Terapia Genética Osteoporose

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Artigo de Revisão

Terapia Gênica para Osteoporose


Gene Therapy for Osteoporosis

Rafael Pacheco da Costa, Sang Won Han, Alberto de Castro Pochini, Rejane Daniele Reginato

RESUMO ABSTRACT
A osteoporose é considerada um dos problemas de saúde Osteoporosis is considered one of the most common and
mais comuns e sérios da população idosa mundial. É uma serious problems affecting the elderly population worldwide. It is
doença crônica e progressiva, caracterizada pela diminuição a chronic and progressive disease, characterized by decreased
da massa óssea e deterioração da microarquitetura do tecido bone mass and degeneration of the microarchitecture of the
ósseo. A terapia gênica representa uma nova abordagem para bone tissue. Gene therapy represents a new approach in
o tratamento da osteoporose e tem como princípio devolver osteoporosis treatment, and its main function is to restore the
a função comprometida pelo metabolismo. Esta revisão visa compromised function in the metabolism. This review aims to
focar os trabalhos relevantes desenvolvidos nos últimos anos, elucidate the main studies on gene therapy in recent years, in
disponibilizados nas bases de dados médicas, e que utilizaram the medical databases, that use gene therapy for the treatment
a terapia gênica para o tratamento da osteoporose em modelos of osteoporosis in animal models, as well as the future prospects
animais, bem como, as perspectivas futuras desta terapia. of this therapy. The majority of the studies use the BMP, PTH and
A maioria dos estudos utiliza os genes BMPs, PTH e OPG na OPG genes, in an attempt to reestablish bone mass. Despite
tentativa de restabelecer a massa óssea. Apesar da carência de the lack of new molecules, all genes employed in these studies
novas moléculas, todos os genes empregados nos estudos se have proven to be efficient in the treatment of the disease. The
mostraram eficientes no tratamento da doença. Os benefícios que benefits that gene therapy will provide for patients in the future
a terapia gênica proporcionará aos pacientes no futuro devem should contribute substantially to increasing the quality of life
contribuir substancialmente para o aumento na qualidade de vida for the elderly. Soon, clinical trials involving humans will benefit
dos idosos. Em breve, protocolos clínicos envolvendo humanos individuals with osteoporosis.
irão beneficiar os indivíduos com osteoporose.

Descritores: Osteoporose. Terapia de genes. Ortopedia. Vetores Keywords: Osteoporosis. Gene therapy. Orthopaedics. Genetic
genéticos. vectors.

Citação: Pacheco-Costa R, Han SW, Pochini AC, Reginato RD. Terapia gênica Citation: Pacheco-Costa R, Han SW, Pochini AC, Reginato RD. Gene therapy
para osteoporose. Acta Ortop Bras. [online]. 2011;19(1):51-7. Disponível em URL: for osteoporosis. Acta Ortop Bras. [online]. 2011;19(1):52-7. Available from URL:
http://www.scielo.br/aob. http://www.scielo.br/aob.

alcançou 6,3% no primeiro ano e 30,8% no segundo ano após a


INTRODUÇÃO
fratura. Esta taxa de mortalidade está de acordo com o resto do
A osteoporose é considerada uma doença crônica e progressiva, mundo, que varia de 1,02 a 10% durante a estadia no hospital e
caracterizada pela diminuição da massa óssea e deterioração 23 a 30% durante o primeiro ano após a fratura.4
da microarquitetura do tecido ósseo. Essas alterações levam ao No Brasil, os números do censo alertam para o grande número de
aumento da fragilidade óssea e consequentemente, a um maior idosos (14 milhões), população de maior risco para desenvolver
risco para fraturas.1 a osteoporose. Durante o período de um ano foram diagnostica-
Fraturas osteoporóticas são causas significativas de perda fun- dos 129.611 casos de osteoporose no sistema privado de saúde,
cional e diminuição na qualidade de vida do indivíduo afetado. sendo a incidência de 4,99% em fraturas de fêmur na população
A perda mais acentuada de massa óssea ocorre nas mulheres a feminina. O tempo médio de permanência hospitalar foi superior
partir da menopausa, e está associada à insuficiência de estro- a nove dias e o custo direto por paciente após a hospitalização
gênio.2 Dentre as fraturas decorrentes da osteoporose na pós- foi calculado em R$ 24.000,00.5
menopausa, a mais grave é a fratura de fêmur. Em um estudo Na cidade de São Paulo, um estudo com indivíduos acima de 65
desenvolvido por Jiang et al.3 no Canadá, o índice de mortalidade anos, demonstrou que 92,8% das mulheres apresentavam oste-

Todos os autores declaram não haver nenhum potencial conflito de interesses referente a este artigo.

Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP

Trabalho realizado no Centro Interdisciplinar de Terapia Gênica da UNIFESP/CINTERGEN


Endereço para correspondência: Departamento de Morfologia e Genética, Disciplina de Histologia e Biologia Estrutural, UNIFESP, Rua Botucatu, 740, 2º andar, Edifício Lemos Torres,
Vila Clementino, São Paulo, SP, Brasil, CEP: 04023-900. E-mail: [email protected]

Trabalho recebido em 08/10/2008, aprovado em 26/04/2009

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openia e ou osteoporose em pelo menos um local do sistema Tabela 1. Principais tipos de vetores usados na terapia gênica para po-
esquelético analisado.6 tencializar a entrada do DNA dentro do núcleo da célula-alvo.
Calcula-se que em 2050 haverá aproximadamente 6,3 milhões
Tipos de vetores
de fraturas por ano, a maioria ocorrendo na Ásia e na América
Virais Não-virais
Latina.7
A maioria das drogas atualmente utilizadas para o tratamento da Retrovírus DNA nu
osteoporose tem ação anti-reabsortiva (estrógenos, raloxifeno, cál- Adenovírus Físicos:
cio e vitamina D, alendronato, etidronato, residronato e calcitonina) Adeno-associados Eletroporação
e / ou anabólica (PTH 1-34 e ranelato de estrôncio).8 Herpes-vírus simples Biobalística
A terapia gênica vem sendo apontada como um método promissor Sonoporação
para o tratamento de doenças osteometabólicas e representa uma Hidrodinâmica
nova abordagem no tratamento da osteoporose. A terapia gênica Magnetofecção
insere o gene que codifica uma proteína que, caso fosse injetada
Químicos:
de forma isolada, seria rapidamente degradada.9,10
Lipoplexo
O princípio básico desta terapia é introduzir um material genético
exógeno para corrigir ou modificar a função celular. O material Poliplexo
genético, denominado de gene terapêutico, pode ser introduzido Biológicos:
na célula-alvo por técnicas de engenharia genética.9,11 Bactéria
A terapia tem início com a modificação de uma estrutura bási- Virossomo
ca, denominada de plasmídeo. O plasmídeo é um pequeno DNA Ad-lipo
circular encontrado em bactérias. A modificação do plasmídeo
consiste basicamente na alteração do cassete de expressão
(promotor, DNA complementar do gene terapêutico e um sinal
de poliadenilação), que possui os sinais regulatórios necessários
para a expressão do gene de interesse. A escolha equivocada de
qualquer elemento pode resultar no insucesso da terapia ou até
mesmo ser prejudicial à célula-alvo.11
Após a construção do plasmídeo com as sequências específicas
e necessárias para a sua manutenção e expressão, este pode ser
transferido para a célula-alvo com auxílio de vetores virais (transdu-
ção) e não-virais (transfecção).11,12 Sabe-se que para a transdução de
células hospedeiras os vírus são efetivos em transmitir seu material
genético, por isso dentre os vetores virais alguns grupos se destacam
como os retrovírus, adenovírus, adeno-associados e o herpes-vírus
simples. Na transfecção, o plasmídeo com o gene terapêutico pode
ser incorporado à célula-alvo por métodos físicos (eletroporação, bio- Adaptado de Fischer et al.9
balística, sonoporação, hidrodinâmica e magnetofecção), químicos
Figura 1. Esquema das estratégias de entrega do gene terapêutico ao
(lipoplexo, poliplexo), ou biológicos (infecção via bactéria, virossomo, local de interesse. Transdução in vivo envolve a transferência direta do
Ad-lipo). (Tabela 1) A escolha do vetor atual baseia-se no tipo doença, gene e a ex vivo envolve a coleta da célula-alvo, expansão em cultura
no tamanho do gene terapêutico, na via da terapia e na duração da celular, transdução do vetor e (re)implantação no local de interesse.
expressão gênica; estas características são importantes para que a
transferência gênica ocorra com sucesso.9,11,12 originais envolvendo as palavras-chave osteoporosis, gene therapy,
Além disso, o gene terapêutico pode ser entregue ao local de viral vector, non-viral vector, adenovirus, retrovirus, adeno-associa-
interesse pela estratégia in vivo, da qual o gene é transferido dire- ted virus, lentivirus, bone morphogenetic protein e osteoprotegerin,
tamente ao local. Este tipo de estratégia se mostrou ser simples, usando como referência o MeSH (Medical Subject Headings) ou
de baixo custo e minimamente invasiva. Em contrapartida, na DeCS (Descritores em Ciências da Saúde). O critério de inclusão
estratégia ex vivo a transferência do gene de interesse é reali- foram os estudos publicados nos idiomas inglês, português e
zada nas células que foram coletadas do paciente, seguido da espanhol realizados nos últimos anos. Os principais artigos ex-
re(implantação) no tecido-alvo. (Figura 1) Por essa razão, esse perimentais estão expressos na Tabela 2 e alguns destes foram
tipo de abordagem é mais minuciosa e cara.9 citados no texto.
Cada estratégia apresenta vantagens e desvantagens, enquanto
que na in vivo o material parece ficar restrito ao local injetado e Fisiopatologia da osteoporose
apresentar uma baixa eficiência na transdução, já na ex vivo essa O esqueleto humano é constantemente renovado pela ação con-
eficiência é maior, com a possibilidade de controlar as partículas junta e coordenada dos osteoblastos e osteoclastos, tipos celu-
virais e os plasmídeos, no entanto, o tempo deste processo é lares especializados, responsáveis pela remodelação óssea. O
mais longo.9,11,12 desequilíbrio entre a atividade formadora dos osteoblastos e ati-
Esta revisão visa focar os trabalhos mais relevantes de terapia gênica vidade reabsortiva dos osteoclastos resultam em perda de massa
para o tratamento da osteoporose desenvolvidos nos últimos anos em óssea e fragilidade esquelética, contribuindo para a fisiopatologia
modelos animais, bem como as perspectivas futuras desta terapia. da osteoporose.2 O paratormônio (PTH) e a calcitonina são os
A metodologia utilizada foi a revisão da literatura realizada por principais reguladores da homeostase do cálcio e respondem às
busca eletrônica nas bases de dados MEDLINE/PubMed, LILACS, alterações da calcemia. A baixa da calcemia induz ao aumento
ISI -Web of Science e SciELO com especial referência aos artigos na produção do PTH, enquanto que, elevações diminuem sua
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Tabela 2. Principais estudos de terapia gênica conduzidos para o tratamento da osteoporose em modelos animais não-humano nos últimos anos.
Estudos experimentais de terapia gênica para osteoporose
Gene Terapêutico Vetor Quantidade Modelo Investigador Ano

CXCR4 e Cbfa-1 Adenovírus – mediado por CTM 1x10 6 células Camundongos♀ Lien et al.20 2009

Adenovírus (Ad5F35) –
BMP-2 2500 partículas virais Camundongos♂ Gugala et al.24 2007
mediado por CTM

1x107 células por mL


RANK-Fc Retrovírus – mediado por CTM Camundongos♀ Kim et al.18 2006
(volume total de 0,2mL/animal)

BMP-2 Plasmídeo nu 25 μg Ratos♂ Kawai et al.23 2005

Retrovírus (Lentivírus) – mediado por


Integrina β3 humana 2x10 6 células mononucleares Camundongos♀ Zhao et al.31 2005
células mononucleares

BMP-2 Adenovírus (Ad5) – mediado por CTM 1x107 e 2 x107 células por bloco Ratos♂ Yue et al.22 2005
9 26
hOPG Vírus adeno-associado (AAV-2) 5x10 partículas virais Ratas♀ Ulrich-Vinther et al. 2005

300 μg de RGD e
hPTH e RGD Plasmídeo nu Ratas♀ Chen et al.16 2005
100 μg de hPTH

hOPG Vírus adeno-associado (AAV-2) 6x1011 partículas virais Camundongos♀ Kostenuik et al.27 2004

Pré e prepro-sequência
Plasmídeo nu 50 μg Camundongos♀ Liu et al.33 2004
do hPTH

hPTH Plasmídeo nu 50 μg Camundongos♀ Liu et al.17 2003


12 21
BMP-4 Vírus adeno-associado (AAV-2) 2x10 partículas virais Ratos♂ Luk et al. 2003
10 14
IL-1Ra Adenovírus (Ad5) 1x10 partículas virais Camundongos♀ Baltzer et al. 2001
6 25
BMP-2 Retrovírus – mediado por células 5x10 células Camundongos♂ Engstrand et al. 2000

produção. A presença do receptor de PTH do tipo 1 (PTHR1)


acoplado a proteína G no osteoblasto possibilita o reconhecimento
da porção amino-terminal do PTH, que resulta na ativação das
vias da proteína-quinase C (PKC) e a via da proteína-quinase A
(PKA). Apesar das duas vias serem ativadas pelo PTH, a PKA é
a principal via de ativação,8 conduzindo ao aumento no número
de osteoclastos. O mecanismo simplificado está demonstrado
na Figura 2.
Ao contrário do PTH, a calcitonina age diminuindo o nível do cálcio
sério por estimular a atividade osteoblástica.2
Causas multifatoriais podem ser atribuídas para o desencade-
amento da osteoporose como a diminuição na ingestão ou da
absorção intestinal do cálcio e da vitamina D, duração do ciclo
reprodutivo, fatores genéticos, hábitos como o álcool e fumo, exer-
cícios entre outros.13
Apesar dos esforços, os mecanismos fisiopatológicos envolvidos
no processo da osteoporose permanecem incompletos.
Terapia gênica: estudos pré-clínicos
Um dos primeiros trabalhos a avaliar a possibilidade de utilizar
um modelo murino para terapia gênica para o tratamento da
osteoporose foi desenvolvido por Baltzer et al.14 Neste estu-
do os autores utilizaram um modelo de camundongos fêmeas
ooforectomizados e o vetor adenoviral do sorotipo cinco para
efetuar a entrega do gene IL-1Ra humano na cavidade medu-
lar do osso fêmur. O gene IL-1Ra é responsável por codificar
a proteína “receptor antagonista da interleucina do tipo 1”. A
função biológica desta proteína é inversa a uma das ativida-
des da citocina inflamatória IL-1 (Interleucina-1), que é indutora
da reabsorção óssea e está aumentada em mulheres na pós-
Figura 2. Esquema da interação entre o PTH com o receptor PTHR1
menopausa. Desta maneira, uma proteína que inibe a atividade
presente nos osteoblastos.
da IL-1, parece ser uma importante ferramenta na tentativa de
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diminuir a perda óssea. Os resultados mostraram que todos os A maior parte dos estudos em terapia gênica para osteoporose
ossos foram protegidos contra a perda da massa óssea, e não emprega os fatores de crescimento conhecidos como BMPs
apenas o fêmur que recebeu a injeção com o vetor. Os autores (Proteínas morfogenéticas ósseas). Estas proteínas fazem parte
reforçam a ideia proposta por Oyama et al.15 de que as células da superfamília do TNF-ß (Fator de necrose tumoral ß) e agem
transduzidas tem a capacidade de trafegar através da medula atuando na diferenciação, proliferação e quimiotaxia, estimu-
óssea de diferentes ossos. lando a osteogênese em animais e humanos. As BMPs mais
Chen et al.16 também utilizaram o modelo de animal ooforecto- estudadas e empregadas na terapia gênica incluem a BMP-2
mizado para induzir a perda óssea, no entanto, usaram ratas e a BMP-4.21-24
com 56 semanas de idade. Após o procedimento cirúrgico o Yue et al.22 mostraram que a quantidade de CTM diminui com
músculo quadríceps de ambas as patas foi transfectado com o o envelhecimento, no entanto, a expressão do gene BMP-2 pela
plasmídeo nu contendo o gene do PTH ou o gene codificador do CTM não se altera quando injetado em animais de diferentes
peptídeo RGD. Após três meses os animais foram sacrificados idades, estimulando inclusive a formação óssea em animais
e os resultados mostraram que houve o aumento na densida- idosos. Para estudar reparo de fraturas, os mesmos autores
de mineral óssea em 10,1% no grupo que recebeu o gene do perfuraram o osso fêmur e em seguida aplicaram sobre a per-
PTH e 8,9% no que recebeu o gene RGD. A perda óssea foi furação um bloco poroso de fosfato de cálcio. Este bloco antes
evitada nos animais que receberam o gene RGD, pois este é de ser aplicado sobre o local foi cultivado por sete dias com
antagonista de algumas integrinas responsáveis pela adesão CTMs transduzidas com o vetor adenoviral (Ad5) contendo o
celular, como exemplo a integrina β3 humana, desta maneira, gene BMP-2. Após 6 semanas as CTM expressaram o BMP-2.
os osteoclastos não conseguem se manter aderidos à super- Os dados mostraram que o gene BMP-2 devolveu o potencial
fície celular, e a taxa de reabsorção diminui, além disso, esta osteogênico às CTMs. Os autores reforçam a ideia de que a
molécula também induz a apoptose dos osteoclastos. Já nos incorporação do material genético ex ou in vivo por meio das
animais que receberam o gene codificante do PTH, o aumento CTMs é uma abordagem útil para o a prevenção ou tratamento
nos parâmetros avaliados pode ser explicado pelo fato do PTH das fraturas osteoporóticas.
exercer ação anabólica quando administrado de modo intermi- Kawai et al.23 demonstraram que o plasmídeo transportando o
tente e em baixas doses.8 gene BMP-2, além de induzir a ossificação endocondral, foi capaz
Em um estudo anterior conduzido por Liu et al.17 os autores já de induzir a ossificação intramembranosa no músculo gastrocnê-
haviam realizado com sucesso a transfecção do músculo qua- mico de ratos com auxílio da eletroporação transcutânea.
dríceps de camundongos fêmeas com gene codificador do PTH. Os vetores adeno-associados,21 adenovírus,22,24 retrovírus25 e o
Naquela ocasião haviam observado que no final de oito semanas plasmídeo nu23 já foram utilizados para a transferência dos genes
de tratamento a expressão se manteve. A fim de aumentar a BMP com sucesso. Em todos os vetores citados acima, houve
eficiência da transfecção os autores usaram o método conhe- resposta positiva no tecido ósseo, mas a escolha do melhor vetor
cido como eletroporação. Neste método uma descarga elétrica para o tratamento da osteoporose ainda é discutida.
foi aplicada por meio de uma pistola, provocando alteração na Além da possibilidade de tratar a osteoporose por estimular a
permeabilidade da membrana plasmática, o que facilitou a en- formação óssea, a terapia gênica também pode atuar nos me-
trada do gene nas células-alvo.12 canismos de reabsorção.26-28 A osteoprotegerina (OPG) é uma
Muitos pesquisadores utilizam as células-tronco mesenquimais proteína endógena sintetizada pelos osteoblastos, e é responsá-
(CTMs) como mediadoras para o tratamento da osteoporose, vel pela inibição da osteoclastogênese e da atividade dos osteo-
induzindo a sua diferenciação em osteoblastos e evitando a clastos. A OPG atua como um atrativo para o RANKL (Receptor
perda óssea acentuada.18,19 ativador do fator nuclear κB ligante), prejudicando sua ligação
O primeiro trabalho que mostrou a aplicabilidade da transplan- com o RANK (Receptor ativador do fator nuclear κB), como
tação sistêmica de CTMs manipuladas geneticamente e injeta- resultado não há indução dos sinais intracelulares responsáveis
das intravenosamente é recente. Os autores após induzirem a pela diferenciação, função e sobrevivência dos osteoclastos. A
perda óssea com glicocorticóides, transduziram CTMs com o produção da OPG é regulada por moléculas que aumentam
adenovírus portando o gene codificante da proteína CXCR4 ou sua síntese (IL-1a, IL-6, IL-11, IL-17, IL-18, TNF-α, TNF-ß, BMP-2,
CXCR4 com Cbfa-1 em camundongos fêmeas e notaram que estrogênio, cálcio e vitamina D3) e outras que a diminuem (pa-
a recuperação total da massa óssea ocorreu nos animais que ratormônio, os glicocorticóides e a prostaglandina E2).29
expressavam a proteína CXCR4 enquanto a força e dureza foi Kostenuik et al.27 conseguiram estabilizar a perda óssea no pro-
recuperada apenas no grupo que recebeu os dois genes. A cesso inicial de osteopenia, no modelo de camundongos fêmeas
recuperação da massa óssea ocorreu devido ao fato das células ooforectomizados. Os autores utilizaram o vetor adeno-associado
transduzidas com CXCR4 desempenharem um papel crucial na como transportador do gene OPG humano. A densidade mineral
diferenciação osteogênica.20 óssea da tíbia aumentou significantemente nos animais que rece-
Com o envelhecimento do indivíduo, o número de CTM diminui, beram o gene OPG, havendo também uma redução na quantida-
mas a capacidade de diferenciação não se altera, o que pode- de dos osteoclastos na superfície da metáfise proximal da tíbia.
ria representar um problema, pois os estudos utilizam modelos Os camundongos sham-operados (exposição dos ovários, mas
de animais ooforectomizados relativamente jovens em compa- sem a remoção), também apresentaram aumento da densidade
ração com o que ocorre na osteoporose primária do tipo I18 mineral óssea quando comparados com os outros animais que
(caracterizada pela deficiência do estrógeno em mulheres na receberam um gene sem efeito sobre o metabolismo ósseo.
pós-menopausa). O adenovírus conduzindo o gene OPG também foi estudado
Diante do exposto, é evidente a necessidade de mais estudos para o tratamento da osteoporose. Este tipo de vetor ao trans-
que enfoquem a quantidade de CTM e a capacidade de dife- duzir uma célula hospedeira mantém o genoma não integrado ao
renciação durante os diferentes estágios do desenvolvimento cromossomo (forma epissomal), mas quando a célula infectada
humano, principalmente após a menopausa. se divide o epissomo pode se perder, podendo também levar
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a uma resposta imune, e consequentemente o efeito do gene e ter uma resposta positiva mais rápida, principalmente para
terapêutico é perdido. Apesar disso, Bolon et al.28 demonstraram indivíduos com osteoporose severa.
que a expressão pode ser mantida por pelo menos 18 meses Uma grande parte dos estudos utiliza a OPG, a BMP e o PTH
e levar ao aumento da densidade óssea. como moléculas promissoras para o tratamento da osteoporose,
As interleucinas representam um importante alvo para o trata- entretanto, há uma carência de novas moléculas como possíveis
mento e prevenção da osteoporose. Foi demonstrada que a alvos a serem estudados, limitando praticamente os pesquisado-
IL-11 é um importante fator estimulador da osteoblastogênese e res a utilizarem as mesmas moléculas. Apesar de tudo, a sequ-
formação do osso, possivelmente por aumentar a produção das ência RGD e o estudo com a integrina ß3 humana se mostraram
BMPs. A IL-11 pode representar uma nova estratégia terapêutica alvos importantes para a terapia gênica anti-reabsortiva.16,31
para o tratamento da osteoporose senil.29 Estudos futuros devem ser realizados, focando a utilização de
Sabe-se que a deficiência do estrogênio causa o aumento na modelos animais de grande porte, a utilização de novos genes
produção da IL-7, refletindo em uma maior quantidade de os- terapêuticos e do melhor vetor para a transferência gênica.
teoclastos, dessa forma, a neutralização da IL-7 repercute na O custo, a via de administração e os efeitos colaterais são al-
diminuição da reabsorção óssea. Cada vez mais o papel das guns dos fatores indesejáveis que podem culminar no abandono
interleucinas no metabolismo ósseo tem sido investigado, e mui- ou interrupção no tratamento convencional, comprometendo a
to das descobertas podem ajudar a expor novos alvos para a eficácia do medicamento e a saúde do paciente.8 Em pacientes
terapia gênica.30 tratados pela terapia gênica, espera-se que, o abandono e ou a
interrupção no tratamento se torne menos frequente.
Na busca de diminuir os aspectos negativos na terapêutica atual
CONCLUSÃO
para a osteoporose, a terapia gênica se mostra uma ferramen-
Poucos relatos na literatura científica utilizaram a terapia gênica ta importante. Espera-se que no futuro, por meio de uma ou
como um instrumento para tratar a osteoporose. poucas intervenções minimamente invasivas, o gene terapêutico
A matriz calcificada do tecido ósseo representa um obstáculo possa restabelecer a função do tecido ósseo e causar pouco
a mais no estudo da terapia gênica para as doenças osteome- ou nenhum efeito colateral. Para isso, o controle do nível da
tabólicas, pois a difusão do vetor através da matriz é pratica- expressão é essencial, pois um baixo nível pode não exercer os
mente impossível, o que torna esta terapia mais elaborada para resultados terapêuticos e o inverso pode ser prejudicial à célula.
osteoporose, afetando diretamente no sucesso da transfecção Mecanismos de controle estão sendo estudados para controlar
ou transdução das células osteogênicas. Uma alternativa para a expressão do gene.11,32
contornar este obstáculo, diz respeito à utilização das células- Com os avanços das técnicas de engenharia genética, o custo
tronco mesenquimais portando o gene terapêutico, pois são cé- desta terapia deve cair consideravelmente. Os benefícios que
lulas precursoras dos osteoblastos e, refletem no aumento da esta ferramenta poderá trazer no futuro aos pacientes devem
massa óssea por sintetizar matriz.18,22 Apesar disso, os trabalhos contribuir substancialmente para o aumento na perspectiva e
relatados restabeleceram a massa óssea e com isso diminuíram na qualidade de vida dos idosos, principalmente da população
o risco para fraturas. feminina, que mais sofre com esta doença.
A maioria dos trabalhos relatou a utilização de apenas um gene A prevenção ou o restabelecimento mais rápido de fraturas
terapêutico, teoricamente, nada impede que o cassete de ex- decorrentes da osteoporose certamente acarretará um menor
pressão do plasmídeo possua sequências gênicas para atuar impacto econômico no orçamento governamental.5
tanto nos osteoblastos, estimulando a formação óssea, quanto No futuro próximo, protocolos clínicos envolvendo humanos de-
nos osteoclastos, diminuindo a taxa de reabsorção. Desta ma- vem trazer esperança a milhares de pessoas que sofrem com
neira é possível potencializar o tratamento para a osteoporose esta doença.

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