nitrocelulose com anticorpos secundários acoplados à enzima
e revelamos em que banda ela se ligou usando seu substrato. Assim é feita
obrigatoriamente a segunda testagem para HIV, o vírus que causa AIDS. A
primeira testagem (chamada ELISA, de enzyme linked immunoadsorbent
assay) é feita com extratos do vírus não separados por eletroforese; todas
as proteínas juntas são incubadas com o soro do paciente e depois com
anticorpos secundários acoplados à enzima. A resposta do ELISA é sim ou
não, isto é, tem ou não tem anticorpos. Os pacientes com resposta positiva
serão chamados a fornecer outra amostra de sangue para confirmar o teste.
Nesse segundo teste, usa-se o Western blot, para saber quais são as proteínas
do vírus reconhecidas pelo soro do paciente. Assim é possível identificar qual
variante do vírus infectou aquela pessoa, dado importante para encaminhar
o tratamento daquele paciente e também para estudos epidemiológicos.
84 CEDERJ
MÓDULO 1
6
AULA
O Límulo, ou caranguejo ferradura, é um artrópode que já
foi classificado entre os crustáceos, depois entre os aracnídeos
e hoje constitui a classe merostomata. Atualmente existem
apenas quatro espécies desse animal, nenhuma na América do
Sul. Os esquemas a seguir representam o límulo em vista dorsal
e ventral.
RESUMO
CEDERJ 85
Biologia Celular I | O uso de anticorpos na pesquisa
EXERCÍCIOS
3. Defina:
– anticorpos policlonais
– anticorpo monoclonal
– soro imune
– hibridoma
– Microscopia óptica
– Microscopia eletrônica
86 CEDERJ
7
AULA
Estrutura da membrana
plasmática
Meio Meio
Limite intracelular extracelular
Dê uma paradinha
88 CEDERJ
MÓDULO 1
7
3. Os lipídeos são principalmente do tipo _______________
AULA
e se organizam na membrana formando uma ___________
_____________________.
4. Os lipídeos da membrana se caracterizam por possuir uma
extremidade da molécula __________ e a outra _________.
Moléculas com essa natureza são chamadas _____________
_____________________.
Meio extracelular
Fernanda de Abreu / cederj
Meio intracelular
CEDERJ 89
Biologia Celular I | Estrutura da membrana plasmática
Resumindo:
1. Todos os seres vivos são
Vasconcelos Santos
define e separa o meio intracelular
do meio extracelular, a membrana
celular. Delimite na Figura 7.3 o meio
intracelular e o meio extracelular.
BÁSICO
Todas as células são limitadas por uma membrana que define
e separa o meio intracelular do extracelular. Dentro da célula, outros
compartimentos também são definidos por membranas. Um exemplo
disso é o núcleo, onde fica confinado o material genético. Outros
exemplos que nos são familiares são as membranas que limitam o
retículo endoplasmático e as mitocôndrias (Figura 7.4).
DADOS HISTÓRICOS
90 CEDERJ
MÓDULO 1
Como explicar a organização desses lipídeos numa membrana em
7
que tanto o meio interno quanto o externo são hidrofílicos? A resposta foi
AULA
dada em 1925 por Gorder e Grendel, estudando as membranas extraídas de
hemácias (os glóbulos vermelhos do sangue). Eles concluíram que os lipídeos
se organizam na membrana como uma camada dupla (bicamada).
Chamamos de folheto cada uma das camadas da bicamada lipídica.
Assim, a membrana plasmática tem um folheto externo, voltado para o
meio extracelular, e um folheto interno, voltado para o citoplasma.
A Figura 7.5 representa uma bicamada de moléculas anfipáticas.
OS LIPÍDEOS DA MEMBRANA
CEDERJ 91
Biologia Celular I | Estrutura da membrana plasmática
Anéis
esteróides
rígidos
a b
a Micela b Lipossoma
92 CEDERJ
MÓDULO 1
Dessa maneira, os grupos apolares das extremidades também não
7
AULA
ficam em contato com a água. Guardadas as devidas proporções, as
micelas são semelhantes a bolhas de sabão, só que enquanto as bolhas
de sabão ficam em contato com o ar (tanto por dentro quanto por fora),
as micelas ficam em meio aquoso, além de serem muitíssimo menores.
OS FOSFOLIPÍDEOS
Figura 7.8: Os fosfolipídeos são formados por uma cabeça polar onde a um esqueleto
de glicerol ligam-se um fosfato e um radical orgânico. A cauda apolar é formada
por duas cadeias longas de ácidos graxos. Uma dessas pode ser insaturada.
CEDERJ 93
Biologia Celular I | Estrutura da membrana plasmática
OS FOSFOLIPÍDEOS
94 CEDERJ
MÓDULO 1
Meio extracelular
7
AULA
Fernanda de Abreu / cedrj
Figura 7.10: Assimetria dos fosfolipídeos da
membrana. Os fosfolipídeos voltados para
o meio extracelular não são idênticos aos
voltados para o citoplasma.
Citoplasma
CEDERJ 95
Biologia Celular I | Estrutura da membrana plasmática
ESTERÓIS
b c
a
Figura 7.13: A estrutura do colesterol, com anéis aromáticos, torna a molécula bastante rígida. (a) fórmula plana,
(b) fórmula esquemática, apontando em cinza médio a parte hidrofílica da molécula, em cinza claro os anéis
carbônicos e em preto a cauda de hidrocarbonetos, (c) fórmula tridimensional onde o oxigênio da hidroxila
aparece em cinza, os carbonos em preto e os hidrogênios em branco.
96 CEDERJ
MÓDULO 1
Elas se dispõem por entre as moléculas dos fosfolipídeos, conferindo
7
AULA
maior rigidez à membrana e aumentando sua resistência à deformação.
Assim, quanto mais ricas em colesterol, menos fluidas são as membranas,
porque os anéis aromáticos do colesterol atrapalham o movimento das caudas
dos fosfolipídeos, que são muito flexíveis. Se, por um lado, isso soa como
uma desvantagem, por outro, a presença de colesterol entre as moléculas de
fosfolipídeos dificulta sua cristalização em baixas temperaturas. Para haver a
formação de um cristal, é preciso que os fosfolipídeos se aproximem muito,
o que é dificultado pelo colesterol (Figura 7.14).
OS GLICOLIPÍDEOS
CEDERJ 97
Biologia Celular I | Estrutura da membrana plasmática
DOMÍNIOS LIPÍDICOS
98 CEDERJ
MÓDULO 1
anos, quando foi descoberto que algumas regiões da bicamada lipídica
7
AULA
têm fluidez menor que o resto da bicamada que as cerca. Esta menor
fluidez é resultante da aglomeração de fosfolipídeos de cadeias longas
– especialmente esfingomielina e colesterol nessas regiões. As caudas
de ácidos graxos desses lipídeos se emaranham, formando assim um
conjunto que não se mistura com o resto e se move em conjunto, como se
fosse uma jangada flutuando no mar. Nessa comparação, a jangada seria
o conjunto de lipídeos de menor fluidez (ou seja, com menor liberdade de
se misturar aos outros), e o mar em volta seria todo o resto da membrana.
Por esta razão, as plataformas lipídicas foram denominadas lipid rafts,
pois raft significa jangada, em inglês. O maior comprimento das cadeias
de ácidos graxos desses lipídeos aumenta a espessura da bicamada nessas
regiões, formando verdadeiras plataformas lipídicas (Figura 7.16),
denominação que adotaremos neste texto.
Glicolipídeo
Colesterol
Glicoproteína
Figura 7.16: As plataformas lipídi-
cas são regiões da membrana onde
se concentram lipídeos de cadeias
longas, especialmente do tipo esfin-
golipídeos e colesterol. Conseqüente-
mente, a bicamada nessas regiões é
mais espessa, menos fluida, e só pro-
teínas com determinada extensão
podem se inserir ali.
Plataforma lipídica
CEDERJ 99
Biologia Celular I | Estrutura da membrana plasmática
RESUMO
100 CEDERJ
MÓDULO 1
7
• As membranas são fluidas porque os lipídeos que as compõem movem-se o
AULA
tempo todo, fazendo flexão das cadeias de ácidos graxos, rotação, translocação
e, raramente, flip-flop.
• Existem regiões menos fluidas na bicamada lipídica, as plataformas lipídicas,
ricas em ácidos graxos de cadeia longa e colesterol.
• Regiões diferenciadas em termos de composição lipídica, função e fluidez das
membranas constituem domínios de membrana.
EXERCÍCIOS
CEDERJ 101
8
AULA
Proteínas de membrana
Pré-requisitos
Aulas de 11 a 16 de Proteínas (Bioquímica I).
Biologia Celular I | Proteínas de membrana
INTRODUÇÃO A estrutura básica de todas as membranas biológicas é formada por uma bicapa
lipídica; entretanto, são as proteínas que conferem individualidade e especificidade
às membranas celulares.
As funções desempenhadas por cada membrana (transporte, reconhecimento, adesão,
veja Figura 8.1) dependem primariamente de suas proteínas constituintes.
As proteínas correspondem, em média, a cerca de 50% da massa de uma membrana,
podendo chegar a 75%, no caso da membrana mitocondrial interna.
A técnica da criofratura (veja Aula 3) permitiu, pela primeira vez, observar que as
proteínas de membrana se distribuem na bicamada lipídica ora atravessando-a de um
lado ao outro, ora inserindo-se apenas no folheto externo ou interno da bicapa.
Assim, na descrição clássica do modelo do mosaico fluido, as proteínas da membrana
são classificadas em dois grupos: transmembrana, quando atravessam a matriz
lipídica; periféricas, quando se encontram associadas a outras proteínas integrais
ou lipídeos da membrana.
a
c
104 CEDERJ
MÓDULO 2
8
Algumas proteínas atravessam apenas uma vez a bicamada e são !
AULA
A proteína que
chamadas unipasso (Figura 8.2A), enquanto as que passam muitas vezes
transporta glicose
pela bicamada são chamadas multipasso (Figura 8.2B). Muitas vezes, as para dentro das
células é do tipo
proteínas multipasso criam em seu interior um ambiente hidrofílico que multipasso, assim
como a bomba de
pode atuar como um “poro” transmembrana. sódio/potássio.
2. Há proteínas que se associam à membrana de modo indireto,
ou seja, formam ligações não covalentes com proteínas transmembrana
(Figura 8.3). Estas correspondem às proteínas periféricas inicialmente
descritas no modelo do mosaico fluido.
Meio
Extracelular
Meio
Intracelular
CEDERJ 105
Biologia Celular I | Proteínas de membrana
!
As âncoras de membrana podem ser de vários tipos, específicos para o lado
citoplasmático ou para o lado extracelular da membrana. Proteínas ligadas
covalentemente a lipídeos podem ser encontradas no folheto citoplasmático.
Proteínas ancoradas via glicosil-fosfatidil-inositol (GPI), só existem na face
da membrana voltada para o meio extracelular. A proteína ancorada por
GPI se prende sempre ao fosfolipídeo fosfatidilinositol, tendo como ponte
entre a proteína e o fosfolipídeo uma seqüência de açúcares, que é sempre
a mesma, uma etanolamina. É interessante como uma mesma estrutura está
presente na ligação de proteínas tão diferentes à membrana.
106 CEDERJ
MÓDULO 2
8
AULA
Figura 8.6: Proteínas que se ligam por carga a outros componentes da membrana
podem se soltar da mesma, se a força iônica da solução onde se encontram for
drasticamente alterada.
!
Protozoários parasitas como o Trypanosoma brucei (agente
da doença do sono) e o Plasmodium (causador da malária)
periodicamente secretam a enzima fosfolipase-c específica
para fosfatidil inositol. Dessa forma, todas as proteínas ancoradas
por GPI na superfície deles são rapidamente eliminadas e
os protozoários se tornam “invisíveis” para os anticorpos já
produzidos pelo hospedeiro.
CEDERJ 107
Biologia Celular I | Proteínas de membrana
108 CEDERJ
MÓDULO 2
8
NEM TODAS AS PROTEÍNAS ATRAVESSAM A BICAMADA
AULA
FORMANDO UMA HÉLICE
CEDERJ 109
Biologia Celular I | Proteínas de membrana
110 CEDERJ
MÓDULO 2
8
MECANISMOS DE RESTRIÇÃO À MOBILIDADE DAS
AULA
PROTEÍNAS: BARREIRAS E DOMÍNIOS
CEDERJ 111
Biologia Celular I | Proteínas de membrana
FORMAÇÃO DE BARREIRAS
Proteína A
112 CEDERJ
MÓDULO 2
8
OS CARBOIDRATOS DE MEMBRANA
AULA
Correspondem aos açúcares. Grande parte dos lipídeos e das
proteínas de membrana voltados para o meio extracelular apresenta-se
ligado a carboidratos, formando glicoproteínas ou glicolipídeos. Há ainda
um terceiro tipo de carboidratos: são as proteoglicanas, que geralmente
são encontradas na matriz extracelular (serão abordadas em maior detalhe
em Biologia Celular 2), mas algumas se inserem na bicamada lipídica por
parte de sua porção protéica ou por meio de uma âncora do tipo GPI.
O conjunto de carboidratos da membrana forma o chamado
glicocálix ou cell-coat. Quanto mais carboidratos contiver uma
membrana, mais espesso será o glicocálix (Figura 8.14).
Além de estarem sempre ligados a uma proteína ou a um lipídio
na membrana plasmática, os açúcares estão sempre voltados para o meio
extracelular (Figura 8.15).
DE: ALBERTS, Bruce et al. Molecular Biology of the Cell. 4.ed. Nova York: Garland Science Publishing, 2002.
CEDERJ 113
Biologia Celular I | Proteínas de membrana
Membrana do retículo
Citossol
Membrana plasmática
114 CEDERJ
MÓDULO 2
8
AULA
Proteoglicanas diferem de glicoproteínas em algumas características: as glicoproteínas têm
uma cadeia ramificada de monossacarídeos diferentes ligados a uma proteína. Já as proteoglicanas
têm longas cadeias lineares de dissacarídeos repetidos ligados a uma proteína. A relação em massa
entre a cadeia de açúcares e a cadeia protéica também é diferente: enquanto na glicoproteína
a parte protéica é muito maior, na proteoglicana, a parte glicídica predomina.
Proteoglicana
RESUMO
CEDERJ 115
Biologia Celular I | Proteínas de membrana
EXERCÍCIOS
1. Por que a criofratura foi fundamental para se saber como as proteínas se inserem
na bicamada lipídica.
• proteína transmembrana
• proteína periférica
• proteína ancorada
• proteína unipasso
• proteína multipasso
• porinas
• complexo proteico
4. O que é um heterocárion?
8. O que é glicocálix?
116 CEDERJ
9
AULA
Permeabilidade da membrana
Pré-requisito
Estrutura de proteínas (Bioquímica I)
Biologia Celular I | Permeabilidade da membrana
Recordando:
As membranas celulares são compostas por uma bicamada
de lipídeos, onde estão inseridas proteínas. Enquanto
as proteínas variam muito de acordo com as atividades
específicas dos diferentes tipos celulares, os lipídeos são,
além de majoritários, praticamente os mesmos nas
membranas plasmáticas das diferentes células. Os lipídeos
podem ser definidos como moléculas hidrofóbicas não
carregadas, embora os fosfolipídeos e mesmo o colesterol
nas membranas possuam uma extremidade hidrofílica em
suas moléculas.
!
Se o texto acima lhe parece confuso, volte à Aula 7.
118 CEDERJ
MÓDULO 2
9
A PERMEABILIDADE SELETIVA DA MEMBRANA
AULA
PLASMÁTICA
Dê uma paradinha. Vá até a cozinha, prepare uma limonada, pegue umas batatinhas fritas
e, na volta, reveja estes conceitos de Bioquímica I:
• Molécula polar X molécula apolar
• Molécula hidrofílica X molécula hidrofóbica
• Íon
• Camada de solvatação
– ”Ah, não tem nada a ver!”
– “Como não? Já imaginou tomar limonada se o açúcar não dissolver na água? E a batata?
Fica horrível, encharcada de óleo de fritura!
Repare que esses conceitos fazem parte do nosso dia-a-dia.”
Capilar
Figura 9.2: A troca de gases entre os seres vivos e o meio ambiente é feita sempre
por difusão simples, obedecendo à diferença de concentração. Como a planta
está produzindo O2, ele é lançado ao meio ambiente. Já o animal consome
continuamente O2 e expira CO2, que é lançado ao meio ambiente e absorvido pela
planta, em cujas células a concentração é mais baixa.
120 CEDERJ
MÓDULO 2
9
Vimos, assim, que a permeabilidade seletiva da bicamada lipídica
AULA
nada tem a ver com a “utilidade” das moléculas para a célula, dependendo
apenas das características físico-químicas das mesmas.
DIFUSÃO SIMPLES
OSMOSE
Experimento 1:
Material:
Luvas de látex descartáveis
Soro fisiológico
Tubo de ensaio
Pipetas e bulbos
Lâminas e lamínulas
Microscópio óptico
Procedimento:
1. Sempre usando as luvas, recolha uma amostra (1 ml) do
sangue do animal num tubo contendo soro fisiológico (1 ml). Este
será o tubo 1. Misture, colha com a pipeta uma gota da mistura,
monte entre lâmina e lamínula e observe ao microscópio óptico. Qual
o formato das hemácias?
CEDERJ 121
Biologia Celular I | Permeabilidade da membrana
122 CEDERJ
MÓDULO 2
9
AULA
a b c d
Figura 9.3: Variações na forma e no volume de células submetidas a soluções de diferentes tonicidades.
EXPERIMENTO 2:
Material:
Uma cebola sem casca
Água destilada
Açúcar (sacarose)
Tubo de ensaio
Pipetas e bulbos
Lâminas e lamínulas
Microscópio óptico
Procedimento:
1. Puxe cuidadosamente uma película da superfície da
cebola. Estenda essa película sobre uma gota d’água colocada numa
lâmina e monte com uma lamínula. Observe e descreva o formato
das células ao microscópio.
2. Puxe uma outra película semelhante à primeira mas
monte sobre uma gota de uma solução saturada de açúcar em
água. Observe ao microscópio e descreva as alterações.
CEDERJ 123
Biologia Celular I | Permeabilidade da membrana
parede
celular
núcleo
membrana
plasmática
BÁSICO
124 CEDERJ
10
AULA
As proteínas transportadoras
PROTEÍNAS TRANSPORTADORAS
Dê uma paradinha:
Se você acha que proteína multipasso é isso,
dê uma espreguiçada, endireite as costas
e volte à aula de proteínas de membrana (número 8)
para refrescar sua memória.
B
A COMO ATUA UMA PROTEÍNA TRANSPORTADORA
126 CEDERJ
MÓDULO 2
10
Podem ser comparadas às enzimas, pois, como elas, ligam-se a um soluto
AULA
específico e sofrem alterações na sua forma até liberar esse soluto do outro
lado da membrana e reiniciar o processo com uma nova molécula; porém,
diferentemente das enzimas, não alteram o soluto que é transportado
por elas. Outro ponto importante é que cada unidade de uma proteína
carreadora transporta poucas moléculas do soluto por vez. Um bom
exemplo de carreador é a proteína que continuamente transporta a
glicose do sangue para dentro das células. Nos momentos em que um
determinado tipo celular necessita de maior aporte de glicose, isso é
feito aumentando o número de transportadores na membrana
das células, pois a velocidade com que um
carreador é capaz de atuar não se modifica.
Situações de esforço muscular, como uma
corrida, levam a esse tipo de situação;
entretanto, o tecido mais vulnerável
à falta de glicose é o nervoso.
CEDERJ 127
Biologia Celular | As proteínas transportadoras
AS AQUAPORINAS
128 CEDERJ
MÓDULO 2
10
O controle de sua atividade é feito de outra forma: quando a célula recebe
AULA
determinado tipo de estímulo (geralmente por parte de um hormônio),
moléculas de aquaporina que estavam armazenadas dentro da célula
são direcionadas a se inserir na membrana, acelerando a passagem de
água através dela.
!
Ciência é vida!
Os portadores do diabetes do tipo 2 produzem grande quantidade de
urina, sempre muito diluída. Nesses indivíduos, a reabsorção de água
nos túbulos renais é deficiente justamente pela falta de aquaporinas
na sua membrana. Diversas outras doenças também estão associadas
ao mau funcionamento dessas proteínas.
!
Tudo é relativo Talvez você esteja se perguntando: serão as
aquaporinas carreadores ou canais? Pense no assunto; voltaremos
a ele na seção de exercícios.
CEDERJ 129
11
AULA
Transporte passivo
objetivos
!
Assim como nos canais iônicos, as
pessoas espremidas numa saleta
também tendem a se espalhar,
quando uma porta para um
compartimento mais espaçoso
é aberto.
132 CEDERJ
11 MÓDULO 2
O QUE LEVA UM CANAL IÔNICO A ABRIR-SE?
AULA
11.1, 11.2 e 11.3). Esse estímulo pode ser um ligante, uma sensibilidade
do canal a alterações de voltagem ou a um estímulo mecânico.
Nos canais ativados por ligante, uma molécula se liga ao canal e
induz uma mudança no formato da molécula que abre a comporta (Figura
11.1A e 11.1B). Um bom exemplo de ligante é a adrenalina (vide box).
Quando ficamos nervosos ou com medo, essa substância é liberada na
corrente sangüínea e, ao encontrar canais iônicos que são ativados por
ela na superfície de vários tipos de célula, dispara processos químicos
que resultam na aceleração dos batimentos cardíacos, no suor frio e
outros sintomas relacionados a essas situações. Repare no esquema: há
canais que são abertos por ligantes extracelulares (como a adrenalina)
e outros por ligantes produzidos na própria célula, ou seja, são abertos
por dentro (Figura 11.1B).
MEIO EXTRACELULAR
MEIO INTRACELULAR
a b
!
Ter um ataque de nervos no trânsito
abre vários canais iônicos dependentes
de adrenalina.
CEDERJ 133
Biologia Celular I | Transporte passivo
!
A atividade muscular depende
tanto de canais que se abrem por
ligante como de canais ativados
por voltagem.
!
Já na atividade cerebral
participam muitos canais
dependentes de voltagem.
134 CEDERJ
11 MÓDULO 2
Algumas plantas insetívoras possuem pêlos que, ao serem
pressionados por uma presa em potencial, disparam a abertura de canais
iônicos sensíveis a estímulos mecânicos, levando a folha a fechar-se,
AULA
aprisionando o inseto (Figura 11.3).
Você já deve ter notado que grande parte dos exemplos que temos
utilizado nesta aula se refere aos tecidos chamados excitáveis, isto é, músculos
e nervos. Os tipos celulares desses tecidos necessitam responder rapidamente a
estímulos. Isso é conseguido quando, em reposta a um estímulo, abrem-se canais e
por eles passam grandes quantidades de íons em pequeno intervalo de tempo.
No estado de repouso, a membrana dessas células se encontra polarizada.
Isto é, há um acúmulo de cátions (especialmente Na+ e K+) no meio extracelular.
Em conseqüência, o meio intracelular é negativo em relação ao extracelular.
Essa diferença de cargas (chamada potencial de membrana) é mantida pelo
transporte ativo desses cátions, a ser estudado na Aula 12.
CEDERJ 135
Biologia Celular I | Transporte passivo
–– ––
++ ++
inativo aberto
136 CEDERJ
11 MÓDULO 2
a
Figura11.5: A propagação
de um estímulo nervoso
percorre a membrana
do neurônio (a). As
AULA
figuras B e C mostram
o percuso do estímulo
ao longo de um trecho
da membrana, onde se
abrem sucessivamente
canais iônicos ativados
por voltagem (b). Os
canais abertos criam
uma área de inversão
da voltagem que induz
b à abertura dos canais
vizinhos. Enquanto os
canais recém-ativados
se encontram no estado
inativo (área sombreada),
impedindo que o
estímulo dê "marcha à
ré", os canais à frente
abrem-se, permitindo a
propagação do estímulo
c no sentido correto.
CEDERJ 137
Biologia Celular I | Transporte passivo
A glicose é o principal combustível utilizado pelas células para produção de energia (a). Além de sua quebra
constante no meio intracelular criar um gradiente de concentração em que sua absorção pela célula é favorecida,
a célula também é capaz de transformar a glicose que não será utilizada imediatamente em glicogênio (no caso
de células animais) ou amido
(nas células vegetais) . Essas
estratégias favorecem a formação
de um gradiente de entrada
de glicose nas células. Se não
houver glicose disponível para
entrar na célula, os estoques
formados anteriormente, serão
disponibilizados (b).
a b
CONCLUSÃO
138 CEDERJ
12
AULA
Transporte ativo
objetivos
!
A harmonia do desequilíbrio:
Assim como uma bicicleta só se mantém equilibrada nas duas rodas se estiver
em movimento, a vida celular também requer atividade constante. Por
exemplo, no caso dos neurônios, o que indica se seu estado é de repouso ou
atividade é a diferença de cargas nos lados interno e externo na membrana
celular. Quando a célula está em repouso, o exterior é positivo em relação ao
meio interno. Em atividade, essa polaridade se inverte momentaneamente e o
interior se torna positivo. Essa mudança de carga se faz pela passagem de íons
(principalmente Na+ e K+). Se a distribuição de íons fosse igual nos dois lados
da membrana, a célula “não saberia” em que estado se encontra.
140 CEDERJ
12 MÓDULO 2
O QUE É TRANSPORTE ATIVO
AULA
dois postulados básicos:
1. dá-se sempre contra o gradiente de concentração do soluto que
está sendo transportado;
2. requer gasto energético (ATP) por parte da célula.
CEDERJ 141
Biologia Celular I | Transporte ativo
142 CEDERJ
12 MÓDULO 2
Quando um determinado estímulo leva à abertura de canais iônicos
para Na+ e K+, a rápida entrada no citoplasma de uma grande quantidade
de íons Na+ e a evasão de uma quantidade também considerável de íons
AULA
K+ para fora da célula provocam a despolarização. Como no balanço
final a entrada de cátions é maior que a saída, o meio interno se torna
positivo em relação ao meio externo.
Até este ponto, descrevemos eventos que dependem apenas da
abertura de canais, isto é, transporte passivo. O papel do transporte ativo
será fazer com que a célula retorne ao estado de repouso, ou seja, refazer
a distribuição dos íons de modo que o meio intracelular seja negativo
em relação ao meio extracelular, mesmo que isso signifique deslocar íons
do compartimento onde eles estão em menor concentração para outro
onde sua concentração seja maior. A repolarização (retorno ao estado
polarizado) da membrana é feita por um sistema de transporte ativo
chamado de bomba de sódio/potássio.
Dê uma paradinha:
O transporte ativo, energeticamente falando, é sempre
feito ladeira acima. Isto é, enquanto para descarregar um
caminhão de areia basta erguer a caçamba e despejar o
conteúdo, para enchê-lo serão necessários vários operários
com pás.
CEDERJ 143
Biologia Celular I | Transporte ativo
A BOMBA DE SÓDIO/POTÁSSIO
Meio Intracelular
144 CEDERJ
12 MÓDULO 2
AULA
Figura12.7: O funcionamento da bomba de sódio/potássio decorre de mudanças na forma do complexo
protéico que a constitui. (1) Inicialmente se ligam 3 íons Na+ pelo lado citoplasmático da membrana
(apenas um está representado). (2) Nesse ponto, ocorre a hidrólise do ATP em ADP e Pi de alta energia.
(3) Essa energia será utilizada em nova mudança de forma da molécula e conseqüente expulsão
do Na+ . (4) A seguir, ligam-se pelo lado externo dois íon K+ (apenas um está representado). Essa (5) nova
ligação induz a liberação do Pi, cuja energia já foi gasta, e nova mudança de conformação da
molécula para o estado inicial, quando poderá se ligar a novos íons Na+ e reiniciar o ciclo.
CEDERJ 145
Biologia Celular I | Transporte ativo
146 CEDERJ
12 MÓDULO 2
glicose seja sempre transportada da luz para o citoplasma, pois devido à
ação da bomba de Na+/K+ o gradiente de concentração do sódio é sempre
muito maior no meio externo, favorecendo sua entrada na célula juntamente
AULA
com a glicose. Esse tipo de transporte é chamado de difusão facilitada ou
transporte ativo secundário, pois embora não dependa diretamente de ATP
e obedeça ao gradiente de concentração do Na+, depende do funcionamento
da bomba de Na+/K+, um transportador ativo. Esse mecanismo impede que
as células intestinais percam glicose em direção à luz intestinal nos períodos
de jejum. Essa situação já foi comentada quando estudamos os domínios de
membrana (Aula 8). A célula do epitélio intestinal possui então dois domínios:
o apical, onde existem as microvilosidades e o co-transportador de sódio e glicose
e o domínio basolateral, onde o transportador de glicose é do tipo uniporte.
CEDERJ 147
Biologia Celular I | Transporte ativo
148 CEDERJ
12 MÓDULO 2
Em compensação, quando os H+ acumulados em um dos lados da
membrana retornam, passando por uma proteína específica, ocorre a
síntese de ATP para a bactéria.
AULA
3. As proteínas de multirresistência a drogas, já comentadas
anteriormente, fazem parte de uma grande família de transportadores
ativos, as proteínas ABC (de ATP Binding Cassete, uma sequência
de aminoácidos presente nas proteínas dessa família que se ligam ao
ATP, necessário para que o transporte através delas seja realizado).
As proteínas dessa família atuam tanto no transporte de íons como de
pequenas moléculas, participando de processos de detoxificação por
várias drogas de natureza lipídica.
A importância dos transportadores ABC pode ser bem avaliada no
caso da fibrose cística, uma anomalia genética relativamente comum. Nos
–
portadores dessa doença o gene que codifica um transportador de Cl é
defeituoso, ou inexistente, acarretando profundos desbalanceamentos no
equilíbrio hídrico e eletrolítico do indivíduo. Esses sintomas se manifestam
como alta concentração de sal no suor, alta viscosidade do muco que reveste
as vias respiratórias, ocasionando obstrução delas, e muitos outros que
diminuem a qualidade e a expectativa de vida dos afetados.
a b
RESUMO
150 CEDERJ
12 MÓDULO 2
• As proteínas do tipo canal formam poros aquosos através da bicamada lipídica, por
onde os solutos podem se difundir. Enquanto o transporte pelas proteínas carreadoras
AULA
pode ser ativo ou passivo, o transporte através dos canais é sempre passivo.
• A maior parte das proteínas do tipo canal é de canais iônicos seletivos que
permitem a passagem de íons inorgânicos específicos de acordo com seu tamanho
e carga. O transporte através desses canais é pelo menos 1.000 vezes mais veloz
que o transporte através de qualquer carreador conhecido.
•A maior parte dos canais iônicos só se abre sob determinados estímulos, como
a alteração do potencial de membrana (ativados por voltagem) ou a ligação de
uma molécula específica (ativados por ligante).
EXERCÍCIOS
3. Por que alguns autores chamam o simporte de Na+ e glicose através da membrana
de “transporte ativo secundário” se não há consumo de ATP no processo?
4. O que são aquaporinas? Qual sua importância nos dutos coletores das células
renais?
Gabarito
Módulo 1 - Aula 1
5x 40x 200X
2. As células recebem este nome porque o que Hooke descreveu foram as paredes
celulares remanescentes onde antes haviam estado células que morreram, deixando
lacunas semelhantes às celas dos monges.
3. Comparação do microscópio de Hooke (Figura 1.1) com o modelo atual (Figura 1.4),
identificando as partes análogas.
ocular
macrométrico
micrométrico
revólver
objetivas
amostra
platina
condensadora
fonte de luz
154 CEDERJ
6. No microscópio de fluorescência a amostra é tratada com um corante fluorescente
e iluminada com uma fonte de luz ultravioleta, capaz de fazer com que apenas as
áreas onde o corante se fixou apareçam na imagem.
8. Uma hemácia mede 8 µm. Quando observada sob o aumento total de 1.000
vezes, medirá 8.000 µm=8x103 µm = 8 mm = 0,8 cm
10. 5 µm = 5.000.nm
100µm = 100.000 nm
1.000µm= 1 mm
60 nm= 0,06 µm
11. Uma célula foi fotografada com 2.000x de aumento no microscópio óptico.
Uma estrutura que tenha na realidade 2 µm aparecerá na foto com 4.000 µm =
4 mm = 0,4 cm.
CEDERJ 155
Módulo 1 - Aula 2
1. É a menor distância em que dois pontos podem ser definidos como distintos.
10.000 = 104
104 x 102 x 10 –9 m= 104+2-9m= 10-3 m = 1 mm
100 nm = 102 x 10 m–9
Resposta: 1 milímetro
3- 30 µm = 30 x 10 –4 cm
Resposta: 3000 vezes. Obs.: em geral esse é o aumento inicial para observação
ao microscópio de transmissão. Uma vez localizada a área de interesse usamos
aumentos bem maiores.
4.
Microscópio óptico Microscópio eletrônico
Poder de resolução 2 µm 2 nm
156 CEDERJ
Inclusão: substituição do solvente orgânico por resina
Módulo 1 - Aula 3
1.
• Fratura: feita a baixa temperatura e sob vácuo, expõe as superfície das membranas
plasmática e das organelas intracelulares.
• Evaporação com platina: feita em ângulo de 45o visa criar áreas sombreadas
segundo o relevo das proteínas de membrana e estruturas celulares.
• Evaporação com carbono: feita homogeneamente por toda a réplica, cria uma
“base”, sendo o carbono transparente ao feixe de elétrons.
• Limpeza da réplica: feita com ácidos ou bases fortes. Remove restos celulares
que estejam grudados na réplica.
• Lavagem: feita com água. Depois dela a réplica é recolhida sobre uma grade e
levada ao microscópio eletrônico de transmissão.
CEDERJ 157
2. O plano médio, isto é, aquele para onde convergem as caudas hidrofóbicas
dos fosfolipídeos.
Módulo 1 - Aula 4
5. É uma célula formada pela fusão de dois tipos celulares diferentes. Seu
núcleo reúne o DNA das duas células originais e ela se comporta combinando
características das duas células originais.
158 CEDERJ
6. C, pois com a alta taxa de multiplicação será mais rápida a obtenção de grandes
quantidades da proteína secretada.
Módulo 1 - Aula 5
CEDERJ 159
9. A eletroforese usa um campo elétrico para separar ácidos nucléicos ou proteínas,
que foram previamente desnaturadas e tratadas com SDS, conforme sua massa
molecular. A massa molecular de uma certa proteína da amostra pode ser feito por
comparação com padrões colocados na mesma corrida eletroforética. A eletroforese
serve também para acompanhar a purificação de uma proteína, porque permite
observar quantas proteínas diferentes estão presentes numa amostra.
10. Na técnica de Western blot proteínas já separadas por eletroforese podem ser
transferidas para uma membrana de nitrocelulose, ficando acessíveis à incubação
com anticorpos ou outros ligantes específicos. Assim, é possível mostrar que uma
certa proteína está presente numa amostra porque um anticorpo específico a
reconheceu. Ou mostrar que o soro de um paciente reconhece antígenos de um
parasito, portanto ele já teve contato com o parasito.
Módulo 1 - Aula 6
2. Como cada molécula de anticorpo possui dois sítios de ligação para cada
antígeno, é possível a formação de ligações cruzadas, ou seja, um dos braços da
molécula de anticorpo se liga a um antígeno e o outro a outro antígeno (veja
esquema).
3. Defina:
Hibridoma – é o resultado da fusão de uma célula tumoral (daí o sufixo oma) com
um linfócito B. O resultado é uma célula que se multiplica indefinidamente, como
a célula tumoral, e que secreta continuamente anticorpos, como o linfócito B.
160 CEDERJ
4. Associações de anticorpos e moléculas.
Módulo 2 - Aula 7
Exercício inicial
3. [fosfolipídeo] [bicamada].
Exercício final
vacúolos também são considerados como meio extracelular, já que também ficam
separados do citoplasma por uma membrana.
CEDERJ 161
3. É qualquer espaço limitado por uma membrana contínua e separado do meio
externo ou do citosol. A mitocôndria, por exemplo, possui duas membranas e
dois compartimentos, o intermembranas e a matriz mitocondrial, separados pela
membrana mitocondrial interna.
9. O colesterol é uma molécula pequena e muito rígida por conta dos anéis
aromáticos. Pelo seu tamanho, ela se insere entre as moléculas de fosfolipídeo,
diminuindo o espaço disponível para os movimentos deles.
11. Algumas regiões são compostas por lipídeos de menor fluidez que permanecem
agregados, formando domínios com funções específicas. Quando esses domínios
ocorrem em invaginações da membrana, são chamados cavéolas.
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Módulo 2 - Aula 8
2.
• proteína multipasso: são aquelas cuja cadeia polipeptídica vai e vem através da
membrana várias vezes.
• Porinas - são proteínas do tipo “barril”, que formam poros aquosos em algumas
membranas, como a membrana externa das mitocôndrias.
4. É uma célula formada pela fusão do citoplasma e dos núcleos de duas outras,
diferentes entre si.
CEDERJ 163
6. São mecanismos que impedem o livre fluxo de proteínas no plano da membrana.
Podem ser associações de proteínas em complexos de membrana ou associações
com elementos do citoesqueleto ou do meio extracelular ou mesmo regiões de
adesão entre duas células vizinhas que impedem a passagem de proteínas da face
apical da membrana para a superfície basolateral e vice-versa.
Módulo 2 - Aula 12
1.
e) Errado, além de o antiporte ser uma troca de moléculas entre dois compartimentos,
o simporte é o transporte necessariamente conjunto de um íon e uma segunda
espécie molecular, por exemplo a glicose, sempre no mesmo sentido.
164 CEDERJ
2. A frase é uma boa analogia. Enquanto um enorme número de grãos passa
pelo funil em poucos segundos, levaríamos muito mais tempo para colocar igual
quantidade de grãos usando uma colher. Cada grão deve estar na colher, enquanto
nem todos os grãos entrarão em contato com as bordas do funil.
3. Porque, para que ele ocorra, é necessário que a bomba de Na+/K+ esteja mantendo
maior a concentração de sódio no meio extracelular. Do contrário, a célula poderia até
perder glicose para o meio externo.
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Serviço gráfico realizado em parceria com a Fundação Santa Cabrini por intermédio do gerenciamento
laborativo e educacional da mão-de-obra de apenados do sistema prisional do Estado do Rio de Janeiro.
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