12 Temas de Direito Administrativo
12 Temas de Direito Administrativo
12 Temas de Direito Administrativo
responsabilidade civil
extracontratual
das entidades públicas
ICJP – 5 de Dezembro de 2012
Coordenação
Carla Amado Gomes e Miguel Assis Raimundo
Organização de Carla Amado Gomes e Tiago Antunes
Com o patrocínio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento
Novos temas da
responsabilidade civil
extracontratual
das entidades públicas
ICJP – 5 de Dezembro de 2012
Coordenação
www.icjp.pt
Abril de 2013
ISBN: 978-989-97834-3-0
Alameda da Universidade
1649-014 Lisboa
e-mail: [email protected]
Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 3
Dia 5 de Dezembro
1º Painel: 10H30/13H00
2º Painel: 15H00/18H00
O direito de regresso
Mestre Diana Ettner
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 4
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 5
INDICE
Apresentação
O direito de regresso
Mestre Diana Ettner
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 6
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 7
Apresentação
Os coordenadores,
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 8
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 9
Alexandra Leitão
Professora auxiliar da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
1
Esta solução é semelhante à consagrada no artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 48051, de 21 de
Novembro de 1967. No n.º 2 do artigo 9.º do RREE, relativo ao funcionamento anormal do
serviço, o padrão de conduta não é a violação de normas, mas sim a atuação abaixo dos
padrões médios de resultado e de exigência razoável nas circunstâncias do caso concreto, “um
standard objetivo de funcionamento” (a expressão é de VIEIRA DE ANDRADE, “A
Responsabilidade por danos decorrentes do exercício da função administrativa na nova lei
sobre responsabilidade civil extracontratual do Estado e demais entes públicos”, in Revista de
Legislação e Jurisprudência, n.º 3951, pág. 366).
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 10
2
V. ESTÊVÃO NASCIMENTO DA CUNHA, Ilegalidade externa do ato administrativo e
responsabilidade civil da Administração, Coimbra, 2010, págs. 160 e seguintes.
3
V. RUI MEDEIROS, Ensaio sobre a Responsabilidade Civil do Estado por Atos Legislativos,
Coimbra, 1992, pág. 169, e MARGARIDA CORTEZ, “Responsabilidade civil da Administração
Pública”, in Seminário Permanente de Direito Constitucional e Administrativo, volume I, Braga,
1999, págs. 72 e seguintes.
4
V. RUI MEDEIROS, op. cit., págs. 209 e 210.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 11
5
In www.tribunalconstitucional.pt.
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 12
6
Como salienta ESTÊVÃO NASCIMENTO DA CUNHA, op. cit., págs. 399 e 400.
7
Aparentemente em sentido diverso, v. a declaração de voto do Conselheiro Vítor Gomes no
Acórdão n.º 154/2007, acima referido, nos termos da qual, apesar de acompanhar o sentido do
aresto, esclareceu que “o artigo 22.º da Constituição não impede que, independentemente do
que a lei ordinária disponha quanto à eficácia retroativa dos atos renovadores de atos
contenciosamente anulados, se atribua relevância excludente da indemnização à “conduta
alternativa lícita” da Administração, mesmo quanto aos efeitos produzidos medio tempore”.
8
CARLOS CADILHA, Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e demais
Entidades Públicas Anotado, Coimbra, 2008, pág. 152, defende que essas situações, bem como
as ilegalidades sanáveis, não relevam para a ilicitude. Pelo contrário, MARCELO REBELO DE
SOUSA e ANDRÉ SALGADO DE MATOS, Direito Administrativo Geral, Tomo III, 2.ª edição, Lisboa,
2009, pág. 188, consideram, que os atos administrativos irregulares são ilegais e, como tal, ilícitos
para efeitos de responsabilidade disciplinar e civil, o que acarreta uma diminuição da sua força
tituladora.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 13
38.º do CPTA. Sempre se diga, contudo, que o juízo que o tribunal efetua em
sede de apreciação incidental ao abrigo deste preceito tem como
pressuposto que o ato, caso ainda pudesse ser impugnado, seria,
efetivamente, declarado nulo ou anulável, o que não aconteceria se estivesse
inquinado com um vício gerador de mera irregularidade.
Finalmente, a exigência de que a ilegalidade ofenda direitos ou interesses
legalmente protegidos para ser equiparada à ilicitude pode traduzir-se, na
prática, na confusão entre ilicitude e dano.
Como refere VIEIRA DE ANDRADE, a violação de normas, jurídicas ou
técnicas, corresponde a uma “ilicitude de conduta” e a violação de direitos e
interesses a uma “ilicitude de resultado”9, sendo que esta última acaba, por
sua vez, por se confundir com a própria ideia de dano. A demonstração de
que a atuação administrativa implicou a ofensa de posições jurídicas
subjectivas de terceiros equivale, na prática, à verificação da existência de
um dano na respectiva esfera jurídica10. Ora, uma ilegalidade que não
provoque danos não deixa de ser ilícita, falta é esse outro pressuposto da
responsabilidade extracontratual.
É verdade que a jurisprudência dos tribunais administrativos tem sido
constante no sentido de exigir a violação de direitos ou interesses alheios para
que haja ilicitude, não considerando suficiente que se verifique qualquer
ilegalidade para que daí decorra uma obrigação indemnizatória11. Contudo,
esse entendimento tem de ser compatibilizado em cada caso concreto com a
necessidade de proceder a uma interpretação conforme à Constituição, à luz
da garantia de ressarcimento que resulta da doutrina expendida no Acórdão
do Tribunal Constitucional n.º 154/2007, acima citado, atendendo a que nem
9
V. VIEIRA DE ANDRADE, “A Responsabilidade…, cit, pág. 365.
10
LUÍS CABRAL DE MONCADA, “A Responsabilidade civil extracontratual do Estado e demais
entidades públicas”, in Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Marcello Caetano, Volume
II, obra coletiva, Coimbra, 2006, pág. 52, trata este inciso final, relativo à ofensa de direitos e
interesses, como uma questão que tem a ver com o dano e não com a ilicitude.
11
V. o Acórdão do STA de 9 de Julho de 2009, proferido no Processo n.º 0921/08, o Acórdão do
STA de 23 de Setembro de 2009, proferido no Processo n.º 01119/08, e o Acórdão do STA de 27
de Janeiro de 2010, proferido no Processo n.º 0358/09, todos in www.dgsi.pt.
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12
V. CARLA AMADO GOMES, “O livro das ilusões. A responsabilidade do Estado por violação
do Direito Comunitário, apesar da Lei n.º 67/2007, de 31 de Dezembro”, in Textos Dispersos sobre
Direito da Responsabilidade Civil Extracontratual das Entidades Públicas, Lisboa, 2010, págs. 206
e seguintes, embora concluindo que o recurso ao reenvio prejudicial e ao conjunto do
ordenamento jurídico permite colmatar essa falha, e MARIA JOSÉ RANGEL MESQUITA, “Influência
do Direito da União Europeia nos regimes da responsabilidade pública”, in Cadernos de Justiça
Administrativa, n.º 88, 2011, pág. 11.
13
Diretiva n.º 89/665, do Conselho, de 21 de dezembro de 1989.
14
In http://www.europa.eu.int.
15
Neste sentido, v. VIEIRA DE ANDRADE, A Responsabilidade…, cit., pág. 365.
16
Como realça HELOÍSA OLIVEIRA, “Jurisprudência comunitária e regime jurídico da
responsabilidade extracontratual do Estado e demais entidades públicas – influência, omissão e
desconformidade”, in Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor Sérvulo Correia, volume IV,
Coimbra, 2010, pág. 626.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 15
A culpa dos titulares de órgãos, funcionários e agentes está definida, por sua
vez, no n.º 1 do artigo 10.º do RREE, determinando este preceito que a mesma
deve ser aferida à luz da “diligência e aptidão que seja razoável exigir, em
função das circunstâncias de cada caso, de um titular de órgão, funcionário
ou agente zeloso e cumpridor”. A adoção de um critério de culpa específico
da responsabilidade pelo exercício da função administrativa, que não se limita
a remeter para a “diligência do bom pai de família” a que se refere o n.º 2 do
artigo 487.º do Código Civil (adiante designado CC), afigura-se uma solução
correta, permitindo que a densificação do conceito se opere a partir de outras
disposições de direito administrativo, por exemplo, as relativas aos deveres dos
funcionários e agentes da Administração Pública.
O n.º 2 do artigo 10º estabelece uma presunção de culpa leve quando haja
ilicitude na prática de atos jurídicos17. Trata-se de uma presunção “juris
tantum”, que se traduz numa inversão do ónus da prova, nos termos do n.º 1
do artigo 487.º e do n.º 1 do artigo 344.º do CC. Como tal, pode ser
duplamente ilidida: pode demonstrar-se que há culpa grave ou dolo, ou que
não houve nenhuma culpa devido, por exemplo, à ambiguidade do quadro
legal aplicável, à proliferação de legislação extravagante, à existência de
divergência jurisprudencial e doutrinária sobre a questão, ou, simplesmente, à
necessidade de cumprir um comando normativo inconstitucional18.
17
Como havia sido preconizado antes da reforma, por exemplo, por MARGARIDA CORTEZ,
“Contributo para uma reforma da lei da responsabilidade civil da Administração”, in
Responsabilidade civil extracontratual do Estado. Trabalhos preparatórios da reforma, obra
coletiva, Coimbra, 2002, pág. 261. CARLA AMADO GOMES, “A responsabilidade civil
extracontratual da Administração por facto ilícito. Reflexões avulsas sobre o novo regime da Lei
n.º 67/2007, de 31 de Dezembro”, in Textos dispersos sobre Direito da responsabilidade civil
extracontratual das entidades públicas, Lisboa, 2010, págs. 60 e 61, critica esta imputabilidade
genérica por faltas leves, que pode levar à paralisia da Administração Pública por medo do
erro, preconizando que nestes casos só haveria indemnização se o dano provocado fosse
especial e anormal, o que não seria, segundo a Autora, inconstitucional à luz do artigo 22.º da
CRP, na medida em que este preceito tem de ser compatibilizado com outros valores,
designadamente, com o próprio funcionamento da máquina administrativa, que actua para o
interesse da comunidade.
18
V. VIEIRA DE ANDRADE, A Responsabilidade…, cit., pág. 367 e CARLOS CADILHA, Regime …,
cit., pág. 167. Quanto às causas de exclusão de culpa na responsabilidade da Administração, v.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 17
21
II série, n.º 46, de 7 de março de 2011.
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 18
22
Como salientam GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República
Portuguesa Anotada, volume I, 4ª ed., Coimbra, 2007, págs. 437 e 438, embora sem referir a
questão da responsabilidade objetiva ou subjetiva.
23
V. JORGE MIRANDA e RUI MEDEIROS, Constituição Portuguesa Anotada, Tomo I, 2.ª Edição,
Coimbra, 2010, pág. 480.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 19
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 21
32
V. PEDRO MACHETE, “A responsabilidade da Administração por facto ilícito e as novas regras
de repartição do ónus da prova, in Cadernos de Justiça Administrativa, n.º 69, 2008, pág. 34.
33
Cfr. PEDRO MACHETE, op. cit., pág. 38.
34
V. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, op. cit., pág. 425.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 23
Paracelso
Caso I:
Num procedimento pré-contratual, um concorrente vencido impugna
contenciosamente a decisão de adjudicação.
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Caso II:
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 25
Caso III
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1
Aprovado pela Lei 67/2007, de 31 de Dezembro, com as alterações resultantes da Lei
31/2008, de 17 de Julho.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 27
5. O problema de articulação
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2
As aspas justificam-se porquanto obviamente não se imputa responsabilidade a “funções”,
mas a pessoas (ou a patrimónios). Quando responde o poder legislativo ou o poder jurisdicional,
quem responde é sempre a mesma pessoa/património (o Estado). Contudo, pelas razões
referidas no texto, é justificável, para efeitos de estudo, utilizar a facilidade de expressão que se
traduz na ideia de “função responsável”.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 29
3
Neste sentido, JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, "A responsabilidade por danos decorrentes do
exercício da função administrativa na nova Lei sobre Responsabilidade Civil Extracontratual do
Estado e demais Entes Públicos", Revista de Legislação e Jurisprudência, ano 137.º, (3946-3951),
2007-2008, pp. 360 ss., 367; CARLOS ALBERTO FERNANDES CADILHA, Regime da responsabilidade civil
extracontratual do Estado e demais entidades públicas anotado, 2ª ed., Coimbra: Coimbra
Editora, 2011, 202, que escreve: “[e] não será sequer difícil conceber algumas circunstâncias
desculpabilizantes da ilegalidade: sistema legislativo imperfeito; proliferação de legislação
extravagante; prolixidade das disposições legais aplicáveis; divergência na jurisprudência sobre
a mesma questão jurídica; inflexão do entendimento jurisprudencial após a prolação do acto
administrativo impugnado”. A mesma interpretação do regime é feita, de jure condito, por
ALEXANDRA LEITÃO, "Duas questões a propósito da responsabilidade extracontratual por (f)actos
ilícitos e culposos praticados no exercício da função administrativa: da responsabilidade civil à
responsabilidade pública. Ilicitude e presunção de culpa", in AA/VV, Estudos de Homenagem
ao Prof. Doutor Jorge Miranda, Vol. IV - Direito Administrativo e Justiça Administrativa, Lisboa,
2012, pp. 43 ss., 56, embora a autora teça em seguida fortes críticas a esse regime (e coloque
em causa a sua conformidade com o direito europeu, no que diz respeito à responsabilidade
por violação do mesmo).
4
CARLOS ALBERTO FERNANDES CADILHA, Regime da responsabilidade civil... cit., 165; afirmando-se
crítica da posição deste Autor, ANA PEREIRA DE SOUSA, "A culpa do serviço no exercício da função
administrativa", Revista da Ordem dos Advogados, ano 72, (I), 2012, pp. 335 ss., 355, que, no
entanto, nos parece chegar a uma posição muito semelhante.
5
É a terminologia de ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil Português, Vol. II - Direito
das Obrigações - tomo III - Gestão de negócios. Enriquecimento sem causa. Responsabilidade
civil, Coimbra: Almedina, 2010, 739 e de boa parte da doutrina nacional.
6
Na expressão de ANA PERESTRELO DE OLIVEIRA, Causalidade e imputação na responsabilidade civil
ambiental, Coimbra: Almedina, 2007, 102.
7
Por exemplo, RPt 16-12-2009 (Henrique Antunes), proc. 2866/07.4TBMAI.P1.
8
Por exemplo, RPt 26-06-2012 (Márcia Portela), proc. 506/07.0TBSJM.P1.
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 30
9
Entre tantos exemplos, v. as Declarações de Rectificação n.ºs 15/2009; 66/2009; 2/2010;
10/2010; 1427 a 1431/2010; 1783/2010; e muitas outras...
10
JOAQUIM FREITAS DA ROCHA, "Direito pós-moderno, patologias normativas e protecção da
confiança", Revista da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, 7, (n.º especial), 2010, pp.
383-409,
11
J. FREITAS DA ROCHA, "Direito pós-moderno...", cit., 389 ss..
12
J. FREITAS DA ROCHA, "Direito pós-moderno...", cit., 393 ss..
13
J. FREITAS DA ROCHA, "Direito pós-moderno...", cit., 391.
14
MARK A. GEISTFELD, "Legal Ambiguity, Liability Insurance, and Tort Reform", DePaul Law
Review, 60, 2011, pp. 539 ss, 540 (disponível em ssrn.com).
15
Uma causa cumulativa por vezes não só opera, com outra, o resultado danoso, como
pode dar origem a danos proporcionalmente muito superiores à sua própria contribuição para o
processo causal; assim, A. PERESTRELO DE OLIVEIRA, Causalidade e imputação... cit., 103.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 31
Na verdade, estes casos não nos parecem tão diferentes assim dos
exemplos de escola utilizados para exemplificar a causalidade cumulativa (ou,
em outra terminologia, necessária), nos quais um agente deita veneno em
quantidade insuficiente para matar, mas outros dois agentes deitam a mesma
quantidade, sendo que o conjunto acaba por ser fatal. O que queremos aqui
salientar é que, por vezes, os agentes que deitam, cada um, o veneno em
doses homeopáticas, são o administrador, o legislador e o julgador. É verdade
que cada um deita um veneno diferente, mas todos eles são venenos, e pode
ser a sua acção conjugada que os torna fatais.
São as considerações antecedentes que autorizam a asserção de que, em
casos como os acima enunciados, aquilo que ocorre é o mau funcionamento
global do “sector público”; uma espécie de faute de service que, ao contrário
do que é típico dessa figura16, não seria apenas imputável a diversos órgãos ou
serviços da administração pública, ao contrário do que pressupõe o direito
positivo (veja-se a colocação sistemática do art. 7º/3 e 4 do RREE no âmbito
da responsabilidade por actos da função administrativa), mas sim a diversos
órgãos ou pessoas colectivas, independentemente da função que exercem
(administrativa, legislativa ou jurisdicional)17.
16
Sobre a culpa do serviço, JEAN RIVERO/JEAN WALINE, Droit administratif, 19ª ed., Paris: Dalloz,
2002, 278 ss; TIAGO VIANA BARRA, "A responsabilidade civil administrativa do Estado", Revista da
Ordem dos Advogados, ano 71, (I), 2011, pp. 111 ss., 165 ss; A. P EREIRA DE SOUSA, "A culpa do
serviço...", cit..
17
Claro que uma questão inteiramente legítima é a de saber se uma tal ideia (que no
fundo trata toda a actuação pública, para este efeito, como interligada entre si) pode sequer
ser equacionada. Procuramos abordar essa dificuldade no texto.
18
MARGARIDA CORTEZ, "Contributo para uma reforma da lei da responsabilidade civil da
Administração", in MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, Responsabilidade civil extra-contratual do Estado.
Trabalhos preparatórios da reforma, Coimbra: Coimbra Editora, 2002, pp. 257 ss., 260-261.
19
A. PEREIRA DE SOUSA, "A culpa do serviço...", cit., 353.
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 32
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 33
seria hoje atendida pelo art. 10º/7 do CPTA, mas é duvidoso se o mesmo regime vigora para a
situação de concurso de responsabilidades da competência da jurisdição administrativa com
responsabilidades da competência de outras jurisdições.
23
FRANCESCO GALGANO, Le insidie del linguaggio giuridico. Saggio sulle metafore nel diritto,
Bologna: Il Mulino, 2010, passim, analisando várias metáforas clássicas do direito (como a pessoa
colectiva ou o negócio jurídico).
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 34
24
F. GALGANO, Le insidie... cit., 19.
25
Como, de resto, a Constituição dá a entender, quando se refere ao princípio da
separação e interdependência dos poderes – cf. art. 111º.
26
PAULO OTERO, Direito Constitucional Português, Vol. I - Identidade constitucional, Coimbra:
Almedina, 2010, 90 ss.; e com enfoque, sobretudo, na boa fé e tutela da confiança, JORGE
MIRANDA, "Função legislativa e tutela da confiança: o caso dos notários", O Direito, ano 139.º, (5),
2007, pp. 1135-1159, 1153-1154.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 35
7.1. Em geral
27
MARIA DA GLÓRIA F. P. D. GARCIA, Direito das políticas públicas, Coimbra: Almedina, 2009;
DIOGO DE FIGUEIREDO MOREIRA NETO, "Novos horizontes para o direito administrativo: pelo controle das
políticas públicas. A próxima missão", in AUGUSTO DE ATHAYDE/JOÃO CAUPERS/MARIA DA GLÓRIA F. P. D.
GARCIA, Em Homenagem ao Professor Doutor Diogo Freitas do Amaral, Coimbra: Almedina, 2010,
pp. 649 ss..
28
M. D. G. F. P. D. GARCIA, Direito das políticas públicas, cit., passim.
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 36
Por outro lado, uma perspectiva que toma unitariamente as funções do Estado
é também a adoptada num sector importante do direito da responsabilidade
pública: a responsabilidade por violação de direito da União Europeia.
Aí, com efeito, não só a jurisprudência europeia parte de uma noção – a de
violação do direito europeu – que pode ser preenchida pela actuação de
qualquer das funções do Estado membro 29, como expressamente rejeita que
os Estados invoquem a repartição interna de competências entre as diferentes
entidades públicas para se eximir ao cumprimento de obrigações emergentes
do direito comunitário30.
Assim, pelo menos à luz do direito europeu, é realmente indiferente qual a
função do Estado que opera a violação 31. Isto torna, aliás, no mínimo
problemática a conformidade do regime do RREE com o direito europeu neste
campo, sendo provavelmente necessário fazer interpretação conforme ou
mesmo correctiva do regime nacional, deferindo aos critérios europeus a
determinação da responsabilidade32. Com efeito, ao estabelecer pressupostos
mais exigentes para a responsabilidade do que os do direito europeu, o que se
torna particularmente visível nos casos da função jurisdicional, com a
exigência de prévia revogação da decisão danosa (art. 13º/2 RREE), e
legislativa, cuja indemnizabilidade depende da existência de dano anormal
(art. 15º/1 RREE), o legislador nacional restringe a plena efectividade do
princípio da responsabilização por violação do direito comunitário33.
29
Com análise de diversos casos decididos pelo TJUE nos quais estavam em causa
acções ou omissões do legislador, dos tribunais nacionais ou dos órgãos administrativos, Carla
AMADO GOMES, "O Livro das Ilusões: a responsabilidade do Estado por violação do Direito
Comunitário, apesar da Lei 67/2007, de 31 de Dezembro", in Textos dispersos sobre Direito da
Responsabilidade Civil Extracontratual das Entidades Públicas, Lisboa: AAFDL, 2010, pp. 185 ss.,
particularmente 192 ss..
30
Acórdão Konle, referenciado em Carla AMADO GOMES, "O Livro das Ilusões...", cit., 197.
31
Carla AMADO GOMES, "O Livro das Ilusões...", cit., 205.
32
Assim, Carla AMADO GOMES, "O Livro das Ilusões...", cit., 206 e ss..
33
Carla AMADO GOMES, "O Livro das Ilusões...", cit., 209 ss.. Sobre o tema veja-se igualmente
MARIA JOSÉ RANGEL DE MESQUITA, O regime da responsabilidade civil extracontratual do Estado e
demais entidades públicas e o Direito da União Europeia, Coimbra: Almedina, 2009, e em
relação à responsabilidade pela função administrativa, Alexandra LEITÃO, "Duas questões...", cit.,
57-58.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 37
O último dos sinais que aqui consideraremos é dado por uma modalidade de
responsabilidade civil extracontratual consagrada no RREE que prescinde de
uma referência a esta ou àquela função do Estado: falamos, claro, da
responsabilidade pelo sacrifício, a que se refere o art. 16º daquele Regime.
Ao dispor que “[o] Estado e as demais pessoas colectivas de direito público
indemnizam os particulares a quem, por razões de interesse público,
imponham encargos ou causem danos especiais e anormais, devendo, para o
cálculo da indemnização, atender-se, designadamente, ao grau de
afectação do conteúdo substancial do direito ou interesse violado ou
sacrificado”, cria-se um dever de indemnizar que “não se circunscreve ao
exercício de uma específica função estadual” 35 que imponha o encargo ou
cause o dano. Tal conclusão também resulta da colocação sistemática do art.
16º: ao contrário dos capítulos anteriores do RREE, aquele no qual se integra
este preceito não se reconduz a uma específica função36.
Tal dever de indemnizar apresenta-se, assim, como “uma cláusula de
salvaguarda do direito fundamental do cidadão à reparação dos danos
resultantes da acção do Estado e demais entidades públicas, para abranger o
34
Para um caso recente e muito elucidativo, veja-se TEDH 15-01-2013 (procs. reunidos
48420/10, 59842/10, 51671/10 e 36516/10), Eweida c. Reino Unido, disponível em
www.echr.coe.int. É nítido que a abordagem do Tribunal é uma abordagem de resultado e não
de meios: tanto aprecia, num caso, se uma empresa pública violou directamente a liberdade
religiosa, como, nos outros casos, quando a violação dessa liberdade é imputada a entidades
privadas, aprecia se o legislador e os tribunais atingiram, nas suas missões respectivas (legislar e
julgar), o equilíbrio correcto entre a liberdade religiosa e outros direitos e interesses em jogo. É
uma abordagem totalmente indiferente à função do Estado desempenhada.
35
MARIA DA GLÓRIA F. P. D. GARCIA, "A responsabilidade civil do Estado e das Regiões Autónomas
pelo exercício da função político-legislativa e a responsabilidade do Estado e demais entidades
públicas pelo exercício da função administrativa", Revista do CEJ, (13), 2010, pp. 305 ss., 316.
36
Carlos Alberto Fernandes CADILHA, Regime da responsabilidade civil... cit., 361-362.
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 38
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 39
MANUEL A. CARNEIRO DA FRADA, Direito Civil. Responsabilidade Civil. O método do caso, Coimbra:
Almedina, 2011 (2ª reimp. da ed. de 2006), 101; Carla AMADO GOMES, Introdução ao Direito do
Ambiente, Lisboa: AAFDL, 2012, 194.
40
Neste sentido, de prismas e com posições e terminologias diferentes, mas, neste ponto, em
consonância, por exemplo, MARGARIDA CORTEZ, Responsabilidade civil da Administração por actos
administrativos ilegais e concurso de omissão culposa do lesado, BFDUC, Studia Iuridica - 52,
Coimbra: Coimbra Editora, 2000, 116; J ORGE FIGUEIREDO DIAS, Direito Penal. Parte Geral, tomo I -
Questões fundamentais. A Doutrina Geral do Crime, 2ª ed., Coimbra: Coimbra Editora, 2007, 322
ss. (maxime 322-323, 332-333, 339 ss.); Ana PERESTRELO DE OLIVEIRA, Causalidade e imputação... cit.,
51 ss. (com uma posição bastante radical, porquanto afirma prescindir da causalidade
naturalística como base de imputação no caso de dano ambiental e ecológico, substituindo-a
pela criação ou aumento de risco proibido); L UÍS MANUEL TELES DE MENEZES LEITÃO, Direito das
Obrigações, Vol. I - Introdução. Da constituição das obrigações, 7ª ed., Coimbra: Almedina,
2008, 349-350; A. MENEZES CORDEIRO, Tratado, II-III, cit., 537 ss. (maxime 548-550), 738; Manuel A.
CARNEIRO DA FRADA, Direito Civil... cit., 100-102 (embora notando que em alguns casos a teoria do
fim de protecção da norma perde relevância).
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41
Vejam-se as seguintes decisões dos tribunais judiciais superiores: do Supremo Tribunal de
Justiça: STJ 13-12-2005 (Faria Antunes), proc. 5A3519, STJ 20-06-2006, CJ/STJ, Tomo II, p. 119 e STJ
16-09-2008 (Sebastião Póvoas), proc. 8A2433. Da Relação do Porto, RPt 10-02-2000 (Alves Velho),
proc. 9931517, RPt 17-09-2009 (Amaral Ferreira), proc. 4651/04.6TBVFR.P1, RPt 16-12-2009
(Henrique Antunes), proc. 2866/07.4TBMAI.P1 e RPt 26-06-2012 (Márcia Portela), proc.
506/07.0TBSJM.P1. Da Relação de Lisboa, RLx 17-09-2009 (Ezagüy Martins), proc. 6160/05-2 e RLx
09-02-2010 (Ana Resende), proc. 48/06.1TBVFC.L1-7. Da Relação de Coimbra, RCb 03-02-2009
(Gonçalves Ferreira), proc. 2637/06.5TBCBR.C1.
42
Com efeito, literal e sistematicamente, a regra do art. 497º do CC só se aplicaria à
responsabilidade aquiliana, mas a jurisprudência já o aplicou em casos de concorrência de
diversas responsabilidades contratuais, em situações a que chama de “solidariedade atípica” –
cf. STJ 16-09-2008 (Sebastião Póvoas), proc. 8A2433.
43
No direito espanhol, o art. 140º da Ley n.º 30/1992, de Régimen Jurídico de las
Administraciones Públicas y del Procedimiento Administrativo Común, é inteiramente dedicado
à “responsabilidade concorrente das Administrações Públicas”.
44
J. RIVERO/J. WALINE, Droit administratif, cit., 275; C. A. F. CADILHA, Regime da responsabilidade
civil... cit., 221; ANA RAQUEL GONÇALVES MONIZ, Responsabilidade civil extracontratual por danos
resultantes da prestação de cuidados de saúde em estabelecimentos públicos: o acesso à
justiça administrativa, Centro de Direito Biomédico - 7, Coimbra: Coimbra Editora, 2003, 61-64.
45
Cf., para diferentes hipóteses, Rui MACHETE, “A Acção para efectivação da
responsabilidade civil extracontratual”, in AA/VV, A Reforma do Contencioso Administrativo, vol.
I, O Debate Universitário, Ministério da Justiça, 2000, pp. 140 e ss., 146-147; C. A. F. CADILHA,
Regime da responsabilidade civil... cit., 208; MIGUEL ASSIS RAIMUNDO, "Responsabilidade de
entidades privadas submetidas ao regime da responsabilidade pública", Cadernos de Justiça
Administrativa, (88), 2011, pp. 23 ss., 33; Mafalda CARMONA, O Acto Administrativo... cit., 355 e ss..
46
Identificando essa como uma situação de responsabilidade conjunta, Carla AMADO GOMES, "A
responsabilidade pessoal e institucional...", cit., 177.
47
Por exemplo, quando várias entidades adjudicantes se juntem para celebrar um contrato
público, a decisão de contratar, a decisão de escolha do procedimento, a decisão de
qualificação e a decisão de adjudicação são tomadas em conjunto – art. 39º/3 do CCP. Sobre
a decisão de contratar e a decisão de escolha do procedimento, designadamente para a
afirmação da sua potencial lesividade, v. o que escrevemos em MIGUEL ASSIS RAIMUNDO, A
formação dos contratos públicos. Uma concorrência ajustada ao interesse público, Lisboa:
AAFDL, 2013, 771 ss..
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 41
48
Sobre o ponto, Carla AMADO GOMES e Miguel ASSIS RAIMUNDO, "Topicamente...", cit., 253 ss..
49
Literalmente, a solução apenas valeria na responsabilidade pelo risco (art. 11º/2 RREE), mas
a doutrina, a nosso ver bem, estende a solução à responsabilidade por facto ilícito: assim, PAULO
OTERO, "Causas de exclusão da responsabilidade civil extracontratual da Administração Pública
por facto ilícito", in AA/VV, Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor Sérvulo Correia, vol. II,
Lisboa: Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, 2010, pp. 965 ss., 984, nota 73.
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dever geral de respeito, no que se apresenta como um concurso real 50. Tal
como no caso que nos ocupa, os regimes são diferentes (no que diz respeito à
presunção de culpa, que existe na responsabilidade contratual mas não na
extracontratual; e no prazo de prescrição, que é de 20 anos naquela e de três
anos nesta; existem outras diferenças) e não existe norma de articulação.
Perante esta questão controvertida, doutrina e jurisprudência têm oscilado
entre (i) permitir ao lesado a escolha simples entre um dos regimes; (ii) permitir
ao lesado a composição de um regime aproveitando as normas que lhe sejam
mais favoráveis em cada regime; (iii) aplicar um critério normativo externo de
resolução do concurso (consumpção)51.
Em segundo lugar, a doutrina e a jurisprudência foram autonomizando
figuras que de algum modo se apresentam como resistentes a uma integração
plena num dos termos da distinção. Surge, assim, a chamada “terceira via”
como resposta à necessidade de construção de regimes para figuras de
fronteira entre formas de responsabilidade, não autonomizadas na lei ou
escassamente reguladas52. Em tais casos, na ausência de indicação da lei, a
doutrina compõe um regime, aproveitando elementos dos regimes existentes
(contratual e aquiliano) baseado na que considera a melhor composição dos
interesses em jogo.
Por fim, é de notar que a doutrina vem admitindo a possibilidade de
preenchimento, em relação a um dano, das previsões de diferentes regimes
de responsabilidade, resultando na imputação a diferentes sujeitos, por
diferentes títulos (por exemplo, um por culpa e outro pelo risco) por uma
mesma causalidade, no que já foi designado um concurso heterogéneo 53.
50
A. MENEZES CORDEIRO, Tratado, II-III, cit., 398.
51
Sobre a questão, STJ 22-09-2011 (Bettencourt de Faria), proc. 674/2001.P L.S1; RÉv 20-10-2011,
CJ, ano 36, tomo 4, n.º 233 (agosto-outubro 2011), p. 251-254; RCb 16-12-2009 (Jorge Arcanjo),
proc. 5/05.5TBOHP.C1; RPt 21-03-2006 (Cura Mariano), proc. 299/06. Na doutrina, MIGUEL TEIXEIRA DE
SOUSA, O concurso de títulos de aquisição da prestação, Coimbra: Almedina, 1988; A. MENEZES
CORDEIRO, Tratado, II-III, cit., 387 ss.
52
Autonomizando a culpa in contrahendo, a culpa post pactum finitum, o contrato com
eficácia de protecção para terceiros e a relação corrente de negócios, Luís M. T. D. MENEZES
LEITÃO, Obrigações..., I, cit., 354 ss.. No entanto, bastante restritivo quanto à admissibilidade e
relevância da terceira via, A. MENEZES CORDEIRO, Tratado, II-III, cit., 400 ss..
53
A. MENEZES CORDEIRO, Tratado, II-III, cit., 737.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 43
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9.2.1. Em geral
54
Assim, por exemplo, poderia ser considerada a co-responsabilidade da função legislativa
com a função administrativa, por ter criado um regime legal de dificílima aplicação, sem que se
exigisse a inconstitucionalidade desse regime e sem que se exigisse o carácter anormal do
dano, pois esse requisito seria consumido pela circunstância de o particular não ter sido só
atingido pela lei imperfeita, mas também pela actuação da função administrativa. De facto,
como se diz no texto, esta solução é valorativamente adequada, pois não é descabido dizer
que a exigência do dano anormal tem como pressuposto implícito que seja apenas a função
legislativa a contribuir para o dano. Nos casos em que há outros agentes do sector público a
contribuir para o dano, esse pressuposto de grande exigência perde razão de ser, porque o
particular lesado tem outras razões de queixa, que como que substituem e consomem o
carácter anormal do dano. Estas considerações são facilitadas, sobretudo, pelo apelo à criação
de risco proibido como fundamento da imputação (v. supra). É que nesses casos, o risco
proibido não é criado apenas por uma função do Estado, mas por mais do que uma, e é essa
acumulação de risco proibido com uma origem unitária (o Estado) o que justifica que se torne
mais fácil a imputação.
55
Ou seja, tratar-se-ia aqui apenas da extensão, a todas as funções, do mecanismo, que já
vigora para as relações entre acto administrativo e responsabilidade civil, segundo a qual a
impugnação do acto demonstra a intenção de vir a exigir a responsabilidade civil (art. 41º/3
CPTA). Mais uma vez, tal extensão mostra-se valorativamente adequada, pelos mesmos motivos
indicados na nota anterior.
56
Sobre a unificação do contencioso da responsabilidade civil extracontratual das entidades
públicas operada pelo ETAF de 2004, seja-nos permitido remeter para Miguel ASSIS RAIMUNDO, As
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 45
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58
STA 30-11-2011 (Madeira dos Santos), proc. 1021/11; STA (Pleno) 11-05-2005 (António
Samagaio) e também 30-11-2004 (Alberto Augusto Oliveira), ambos proferidos no âmbito do
proc. 616/04.
59
Sob pena de uma posição processual diminuída face aos órgãos cimeiros do Estado, o que
é inaceitável. Com efeito, não é próprio de um Estado de Direito que o particular, só porque foi
objecto de um acto em matéria administrativa praticado pelo Presidente da República, fique
em posição processual mais diminuída do que se tivesse sido objecto de um acto de um
presidente de câmara.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 47
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62
Cf. MADALENA PERESTRELO DE OLIVEIRA, "Conflitos de princípios na repartição da competência
material dos tribunais: os casos aut-aut e et-et", O Direito, ano 142º, (III), 2010, pp. 593 ss..
63
Enunciando esta possibilidade, embora no caso concreto, recusando que a mesma seja
aplicável num caso de solidariedade passiva, por entender que aí se está perante litisconsórcio
meramente voluntário, veja-se TCAS 22-03-2007 (Teresa de Sousa), proc. 1237/05.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 49
Vera Eiró
1. Apresentação do tema
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Comecemos
1
Cfr. PAULO MOTA PINTO, Interesse contratual negativo e interesse contratual positivo,
2008, p. 536 e a extensa doutrina civilista que o autor cita na nota 1555. Nas palavras
de Sinde Monteiro, “o dano constitui um pressuposto do nascimento desta relação
jurídica [a obrigação de indemnizar], cuja finalidade principal reside justamente na
sua reparação”, JORGE SINDE MONTEIRO, "Rudimentos da responsabilidade civil", in Revista
da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, 2005, p. 377 (parêntesis nossos).
2
Cfr. FRANCISCO MANUEL PEREIRA COELHO, O Enriquecimento e o Dano, 2003, p. 35.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 51
3
A lógica do tudo ou nada traduz-se no seguinte: ou bem que o lesado consegue demonstrar
o nexo de causalidade entre o facto lesivo e os danos que sofreu (sendo ressarcido da
integralidade dos danos sofridos, correspondendo esta situação a tudo) ou, não conseguindo
demonstrar o nexo de causalidade, não é ressarcido (nem mesmo parcialmente,
correspondendo esta situação a nada).
4
Sobre a perda de chance no direito comparado veja-se, entre nóse a título de exemplo, R UI
CARDONA FERREIRA, Indemnização do Interesse Positivo e Perda de Chance na Contratação
Pública, 2011, passim; RUI CARDONA FERREIRA, A perda de chance – Análise comparativa e
perspectivas de ordenação sistemática, in O Direito, ano 144, 2012, pp. 31 e ss; e o nosso
Obrigação de indemnizar das entidades adjudicantes. Fundamento e pressupostos, 2013 (no
prelo).
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1.1.1. França
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 53
os casos em que existe uma chance séria de adjudicação e uma chance muito séria de
adjudicação. Esta distinção seria relevante em sede de cômputo da indemnização ― assim, S.
TROCOL, "Note sous CAA Douai, 21 Mai, 2002, Stá. Jean Behotas", in AJDA, 2003, p. 232. Todavia,
esta distinção não tem merecido relevância na jurisprudência mais recente do Conseil d’État.
Com efeito, o tribunal tem atribuído indemnizações que incluem os lucros cessantes associados
à execução do contrato que é objecto do procedimento quando o operador económico
lesado demonstra que, não fora a ilegalidade cometida, teria tido uma chance séria de ser o
adjudicatário do contrato. Deve notar-se ainda que a indemnização é, nestes casos, generosa,
porquanto os tribunais têm entendido que o lucro cessante deve ser indemnizado, não obstante
fique demonstrado que o lesado celebrou e executou contratos alternativos que não teria
celebrado nem executado se tivesse sido o adjudicatário do contrato. Nestes casos, o operador
económico é pago duas vezes pelo trabalho que realizou apenas uma vez. Cfr. F RANÇOIS LICHÈRE,
"Damages for Violation of the EC Public Procurement Rules in France", in Public Procurement Law
Review, 4, 2006, p. 177.
6
Neste sentido, com dados jurisprudenciais relevantes, FRÉDÉRIC DIEU, "L'indemnisation d'une
chance sérieuse de remporter un marché", in AJDA, 62, 16, 2006, p. 879.
7
Mesmo quando o critério da adjudicação é o da proposta economicamente mais favorável,
se o lesado apresentar o preço mais baixo, existe uma espécie de presunção no sentido da
adjudicação do contrato. Não obstante, esta presunção é elidível Veja-se, neste sentido,
FRANÇOIS LICHÈRE, "Damages for Violation of the EC Public Procurement Rules in France", in Public
Procurement Law Review, 4, 2006, p. 174.
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1.1.2. Itália
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 55
1
Deve notar-se que há quem sustente que a aplicação de um princípio da perda de chance
não se afigura contrária às condições e pressupostos da responsabilidade civil. Veja-se, neste
sentido e para além dos demais, Cfr. RUI CARDONA FERREIRA, Indemnização do Interesse
Positivo e Perda de Chance na Contratação Pública, 2011, passim.
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impressionista das principais linhas que delas decorrem. Para tanto, optei por
sistematizar as decisões em dois diferentes grupos: o primeiro, que se ocupa
sobretudo da problemática da determinação da indemnização por
inexecução de sentença; o segundo, que se ocupa do tema da
indemnização em ambiente concursal.
Por estranho que possa parecer, o tema da «perda da chance» assumiu algum
lugar de destaque na jurisprudência administrativa não tanto a propósito da
aplicação do instituto da responsabilidade civil, mas sobretudo a propósito da
aplicação das normas de processo administrativo que atribuem aos autores
uma indemnização em caso de causa legítima de inexecução de sentença.
Neste contexto, o primeiro grupo de decisões relevantes para estudar a
«perda de chance» no Direito Administrativo prende-se com a aplicação dos
artigos do CPTA relevantes para o regime da inexecução legítima da sentença
(seja no processo declarativo seja no processo executivo).
A propósito da aplicação destes normativos, gostava de chamar a vossa
atenção para dois acórdãos que me parecem marcar decisivamente a
jurisprudência dos nossos tribunais administrativos superiores sobre esta
temática.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 57
2
Cfr. Acórdão do STA de 2009-09-30, proc. n.º 634/09 e, no mesmo sentido, Acórdão do STA de
2009-02-25, proc. n.º 047472A.
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3
Veja-se, mais recentemente, o Acórdão do TCA Norte de 13 de janeiro de 2012, P. 0073/05.0
e o Acórdão do STA de 20 de novembro de 2012 que seguiu de perto a decisão de 30 de
setembro de 2009 citada no texto e com voto de vencido do Conselheiro Rosendo Dias José.
4
Usando por vezes expressões como “não nos parece mal atribuir uma indemnização (…)” .
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 59
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6
A saber, a Diretiva 89/665/CEE do Conselho, de 21 de Dezembro, e a diretiva 92/13/CEE do
Conselho, de 25 de Fevereiro (na sua versão alterada).
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 61
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 63
justiça que, neste domínio, o julgador poderá utilizar e que, numa palavra,
permitirão que o tribunal não venha a arbitrar indemnizações meramente
simbólicas. Neste contexto, o tribunal poderá basear-se nos custos em que o
autor incorreu para participar no procedimento e para propor a ação (no
caso em que o ilícito seja a violação de regra contida nas diretivas de
contratação pública, este quantum indemnizatório afigura-se um quantum
mínimo à luz do regime das Diretivas Recursos) e poderá ainda tomar-se em
consideração a probabilidade de ocorrência do dano final (mas não deve
fundar-se apenas nisso porque esta probabilidade é sobretudo relevante em
sede de responsabilidade civil), pode ainda atender-se ao tempo entretanto
decorrido ou mesmo ao lucro máximo espectável com a execução do
contrato (enquanto limite máximo de indemnização a arbitrar).
No segundo caso a que fiz referência o tribunal entendeu que as Diretivas
Recursos impõem uma nova forma de antever o nexo de causalidade, o qual
se bastará com a possibilidade real de ser o adjudicatário do contrato.
É certo que, em contratação pública, o princípio da perda de chance é
potencialmente útil para resolver os casos – muito comuns e frequentes – em
que existe a probabilidade ou a chance de, na ausência da decisão ilegal da
entidade adjudicante, o operador económico preterido vir a ser o
adjudicatário do contrato, mas em que essa chance ou probabilidade não
apresenta um grau de certeza suficiente para a não adjudicação ser
considerada um efetivo dano à luz das tradicionais regras de nexo de
causalidade. Este perfeito habitat para a aplicação da teoria da perda de
chance alia-se à redação das Diretivas Recursos (mais concretamente da
diretiva 92/13/CEE) onde se faz referência à «possibilidade real» de vencimento
do concurso.
Sucede que este normativo não se limita a referir que o nexo de
causalidade se basta, em contratação pública, pela existência de uma
probabilidade real de ser o adjudicatário do contrato. A letra da norma
acrescenta ainda que para o lesado ser ressarcido dos custos da proposta e
do procedimento, terá apenas que demonstrar que teria uma hipótese real de
ser o adjudicatário do contrato não fora a violação da norma cometida. A ser
uma regra inovadora no que respeita o nexo, esta norma terá de ser
considerada também uma regra inovadora a respeito do dano – limitado aos
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7
Sobre este tema veja-se o nosso A obrigação de indemnizar das entidades adjudicantes.
Fundamento e pressupostos, no prelo.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 65
Este foi também o sentido da opinião manifestada por Paulo Mota Pinto na
sua dissertação de doutoramento 9. Mais recentemente, e a propósito do
RRCEEPCP, o Conselheiro Cadilha adianta igualmente que não existe
“qualquer referência no direito positivo português à indemnização por perda
de chance”.
É certo que alguma doutrina parece aceitar que os pressupostos da
responsabilidade civil se moldem ou adaptem à figura da perda de chance
(seja considerando que da mesma resulta a elevação da chance a um dano
autónomo, seja propugnado que a mesma se adequa ao critério de
causalidade com respaldo no nosso atual enquadramento legislativo) 10. E que
8
Júlio VIEIRA GOMES, Sobre o dano da perda de chance in Direito e Justiça, vol. XIX, 2005 (mas
2007), tomo II (9-47), p. 38.
9
Paulo MOTA PINTO, Interesse Contratual Negativo e Interesse Contratual Positivo, II, Coimbra,
2009, p. 1106.
10
Veja-se, entre os primeiros, António CARNEIRO DA FRADA, Direito Civil –
Responsabilidade Civil – O método do caso, Almedina, 2ª Reimpressão, 2011, pp. 104-105; Rute
TEIXEIRA PEDRO, A Responsabilidade Civil do Médico – Reflexões Sobre a Noção da perda de
chance e a tutela do doente lesado, Coimbra, 2008, pp. 179 e ss, max. 383-386 e 446. Entre os
segundos, Rui CARDONA, Indemnização do interesse contratual positivo e perda de chance
(em especial na contratação pública), Coimbra, 2011, p. 360 e 320 (note-se que, em estudo
mais recente, o autor parece mitigar a posição anteriormente assumida e não rejeita a
possibilidade de a aplicação da perda de chance enquanto ponderação do nexo causal ser
mais do que a identificação de um destino a que se tenha chegado no nosso ordenamento, e
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 66
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 67
Termino a minha exposição com uma nota. É sempre um gosto vir a esta
casa. Sinto como um enorme privilégio poder ter estado aqui hoje a partilhar
algumas das minhas conclusões sobre este tema. Agradeço portanto aos
professores responsáveis pela organização desta conferência (nas pessoas da
Profª. Doutora Carla Amado Gomes e do Prof. Doutor Miguel Assis Raimundo)
pelo convite que me foi formulado e pela oportunidade que me têm dado –
por tantas e tão variadas vezes – para discutir estes e outros temas de Direito
Administrativo.
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 68
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 69
Diana Ettner
1
A presente intervenção tem por base a dissertação de Mestrado apresentada em Janeiro de
2012 na Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, intitulada “A
responsabilidade civil dos titulares de órgãos, funcionários e agentes públicos por danos
decorrentes do exercício da função administrativa”, aqui se enunciando apenas algumas das
suas ideias principais, de forma necessariamente breve e sumária.
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2
VIEIRA DE ANDRADE, A Responsabilidade por danos decorrentes do exercício da função
administrativa na nova lei da responsabilidade civil extracontratual do Estado, in
Revista de Legislação e de Jurisprudência, ano 137, n.º 3951, Julho-Agosto 2008, p. 362.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 71
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 73
3
E não apenas interna, dentro do serviço público, para efeitos de responsabilização disciplinar.
4
Expressões de VIEIRA DE ANDRADE (Panorama Geral do Direito da Responsabilidade “Civil” da
Administração Pública em Portugal”, in La Responsabilidad Patrimonial de los Poderes Públicos, III
Coloquio Hispano-Luso de Derecho Administrativo, Valladolid, Marcial Pons, 1999, p. 44).
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 75
Estado é sempre solidária com os funcionários públicos, nos termos do art. 22.º
CRP, a única forma de a efetivar nos casos em que seja o Estado a suportar
esse pagamento, é através do direito de regresso, razão pela qual este terá de
ser encarado como de exercício obrigatório.
Deste modo, é o direito de regresso previsto no n.º 4 do art. 271.º da CRP,
que garante a efetivação, no quadro de um regime de responsabilidade
solidária do Estado com os seus agentes, do princípio da responsabilidade dos
servidores públicos consagrado no n.º 1 daquele mesmo preceito, de onde
resulta que o mesmo tenha necessariamente de ser de exercício obrigatório.
Assim sendo, a consagração legal da obrigatoriedade do exercício do
direito de regresso no RRCEE, releva na medida em que indiscutivelmente
eleva à categoria de dever a efetivação da responsabilidade do titular de
órgão, funcionário e agente pelos atos ilícitos e culposos praticados,
garantindo, pela necessidade de acionar mecanismos legais destinados a
suprir o seu não exercício, a concretização do princípio da responsabilidade
pessoal dos funcionários públicos.
6
A responsabilidade pessoal e institucional do dirigente da Administração Pública no quadro
da Lei 67/2007, de 31 de Dezembro, in Textos Dispersos sobre Direito da Responsabilidade Civil
Extracontratual das Entidades Públicas, AAFDL, Lisboa, 2010, p. 181-182.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 77
7
Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e Demais Entidades Públicas
Anotado, Coimbra Editora, 2008, pág. 44.
8
Publicado na 2.ª série do Diário da República, n.º 28, de 2 de Fevereiro de 2001, pp. 2304 e ss.
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9
Cfr., quanto aos argumentos utilizados pelo Autor, A Responsabilidade por danos decorrentes
do exercício da função administrativa na nova lei da responsabilidade civil extracontratual do
Estado, in Revista de Legislação e de Jurisprudência, ano 137, n.º 3951, Julho-Agosto 2008, p. 365.
10
Constituição da República Portuguesa Anotada, 4.ª edição revista, Coimbra Editora,
Coimbra, 2010, p. 855.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 79
11
Igualmente neste sentido, CARLA AMADO GOMES, em razão da idêntica valência do argumento
que aponta para o incremento da diligência e cuidado que advém da consagração do direito
de regresso obrigatório (A Responsabilidade Civil Extracontratual da Administração por Facto
Ilícito, in Textos Dispersos sobre Direito da Responsabilidade Civil Extracontratual das Entidades
Públicas, AAFDL, Lisboa, 2010, p. 55).
12
Neste sentido, vale a ideia de que um dos princípios constitucionais em que se ancora o
princípio da responsabilidade subjetiva dos funcionários ou agentes do Estado é o da proteção
jusfundamental do cidadão (GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição…., II, p. 852).
13
Topicamente – e a quatro mãos… - sobre o novo Regime da Responsabilidade Civil
Extracontratual do Estado e Demais Entidades Públicas, in Textos Dispersos sobre Direito da
Responsabilidade Civil Extracontratual das Entidades Públicas, AAFDL, Lisboa, 2010, p. 263.
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 80
14
Referindo-se a uma situação muito específica, o n.º 2 do artigo 507.º do CC estabelece que
a obrigação de indemnização se reparte “de acordo com o interesse de cada um na utilização
do veículo”.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 81
15
Entendimento diverso é sufragado, designadamente, por Carlos CADILHA (Regime…, p. 139).
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 82
16
JORGE MIRANDA e RUI MEDEIROS, Constituição Portuguesa Anotada, I, Coimbra Editora, Coimbra,
2005, p. 215. Também GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA referem que a responsabilidade se
conexiona com “outros princípios jurídico-constitucionalmente estruturantes”, como o princípio
do Estado-de-direito, o princípio da constitucionalidade e legalidade e da ação do Estado e o
princípio da igualdade (Constituição da República Portuguesa Anotada, Volume I, 4.ª edição
revista, Coimbra Editora, Coimbra, 2007, p. 425).
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 83
17
Também MARGARIDA CORTEZ se pronunciou sobre este tema, num sentido semelhante ao que
vimos defendendo. Com efeito, após defender a tese da obrigatoriedade do exercício do
direito de regresso, escreve a Autora que “discricionariedade existirá apenas quanto à
determinação do valor a reclamar, que deverá resultar de uma ponderação de vários factores,
a saber: o resultado danoso produzido, a existência ou não de intencionalidade, a
responsabilidade profissional do agente ao serviço da Administração e a sua relação com a
produção do resultado danoso” (Contributo para uma reforma da lei da responsabilidade civil
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 84
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 85
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 86
19
Cf. Responsabilidade Civil …, p. 501. JORGE MIRANDA e RUI MEDEIROS aderem a esta posição de
PAULO OTERO (A Constituição…, Tomo III, p. 648
20
A Privatização…, p. 191.
21
A Privatização…, p. 190.
22
Também GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA sustentam que “Ao estatuir, no ar. 22.º, uma
responsabilidade solidária do Estado e dos titulares dos seus órgãos, funcionários e agentes,
pressupõe-se, nos termos gerais das obrigações solidárias, a possibilidade de direito de regresso
(art. 271.º-4) do Estado e demais entidades públicas” (Constituição…, Volume I, p. 435).
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 87
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 89
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 91
art. 8.º do RRCEE destina a aplicar-se numa situação em que, pelo contrário,
não existe (ainda) uma obrigação solidária entre dois devedores, na medida
em que a responsabilidade do Estado fundada em ações ou omissões ilícitas
cometidas com culpa leve pelos agentes públicos, que constitui a situação
típica subjacente à sua aplicação, pressupõe a responsabilidade exclusiva da
entidade pública.
Neste sentido, o regime de intervenção de terceiros mais adequado a
aplicar-se à situação prevista pelo n.º 4 do art. 8.º do RRCEE – e que, repita-se,
não é afastado pelo referido preceito – sempre pareceria ser o da intervenção
acessória provocada, consagrado nos artigos 330.º a 333.º do CPC, que
pressupõe duas relações jurídicas materiais distintas: a que é discutida entre o
autor e o réu e a que decorre da acção de regresso ou “ulterior acção de
indemnização” (cfr. parte final do n.º 4 do artigo 332.º do CPC), que
27
Assim o refere SALVADOR DA COSTA (Os Incidentes da Instância, 5.ª edição Actualizada e
Ampliada, Almedina, Coimbra, Setembro de 2008, p. 138).
28
Com relação a este aspecto escreveu LEBRE DE FREITAS que deve existir uma relação de
prejudicialidade entre a ação em que o chamamento tem lugar e a ação em que,
posteriormente, o réu faz valer o seu direito à indemnização contra o terceiro, de tal modo que
naquela segunda ação estarão apenas em discussão os restantes pressupostos substantivos do
direito à indemnização, que não constituíram objecto da primeira (Chamamento…p. 770). No
mesmo sentido, SALVADOR COSTA refere que entre a relação jurídica da titularidade do autor e do
réu e do terceiro basta existir uma conexão de “relativa dependência consubstanciada no
facto de a pretensão de regresso do réu contra o chamado se apoiar no prejuízo decorrente
da perda da demanda” (Os Incidentes…, p. 141).
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 92
29
Neste sentido, PAULO VEIGA E MOURA, A Privatização…, cit., pág. 198.
30
CARLA AMADO GOMES refere-se deste modo ao regime do n.º 4 do artigo 8.º do RRCEE,
destacando a sua dimensão predominantemente garantística: “para efeitos de ressarcimento
do particular, vale a presunção de culpa leve; para efeitos de regresso fica em aberto a
possibilidade de apuramento de um grau de superior de responsabilidade do agente…” (A
Responsabilidade Civil Extracontratual da Administração por Facto Ilícito, in Textos Dispersos
sobre Direito da Responsabilidade Civil Extracontratual das Entidades Públicas, AAFDL, Lisboa,
2010, p. 73).
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 93
31
Panorama Geral do Direito da Responsabilidade «Civil» da Administração Pública em
Portugal, in La Responsabilidad Patrimonial de los Poderes Públicos, III Colóquio Hispano-Luso de
Direito Administrativo, Valladolid, 1997, pág. 57.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 95
Cláudia Monge
Mestre em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Advogada
1. Enquadramento
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 96
1
Sobre a natureza da responsabilidade civil dos médicos no regime jurídico-privado, vide
Carlos Ferreira de Almeida, Os Contratos Civis de Prestação de Serviço Médico, in Direito da
Saúde e Bioética, Lisboa, 1996, pp. 75-120.
2
Cfr. Mário Júlio de Almeida Costa, Direito das Obrigações, 12.ª ed., Coimbra, 2011, p. 74,
quando descreve que: «numa compreensão globalizante da situação jurídica creditícia,
apontam-se, ao lado dos deveres de prestação – tanto deveres principais de prestação, como
deveres secundários –, os deveres laterais («Nebenpflichten»), além de direitos potestativos,
sujeições, ónus jurídicos, expectativas jurídicas (…)», sendo certo que «todos os referidos
elementos se coligam em atenção a uma identidade de fim e constituem o conteúdo de uma
relação de carácter unitário e funcional: a relação obrigacional complexa, ainda designada
relação obrigacional em sentido amplo ou, nos contratos, relação contratual». Sobre o
enquadramento e efeitos dos deveres de proteção, vide Manuel António de Castro Portugal
Carneiro da Frada, Contrato e deveres de protecção, 1994.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 97
3
Cfr. Klaus Ulsenheimer, Arztstrafrecht in der Praxis, 4. ed., Heidelberg, 2008, p. 101. Sustenta
Ulsenheimer que devem ser compreendidas, no esclarecimento médico, três espécies: a) o
esclarecimento terapêutico (“esclarecimento garantia”); b) o esclarecimento sobre o
diagnóstico; c) o esclarecimento sobre o risco (esclarecimento sobre a intervenção e o
percurso) (ibid.). O esclarecimento sobre o diagnóstico e esclarecimento sobre o risco são duas
formas de designado esclarecimento da autodeterminação, ao passo que o esclarecimento
terapêutico, ou “esclarecimento garantia” como explica o Autor, integra o próprio tratamento
médico, através da «comunicação de regras terapêuticas de comportamento» (ibid.). Assim, o
esclarecimento terapêutico realiza ou executa a prestação principal, de cuidados de saúde.
4
A propósito de relações jurídicas privadas e no sentido da afirmação da responsabilidade
civil por o ato ou omissão do médico como obrigacional em virtude da incidência de deveres
específicos, vide Pedro Romano Martinez, Responsabilidade Civil Por Acto ou Omissão do
Médico - Responsabilidade Civil Médica e Seguro de Responsabilidade Civil Profissional, in
Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Carlos Ferreira de Almeida, Vol. II, Coimbra, 2011,
p. 479.
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 98
5
A propósito da ponderação da natureza contratual ou extracontratual, vide os seguintes
acórdãos, a título meramente exemplificativo, com destaque para a jurisprudência do Supremo
Tribunal de Justiça:
acórdão de 22 de maio de 2003, Processo n.º 03P912, disponível em
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/7aa8c2208c52660080256d42003
7cef6?OpenDocument&Highlight=0,03P912,
acórdão de 11 de julho de 2006, Processo n.º 06A1503, disponível em
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/dbd3ebb5d9e32a82802571b200
4da5d5?OpenDocument,
acórdão de 18 de setembro de 2007, Processo n.º 07A2334, disponível em
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/2050c89d5f01d87e802573610033
8009?OpenDocument,
acórdão de 4 de março de 2008, Processo n.º 08A183, in
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/46ae68362fd8d614802574020042
4479?OpenDocument,
acórdão de 17 de dezembro de 2009, Processo n.º 544/09.9YFLSB, in
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/d206ad6794706b18802576a1003
8d4ec?OpenDocument,
acórdão de 1 de julho de 2010, Processo n.º 398/1999.E1.S1, disponível em
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/815d40917ade315080257753005
a9a93?OpenDocument,
acórdão de 15 de dezembro de 2011, Processo n.º 209/06.3TVPRT.P1.S1, disponível em
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/63396cb57f4db6948025797d0037
3f36?OpenDocument,
acórdão de 17 de dezembro de 2012, Processo n.º 02A4057, disponível em
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/ee9e0243560de02380256d33006
38b1d?OpenDocument.
6
Analisada a jurisprudência da jurisdição comum em matéria de responsabilidade médica,
cumpre notar que subsiste jurisprudência que, mesmo nas situações em que nos autos se conclui
pela inequívoca existência de um contrato de prestação de serviços médicos, parece
pretender aplicar o regime da responsabilidade civil extracontratual de modo a assim afastar o
regime da presunção da culpa (que é, na verdade, presunção da ilicitude e da culpa, como
bem explica o Professor António Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil Português, II, Direito
das Obrigações, Tomo III, Coimbra, 2010, pp. 378-379) do artigo 799.º do Código Civil.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 99
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 100
9
Veja-se Luís Manuel Teles de Menezes Leitão, Direito das Obrigações, Volume I, Introdução.
Da constituição das obrigações, 9.ª ed., Coimbra, 2010, p. 292, quando descreve que: «o nosso
Código tratou separadamente estas duas categorias de responsabilidade nos arts. 483.º e ss. e
798.º e ss., ainda que tenha sujeitado a obrigação de indemnização delas resultante a um
regime unitário (arts. 562.º e ss.)». Certo é que «há elementos de unidade entre uma e outra,
entre a responsabilidade contratual e a aquiliana: em ambas, o dano e a necessidade da sua
reparação constituem factores de unidade; em ambas, é sempre um dever que é inobservado,
seja um dever de prestar seja um dever geral de não interferir com o direito alheio; enfim, em
ambas, a censurabilidade da conduta lesiva justifica a obrigação de indemnizar», Cfr. E. Santos
Júnior, Da responsabilidade civil do terceiro por lesão do direito de crédito, Coimbra, 2003, p.
206.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 101
10
Vide Circular informativa n.º15/2010, de 12.10.2012, da Administração Central do
Sistema de Saúde, I.P. (ACSS), a propósito do novo relacionamento financeiro entre o Serviço
Nacional de Saúde e os subsistemas públicos, disponível em www.acss.min-saude.pt. Vide ainda
Circular Normativa n.º 1/2010, de 26.01.2010 e a Circular Normativa n.º 8/2010, de 28.07.2010,
também da ACSS e igualmente disponíveis no endereço assinalado.
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 102
11
Seguindo Pedro Romano Martinez, Responsabilidade Civil Por Acto ou Omissão do
Médico - Responsabilidade Civil Médica e Seguro de Responsabilidade Civil Profissional, cit. , p.
464, e Nuno Manuel Pinto Oliveira, Responsabilidade civil em instituições privadas de saúde:
problemas de ilicitude e de culpa, in Responsabilidade civil dos médicos, Centro de Direito
Biomédico, Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, n.º 11, Coimbra, 2005, p. 155, este
último em especial quando afirma que «o critério de distinção entre os dois “tipos” tradicionais
de responsabilidade civil deve enunciar-se nos seguintes termos: a responsabilidade contratual
provém da violação de um dever especial; a responsabilidade extra contratual provém da
violação de um dever geral».
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 103
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 104
13
Ibid. p. 49. Veja-se ainda João Álvaro Dias, Procriação assistida e responsabilidade
médica, cit. , pp. 240-241, quando afirma que: «a fim de enquadrar tal responsabilidade poderá
fazer-se apelo quer ao instituto dos contratos de adesão quer à figura das relações contratuais
de facto («faktische Schuldverhältnisse») e mais especificamente às “relações de massas”
(«Massenverkehr») resultantes de um comportamento social típico (Sozialtypisches Verhalten)»,
«sendo inegável um fenómeno de massificação no acesso aos serviços médicos das instituições
e serviços públicos de saúde, qualquer das soluções – contrato de adesão ou relação
contratual fáctica – tem potencialidades para retratar com fidelidade e rigor técnico a relação
que se estabelece entre o doente e a instituição ou serviço público de saúde» e prossegue para
afirmar que «estando em causa a tutela de direitos tão essenciais como o direito à saúde, à
integridade física e à vida, bem se compreende que, nos limites do juridicamente admissível, a
qualificação das relações contratuais poderá contribuir para a sua personalização e, porque
não dizê-lo, para um sentido de responsabilidade acrescida por parte dos médicos que aí
desempenham funções».
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 105
14
Cf. Moitinho de Almeida, A Responsabilidade civil do médico e o seu seguro, Scientia
Iuridica, Tomo XXI, 1972 (Maio/Agosto), Braga, p. 352.
15
Cf. Diogo Freitas do Amaral, Curso de Direito Administrativo, Volume I, (com a
colaboração de Luís Fábrica, Carla Amado Gomes e Jorge Pereira da Silva), 3.ª ed., Coimbra,
2007, p. 804.
16
Ibid.
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 106
17
A responsabilidade civil contratual é «marcada, entre outros aspectos, por uma
presunção de culpa (e de ilicitude, artigo 799.º/1) que faz dela, um instituto enérgico» (António
Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil Português, II, Direito das Obrigações, Tomo I, Coimbra,
2009, p.371).
18
Sobre o direito à saúde, vide Cláudia Monge, "Contributo para o estudo do Direito da
Saúde: a prestação de cuidados de saúde" (Tese de Mestrado em Ciências Jurídico-Políticas,
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa 2002).
19
Cfr. José Joaquim Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 7.ª
ed., Coimbra, 2003, p. 408.
20
Ibid., pp. 408-409.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 107
21
Vide Cláudia Monge, "Contributo para o estudo do Direito da Saúde: a prestação de
cuidados de saúde"., p. 106. Cf. Paulo Otero, Vinculação e Liberdade de Conformação Jurídica
do Sector Empresarial do Estado, Coimbra, 1998, pp 42-43.
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 108
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 109
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 110
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 111
27
Estamos em crer que, se reconhecido o dever de segurança como um dever específico
de boa-fé, por força do artigo 266.º da Constituição e do artigo 6.º-A do Código do
Procedimento Administrativo, teria sido outro, face ao caso sub judice, o sentido da decisão do
acórdão de 21.06.2012, no âmbito do processo n.º 08532/12, do Tribunal Central Administrativo
do Sul, (disponível em
http://www.dgsi.pt/jtca.nsf/170589492546a7fb802575c3004c6d7d/289b7d7b99f0bf6580257a2900
5194d3?OpenDocument), pois o reconhecimento de um dever específico, legal e contratual,
permitiria afirmar a inobservância do dever de segurança como um facto ilícito, isto sem prejuízo
dos elementos fáticos que, em concreto, seria necessário atender para aferir da procedência
da afirmação de ilicitude. Se o caso fosse julgado já à luz do regime aprovado pela Lei n.º
67/2007, de 31 de dezembro, o não sucedeu atento o regime aplicável em razão da data dos
factos, ter-se-ia, porventura, invocado a inobservância dos deveres de vigilância e encontrado
apoio no artigo 10.º, n.º 3, desta Lei, mas não parece que, pela circunstância de estarmos ainda
ao abrigo da aplicação do Decreto-Lei n.º 48051, de 21 de novembro de 1967, não se pudesse
afirmar (confirmando-se que os factos em concreto assim o permitiam) que o estabelecimento
hospitalar estava adstrito a um dever legal de segurança e de vigilância. O utente estava à
guarda do Hospital e, nos termos da Base V da Lei de Bases da Saúde, os estabelecimentos
hospitalares integrados no SNS devem funcionar de modo a salvaguardar os direitos dos utentes
– há aqui um dever de segurança que decorreria da boa-fé, nos termos do artigo 266.º da
Constituição e do artigo 6.º-A do Código do Procedimento Administrativo.
28
Cláudia Monge, "Contributo para o estudo do Direito da Saúde: a prestação de
cuidados de saúde"., p. 145.
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 112
29
Como refere José Manuel Sérvulo Correia, As relações jurídicas de prestação de
cuidados pelas unidades de saúde do Serviço Nacional de Saúde, in Direito da Saúde e
Bioética, Lisboa, 1996, p. 53, referindo-se à inviolabilidade moral e física das pessoas, nos termos
do artigo 25.º, n.º 1, da Constituição: «Este direito fundamental – que é simultaneamente um
direito de personalidade – desdobra-se em dois direitos reconhecidos aos utentes pela Lei de
Bases: os direitos de “decidir receber ou recusar a prestação de cuidados que lhes é proposta,
salvo disposição especial da lei” (princípio do consentimento necessário) (Base XIV, n.º 1, alínea
b)) e de “ser informados sobre a sua situação, as alternativas possíveis de tratamento e a
evolução provável do seu estado” (princípio do consentimento informado) (Base XIV, n.º 1,
alínea e)).
30
Como refere ANTUNES VARELA «o cumprimento defeituoso abrange, não só as
deficiências da prestação principal ou de qualquer dever secundário de prestação, como
também a violação deveres acessórios de conduta que, por força da lei (por via de regra,
através das normas dispositivas), se integram na relação creditícia, em geral, e na relação
contratual em especial» (vide, João de Matos Antunes Varela, Das Obrigações em Geral,
Volume II, 7.ª ed., Coimbra, 2001, p. 130).
31
A extensão da ilicitude, igualmente para abarcar deveres de cuidados, é feita também
no artigo 9.º da Lei n.º 67/2007, de 31 de dezembro.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 113
32
Cfr. Cláudia Monge, "Contributo para o estudo do Direito da Saúde: a prestação de
cuidados de saúde"., p. 159.
33
Vide Carlos Ferreira de Almeida, Os Contratos Civis de Prestação de Serviço Médico, in
Direito da Saúde e Bioética, cit. , pp. 89-94.
34
Cfr. Cláudia Monge, "Contributo para o estudo do Direito da Saúde: a prestação de
cuidados de saúde"., pp. 159-160.
35
Ibid., pp. 8-9.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 115
39
Vide Jorge Figueiredo Dias/Jorge Sinde Monteiro, Responsabilidade Médica em Portugal, cit.,
p. 49.
40
Ibid., p. 49.
41
Ibid. p. 49. Sobre esta matéria, vide ainda Nuno Manuel Pinto Oliveira, Responsabilidade civil
em instituições privadas de saúde: problemas de ilicitude e de culpa, cit. , p. 135.
42
Vide Cláudia Monge, "Contributo para o estudo do Direito da Saúde: a prestação de
cuidados de saúde". p. 137. Cfr. A este propósito, cfr., Jean-Michel de Forges, Le Droit de la
Santé, 7. eme ed., Paris, 2010, p. 13, e Jean Penneau, La responsabilité du médecin, 2e ed., Paris,
1996, p. 48.
43
Continua, porém, a reconhecer-se que «no regime jurídico-público, no entanto, o
enquadramento jurídico complexifica-se, dado que a par da possível existência de contornos
ou aspetos contratuais, existe uma regulamentação legal ou estatuária que impõe direitos e
deveres próprios para a parte, pelo que, ainda que se considere a presença de um contrato, ou
de um contrato dividido (em rigor dois contratos, um com o profissional de saúde e outro com o
estabelecimento de saúde público), sempre se verificará a prática de operações materiais e de
actos administrativos, como sejam o da emissão ou a transferência para outro estabelecimento
de acordo com as regras de organização administrativa a que se refere a alínea a) do n.º 1 da
Base V da Lei de Bases da Saúde, Lei n.º 48/90, de 24 de Agosto» (cfr. Cláudia Monge,
"Contributo para o estudo do Direito da Saúde: a prestação de cuidados de saúde". p. 139).
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 119
Ricardo Pedro
Mestre e doutorando em Direito Público
pela Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa
I. Quadro genérico da responsabilidade civil dos árbitros; II. Responsabilidade civil dos
árbitros por decisões danosas; II.a Limites Substantivos; II.b Limites Processuais
1
Sempre que não se faça referência expressa a um diploma deve entender-se feita para a ,
adiante designada de LAV. Cf., no que toca a arbitragem necessária, o disposto no art. 1527.º/2
do CPC.
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2
Cf. DENNIS NOLAN e ROGER ABRAMS, “Arbitral Immunity”, Industrial Relations Law Journal, Vol. 11, n.º
2 (1989), 228-266, p. 238-266; SUSAN D. FRANCK, “The Liability of International Arbitrators: A
Comparative Analysis and Proposal for Qualified Immunity”, New York Law School (2000), 1-59, p.
11; e JOSÉ FERNANDO MERINO MERCHÁN, Estatuto y responsabilidad del árbitro: Ley 60/2003, de
Arbitraje, Navarra, Aranzadi, 2004, pp. 151-152.
3
Cf. SUSAN D. FRANCK, “The Liability…”, p. 15.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 121
4
Cf. ADRIANO PAES DA SILVA VAZ SERRA, “Responsabilidade civil do Estado e dos seus órgãos ou
agentes”, Boletim do Ministério da Justiça, n.º 85 (1959), p. 494; HENRIQUE MESQUITA, “Arbitragem:
competência do tribunal arbitral e responsabilidade civil do árbitro”, in Ab Uno Ad Omnes - 75
anos da Coimbra Editora, 1381-1392, p. 1392; PEDRO ROMANO MARTINEZ, “Análise do Vínculo Jurídico
do Árbitro em Arbitragem Voluntária Ad Hoc”, in Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor
António Marques dos Santos, Vol. I, 827-841, 840; JOÃO AVEIRO PEREIRA, A responsabilidade civil por
actos jurisdicionais, Coimbra, Coimbra Editora, 2001, p. 170; e DÁRIO MOURA VICENTE, ARMINDO RIBEIRO
MENDES, PEDRO METELLO DE NÁPOLES, PEDRO SIZA VIEIRA, MIGUEL JÚDICE e JOSÉ ROBIN DE ANDRADE, Lei da
Arbitragem Voluntária - Anotada, Lisboa, Almedina, 2012, p. 26.
5
Cf. JOSÉ FERNANDO MERINO MERCHÁN, Estatuto…, p. 125 e ss.
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7
Sobre esta jurisprudência, cf., o nosso, Contributo para o estudo da responsabilidade civil
extracontratual do Estado por violação do direito a uma decisão em prazo razoável ou sem
dilações indevidas, Lisboa, AAFDL, 2011, pp. 105-112.
8
O que, desde logo, revela que os tipos legais identificados pelo legislador da LAV não devem
ser entendidos como taxativos. A mobilizar-se o critério da positivação dos comportamentos
socialmente típicos merecedores de enquadramento legal para efeitos indemnizatórios, não
será de desconsiderar que certos princípios, como seja a independência do tribunal arbitral,
devem estar assegurados. Emergindo este como um dos mais importantes princípios que deve
informar a arbitragem - como aliás, toda a administração da justiça. Para além da
descredibilização da arbitragem, a necessidade de reparação de danos poderá tornar-se
premente se a realidade confirmar o evidenciado por alguns estudos recentes, ao terem
concluído que uma das preocupações dos cidadãos no recurso à arbitragem é justamente a
falta de independência de alguns árbitros, cf. AAVV, Justiça Económica, Síntese e Propostas,
Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012, p. 33.
9
AAVV, Le nouveau droit français de l`arbitrage, Paris, Lextenso éditions, 2011, p. 100.
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 124
10
Cf., entre outros, MARIA JOSÉ RANGEL DE MESQUITA, “Âmbito e pressupostos da
responsabilidade civil do Estado pelo exercício da função jurisdicional”, Revista do CEJ (2009),
pp. 265-291, 275.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 125
4. Já lá atrás se referiu que, de acordo com a LAV (art. 9.º/4), os árbitros são
irresponsáveis por danos decorrentes das suas decisões, salvo nos casos em
que os magistrados o possam ser. A pergunta que emerge face àquele
enunciado é qual o sentido a dar ao previsto naquele inciso legal?
A resposta imediata é que se deve aplicar o regime previsto no artigo 14.º/1
do regime aprovado pela Lei 67/2007 12. Antes de mais, o disposto naquele
artigo parece dar guarida à interpretação que, como já se referiu, alguma
doutrina defende ao aceitar uma aplicação extensiva do regime de
responsabilidade civil dos juízes ao dos árbitros. As razões para aplicação
daquele regime previsto para os juízes aos árbitros, justifica-se pela
necessidade de preservação das garantias de independência e
imparcialidade do julgador; pelo fato do laudo arbitral apresentar os mesmos
efeitos da sentença jurisdicional; e pela idêntica dificuldade em identificar os
danos resultantes de erro de julgamento. Estas razões derivam, sobretudo, de
se estar perante o exercício da função jurisdicional (ainda que privada) e de o
erro ser inerente à atividade jurisdicional, independentemente da atividade
jurisdicional ser pública ou privada.
11
Cf., entre outros, HENRIQUE MESQUITA, “Arbitragem…”, p. 1392; e PEDRO ROMANO MARTINEZ,
“Análise…”, p. 841.
12
Este dispõe que: “Sem prejuízo da responsabilidade criminal em que possam incorrer, os
magistrados judiciais e do Ministério Público não podem ser directamente responsabilizados
pelos danos decorrentes dos actos que pratiquem no exercício das respectivas funções, mas,
quando tenham agido com dolo ou culpa grave, o Estado goza de direito de regresso contra
eles.” (sublinhado nosso).
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 126
6. Fica por perceber se, para além do requisito culpa, a exigência do nível
ilicitude deve ser análogo ao previsto para a responsabilidade civil do Estado.
Dito de outra forma, deve aplicar-se também o regime do erro judiciário
previsto no artigo 13.º/1 do regime aprovado pela Lei 67/2007 15, enquanto
elemento obrigatório para o apuramento da responsabilidade civil dos
árbitros?
Antes de se responder a esta questão deve esclarecer-se que o legislador
do regime aprovado pela Lei 67/2007 e a jurisprudência (unânime 16) exigem
um ilícito qualificado, ou seja, não é qualquer erro que pode gerar obrigação
de indemnizar, mas apenas o erro grosseiro, manifesto, palmar, etc. referindo-
13
Norma replicada nos estatutos dos magistrados judiciais e do Ministério Público.
14
Sobre este regime, por todos, CARLA AMADO GOMES, “ABC da (ir)responsabilidade dos
juízes no quadro da lei n.º 67/2007, de 31 de Dezembro”, Scientia Ivridica, n. 322 (2010), pp. 261-
277, 261 e ss.
15
Este artigo dispõe que: “Sem prejuízo do regime especial aplicável aos casos de sentença
penal condenatória injusta e de privação injustificada da liberdade, o Estado é civilmente
responsável pelos danos decorrentes de decisões jurisdicionais manifestamente inconstitucionais
ou ilegais ou injustificadas por erro grosseiro na apreciação dos respectivos pressupostos de
facto”.
16
Cf., por todos, o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 28-02-2012, proc.
825/06.3TVLSB.L1.S1, Nuno Cameira.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 127
17
Em sentido afirmativo, JUAN MONTERO AROCA, Responsabilidad civil del Juez y del Estado
por la actuación del Poder Judicial, Madrid, Tecnos, 1988, p. 112; e VICENTE C. GUZMÁN FLUJA, El
derecho de indemnización por el funcionamiento de la administración de justicia, Valencia,
Tirant lo Blanch, 1994, p. 152. Contra, ELIZABETH FERNANDEZ, “Responsabilidade do Estado por erro
judiciário: perplexidades e interrogações”, Cadernos de Justiça Administrativa, n.º 88 (2011), pp.
14-22, 19.
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas 128
civil do Estado. Para além disso, deve ter-se presente a não identificação de
ilegalidade com ilicitude e que o direito à reparação apenas tem lugar
mediante a verificação de ilicitude.
Sintetizando, por um lado, a responsabilidade civil dos árbitros apenas
poderá ocorrer nos casos de dolo ou culpa grave, aqui se distinguido da
responsabilidade civil do Estado, que também poderá ter lugar nos casos em
que não se identifique a culpa dos juízes. E, por outro, não se vê razão para
não aplicar extensivamente o requisito do erro judiciário aos árbitros, no
entanto, como a jurisprudência tem notado, a distinção destes dois elementos
(erro e culpa) será muito difícil de fazer na prática, havendo uma confusão
entre ilicitude e culpa, sendo apenas admitida a responsabilidade civil por erro
culposo, resultante, nomeadamente, de um desconhecimento do Direito 18 ou
de conduta manifestamente ilegal do juiz19.
7. Uma outra questão que deve ser respondida prende-se com a eventual
exigência da prévia revogação da decisão danosa, prevista no artigo 13.º/2
do regime aprovado pela Lei 67/2007 20, ou seja, deve procurar-se uma
resposta que clarifique se o referido regime deve ou não aplicar-se à
responsabilidade civil dos árbitros por decisões danosas. As razões para aquela
exigência são: a garantia da idoneidade do juízo arbitral; a salvaguarda da
intangibilidade do caso julgado e a independência do julgador. A sua função
desta exigência centra-se no aferir da ilegalidade, ainda que não se vise a sua
qualificação, de modo a determinar a ilicitude.
A exigência da prévia revogação da decisão danosa enfrenta graves
entraves jurídicos quando, por alguma razão, o ordenamento jurídico não
permite que a mesma tenha lugar seja por razões de sucumbência, seja em
18
Cf., por exemplo, acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 03-07-2003, proc.
0333155, Oliveira de Vasconcelos.
19
Cf. O acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 10-10-2009, proc. 173/2001.P1, José
Carvalho.
20
Este artigo impõe que: ”O pedido de indemnização deve ser fundado na prévia revogação
da decisão danosa pela jurisdição competente”. Considerando esta exigência um pressuposto
processual, cf. PAULA COSTA E SILVA, “A ideia de Estado de direito e a responsabilidade do Estado
por erro judiciário: The king can do [no] wrong”, O Direito, Ano 142, n. 1 (2010), pp. 39-80, 75, e
ELIZABETH FERNANDEZ, “Responsabilidade…”, p. 20. Em sentido contrário, considerando que se trata
de um facto constitutivo do direito à reparação, cf. CARLOS ALBERTO FERNANDES CADILHA, Regime da
responsabilidade civil extracontratual do Estado e demais entidades públicas: anotado, 2.ª
edição, Lisboa, Coimbra Editora, 2011, p. 276.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 129
razão do valor da causa, seja por outra razão qualquer. Destarte, não
podendo tal revogação ter lugar por alguma daquelas razões e aplicando
literalmente o disposto no artigo 13.º/2 a consequência óbvia será a exclusão
automática do dever de indemnizar.
Este tema tem sido objeto da atenção da doutrina nacional, a propósito da
responsabilidade civil do Estado, variando as posições entre: a) os que
defendem que se a decisão já não admite ser revogada não poderá ter lugar
ação de responsabilidade civil, precludindo-se deste modo o direito à
reparação21; b) outros que, tratando-se da aplicação de direito da UE,
defendem que aquela exigência deve ter-se por não escrita, pois tal
exigência não resulta da jurisprudência do TJ em matéria de responsabilidade
civil dos EM por violação do direito da UE 22; c) outra doutrina que defende que
se tal exigência não pode ter lugar por razões ligadas ao funcionamento de
recursos, privando, desse modo, o lesado de intentar a ação de
responsabilidade civil, o disposto no artigo 13.º/2 deve ter-se por
inconstitucional (não só por violar o direito à reparação dos danos sofridos,
mas também por violação do direito à tutela jurisdicional efetiva 23); d) e, por
fim, aqueles autores que, procurando salvaguardar a utilidade daquela
exigência, defendem uma interpretação generosa da admissão do recurso de
revisão previsto nas alíneas a) e b) do artigo 771.º do CPC 24, aí incluindo as
decisões intoleravelmente injustas.
21
Cf. JOSÉ MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, “Sobre o novo regime da responsabilidade do
Estado por actos da função judicial”, Revista de Legislação e Jurisprudência, Ano 138, n.º 3954
(2009), pp. 156-168, 165.
22
Cf., entre outros, CARLA AMADO GOMES, “O livro das ilusões: a responsabilidade do Estado
por violação do Direito Comunitário, apesar da Lei 67/2007, de 31 de Dezembro”, Revista do
CEJ, n.º 11 (2009), pp. 291-315; MARIA JOSÉ RANGEL DE MESQUITA, O regime de responsabilidade civil
extracontratual do Estado e demais entidades públicas e o Direito da União Europeia, Sl,
Almedina, 2009, p. 56; e NUNO PIÇARRA, “As incidências do direito da União Europeia sobre a
organização e o exercício da função jurisdicional nos Estados-Membros”, disponível na internet,
pesquisa confrontável a partir do título, consultado em 2.12.12.
23
Cf. ELIZABETH FERNANDEZ, “Responsabilidade…”, p. 22.
24
Cf. PAULA COSTA E SILVA, “A ideia de Estado…”, p. 72 e 74.
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25
Sobre a compreensão deste fundamento de anulação, recentemente, ANTÓNIO PEDRO
PINTO MONTEIRO, “Da ordem pública no processo arbitral”, disponível na internet, pesquisa
confortável a partir do título, consultado em 2.12.12.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 131
26
Cf. AAVV, Commentario breve al diritto dell’arbitrato nazionale ed internazionale,
Padova, CEDAM, 2010, p. 142.
27
Cf. MANUEL PEREIRA BARROCAS, Manual de arbitragem, Lisboa, Almedina, 2010, p. 373.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 133
32
No sentido de o caso julgado “(…) não poder prevalecer sobre outros valores tutelados
pelo ordenamento jurídico”, cf. PAULA COSTA E SILVA, “A ideia de Estado…”, p. 74. E esclarecendo
que “pode dar-se o caso de os inconvenientes e as perturbações resultantes da quebra do
caso julgado serem muito inferiores aos que derivariam da intangibilidade da sentença”, veja-se
JOSÉ ALBERTO DOS REIS, Código de Processo Civil anotado, Vol. VI, 3.ª edição, Reimpressão, Sl,
Coimbra Editora, 2012, p. 336 e ss.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 137
5
Carla AMADO GOMES, Risco e modificação do acto autorizativo concretizador de deveres de
protecção do ambiente, Coimbra, 2007, pp. 234-236 (e doutrina aí citada).
6
Sobre a decisão Kalkar, Carla AMADO GOMES, Risco e modificação…, cit., pp. 395-399.
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7
Cfr. Carla AMADO GOMES, Risco e modificação…, cit., pp. 434-435.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 139
8
Cfr. a definição de «produto seguro» constante do artigo 3º/b) do DL 69/2005, de 17 de
Março (sobre segurança geral dos produtos): “qualquer bem que, em condições de utilização
normais ou razoavelmente previsíveis, incluindo a duração, se aplicável, a instalação ou
entrada em serviço e a necessidade de conservação, não apresente quaisquer riscos ou
apresente apenas riscos reduzidos compatíveis com a sua utilização e considerados
conciliáveis com um elevado nível de protecção da saúde e segurança dos consumidores,
tendo em conta, nomeadamente:
i) As características do produto, designadamente a sua composição;
ii) A apresentação, a embalagem, a rotulagem e as instruções de montagem, de
utilização, de conservação e de eliminação, bem como eventuais advertências ou outra
indicação de informação relativa ao produto;
iii) Os efeitos sobre outros produtos quando seja previsível a sua utilização conjunta;
iv) As categorias de consumidores que se encontrarem em condições de maior risco ao
utilizar o produto, especialmente crianças e os idosos”.
9
Caso C-300/95, de 29 de Maio de 1997, considerando 29.
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“3. O operador não está ainda obrigado ao pagamento dos custos das
medidas de prevenção ou de reparação adoptadas nos termos do presente
decreto-lei se demonstrar, cumulativamente, que:
a) Não houve dolo ou negligência da sua parte;
b) O dano ambiental foi causado por: (…) ii) Uma emissão, actividade ou
qualquer forma de utilização de um produto no decurso de uma actividade que
não sejam consideradas susceptíveis de causar danos ambientais de acordo
com o estado do conhecimento científico e técnico no momento em que se
produziu a emissão ou se realizou a actividade”.
Imputar danos neste cenário não é, pois, admissível. Como explica Aude
ROUYÈRE, a imputação seria, neste caso, retroactiva e extravasaria mesmo os
parâmetros lassos e pouco definidos da precaução, que admite a tomada de
medidas em cenários de incerteza: “Já não se trata apenas de raciocinar com
base numa hipótese de risco cuja probabilidade de pertinência é indefinida
mas antes de uma ausência de incerteza devido ao facto de o risco não ser
sequer imaginável”11 (itálico nosso). Insiste-se em que configurar a hipótese da
10
Carla AMADO GOMES, Risco e modificação…, cit., pp. 414-421.
11
Aude ROUYÈRE, Responsabilité et principe de précaution, in Actes du colloque: vers de
nouvelles normes en droit de la responsabilité publique, Palais du Luxembourg, 11/12 mai 2001, II.
B) ― disponível em
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http://www.senat.fr/colloques/colloque_responsabilite_publique/colloque_responsabilite_publiq
ue13.html
12
É a posição sustentada por Lidia GARRIDO CORDOBERA, El «riesgo de desarrollo» - un
punto de tensión en la aplicación de los princípios del Derecho de daños, in Revista General de
legislación y Jurisprudencia, 2009/2, pp. 299 segs, max. 306. No mesmo sentido, mas com outros
argumentos, José ESTEVE PARDO, La adaptación de las licencias a la mejor tecnologia
disponible, in Revista de Administración Pública, nº 149, 1999, pp. 37 segs ― Autor que considera
que exonerar os operadores de responder pelos riscos de desenvolvimento viola o princípio da
precaução e demite-os de prosseguirem o objectivo continuado de incremento do nível de
segurança dos produtos.
13
Sobre este ponto, Vera Lúcia RAPOSO, A responsabilidade do produtor por danos
causados por dispositivos médicos, in Revista do IDB, 2013/5, pp. 4275 segs, 4322-4323.
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14
Cfr. Aude ROUYÈRE, Responsabilité…, cit., II. A).
15
Recorde-se a “crise das vacas loucas”, que eclodiu no Reino Unido em meados da
década de 1980 e se prolongou pelo início do século XXI, que começou por provocar a morte a
milhares de vacas, tendo ficado paulatinamente provado ser causa de morte de pessoas, em
virtude de a ingestão de carne bovina gerar uma variante da doença de Creutzfeldt-Jakob nos
seres humanos.
16
Veja-se, por exemplo, o acórdão do TJUE (Caso 221/10, de 19 de Abril de 2012), sobre a
decisão de proibição de um tratamento de obesidade à base de uma substância
(afepramona), cujos efeitos se revelaram pouco eficazes e mesmo nocivos ao final de alguns
anos de aplicação. O TJUE considerou a decisão de revogação da autorização válida,
argumentando assim:
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mortes28. Certo, não estamos aqui perante um risco tecnológico, mas natural ―
porém, a questão da adequação da informação, em função da ponderação
dos bens a salvaguardar e da intensidade do risco a considerar, é também
convocada e pode envolver responsabilidade (civil e criminal) para os
poderes públicos e para quem os representa.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 149
"87. The Court therefore arrives at the conclusion that in the present case the
administrative authorities knew or ought to have known that the inhabitants of
certain slum areas of Ümraniye were faced with a real and immediate risk both to
their physical integrity and their lives on account of the deficiencies of the
municipal rubbish tip. The authorities failed to remedy those deficiencies and
cannot, moreover, be deemed to have done everything that could reasonably
be expected of them within the scope of their powers under the regulations in
force to prevent those risks materialising.
Furthermore, they failed to comply with their duty to inform the inhabitants of
the Kazım Karabekir area of those risks, which might have enabled the applicant
– without diverting State resources to an unrealistic degree – to assess the serious
dangers for himself and his family in continuing to live in the vicinity of the
Hekimbaşı rubbish tip".
30
César CIERCO SEIRA, Las medidas preventivas de choque adoptadas por la
Administración frente a los productos insalubres, in Revista de Administración Pública, nº 175,
2008, pp. 55 segs, 101-104.
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31
É, de resto, o que dispõe a legislação portuguesa, na sequência do quadro legal
europeu sobre segurança geral dos produtos. Vejam-se os artigos 5º, 6º e 8º do DL 69/2005, de 17
de Março, que estabelece as obrigações, gerais e especiais, do produtor (para o distribuidor,
veja-se o artigo 7º), entre as quais as de comunicação do risco, aos consumidores e à
Administração, bem como de suspensão de comercialização e retirada do mercado em
situações de risco iminente e grave para a saúde pública.
Sobre os limites do dever de informação do vendedor, cfr. o recente Acórdão do STJ, de
20 de Janeiro de 2013 (proc. 3097/06.6TBVCT.G1.S1).
32
Especificamente sobre a questão da responsabilidade por introdução no mercado de
implantes mamários fabricados com substâncias ilícitas (aqui, um problema de produto
defeituoso, diverso do que levantamos no texto), Vera Lúcia RAPOSO, A responsabilidade…, cit.,
pp. 4336-4338.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 151
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34
Cfr. supra, nota 1 (2ª parte).
35
Sobre este particular problema incidiu a intervenção de Miguel ASSIS RAIMUNDO no
colóquio no qual autora proferiu esta alocução ― Cumulação de responsabilidades de várias
funções do Estado.Sobre este particular problema incidiu a intervenção de Miguel ASSIS
RAIMUNDO neste colóquio ― Cumulação de responsabilidades de várias funções do Estado.
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acaba por ir ao encontro da lógica que preside ao artigo 15º/6 do RRCEE (aí
em sede de função legislativa) e corresponde a um intuito de repartição de
um risco inevitável ― do funcionamento massificado da máquina
administrativa por todos os usuários ―, só devendo gerar imputação quando
houver oneração anormal;
digital, ponto 2.
37
Exclusão que não impede a interpretação do DL 147/2008, de 29 de Julho,
conformemente à LBA, que é a sua matriz, abrangendo assim também o ar, o solo e o subsolo.
Sobre este ponto ver Carla AMADO GOMES, Introdução ao Direito do Ambiente, Lisboa, 2012,
pp. 192-193.
38
Decisão similar, em sede de zoneamento de instalações industriais perigosas [no âmbito
da directiva Seveso II, que será plenamente revogada pela nova directiva (Seveso III)
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39
Sobre a compensação por factos lícitos, que este dispositivo sedia, vejam-se Carla
AMADO GOMES, A compensação administrativa pelo sacrifício: reflexões breves e notas de
jurisprudência, in Estudos em homenagem ao Prof. Doutor Jorge Miranda, IV, Lisboa, 2012, pp.
151 segs (também publicado na RMP, nº 129, 2012, pp. 9 segs), e José Carlos VIEIRA DE
ANDRADE, A responsabilidade indemnizatória dos poderes públicos em 3d:…, cit., max. 67 segs.
40
Mas já há exemplos: se os poderes públicos decidem encerrar um parque de
campismo numa zona em risco de inundação, cuja instalação haviam anteriormente viabilizado
na sequência de obras de contenção custeadas pelo proprietário, por recearem a eclosão de
enxurradas mas sem que o risco esteja claramente estabelecido, é devida compensação por
facto lícito, segundo o Conseil d'État francês, na sua decisão SCI Moulin du roc (2008). Isto
porque o risco de encerramento, tendo em conta o contexto de intensa incerteza, extravasa a
álea normal do negócio, devendo repercutir-se no erário público ─ cfr. Loïc VATNA, La
responsabilité des communes du fait des mesures de police visant la prévention des
catastrophes naturelles, in AJDA, 2009/12, pp. 628 segs.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 157
41
Um caso muito semelhante ― desta feita envolvendo frangos alegadamente
contaminados com nitrofuranos ― foi apreciado pelo TCA-Sul, confirmando-se a condenação
do Estado por facto lícito prolatada na primeira instância, na medida em que se provou que o
operador sofrera um prejuízo de cerca de 25.000,00 em virtude da proibição de
comercialização e consequente destruição de várias toneladas de frangos importados da
Bélgica, ainda que a prova da contaminação não tenha sido produzida pelas autoridades de
saúde.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 159
1
O título «oficial» desta comunicação era «A Lei 67/2007 e os seguros de responsabilidade
civil». A versão atualmente vigente da LRE resulta das alterações operadas pela Lei n.º 31/2008,
de 31 de julho.
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2
Cfr. os arts. 203.º e 216.º/2, bem como, mais genericamente, também o art. 20.º/4, todos da
CRP.
3
Cfr. o artigo 217.º/1 CRP.
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4
Art. 137.º LCS.
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Segunda questão: será este um seguro válido, i.e., o risco em causa reunirá
condições de segurabilidade jurídica?
5
Cfr. o art. 64.º/1/a) do DL n.º 291/2007, de 21 de agosto. O diploma foi já alterado, embora
sem impacto no preceito em causa, pelo DL n.º 153/2008, de 6 de agosto.
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6
Art. 280.º/2 CC.
7
Cfr. o art. 46.º e a primeira parte do art. 141.º, ambos da LCS.
8
Art. 148.º/2 LCS.
9
Art. 144.º LCS.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 165
12
Art. 18.º/1/c) e d) da Lei das Cláusulas Contratuais Gerais (DL n.º 446/85, de 25 de
outubro, republicado pelo DL n.º 220/95, de 31 de agosto, e alterado pelo DL n.º 249/99, de 7 de
julho, e pelo DL n.º 323/2001, de 17 de dezembro).
13
A questão já foi aqui tratada pela Dr.ª Diana Ettner (para cujo texto, publicado neste
livro digital, remeto).
14
Art. 14.º/1/a) e 2 LCS.
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Se, ao invés, se entender que além da função reparadora, que não é posta
em causa, o instituto desempenha ainda uma função preventiva, ou punitivo-
preventiva, a transferência deste risco resultaria na frustração desta função,
que, parece, seria contrária à ordem pública.
Há uma tendência crescente, mesmo em direito privado, para a defesa da
tese de que além da função reparadora a responsabilidade civil também
desempenharia uma função preventiva, ou punitivo-preventiva. Não adiro, de
todo, a essa tendência. No entanto, quando se fala na responsabilidade civil
dos magistrados, está-se já a entrar num tema de direito público e eu não faço
tenções de meter a minha foice em seara alheia, por assim dizer. Nessa
medida, sem concluir pela natureza x ou y desta modalidade de
responsabilidade civil, que já vimos corresponder a uma modalidade sui
generis, limito-me a observar que a questão apresenta, neste contexto,
contornos muito particulares, atendendo à consagração legal da
obrigatoriedade de exercício do direito de regresso do Estado.
Se a obrigatoriedade de exercício do direito de regresso fosse um exclusivo
da responsabilidade civil decorrente do exercício da função jurisdicional,
poder-se-ia pensar que, ainda numa lógica estritamente reparadora, o
mecanismo apenas visaria permitir a responsabilização dos magistrados sem
no entanto dar lugar a uma relação direta entre eles e os lesados, o que
estaria vedado pela sua prerrogativa de irresponsabilidade. No entanto, a
obrigatoriedade de exercício do direito de regresso é comum a todas as
modalidades de responsabilidade civil consagradas na LRE15.
Este é um indício forte de que o que está aqui em causa é, na verdade, a
criação de um incentivo jurídico que assegure um mínimo de esforço e de
diligência no cumprimento de deveres, entre os quais os deveres acessórios
decorrentes do principio da boa fé, no desempenho, quer da função
administrativa, quer da função jurisdicional.
Caso se entenda que a responsabilização civil dos magistrados pelas
consequências dos atos ou omissões que pratiquem com dolo ou culpa grave
constituiria um incentivo jurídico tendente a assegurar um mínimo de esforço e
de diligência na atuação dos magistrados judiciais, necessário seria concluir,
parece, que a contratação de um seguro que transferisse esse peso para a
15
Cfr. o n.º 1 do art. 6.º LRE.
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Novos temas da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas 167
Muito obrigada.
16
Por aplicação do disposto no art. 280.º/2 CC.
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Organização de Carla Amado Gomes e Tiago Antunes
Com o patrocínio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento
Organização de Carla Amado Gomes e Tiago Antunes
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A Lei 67/2007, de 31 de Dezembro, em vigor desde 30 de
Janeiro de 2008, e cedo cirurgicamente alterada pela Lei
31/2008, de 17 de Julho, aprovou o novo regime da
responsabilidade civil extracontratual do Estado e demais
entidades públicas (e equiparadas). Em cinco anos de vigência,
muitas têm sido as dúvidas levantadas a propósito das três (ou
quatro?) vertentes responsabilizantes que cobre:
administrativa, judicial, legislativa (e política?). A
jurisprudência não é, por ora, significativa, em virtude de os
novos casos ainda não terem passado da primeira instância,
cabendo portanto, aos especialistas, académicos e práticos,
sugerir e ensaiar soluções.