Livro Unico Manejo
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Florestal
Daniel Camara Barcellos
© 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida
ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico,
incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento
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Presidente
Rodrigo Galindo
Conselho Acadêmico
Ana Lucia Jankovic Barduchi
Danielly Nunes Andrade Noé
Grasiele Aparecida Lourenço
Isabel Cristina Chagas Barbin
Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro
Revisão Técnica
Francisco Ferreira Martins Neto
Wilson Moisés Paim
Editorial
Elmir Carvalho da Silva (Coordenador)
Renata Jéssica Galdino (Coordenadora)
ISBN 978-85-522-1418-2
CDD 630
2019
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: [email protected]
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Unidade 1
Introdução ao manejo florestal e formação de mudas florestais��������� 7
Seção 1.1
Introdução ao manejo florestal...................................................... 9
Seção 1.2
Viveiros florestais������������������������������������������������������������������������� 23
Seção 1.3
Técnicas e equipamentos em viveiros florestais���������������������� 40
Unidade 2
Condução de povoamentos florestais�������������������������������������������������� 63
Seção 2.1
Desbastes florestais �������������������������������������������������������������������� 65
Seção 2.2
Desramas florestais e clonagem������������������������������������������������� 77
Seção 2.3
Manejo de povoamentos florestais�������������������������������������������� 89
Unidade 3
Sistemas Silviculturais��������������������������������������������������������������������������111
Seção 3.1
Introdução a silvicultura�����������������������������������������������������������113
Seção 3.2
Preparo das áreas de silvicultura���������������������������������������������127
Seção 3.3
Manejo em áreas de silvicultura����������������������������������������������141
Unidade 4
Sistemas agroflorestais (SAFS)������������������������������������������������������������163
Seção 4.1
Introdução aos sistemas agroflorestais�����������������������������������165
Seção 4.2
Características, implantação e processos das áreas
de sistemas agroflorestais����������������������������������������������������������180
Seção 4.3
Manejo em áreas de sistemas agroflorestais���������������������������199
Palavras do autor
O
lá, aluno! Seja bem-vindo à disciplina Manejo e Produção Florestal.
Muitos dos produtos consumidos no mundo são de origem florestal,
e sem eles nossa vida seria muito complicada. No nosso dia a dia
usufruímos de diversos produtos confeccionados com madeira de florestas
manejadas: de um simples palito de fósforo, passando pelos móveis, até
a estrutura do telhado das nossas casas. Podemos ainda acrescentar os
produtos em que a madeira participa de forma direta ou indireta na sua
transformação, sejam na forma de remédios, de resinas para produção de
tintas, látex para produção de borracha, carvão que utilizamos para fazer
o churrasco do fim de semana, entre outros. Note que usufruímos de uma
infinidade de produtos e estes têm origem a partir do manejo de espécimes
vegetais e produção florestal.
Antes de iniciarmos nosso estudo, você precisa entender o significado e
a importância do termo manejo e produção florestal. De forma abrangente,
ele pode ser compreendido como um conjunto de atividades desenvolvidas
que buscam produzir, de forma racional e economicamente viável, produtos
florestais destinados à comercialização.
Para atingir o objetivo do manejo e produção florestal é fundamental
compreender aspectos relevantes relacionados à sua implantação, ao seu
manejo produtivo, a técnicas e particularidades de cada espécie florestal, além
da colheita, transporte, beneficiamento e comercialização do produto de base
florestal. Portanto, é necessário o conhecimento dos conceitos e práticas para
a formação e manejo de mudas, povoamentos florestais, sistemas silvicultu-
rais e sistemas agroflorestais.
Inicialmente, veremos uma introdução ao manejo florestal e à formação
de mudas florestais, obtendo conhecimentos de coleta de sementes e de
diversas técnicas de produção de mudas. Na sequência, você vai se aprofundar
na condução de povoamentos florestais, entendendo técnicas como desrame,
desbaste e clonagem. Em seguida, aprenderá sobre sistemas silviculturais,
consolidando conhecimentos do preparo da área até a colheita do produto
florestal. E por fim, veremos os sistemas agroflorestais (SAFs), em que você
entenderá o que é sucessão vegetal, quais são os tipos e arranjos de SAFs e
como se realiza a certificação de florestas.
Ao longo dos estudos, você conhecerá conceitos importantes, bem como
sua aplicabilidade, que contribuirão em sua formação e posterior atuação no
mercado de trabalho.
Para isso, é importante que você compreenda como diferentes variáveis
podem influenciar na produção de sistemas florestais e agroflorestais e você,
atuando profissionalmente, poderá propor soluções criativas e sustentáveis
na formação e condução de sistemas florestais e/ou agroflorestais.
Então, vamos iniciar os nossos estudos em manejo e produção florestal?
Unidade 1
Convite ao estudo
Olá, aluno! No passado, os produtos florestais eram utilizados de maneira
extrativista em larga escala, porém essa prática, além de ser insustentável para
o planeta, não atendia a demanda da população crescente. Passou-se, então, a
ser necessário produzir e manejar florestas de forma consciente e sustentável,
e isto envolve muito mais do que simplesmente plantar uma muda e deixá-la
crescer. Assim, para que você desenvolva a capacidade de manejar e produzir
florestas artificiais, você precisa conhecer e saber realizar a formação de
mudas florestais que enriquecerão plantios atuais ou comporão novos povoa-
mentos florestais para atender as diferentes demandas populacionais.
Para você aplicar os conhecimentos que serão apresentados, temos a
seguinte situação: a Secretaria de Meio Ambiente do município de Teixeira
de Freitas (BA), preocupando-se em consolidar as políticas de conservação,
vem endurecendo as ações de fiscalização, o que tem preocupado muitas
empresas no tocante a sua forma de atuação. Neste contexto, você foi contra-
tado como um engenheiro agrônomo por uma empresa especializada em
consultoria ambiental e agrícola chamada Multi Flora, que vai assessorar as
empresas para que se enquadrem às políticas de desenvolvimento agrícola
e ambiental propostas pela gestão municipal. Durante um ano, vai apoiar o
programa de ajustes ambientais, assessorando as empresas de base agrícola
e florestal (em especial os viveiros) a se ajustarem às políticas ambientais
locais para evitar o risco de autuações por não enquadramento ambiental. A
partir daí surgem desafios e dúvidas: quais são os princípios e técnicas que
garantem um bom fornecimento de sementes de qualidade para o viveiro
de mudas? Como tornar os viveiros cada vez mais competitivos, inserindo
importantes técnicas e conceitos em produção de mudas florestais, produ-
zindo com qualidade e baixo custo? Como garantir que a empresa fornece-
dora de mudas atenda às diferentes demandas dos seus clientes, aumentando
a possibilidade de sucesso nos seus empreendimentos florestais?
São muitos os fatores a serem considerados e, nesta seção, você vai
aprender um pouco da história e conceitos do manejo florestal e sua legis-
lação pertinente, dendrologia de espécies florestais e, por fim, princípios da
produção florestal, construindo o conhecimento desta unidade que tem como
resultado de aprendizagem configurar o saber com relação aos processos
técnicos essenciais à formação de mudas em viveiro de base florestal.
Pronto para começar?
Seção 1.1
Diálogo aberto
Olá, aluno! Diferente do passado, as florestas hoje, a partir do conheci-
mento adquirido ao longo dos séculos, são conduzidas pensando na susten-
tabilidade do homem, e isso gerou leis e técnicas que o profissional ligado a
florestas precisa conhecer.
Para seguirmos nessa direção, saberemos como surgiu o manejo florestal
no Brasil e no mundo, e também quais são os principais conceitos de manejo
florestal e fundamentos da legislação florestal, das técnicas envolvidas para se
obter mudas e sementes de qualidade, da dendrologia das principais espécies
florestais e técnicas de produção dos produtos florestais.
Lembre-se de que você foi contratado como um engenheiro agrônomo por
uma empresa especializada em consultoria ambiental e agrícola chamada Multi
Flora, que vai assessorar as empresas a se enquadrarem às políticas de desen-
volvimento agrícola e ambiental do município de Teixeira de Freitas (BA).
Em um dia de trabalho, você visitou um produtor rural, sr. Antônio
Carlos da Silva, que lhe informou que havia recebido uma autuação do
IBAMA por exercer desmatamento indevido em área de reserva APP (Área
de Preservação Permanente). Como forma de compensação, o sr. Antônio
assinou o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) junto ao Ministério Público,
no qual comprometeu-se a recuperar os 40 hectares de APP desmatados com
mudas nativas em bioma típico de mata atlântica. Para ajudar o sr. Antônio,
você terá que analisar a área desmatada para atender ao TAC e apresentar
um parecer técnico de condução e manejo florestal da recomposição da área
desmatada com mudas nativas.
Ao adentrar na área desmatada você verificou uma intensa regeneração
natural da área com Acácia mangium Willd. Funcionários comentaram
que plantaram na área desmatada no passado alguns espécimes de Acácia
mangium, espécie exótica de origem australiana, pioneira, que tem efeito
alelopático (libera substâncias que impedem que outras plantas cresçam) e,
devido a sua característica de crescimento rápido, começou a se propagar
rapidamente na área de forma indevida como uma planta invasora.
Portanto, neste seu primeiro desafio como engenheiro agrônomo junto
à empresa Multi Flora, você deverá elaborar um parecer técnico, que será
incorporado ao TAC do sr. Antônio, cujo objetivo é restaurar a Mata Atlântica
Reflita
As ferramentas desenvolvidas para frear a degradação e reduzir os
efeitos nocivos das atividades que afetam as florestas são chamadas de
instrumentos normativos florestais. O principal instrumento normativo
legal é o novo Código Florestal Brasileiro. Mas, afinal de contas, por que
o código florestal é tão importante?
Saiba mais
O primeiro código florestal foi criado pelo Decreto nº 23.793, de 23 de
fevereiro de 1934.
O segundo código florestal foi criado pela Lei nº 4.771, de 15 de setembro
de 1965, que revogou o código anterior.
O terceiro código florestal, chamado de Novo Código Florestal foi criado
pela Lei nº 12.651, de 2012 que revogou os códigos anteriores. Leia no
link a seguir.
Assimile
Conceitualmente, as Áreas de Preservação Permanente (APPs) são áreas
sensíveis dentro de propriedades rurais de pessoas físicas e/ou jurídicas,
protegidas por lei. Têm a principal função de preservar o equilíbrio do
ecossistema. São áreas que podem se decompor, ou seja, erodir facil-
Exemplificando
Na sucessão ecológica, as espécies pioneiras são aquelas que iniciam a
colonização de uma região ainda inabitada. São consideradas espécies
muito resistentes aos fatores abióticos, como temperatura, umidade,
pressão e salinidade do ambiente, sendo capazes de se adaptar às condi-
ções do habitat e se instalar no local, dando início à colonização. Elas
morrem e se decompõem, substituindo o solo no sentido de aumentar o
teor de húmus. Isso leva a um aumento da capacidade do solo de manter
água e nutrientes minerais, favorecendo, assim a sucessão ecológica.
Dentre exemplos destacamos a unha de vaca, a embaúba, pau-marfim e
o angico vermelho.
Exemplificando
A espécie Acácia mangium é um exemplo amplamente utilizado na
produção florestal, uma vez que sua madeira apresenta densidade que
varia de 420 a 500 kg/m³, sendo definida como dura, porém pode ser
serrada, aplainada e polida com facilidade (LEILLES et al.,1996 apud
MARTO; BARRICHELO; MULLER, 2007). Ressalta-se que possui excelente
aceitação comercial e rentabilidade, por apresentar variadas formas de
utilização. Apresenta aplicabilidade na produção de moirões, construção
civil, carvão, MDF, aglomerados, compensados, queima como combus-
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Como engenheiro agrônomo, você foi contratado pelo sr. José da Silva
Jr., um produtor rural do município de Teixeira de Freitas (BA) para realizar
o CAR (Cadastro Ambiental Rural) de sua propriedade que está na Mata
Atlântica. A propriedade possui 150 hectares, que compõem a Fazenda
Riacho Negro. No levantamento da vegetação da fazenda você detectou
que 25 hectares são áreas APP (área de preservação permanente) e que a
propriedade não possui reserva legal. Considerando esta situação, qual seria
a solução para adequar a propriedade, à luz do Novo Código Florestal, que
prevê que todas as propriedades tenham reserva legal?
Resolução da situação-problema
Pelo Novo Código Florestal, áreas de APP podem ser utilizadas para
compor a reserva legal da propriedade. Considerando isto, o sr. João
da Silva Jr. tem 25 hectares de 150 hectares, o que representa 16,67% de
APP que pode ser usada. Como o Novo Código Florestal exige que para
o bioma Mata Atlântica se tenha 20% de reserva legal, faz-se necessário
que aquele, segundo o Código Florestal, faça a recuperação de 3,34% ou 5
hectares no que é definido no Código Florestal como PRA - Programa de
Regularização Ambiental.
Reconheça a seguir qual afirmativa indica uma planta típica do grupo ecológico de
floresta secundária.
a) Plantas que necessitam de luz para germinar e que tenham geralmente banco de
sementes no solo e que são modificadoras do ambiente.
b) Planta de rápido crescimento com produção contínua de sementes e ciclo de vida
curto tendendo a pequeno porte.
c) Plantas oportunistas de clareira, com sementes aladas não dormentes com dispersão
por vento ou animais e que necessitem de luz para desenvolver.
d) Planta de crescimento lento, tolerantes, precisam de luz para a fase reprodutiva
para produzir sementes.
e) Plantas de crescimento lento, intolerantes, que não precisam de luz na fase repro-
dutiva para produção de sementes.
Viveiros florestais
Diálogo aberto
Olá, aluno! Agora em nossos estudos sobre manejo florestal vamos
conhecer um pouco mais sobre viveiro de produção de mudas florestais.
Abordaremos a instalação, dimensões, tipos de materiais usados, custos,
localização, declividade do terreno, drenagem, sombreamento, abasteci-
mento de água e quebra-ventos, além de técnicas de semeadura mais utili-
zadas na produção de mudas, técnicas de clonagem de espécies florestais e
aspectos legais.
Agora, para que possamos compreender um pouco mais sobre os conte-
údos a serem abordados, vamos relembrar o contexto de aprendizagem.
Lembra-se que a nosso ambiente se remete à cidade de Teixeira de Freitas
(BA)? Que a autoridade municipal pretende consolidar as políticas de
conservação? Que você é o profissional que buscará atender as demandas
que venham a ocorrer por parte da Secretaria?
Continuando seus desafios atendendo à Secretaria do Meio Ambiente da
cidade de Teixeira de Freitas (BA) como agrônomo consultor da empresa
Multi Flora, você tem a responsabilidade de verificar o estado operacional
dos viveiros atuais e orientar a construção e funcionamento de novos
viveiros no município. Ao visitar os viveiros já instalados, você observa que
a maioria deles apresentavam visivelmente problemas de escoamento de
água, sendo bastante comum a detecção de poças de água nos canteiros de
mudas florestais.
Ao explicar o problema de drenagem e outros aspectos falhos nos viveiros,
os proprietários lhe questionam como a ineficiência da drenagem pode afetar
mudas nos viveiros e quais sugestões você daria para resolver esse problema.
A Secretaria de Meio Ambiente, entendendo que tal escoamento é
prejudicial à produtividade dos viveiros e que o fato é recorrente em
diversos empreendimentos, solicita a você a elaboração de um manual de
boas práticas e técnicas em viveiros florestais que responda às seguintes
perguntas: quais são as diferentes características técnicas que um viveiro
deve apresentar para uma produção satisfatória de mudas florestais? Quais
são os caminhos que o profissional deve trilhar com relação à implemen-
tação legal de um viveiro de produção de mudas florestais? Quais técnicas
de semeadura em viveiros e como elas seriam implementadas e aplicadas
no novo projeto do viveiro? Quais são as diferentes técnicas de reprodução
Assimile
Do latim vivarĭum, um viveiro é uma instalação agronômica onde se
cultivam, germinam e desenvolvem plantas e árvores até o momento de
serem transplantadas.
Exemplificando
Passos para dimensionamento prévio de um viveiro:
Passo 1 - Determinar o número de mudas por metro quadrado. Isso se
faz calculando quando mudas cabem numa bandeja e quantas bandejas
cabem em um metro quadrado de área.
MB
MM =
BM
MM = Mudas por metro quadrado
MB = Mudas por bandeja
BM = Metros quadrados por bandeja
PM ´ EMV
TCV = ( )´ AC ´ PD
MM
TCV = Tamanho da casa de vegetação em metros quadrados.
PM = Produção mensal de mudas
EMV = Estadia em meses das mudas na casa de vegetação
MM = Mudas/metro quadrado
AC = 0,5 = 50% (área de circulação sugerida)
PD = 1,2 = 20 % (perdas e descartes sugerido)
PM ´ EMR
TCR = ( )´ AC ´ PD
MM
TCR = Tamanho da área de rustificação em metros quadrados.
PM = Produção mensal de mudas
EMR = Estadia em meses das mudas na área de rustificação
MM = Mudas/metros quadrado
AC = 0,5 = 50% (área de circulação sugerida)
PD = 1,2 = 20 % (perdas e descartes sugerido)
Fonte: iStock.
Exemplificando
O sombrite preto ou tela agrícola é a mais utilizada por se adequar
aos diversos tipos de culturas. As mudas de café, por exemplo, usarão
sombrite com 50% de sombreamento, enquanto que mudas de eucalipto,
Reflita
Nenhuma planta sobrevive sem água, logo o abastecimento de água é
um fator crítico no viveiro. Considerando que as mudas são irrigadas,
em média, de duas a quatro vezes por dia e que isso reflete em um
consumo de água e energia considerável, que ações você tomaria como
engenheiro agrônomo para otimizar estes recursos?
Pesquise mais
Os custos para a implantação de um viveiro de mudas florestais
dependem diretamente do tipo de viveiro que se pretende construir, se
temporário ou permanente, a céu aberto ou coberto, com estruturas de
madeiras ou metálicas, etc. Para saber mais como calcular os custos de
implantação de um viveiro, acesse:
MACHADO, C.; CUNHA, L. C.; SILVA, A. P. J. Custo de produção de mudas
em viveiro: um estudo de caso na Associação de Preservação do Meio
Ambiente e da Vida - Apremavi. In: XXII Congresso Brasileiro de Custos,
2015, Foz do Iguaçu. Anais..., 2015.
GÓES, A. C. P. Viveiro de mudas-construção, custos e legalização.
Embrapa Amapá-Documentos (INFOTECA-E), 2006.
Fonte: iStock.
Fonte: iStock.
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Você, atuando como um consultor na área de produção de mudas, foi
contratado para realizar um projeto de readequação de um viveiro de mudas
clonais em favor da empresa Florescer. O seu primeiro desafio proposto pela
empresa foi de realizar um cálculo preliminar da área de um viveiro florestal
de eucalipto de sementes. Para isso deverá usar as seguintes premissas para
o cálculo: a) Vinte por cento de perdas e descartes; b) Tubetes de 55 cm3
alocados em bandejas de 0,41 m x 0,58 m perfazendo 0,24 m2, onde é possível
alocar 96 tubetes; c) Tempo de emergência na casa de vegetação de 45 dias, na
casa de sombra tempo médio de espera de 30 dias, e na área de rustificação,
tempo médio de espera de 60 dias; (d) Produção de 50.000 mudas por mês;
(e) Cinquenta a setenta por cento da área deve-se ser destinada a circulação
Das opções abaixo, selecione a atividade operacional correta utilizada neste tipo
de canteiro.
a) A semeadura indireta exige um menor preparo (em relação à direta) para certifi-
car-se de que as plântulas estejam prontas para o transplante durante a estação certa
de cultivo.
b) É essencial adubar o canteiro de semeadura, caso contrário as sementes não germinam.
c) Quando se planta espécies do grupo pioneiras, o canteiro de semeadura pode ser
“aberto” (exposto a sol pleno), uma vez que este grupo de espécies já são adaptadas a
este tipo de ambiente.
d) Não é necessário a rega dos canteiros de semeadura, pois as sementes já possuem
umidade suficiente para a germinação.
Diálogo aberto
Agora em nossos estudos sobre manejo florestal vamos nos aprofundar
um pouco mais nas operações de um viveiro de produção de mudas flores-
tais. Abordaremos a escolha de recipientes e substratos, bem como a coleta,
seleção e quebra de dormência de sementes florestais para produção de
mudas. Abordaremos ainda o desbaste e irrigação e avaliação de quali-
dade, padronização, adubação, controle de pragas e controle de doenças na
produção de mudas em viveiros.
Importante destacar que um dos objetivos de sua aprendizagem nesta
seção é complementar saberes dos processos técnicos necessários para a
formação de mudas em viveiros e povoamentos florestais para que possa, a
partir do conhecimento adquirido, resolver situações práticas profissionais.
Não se esqueça de que estamos desenvolvendo conhecimentos sobre manejo
florestal e formação de mudas florestais e nos aprofundando nas técnicas e
equipamentos de formação destas mudas.
Prosseguindo em suas atividades como engenheiro agrônomo na empresa
de consultoria agrícola e ambiental MultiFlora, você foi chamado em um
viveiro de produção de mudas para resolver o problema de mudas plantadas
em tubetes que não estavam se desenvolvendo adequadamente, apresen-
tando baixa taxa de crescimento e clorose nas folhas. No mesmo local, você
observou que indivíduos da mesma espécie, plantados em sacos, apresentava
desenvolvimento normal.
Dessa forma, você comunica os responsáveis que a escolha inadequada
de tubetes e o tipo de substrato são prejudiciais às mudas, e salienta a neces-
sidade de elaborar um parecer de adequação do viveiro, em que possa fazer
uma proposição de diferentes opções e medidas (de embalagens e substratos)
que sejam implantadas para eliminar o problema da baixa qualidade das
mudas. Então esses responsáveis lhe fazem os seguintes questionamentos
(que poderão compor o seu parecer de adequação): por que os tubetes
influenciaram a taxa de crescimento das plantas? Qual explicação para o
aparecimento de clorose nas plantas crescidas em tubetes? Como escolher
adequadamente recipientes (tamanhos de sacos ou tubetes) para diferentes
espécies? O tempo de permanência da planta no viveiro influencia a escolha
do tamanho dos sacos?
Fonte: iStock.
Exemplificando
Para diferentes espécies são utilizados diferentes critérios para a seleção
de matrizes. Além disso, dentro da mesma espécie podem ser utilizados
diferentes critérios a depender do uso a que as mudas serão destinadas.
Para entender isso melhor, veremos dois exemplos.
O primeiro refere-se ao critério adotado pela antiga Companhia Paulista
de Estradas de Ferro para a seleção de matrizes de eucalipto de uma
população cujos indivíduos tenham material genético semelhante e de
mesma idade. Foram realizadas as medidas de DAP (diâmetro a altura
do peito) de todos os indivíduos para calcular a média (Dapm) e o desvio
padrão (s) populacional. As árvores com DAP maior que o DAPm e o
Fonte: iStock.
Pesquise mais
A dormência pode ser classificada em primária, quando as sementes
colhidas já apresentam dormência e secundária, quando ficam
dormentes por exposição a fatores ambientais desfavoráveis, mas que
germinariam em condições normais (IPEF, 1997). De acordo com Fowler
e Bianchetti (2000), podem, também, ser classificadas como dormência
tegumentar ou exógena e dormência embrionária ou endógena. Para
mais detalhes, leia as páginas de 5 a 12 do material indicado a seguir.
FOWLER, A. J. P.; BIANCHETTI, A. Dormência em sementes florestais.
Colombo: Embrapa Florestas, 2000.
Descrição da situação-problema
Você, atuando como um consultor na área de produção de mudas, foi
contratado por um produtor de mudas nativas florestais, o sr. Augusto Cesar,
para solucionar um problema de germinação de sementes no seu viveiro que
estava sendo impactado financeiramente pelo baixo desempenho de germi-
nação. Durante a visita, você verificou um grande número de embalagens
sem plantas (sem germinação) e embalagens com mudas pequenas e/ou
malformadas. Em conversa com os funcionários, eles afirmaram que isso
começou a acontecer quando a demanda de vendas do viveiro aumentou
significativamente, aumentando a pressão nos coletores de sementes de
árvores nativas contratados pelo sr. Augusto Cesar. Ao analisar visualmente
as sementes coletadas, você verificou grande variação em tamanho e cores
em uma mesma espécie.
Ao relatar essa situação ao sr. Augusto César, ele questiona qual seria o
problema com o viveiro e com as sementes. Para solucionar o problema, você
deverá elaborar um parecer técnico apontando os problemas diagnosticados
e soluções, garantindo a expansão do empreendimento.
No seu parecer técnico, você deve responder ainda as seguintes perguntas
realizadas pelos funcionários do viveiro: quais são as características que
indicam uma semente de qualidade? Quais são as técnicas que podem ser
utilizadas para quebrar a dormência das sementes?
Resolução da situação-problema
Para elaborar o parecer técnico do viveiro do sr. Augusto Cesar você
propõe a implementação de duas rotinas para aumentar o desempenho da
germinação das sementes.
A primeira rotina é plantar apenas sementes que passaram por uma
classificação de qualidade que levam em conta cinco aspectos: aspecto
visual, tamanho médio, densidade da semente, umidade da semente, peso de
matéria seca da semente. Importante destacar que cada espécie tem parâme-
tros próprios de qualidade.
Com relação ao estado visual geral das plantas de um viveiro florestal, analise as
afirmativas abaixo e indique o padrão de qualidade adequado.
a) Mudas florestais com diâmetro de colo pouco desenvolvido, estreito e flexível.
b) Mudas florestais com parte aérea bem formada, cuja altura ultrapassa mais
de quatro vezes a altura do recipiente, com relação superior entre parte aérea e
sistema radicular.
c) Mudas com aspecto visual satisfatório: bom vigor, sem sintomas de deficiência
nutricional (coloração e formato normais das folhas), ausência de pragas e doenças,
sem perda precoce de folhas.
d) Mudas com distância longa entre os internódios, estiolamento, haste flexível, com
bifurcações e tortuosidades comuns às mudas.
e) Mudas com sistema radicular formado, com raízes de cor negra e estioladas,
desagregadas ao substrato.
Convite ao estudo
Vamos iniciar a Unidade 2 da disciplina Condução de Povoamentos
Florestais. Anteriormente, foram vistos os conteúdos introdutórios; agora,
serão abordados os conceitos relacionados à condução de povoamentos
florestais. A intenção é continuar o seu processo de construção do conhe-
cimento, relacionando os conceitos e fundamentos de desbaste, desrama,
clonagem e manejo de povoamentos florestais.
Após o estudo desta unidade, você será capaz de saber os processos
técnicos necessários para a formação e condução de povoamentos flores-
tais. Para que esses objetivos sejam alcançados, imagine a seguinte situação:
você é um engenheiro agrônomo que foi contratado por uma Associação
de Produtores Florestais para dar apoio aos associados na condução de
diferentes espécies florestais. Seu cliente, por meio do diretor da associação,
solicitou um diagnóstico e um plano de ação a partir de algumas florestas
escolhidas dos associados, as quais você visitará e indicará ações práticas
a serem replicadas a todos os associados. O motivo é que muitas dessas
florestas estagnaram seu crescimento, e a madeira, quando beneficiada,
apresenta problemas de qualidade.
Para alcançar os resultados esperados, você precisará visitar povoa-
mentos florestais e fazer levantamentos e registros das variáveis, apresen-
tando um diagnóstico e um plano de ações de longo prazo, prevendo
diferentes ações em função do uso final da madeira, uma vez que os produ-
tores estavam sendo mal remunerados pela qualidade “ruim” das árvores
da sua floresta e poderiam até mesmo ter seus contratos de venda futura de
madeira cancelados.
Você encaminhou uma proposta, a qual foi aprovada pelo conselho
da Associação de Produtores Florestais e ela contemplava três etapas bem
definidas:
• Etapa 1 - Elaboração de um roteiro de boas práticas em desbastes
florestais adaptado à condição das florestas dos associados.
• Etapa 2 - Elaboração de um roteiro de boas práticas em desrames
florestais, também adaptado à condição das florestas dos associados.
• Etapa 3 - Elaboração de um manual de técnicas de controle de pragas
e doenças florestais.
Nesse contexto, algumas perguntas dos associados devem ser respon-
didas: quando se usa a técnica de desbaste florestal? Como pode ser realizada?
Quais espécies florestais aceitam bem a técnica do desrame? Quando e como
deve ser utilizada? Quais são as principais pragas e doenças comuns que o
produtor florestal deve estar atento ao utilizar as espécies mais plantadas no
Brasil, no caso, o Pinus e o Eucalipto?
Para responder a esses e outros questionamentos dos associados, vamos
conhecer os conceitos e fatores presentes na condução de povoamentos
florestais, pensando em ações que previnam problemas e incrementem o
desenvolvimento do povoamento florestal em função do uso final. Como
resultado de aprendizagem, você saberá os processos técnicos necessários
para a formação de povoamentos florestais.
Seção 2.1
Desbastes florestais
Diálogo aberto
Na construção do conhecimento sobre povoamentos florestais, é impor-
tante que você conheça os processos técnicos para conduzir florestas, como
é o caso do desbaste. Esse processo acontece em momentos oportunos, em
diferentes intensidades, de forma sistemática ou seletiva, de acordo com o
destino final da floresta.
Você, como engenheiro agrônomo, ao visitar as propriedades flores-
tais dos associados, observou que as florestas apresentavam indícios de
crescimento lento ou estagnação após oito anos. As propriedades avaliadas
possuem contrato de venda de madeira para uma grande serraria a partir
de árvores de determinado diâmetro, no entanto, elas não estão ganhando
incrementos anuais em diâmetro suficiente para atender à serraria, conforme
contrato de compra futura, e isso poderá levar à rescisão contratual.
Com o intuito de auxiliar tais propriedades, bem como os demais membros
da associação, o diretor responsável solicitou que você elaborasse um plano
de desbaste florestal baseado na correta aplicação dessa técnica, propiciando
o incremento dos diâmetros das toras de madeira do povoamento florestal.
Os associados não sabem como fazer esse desbaste e nem em qual proporção
isso deverá acontecer. Você, como especialista, deverá direcionar o povoa-
mento florestal de eucalipto, que foi plantando no espaçamento tradicional
de 3 m x 2 m para a obtenção de toras de madeira de elevados diâmetros em
rotações de 14 e 21 anos, respectivamente, atendendo às cláusulas contratuais
de fornecer árvores no padrão acordado para o abastecimento da serraria. Na
elaboração do roteiro de boas práticas em desbastes florestais, é importante
incluir as respostas aos seguintes questionamentos:
1. Em que momento da floresta é vantajoso realizar o desbaste?
2. Como e com qual intensidade será realizado o desbaste florestal?
3. Qual é o comportamento ecológico e fisiológico das plantas após o
desbaste?
Para responder a esses questionamentos, foque na intensidade e nos tipos
de desbastes florestais. Uma revisão sobre o comportamento dos indivíduos
do povoamento e a ação do desbaste é essencial para consolidar os conheci-
mentos desta seção.
Assimile
O Inventário Florestal Contínuo, ou monitoramento do povoamento,
consiste em medições periódicas de variáveis do povoamento (diâmetro
das árvores, altura, volume, entre outros), em uma estrutura amostral,
que possibilita tomar decisões na remedição de todo o povoamento
florestal. O objetivo é verificar as mudanças que ocorrem em uma
determinada população florestal, em um determinado espaço de
tempo, sendo uma ferramenta de controle e tomada de decisão em
projetos florestais.
Assimile
Conicidade refere-se à diminuição do diâmetro da base do tronco para
a copa da árvore, sendo assim, esse tronco assume forma de cone. Em
termos práticos, essa característica é considerada um defeito quando o
diâmetro da tora diminui mais de um centímetro por metro de compri-
mento (GROSSER, 1990 apud LIMA; GARCIA, 2011). Peças serradas a
partir de troncos muito cônicos geralmente apresentarão baixa resis-
tência mecânica, uma vez que as fibras da madeira na peça serrada
exibirão angulação em relação ao eixo perpendicular dela, favore-
cendo a separação entre elas, produzindo principalmente baixa resis-
Intensidades
Leve Moderada Forte
Indicadas na intensidade leve
Indicadas na intensidade mo-
+
derada (inclui as de intensidade
Codominantes malformadas
Doentes e mortas leve)
(defeitos no tronco ou copa) ou
+ +
com copa excessiva
Dominadas e subdo- Algumas codominantes bem
+
minadas conformadas
Ocasionalmente, dominantes
+
muito próximas, mesmo que
Dominantes malconformadas
bem conformadas, ou com copa
excessiva
DESBASTE ALTO
Eliminam-se as árvores dos estratos médio a superior do povoamento, com o objetivo de
favorecer o desenvolvimento de árvores dominantes e codominantes, que se deseja conduzir
até o final da rotação. O objetivo é permitir que árvores de estratos inferiores atinjam valor
comercial.
Intensidades
Leve Forte
Todas as árvores doentes, mortas, inclinadas
e com copa excessiva
+
Maior parte das dominantes malformadas
Árvores de grau anterior, junto a outras de
+
classes superiores, que dificultam o desenvol-
Algumas dominantes bem formadas, mas
vimento das melhores árvores
demasiadamente juntas
+
Parte das codominantes
Vocabulário
• Árvores codominantes: competem com as dominantes, mas
possuem menores dimensões.
• Árvores dominantes: são as que se sobressaem em altura e forma
em um dossel florestal.
• Árvores dominadas e intermediárias: são as com menor cresci-
mento e maior probabilidade de morte; possuem menores dimen-
sões e estão suprimidas no dossel.
Assimile
Conformação é o ato ou efeito de dar ou adquirir uma dada forma ou
configuração. Quando falamos de conformação de fuste, sugerimos
utilizar técnicas de manejo florestal, cujo objetivo final é dar forma ao
fuste, geralmente em um formato cilíndrico e livre de defeitos (nós). No
desbaste seletivo, é comum se realizar o trabalho de conformação de
fuste, excluindo árvores tortas, ramificadas e muito cônicas.
Exemplificando
Em um mesmo povoamento florestal, pode-se conduzir as árvores de
diferentes formas para que se adequem ao padrão a que se destinam.
Em geral, são realizados desbastes periódicos, acompanhando o desen-
Reflita
É importante destacar que temperaturas mais altas e mais água, propor-
cionadas pelo desbaste, melhoram as condições de vida dos microrga-
nismos no solo. Dessa forma, de que maneira o desbaste pode influen-
ciar negativamente no desenvolvimento da microbiota do solo?
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Você, atuando como consultor na área de manejo florestal, foi contra-
tado para realizar um plano de desbastes de um plantio de cedro australiano
em favor da empresa “Cedrella”, para melhorar a qualidade da madeira do
povoamento florestal. No desafio proposto pela empresa, você foi incum-
bido de definir o tipo de desbaste a ser realizado em um espaçamento de
3 x 4 metros (833 árvores por hectare). Visitando o povoamento florestal
de três anos, você verificou que o plantio foi feito a partir de mudas de
sementes, e que ele se encontrava muito heterogêneo. O gerente da empresa
lhe pergunta qual seria o tipo de desbaste e com qual intensidade seriam
realizados os próximos desbastes, considerando um corte final da floresta
com 14 anos; além disso, solicita que você, a partir de seus conhecimentos,
elabore um plano de manejo de condução do cedro para se produzir madeira
de qualidade.
Com relação aos fundamentos dos desbastes florestais, assinale a alternativa correta:
a) O desbaste florestal aumenta a competição existente entre as plantas, permitindo
que aconteça um incremento no diâmetro das árvores.
b) O desbaste florestal melhora o padrão das florestas remanescentes ao retirar os
indivíduos mais aptos, permitindo que os indivíduos menos aptos se recuperem,
formando um povoamento florestal de qualidade.
c) O desbaste florestal reduz investimentos, uma vez que se obtém receitas (da venda
de madeira do desbaste) antes do ciclo final da floresta.
d) No desbaste florestal seletivo, ao se retirar os indivíduos menos aptos, incremen-
ta-se valor ao povoamento florestal por manter as árvores mais aptas.
e) Os desbastes, por serem uma atividade agressiva de retirada de árvores, propiciam
um maior ataque de pragas e doenças no povoamento florestal.
3 . O primeiro desbaste deve ser pensado para eliminar também árvores malfor-
madas, tortas, bifurcadas e doentes, mesmo que apresentem dimensões elevadas.
Deve-se evitar a retirada de grupos de árvores e procurar manter uma distribuição
uniforme de espaçamento entre as árvores remanescentes. Geralmente, os primeiros
desbastes são “pelo baixo”.
Diálogo aberto
Nesta seção, abordaremos principalmente a desrama florestal, estudando
os tipos, os métodos, a época ideal, os critérios, as vantagens e as desvantagens
dessa técnica. Ainda, veremos a condução de povoamentos florestais clonais.
Para que possamos compreender um pouco mais sobre os conteúdos a serem
abordados, vamos relembrar o contexto de aprendizagem em que você é um
engenheiro agrônomo contratado por uma Associação de Produtores Florestais
para apoiar os associados na condução de diferentes espécies florestais.
Para esta seção, lançamos o seguinte desafio: você, ao analisar alguns
inventários florestais contínuos dos associados, verifica que a maior parte
das árvores apresenta baixa taxa de crescimento em determinada época do
ano, e que isso acontece ciclicamente.
Dessa forma, você realiza uma visita in loco a um dos povoamentos
florestais para checar as informações do Inventário Florestal Contínuo. É
verificado que a maioria das árvores apresenta baixo porte, com troncos de
pequeno diâmetro e dossel superior pouco expressivo, sem sinais de doenças.
Ainda, observa que, na análise de solo, os níveis dos nutrientes estão
adequados para a cultura. Porém é informado que a desrama foi realizada
no mês de maio (em que se tem um inverno com baixa pluviosidade e baixo
fotoperíodo comparando-se ao verão), removendo cerca de 70% da copa das
árvores. Assim, deduz-se que a desrama drástica (quando a remoção de copa
é feita de uma única vez em percentuais superiores a 50% do original) reali-
zada seja uma das prováveis causas da baixa taxa de crescimento.
Ao ouvirem sua análise, você recebe os seguintes questionamentos de
alguns associados: qual é o mês indicado para a realização da desrama e
por quê? Qual é o comportamento fisiológico da árvore ao sofrer desrama
artificial? Como a desrama drástica pode atrapalhar o crescimento da planta?
Neste momento, o diretor da associação solicita que você elabore um roteiro
de boas práticas em desrama florestal. Na sua consultoria, você construirá
a segunda parte do seu serviço para a Associação de Produtores Florestais,
cujo principal objetivo é a produção de madeira “limpa” (com ausência de
nós e defeitos), resultando em uma madeira de maior valor de mercado, sem
impactar de forma significativa o crescimento dos indivíduos no povoa-
mento florestal.
Vantagens Desvantagens
Melhoria do balanço da evapotranspiração
Redução das reservas orgânicas imediatas das
das árvores, em especial, em sítios em que
árvores em função da remoção dos galhos.
existe déficit hídrico.
Incremento imediato de matéria orgânica
Diminuição dos reguladores de crescimento da
no solo a partir dos ramos e das folhas re-
árvore.
movidas.
Melhoria da qualidade da madeira (pela efe-
Impacto negativo no crescimento da árvore.
tiva redução dos nós).
Fonte: iStock.
Os nós de madeira podem ser mortos ou vivos. Eles são uma formação
lenhosa advinda de galhos vivos dentro do fuste. Por ser um galho vivo e ter
uma região cambial ativa (que existe no fuste também), ocorrerá o fenômeno
de anastomose das células, que consiste na união desses tecidos em um único,
o que impede a separação futura, quando serrado, para produção de tábuas
(CALDEIRA, 1999).
O nó morto advém do envolvimento do fuste em um galho morto, cujo
câmbio não está mais em atividade. Sendo assim, não haverá o fenômeno de
anastomose, ocasionando como resultado um pedaço de lenho solto dentro
do fuste da árvore e que facilmente se desprenderá, podendo formar buracos
ou pontos extremamente frágeis na madeira processada mecanicamente
(CALDEIRA, 1999).
Existem, basicamente, dois tipos de desrama: a natural e a artificial.
A desrama natural acontece quando se implementa um povoamento
florestal denso, em que o próprio sombreamento do povoamento promove
naturalmente a morte e queda dos galhos inferiores e o crescimento das
árvores em altura. A desrama natural é bastante eficiente em florestas de
Assimile
Sítio florestal é definido como a soma das condições efetivas sobre as
quais uma planta ou comunidade vive e sua capacidade de produzir
madeira ou outro produto florestal. Denota uma combinação de fatores
ambientais (solo, clima, topografia, etc.) com fatores inerentes à própria
planta, que afetam seu crescimento e produção (RIBEIRO et al., 2002).
Fonte: iStock.
Exemplificando
No caso da teca indiana, madeira nobre, plantada com o objetivo de se
obter madeira serrada, as desramas são essenciais e, geralmente, são
realizadas seguindo a seguinte proposta (SCHMINCKE, 2000; PÉREZ,
2005; PELISSARI, 2012 apud PELISSARI et al., 2014):
• A partir do segundo ano: retirada de galhos até um terço da altura
total das árvores.
• A partir do terceiro ano: retirada de galhos até a metade da altura
total das árvores.
• A partir do quarto ano: retirada de galhos de até dois terços da
altura total das árvores.
• A partir do quinto ano: manutenção da desrama, com a remoção de
galhos até 7,0 m de altura nas idades seguintes.
Saiba mais
O Pinus é uma das espécies mais utilizadas no Brasil para se produzir
serrados. Por ser uma conífera, o desrame artificial acaba sendo uma
atividade usual para povoamentos dessa espécie. Logo, conhecer o nível
de intensidade de operação de desrame acaba sendo importante. Para
saber mais, leia:
Exemplificando
No caso do cedro australiano (Toona ciliata M. Roem), a desrama é neces-
sária e varia de intensidade e frequência, de acordo com a precipitação e
fertilidade das áreas implantadas. A desrama nessa espécie acontece até
os 6,5 metros de fuste, sendo realizada de forma leve (evitando a remoção
de mais de 30% do volume de folhas do dossel). São necessárias três
desramas leves, sendo a primeira de condução, aos 7 meses; a segunda
de galhos baixos aos 19 meses; e a terceira de galhos altos aos 31 meses.
As podas dos galhos devem ser realizadas rentes ao tronco, mas evitando
ferimentos na casca do fuste (BELA VISTA FLORESTAL, 2018).
Fonte: iStock.
Reflita
Uma das alternativas desenvolvidas nos últimos anos e que vem gerando
resultados surpreendentes é o melhoramento vegetal por meio de
clonagem de mudas de espécies de árvores plantadas.
A do mogno africano, por exemplo, vem possibilitando a ampliação da
produção de viveiros, de modo a suprir uma demanda que, em condições
normais, não seria possível, já que a árvore é considerada rara e cara.
Quais técnicas poderiam ser utilizadas para produzir mudas clonais de
qualidade de espécies exóticas, como o mogno africano?
Com relação às técnicas e aos equipamentos usados para a poda dos galhos, assinale
a alternativa correta:
a) Foice e facão são ferramentas de impacto recomendadas para se realizar o desbaste
florestal.
b) Ao se realizar o corte dos ramos da árvore, deve-se deixar um “ramo”, que varia de
5 a 30 cm, o qual, com o tempo, morrerá e se desprenderá naturalmente da árvore.
c) A tesoura de poda e o serrote de poda não são fermentas adequadas à desrama,
uma vez que, operacionalmente, são pouco eficientes e de uso manual.
d) Durante o corte do ramo, deve-se remover a casca do entorno da injúria, cujo
objetivo é facilitar a cicatrização.
e) O corte dos ramos deve ser bem rente ao fuste, favorecendo uma melhor cicatri-
zação advindo da remoção do galho.
3. Os galhos são tão importantes para a vida da árvore como as raízes. São porta-
dores dos ramos, das folhas, das flores e dos frutos e atuam como condutores de água
e dos produtos de assimilação. O nó é a base de galho ou ramo que está encaixado no
tronco de uma árvore ou em outro galho maior. O nó tem início na medula e cresce
do centro para a periferia, provocando na sua vizinhança uma série de desvios ou
descontinuidade dos tecidos lenhosos.
Diálogo aberto
Neste momento dos nossos estudos sobre manejo florestal, vamos nos
aprofundar nos conhecimentos sobre o manejo das duas espécies florestais
mais plantadas no Brasil: o eucalipto e o pinus. Abordaremos, também, as
principais formas de controle de pragas, doenças e plantas daninhas nesses
dois gêneros.
Para que possamos compreender um pouco mais sobre os conteúdos a
serem abordados, vamos relembrar o contexto de aprendizagem, em que
você é um agrônomo contratado pela Associação de Produtores Florestais
para apoiar os associados na condução de diferentes espécies florestais, as
quais têm apresentado problemas nos sistemas de manejo e no controle de
pragas e doenças.
Para atendermos aos objetivos desta aula, propomos a seguinte atividade:
você, agrônomo, está fazendo uma visita rotineira aos plantios da Associação
de Produtores Florestais com sua equipe. No momento da visita em uma das
florestas dos associados, ao passar por um talhão, você observa uma grande
quantidade de árvores de eucalipto desfolhadas e cortadas. Ao adentrar no
povoamento florestal, de aproximadamente 18 meses, verifica-se que o desfo-
lhamento está sendo realizado por formigas cortadeiras. Na sua investigação,
observa-se que, dentro do talhão, existem vários pequenos formigueiros e
que, ao contorná-los, notam-se formigas atravessando a estrada florestal e
adentrando em uma pastagem degradada ao lado.
Ao entrar na pastagem para conhecer o entorno, localiza-se um enorme
formigueiro a aproximadamente 40 metros da área de produção florestal.
Um dos associados fica preocupado e surge, então, os seguintes questiona-
mentos: qual é o motivo de o eucalipto estar sendo atacado? Como controlar
o ataque das formigas rapidamente? Como se proteger de novos ataques de
formigas após o combate?
Após responder a essas dúvidas, como parte do contrato, deverá ser
elaborado um roteiro de combate e controle de formigas em povoamentos de
Eucalyptus, o qual integrará o diagnóstico e o plano de ação para a associação.
Para responder aos questionamentos e construir seu roteiro de combate
e controle, você deve focar o livro didático sobre o manejo de povoamentos
florestais, estudando as principais pragas, doenças e métodos de controle.
Fonte: adaptada de Pisa e Paranaprint (1993 apud KRONKA; BERTOLANI; PONCE, 2005).
Fonte: adaptada de Pisa e Paranaprint (1993 apud KRONKA; BERTOLANI; PONCE, 2005).
Figura 2.11 | Práticas silviculturais de acordo com o sistema de manejo para resina-madeira
Fonte: adaptada de Pisa e Paranaprint (1993 apud KRONKA; BERTOLANI; PONCE, 2005).
Vocabulário
Rusticidade: é a capacidade que certos organismos possuem em
suportar ou resistir às variações do meio ambiente. Quanto maior é essa
capacidade, maior é a sua rusticidade (ORMOND, 2006).
Dormente: é definido como madeira colocada transversalmente à via,
onde se assentam os trilhos da ferrovia.
Fonte: adaptada de Pisa e Paranaprint (1993 apud KRONKA; BERTOLANI; PONCE, 2005).
Fonte: adaptada de Pisa e Paranaprint (1993 apud KRONKA; BERTOLANI; PONCE, 2005).
Reflita
O uso múltiplo da floresta preconiza produzir madeira para diversos
fins em um mesmo projeto (energia, carvão, celulose, postes, serraria,
chapas, laminados, entre outros), e isso é feito a partir do manejo da
floresta.
Quais diferentes combinações em manejo poderiam ser utilizadas para
se obter diferentes produtos de madeira? Em que momento deveria
ser extraído cada produto? O que podemos aprender com os sistemas
de manejo utilizados para eucalipto e pinus? Poderia usar os saberes
desses sistemas de manejo para desenvolver metodologias diferentes
de condução de povoamentos florestais para outras espécies florestais
como a acácia, teca, mogno e cedro?
Vocabulário
Capina é a remoção de uma vegetação (geralmente, com raiz) que cobre o
solo para permitir o plantio de uma nova cultura.
Coroamento é a remoção da vegetação do entorno de uma planta para
diminuir a competição por nutrientes e luz e permitir seu melhor crescimento.
Roçada é o corte da vegetação nativa, que tem por finalidade facilitar (1) o
plantio ou a manutenção das espécies cultivadas e/ou (2) não prejudicar o
crescimento ou desenvolvimento das já plantadas (ORMOND, 2006)
Herbicidas pré-emergentes
Princípio Ativo Tipo de planta daninha controlada
Oxyfluorfen Gramíneas e folhas largas anuais
Oryzalin Gramíneas e folhas largas anuais
Diphenamid Folhas largas e gramíneas anuais
Dichlobenil Folhas largas e gramíneas anuais
Linuron Folhas largas e anuais
Atazina Folhas largas e gramíneas anuais
Simzina Folhas largas e gramíneas anuais
Herbicidas pós-emergentes
Princípio Ativo Tipo de planta daninha controlada
Glyfosate Gramíneas e folhas largas anuais e perenes
Paraquat Gramíneas e folhas largas anuais
Fluazifop-butil Gramíneas anuais e perenes
Setoxydim Gramíneas anuais e perenes
Alloxydim-sódio Gramíneas anuais e folhas largas
Fenaxapropetil Gramíneas anuais e perenes
Pragas do pinus
Praga Mecanismo de ataque Manejo e controle
Formiga Desfolhamento. Monitoramento e combate químico.
Cupim Ataque à madeira morta ou viva. Combate químico.
Monitoramento, tratos culturais e
Vespa da Ataque ao tronco, respingos de resina e
árvores armadilhas, controle bioló-
madeira secamento da árvore.
gico (nematoide e parasitoide).
Atacam as brotações, os ramos, o caule e
Controle biológico com predadores
Pulgões as raízes, causando clorose, secamento e
e parasitoides.
outros sintomas.
Gorgulhos Adulto ataca os brotos, e as larvas se alimen- Monitoramento e uso de armadi-
da casca tam do câmbio (entre a madeira e a casca). lhas (toretes armadilhas).
Fonte: adaptado de Santarosa, Penteado e Goulart (2014); Embrapa Florestas (2014).
Assimile
Fatores abióticos são todas as influências que os seres vivos podem
receber no seu sistema. Podem ser definidos como aspectos físicos,
químicos ou físico-químicos do meio ambiente, tais como a luz e a
radiação solar, a temperatura, o vento, a água, a composição do solo,
a pressão, entre outros, favorecendo ou desfavorecendo a ação de
agentes bióticos.
Saiba mais
Para verificar os cuidados com relação às doenças em pinus, leia o
material preparado pela Embrapa Florestal das páginas 8 a 21.
AUER, C. G.; GRIGOLETTI JÚNIOR, A.; SANTOS, A. F. Doenças em pinus:
identificação e controle. Colombo: Embrapa Florestas, 2001.
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Você, como um agrônomo consultor, foi contratado por um fazendeiro
florestal, o Sr. Júlio César, para elaborar um plano de condução de eucalipto
de uma fazenda de 600 hectares. Inicialmente, o Sr. Júlio plantou pensando
em vender a madeira com 7 anos para uma indústria de celulose, no entanto,
após um estudo de mercado (prevendo maiores ganhos financeiros), ele
decidiu que a venderia para a serraria aos 21 anos. A floresta está com 4 anos,
utilizou clones de E. urophylla e foi plantada no espaçamento de 3 x 2 metros,
em um sistema de manejo destinado a toras de madeira, com enfoque na
indústria de celulose. O Sr. Júlio quer que você elabore um novo plano de
manejo para conduzir essa floresta até 21 anos, a fim de produzir toras desti-
nadas à serraria, mudando completamente o destino final da floresta. Ele
ainda lhe pergunta: será necessário realizar podas nas árvores? Quando e
com qual intensidade devem ser retiradas as árvores do povoamento? Para
qual tipo consumidor poderiam ser ofertadas as madeiras dos desbastes?
Após responder a esses questionamentos, o Sr. Júlio César propôs que
você escrevesse um novo planejamento florestal indicando ano a ano as
ações a serem realizadas no povoamento: o momento dos desbastes, o nível
Resolução da situação-problema
Para atender à demanda do Sr. Júlio César, você deve elaborar um plane-
jamento florestal vinculado a um sistema de monitoramento do seu plane-
jamento, um Inventário Florestal Contínuo, que lhe permitirá validar o
momento mais adequado das intervenções ligadas à manutenção florestal.
No seu planejamento florestal elaborado ao Sr. Júlio César, você prevê:
desbastes aos 4, 8 e 12 anos no povoamento florestal, deixando remanescente
50% das árvores na floresta após cada desbaste. Logo após cada intervenção
de desbaste, você propõe intervenções na forma de desramas (podas) das
árvores remanescentes, sendo que essas podas não devem remover mais do
que 40% da área total da copa. Você destaca ainda que os desbastes aos 8 e
12 anos podem ser antecipados ou postergados em função dos resultados
analisados a partir Inventário Florestal Contínuo proposto (seu sistema de
monitoramento e apoio à decisão). Finalmente, indica que árvores retiradas
nos desbastes podem ser vendidas como lenha para uso industrial e/ou
agrícola e também como tora para produção de carvão e/ou confecção de
moirões e, finalmente, no fim do ciclo, vender a madeira para serraria.
Com relação aos sistemas de manejo adotados em pinus, assinale a alternativa correta:
a) O sistema de manejo de madeira para produção de fibras é chamado de clearwood,
no qual o povoamento é conduzido sem desramas e desbastes, para produzir toras
com maior diâmetro em num ciclo de 20-25 anos.
b) O sistema de manejo de madeira para produção de fibras é chamado de pulpwood,
no qual o povoamento é conduzido com intervenções de desramas de até 20-25 anos
de idade e sofre, finalmente, o corte raso.
Sistemas Silviculturais
Convite ao estudo
Caro aluno, continuando na sua construção do conhecimento sobre
manejo e produção florestal, estudaremos os conteúdos relacionados aos
sistemas silviculturais. Perceba que você já aprendeu até aqui conceitos de
manejo florestal, legislação florestal, produção de mudas florestais, condução
de povoamentos florestais (aprendendo técnicas de desbaste florestal e
desrama florestal) além de manejo florestal de espécies comerciais como
pinus e eucalipto.
Primeiramente faremos uma introdução a silvicultura, em que você
aprenderá conceitos e fundamentos em silvicultura, domesticação de espécies
florestais, manejo de diferentes povoamentos florestais e as diferenças entre
sistemas silviculturais monocíclicos e policíclicos. Na segunda seção, você
irá aprender sobre preparo e correção de solo para povoamentos florestais,
demarcação de covas, sulcos e usos de técnicas para plantio de mudas flores-
tais e o uso de colheita mecanizada em povoamentos florestais. Por fim,
na última seção, você irá aprofundar seus conhecimentos na adaptação e
condução de povoamentos florestais específicos como o eucalipto, o pinus e
a acácia, além da aplicação de boas práticas silviculturais.
Após este estudo, você terá a capacidade de distinguir e manejar adequa-
damente as áreas de silvicultura. Para que você adquira a competência
prevista para esta unidade, propomos a seguinte situação: você, como profis-
sional da área de agrárias, especialista em silvicultura, foi convidado por uma
grande siderúrgica nacional, a “Aço Verde” que adquiriu florestas de pinus,
acácia e eucalipto, visando a exploração para atender a demanda energética
da sua indústria. Em paralelo, você conduzirá plantios experimentais para
melhorar os índices produtivos atuais das florestas adquiridas que não estão
bons para atividade. Neste planejamento você irá apresentar e justificar todas
as etapas do processo de escolha e forma de condução dessas florestas. Para
sequenciar este planejamento, vamos dividir o trabalho em 3 etapas que,
juntas, irão compor o “Plano de Desenvolvimento Florestal Siderúrgica Aço
Verde”, sendo:
Etapa 1: Indicação das principais espécies e clones de eucalipto a serem
domesticados incluindo forma e manejo de condução dos povoamentos
experimentais que substituirão as florestas adquiridas de baixa produtividade.
Etapa 2: Condução dos povoamentos, levando em consideração as
técnicas de colheita e baldeio da madeira na sua rotação de corte.
Etapa 3: Comparação dos sistemas silviculturais e adaptabilidade de
espécies de eucalipto, pinus e acácia, pensando na qualidade da madeira e
seu carvão para uso siderúrgico como alternativas comerciais em projetos de
expansão da siderúrgica “Aço Verde”.
Para o desenvolvimento dos trabalhos, algumas questões estarão perme-
ando esta unidade, como quais espécies podem ser domesticadas e facil-
mente conduzidas em novos povoamentos experimentais? Como proceder
a domesticação? Por que os planejamentos experimentais de povoamentos
florestais devem levar em consideração a forma de colheita florestal e uso
final da madeira? Por que deve se levar em consideração diferentes espécies
e gêneros de árvores ao se desenvolver projetos florestais de grande porte?
Para responder estes e outros questionamentos, você estudará nesta
unidade sobre fundamentos da silvicultura, domesticação de espécies flores-
tais, manejo de um povoamento florestal e, por fim, conhecimentos sobre
sistemas florestais. Ao final desta unidade esperamos que você saiba distin-
guir e manejar adequadamente as áreas de silvicultura.
Pronto para começarmos este novo desafio?
Seção 3.1
Introdução a silvicultura
Diálogo aberto
O próximo passo do seu aprendizado se concentra no tema silvicultura,
que surgiu com o objetivo de:
• Aumentar os produtos de base florestal.
• Reduzir os custos da exploração destes.
• Garantir a sustentabilidade de um modelo de exploração econômica.
A silvicultura tem um importante papel no processo de reflorestamento,
pois atua contra a erosão, a desertificação e o enfraquecimento do solo, tendo
como função cuidar da exploração e da manutenção racional das florestas,
desde o pequeno agricultor às grandes indústrias madeireiras.
Para alcançarmos estes saberes, considere a seguinte situação: você, como
profissional da área de agrárias, especializado em silvicultura, visitando uma
floresta de eucalipto de dois anos de idade da siderúrgica “Aço Verde”, desti-
nada ao abastecimento da indústria, verificou que as árvores estavam secas
e praticamente mortas, sendo que esse estado atual da floresta sucedeu-se
logo após uma forte geada na região. De imediato, você entendeu que aquela
espécie de eucalipto não seria adequada ao seu programa de experimentos
silviculturais no qual é responsável. Baseado neste fato, um dos diretores
da siderúrgica, dentro do “Plano de Desenvolvimento Florestal”, solicitou
que você elaborasse um programa de melhoramento florestal na forma de
relatório, cujo objetivo das árvores seriam 1) ter elevado incremento de
madeira no ciclo e 2) ser resistentes a geadas.
No entanto, você apontou ainda que era necessário verificar outros pontos
importantes no programa de melhoramento, como 3) qualidade da madeira
produzida adequada à produção de carvão e 4) arranjo ideal de indivíduos
arbóreos para facilitar a operacionalidade das atividades de plantio e colheita
desses povoamentos florestais.
Assim, para que seu programa de experimentos funcione, você deverá
responder também aos seguintes questionamentos: quais são as principais
práticas silviculturais utilizadas para produção de madeira? Que espécies são
recomendadas considerando tolerância a geadas em um programa de melho-
ramento florestal? Que diferentes técnicas de manejo serão usadas para
produzir madeira de eucalipto adequada para se produzir carvão vegetal?
Fonte: iStock
Assimile
Domesticação e cultivo são dois processos que não devem ser confun-
didos. A domesticação envolve seleção intencional de características
desejáveis para a adaptação às condições de condução, visando sobrevi-
vência e reprodução antes da propagação efetiva da espécie, já cultivo se
caracteriza pelos cuidados que são dispensados na propagação da espécie
no novo ambiente escolhido para ser cultivada (SILVA et al., 2010).
Exemplificando
A técnica de transformação é utilizada para se preservar e explorar
matas nativas dentro dos objetivos finais da produção florestal. Pela lei
brasileira, isso se faz pelo PMFS, que é um documento técnico mediante
o qual se estabelece o zoneamento e as normas que devem presidir o
uso da área e o manejo dos recursos naturais.
Saiba mais
É possível conhecer diversas espécies de eucalipto com adaptação a
diferentes características edafoclimáticas que poderiam ser usadas para
se realizar um programa de domesticação e melhoramento florestal no
Brasil ou em outros países. Para saber mais, leia as espécies citadas por:
Reflita
A domesticação pode ser realizada em qualquer tipo de espécie florestal,
no entanto é mais eficiente quando se usa espécie e alta plasticidade
ecológica como o pinus e eucalipto, que se adaptam a uma ampla gama
de ambientes. Dessa forma, quais espécies florestais exóticas, além do
eucalipto e pinus poderiam ser domesticadas? Quais espécies flores-
tais nativas, de interesse comercial, geralmente cortadas ilegalmente,
poderiam ser domesticadas? Quais seriam as vantagens e desvantagens
desse processo?
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Você, atuando como um consultor na área de povoamentos florestais, foi
contratado para realizar um plano de domesticação da espécie Seringueira
em favor de um fazendeiro do estado do Mato Grosso, o Sr. Joaquim da Cruz,
na Fazenda “Novo Látex”. O fazendeiro já possui dezenas de variedades de
1 . Num conceito mais moderno, silvicultura pode ser definida como uma ciência
dedicada ao estudo de métodos hábeis a promover a implantação e a regeneração dos
povoamentos florestais em função não apenas de interesses econômicos, mas também
sociais, culturais e ecológicos.
Diálogo aberto
Nesta seção abordaremos o preparo e a correção de solo para implantação
de um povoamento florestal, as técnicas de plantio das mudas neste povoa-
mento bem como a colheita florestal. Fique atento visto que essas são fases
importantes da floresta. A extração florestal (colheita) é a fase mais onerosa
de todo do processo do um povoamento florestal, seguida da implantação
(que consiste das etapas de preparo de solo e plantio).
Para que possamos compreender um pouco mais sobre os conteúdos a
serem abordados, vamos relembrar o contexto de aprendizagem em que você
é um engenheiro agrônomo contratado pela siderúrgica “Aço Verde”, que está
desenvolvendo um plano de desenvolvimento florestal. A empresa adquiriu
florestas de eucalipto visando utilizar a madeira proveniente dessas florestas
em sua matriz energética, entretanto, muitos acidentes estavam acontecendo
nestas áreas durante a fase de exploração florestal, e você foi acionado para
realizar uma verificação e elaborar um relatório técnico.
Na segunda etapa do plano, você irá elaborar um programa de condução
de povoamentos florestais, levando em consideração as técnicas de colheita e
baldeio da madeira na sua rotação de corte.
Ao consultar os registros de incidentes e acidentes com máquinas
florestais, verificou um elevado índice de tombamentos, gerando prejuízos
materiais e humanos. A fim de verificar o porquê deste elevado índice, você
decidiu acompanhar as operações florestais in loco. Chegando ao local,
verificou-se que as florestas foram implantadas em áreas acidentas (relevo
comum na região), sendo que o plantio foi realizado em curva de nível. Ao
observar o maquinário em trabalho, notou-se que máquinas acompanhavam
a curva de nível para se adaptar ao método de plantio, ficando lateralmente
inclinadas, e que um obstáculo ou um erro de operação da máquina poderia
facilmente tombá-la.
O diretor da siderúrgica “Aço Verde” sugeriu que você preparasse um
documento (roteiro explicativo de novos arranjos de plantio) contendo
informações que evitam acidentes, e que a técnica de plantio das árvores
seguindo a curva nível (apesar de ser uma técnica preservacionista do solo)
fosse evitada nos seu arranjos de plantio. Plantar florestas em curva de nível
é a causa da maior parte dos acidentes com máquinas de colheita, efeito este
só percebido anos após o fim do ciclo de crescimento da floresta.
Vocabulário
A subsolagem é a prática pela qual se rompe camadas adensadas e/ou
compactadas formadas no interior do solo na qual não ocorre a inversão
de leivas, sendo geralmente realizada em profundidades abaixo de 35
cm do solo.
Fonte: iStock.
Fonte: iStock.
Fonte: iStock.
Exemplificando
Como as plantações de eucalipto são normalmente feitas em solos
marginais, é necessário que eles sejam adubados de acordo com a fertili-
dade. Uma formulação geral utilizada é (HIGA et al., 2000):
• Ca + Mg (calagem): Necessário apenas em solos pobres e/ou muito
ácidos. Em solos de baixa fertilidade recomenda-se aplicar 1.500
a 2.500 kg de calcário dolomítico, distribuídos em toda área ou
aplicados em faixas de 1 a 1,5 m de largura sobre as linhas de plantio.
• Nitrogênio (N): De 25 a 50 g por planta, menores dosagens para
maiores teores de matéria orgânica no solo, sendo uma dosagem
no plantio e outra cerca de 60-90 dias depois.
• Fósforo( P2O5 ): De 50 a 100 g de acordo com a textura do solo,
maiores teores para solos mais argilosos.
• Potássio( K 2O ): De 20 a 40 g por planta conforme o teor do
elemento no solo, sendo uma dosagem no plantio e outra cerca de
60-90 dias depois.
• Boro (B) e Zinco (Zn): No plantio na dosagem de 30 g por planta.
Fonte: iStock.
Fonte: iStock.
Reflita
Independentemente do tamanho da propriedade florestal, algumas
dificuldades são vividas pelos produtores, como a falta e os elevados
custos da mão de obra, a baixa produtividade e eficiência das opera-
ções manuais. Esta realidade impulsionou as empresas de máquinas e
implementos a desenvolverem soluções para os grandes produtores.
Porém, atualmente, já estão disponíveis equipamentos adequados aos
pequenos produtores florestais.
Mesmo que você lide com um pequeno povoamento florestal, por que é
importante considerar a mecanização em sistemas silviculturais?
Que competências profissionais você deve adquirir para que possa
aplicar os fundamentos de mecanização em povoamentos florestais?
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Estrategicamente, uma grande empresa de laticínios, localizada no sul
de Minas Gerais, implantou florestas próprias de eucalipto para reduzir seus
custos de aquisição de lenha e ser autossuficiente nesta fonte de energia. Você,
atuando como um consultor na área florestal, foi contratado pelo Laticínio
para verificar problemas em povoamentos florestais. Segundo o diretor da
empresa, as florestas recém implantadas estavam apresentando crescimento
abaixo do esperado após o segundo/terceiro ano. Visitando as florestas, você
observou que muitas árvores foram arrancadas a partir de ventos fortes da
região, expondo suas raízes, sendo possível verificar que elas estavam muito
superficiais. Aprofundando na sua investigação, você resolveu fazer uma
análise do perfil do solo e verificou que em toda área existia uma camada
compacta de solo a cerca de 60-70 cm de profundidade. Ao notar o procedi-
mento de preparo de solo das novas áreas que estavam sendo implantadas,
verificou que era composto de escarificação (até 35 cm) com aplicação de
calcário para correção, seguido de sulcamento, coveamento, adubação de
base na cova e plantio. Considerando o tipo de solo e sua forma de preparo, o
diretor da empresa lhe solicita um relatório com identificação e recomenda-
ções para o problema e lhe pergunta: o que é necessário fazer para resolver o
problema de baixa taxa de crescimento das árvores?
Resolução da situação-problema
Respondendo o diretor da empresa de laticínios, explique que o problema
da baixa taxa de crescimento das árvores é a camada compactada de solo
localizada a 60-70 cm de profundidade que está impedindo o crescimento
das raízes e, consequentemente, das árvores. Para corrigir isso, será neces-
sário modificar a forma de preparo de solo, que deverá incorporar uma
subsolagem profunda de aproximadamente um metro de profundidade para
os novos plantios, rompendo essa barreira compacta e permitindo que as
2. A maior parte das florestas são implantadas em solos marginais, sendo necessário que
eles sejam fertilizados, principalmente na sua fase inicial. Cada cultura florestal terá um
programa de fertilização, baseado em calagem, adubação de base e adubação de cobertura.
Diálogo aberto
A partir de agora, em nossos estudos sobre manejo florestal, vamos
evoluir nos conhecimentos sobre o clima, desempenho produtivo e propa-
gação do eucalipto, pinus e acácia. Abordaremos também boas práticas silvi-
culturais em florestas.
Para que possamos compreender um pouco mais sobre os conteúdos
a serem abordados, vamos relembrar o contexto de aprendizagem em que
você é um agrônomo contratado para compor o Plano de Desenvolvimento
Florestal da siderúrgica “Aço Verde”, e nesta etapa, sua função é comparar
sistemas silviculturais e a adaptabilidade de espécies de eucalipto, pinus e
acácia no sul do país, pensando na qualidade da madeira e seu carvão para
uso siderúrgico.
Para esta seção, propomos a você a seguinte atividade: a siderúrgica “Aço
Verde” no seu projeto de expansão decidiu construir um novo alto-forno a
carvão vegetal no sul do país, e para garantir de imediato matéria-prima para
os primeiros anos de operação, adquiriu-se povoamentos florestais de pinus
e acácia próximos ao empreendimento para serem convertidos em lenha e
carvão a fim de abastecer o alto forno e assim produzir aço.
Você, ao visitar as florestas de acácia e pinus verificou que tinham ótimo
crescimento regional. No entanto, o espaçamento entre plantas e linhas das
florestas adquiridas era bem amplo e produzia poucas árvores por hectare e,
consequentemente, pouca madeira.
Um dos diretores da siderúrgica “Aço Verde”, que percebeu também a boa
adaptabilidade pinus e a acácia na região, pediu que você elaborasse um Plano
de Manejo Silvicultural, visando apresentar opções para os novos plantios das
espécies mais plantadas no Brasil para a região em questão, pois essas espécies,
devido ao seu viés comercial, possuem facilidade na aquisição de mudas.
Para guiar sua leitura desta seção e completar seu documento informa-
tivo, esteja atento aos seguintes questionamento do diretor e tente respon-
dê-los ao final: quais são as vantagens e desvantagens de eucalipto, pinus e
acácia considerando a finalidade do empreendimento? Quais são as práticas
de manejo comuns a todas espécies supracitadas? Todas as espécies são
recomendadas para a produção de carvão vegetal? Quais seriam as ideais
para a produção de carvão vegetal?
Vocabulário
O nome eucalipto tem origem do grego “Eucalyptus”, que significa ‘bem
coberto’, a razão dessa proveniência relaciona-se com o fato de os
órgãos reprodutores da flor serem cobertos por uma membrana que os
protege e que é descartada quando brotam (BONORA, 2016).
Por fim, vamos falar da origem do terceiro gênero mais plantado, a acácia,
a qual se origina praticamente das mesmas regiões do eucalipto sendo uma
espécie nativa da parte noroeste da Austrália, Papua Nova-Guiné e do oeste
da Indonésia (SMIDERLE et al., 2005).
Figura 3.7 | Origem das principais espécies florestais plantadas no Brasil
Espécie Finalidade
Eucaliptos
Mais indicado para construção civil (produzindo troncos muito re-
Eucalyptus cloeziana
tilíneos e resistentes) podendo ser utilizado também para produção
f. muell.
de carvão vegetal, dormentes, serraria e postes.
Mais plantado no Brasil, principalmente para extração de celulose,
Eucalyptus grandis W. sendo muito usado também para serraria e laminação (por ser
Hill ex Maiden uma madeira ligeiramente mais macia) além de carvão, lenha e
caixotaria.
Usado para produzir óleo eucalipto citriodora. Madeira usada prin-
Corymbia citriodora cipalmente para serraria (confecção de dormentes de trem) além
Hill & Johnson produção de carvão vegetal, serraria, dormentes, móveis, mourões
e taninos.
Como a madeira é de fácil usinagem, é muito usada em serraria
Eucalyptus saligna
para produção de caibros, vigas, postes, assoalhos, embalagens,
Smith
mobiliário, etc.
Eucalyptus urophylla Muito usado para formar híbridos por ser bem rústica, é bem ver-
S.T. Blake, sátil podendo ser usada para produção de papel, carvão e serraria.
Eucalyptus camaldu- Mais indicado para lenha, carvão e produção de taninos (a partir
lensis Dehn da casca) além de óleos essenciais.
Eucalyptus viminalis
Indicado para lenha e carvão.
Labill
Eucalyptus dunii
Indicado para serraria, laminação e celulose.
maiden
Pinus
Percebemos que essas espécies têm proveitosos usos, mas será que elas
conseguem crescer bem em todo Brasil? Qual é o nível de adaptação delas?
Praticamente todas as espécies do gênero Eucalyptus são sensíveis à tempe-
raturas muito baixas, sendo esse o maior impedimento do seu uso em regiões de
clima temperado. Salientamos que existem variações entre e dentro de espécies,
mas de forma geral, os eucaliptos sofrem danos abaixo de 0 °C, e poucas sobre-
vivem com temperaturas entre -15 °C e -18 °C. Para climas mais frios, sujeitos
a geadas de forte intensidade recomenda-se E. dunnii e o E. benthamii. No
entanto, a taxa de crescimento dessas espécies de clima frio é inferior às demais
espécies de eucalipto (EMBRAPA FLORESTAS, 2018a, 2018d).
Diferentemente do eucalipto, os pinus conseguem se propagar e crescer
em temperaturas mais frias, assim, passaram ocupar grandes áreas reflores-
tadas no sul do país. Muitas espécies do gênero pinus tiveram boa adaptação
às condições climáticas brasileiras, se tornando o segundo tipo árvore mais
plantada no Brasil (MARTO et al., 2006).
O gênero acácia tem suas peculiaridades, sendo que a maioria das espécies
de acácia tem de vida curta, cerca de 10 a 15 anos e, caso não seja explorada
a floresta, os indivíduos entram em senescência (processo natural de envelhe-
cimento a nível celular) e morrem. Em quais condições climáticas a acácia se
desenvolve? Isso depende da espécie de acácia, conforme figura a seguir.
40 4000
36 3600
32 3200 Acácia mangium
1.500mm-4.500mm
28 Acácia mangium 2800
24 Máximas: 32-34 oC 2400
Mínimas: 12-16 oC
20 2000
16 1600
12 Acácia mearnsii 1200
Máximas: 25-28 oC
8 800 Acácia mearnsii
Mínimas: 0-5 oC
625-1.000 mm
4 400
0 0
Fonte: Remade (2006, 2005); Marto et al. (2007); Embrapa (2014ª; 2014b; 2014c; 2014d); Marto (2006);
Resende et al. (2001); IPEF (2018a; 2018b; 2018c; 2018d; 2018e).
Pesquise mais
O pinus, além de possuir um crescimento rápido, não necessita de um
solo rico em nutrientes, o que o torna bem atrativo para os mais diversos
usos. Como existem muitas espécies de pinus, há muitas opções comer-
ciais. Pesquise mais sobre outras opções de pinus em:
REMADE. Pinus. Espécies de pínus mais plantadas no Brasil. Revista da
Madeira, n. 135, maio 2013.
Reflita
O desempenho de um povoamento florestal dependerá de um conjunto
de fatores. Esses fatores começam com a seleção correta da espécie
em função das condições climáticas e termina com uso de práticas
adequadas de plantio e práticas silviculturais.
Quais são os principais fatores de suma importância no sucesso da
implantação de uma cultura floresta? Por que espécies exóticas tendem
a ter comportamento de invasoras em alguns casos?
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Você, como um agrônomo consultor, foi contratado por uma cooperativa
florestal no norte do Mato Grosso para solucionar o problema de baixa produ-
tividade das florestas de eucalipto que são destinadas à produção de lenha
para abastecer agroindústrias da região. Os plantios de eucalipto estavam
apresentando baixo crescimento e, durante sua investigação, você percebeu
que foram plantados pela cooperativa o E. saligna e o E. camaldulensis. Na
análise de solo realizada, obteve-se fertilidade adequada ao eucalipto, e que o
solo não era o fator limitante. Em relação ao clima regional, você levantou as
seguintes características: altitude média dos plantios em torno de 500 metros,
temperatura máxima variando de 28-32 °C, temperatura mínimas variando
de 6-12 °C e pluviosidade média anual de 2.200 mm, além de perceber e que
o clima poderia ser o fator limitante sobre essas espécies.
O diretor da cooperativa florestal lhe pergunta o que provavelmente está
causando a baixa produtividade das florestas dos cooperados e o que pode
ser feito para mudar este panorama, pedindo um relatório técnico de caracte-
rísticas edafoclimáticas das espécies atuais e de espécies potenciais.
Resolução da situação-problema
Você verifica que as duas espécies plantadas E. saligna e E. camaldulensis
apresentaram algum limite climático fora do recomendado para a espécie. O
E. saligna se adapta melhor em altitudes que variam de 600-800 m, contudo,
1 . As florestas do gênero pinus são peculiares pelo seu “multiuso”, elas podem, por
exemplo, 1) produzir resina durante seu ciclo e, após o corte, a sua madeira pode ser
destinada 2) à indústria laminadora que a utiliza para fabricar compensados, ou pode
ser destinada 3) a indústria de serrados que a transforma em madeira beneficiada ou
móveis, também pode ser destinada 4) como fibras para a indústria de papel e celulose
ou MDF, além de muitas vezes ser destinada 5) como biomassa para a geração de
vapor e energia. Para cada finalidade e região edafoclimática existem sugestões de
espécies de Pinus.
BONORA, F. S. Prospecção de compostos químicos presentes nos óleos essenciais das folhas
e flores de eucalipto. 2016. 85 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo – Escola
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba, 2016.
BORGES, N.; et al. Rebrota de cepas de árvores adultas de acácia-negra (Acacia mearnsii
De Wild.). Revista Árvore, v. 28, n. 4, 2004. Disponível em: http://www.redalyc.org/
pdf/488/48828415.pdf. Acesso em: 12 fev. 2019.
BRUN, E. J. Preparo do solo para o plantio de florestas. Notas de aulas. Dois vizinhos - PR. UFPR.
2016. Disponível em: http://paginapessoal.utfpr.edu.br/eleandrobrun/graduacao/tratos-e-metodos-
-silviculturais/aulas-teoricas/TM36F-Aula5.pdf/at_download/file. Acesso em: 11 fev. 2019.
FERREIRA, Mário. Escolha de espécies de eucalipto. Circular Técnica IPEF, v. 47, p. 13-30, 1979.
Disponível em: http://www.ipef.br/PUBLICACOES/ctecnica/nr047.pdf Acesso em: 8 fev. 2019.
GATTO, A.; et al. Efeito do método de preparo do solo, em área de reforma, nas suas caracterís-
ticas, na composição mineral e na produtividade de plantações de Eucalyptus grandis. Revista
Árvore, Viçosa, v. 27, n. 5, p. 635-646, 2003.
IBÁ - Indústria Brasileira de Árvores. Relatório 2017. São Paulo - SP. Disponível em: https://iba.
org/images/shared/Biblioteca/IBA_RelatorioAnual2017.pdf. Acesso em: 12 fev. 2019.
REMADE. Espécie-Acácia. Revista da Madeira, n. 89, abril, 2005. Disponível em: http://
www.remade.com.br/br/revistadamadeira_materia.php?num=729&subject=Esp%C3%A-
9cie-Ac%C3%A1cia&title=Ac%C3%A1cia+pode+ser+cortada+com+cinco+anos. Acesso em:
28 nov. 2018
REMADE. Eucalipto. Revista da Madeira, n. 95, abril, 2006. Disponível em: http://www.
remade.com.br/br/revistadamadeira_materia.php?num=875&subject=Eucalipto&title=Indi-
ca%E7%F5es%20para%20escolha%20de%25%E2%80%A6. Acesso em: 12 fev. 2019.
REMADE. Pinus. Espécies de pínus mais plantadas no Brasil. Revista da Madeira, n. 135, maio
2013. Disponível em: http://www.remade.com.br/br/revistadamadeira_materia.php?num=1672.
Acesso em: 12 fev. 2019.
SILVA, H. D. Espécies de Eucalyptus tolerantes à geada. Revista da Madeira, n. 120, out., 2009.
Disponível em: http://www.remade.com.br/br/revistadamadeira_materia.php?num=1394&-
subject=Eucalipto&title=Esp%E9cies%20de%20Eucalyptus%20tolerantes%20%E0%20geada.
Acesso em: 8 fev. 2019.
SILVA, J. V.; et al. Domesticação florestal: técnicas, aspectos avaliados, propagação de espécies
e sua importância para a manutenção da biodiversidade. Revista Agrogeoambiental, v. 2, n. 2,
p. 26-34, 2010.
SMIDERLE, O. J.; MOURÃO JUNIOR, M.; SOUSA, R. de C.P de. Tratamentos pré-germinativos
em sementes de acácia. Revista Brasileira de Sementes, v. 27, n. 1, p. 78-85, 2005. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/rbs/v27n1/25184.pdf. Acesso em: 12 fev. 2019.
SUASSUNA, J. Fundação Joaquim Nabuco. A Cultura do Pinus: uma perspectiva e uma preocu-
pação. Recife, 2018.
SOUZA, A. L.; JARDIM, F. C, S. Sistemas silviculturais aplicados às florestas tropicais. Viçosa:
UFV/Sociedade de Investigações Florestais, 1993.
Convite ao estudo
Olá, aluno! Continuando a construção do seu conhecimento sobre
manejo e produção florestal, estudaremos os conteúdos relacionados aos
sistemas agroflorestais. Nas próximas seções, você agregará conhecimentos
da área florestal com conhecimentos da área agrícola. Perceba que você já
aprendeu até aqui conceitos de manejo florestal e formação de mudas flores-
tais na Unidade 1, condução de povoamentos florestais na Unidade 2 e
Sistemas silviculturais na Unidade 3. A intenção é continuar o seu processo
de construção do conhecimento relacionado ao manejo e à produção florestal
em mais três momentos (seções).
Vamos iniciar a Unidade 4 da disciplina, intitulada Sistemas Agroflorestais
(SAFs). O intuito é continuar o seu processo de construção do conhecimento
relacionado ao manejo e à produção florestal, incluindo conhecimentos
específicos em sistemas agroflorestais. Após esse estudo, você terá a capaci-
dade de distinguir e manejar adequadamente áreas de sistemas agroflorestais.
Para alcançar as competências previstas para esta unidade, propomos o
seguinte contexto de aprendizagem: você foi contratado como profissional
das ciências agrárias por uma fábrica de chocolate que pretende duplicar sua
produção nos próximos anos e, consequentemente, a compra e produção de
amêndoas de cacau advindos de grandes contratos internacionais de comer-
cialização de chocolate. Parte dessa ampliação acontecerá por fomento aos
produtores.
Um dos objetivos da fábrica é implantar novos arranjos produtivos agroflo-
restais para os produtores de cacau da região Sul da Bahia, a fim de divulgar
uma forma de cultivo alternativa ao sistema Cabruca, no qual o sub-bosque
da mata nativa é removido e substituído por cacaueiros. A empresa acredita
que modernizar o sistema de cultivo de cacau, matéria-prima do chocolate,
a partir do cultivo consorciado com espécies de madeira para a lenha, incre-
mentará a receita dos agricultores, estimulará a ampliação de áreas de cultivo
de cacau, além de que a madeira produzida poderá ser utilizada para fins
energéticos (calor) em secadores de cacau.
No escopo de suas atividades previstas junto à fábrica de chocolate, você
se comprometeu a realizar o trabalho em três etapas específicas:
• Na etapa 1, seu objetivo será melhorar as condições produtivas do
cacau Cabruca. Sua função é utilizar técnicas de manejo florestal de
nativas, a fim de preservar a floresta e potencializar a produção de
frutos no cacaueiro.
• Na etapa 2, seu objetivo será implantar um sistema agroflorestal total-
mente antrópico, que tenha, pelo menos, um uma cultura perene
(cacau) e um povoamento florestal (eucalipto) como uma alternativa
mais produtiva e potencialmente comercial ao sistema cabruca de
produção de cacau.
• Na etapa 3, seu objetivo será confeccionar um manual com orien-
tações focadas em técnicas de manejo florestal, boas práticas em
sistemas agroflorestais e certificação de florestas advindas das
exigências dos novos contratos internacionais.
Após essa sequência de objetivos a serem cumpridos, surgem desafios
e dúvidas: quais são as técnicas de manejo que induzem o crescimento de
florestas nativas que já tenha alcançado o clímax (em sucessão vegetal)?
Quais são os tipos de sistemas agroflorestais existentes e como eles podem
ser aplicados às condições dos produtores de cacau? Quais são as diferenças
técnicas de condução de um sistema agroflorestal de floresta natural em
relação à condução de um sistema agroflorestal antropizado?
Ao final desta unidade, você saberá distinguir e manejar adequadamente
as áreas de sistemas agroflorestais. Para tanto, utilizaremos como ponto de
partida o contexto descrito acima.
Bons estudos!
Seção 4.1
Diálogo aberto
Caro aluno! O próximo passo do seu aprendizado se concentra no tema
agrossilvicultura. A agrossilvicultura surgiu como ciência a partir da década
de 1960 e tem o objetivo de produzir produtos de base florestal concomitan-
temente com produtos vegetais e/ou animais, em um sistema que tenta imitar
a natureza em um modelo sustentável de exploração econômica.
Para aplicarmos na nossa vida profissional os conceitos de sistemas
agroflorestais, é essencial adquirirmos conhecimentos de forma, estrutura,
composição e manutenção desses sistemas.
A partir de agora, você acumulará conhecimento para conhecer e ser
capaz de aplicar os sistemas silviculturais. Para seguirmos nessa direção,
conheceremos um pouco da história, dos conceitos e das definições de
sistemas agroflorestais e espécies florestais nativas locais: perspectivas,
principais espécies, finalidades e clima, desempenho produtivo, aspectos
gerais da propagação, vantagens e desvantagens e conceitos fundamentais de
sucessão vegetal.
Para alcançarmos esses saberes, considere a seguinte situação: você,
na sua primeira missão como profissional das agrárias atendendo a uma
fábrica de chocolate, se desloca ao campo com sua equipe para enxergar
de perto a realidade das cabrucas, no Sul da Bahia. No primeiro instante,
você fica encantado com a diversidade de espécies nativas crescendo entre os
cacaueiros, no entanto verifica que os frutos se encontravam pequenos e em
pouca quantidade na maior parte das plantas.
Ao olhar de forma criteriosa o dossel florestal, você percebe que a
irradiação solar, inclusive a indireta, estava muita baixa, indicando sombre-
amento excessivo das plantas de cacau, refletindo em baixa produtividade.
Ao você informar à fábrica o estado das plantações, o diretor agrícola
da empresa solicita que você elabore um relatório técnico com propostas
para aumentar a produtividade local da região; além disso, como parte do
trabalho, você deverá ainda realizar uma pesquisa bibliográfica sobre a
história dos sistemas agroflorestais e como esse tipo de sistema funciona em
diferentes biomas brasileiros, levantando informações sobre florestas nativas,
estágios sucessionais e técnicas de manejo florestal sustentável.
Assimile
Segundo o Plano Nacional de Silvicultura com Espécies Nativas e
Sistemas Agroflorestais, instituído pelo Ministério do Meio Ambiente,
“os sistemas agroflorestais constituem-se em modalidade de sistema
produtivo que contempla o plantio combinado de árvores e culturas
agrícolas com ou sem a presença de animais em uma mesma área sob
bases sustentáveis” (BRASIL, 2006, p. 13).
Existem SAFs com apenas uma espécie arbórea consorciada com outra
agrícola, dispostas em linhas ou faixas; assim como existem sistemas envol-
vendo inúmeras espécies, manejados com base nos processos e fluxos
naturais em sistemas bem complexos (FERNANDES, 2001).
Para que um determinado consórcio possa ser chamado de sistema
“agroflorestal”, existe a condição mínima de ter, pelo menos, dois compo-
nentes, sendo um deles uma espécie florestal.
O objetivo dos sistemas agroflorestais é criar diferentes estratos vegetais,
buscando simular o ambiente de um bosque natural, em que os processos de
ciclagem de nutrientes e aproveitamento de luz e água ocorrem ecologica-
mente de forma estável, por meio das árvores e culturas que formam a estru-
tura do sistema a ser explorado (RIBASKI; MONTOYA; RODIGHERI, 2002).
Vocabulário
Um termo comumente usado como sinônimo de sistema agroflorestal
é agrossilvicultura, ou ainda, em alguns casos, agrissilvilcultura. Os
prefixos agro e agri são de origem latina e têm seu significado voltado
para o cultivo da terra. São equivalentes, permitindo o uso de ambos os
termos de forma correta. Porém, agrossilvicultura é a terminologia mais
aceita, pela sua ampla utilização, que pode estar associada ao sentido
intuitivo comum que transmite (agrotecnologia, agrologia, agrodesen-
volvimento, agropecuária, entre outras terminologias) e silviculturais
(SILVA; GOMES, 2007).
Exemplificando
Os sistemas agroflorestais mostram-se adequados em larga escala.
Podemos usar como exemplo o programa adotado pela Fazenda Bom
Sucesso, da Companhia Mineira de Metais, no município de Vazante,
em Minas Gerais, que realiza sistema agroflorestal em larga escala e
consorcia arroz, soja, capim e eucalipto. O sistema utilizado tem um ciclo
total de 10 anos.
O sistema proposto por eles consiste, no primeiro ano, no plantio de
eucalipto em linha (10m x 4m), consorciado com arroz nas entrelinhas,
Exemplificando
Segundo Mello e Gross (2013), o espaçamento recomendado para o
plantio do cacau-cabruca é de 3 x 3 metros (1111 plantas por hectare)
ou 3 x 4 metros (834 plantas por hectare). O ideal é que as plantas de
cacau recebam um sombreamento ideal que permita passar, aproxima-
damente, 50% de luminosidade. Uma recomendação comum são 416
plantas por hectare sombreando o cacau, sendo destas 278 leguminosas
por hectare, as quais deverão ser podadas duas vezes ao ano, no mínimo,
para permitir a ciclagem de nutrientes e manter os níveis de luminosi-
dade adequados ao cacaueiro. As espécies arbóreas madeiráveis e frutí-
feras totalizarão, aproximadamente, 138 plantas por hectare.
Não deixe de ver outras sugestões de cultivo do cacau nas páginas 78-85
da obra indicada a seguir:
Reflita
O clima quente e úmido desempenha um papel importante na variedade
da floresta. Como regra geral, a diversidade do ecossistema e sua produ-
tividade aumentam com a quantidade de energia solar e água disponíveis.
Logo, quando procuramos imitar a natureza nos trópicos, as opções em
sistemas agroflorestais aumentam consideravelmente.
Você já imaginou quantas combinações possíveis podem acontecer nos
sistemas agroflorestais? Quais competências precisamos adquirir para
explorar de forma eficiente essas infinitas opções de sistemas agroflorestais?
Descrição da situação-problema
Você, como engenheiro agrônomo, foi convidado a visitar cafezais de
uma cooperativa de café conylon e prestar assessoria. O diretor da coopera-
tiva lhe recebe e explica que as folhas dos cafezais estão ficando “queimadas”.
Ao se dirigir aos cafezais, você verifica que eles estão apresentando danos
nas folhas e nos ramos do cafeeiro; as folhas mais velhas se encontram corro-
ídas, com bordas dilaceradas e deformadas; as folhas mais novas estão com
suas margens e pontas queimadas; a forma da copa está deformada, enver-
gada para um lado, sobrevindo brotações em sua base, e esse efeito acontece
em maior proporção na face sul de onde predomina o vento dos talhões
localizados nas chapadas. Rapidamente, você chega ao diagnóstico que esse
problema estava acontecendo por conta dos ventos que estavam provocando
danos aos cafezais. O diretor da cooperativa lhe pergunta: o que pode ser
realizado para solucionar esse problema? Quais espécies podem ser plantadas
para minimizar o impacto dos ventos?
Resolução da situação-problema
Para atender à cooperativa de café conylon, proponha que sejam reali-
zados quebra-ventos em um sistema agroflorestal complementar. Você
descarta plantas temporárias, uma vez que se encontram em chapadas com
constância de ventos, e recomenda espécies arbóreas de rápido crescimento,
como eucalipto, plantadas em intervalos regulares, no sentido leste-oeste,
formando renques de proteção para o cafezal, protegendo, assim, a cultura
dos ventos frios advindos do sul. Além do eucalipto, você ainda recomenda
outras espécies comercialmente interessantes, como o pinus e a acácia, que
podem ser plantadas e exploradas posteriormente, agregando renda à coope-
rativa. Provavelmente, uma destinação final dessa madeira será para uso
como lenha em secadores de café.
Com relação às vantagens dos sistemas agroflorestais, assinale a alternativa que seria
considerada uma desvantagem.
a) Redução do uso de fertilizantes.
b) Conservação e melhoria dos solos.
c) Redução do uso de herbicidas e pesticidas.
d) Adequação à pequena produção.
e) Grande dificuldade de mecanização.
3. Sucessão vegetal pode ser definida como mudanças observadas em uma comuni-
dade de plantas após uma perturbação que abre, relativamente, grandes espaços.
Dentre essas perturbações, podemos citar as externas e as internas, que criam
caminhos para diferentes formas de sucessão. Uma determinada área de cerrado
(floresta clímax) sofreu um incêndio, queimando uma grande parte do povoamento
florestal. Essa floresta começou a se recompor naturalmente, dando início ao processo
de sucessão vegetal. Isso promoverá o surgimento de plantas pioneiras, que:
Com relação às plantas pioneiras, assinale a alternativa correta que indique correta-
mente as características das plantas pioneiras.
a) Apenas a alternativa I está correta.
b) Apenas a alternativa II está correta.
c) Apenas as alternativas I e II estão corretas.
d) Apenas as alternativas I e III estão corretas.
e) Apenas as alternativas II e IV estão corretas.
Diálogo aberto
Caro aluno! Continuando na sua construção do conhecimento sobre
manejo e produção florestal, avançaremos nesta seção nos conteúdos relacio-
nados aos sistemas agroflorestais. Você já aprendeu sobre a história dos
sistemas agroflorestais, adaptação climática e sucessão vegetal, entre outros
temas, e agora construirá seu conhecimento sobre o preparo de solo para a
implantação de mudas florestais em SAFs (sulcos, covas, adubação, plantio),
tipos de arranjos (desenhos de sistemas), consorciamento de espécies flores-
tais e culturas agrícolas no replantio de mudas florestais e nas técnicas de
manejo em SAFs.
Para que possamos compreender um pouco mais sobre os conteúdos a
serem abordados, vamos relembrar o contexto de aprendizagem, em que
você, como profissional da área de agrárias, está assessorando uma fábrica
de chocolate em sistemas agroflorestais. Como ela duplicará sua produção,
faz-se necessário ampliar as áreas de plantio de cacau e/ou promover novos
fornecedores de amêndoas.
O diretor responsável pelas operações agrícolas e florestais da empresa,
estrategicamente, direciona os esforços e estudos para o plantio de cacau em
sistemas agroflorestais totalmente artificiais. Em uma visita técnica, você e o
diretor agrícola analisam uma área de sistema agroflorestal completamente
antrópica, contendo plantio de banana e cacau, e verificam juntos que esse
sistema apresenta excelentes resultados e que pode ser facilmente replicado e
melhorado com resultados muito superiores em produtividade de frutos ao
do tradicional sistema Cabruca.
Como o sul da Bahia é também uma das melhores regiões do Brasil
para plantar eucalipto, o diretor agrícola necessita que você elabore um
documento técnico com diferentes desenhos de sistemas agroflorestais que,
além da banana e do cacau, incorpore também o eucalipto e possíveis utili-
dades deste no sistema proposto.
Além de propor diferentes desenhos de sistemas agroflorestais para suas
áreas de consórcio, você deverá incluir no documento às resposta para as
seguintes questões:
Seção 4.2 / Características, implantação e processos das áreas de sistemas agroflorestai - 181
(boro) no momento do plantio; (3) adubação de cobertura, em que se fornece
N, K, B e Zn. É importante verificar as deficiências nutricionais (por meio de
análise de solo) e as necessidades das espécies que vão ser utilizadas no local,
auxiliando na redução de custos, na eficiência da adubação e na proteção do
meio ambiente.
As irrigações nas mudas plantadas podem variar de uma a cinco, depen-
dendo do tipo de solo e da intensidade da seca, para garantir a sobrevivência
e o bom pegamento das mudas florestais (MARTINS, 2010). Uma prática
silvicultural bastante comum, que elimina operações de irrigação, é o uso
de hidrogel no plantio das mudas no campo. Geralmente, recomenda-se um
litro de água com hidrogel por cova de plantio.
A mortalidade de mudas acima de 10% determina que seja feito o
replantio. Esse processo deve ser feito até 30 dias após o plantio, observando
as mesmas condições de umidade do solo e cuidados do plantio.
No replantio, obrigatoriamente, deve-se pensar em irrigação, caso as
condições do tempo não sejam favoráveis (PORFÍRIO-DA-SILVA, 2009). É
uma das operações de maior custo financeiro no cultivo de árvores, uma vez
que necessita de muita mão de obra e é de difícil fiscalização. Por isso, o
planejamento e a execução do plantio devem ser eficientes, procurando-se
evitar ao máximo a necessidade de replantio.
Antes da implantação, precisamos checar se as espécies selecionadas
podem ser consorciadas ou não. Mas, quais critérios devem ser utilizados
no consórcio?
Os critérios indicados na seleção de espécies são (LUNZ; FRANKE; 1998):
• Satisfazer as necessidades do produtor.
• Adaptação das espécies às condições ecológicas da região.
• Ciclos de vida diferenciados.
• Possuir períodos de safra (produção) diferenciados.
• Não produzir efeitos alelopáticos.
• Ser companheiras (que se ajudam e se complementam mutuamente
em espaço, luz, nutrientes e interações).
• Preferencialmente, ser de uso conhecido pelos agricultores.
• Não ser muito agressiva e exigente em água e nutrientes.
• Possuir mercado atual ou potencial.
• Possuir condições de escoamento e perecibilidade compatíveis.
Assimile
O consórcio de plantas é caracterizado pelo cultivo de duas ou mais
culturas em uma mesma área e ao mesmo tempo, em um sistema em que,
na maioria das vezes, ambas devem se beneficiar e não devem competir
por água, luz e nutrientes. A premissa é que uma cultura não ocasione
prejuízo a outra, ou seja, não é necessário que ambas sejam beneficiadas.
Seção 4.2 / Características, implantação e processos das áreas de sistemas agroflorestai - 183
Figura 4.3 | Esquema explicativo de um sistema agroflorestal multiestrato
Pesquise mais
A integração de cultivos florestais à produção pecuária é reconhecida em
âmbito científico como imprescindível para o desenvolvimento susten-
tável, já que combina produção e conservação de recursos naturais. Para
saber mais do que foi pesquisado pela EMBRAPA em termos de arranjos
florestais nos últimos anos em todo o Brasil, acesse o material a seguir
e leia um dos capítulos que represente melhor sua situação regional em
termos de SAFs. Realize a leitura da página 137 à 146.
Seção 4.2 / Características, implantação e processos das áreas de sistemas agroflorestai - 185
Comercialmente falando, quais são os desenhos (arranjos) mais comuns?
São eles o sistema de cultivo em aleias, o sistema Taungya, o sistema silvi-
pastoril (em diferentes arranjos), o sistema agrossilvipastoril, o sistema em
multiestrato e, por fim, o sistema sucessional.
Primeiramente, destacamos o cultivo em aleias, ou Alley Croping, que é
um sistema agroflorestal simultâneo e de produção, que se utiliza de faixas
de adubos verdes advindos de espécimes arbóreos ou arbustivos de elevada
capacidade de rebrota. O espaço deixado entre as faixas plantadas dos
espécimes produtores de adubo verde é denominado de aleia, e é nele que onde
ocorre o plantio da cultura de interesse. Parte da adubação principal da cultura
de interesse advém do material orgânico produzido das podas dos arbustos e
dos restos vegetais que são depositados nas aleias. O grande diferencial desse
sistema produtivo está na oferta intermitente de material verde orgânico ao
solo cultivado, a partir de leguminosas perenes, melhorando as suas caracterís-
ticas físicas, químicas e biológicas (MATTAR et al., 2013).
Figura 4.4 | Esquema do sistema agroflorestal Alley Cropping
Arbusto para Cultura de Arbusto para Cultura de Arbusto para Cultura de Arbusto para
produção de interesse produção de interesse produção de interesse produção de
“adubo econômico “adubo econômico “adubo econômico “adubo
verde” “Aléia” verde” “Aléia” verde” “Aléia” verde”
Exemplificando
No Brasil, o sistema Taungya explora o consórcio de espécies florestais
com culturas agrícolas, como milho (Zea Mays L.), arroz (Oryza sativa
L.), feijão (Phaseolus spp.), mandioca (Manihot esculenta Crantz), entre
outras. Esses consórcios ocorrem nos primeiros anos de implantação da
cultura florestal ou até o fechamento de copas (VALERI et al., 2003).
Seção 4.2 / Características, implantação e processos das áreas de sistemas agroflorestai - 187
3. Assegurar uma perspectiva de produção agrícola sustentável aos
agricultores.
4. Afetar pouco a demanda de mão de obra.
5. Reduzir os custos de preparo do solo e de manutenção do sistema, por
meio de atividades agrícolas temporárias.
É possível ver, na Figura 4.5, o esquema de cultivo em Taungya. No caso
a seguir, é realizado consórcio de árvores com culturas agrícolas até os três
primeiros anos, quando então se cultiva apenas as espécies arbóreas até a
sua colheita.
Figura 4.5 | Esquema de cultivo nos primeiros anos do sistema Taungya
Seção 4.2 / Características, implantação e processos das áreas de sistemas agroflorestai - 189
Outro arranjo complexo é o arranjo em sistemas agroflorestais em
multiestratos. É uma forma de produção agrícola e florestal que se assemelha
à estrutura das florestas naturais. Combina um número limitado de espécies,
em geral, menos de 10, formando diversos estratos verticais. São, geralmente,
espécies anuais, semiperenes e perenes de valor (OLIVEIRA, 2009).
Podem ser associados cultivos de arroz, milho, banana, cacau, cítricas
e café com outras espécies frutíferas, madeireiras, palmeiras e espécies que
são utilizadas para poda. O sistema multiestrato deve ser estabelecido de
modo a ficar o mais parecido com os ambientes de florestas naturais, ou seja
(MOREIRA, 2016):
1. Apresentar vários extratos (rasteiro baixo, médio, alto e emergente).
2. Utilizar muitas espécies diferentes.
3. Formar dossel denso ou aberto, conforme o tipo de vegetação.
4. Produzir serrapilheira na superfície do solo, para favorecer a
sustentabilidade.
5. Aumentar a presença de organismos que decompõem a matéria
orgânica, convertendo-a em nutrientes para o solo, e usar espécies com
tipos diferentes de raízes (fasciculada, pivotantes, escoras, respiratórias,
aéreas e estranguladoras).
Os sistemas agroflorestais sucessionais são os de maior complexi-
dade na agrofloresta. As plantas cultivadas são introduzidas em consór-
cios, de forma a preencher todos os nichos considerados nessa combinação:
espécies nativas, espécies de regeneração ou introduzidas e espécies exóticas,
adaptadas às condições de solo e clima locais. Além de combinar as espécies
no espaço, combinam-se os consórcios no tempo, assim como ocorre na
sucessão natural de espécies, em que os consórcios se sucedem uns após os
outros, em um processo dinâmico, dependendo do ciclo de vida das espécies.
Outro aspecto fundamental é a introdução de alta diversidade de espécies
(SIQUEIRA et al., 2015).
Ao fim da rotação, as espécies destinadas à produção de madeira deverão
ser colhidas. A colheita das árvores é um conjunto de operações que tem por
finalidade retirar a madeira produzida no sistema silvipastoril. Começa com
o corte das árvores e termina com as toras armazenadas temporariamente em
local adequado, aguardando o transporte para o processamento da madeira
(PORFÍRIO-DA-SILVA et al., 2009). Mas, quais são as técnicas de manejo
nos sistemas agroflorestais e em que ponto devem ser colhidas as espécies em
sistemas agroflorestais?
Vt (4.2)
IMAt =
It
Seção 4.2 / Características, implantação e processos das áreas de sistemas agroflorestai - 191
Em que:
ICAt: incremento corrente anual no período t.
Vt: volume do talhão no período t, em m3 ha .
Vt-1: volume do talhão no período t-1 t -1 , em m3 ha .
IMAt: ICAno período t.
It: Idade do talhão no período t, em anos.
Figura 4.7 | Curva de crescimento de uma floresta considerando o incremento anual e o esto-
que acumulado de madeira
Reflita
Para regimes de manejos mais complexos, nos quais existem desbastes,
desramas, entre outras atividades, em que o objetivo final da floresta
seja a obtenção de multiprodutos, nem sempre é fácil se determinar a
idade ótima de corte do ponto de vista técnico.
O que acontece com uma curva de crescimento de uma floresta quando
um povoamento florestal sofre desbaste? O que acontece com esse
mesmo povoamento quando ele sofre uma desrama intensa?
Seção 4.2 / Características, implantação e processos das áreas de sistemas agroflorestai - 193
Cada cultura deverá ter seus cuidados particulares, típicos da cultura,
seguindo as recomendações de preparo de solo e plantio indicados. As
espécies florestais serão colhidas no momento que as curvas de crescimento
indicarem o ponto técnico ótimo de colheita. As espécies agrícolas serão
colhidas de acordo com seu ciclo produtivo.
Nos seus conhecimentos adquiridos, você ainda propõe que a madeira
de eucalipto produzida no SAF seja utilizada como lenha (fonte de energia
térmica) para a secagem de amêndoas nos secadores agrícolas utilizados,
garantindo otimização técnica e econômica do arranjo produtivo proposto.
Um arranjo proposto (existem infinitas possibilidades) é o de plantar
cinco linhas de eucalipto no espaçamento 3 x 3 metros, alternado com sete
linhas de cacaueiro no espaçamento 3 x 3 metros com bananeiras plantadas
entre as linhas. A bananeira é conduzida até o terceiro ano, quando é removida
do sistema, e se começam a produzir as amêndoas de cacau. 40% do eucalipto
é desbastado aos sete anos (duas linhas de eucaliptos são removidas), aconte-
cendo a colheita final por volta de 18 anos. Neste momento, pode-se plantar
novamente o eucalipto, reiniciando um novo ciclo florestal, enquanto o cacau
continua a produzir.
Figura 4.8 | Sequência do arranjo florestal proposto para a situação-problema
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Um grande fazendeiro do estado do Goiás resolveu plantar sistemas
agroflorestais. Ele implantou sistemas silvipastoris com eucalipto e pecuária
de corte em diferentes arranjos (com diferentes espaçamentos de eucalipto).
Praticamente toda a pastagem passou a ter plantios de eucalipto em faixas de
cinco linhas. No entanto, devido à diferença de espaçamentos (3,0 x 1,0m 3,0
x 2,0m, 3,0 x 3,0m 3,0 x 4,0m), ele passou a ter dificuldade de saber qual seria
o momento ideal da colheita das diferentes florestas de eucalipto plantadas.
Todas estavam sendo cortadas com sete anos, porém algumas tinham muita
madeira, e outras, poucas. Você, atuando como um consultor na área agroflo-
restal, foi contratado para conduzir a exploração florestal das suas fazendas.
Você resolveu checar as medições realizadas das florestas plantadas em 2010
e organizou o seguinte quadro:
Seção 4.2 / Características, implantação e processos das áreas de sistemas agroflorestai - 195
Quadro 4.6 | Incrementos correntes e médios anuais das florestas do Sr. Brás de Melo
Fazenda
Fazenda Ligia Fazenda Hulha Fazenda Brejão
Carvalho
(3,0 x 1,0 m) (3,0 x 2,0) (3,0 x 4,0)
(3,0 x 3,0)
ICA IMA ICA IMA ICA IMA ICA IMA
Ano 0
Ano 1 28 30 32 30
Ano 2 45 32 40 32 42 33 41 32
Ano 3 44 34 45 32 45 33 44 32
Ano 4 38 34 46 34 43 34 44 34
Ano 5 32 32 42 35 43 35 45 34
Ano 6 28 31 38 35 39 36 42 35
Ano 7 22 30 33 33 37 35 39 35
Ano 8
Ano 9
Fonte: elaborado pelo autor.
Quais são as florestas que devem ser cortadas agora? O que é preciso para
que se tenha mais madeira?
Resolução da situação-problema
Respondendo ao dono das fazendas no estado de Goiás, você explica que
os diferentes espaçamentos localizados mudaram a curva de crescimento das
florestas. As faixas de florestas plantadas em menor espaçamento crescem
mais rapidamente nos primeiros anos, sendo necessário cortá-las antes das
florestas com maior espaçamento.
Você explica que o momento ideal para cortar a floresta é quando o
crescimento do último ano em volume de madeira se torna igual (ou menor)
à média do crescimento da floresta até então. Você destaca que isso acontece
em condições normais, desde que não tenha tido um fator que tenha preju-
dicado o crescimento das florestas, por exemplo, uma seca intensa ou um
ataque de pragas, entre outros problemas. Você, então, analisa o quadro
de crescimento.
Seção 4.2 / Características, implantação e processos das áreas de sistemas agroflorestai - 197
2. O sistema silvipastoril é a combinação intencional de árvores, pastagem e gado em
uma mesma área ao mesmo tempo e manejados de forma integrada, com o objetivo
de incrementar a produtividade por unidade de área. Nesse sistema, ocorrem intera-
ções em todos os sentidos e em diferentes magnitudes. Pastagens adequadamente
arborizadas propiciam proteção aos animais contra intempéries climáticas, influindo
positivamente na saúde e no desempenho produtivo animal.
Diálogo aberto
Caro aluno, em nossos estudos sobre manejo florestal, vamos evoluir
nos conhecimentos sobre as técnicas de manejo em sistemas agroflorestais,
abordando boas práticas silviculturais em sistemas agroflorestais e certifi-
cação florestal.
Para que possamos compreender um pouco mais sobre os conteúdos a
serem abordados, vamos relembrar o contexto de aprendizagem, no qual
você foi contratado por uma fábrica de chocolate para auxiliar na expansão
dos projetos agrícolas de produção de amêndoas de cacau.
Por ser uma multinacional que exporta um produto de qualidade, assinou
acordos internacionais que preveem o consumo de amêndoas de cacau
provenientes de agroflorestas certificadas. Como as florestas não estavam
certificadas, os diretores da empresa decidem realizar uma auditoria interna
prévia para ajudar no direcionamento do trabalho de implantação da certi-
ficação das suas florestas, e você ficou responsável por elaborar um relatório
técnico das não conformidades encontradas na auditoria interna.
Um dos auditores internos, durante a visita em campo, junto a você,
verificou que, em uma das florestas de cacau-cabruca, as árvores se aproxi-
mavam do rio, avançando o limite de 30 metros, chegando à área de preser-
vação permanente prevista pelo atual Código Florestal brasileiro. Diante
disso, o auditor lhe deu uma não conformidade na fase avaliação neste item
específico e lhe solicitou medidas de ajuste a serem tomadas. Muitas das
atividades agrícolas não estavam sendo realizadas, uma vez que acontecem
ao longo de todo ano. Diante disso, além da não conformidade, o auditor
interno solicita, ainda, que você ilustre e descreva todas as práticas agrícolas
que são realizadas no sistema agroflorestal, verificando, inicialmente, possí-
veis não conformidades documentais, as quais serão averiguadas ao longo
do ano em visitas presenciais a campo. O auditor lhe pergunta: quais são
as práticas mais comuns em um sistema agroflorestal? Em que ordem elas
acontecem? O que garante que estas práticas são efetivas no sistema?
Para responder a esses questionamentos, foque nas técnicas, nas boas práticas
de sistemas agroflorestais e nos aspectos legais de uma certificação florestal.
Boa leitura!
Pesquise mais
A calagem em solos brasileiros é uma prática comum e necessária na
maior parte dos solos e é utilizada para cultivos agrícolas. Para entender
um pouco desse conceito, leia a página 27 do material a seguir:
Exemplificando
Um aspecto importante a ser considerado na adubação verde é o
momento das podas das leguminosas. Recomenda-se a realização antes
da floração, quando a planta está com níveis elevados de reserva de
nitrogênio (N). Ao podar, essa reserva volta ao solo, enriquecendo-o (N)
à medida que se decompõe.
Segundo a Embrapa (2012), uma planta interessante para SAFs é a gliri-
cídia, pois, além de adubação verde, pode ser usada como mistura para
ração de gado, uma vez que possui 24% de proteína bruta em sua compo-
sição, ajudando no ganho de peso dos animais. A partir do segundo ano,
podem ser realizadas cerca de cinco podas anuais, fornecendo material
para a cultura ou pastagem. A gliricídia pode ser plantada em sistema
adensado (1,0 x 0,5); consorciada com milho (1,0 x 4,5); ou pastagem
(1,0 x 5,0).
Reflita
A presença do componente arbóreo nos SAFs pode influir de maneira
diferente no desenvolvimento do estrato vegetal herbáceo, pois a
sua copa intercepta a luz necessária para a fotossíntese, e suas raízes
competem com as das plantas herbáceas, logo conhecer a morfologia da
árvore a ser usada em um SAF é essencial.
Quais espécies arbóreas poderiam ser facilmente adquiridas e
compor um arranjo agroflorestal na sua região? Quais caracterís-
ticas das espécies arbóreas seriam interessantes na confecção de um
sistema agroflorestal?
Assimile
A certificação é um processo voluntário do produtor florestal, em que
a certificadora realiza uma avaliação de um empreendimento florestal
(e recebe por isso) e verifica os cumprimentos de questões ambientais,
econômicas e sociais que fazem parte dos princípios e critérios da certi-
ficadora. Certificar um empreendimento florestal implica um investi-
mento considerável, sendo interessante quando se deseja garantir e/ou
expandir o mercado de produtos florestais. Os requisitos legais de um
empreendimento de base florestal devem ser cumpridos independente-
mente do processo de certificação.
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Você, como um agrônomo consultor, foi contratado por um fazendeiro do
Nordeste para solucionar o problema de baixa produtividade de crescimento
de suas pastagens. Ele implantou florestas de eucalipto em meio ao pasto, em
largos espaçamentos, e a sombra melhorou os resultados no crescimento dos
bovinos. No entanto, a pastagem, em certas épocas do ano, era pequena e
insuficiente para alimentar o gado. O fazendeiro ouviu falar sobre adubação
verde em pastagens e uso de plantas complementares para alimentar seus
animais. Ele lhe pergunta se é possível implementar um sistema de adubação
verde em sua fazenda e sugere que você elabore um relatório técnico de
recomendação de um sistema agroflorestal que contemple medidas para
aumentar a produtividade das suas pastagens e garanta uma melhor alimen-
tação dos animais.
Resolução da situação-problema
Você, como consultor, recomenda ao fazendeiro um sistema em aleias, ou
Alley Cropping. Você propõe que uma espécie de leguminosa seja plantada
a cada cinco metros de distância entre fileiras. Uma proposta seria o uso da
gliricídia, que teria espaçamento entre plantas na linha de um metro. No
primeiro ano, você não podará a leguminosa, entretanto, a partir do segundo
ano, podará de quatro a cinco vezes ao ano. Durante a poda, as folhas e os
Considere que uma fábrica de móveis que faz uso de madeira na sua confecção deseja
certificar seus móveis. Qual ou quais tipos de certificações são mais adequados a esse
tipo de empreendimento?
a) Todos os selos (manejo florestal, cadeia de custódia e madeira controlada).
b) Apenas o certificado de manejo florestal.
c) Apenas o certificado de cadeia custódia.
d) Apenas o certificado de madeira controlada.
e) Os certificados de manejo florestal e de madeira controlada.
ANDRADE, M. C. C.; SILVA, A. F. A.; LIMA, R. S. Cultivo em aleias: uma alternativa para
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