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 Direito Comercial 

Orientações para a realização da actividade formativa n.º 1

Os elementos que deverão ser considerados e desenvolvidos pelas/os estudantes nas


respostas às questões colocadas são os seguintes:

Grupo I

A estrutura das normas jurídicas é constituída por dois elementos: a previsão e a


estatuição. Identifique-os nas seguintes normas:

Artigo 483.º, n.º 1 do Código Civil


Previsão: Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem
ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios
Estatuição: fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação.

Artigo 224.º, n.º 1 do Código Penal


Previsão: Quem, tendo-lhe sido confiado, por lei ou por acto jurídico, o encargo de
dispor de interesses patrimoniais alheios ou de os administrar ou fiscalizar, causar a
esses interesses, intencionalmente e com grave violação dos deveres que lhe incubem,
prejuízo patrimonial importante
Estatuição: é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa.

Artigo 122.º do Código Civil


Estatuição: É menor
Previsão: quem não tiver ainda completado dezoito anos de idade.

Artigo 1323.º, n.º 1 do Código Civil


Previsão: Aquele que encontrar animal ou outra coisa móvel perdida e souber a quem
pertence
Estatuição: deve restituir o animal ou a coisa a seu dono, ou avisar este do achado;
Previsão: se não souber a quem pertence
Estatuição: deve anunciar o achado pelo modo mais conveniente, atendendo ao valor
da coisa e às possibilidades locais, ou avisar as autoridades, observando os usos da
terra, sempre que os haja.

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Artigo 7.º do Código Comercial


Previsão: Toda a pessoa, nacional ou estrangeira, que for civilmente capaz de se
obrigar
Estatuição: poderá praticar actos de comércio, em qualquer parte destes reinos e seus
domínios, nos termos e salvas as excepções do presente Código.

Grupo II

Tendo em conta os artigos 138.º e 139.º do Código Civil, é correcto afirmar que os
interditos têm personalidade jurídica?

Todas as pessoas singulares têm personalidade jurídica, adquirindo-se esta com o


nascimento completo e com vida, conforme prevê o artigo 66.º do Código Civil. Por
isso, todas as pessoas singulares são titulares de direitos e obrigações.
A interdição configura uma limitação da capacidade de exercício dos direitos e deveres
de que se é titular. Portanto, a interdição não incide sobre a personalidade jurídica do
indivíduo, mas sobre a sua capacidade de exercício, ou seja, sobre a medida de direitos
e deveres que pode exercer pessoalmente.
Embora não situada na temática da questão colocada, refira-se, quanto às pessoas
colectivas, que as sociedades comerciais adquirem a personalidade jurídica após o
registo definitivo do contrato de constituição (cfr. artigo 5.º do Código das Sociedades
Comerciais). Em relação à sua capacidade jurídica, vigora o princípio da especialidade,
ou seja, são titulares dos direitos e das obrigações necessárias ou convenientes para a
prossecução dos seus fins (cfr. artigo 6.º, n.º 1 do Código das Sociedades Comerciais).

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Grupo III

Imagine que António e Benedita vivem em união de facto. Dado o seu carácter
dominador, António entende que deverá ser a pessoa que toma todas as decisões
que digam respeito ao casal e que Benedita deverá sempre pedir-lhe autorização
antes de fazer algo. Benedita não se conforma com a situação, defendendo que
deverá ter os mesmos direitos que António. Para isso, e não encontrando
fundamento legal no regime jurídico das uniões de facto, invoca o artigo 1671.º do
Código Civil. Poderá fazê-lo?

Quando se verifica a existência de uma lacuna na lei, ou seja, a falta de uma norma
que regule uma situação que deveria ter sido regulada pelo Direito, o primeiro método
para resolver esse problema e preencher a lacuna, é recorrendo à analogia. Ou seja,
utiliza-se a regulação prevista por uma outra norma, a qual não previa esta situação,
mas em que se apura que a razão para decidir o caso omisso e o caso previsto é a
mesma, com a diferença entre ambos a residir em pontos irrelevantes para a
regulamentação jurídica.
O segundo método para preenchimento de uma lacuna, que só deverá ser utilizado
quando se verificar que não existe um caso análogo aplicável (cfr. artigo 10.º do
Código Civil), consiste na utilização de uma norma que o próprio intérprete criaria se
tivesse que legislar sobre o caso. No entanto, a liberdade criativa do intérprete não é
ilimitada, pois o artigo 10.º do Código civil estabelece que a norma a criar deverá
enquadrar-se «dentro do espírito do sistema».
No caso hipotético colocado, deverá aplicar-se, por analogia, o regime do artigo 1671.º
do Código Civil, uma vez que o próprio regime jurídico das uniões de facto estabelece
que estas existem e merecem protecção quando duas pessoas vivem «em condições
análogas às dos cônjuges» (cfr. artigo 1.º, n.º 2 da Lei n.º 7/2001, de 30 de Agosto, com
as alterações introduzidas pela Lei n.º 23/2010, de 30 de Agosto).

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Grupo IV

No dia 02 de Fevereiro de 2014, Carlos vendeu o prédio urbano de que era


proprietário a Daniel por 200.000 euros. No dia 05 de Fevereiro de 2014, foi
publicado no Diário da República um decreto-lei, aprovado pela Assembleia da
República, por maioria simples, o qual dispunha que os prédios com uma tipologia
idêntica à do envolvido naquele negócio, não poderiam ser vendidos por um preço
inferior a 250.000 euros.

1. Este decreto-lei foi correctamente aprovado?

A Assembleia da República não pode aprovar decretos-lei. Efectivamente, os actos


legislativos ordinários aprovados pela Assembleia da República assumem a forma de
lei (cfr. artigos 161.º, al. c) e 166.º, n.º 3 da Constituição da República). A designação
de decreto-lei é atribuída exclusivamente aos actos normativos do Governo aprovados
no âmbito da sua competência legislativa (artigo 198.º, n.º 1 da Constituição da
República).

2. Uma vez que o diploma legislativo não integrava nenhuma disposição quanto à
sua entrada em vigor, quando é que isso deveria ocorrer?

Nos termos do artigo 2.º, n.º 2 da Lei n.º 74/98, de 11 de Novembro, quando os
diplomas legais não estabelecem a data da sua entrada em vigor, ela ocorrerá no 5.º
dia após a sua publicação em Diário da República.

3. Tendo tomado conhecimento deste decreto-lei, Carlos veio exigir a Daniel o


pagamento dos restantes 50.000 euros. Esta pretensão deverá ser satisfeita por
Daniel?

O negócio jurídico foi celebrado em data anterior à entrada em vigor do diploma. Nos
termos do artigo 12.º do Código Civil, «a lei só dispõe para o futuro», a menos que lhe
seja atribuída eficácia retroactiva. Portanto, e por regra, se não tiver eficácia
retroactiva (a qual terá de estar prevista no diploma legal), as normas jurídicas não
afectam a validade de negócios celebrados regularmente antes da sua entrada em
vigor.

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4. Na realidade, Daniel argumentou que não pagaria porque existe um costume


contrário ao seu pagamento. Este argumento é válido?

O costume é constituído por dois elementos: uma prática social repetida e habitual de
certa e determinada conduta e a convicção da sua obrigatoriedade. Deste modo, a
invocação de um costume só poderá produzir efeitos jurídicos se estes dois elementos
existirem.
Uma questão que suscita muita discussão é a da validade do costume contra legem (ou
seja, contrário à lei). No entanto, a melhor solução num sistema legal como o
português aconselha a que se entenda que, em caso de contradição entre a lei e o
costume, é esta que se deve aplicar e que o costume não tem valor jurídico.

5. A 15 de Fevereiro de 2014, o Governo aprovou um regulamento que revogava o


referido decreto-lei, argumentado que o mesmo é contrário ao princípio da liberdade
contratual. Poderia fazê-lo?

O princípio da hierarquia das normas jurídicas opõe-se à possibilidade de revogação de


um decreto-lei por um regulamento, uma vez que este ocupa uma posição hierárquica
inferior.
Na ordem jurídica portuguesa, a hierarquia das normas jurídica está expressa no artigo
119.º da Constituição da República.

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