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CCARREIRAS JURÍDICAS
Em 03/12/2023, foi aplicada a prova objetiva do concurso público para Juiz Substituto
do TJ-PR. Assim que disponibilizados o caderno de provas e gabarito, nosso time de
professores analisou cada uma das questões, que, agora, serão apresentadas em
nossa PROVA COMENTADA.
Este material visa a auxiliá-los na aferição das notas, elaboração de eventuais recursos,
verificação das chances de avanço para fase discursiva, bem como na revisão do
conteúdo cobrado no certame.
Desde já, destacamos que nosso time de professores identificou 4 questões passíveis de
recurso, por apresentarem duas ou nenhuma alternativa correta, como veremos adiante.
No tipo de prova comentado, trata-se das questões 21, 26, 29 e 55.
Além disso, montamos um caderno para nossos seguidores, alunos ou não, verem os
comentários e comentar as questões da prova. Clique AQUI e confira!
Comentários
Em momento algum a lei fala em manifestação de vontade da mãe para a justiça buscar
a família extensa. Não é uma condicionante, um requisito.
Comentários
b) o ato infracional análogo a furto, por ser praticado sem grave ameaça ou
violência à pessoa, não pode ensejar o oferecimento de Representação em face do
adolescente;
d) a prisão preventiva decretada pelo Juízo Criminal é nula, pois Yago encontra-se
em cumprimento de medida socioeducativa de internação, devendo ser
apresentado ao juiz da Infância e da Juventude;
e) considerando que Yago é adolescente, a ele somente poderá ser aplicada medida
socioeducativa pelo roubo qualificado praticado.
Comentários
A alternativa correta pela banca é a letra C. Contudo, essa questão também é passível
de recurso, pois a letra B também está correta.
A alternativa B está correta, pois conforme previsão expressa do artigo 46, §1º, do
SINASE, caberá à autoridade judiciária decidir sobre eventual extinção da execução,
cientificando da decisão o juízo criminal competente em caso de maior de 18 (dezoito)
anos, em cumprimento de medida socioeducativa, respondendo a processo-crime.
Ora, se cabe este desconto, é porque a prisão preventiva não necessariamente faz
extinguir a medida socioeducativa, havendo a necessidade de se submeter a hipótese ao
juiz de direito para que ele, fundamentadamente, decida a respeito.
Comentários
Atribuições Diversas
• Pergunta: O que fazer quando o Conselho Tutelar recebe a notícia da prática de crime
contra criança ou adolescente?
Resposta: Sempre que o Conselho Tutelar receber a notícia da prática, em tese, de
crime contra criança ou adolescente, deve levar o caso imediatamente ao Ministério
Público (cf. art. 136, inciso IV, do ECA), sem prejuízo de se prontificar a aplicar, desde
logo, medidas de proteção à criança ou adolescente vítima, bem como realizar um
trabalho de orientação aos seus pais ou responsável. A avaliação acerca da efetiva
caracterização ou não do crime cabe ao Ministério Público, após a devida investigação
do fato pela autoridade policial. A propósito, o Conselho Tutelar não é órgão de
segurança pública, e não lhe cabe a realização do trabalho de investigação policial,
substituindo o papel da polícia judiciária (polícia civil). O que pode fazer é se
prontificar a auxiliar a autoridade policial no acionamento de determinados serviços
municipais que podem intervir desde logo (como psicólogos e assistentes sociais com
atuação junto aos CREAS/CRAS, CAPs e outros serviços públicos municipais),
inclusive para evitar a "revitimização" da criança ou adolescente, quando da coleta de
provas sobre o ocorrido. Tal intervenção (tanto do Conselho Tutelar quanto dos
referidos profissionais e autoridades que devem intervir no caso), no entanto, deve
invariavelmente ocorrer sob a coordenação da autoridade policial (ou do Ministério
Público), inclusive para evitar prejuízos na coleta de provas. Vale lembrar que, em casos
semelhantes, é preciso proceder com extrema cautela, diligência e profissionalismo, de
modo a, de um lado, responsabilizar o(s) agente(s) e, de outro, proteger a(s) vítima(s). O
próprio Conselho Tutelar pode (deve), se necessário por intermédio do CMDCA local,
estabelecer um "fluxo" ou "protocolo" de atendimento interinstitucional, de modo que
sejam claramente definidas as providências a serem tomadas quando da notícia de casos
de violência contra crianças e adolescentes, assim como as responsabilidades de cada
um, de modo que o fato seja rapidamente apurado e a vítima receba o atendimento que
se fizer necessário por quem de direito. Em qualquer caso, é preciso ficar claro que
todos os órgãos, serviços e autoridades co-responsáveis pelo atendimento do caso
devem agir em regime de colaboração. É preciso, em suma, materializar a tão falada
"rede de proteção à criança e ao adolescente", através da articulação de ações e da
integração operacional entre os órgãos co-responsáveis.
• Pergunta: Tendo em vista o contido nos arts. 136, inciso I c/c 101, inciso I, do ECA,
o Conselho Tutelar pode promover a entrega de uma criança cuja guarda é disputada
pelos pais apenas à mãe, mediante "Termo de Compromisso Mediante
Responsabilidade"? E pode fazer isto para uma das avós, ou junto a terceira pessoa que
detenha apenas a guarda de fato da criança? Como proceder se o Conselho Tutelar
entende que uma decisão judicial que fixa a guarda em favor de um dos pais (ou de
terceiro) não está correta? E se o Conselho Tutelar constata que a criança está sendo
prejudicada em razão da demora excessiva na conclusão do processo?
Resposta: A definição da guarda de uma criança ou adolescente, seja quando esta é
disputada pelos pais, seja quando reivindicada por terceiro, é atribuição da autoridade
judiciária, e não do Conselho Tutelar, razão pela qual não pode este lavrar "termo de
compromisso mediante responsabilidade" como mencionado. Se o Conselho Tutelar for
procurado por alguém que deseja definir a guarda de uma criança ou adolescente, ou
constatar, e diligência, que alguém detém a "guarda de fato" em relação a uma criança
ou adolescente, sem que esta tenha sido concedida pelo Poder Judiciário, cabe ao órgão
apenas registrar o caso e encaminhá-lo imediatamente à apreciação da autoridade
judiciária (art. 136, inciso V, do ECA), podendo fazê-lo por intermédio do Ministério
Público (sempre via ofício, devidamente protocolado no órgão respectivo). Isto não
significa, no entanto, que o Conselho Tutelar deve deixar de acompanhar o caso, até
porque tanto a criança/adolescente quanto sua família, pode necessitar, antes do início
ou no curso de eventual procedimento judicial a ser instaurado, de medidas de proteção
específicas cuja aplicação continue sendo de atribuição do Conselho Tutelar (cf. art.
136, incisos I e II, do ECA). Em outras palavras, o fato de ter sido instaurado
procedimento judicial para definição/regularização de uma guarda (o que é de
competência exclusiva da autoridade judiciária), não retira do Conselho Tutelar o poder-
dever de exercer suas demais atribuições. Necessário, no entanto, que o Conselho
Tutelar atue com cautela e de forma articulada com a autoridade judiciária, de modo a
evitar a tomada de decisões conflitantes, que podem mesmo prejudicar as
crianças/adolescentes atendidas. Vale dizer que o exercício regular das atribuições do
Conselho Tutelar no que diz respeito ao acompanhamento da situação das crianças,
adolescentes e famílias atendidas, durante a tramitação do procedimento judicial, não
importa, a princípio, em violação do "segredo de justiça", até porque o Conselho Tutelar
não irá intervir no processo (e nem terá acesso aos autos, sem autorização judicial) e,
por ser um órgão de defesa dos direitos infanto-juvenis por excelência, certamente
saberá, por verdadeiro dever de ofício, guardar sigilo quanto a informações que obtiver
de qualquer das partes. A razão da existência do mencionado "segredo de justiça", por
certo, não é impedir que um órgão de defesa dos direitos infanto-juvenis, como é o caso
do Conselho Tutelar, exerça suas atribuições junto às crianças, adolescentes e famílias
atendidas. Como você sabe, a "atribuição primeira" do Conselho Tutelar é a de "zelar
pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente" definidos na Lei n°
8.069/90 (cf. art. 131, do ECA), o que vale inclusive para resguardá-los contra possíveis
violações praticadas pela autoridade judiciária (ou mesmo o Ministério Público). Vale
repetir, no entanto, que antes de mais nada é importante que o Conselho Tutelar
mantenha com o Poder Judiciário e com o Ministério Público (assim como junto a
outros integrantes do "Sistema de Garantias dos Direitos da Criança e do Adolescente")
uma relação de parceria, confiança e respeito mútuos, devendo buscar o entendimento e
a superação de possíveis conflitos que venham surgir. Sem entrar no mérito do caso em
particular relatado, caso o Conselho Tutelar, em reunião do colegiado, entender que
uma criança, adolescente ou família atendida está sendo vítima de omissão ou abuso por
parte do Poder Judiciário (inclusive no que diz respeito à demora excessiva na solução
do procedimento, que na forma do disposto nos arts. 4°, par. único, alínea "b" e 152,
par. único, do ECA e art. 227, "caput", da Constituição Federal, deve ter a mais absoluta
prioridade em sua instrução e julgamento), usando de sua atribuição elementar de
defender os direitos infanto-juvenis contra toda e qualquer conduta abusiva praticada,
inclusive por representantes do Poder Público - mesmo quando estes integram o Poder
Judiciário (cf. art. 98, inciso I c/c art. 136, incisos I e II, do ECA), e não for possível sua
solução com base no diálogo (que deve ser sempre tentado - de autoridade para
autoridade), lhe restará prestar a orientação devida à parte (de modo que esta, por meio
de advogado, peticione em Juízo e/ou maneje os recursos pertinentes) e, se não houver
outra alternativa, levar o caso ao conhecimento das instâncias de controle da atividade
jurisdicional, tanto no âmbito interno (via representação à Corregedoria Geral de
Justiça), quanto externo (via Conselho Nacional de Justiça).
• Pergunta: O que fazer quando do atendimento de um caso no qual o pai levou seu
filho embora e não dá direito da mãe ver a criança e nem passar as festas de Natal e
Páscoa, sendo que até os 09 (nove) anos de idade a mesma conviveu apenas com a mãe
e o pai jamais lhe prestou qualquer auxílio.
Resposta: Casos como o citado, no qual os pais disputam a guarda do filho, devem ser
resolvidos pela Vara da Família, e não pelo Conselho Tutelar (ou mesmo pela Vara da
Infância e da Juventude, ressalvada a hipótese do art. 148, par. único, alínea "d", do
ECA). Cabe ao Conselho Tutelar orientar a mãe a procurar um advogado, para pleitear
judicialmente o restabelecimento da guarda junto a ela. A princípio, não há como o
Conselho Tutelar interferir, até porque os estudos psicossociais necessários a aferir qual
dos pais detém melhores condições de ficar com a guarda do filho devem ser realizados
pela equipe técnica interprofissional a serviço do Poder Judiciário ou por intermédio de
técnicos das áreas da psicologia, assistência social e pedagogia a serviço do município.
O Conselho Tutelar não possui competência nem capacidade técnica para realização de
tais avaliações (a menos que seja composto por profissionais que possuam habilitação
nas áreas mencionadas). Vale dizer que mesmo os casos atendidos pelo Conselho
Tutelar, em regra, pressupõem a intervenção de profissionais das referidas áreas, pois
para RESOLVER o problema e assegurar a prometida "proteção integral" às crianças e
adolescentes atendidas, é necessário efetuar uma avaliação interprofissional criteriosa e
responsável. Evidente que, se durante o atendimento do caso, ficar evidenciado que o
detentor da guarda (pai, mãe ou terceiro) pratica abusos em relação às crianças e/ou
adolescentes sob sua responsabilidade, o caso deve ser também imediatamente
encaminhado ao Ministério Público, com um relatório pormenorizado da situação, para
que sejam tomadas as providências (também judiciais) destinadas a evitar que tal
situação perdure.
• Pergunta: O que fazer quando o Poder Público não cumpre as requisições de serviço
expedidas pelo Conselho Tutelar com fundamento no art. 136, inciso III, alínea "a", do
ECA?
Resposta: Se está havendo entraves quanto ao cumprimento das requisições de serviço
encaminhadas pelo Conselho Tutelar, o momento é oportuno para repensar a forma
como estas vêm sendo expedidas, e também para corrigir eventuais falhas no
funcionamento do órgão, que decorrem da falta de compreensão quanto ao seu papel
dentro do "Sistema de Garantias dos Direitos da Criança e do Adolescente", inclusive
por parte dos gestores públicos e servidores que atuam em diversos órgãos, programas e
serviços de atendimento. Com efeito, infelizmente muitos ainda vêem o Conselho
Tutelar como uma espécie de "comissariado de menores de segunda categoria", quando
na verdade, na forma da lei, o mesmo possui um "status" e diversos
poderes/prerrogativas funcionais (como a própria requisição de serviços públicos)
equiparados aos conferidos à autoridade judiciária, cuja função em muitos casos
substitui (cf. art. 262, do ECA). A verdadeira equiparação que a lei faz entre o Conselho
Tutelar e a autoridade judiciária pode ser sentida com particular intensidade quando da
análise não apenas do citado art. 262, do ECA, mas também dos arts. 236 e 249, do
mesmo Diploma Legal, que consideram restar caracterizado o mesmo crime "impedir
ou embaraçar" tanto a atuação de membro do Conselho Tutelar quanto da autoridade
judiciária (assim como do MP) e a mesma infração administrativa descumprir tanto
determinação da autoridade judiciária quanto do Conselho Tutelar. O considerável
poder conferido ao Conselho Tutelar, no entanto, vem acompanhado de uma enorme
responsabilidade, e isto deve se refletir na forma de atuação do Conselho Tutelar, que
deve ser voltada não apenas ao "atendimento" de casos individuais, com seu puro e
simples "encaminhamento" ao Ministério Público/Poder Judiciário ou mesmo com a
"aplicação de medidas" meramente "no papel", mas sim deve ser direcionada à efetiva
solução dos problemas e deficiências estruturais que o município apresenta, numa
perspectiva eminentemente preventiva e coletiva (inteligência do disposto nos arts. 131
e 136, inciso IX, do ECA). É importante ficar claro que aquilo que se encontra na esfera
de atribuições do Conselho Tutelar deve ser resolvido pelo próprio Conselho Tutelar,
com o indispensável apoio dos profissionais que atuam junto aos órgãos, programas e
serviços que integram a "rede de proteção" à criança e ao adolescente que todo
município tem o dever de implementar. Para que o Conselho Tutelar consiga
desempenhar esta atuação "resolutiva" dos casos sob sua responsabilidade, é
fundamental "racionalizar" a expedição das "requisições de serviços", de modo que esta
não seja "banalizada", e somente ocorra quando realmente não houver outra alternativa.
O correto não é "expedir requisições de serviço" para todo e qualquer caso atendido
pelo Conselho Tutelar, mas sim é fundamental que o Conselho Tutelar articule ações e
estabeleça "referenciais" junto aos diversos órgãos públicos e entidades encarregadas do
atendimento de crianças e adolescentes, de modo que, sempre que necessário (e como
regra), poderá acionar o serviço, programa ou profissional competente de forma direta,
sem que para tanto tenha de encaminhar uma "requisição" formal (pois esta tem força de
ordem de autoridade, e não pode ser "banalizada", até para que quando for efetivamente
necessário sua utilização, a mesma seja prontamente cumprida, vez que possui caráter
coercitivo), até porque cabe ao Poder Público proporcionar - espontaneamente (a teor do
disposto no art. 4º, caput, do ECA e art. 227, caput, da Constituição Federal - a
efetivação de tais direitos, por intermédio de políticas públicas materializadas nas mais
diversas ações, programas e serviços a serem implementados com a mais absoluta
prioridade, (inclusive sob pena de responsabilidade pessoal - civil, administrativa e
mesmo criminal do agente omisso, nos moldes do previsto nos arts. 5º, 208 e 216, do
ECA, sem prejuízo do ajuizamento de demanda específica quanto à obrigação de
fazer/não fazer). Falando em responsabilidade criminal, o descumprimento de uma
requisição de serviço expedida pelo Conselho Tutelar caracteriza, em tese, a prática do
crime de desobediência (cf. art. 330, do Código Penal), assim como da infração
administrativa tipificada no art. 249, do ECA.
• Pergunta: A quem deve ser dirigida a "requisição de serviço" expedida pelo Conselho
Tutelar?
Resposta: Uma "requisição de serviço" emanada do Conselho Tutelar não deve ser
encaminhada ao médico do posto de saúde, diretor de escola, técnico do CREAS/CRAS
CAPS ou outro programa/serviço público, mas sim ao Secretário Municipal titular da
"pasta" responsável pelo setor correspondente (saúde, educação, assistência social etc.),
a qual compete prestar espontaneamente, como dito acima, o atendimento à criança,
adolescente ou família. Para os profissionais e técnicos que atuam nos órgãos, serviços
públicos e programas de atendimento, devem ser efetuados meros encaminhamentos, a
partir de um contato prévio (que pode ser realizado via telefone, por exemplo), de
acordo com o "fluxo de atendimento" predefinido dentro da "rede de proteção à criança
e ao adolescente". Vale repetir que, em qualquer caso, seja ou não expedida pelo
Conselho Tutelar uma requisição de serviço, o atendimento deve ser efetuado
espontaneamente pelos serviços e órgãos públicos competentes, em caráter prioritário,
independentemente de qualquer "requisição" formal (até porque, como visto
anteriormente, na forma da lei e da Constituição Federal, os órgãos públicos têm o dever
de prestar um atendimento preferencial à criança e ao adolescente, devendo para tanto
adequar seus programas e serviços - cf. arts. 4º, caput e par. único, alínea "b" e 259, par.
único, do ECA e art. 227, caput, da CF).
Estrutura
• Pergunta: Como proceder quando o município não disponibiliza meios de transporte
para que o Conselho Tutelar efetue diligências em locais distantes?
Resposta: Isto é absolutamente inadmissível. O município tem o dever de proporcionar
condições adequadas ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar, de modo que
este tenha condições de cumprir a contento suas atribuições. Isto importa em
disponibilizar, 24 (vinte e quatro) horas por dia, condições de deslocamento imediato a
qualquer local onde seja necessário efetuar um atendimento, seja em virtude de uma
denúncia recebida, seja para fins de acompanhamento de casos ou mesmo de uma
atuação eminentemente preventiva (como também deve ser uma preocupação constante
do órgão). O ideal é que o Conselho Tutelar tenha veículo próprio (se possível, com
motorista à disposição), mas se isto não for possível, o mínimo indispensável é o
fornecimento de um veículo pertencente a outro setor da administração, com ou sem
motorista, capaz de ser utilizado sempre que necessário, sem qualquer entrave ou
demora na sua liberação. Vale lembrar que a área da criança e do adolescente deve
receber a mais absoluta prioridade por parte do Poder Público, o que implica na
"precedência de atendimento" nos serviços públicos ou de relevância pública (sejam
eles quais forem), de modo que qualquer ameaça ou violação de direitos assegurados a
crianças e adolescente seja - também prioritariamente - apurada e debelada. Isto é um
dever elementar do Poder Público, cujo descumprimento pode mesmo importar na
responsabilidade civil e administrativa do gestor (cf. arts. 4º, 5º, 208 e 216, do ECA).
Assim sendo, por intermédio do CMDCA local - ou mesmo diretamente junto à
Prefeitura -, o Conselho Tutelar deve cobrar (se necessário, com o apoio do Ministério
Público e outros órgãos e entidades que atuam na área da criança e do adolescente),
condições adequadas de funcionamento, incluindo, como mencionado, a colocação de
um veículo permanentemente à disposição do órgão, ainda que "cedido" por um ou mais
órgãos públicos (no caso de cessão, é sempre bom deixar mais de um veículo à
disposição, pois caso um esteja ocupado, outro será acionado), de preferência com
motorista. Para realização de diligências que demandem, por exemplo, o atendimento de
famílias ou de crianças e adolescentes com problemas de saúde, é admissível até mesmo
a eventual "requisição" de veículos a serviço dos setores de assistência social e saúde,
juntamente com os profissionais/técnicos que atuam junto a estes, que deverão
acompanhar o trabalho do Conselho Tutelar, valendo observar o disposto no art. 136,
inciso III, do ECA (sendo importante deixar claro que o Conselho Tutelar não é órgão
adequado para o "transporte" de crianças/adolescentes e suas respectivas famílias. É
também importante deixar claro que eventual "impedimento" ou "embaraço" à atuação
do Conselho Tutelar pode mesmo resultar na prática de crime (cf. art. 236, do ECA),
sendo necessário "convencer" os gestores (CMDCA, Secretários de Saúde e Assistência,
Prefeito etc.), que a área da infância e da juventude, por determinação legal e
Constitucional é prioritária, e o Poder Público tem o dever de organizar e adequar os
serviços destinados à efetivação de seus direitos, também de forma prioritária (cf. arts.
4º, 90, §2º e 259, par. único, do ECA). Em qualquer caso, o Ministério Público pode ser
acionado (em caráter oficial, mediante expediente a ser protocolado na Promotoria de
Justiça), para tomas as providências administrativas e mesmo judiciais que se fizerem
necessárias para que o Conselho Tutelar esteja adequadamente estruturado para prestar
o melhor atendimento à população infanto-juvenil local.
• Pergunta: O Conselho Tutelar deve contar com equipe interprofissional própria, para
realização da avaliação dos casos atendidos?
Resposta: O Conselho Tutelar, a exemplo do que ocorre com o Juiz da Infância e da
Juventude (conforme arts. 150 e 151, do ECA), deve ter uma equipe técnica
interprofissional permanentemente à sua disposição, pois a maioria dos casos atendidos
(senão todos), demanda uma avaliação técnica criteriosa, sob a ótica interdisciplinar
capaz de apontar as causas dos problemas enfrentados pela
crianças/adolescentes/famílias atendidos e as alternativas existentes para sua efetiva
solução (é preciso lembrar que intervenção do Conselho Tutelar no caso deve ser
resolutiva). A elevada complexidade dos casos atendidos pelo Conselho Tutelar não
mais admite o "improviso" e o "amadorismo" que imperavam sob a égide do revogado
"código de menores", sendo necessário primar pelo profissionalismo em todas as
intervenções realizadas. Vale dizer, inclusive, que não basta a simples "posse de um
Diploma" por parte do profissional, mas é fundamental que o mesmo seja qualificado e
preparado especificamente para o atendimento de demandas na área da infância e da
juventude, tendo ainda a sensibilidade e o compromisso necessários para efetiva solução
dos casos atendidos (a última coisa que queremos é que a intervenção de tais
profissionais ocorra de maneira meramente "formal" e "burocrática", sem o devido
empenho na busca da prometida e desejada "proteção integral" das crianças, adolescente
- e famílias - atendidas). O Conselho Tutelar é, em regra, composto por pessoas comuns,
representantes da sociedade que, a rigor (salvo disposição em contrário da legislação
municipal específica), sequer necessitam possuir qualquer nível de ensino (como aliás
ocorre com os demais cargos eletivos). Se a lei reconhece a necessidade de tal
assessoramento por equipe interdisciplinar para os Juízes que atuam na área da infância
e da juventude (que embora sejam formados em Direito não têm o conhecimento
necessário e nem condições de, sozinhos, encontrar as mencionadas soluções para os
problemas enfrentados pelas crianças e adolescentes atendidas - o que como dito
demanda a análise da matéria sob a ótica interdisciplinar), com muito mais razão tal
assessoramento é indispensável ao Conselho Tutelar. Caso, não seja possível dotar o
Conselho Tutelar de uma equipe própria lotada no órgão, deve ser assegurado a este o
acesso direto aos profissionais das áreas da pedagogia, psicologia e serviço social
lotados nos demais programas e serviços públicos municipais (CREAS/CRAS, CAPs,
Escolas etc.). Neste caso, é fundamental identificar, entre os referidos profissionais,
aqueles melhor qualificados (se necessário, deverá ser promovida sua qualificação
específica para o atendimento das mencionadas demandas na área da infância e da
juventude), para que, sempre que necessário, prestem o referido assessoramento ao
Conselho Tutelar, com a prioridade absoluta preconizada pelo art. 4º, caput e par. único,
alínea "b", do ECA e art. 227, caput, da Constituição Federal. É preciso lembrar, a
propósito, que o Conselho Tutelar (enquanto colegiado) é autoridade pública, por lei
equiparada à figura da própria autoridade judiciária e, assim como esta, pode requisitar
determinados serviços públicos (cf. art. 136, inciso III, alínea "a", do ECA). Cabe ao
CMDCA, portanto, promover a organização dos serviços públicos de modo que estes
priorizem o atendimento das crianças e adolescentes do município (cf. art. 259, par.
único, do ECA) e, é claro, os eventuais "encaminhamentos" e requisições de serviço
efetuadas pelo Conselho Tutelar.
Processo de Escolha
• Pergunta: É admissível a escolha dos membros do Conselho Tutelar pela via indireta,
por meio de uma "assembléia de entidades" que atendem crianças e adolescentes ou
algum outro colegiado?
Resposta: De maneira alguma. A escolha dos membros do Conselho Tutelar pela via
indireta é manifestamente inconstitucional. Com efeito, embora seja uma prática
bastante comum, a verdade é que a Lei nº 8.069/90 não dá margem para tal método de
escolha, que é flagrantemente contrário aos princípios democráticos que norteiam não
apenas o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente, mas a própria República
Federativa do Brasil. Os arts. 4º, 18, 70 e 88, inciso VII, do ECA são bastante claros ao
chamar todos à responsabilidade pela defesa dos direitos da criança e do adolescente, o
que compreende a participação no processo de escolha dos membros do Conselho
Tutelar, e o art. 131, do mesmo Diploma Legal deixa claro que é a sociedade (e não um
conjunto de representantes) que "encarrega" (ou dá legitimidade) o Conselho Tutelar da
defesa dos direitos infanto-juvenis. Se isto não bastasse, o art. 132, do ECA, é expresso
ao determinar que a escolha do Conselho Tutelar deve ser efetuada pela comunidade,
não admitindo assim restrições quanto à interpretação do alcance do termo
"comunidade", especialmente quando tal interpretação se mostra contrária às demais
normas e princípios democráticos (inclusive de ordem constitucional) que como dito
preconizam a participação de todos na defesa dos direitos infanto-juvenis. Por fim, se
não bastassem tais argumentos, é preciso lembrar que, quando o legislador estatutário
quis fazer referência à participação popular "por meio de organizações representativas",
o fez de maneira expressa, como é o caso do disposto no art. 88, inciso II, do ECA,
pondo assim um "ponto final" à questão (previsão similar é contemplada pelo art. 204,
inciso II, da Constituição Federal, que como sabemos, por força do disposto no art. 227,
§7º, da mesma Carta Magna, serve de fundamento à criação dos Conselhos de Direitos
da Criança e do Adolescente). A escolha dos membros do Conselho Tutelar por meio de
um "colégio eleitoral", portanto, não é permitida pela Lei nº 8.069/90 e se mostra
mesmo inconstitucional, não podendo assim ser prevista pela legislação municipal. E se
tal "colégio eleitoral" for pretensamente composto por "entidades de atendimento",
então, a coisa toma uma feição ainda mais absurda, pois uma das atribuições do
Conselho Tutelar (cf. art. 95, do ECA) é justamente fiscalizar tais entidades, sendo
desnecessário falar da impropriedade (para dizer o menos) de permitir que o
"fiscalizado" escolha quem será seu "fiscal". Um processo democrático de escolha dos
membros do Conselho Tutelar, com ampla participação da população (que deve ser
estimulada a comparecer às urnas), desde que bem conduzido (e cabe ao CMDCA, com
o apoio do Ministério Público zelar para que isto ocorra), constitui-se num momento
único para debater os problemas que afligem a população infanto-juvenil do município,
apresentando-se os candidatos como agentes públicos que irão lutar para melhoria das
condições de atendimento como um todo. A "plataforma eleitoral" dos candidatos
deverá ser precisamente esta luta (a adequada estruturação do município para atender -
com a prioridade absoluta devida - as demandas que afligem sua população infanto-
juvenil), e a "mobilização" da comunidade para escolha de seus conselheiros (e seus
desdobramentos) constitui-se numa das diretrizes da política de atendimento
preconizada pelo citado art. 88, inciso VII, do ECA. Um Conselho Tutelar escolhido por
um número significativo de eleitores, sem dúvida, terá muito mais legitimidade para o
exercício de suas funções políticas, e seguramente terá melhores condições de
reivindicar a citada melhoria das condições de atendimento à população. É claro que um
processo de escolha amplo e democrático é mais complexo que uma escolha realizada
por um "colégio eleitoral", composto por meia dúzia de entidades, muitas das quais já
"cooptadas" pelo poder político e econômico, mas tanto sob o mencionado ponto de
vista legal/jurídico quanto ideológico, é o único caminho possível. Com uma adequada
regulamentação, tanto por parte da lei quanto por parte da resolução do CMDCA
relativa ao processo de escolha (na página do CAOPCA/PR há um modelo de
recomendação administrativa a respeito, no item:
https://apps.mppr.mp.br/cpca/telas/ca_ct_modelos_4.php), é possível neutralizar a
maioria, senão todas as situações problemáticas usualmente verificadas, como o abuso
do poder político e econômico na campanha, a compra de votos, o transporte de
eleitores etc. Para finalizar, como forma de evitar a realização da escolha dos membros
do Conselho Tutelar juntamente com as "eleições gerais", basta prever que todo o
processo de escolha será realizado invariavelmente no primeiro semestre do ano, ainda
que a posse dos escolhidos somente ocorra no segundo semestre (servindo o tempo
entre a eleição e a posse, inclusive, para realização da indispensável qualificação
profissional e mesmo para que os conselheiros eleitos possam realizar uma espécie de
"estágio" junto aos conselheiros em exercício, de modo a aprender, na prática, algumas
particularidades da função). Ainda sobre a matéria, vide o disposto nos arts. 5º a 15, da
Resolução nº 139/2010, do CONANDA, que dispõe sobre os parâmetros para criação e
funcionamento dos Conselhos Tutelares em todo o Brasil.
• Pergunta: Pode um (suplente) de conselheiro tutelar que assumiu apenas cinco meses
do mandato anterior como Titular e mais um mandato inteiro, ser candidato novamente,
já que teve apenas um mandato completo?
Resposta: O art. 132, in fine, da Lei nº 8.069/90 claramente permite somente uma
recondução, sem mencionar qualquer período de exercício prévio de mandato. A partir
do momento em que algum dos conselheiros tutelares titulares se afasta, em definitivo,
da função, seja por morte, renúncia, destituição ou outro fator, e há a assunção do
suplente, este deixa de ser "suplente", e se torna conselheiro titular, com todas as
vantagens e ônus daí decorrentes, inclusive quanto à questão da recondução. O ex-
suplente, que passou à condição de titular, quando se candidata na nova eleição,
enquanto no exercício regular da função de conselheiro tutelar, estará sem dúvida se
candidatando à recondução, ficando assim impedido de apresentar nova candidatura na
eleição seguinte, sob pena de violação do disposto no citado art. 132, in fine, do ECA.
Se, por outro lado, o conselheiro suplente jamais assumiu a titularidade do Conselho, ou
seja, se apenas assumiu a função de conselheiro tutelar de forma transitória, durante as
férias, licenças ou impedimento momentâneo dos titulares (ainda que o cômputo total
dos períodos em que exerceu a função extrapole 60, 90 ou mais dias), e sequer estava no
exercício da função quando da deflagração do processo de escolha do novo Conselho
Tutelar, se for eleito neste pleito não estará sendo "reconduzido" à função, mas sim
exercendo, como titular, o primeiro mandato. Em tal caso, na eleição seguinte, terá
condições de se candidatar à recondução, a teor do disposto no citado art. 132, in fine,
do ECA, pois até então, tecnicamente, não havia sido "reconduzido" à função. Vale
dizer que a idéia básica da lei é evitar a perpetuação do conselheiro na função, mas
como qualquer regra restritiva do exercício de direitos individuais (no caso, verdadeiros
direitos políticos), deve ser a mesma interpretada e aplicada também de forma restritiva.
• Pergunta: O que fazer quando a Promotoria diz que os casos encaminhados são
problemas sociais e não do Ministério Público (abuso, indisciplina e outros bem
comuns) e a maioria das vezes diz que não tem o que fazer. Também nunca participa
das reuniões e nada que diz respeito a criança e adolescente, principalmente da rede
social e é totalmente a favor da opinião que o Conselho Tutelar é subordinado ao
Promotor.
Resposta: Há de se respeitar a opinião e a visão pessoal e profissional de cada membro
do Ministério Público, que possui independência funcional para desenvolver o seu
trabalho. Infelizmente, o acúmulo de atribuições e uma estruturação equivocadamente
ainda muito voltada para atenção às atividades processuais em detrimento das atividades
extrajudiciais faz com que muitas vezes a infância não receba a prioridade que merece.
Inexiste subordinação entre Conselho Tutelar e Ministério Público, da mesma forma em
relação ao Poder Judiciário, ocorrendo apenas exercício de papéis e funções distintos. O
Conselho Tutelar se constitui numa instituição democrática essencial ao Sistema de
Garantias dos Direitos da Criança e do Adolescente, sendo por lei equiparado em
importância (e mesmo em algumas prerrogativas funcionais - como é o caso do art. 136,
inciso III e alínea "a", do ECA) ao Ministério Público e à autoridade judiciária (valendo
neste sentido observar que constitui o mesmo crime "impedir ou embaraçar a ação de
autoridade judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do Ministério
Público..." e a mesma infração administrativa "descumprir dolosa ou culposamente...
determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar" - cf. arts. 236 e 239, do
ECA, respectivamente). Equívocos quanto ao papel do Conselho Tutelar dentro do
referido Sistema de Garantias devem ser corrigidos a partir do diálogo com as demais
instituições que o integram, que precisam agir em regime de colaboração, a partir do
respeito mútuo e da compreensão de que inexiste, entre Conselho Tutelar, Ministério
Público e Poder Judiciário, relação de subordinação, mas pura e simplesmente relação
de parceria. Sempre que a participação do representante do Ministério Público (ou da
autoridade judiciária) se fizer necessária em determinada reunião do CMDCA, deve ser
efetuado um convite pessoal, em que se procure enfatizar a importância de tal
participação. Vale dizer que, há muitos anos, já existe uma recomendação, por parte da
Corregedoria Geral do Ministério Público, relativa à necessidade de tal participação
(recomendação nº 04/1999, que pode ser acessada pelo link:
https://site.mppr.mp.br/crianca/Pagina/Recomendacao-no-041999-CGMPPR).
Importante deixar claro, no entanto, que a participação do Ministério Público nas
reuniões do CMDCA está inserida num contexto mais abrangente, de fiscalização do
adequado funcionamento do órgão, no cumprimento de seus deveres institucionais (e
constitucionais), notadamente quanto à deliberação acerca das políticas públicas a serem
implementadas na área da infância e juventude pelo município. Embora o Ministério
Público (assim como o Conselho Tutelar) possa "pautar" temas a serem abordados nas
reuniões do CMDCA (notadamente quanto às deficiências estruturais detectadas), não
lhe cabe prestar "assessoria" (diante da vedação contida no art. 129, inciso IX, da CF),
devendo, ao contrário, zelar por sua "emancipação", como órgão de defesa dos direitos
da criança e do adolescente por excelência, que deve atuar com autonomia e isenção na
busca de melhores condições de atendimento e de vida para população infanto-juvenil
local.
• Pergunta: O que fazer quando o Conselho Tutelar representa, por exemplo, os pais,
por algum motivo e o "Juízo" diz que não vale a pena representar porque a penalidade
muitas vezes é multa e os pais são pobres.
Resposta: O Conselho Tutelar deve exercer suas funções e cumprir o seu papel com
autonomia. Não há espaço para discricionariedade na atuação do Conselho Tutelar, ou
seja, não age ele movido por conveniência e oportunidade, mas sim cumprindo com
suas atribuições, tal como previsto nos arts. 95, 131, 136, 191 e 194, do ECA. Em
constatando situações de infrações administrativas ou criminais é dever do Conselho
Tutelar representar buscando adoção das providências. Eventual inconformidade com as
penalidades disponíveis de parte dos operadores da infância e juventude não pode inibir
a atuação, mas sim implicar na mobilização da sociedade e provocação do Poder
Legislativo para o devido aperfeiçoamento normativo. Eventual rejeição da
representação oferecida (verdadeira petição inicial de um procedimento especial
previsto no ECA, para qual o Conselho Tutelar possui uma "capacidade postulatória"
sui generis), deve ser atacada por intermédio do recurso próprio, que pode ser manejado,
inclusive, pelo Ministério Público. As representações oferecidas pelo Conselho Tutelar
devem ser devidamente protocoladas em cartório (permanecendo a cópia do protocolo
em seu poder), e o Conselho Tutelar tem o direito de ser intimado das audiências e
decisões respectivas.
Registros Públicos
• Pergunta: Como agir quando a criança não pode ser registrada porque sua declaração
de nascido foi perdida? Temos dois casos assim e o Ministério Público ainda não
resolveu...
Resposta: Para qualquer documento civil perdido ou extraviado existe possibilidade de
expedição de segunda via, uma vez que os documentos originais ficam conservados e
guardados junto ao cartório de registro civil. Mesmo quando por alguma situação
extraordinária perde-se o registro dentro do próprio cartório ainda assim é possível que
se reconstitua o registro civil mediante processo judicial, contanto que sejam produzidas
provas necessárias. É importante lembrar que, por força do disposto no art. 10, inciso I,
do ECA, os hospitais e maternidades têm o dever de manter o registro das atividades
desenvolvidas junto a crianças e adolescentes pelo prazo mínimo de 18 (dezoito) anos,
inclusive sob pena da prática do crime tipificado no art. 228, do ECA, assim como o
dever de fornecer a declaração de nascimento, que servirá de base ao registro civil (cf.
art. 10, inciso IV, do ECA), também sob pena da prática do mesmo crime. Como o
fornecimento de tal declaração é essencial ao registro civil e, como tal, ao exercício de
um direito básico do cidadão, a mesma deve ser fornecida gratuitamente, a rigor, sem a
necessidade de intervenção do Ministério Público ou do Poder Judiciário, mesmo no
que diz respeito à "segunda-via" do documento. Assim sendo, o Conselho Tutelar pode,
por iniciativa própria, diligenciar diretamente junto à maternidade ou hospital onde a
criança nasceu, de modo a obter a segunda-via da declaração de nascido vivo, podendo
mesmo, se necessário, requisitar a expedição de tal documento, usando para, por
analogia, o contido no art. 136, inciso VIII, do ECA (partindo do princípio elementar de
que, se o Conselho Tutelar pode o mais, que é requisitar a segunda-via da certidão de
nascimento, seguramente também pode o menos, que é requisitar a segunda-via da
declaração de nascido vivo, com base no que será aquele documento lavrado no
Cartório do Registro Civil). Em qualquer caso, é importante deixar claro que o
Conselho Tutelar não tem atribuição de requerer (ou requisitar) a expedição do
documento ou lavratura do registro civil, mas apenas de obter as "segundas-vias"
respectivas. Se for necessário lavrar o registro original e/ou houver dúvida quanto à
paternidade/ maternidade, o caso deve ser encaminhado ao Ministério Público.
Polícia
• Pergunta: Qual seria a reação da Policia perante o adolescente? "O policial bate em
adolescente".
Resposta: A relação da policia para com o adolescente enquanto sujeito de direitos
deve ser de respeito, como em qualquer serviço público. A idéia de que a policia por
vezes excede do seu papel e viola direito das crianças e adolescentes merece ser
combatida, e eventuais abusos praticados devem ser punidos com rigor. O policial é,
também, um "educador", e como tal deve dar o exemplo e exercer sua autoridade sem
"autoritarismo", sem prejuízo da apreensão do adolescente e seu encaminhamento para
autoridade policial. Da mesma forma que Conselho Tutelar, Ministério Público e Poder
Judiciário somente podem aplicar sanções e medidas aos adolescentes após devida
fundamentação, no papel, obviamente que policial também deve respeitar todo e
qualquer criança e adolescente na sua integridade física, sob pena da prática de crime
(abuso de autoridade, lesão corporal, constrangimento, nos moldes do previsto no art.
232, do ECA, tortura etc.) e de improbidade administrativa que, inclusive, pode custar a
perda do cargo público do policial. O adolescente acusado da prática de ato infracional
deve ser responsabilizado na forma da lei, e pode mesmo ser privado de liberdade, mas
isto não autoriza a polícia a violar outros de seus direitos fundamentais. Vale dizer que
tal orientação também é válida em relação a adultos e decorre do princípio da dignidade
da pessoa humana, de alcance universal.
Educação
• Pergunta: O aluno briga em um colégio imediatamente pede transferência para outro,
a mãe alega que ele está sendo ameaçado, mas as outras escolas sempre dizem que não
tem vaga, pois sabe que é um aluno-problema, mas ele diz que não estuda no mesmo, o
que fazer?
Resposta: As situações de brigas e desentendimentos entre alunos integram o ambiente
escolar "desde que o mundo é mundo" e, embora indesejáveis, precisam ser
administradas pelos próprios recursos humanos da escola, pelos Conselhos Escolares,
enfim, pelo estabelecimento deu um processo de diálogo, pedagógico e restaurativo
envolvendo toda a comunidade escolar, incluindo pais, alunos, profissionais da
educação, equipe pedagógica etc. Independentemente do caso, é direito de qualquer
adolescente estudar, é dever do Estado e do Poder Público criar condições para que este
acesso e permanência na escola se efetivem, até mesmo porque é a inclusão escolar com
freqüência e aproveitamento que vai criar condições para que o adolescente desenvolva
um "projeto de vida responsável", expressão muito bem cunhada pelo doutrinador
Mário Ramidoff, colega de Ministério Público. Diante de situações como a relatada,
cabe não apenas à escola, mas ao órgão gestor do Sistema de Ensino (Secretarias
Municipal ou Estadual de Educação) encontrar uma solução para o problema, fazendo
com que o aluno seja, antes de mais nada, submetido a uma avaliação (e orientação)
psicopedagógica que permita avaliar se a transferência solicitada é de fato necessária
e/ou se constitui na melhor alternativa. Paralelamente, deve ser realizado (não apenas
pela escola, mas também por outros órgãos integrantes da "rede de proteção à criança e
ao adolescente" que o município tem o dever de instituir e manter) um trabalho de
orientação e apoio junto à família do aluno, assim como, em qualquer caso, em sendo o
jovem identificado como um "aluno-problema" (de forma preconceituosa e
absolutamente inadmissível, à luz das disposições contidas no ECA e na LDB, com a
postura que se espera daqueles que têm a missão de educar, em toda amplitude
preconizada pelo art. 205, da Constituição Federal), será necessário realizar um trabalho
junto aos diretores de escola e professores, para que cesse de imediato qualquer postura
preconceituosa ou discriminatória em relação ao mesmo (assim como junto a outros
alunos que se encontrem em situação semelhante). Alunos tidos como "problema" ou
indisciplinados são, seguramente, aqueles que mais necessitam de uma educação formal
de qualidade, sendo certo que, para tanto, os educadores precisam estar também
qualificados e conscientes de seu papel. A exemplo do que foi dito anteriormente, é
preciso identificar as causas do problema e enfrentá-las, seja com os recursos escolares
(muitos dos problemas estão relacionados à baixa qualidade do ensino e/ou ao
despreparo dos professores para atender seus alunos de forma adequada), seja com o
apoio dos programas e serviços disponíveis dentro da mencionada "rede de proteção"
(CREAS/CRAS, CAPs, unidade básica de saúde etc.).
• Pergunta: Qual é a sua visão em relação ao FICA tendo em vista que as escolas
enviam aos Conselhos Tutelares as fichas de alunos ausentes sem antes esgotarem os
recursos escolares conforme artigo 56 do ECA.
Resposta: A FICA (Ficha de Comunicação de Aluno Ausente) é apenas um
instrumento de notificação, que deve fazer parte de um programa (e de uma política
pública) mais abrangente, desenvolvido pelas escolas e pelo Sistema de Ensino no
sentido do combate à evasão escolar. O êxito da FICA depende muito da articulação,
integração e comunicação dos membros de toda a rede. Família, escola, Conselho
Tutelar, Ministério Público, Poder Judiciário, cada um tem o seu papel a cumprir.
Qualquer um que deixar de cumprir com a sua função sem esgotar os recursos e os
esforços acaba frustrando o objetivo do FICA, que é justamente manter o acesso e a
inclusão escolar da criança e adolescente. Da mesma forma que o Conselho Tutelar não
deve encaminhar os casos ao Ministério Público sem cumprir com o seu papel, é muito
importante que a escola trabalhe os casos por sua equipe pedagógica e realmente esgote
as diligências que lhe são exigíveis antes de repassar o caso ao Conselho Tutelar. A
sugestão é que o Conselho Tutelar, se necessário com o apoio do CMDCA, do Conselho
Municipal de Educação, da Secretaria Municipal de Educação e do Escritório Regional
da Secretaria de Estado da Educação (assim como do Ministério Público), promova uma
reunião com os diretores das escolas das redes públicas municipal e estadual, de modo a
esclarecer o papel da "escola", do "órgão gestor" da área da educação (Secretaria
Municipal e Escritório Regional), do Conselho Tutelar e de outros órgãos públicos
(diga-se, da "rede de proteção à criança e ao adolescente" que o município tem o dever
de instituir) tanto na prevenção quanto no combate à evasão escolar. Devem ser
estabelecidas quais as "estratégias de atuação" cada um deve desempenhar, devendo
ficar claro, desde logo, que as principais iniciativas devem ficar a cargo da escola, que
não pode se limitar a "preencher a ficha" (não raro, com bastante atraso), e "encaminhá-
la" ao Conselho Tutelar, após uma intervenção meramente "formal" (quando muito)
junto ao aluno e/ou sua família. O compromisso da escola (assim como dos demais
"atores" mencionados), deve ser com o resultado, e este somente será alcançado com o
retorno do aluno à sala de aula, da forma mais rápida possível. Por ocasião da referida
reunião devem também informadas quais as providências que estão sendo hoje tomadas
pelas escolas para promover a reintegração escolar, se existe alguma "estrutura de
apoio" às escolas (e às famílias) de modo a assegurar o êxito na reintegração (ou seja, se
há previsão - e/ou se está efetivamente ocorrendo - a intervenção de outros integrantes
da "rede de proteção à criança e ao adolescente" no processo de reintegração), assim
como devem ser avaliados os resultados (diga-se o "índice de sucesso") do trabalho que
vem sendo desenvolvido. É preciso ficar claro que não é com o encaminhamento do
caso ao Conselho Tutelar (e muito menos, num momento posterior, ao Ministério
Público e/ou ao Poder Judiciário), que o problema da evasão escolar será solucionado,
mas sim com a implementação de uma política pública específica destinada a preveni-lo
e combatê-lo, o que passa, necessariamente, pela qualificação dos professores e pela
articulação (cf. art. 86, do ECA) das escolas à mencionada "rede de proteção" à criança
e ao adolescente, de modo que sejam descobertas e combatidas suas causas, que podem
estar relacionadas a fatores internos e/ou externos à escola.
• Pergunta: Peço que esclareça a questão que muitos conselhos ainda servem de "táxi",
levando e buscando crianças e adolescentes de um Município para outro, inclusive
adolescentes acusados da prática de atos infracionais que são encaminhados para
unidades de internação. O Conselho deve fazer isso?
Resposta: Como qualquer órgão de atendimento ou serviço, evidente que o transporte
de crianças e adolescentes, pais ou responsáveis, especialmente quando do atendimento
de alguma situação ou ocorrência, é algo bastante corriqueiro na atividade do Conselho
Tutelar. A dinâmica da função exige deslocamento e muitas vezes transporte das partes
envolvidas. Agora, claro, que este transporte sempre deve se dar de acordo com as
atribuições do Conselho Tutelar, não como realização de serviço e atividade que, a
rigor, competiria a outros órgãos do Poder Executivo (por exemplo, assistência social,
saúde etc). Somente em situações excepcionais de necessidade das partes, de
inexistência de meios alternativos de transporte, observado sempre o bom-senso, é que o
Conselho Tutelar pode transportar crianças, adolescentes, pais ou responsáveis
diretamente envolvidos com o seu trabalho. Viagens e deslocamentos intermunicipais
por vezes são necessários, seja para regularizar uma guarda, seja porque um adolescente
fugiu do seu domicílio de origem e precisa retornar em segurança, porém devem ser
realizados por veículo próprio e motorista habilitado da prefeitura. Crianças e
adolescentes não devem ser conduzidos a outros municípios pelo Conselho Tutelar, que
a embora tenha a atribuição de "aplicar" a medida prevista no art. 101, inciso I, do ECA,
não deve executá-la, pois esta (a execução da medida, no caso, com a tomada das
providências necessárias à sua efetivação, como a entrega dos adolescentes a seus pais),
deve ficar a cargo de órgão, programa ou serviço próprio do município, cuja intervenção
se necessário, poderá ser inclusive requisitada junto ao setor competente da Prefeitura,
ex vi do disposto no art. 136, inciso III, alínea "a", do ECA). Nunca podemos perder de
vista que o Conselho Tutelar não é programa de atendimento, tendo a atribuição de
aplicar - e não de executar, ele próprio, as medidas que aplica. Ainda que apenas para
argumentar se admitisse a possibilidade do transporte de adolescentes para outros
municípios ser realizado pelo Conselho Tutelar, teríamos que considerar que, em regra,
o órgão não dispõe de estrutura nem de recursos próprios e/ou adequados para
"executar" este tipo de medida, isto sem falar que a utilização de um membro do
Conselho Tutelar como "motorista/ condutor de adolescentes", a rigor, não é garantia
alguma que não haverá fugas e/ou que não surgirão outros problemas relacionados ao
transporte, isto sem falar no considerável risco de "obrigar" um conselheiro tutelar que
nem sempre tem "experiência no volante" a efetuar uma viagem intermunicipal por
vezes longa, com veículos que, quase sempre, encontram-se em precárias condições de
manutenção. Como casos semelhantes, em que é necessário o transporte de adolescentes
para outros municípios são comuns, o correto é que o CMDCA, ao invés de "exigir" do
Conselho Tutelar a efetivação do mesmo, em condições flagrantemente inadequadas (e,
como dito, mesmo perigosas para o próprio "transportado"), elabore uma política
pública específica a respeito, com a definição de um "fluxo" de atendimento, que
contemple, em primeiro lugar, o contato com os pais ou responsável pelas crianças ou
adolescentes a serem transportados, pois são aqueles que, a rigor, devem buscas os seus
filhos (ou, no caso de adolescentes encontrados em municípios diversos, cujos pais
residam no seu município, são estes que devem apanhá-los no local), sem prejuízo da
possibilidade do custeio do deslocamento do responsável e do transporte da criança ou
adolescente pelo Poder Público local, em se tratando de famílias carentes. Vale destacar
que, por força do disposto no art. 100, par. único, inciso IX, do ECA, a intervenção
estatal neste e em outros casos deve ser efetuada de modo que os pais assumam suas
responsabilidades em relação a seus filhos, e semelhante abordagem "primária"
(verdadeiro "plano A") deve ser sempre tentada, sendo precedida de uma orientação
adequada aos pais ou responsável, sobre como proceder (cf. art. 100, par. único, inciso
XI, do ECA), a oitiva da criança ou adolescente sobre os motivos de sua conduta (cf.
art. 100, par. único, inciso XII, do ECA), bem como de um acompanhamento posterior
do caso, para identificar a presença de uma das hipóteses de "situação de risco"
previstas no art. 98, do ECA e evitar possíveis problemas junto à família decorrentes da
conduta do adolescente. A referida política pública deve contemplar a forma de
abordagem dos adolescentes e seus pais ou responsáveis e, como dito, se necessário, o
custeio das passagens ou fornecimento dos meios para que estes - pessoalmente -
busquem seus filhos onde quer que eles se encontrem. Como toda "boa política", no
entanto, ela também deve contemplar alternativas a esta "abordagem primária"
(estabelecendo um "plano B", "plano C" etc.), e uma delas sem dúvida deve ser a
designação - e devida capacitação - de um servidor municipal lotado em um programa
específico que venha a ser criado (do tipo "educador social"/"abordagem de rua"ou
coisa parecida) ou, na falta deste, dos quadros da Secretaria de Assistência Social (cujo
serviço pode ser até requisitado pelo Conselho Tutelar para efetuar tal atividade - cf. art.
136, inciso III, alínea "a", do ECA) para, sempre que necessário, efetuar semelhante
abordagem e posterior transporte em veículo próprio da Prefeitura (sem prejuízo de, em
se tratando de adolescentes em conflito com a lei que tenham de ser conduzidos a
unidades próprias de internação e/ou para audiências no Fórum, também da "escolta"
pela Polícia Militar, que em tais casos será SEMPRE necessária, por ser esta, antes de
mais nada, matéria de segurança pública). Em qualquer caso, o transporte - notadamente
intermunicipal, não deve ser realizado pelo Conselho Tutelar, sendo que dialogando
com os demais integrantes do "Sistema de Garantias dos Direitos da Criança e do
Adolescente", e usando os argumentos supra (e o importante é buscar o diálogo e o
entendimento - e não pura e simplesmente "negar" o atendimento), seguramente estes
compreenderão que exigir do Conselho Tutelar semelhante atividade anômala é
absolutamente injustificável, quer sob o ponto de vista jurídico, quer sob o ponto de
vista prático, pois de qualquer modo, no caso de adolescentes em conflito com a lei, terá
de haver escolta policial, em veículo diverso daquele utilizado pelo Conselho Tutelar
(ou o Conselho Tutelar ficará sem veículo para atender as ocorrências do município
durante o período em que o transporte - viagem de ida e volta - estiver sendo
realizado???), com a utilização de motorista habilitado para o transporte
intermunicipal (dos quadros próprios da Prefeitura).
• Pergunta: O que fazer quando uma pessoa (homem) quer ensinar o Conselheiro a
trabalhar, desenvolver e se exalta bravo? As vezes dá vontade de ser ríspidos. Temos
conhecimento até considerável...
Resposta: O Conselheiro Tutelar é autoridade pública e como tal precisa ser respeitado.
Qualquer tentativa de orientação ou sugestão de atuação deve ser feita de forma
respeitosa e persuasiva, tendo por base a autoridade do argumento, não simplesmente o
fato do argumento emanar desta ou daquela autoridade. O Conselho Tutelar precisa ser
aprimorado, sempre, como qualquer instituição pública, mas também muitas vezes não
pode ser subestimado, especialmente por quem muitas vezes não tem intimidade e
conhecimento suficiente na área da infância e juventude, insegurança que, por vezes,
gera uma atitude defensiva ou excessivamente impaciente com perguntas,
questionamentos, etc.
• Pergunta: O que fazer quando o Conselho Tutelar assessora o poder público com
diagnóstico e isto não se traduz em programas e projetos necessários às garantias dos
direitos?
Resposta: O Conselho Tutelar deve fiscalizar as ações e omissões do Poder Público,
especialmente quando estas causam situação de vulnerabilidade a crianças e
adolescentes. A falta de ações e políticas públicas eficientes para atenção da população
infanto-juvenil deve implicar na cobrança de providências do Poder Executivo. Caso
este se omita, o problema deve ser levado ao conhecimento do Poder Legislativo, ao
Tribunal de Contas, ao Conselho Municipal de Direitos da Criança e Adolescente e,
sobretudo, ao Ministério Público, pois todos estes órgãos, cada qual no seu papel e na
sua função, podem tomar medidas e providências para corrigir e sanar a inércia ou falta
de responsabilidade do Poder Executivo exercer o seu papel administrativo, que abrange
a proposta e formulação de políticas públicas para área da infância e juventude.
Importante também ter em mente que os membros do CMDCA (órgão ao qual incumbe
a elaboração e controle da execução da política de atendimento à criança e ao
adolescente em âmbito municipal), são considerados "agentes públicos" para fins de
incidência da Lei nº 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) e "funcionários
públicos" para fins penais, respondendo tanto por ação quanto por omissão no
cumprimento de seus deveres funcionais. Assim sendo, se após devidamente provocado
pelo Conselho Tutelar (ou outro órgão), no sentido da elaboração de determinada
política pública destinada ao atendimento de crianças, adolescentes e famílias, o
CMDCA se omite em fazê-lo, seus integrantes podem responder administrativa, civil e
mesmo criminalmente por sua conduta lesiva aos interesses infanto-juvenis. Deve ficar
claro que todas as "provocações" encaminhadas ao CMDCA pelo Conselho Tutelar
devem ser devidamente protocoladas no referido órgão, assim como deve ser solicitada,
por ocasião de suas reuniões deliberativas ordinárias e extraordinárias, manifestação
verbal do representante do Conselho Tutelar quanto aos maiores problemas e
deficiências existentes dentro da estrutura de atendimento à criança e ao adolescente
(que cabe ao CMDCA corrigir, por intermédio das políticas públicas que lhe incumbe
deliberar), a ser devidamente registrada em ata. Orientação semelhante é válida em
relação à atuação do Conselho Tutelar junto ao Conselho Municipal de Assistência
Social - CMAS, que também possui um papel preponderante na elaboração e
implementação de políticas e programas destinados ao apoio às famílias (devendo para
tanto agir de forma articulada com o CMDCA, a partir de informações acerca da
"realidade" local fornecidas pelo Conselho Tutelar e outras fontes).
• Pergunta: Como o Conselho Tutelar pode desmitificar sua atuação, a qual é sempre
mal vista por muitos pais, crianças e adolescentes? É que os mesmos não veem como
proteção a atuação do Conselho Tutelar.
Resposta: Uma boa forma de "desmistificar" o papel do Conselho Tutelar é estabelecer
uma "parceria" com as Secretarias de Educação e com as escolas, de modo a esclarecer
a todos (incluindo os alunos seus pais e professores) acerca das atribuições do Conselho
Tutelar na "defesa e promoção de direitos" infanto-juvenis. Seria possível, a partir desta
parceria, elaborar cartilhas e manuais de orientação, no espírito do preconizado pelo art.
32, §5°, da Lei n° 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB), segundo
o qual: "O currículo do ensino fundamental incluirá, obrigatoriamente, conteúdo que
trate dos direitos das crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069,
de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente, observada
a produção e distribuição de material didático adequado". Seria também uma
oportunidade de definir "fluxos" de atendimento entre as escolas e o Conselho Tutelar,
que serviriam para evitar o acionamento indevido deste, diante de problemas que a rigor
deveriam ser resolvidos - pedagogicamente - no âmbito das próprias escolas (ou, ao
menos, no âmbito do Sistema de Ensino), ou a partir do acionamento de outros
"equipamentos" da "rede de proteção" DIRETAMENTE pelas próprias escolas (sem a
necessidade de "triangulação" via Conselho Tutelar - vide o "princípio da intervenção
mínima", relacionado no art. 100, par. único, inciso VII, do ECA). A partir de uma
articulação/integração operacional entre o Conselho Tutelar e as escolas/Sistema de
Ensino, seria possível, enfim, otimizar e qualificar a intervenção do Conselho Tutelar na
área da educação, de modo a "focar" na prevenção e nas questões coletivas, trazendo
benefícios a todos, em especial às crianças, adolescentes e famílias atendidas.
• Pergunta: Sou conselheira tutelar e preciso de uma ajuda no que diz respeito ao
depoimento de adolescentes em delegacia. Sei que o adolescente em conflito com a lei
tem direito a presença de um responsável, ou na falta dele, a presença de um conselheiro
tutelar no momento de seu depoimento. Já procurei em todo o E.C.A. e não consigo
encontrar onde fala especificamente sobre esse assunto. Estamos com problemas em
nosso município sobre isso, pois o Conselho Tutelar só é acionado, quando o
adolescente já foi ouvido (sem a presença de nenhum responsável) e esta liberado.
Sabemos que isso não é permitido, porém preciso do n° da lei, artigo ou inciso, para nos
fundamentarmos para podermos informar o Ministério Público de nossa comarca.
Agradeço desde já a atenção e aguardo um retorno, pois temos um bem comum que é
assegurar que os direitos das crianças e adolescentes sejam cumpridos na sua totalidade.
Resposta: Sugiro que vocês consultem a página do CAOPCAE/PR na internet, onde no
tópico relativo ao Conselho Tutelar abordamos esta e outras situações envolvendo a
atuação do Conselho Tutelar junto a adolescentes acusados da prática de ato infracional.
Uma questão preliminar diz respeito à efetiva realização de diligências, por parte da
polícia, no sentido da identificação, localização e acionamento dos pais/responsável
pelo adolescente, para que sejam estes chamados a comparecer na delegacia não apenas
para acompanhar o ato da lavratura do boletim de ocorrência/auto de apreensão em
flagrante, mas também para que o adolescente, quando liberado, seja a eles formalmente
"entregue", com a assinatura de "compromisso de apresentação ao Ministério Público",
para sua oitiva informal (cf. art. 174, primeira parte, do ECA). Vale dizer que a
"entrega" aos pais/responsável, assim como a obtenção do "compromisso" de
comparecimento perante o MP é tarefa que incumbe À AUTORIDADE POLICIAL (e
não ao Conselho Tutelar), inclusive sob pena da prática do CRIME do art. 231, do ECA,
devendo esta, usando o aparato do qual dispõe a polícia civil, realizar as diligências
necessárias ao cumprimento de seu DEVER (e não "delegá-las" ao Conselho Tutelar).
Caso mesmo assim não sejam localizados os pais, deverá ser então indagado ao
adolescente se deseja chamar alguém (adulto de sua confiança, podendo ser parente ou
não) para acompanhar a lavratura do boletim de ocorrência/auto de apreensão, e
somente se não for possível também acionar/localizar tal pessoa é que se poderá cogitar
do acionamento do Conselho Tutelar (a rigor nada impedindo que, mesmo em tais
casos, se o adolescente tiver de ser encaminhado a entidade de acolhimento
institucional, seja chamado o responsável por ela - ou mesmo um "educador social")
para tanto. Como se pode ver, o acionamento do Conselho Tutelar em tais casos se
constitui numa EXCEÇÃO, e não em uma regra, sendo certo que, mesmo acionado, o
Conselho Tutelar deverá zelar para que os pais/responsável compareçam à delegacia
para as providências mencionadas, não sendo correto que pura e simplesmente
"substitua" o papel (insubstituível, por sinal) que cabe aos pais/responsável (vide os
princípios relacionados no art. 100, par. único, incisos IX e X, do ECA) e/ou que sirva
unicamente de "táxi" para os adolescentes apreendidos (levando-os às suas casas ou à
entidade de acolhimento). Necessário, portanto, que vocês procurem a autoridade
policial e estabeleçam, se necessário, com o apoio do Ministério Público (que poderá,
inclusive, expedir uma "recomendação administrativa" sobre o tema à autoridade
judiciária - cf. art. 201, §5°, alínea "c", do ECA), um "fluxo" de atendimento que, na
forma da lei, preveja a realização de diligências no sentido da localização dos
pais/responsável (ou, na falta destes, de pessoa de confiança indicada pelo próprio
adolescente), para que estes acompanhem a lavratura do boletim de ocorrência/auto de
apreensão (devendo ficar claro que é necessário aguardar o comparecimento destes para
formalizar o ato), e para que assinem o "termo de entrega e compromisso de
apresentação ao Ministério Público" lavrado PELA AUTORIDADE POLICIAL, com a
previsão do acionamento do Conselho Tutelar APENAS quando, por qualquer razão,
não for possível a localização dos pais/responsável/pessoa de confiança e não for
possível o acionamento do responsável pela entidade de acolhimento/educador social
que, na falta das pessoas anteriormente indicadas, deveria ser também chamado a
intervir. Deve ser também estabelecido que, mesmo localizados os pais/responsável, o
Conselho Tutelar poderá ser acionado num momento POSTERIOR (não para o fim de
acompanhar a lavratura do flagrante), caso a autoridade policial verifique indícios da
presença de alguma das hipóteses relacionadas no art. 98, do ECA, o que também
deverá ser devidamente justificado (valendo observar, em qualquer caso, o "princípio da
intervenção mínima", relacionado no art. 100, par. único, inciso VII, do ECA).
Atualizado em 05 OUT 2012
Sobre o autor:
Murillo José Digiácomo é Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do
Paraná, integrante do Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do
Adolescente (CAOPCA/MPPR) e membro da Associação Brasileira de Magistrados e
Promotores de Justiça da Infância e da Juventude - ABMP.
Fone: (41) 3250-4710. PABx: (41) 3250-4000.
E-mail: [email protected]
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