Aula 05 - Técnicas e Ferramentas de Análise

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Técnicas e ferramentas de análise

Curso – Ergonomia do Produto I

Prof. João Marcos Bittencourt


Métodos e técnicas em ergonomia

 Ergonomia é uma disciplina aplicada, e os conhecimentos são construídos em


estudos e pesquisa, mas também em experimentações controladas, situações de
teste e observações durante acompanhamentos de situações reais.

 Método x técnica:
 O método é o modelo que organiza as atividades de um trabalho, projeto ou
pesquisa. Dentro de um método se determinam etapas em que diferentes
informações são construídas, baseado em algumas hipóteses e que conduziram
a algum resultado. A escolha do método interfere diretamente na maneira como
o trabalho é organizado, assim como no sentido das informações que são
levantadas.
 Uma técnica é uma ferramenta de obtenção de informação ou modo/ações
de se executar uma atividade. Dentro de um método são usadas várias técnicas;
e a mesma técnica pode ser usada em diferentes métodos.

 A escolha de um método não deve ocorrer a priori, mas em função das


características e contexto do projeto (objetivos, recurso, tempo, etc.).
Métodos em ergonomia

 Métodos em ergonomia são voltados para análise da situações de trabalho, visando


gerar informação sobre os problemas baseado em observações das situações reais
e gerar recomendações de melhoria destas situações ou soluções para projeto.

 Alguns elementos recorrentes de uma análise ergonômica:


 Explicitação da demanda;
 Análise da tarefa;
 Análise da atividade;
 Recomendações ou soluções de projeto;
 Validação com usuários e outras formas de revisão

 No Brasil, os métodos mais difundidos são a Análise Ergonômica do Trabalho (AET)


e a Intervenção Ergonomizadora.
Análise Ergonômica do Trabalho (AET)

 A AET (Guérin at al., 2001) foi desenvolvida no Cnam como a consolidação de


práticas de pesquisadores em projetos de ergonomia.

 O método é fortemente embasado em uma dinâmica antropológica do trabalho e


depende da participação dos trabalhadores. Em outras palavras, não dá para fazer
AET no seu escritório*: é preciso estar presente nas situações reais de trabalho.

 Distinção de conceitos chaves:


 Tarefa
 Atividade
Análise Ergonômica do Trabalho (AET)

 O método, de certa forma, se assemelha a um processo investigativo.

 Etapas:
 Análise da demanda.
 Coleta de informações da empresa.
 Levantamento de informações da população.
 Escolha das situações de análise.
 Análise do processo técnico e da tarefa.
 Observações globais e abertas da atividade.
 Elaboração de um (pré)diagnóstico. (formulação de hipótese de nível 2).
 Observações sistemáticas – análise de dados. (hipótese de nível 1)
 Validação.
 Diagnóstico.
 Recomendações e transformação.
Intervenção Ergonomizadora

 Desenvolvida por Anamaria de Moraes (2000) se desenvolve em três fases:


 Apreciação ergonômica: etapa de levantamento de problemas relacionado a
situação de trabalho e informações do contexto.
 Diagnose ergonômica: seleção e priorização de problemas para serem
tratados
 Projetação ergonômica: elaboração de soluções
Técnicas de ergonomia
Técnicas usadas em ergonomia

 Na prática em ergonomia usamos uma série de ferramentas e técnicas de


levantamento de informação. A opção e articulações de técnicas depende do
contexto do trabalho realizado e da experiência do projetista.

 Algumas ferramentas usadas:


 Entrevistas
 Observação direta
 Diagramas de áreas dolorosas
 Checklists variados
 OWAS
 NIOSH
 Análise cognitiva
Questionários

 Questionários permitem a obtenção de grande quantidade de respostas, de


maneira barata e relativamente rápida - principalmente quando realizadas on-line.
Porém , tendem a ser superficiais e dificilmente podem ser conferido a condição
de resposta do usuário. As questões realizadas, quando não há a presença do
pesquisador, fica sujeito ao entendimento daquele que responde, o que pode
levar a erros ou má interpretação.

 Questionário podem ser abertos x fechados

 Elaboração de um questionário:
 Planejamento (objetivos, prazos, métricas de confiabilidade, etc.)
 Definição de amostragem (público alvo, representatividade)
 Construção do questionário
 Teste de validação do questionário (ciclo de aprendizado)
 Aplicação do teste
Questionários

 Decida uma sistema de codificação antes de formular suas perguntas, em outras


palavras, decida como as respostas serão avaliadas e tratadas para evitar perguntas
que não respondem nada.

 Questionários devem ser precisos e preferencialmente formuladas com perguntas


fechadas.
 A cadeira é confortável?
 A cadeira produz dores localizadas no corpo? ( )ombros ( ) dorso ( )coxas ( )
outros

 Desdobre assuntos importantes em tópicos mais objetivos que ajudem a


entender o quadro geral do problema

 Prefira questões fechadas para ter dados mais fáceis de tratar.

 As opções devem fechar todas as possibilidades


Questionários

 Adote escalas adequadas:


 Nominais, ordinais, intervalares

 Em questões que exigem julgamento ou opinião, coloque a opção nenhuma das


anteriores para evitar forçar uma “resposta aproximada”.

 Uso de escalas:
 Intensidade 0-10
 Atribuição de conceitos: ruim, bom, muito bom, péssimo, etc.

 Considere o efeito halo: eventos recentes podem interferir no julgamento


Entrevistas

 Um entrevista não é um questionário, porém mais próximo de uma “conversa


dirigida”.

 A entrevista podem ser:


 Informal
 Estruturada
 Semi-estruturada

 Tenha claro os objetivos da entrevista e os principais pontos a serem explorados.


Organize suas questões em função destes objetivos.

 Agrupe as questões por assuntos/objetivos e procure fazer um avanço nas


questões de forma gradual e procurando manter a relação entre as questões.
Entrevistas

 Pode ser interessante explorar a questão com diferentes pontos de vista usando
parcialmente as mesmas questões para diferentes entrevistados.

 Uma entrevista não é um questionário aplicado pessoalmente. O que não


significa que não possa haver elementos de questionários na entrevista.

 Recomendações gerais:
 Ouça mais e fale menos;
 Faça perguntas curtas e diretas;
 Use vocabulário adequado;
 Não faça perguntas tendenciosas;
 Mantenha postura adequada;
 Evite tratamento diferenciado.
Entrevistas

 5 fases de uma entrevista


 Introdução: objetivos e permissões
 Degelo: perguntas fáceis para entrar na temática
 Conteúdo principal: ordenamento das questões, agrupamentos de questões,
“questões de entrada”, temas do mais simples para o mais polemico
 Finalização: questões finais para confirmar ou consolidar posições ou diluir
eventuais criticas
 Conclusão: concluídas as questões e desligado os aparelhos, explique como
será usado, explique se haverá algum tipo de retorno e agradeça pelo tempo.

 Entrevista permite explorar mais profundamente questões, opiniões e experiências;


contudo demanda tempo de preparação, realização e tratamento dos dados.

 Um problema das entrevistas é que as respostas ocasionalmente dependem de


como as pessoas reorganizam suas memórias podem interferir no relato.

 Determinado tipos de questões que se voltam para aspectos tácitos também


tendem a ser abordadas com limitações.
Diagrama de áreas dolorosas

 A proposta de Corlet e Manenica (1980) é dividir o plano dorsal do corpo em um


diagrama de doze segmentos simétricos. A partir da divisão, procura-se
identificar as áreas de dores com trabalhadores.

 Para cada segmento, é pedido para o trabalhador atribuir uma escala de


desconforto.
Diagrama de áreas dolorosas

 Esse mapeamento é uma maneira rápida e barata de identificar postos de


trabalho com problemas críticos que devem ser atuados rapidamente. Por outro
lado, é muito genérico em relação ao entendimento do corpo: pode ser usado
para avaliações gerais na indústria, mas para um estudo especifico podem ser
aplicados mapeamentos mais focados

 A escala pode ser adaptada para esquemas mais precisos conforme a necessidade
do ergonomista.
Questionário nórdico

 Desenvolvido por Kuorinka et al. (1987)


para ser preenchido pelos próprios
trabalhadores. O questionário coloca
em questão a localização das dores,
mas também em perspectiva o
desenvolvimento das dores (ou
regressão) ao longo do tempo.

 Pode ser distribuído junto com


breves instruções dos objetivos do
levantamento, onde apresentar o
documento, uma ficha de cadastro com
informações, o questionário em si e
agradecimentos pela contribuição.
Diagrama de áreas dolorosas: mão

 O mesmo principio de mapeamento de dores pode ser aplicado para partes


especificas do corpo, como as mãos: Kadefors, 1993 e SILVA et al.. 2002
Diagrama de áreas dolorosas: mão

 Aplicação para alicates Groenesteijn et al. (2004):


Diagrama de áreas dolorosas: mão

 SILVA et al. 2002 apresentam um


mapeamento para fazer uma comparação
de percepção de dor em usuários de
diferentes idades. A situação de teste
envolveu a abertura de uma garrafa pet.

Fig. Mapeamento mão entre Jovens 18-29 (acima) e adultos


30-55 (a direta)
Checklist

 Check list é uma boa maneira de não esquecer fatores importantes, evitar omissões,
erros e prevenir riscos.
 também é uma boa maneira de não ver coisas importantes.

 Um checklist deve conter elementos importantes para serem verificados em


situação.

 Em geral, formado por uma lista de perguntas dicotômicas: ( )sim e ( ) não, ( )


conforme ( ) não conforme, ( ) feito ( ) não feito, ( ) no tempo ( )atrasado.

 Exemplos tradicionais de checklist: checagem de avião antes de levantar voo;


trabalho em redes energizadas; lista de compras para mercado; etc.

 Existem também checklists em ergonomia


Checklist

 Plibel: 34 questões reacionadasa fatores de risco osteomusculares, 10 questões


relacionadas a fatores ambientais e organizacionais com o objetivo de fazer uma
avaliação rápida de fatores de risco relacionadas a situações de trabalho.

 Keyserling: associa riscos osteomusculares com problemas posturais, procurando


fazer registros de intensidades e ocorrências.

 NIOSH: checklist voltado para manuseio de cargas, movimentação de pesos, ações


de puxar e empurrar, entre outros.

 Outros checklists: Rodgers (fadiga); Quick Exposure (fatores gerais como postura,
pesos, exposições de risco, etc.); Michigan (dores em membros superiores); entre
outros
Técnicas de registro postural: RULA

 RULA (Rapid Upper-Limp Assessment)


desenvolvido para avaliar movimentos e
posturas dos membros superiores (e um
pouco do resto do corpo). Apresenta variáveis
como forças e momentos de trabalho muscular
estático. A ferramenta pode ser usada para
situações mais complexas sendo repartida
para o lado direto e esquerdo do corpo.

 As posturas, movimentos e o quão agressivas


são para o organismo são codificadas em um
sistema de pontuação para avaliação; e
representadas graficamente para facilitar o
registro durante a observação.

 O sistema de pontuação permite identificar


situações de risco que precisam ser abordadas
com prioridade
Técnicas de registro postural: OWAS

 Ferramenta finlandesa OWAS (Ovako Working Posture Analysing System) é uma


ferramenta de análise postural que parte da situação de diferentes membros e
atribui valores para diferentes posições em função do risco (ex. Braço estendido,
flexionado, dobrado, reto e flexionado).

 O método foi desenvolvido na indústria siderúrgica e se baseia em 72 posturas


típicas com suas variações de flexão. A proposta é que o observador registre a
postura de tempos em tempos (ex. 30 seg) durante um período ou meio
expediente em cerca de 100 diferente oportunidades.
Técnicas de registro postural: OWAS
Análise da tarefa

 A análise da tarefa (não no mesmo sentido do que se faz em AET) é uma


planificação do uso de um determinado objeto para que o projetista tenha em
mente aspectos da utilização evidenciados durante o projeto.

 Um primeiro elemento da análise da tarefa é determinar o objetivo de uso de


um produto, e suas diferentes situações de uso. Isso permitirá ao projetista ter
um mapeamento das situações de uso e como elas ocorrem de maneira
genérica.

 Após a determinação das diferentes tarefas e seus objetivos, deve-se


caracterizar as condições de uso e os meios em que esse uso será realizado.

 Por fim, apresenta-se uma planificação das ações tomadas que irão levar ao
objetivo proposto.
Técnicas de registro
Onde está o trabalho para ser analisado?

 Muitas das ferramentas anteriores focam em aspectos físicos e posturais do trabalho


ou do uso de produtos. Mas nem todos os aspectos e problemas relacionados ao
uso se explicam ou evidenciam nesta dimensão física/postural.

 A atividade de trabalho não é algo material para ser analisado.


 É preciso construir a informação.

 Mas o que olhar? O que medir? O que registrar? Como registrar?


 Não dá para ir à campo despreparado, é preciso ter um caderno na mão e
alguns grids de referencia para ajudar no registro da informação.
(algumas) categorias de observação

 Deslocamento
 O encadeamento de locais frequentados pelo trabalhador pode revelar
estratégias de trabalho.
 É preciso entender os deslocamentos: utilização de equipamentos, comunicação
com colegas, tomada de informação, lidar com variabilidades.
(algumas) categorias de observação

 Direção do olhar
 Equipamentos para seguir o olhar
 Acompanhar a direção do olhar (inclinação da cabeça e movimentação do
corpo)
(algumas) categorias de observação

 As comunicações
 Verbais: conversas, vocabulário local,
 Gestual: sinais, áreas barulhentas, coletivo distante
 Por meio de intermediários: rádio, telefone, boca de ferro, e-mail, celular,

 Analisar as comunicações é uma forma de compreender a coordenações entre


atores e o funcionamento do coletivo.
(algumas) categorias de observação

 As posturas
 Torções, abaixar, mexer em coisas no alto, acessar locais difíceis podem ser
indicativos de constrangimento sobre do trabalhador.
 Identificar a posturas ao longo do tempo demanda a seleção de “posturas-tipo”,
isso é, posturas pré-determinadas para análise.
(algumas) categorias de observação

 Ações de tomada de informação


(algumas) categorias de observação

 Dimensão coletiva do trabalho


 Numero das equipes, distancia entre atores e escala temporal
Verbalizações

 Verbalizações
 Falas realizadas durante as atividades de trabalho
 Falas realizadas depois da atividade sobre o trabalho

 A atividade não pode ser reduzida àquilo que se observa. Ex.: raciocínio, estratégias
de trabalho, tratamento de informação.

 Nem sempre a analise compreende a todas as situações, uma verbalização pode


explicitar elementos de um quadro temporal mais amplo.

 Nem todas as consequências são observáveis: fadiga, disturbios, irritação, etc.


Verbalizações

 Contudo, a verbalização não é obvia:


 O trabalhador explica o que julga ser o que o seu interlocutor procura (ou não...)
 Elementos da ação “automatizados” tendem a ser esquecidos; assim como
elementos não usuais.
 A elementos da atividade, como habilidades manuais dificeis de serem
explicadas.
Técnicas de registro

 Observação instantânea e continuas


 Observar uma recorte da tarefa ao longo da jornada de trabalho
 Observar o desenvolver da atividade ao longo de um tempo prolongado

 Recursos para se ter a mão:


 Caderno na mão
 Gravação de vídeo
 Fotografia
 Gravação de áudio
 Relógio no pulso

 Técnicas de confrontação
Técnicas de registro

 Planilha de observação
 Marcar no tempo ações e lugares
Técnicas de registro

 Crônica da atividade
Descrição da atividade observada

 Curso da ação
Descrição da atividade observada

 Indicadores estatísticos
 Ocorrência de eventos
 Duração das categorias observadas
 Sequencia de eventos
Descrição da atividade observada

 Planilha de observação
 Meios de comunicação e acesso a informação ao longo do tempo
Descrição da atividade observada

 Gráfico da atividade e programas de organização de dados


Técnicas de registro

 Entrevista de confrontação
 Apresentar informações para discutir, validar e aprofundar

 Abrir video
Muito Obrigado
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[email protected]
Verbalizações

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